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PODER JUDICIARIO SAO PAULO. 4° VARA CIVEL, Comarca de Tatui Processo n’ 4001799-30.2013.8.26.0624 Processo n° 4001799-30.2013.8.26.0624 Classe - Assunto Acdo Civil Publica - Improbidade Administrativa Requerente: MUNICIPIO DE TATUI Requerido: Luiz Gonzaga Vieira de Camargo Vistos. © MUNICIPIO DE TATUI ingressou com agao civil publica de ressarcimento ao erério em face de LUIZ GONZAGA VIEIRA DE CAMARGO. Alegou que a aco ora ajuizada, fundamentada na documentagao que instrui a Sindicancia Administrativa n° 488/2013, em tramite na Advocacia do Municipio de Tatui, tem por finalidade a condenagao do ex-prefeito de Tatui/SP, ora réu, no ressarcimento ao erario do montante repassado pela Unido, correspondente a R$ 125.000,00 (cento vinte e cinco mil reais), com acréscimos de corregao monetaria desde 29/06/2010 e juros de mora de 1% (um por cento) ao més desde julho de 2010, e do montante dispendido pelo Municipio de Tatui a titulo de contrapartida, correspondente a R$ 15.000,00 (quinze mil reais), com acréscimos de corregao monetaria desde junho de 2010 e juros de mora de 1% (um por cento) ao més desde julho de 2010, em decorréncia de ato de improbidade administrativa. Aduziu que o requerido, na qualidade de prefeito, em 26/04/2010, celebrou convénio com a Unido, por intermédio do Ministério do Turismo, pelo que recebeu a importancia de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais), obrigando-se, em contrapartida, a desembolsar a importancia de RS 15,000,00 (quinze mil reais), para a realizacao do Projeto intitulado “Semana Brasil Italia Tatui”. Apontou que a execugao fisica do referido convénio foi reprovada pelo Ministério de Turismo, em face do descumprimento dos termos do convénio, consequentemente 0 municipio foi notificado para devolver o valor repassado, devidamente atualizado e com juros de mora de 1% (um por cento) ao més. Asseverou que 0 convénio foi reprovado sob 0 fundamento de que o evento realizado pela Prefeitura Municipal de Tatui/SP tinha como objeto a realizagao do concurso “Miss Italia Brasil’, fato que no consta na proposta aprovada, caracterizando desvio de finalidade frente ao interesse publico, ademais, ficou evidente através dos materiais encaminhados para reandlise da prestagao de contas que 0 evento ocorreu em um ambiente fechado, no qual nao foi possivel sequer visualizar 0 publico por ele abrangido, desta forma, as provas constantes da Sindicancia Administrativa n° 488/2013 demonstram que, de fato, ‘a conduta do requerido, na qualidade de prefeito de Tatui/SP, trouxe prejuizo ao fis, PODER JUDICIARIO SAO PAULO. 4° VARA CiVEL, Comarca de Tatui Processo n°: 4001799-30.2013.8.26.0624 erdrio ao desviar a finalidade frente ao interesse publico e ao afrontar também o principio da legalidade, sendo suficiente para ensejar a aplicagdo do caput do artigo 11 da Lei de Improbidade Administrativa. Requereu a procedéncia da ago, condenando o requerido ao ressarcimento do montante repassado pela Unido, correspondente a R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais), com acréscimos de correcdo monetaria desde 29/06/2010 e juros de mora de 1% (um por cento) ao més desde julho de 2010 e do montante dispendido pelo Municipio de Talui/SP a titulo de contrapartida, correspondente a R$ 15.000,00 (quinze mil reais), com acréscimos de correcdo monetaria desde junho de 2010 e juros de mora de 1% (um por cento) ao més desde julho de 2010 e demais sangdes constantes do inciso Ill do artigo 12, da Lei de Improbidade Administrativa Postulou pela concessao de liminar de indisponibilidade dos bens pertencentes ao requerido até o transito em julgado da sentenga e, no caso de condenacao, o efetivo pagamento de todas as condenagées impostas neste proceso. Pugnou pela condenacéo do réu as verbas de sucumbéncia. Com a inicial vieram documentos (fls. 11/192). O Ministério Publico opinou pelo deferimento do pedido liminar de indisponibilidade de bens (fis. 195/196). Foi deferido 0 pleito liminar de indisponibilidade de bens, bem como determinado 0 bloqueio de valores via BacenJud (fis. 197/200). © autor juntou informagées e determinagdes dos advogados integrantes da Comissao de Sindicancia, ao Sr. Prefeito de Tatui, para que diante de seus termos seja anulada a transferéncia do capital social do requerido, referente as empresas “Santa Cruz Assessoria e Servigos Ltda.” e “Santa Cruz Construtora e Empreendimentos Imobilidrios Ltda.”, com a consequente comunicagao 4 JUCESP (fis. 209/220). Oficio juntado (fis. 227/232). Notificado (fis. 223/224), © requerido juntou documentos (fis. 225/226) e interpés agravo de _instrumento n° 2019733-64.2013.8.26.0000 em face da decisdo de fis. 197/200 (fis. 240/262), no qual foi concedido o efeito suspensivo ao recurso (fis. 234/238). Determinou-se que 0 requerido comprovasse quais valores so a titulo de proventos e qual a conta conjunta, diante da deciséo do agravo de instrumento e para possibilitar 0 seu integral cumprimento (fis. 239). O réu apresentou manifestacao prévia (fis. 263/275), alegando, preliminarmente, que entrou com Mandado de Seguranga, processo n° 4002451-47.2013.8.26.0624, 3°VC, em razao do ato do atual prefeito José fis, 60: IGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA. = 8 6 Ee i PODER JUDICIARIO SAO PAULO 1? VARA CIVEL Comarca de Tatui Processo n 4001799-30.2013.8.26.0624 Manoel Correa Coelho, tendo em vista que a Sindicancia Administrativa n? 488/2013 foi julgada sem dar oportunidade de o requerido exercer seu direito de contraditério e ampla defesa, tendo conhecimento da instauragao desta, apenas quando foi intimado do julgamento da mesma, para pagamento dos valores em raz4o da rejeicdo da prestagéo de contas do evento “Semana Brasil Italia”. Ressaltou que ao ter 0 conhecimento da Sindicdncia, descobriu ainda que um dos membros da Comissao da Sindicancia, Luiz Carlos Prado Eugénio dos Santos, é seu desafeto, nao podendo o mesmo ter participado, ainda mais como Presidente da Comisséo Processante, em razio do mesmo ser suspeito, o que fere a imparcialidade e sobriedade do julgamento. Informou que a liminar do Mandado de Seguranca jé foi apreciada e concedida para suspender os efeitos da sindicancia instaurada contra o impetrante, existindo motivos cabais que esta, que serve de suporte probatorio para a presente agdo, é nula, nao sendo prova idénea para ensejar esta Acdo Civil Publica de Ressarcimento ao Erério. Apontou que a Sindicancia Administrativa foi realizada visando prejudicar o requerido, portanto, a investigacdo nula e que o réu vem sofrendo perseguicao politica, nado sd com a instauragéo de sindicancias, mas também com informagées distorcidas que séo passadas a midia. Argumentou a inépcia da inicial, a ilegitimidade passiva e o chamamento ao processo das empresas “KNS Empreendimentos Comércio de Artigo Promocionais Ltda. ME” e “Cristiane Simées Bobato ME" (Agéncia Mega Models) e do Secretario da Cultura a €poca dos fatos, Jorge Roberto Rizek. Asseverou que firmou convénio com a Unido para a realizagao do projeto “Semana Brasil Italia Tatui", em razao de ser uma indicagao do Ministério do Turismo, que entendia ser um excelente projeto a ser desenvolvido no municipio e que, em relagao a execugao fisica do convénio ser reprovada pelo Ministério do Turismo, cabe ressaltar que a Prefeitura Municipal de Tatui contratou a empresa “Agéncia Mega Models’ e "KNS Empreendimentos” para produzir 0 evento, e efetuou o pagamento do servigo, logo se a execugao dos servigos nao saiu como 0 contratado, foi por culpa unica e exclusiva das referidas empresas. Aduziu que nao houve desvio de finalidade na execugdo do referido convénio, tendo em vista que o evento foi realizado, sendo que a Prefeitura contratou as mencionadas empresas para produzi-lo, efetuando 0 pagamento do servigo, ademais, 0 evento somente ocorreu em ambiente fechado em razdo do tempo nos dias do evento estar chuvoso. Sustentou que o autor ndo trouxe provas do alegado prejuizo ao erario, nem mesmo do alegado desvio de finalidade frente ao interesse publico, se baseando em mera reprovagao do Ministério do Turismo da execugao fisica do convénio € que até o presente momento o Ministério do Turismo nao ingressou com acao em face do requerido ou mesmo do municipio em razo desses valores, o que num primeiro momento demonstra que 0 autor tenta a todo custo prejudicar o réu com 0 ajuizamento da presente acdo. Salientou que o mencionado Ministério reprovou 0 convénio por ter ocorrido © concurso “Miss Italia Brasil’, mas nao mencionou se as outras alividades previstas no plano de trabalho foram ou nao desenvolvidas. Pugnou pela reconsideracao da decisdo de deferimento da fis, 60 ‘or Guiarvra Re Almeida. & céoia do oriainal assinado digitalmente por MIGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA PODER JUDICIARIO SAO PAULO 4° VARA CIVEL, Comarca de Tatui Processo n°: 4001799-30.2013,8.26.0624 liminar, de modo que determine 0 imediato desbloqueio dos bens do requerido. Postulou pela suspensdo do presente feito, tendo em vista a liminar deferida no Mandado de Seguranca que discute a nulidade da Sindicancia Administrativa que serve de suporte probatério no presente feito. Requereu 0 acolhimento das preliminares arguidas e a improcedéncia da agao. Juntou documentos (fis. 276/277). © requerido pleiteou pela imediata suspensao da presente aco civil publica, até final deciséo nos autos do Mandado de Seguranga n° 4002451-47.2013.8.26.0624, 3°VC (fls. 278/281). As fis. 289/293 atendeu ao despacho de fis. 239. Procedeu-se ao desbloqueio das contas através do sistema BacenJud, diante da decisdo no agravo de instrumento (fls. 293/296). requerente juntou informagées e determinagao do Prefeito de Tatui/SP, para que diante de seus termos seja anulada a transferéncia do capital social do requerido, referente a empresa “Radio Noticias de Tatui Ltda. _ EPP", com as empresas “Santa Cruz Assessoria e Servigos Lida.” e “Santa Cruz Construtora e Empreendimentos Imobilidrios Ltda.” que ja foram objetos do pedido anterior, com a consequente comunicagao a JUCESP (fis. 297/299). Deixou-se de apreciar 0 pedido de fis. 297, tendo em vista a deciséo na excegao de incompeténcia em apenso, na qual fora declinada a competéncia deste Juizo (fis. 300) Em despacho proferido no agravo de instrumento n® 2006120-40.2014.8.26.0000, foi deferido o efeito suspensivo para sustar a remessa dos autos a Justiga Federal em razao do acolhimento da excegao de incompeténcia (fis. 304). Por venerando acérdao prolatado nos autos do agravo de instrumento n° 2019733-64.2013.8.26.0000, deu-se provimento em parte ao recurso (fls. 309/314 e 330). © autor juntou 0 oficio do Ministério do Turismo, no qual comunica que a prestagéo de contas referente ao convénio n° CV-0223/2010 SIAFI/SICONV n° 732676, no tocante a realizado do objeto e regularidade da aplicagao financeira, foi reprovada, bem como concede prazo de dez dias para que o Municipio de Tatu’ proceda 4 devolugao do valor atualizado, R$ 183.590,04 (cento e oitenta e trés mil quinhentos e noventa reais e quatro centavos), apurados em 10/02/2014, ou seu parcelamento, sob pena de inscrigéo no CAUCICADIN e instauracdo de Tomada de Contas Especial. Frisou fs, 60 monte nor MIGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA, PODER JUDICIARIO ‘SAO PAULO 4? VARA CIVEL Comarca de Tatui Processo n° 4001799-30.2013.8.26.0624 que em tal valor ndo esta incluida a contrapartida do municipio no convénio, que também deve ser atualizada e ressarcida pelo réu, ao erario municipal (fis 315/326). Em respeitavel acérdao prolatado nos autos do agravo de instrumento n° 2006120-40.2014.8.26.0000, deu-se provimento ao recurso (fis. 334/338), Foi determinada a juntada de cépia da deciséo do agravo de instrumento n? 2006120-40.2014.8.26.0000 nos autos da excegao de competéncia em apenso (fis. 339). O requerido opés embargos de declaragao com fins de pré-questionamento face ao acérdao proferido no agravo de instrumento n° 2006120-40.2014.8.26.0000 (fis. 345/351). Oficio recebido da Procuradoria da Republica solicitando certidao de objeto e pé deste processo para fins de instrucao do inquérito civil (fis. 359). Certidao de objeto e pé (fis. 364). Foram inadmitidos os recursos especial extraordindrio interpostos pelo réu (fis. 370/375). © Ministério Publico se manifestou quanto a manifestaco prévia do requerido, pugnando pelo recebimento da ago, citando- se o réu para oferecer contestacao, com 0 prosseguimento regular do processo (fis. 380/386), Determinou-se a intimacéo do autor para apresentacao de réplica 4 manifestagao do requerido (fis. 387). Réplica (fls. 389/398). Foi recebida a peticdo inicial, determinando a citagao do réu para que, no prazo legal, oferega contestagao (fis. 399/400). Citado (fis. 404/405), © requerido apresentou contestago (fis. 406/423), alegando, preliminarmente, ilegitimidade “ad causam’, inépcia da inicial, por nulidade da sindicdncia n° 488/2013 e o litisconsércio passivo necessario. Aduziu, em sintese, que 0 evento efetivamente se realizou € que em nenhum momento se provou que o requerido tivesse orientado sua conduta de forma desonesta, com mé-fé, com intengao ofensiva, seja no sentido fis. 60. jtalmente nor MIGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA. é PODER JUDICIARIO SAO PAULO 4° VARA CIVEL Comarca de Tatui Processo n°: 4001799-30.2013.8.26.0624 de causar prejuizo ao erario, seja quanto a ofensa aos principios constitucionais da administragéo, consequentemente, néo ha que se falar sequer em improbidade administrativa. Asseverou que nao houve desvio de finalidade, como faz crer 0 autor, pois 0 plano de trabalho foi repassado para as empresas contratadas, que procederam a realizagdo do evento. Sustentou que as condigées climaticas que levaram @ realizagdo do evento em local fechado. Informou que se trata de verba carimbada a que foi concedida por meio do convénio, portanto, sua utilizagao vincula-se totalmente ao programa respectivo, que fora fielmente cumprido pelo contestante, a época, prefeito municipal, alem disso, as empresas contratadas j4 se encontravam vinculadas a0 convénio, tendo sido determinado que estas eram as Unicas empresas com "know-how" para a realizado do evento, assim, sequer péde o requerido desvincular-se da referida contratagéo, ante a imposigao. Pontuou que no s6 a Prefeitura do Municipio de Tatui/SP, mas outras mais trezentas Prefeituras em todo o Brasil firmaram 0 mesmo convénio e procederam a realizacao do concurso Miss Italia que faz parte de um evento internacional, realizado no intuito de reunir todas as vencedoras dos municipios participantes ao fim de um desfile final em Veneza, para eleger a Miss Itélia Mundial e que, surpreendentemente, quase a totalidade das Prefeituras participants do convénio também passaram por problemas com reprovagao do Ministério do Turismo, eis que muitas delas contrataram as mesmas empresas para a execugao do evento. Pugnou pela expedicao de oficio ao Ministério do Turismo para que informe quais Prefeituras firmaram o referido convénio e destas, quais tiveram a rejeicao das contas, tal como ocorrido com a Prefeitura Municipal de Tatui/SP. Requereu 0 acolhimento das preliminares arguidas, caso contrario, a improcedéncia da ago, condenando-se o autor aos @nus sucumbenciais. Juntou documentos (fis. 424/463). Réplica (fis. 466/468). Instadas as partes a especificarem as provas pretendidas (fls. 469), 0 requerente informou nao possuir outras provas a produzir (fis. 471), enquanto o requerido pugnou por prova testemunhal e documental (fis. 472/476). Manifestacao do Ministério Publico (fis. 482/492). Determinou-se apenas a oitiva da testemunha Jorge Roberto Rizek, arrolada pelo réu, indeferindo-se a oitiva das demais, eis que se demonstrou desnecessaria (fls. 497). O requerido interpés agravo retido em face da decisao de fis. 497 (fis. 500/503). Foi recebido o agravo retido (fis. 504), fis, 60 RANCA, oriainal assinado diaitalmente oor MIGUEL ALEXANDRE CORREA waewea Ne Almeida é cd £ PODER JUDICIARIO SAO PAULO 1° VARA CIVEL Comarca de Tatui Processo n 4001799-30.2013.8.26.0624 O autor apresentou sua contraminuta ao agravo retido (fis. 506/508). Manteve-se a decisdo agravada por seus préprios € juridicos fundamentos (fis. 509) Designada audiéncia de instrugdo e julgamento (fls. 497), nesta foi colhido 0 depoimento de uma testemunha arrolada pelo requerido (fils. 511/513). Declarou-se encerrada a instrugao do processo. O autor reiterou os termos da inicial, assim como 0 Ministério Publico reiterou os termos de suas manifestagdes. O réu apresentou alegacées finais (fis. 511/512). © requerido acostou documentos aos autos (fis. 515/534). O requerente pugnou pela juntada da cépia do termo. de parcelamento de débito e dos comprovantes de pagamentos de parcelas realizadas pelo autor, correspondentes ao convénio “Semana Brasil Italia Tatu” (fis. 535/553) O Ministério Publico Federal se manifestou e requereu sua intervencao no feito (fls. 563/581). Manifestacdo das partes sobre o pedido ministerial de fls. 563/581 (fis. 586/587 e 588/597). O Ministério Publico do Estado de Sao Paulo opinou pelo indeferimento do pleito de fis. 563/581, uma vez que a questo relacionada a competéncia jé foi decidida pelo Tribunal de Justiga do Estado de Sao Paulo nao havendo que se falar em remessa dos autos a Justiga Federal, ressaltando que a instrugdo processual do presente j4 foi encerrada. Requereu o prosseguimento do feito sob a presidéncia da 1* Vara Civel da Comarca de Tatui/SP, com a consequente procedéncia da demanda (fis. 600). Eo relatério. FUNDAMENTO E DECIDO. Inicialmente, insta salientar que as_preliminares arguidas na contestacdo ja foram afastadas pela deciséo saneadora a fis 399/400. Quanto a pretendida redistribuicao do presente feito a fis, 608 ial assinado digitalmente por MIGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA. 16 as 18:01, por Guacyra De Almeida, é copia do yerado nos autos em 0¢ PODER JUDICIARIO SAO PAULO 4° VARA CIVEL, Comarca de Tatui Processo n° 4001799-30.2013,8.26.0624 Justiga Federal, a questéo também ja foi decidida nos autos em apenso, inclusive mantida por v. Acérddo em agravo de instrumento interposto, anotando- se que o simples interesse do Ministério Publico Federal nao desioca a competéncia para o julgamento da presente ado, mormente porque o prejuizo foi suportado pelo Municipio No mérito, a pretensao inicial é procedente. A presente agao tem como objeto apenas a ma- utilizagéo da quantia disponibilizada ao Municipio de Tatui, pelo Ministério do Turismo, para a realizacéo do Projeto Intitulado “Semana Brasil Italia Tatui’, e a pratica do ato de improbidade administrativa pelo requerido. Delimitado 0 alcance da lide, verifica-se que as provas produzidas nos autos séo suficientes para o reconhecimento do ato de improbidade administrativa e a aplicacéo das sangées cabivels, com a condenagao do requerido. © art. 37, "caput", da Constituigéo Federal de 1988, determina que a administracao publica obedecera aos principios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiéncia. Pare Hely Lopes Meirelles, Publica no ha liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na administragao particular é licito fazer tudo que a lei nao proibe, na Administracao Publica 6 é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular sig ‘pode fazer assim’; para o administrador publico significa ‘deve fazer assim” (Direito Administrativo Brasileiro. 33° Ed. S40 Paulo: Malheiros Editores, 02/2007, pag. 87/88). No presente caso, restou demonstrado que 0 convénio firmado pelo Municipio de Tatu com o Ministério da Cultura, 4 época em que o requerido era Prefeito, tinha como finalidade incentivar 0 turismo, por meio de apoio a realizagdo do Projeto intitulado “Semana Brasil Italia Tatui”, conforme instrumento de fis. 152/170. Ficou estipulado, conforme instrumento do Convénio, que 0 Ministério da Cultura disponibilizaria ao requerido a importancia de RS 125.000,00, sendo que o Municipio ingressaria com R$ 15.000,00, para a realizagdo do projeto e que seria realizado o Plano de Trabalho previamente aprovado (fis. 158) Pois bem, conforme se depreende de fis. 147, 0 plano de trabalho previamente aprovado e que deu ensejo a liberago da verba em fis, 60° .al assinado digitalmente por MIGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA ate tai thhnanadn ane antne ann NAINAIDNAR Ae 18-01 noe Guacura De Almeida. é c60i PODER JUDICIARIO goes SAO PAULO SP, 4° VARA CIVEL me rn ve Comarca de Tatui Processo n “4001799-30.2013.8.26,0624 favor do Municipio previa expressamente a realizagao da Semana Brasil Italia de Tatui, no periodo de 26 a 29 de abril de 2010, com principal objetivo de promover a cultura, 0 turismo local e a integracao das entidades italo-brasileira, com realizacao de shows, ballet folclérico (fis. 142), inclusive com a especificagdo de cada show a ser realizado em cada dia do projeto (fis. 147). Ocorre que o requerido, na condigéo de Prefeito Municipal, néo agiu corretamente, haja vista que providenciou a realizagao do Projeto nos termos em que constantes do Plano de Aplicacao Detalhado apresentado pelo proprio requerido e aprovado pelo Ministério do Turismo, tanto que a prestagdo de constas foi rejeitada (fis. 44), em especial porque nao comprovado 0 constante do relatorio de fis. 50, observando-se que nao ha qualquer mengao 4 realizacdo de concurso Miss Brasil Italia. Consigne-se, ainda, que o Ministério do Turismo negou provimento ao recurso interposto pelo Municipio e, inclusive, reconheceu a contratacdo ilegal das empresas beneficiadas pelo pagamento das verbas mencionadas no convénio, conforme se depreende de fis. 319/324, havendo mesmo indicios de pagamento irregular e ilegalidade no procedimento de contratacao, observando-se que ha realmente fundamento , em especial porque as notas fiscais emitidas como comprovantes de pagamento, emitidas por empresas diversas, a0 que tudo indica, foram preenchidas pela mesma pessoa, pela simples comparagao da grafia, conforme se depreende de fis. 81 € 93. Anote-se, por derradeiro, que a testemunha ouvida Jorge Roberto Rizek, Secretario de Cultura e Turismo do entéo Prefeito, ora requerido, disse que inicialmente foi firmado 0 convénio semana Itdlia-Brasil com dancas tipicas e concurso da miss Itdlia-Brasil. Disse que era uma agéncia que estava fazendo o evento e que devido ao mau tempo foi feito no Conservatorio, ‘em uma noite 86. Disse que teve danga e 0 concurso. Acredita que o convénio nao foi aprovado porque era para ser realizado em uma semana e foi realizado em um sé dia. Disse que a agéncia contratada trouxe varias dangas tipicas. Disse que varias cidades fizeram 0 mesmo convénio. Nao soube dizer se outras cidades no tiveram 0 convénio aprovado. As candidatas eram de varias cidades, mas nao teve pré-selecdo em outras cidades. Nao soube dizer 0 numero de candidatas inscritas. Disse que nao foi for¢ado por ninguém, sendo o mesmo depoimento na via administrativa. Nao soube dizer quem fez a defesa administrativa no Ministério do Turismo. Disse que conhecia de nome a empresa Mega, mas nunca tinha trabalhado com ela. Nao soube dizer se 0 concurso de miss teve desdobramento, pois 0 evento nao trouxe resultado legal e nao era importante para 0 Municipio, razao pela qual nao era favoravel a sua realizacao. Disse que a principio era para ser realizado em uma semana, mas foi realizado em um dia. fs, 61 lalmente por MIGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA, ra Te Almeida € cénia PODER JUDICIARIO SAO PAULO 1? VARA CiVEL Comarca de Tatui Processo n" 4001799-30.2013.8.26.0624 Portanto, depreende-se que o requerido deu destinagao diversa ao valor obtido com o convénio firmado com 0 Ministério do Turismo, empregando-o em concurso que nao foi informado por ocasiao do convénio e do plano de trabalho por ele mesmo apresentado para a aprovacéo do convénio. Portanto, é inegavel que o requerido utilizou a verba obtida com em finalidade diversa a previamente estipulada no convénio firmado entre 0 Municipio de Tatui e o Ministério do Turismo, causando prejuizo ao erdrio Municipal que teve que devolver 0 montante disponibilizado pelo convénio, bem como arcou com a contrapartida E obrigacao do administrador aplicar a lei de oficio, devendo fazer s6 aquilo que lei the permite, ao contrario do que acontece com particulares que podem fazer tudo aquilo que lei ndo proiba. Somente agindo desta forma, teria o requerido cumprido o principio da legalidade estrita, também conhecido como principio da restritividade, que, nas palavras de Hely Lopes Meireles “A legalidade, como principio da administracéo publica (CF, art. 37, caput), significa que o administrador publico esta, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e as exigéncias do bem comum, e deles nao se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato invalido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme 0 caso”. No presente caso, 0 requerido atentou contra o principio da legalidade, haja vista que nao poderia ter dado destinagao diversa aos valores obtidos com o convénio, sendo certo que deveria aplica-lo ‘exatamente conforme consignado no Plano de Trabalho previamente aprovado pelo Ministério da Cultura, nao havendo qualquer mengao a Concurso de Miss. Desse modo, 0 reconhecimento do ato de improbidade de administrativa é medida que se impée, nos termos dos artigos 10, “caput” e 11, “caput” e inciso |, da Lei n. 8.429/92. Quanto as penalidades, necessdrio ponderar valores, de forma a resguardar proporcionalidade entre as sangées previstas pelo art. 12 da Lei 8.429/92 e as lesées efetivamente verificadas. Alids, em relacdo as penas previstas, sabe-se que nao so obrigatoriamente cumulativas. Nesse sentido, confira-se a ligao de Marino Pazzaglini Filho, Marcio Femando Elias Rosa e Waldo Fazzio Junior: fis. 61° sumento foi liberado nos autos em 04/04/2016 as 18:01, por Guacyra De Almeida, é cépia do original assinado digitalmente por MIGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA. PODER JUDICIARIO SAO PAULO 4° VARA CIVEL, Comarca de Tatui Processo ni 4001799-30.2013.8.26.0624 "O paragrafo unico do art. 12 estabelece que ‘na fixagdo das penas previstas nesta Lei, o juiz levaré em conta a extensao do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente’. ‘Assim, cremos que, em cada caso, observados os nortes legais, 0 orgao judicidrio poderd deixar de aplicar uma ou outra entre as sangoes previstas para a improbidade administrativa. (...) Em outras hipdteses, tendo em vista © carter diminuto da lesao gerada ou a pequena gravidade da conduta improba, nao teré nenhum sentido a aplicacao de todas as sancdes cabiveis, posto que se estaria equiparando o réu a outrem, sujeito ativo de improbidades mais graves" (in Improbidade Administrativa, Atlas, 2* ed., p. 205). Nessa mesma linha de discernimento, é a ligéo da insigne Maria Sylvia Zanella di Pietro a aplicacao da lei de improbidade exige bom senso, pesquisa da intencdo do agente, sob pena de se sobrecarregar inutilmente o Judiciério com questées irrelevantes, que podem ser adequadamente resolvidas na propria esfera administrativa. A propria severidade das sangées previstas na Constituicéo esta a demonstrar que 0 objetivo foi o de punir infracdes que tenham um minimo de gravidade, por apresentarem conseqiiéncias danosas para o patriménio ptiblico (em sentido amplo), ou propiciarem beneficios indevidos para o agente ou para terceiros. A aplicacao das medidas previstas na lei exige observancia do principio da razoabilidade, sob o seu aspecto de proporcionalidade entre meios e fins" (in Direito Administrativo, 14° ed., Atlas, 2001, p. 689). Dessa maneira, no presente caso, verifico que a conduta do requerido causou prejuizo em montante consideravel ao Municipio, 0 qual teve quer devolver ao Ministério do Turismo os valores indevidamente utiizados pelo requerido em projeto que nao trouxe nenhum beneficio ao Municipio, tendo, ainda, que arcar com sua contraprestacao no convénio firmado, observando-se que o requerido ndo agiu com as cautelas necessarias e néo observou exatamente a proposta que havia firmado com o Ministério do Turismo, pois deu destinagao diversa ao montante obtido com 0 convénio, o qual deveria ter sido rigorosamente cumprido, nao agindo, dessa forma, como bom administrador, 0 que Ihe seria exigido na iniciativa privada, com muito mais razao Ihe era exigivel na Administragao Publica, pois se trata de dinheiro do povo Tendo reconhecido a pratica de ato de improbidade administrativa descrito tanto no art. 10, “caput, como no art. 11, “caput” e inciso |, da Lei n. 8.429/92, a imposigao das sang6es estabelecidas no art. 12, incisos Il e Ill, da referida lei é consequéncia logica. fs, 61 mente por MIGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA 1016 as 18:01. oor Guacyra De Almeida, € cbpia do original assinad PODER JUDICIARIO SAO PAULO 4? VARA CIVEL Comarca de Tatui Processo n® 4001799-30.2013.8.26.0624 No presente caso, considerando o ato praticado pelo requerido, Prefeito de Tatui a época dos fatos, entendo o ressarcimento dos prejuizos suportados pelo Municipio, no montante repassado pela Unido, correspondente a RS 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais), com acréscimos de corregdo monetaria desde 29/06/2010 e juros de mora de 1% (um por cento) ao més a partir da citagao e do montante despendido pelo Municipio de Talui/SP a titulo de contrapartida, correspondente a R$ 15.000,00 (quinze mil reais), com acréscimos de correcdo monetaria desde junho de 2010 e juros de mora de 1% (um por cento) ao més desde a citagdo, bem como a suspensao dos direitos politicos por cinco anos, bem como ao pagamento de multa civil no valor de duas vezes 0 dano suportado pelo Municipio, devidamente atualizado, e proibig&o de contratar com o Poder Publico ou receber beneficios ou incentivos fiscais ou crediticios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa juridica da qual seja s6cio majoritario, pelo prazo de 5 (cinco) anos, so suficientes como sangoes pelo ato praticado contra o principio da Legalidade e pelos prejuizos causados ao Municipio. Ficam rejeitadas as alegacdes em sentido contrario, por conseguinte, sem embargo do empenho profissional dos ilustres Patronos das partes e do Ministério Publico. Posto isto € considerando tudo mais que dos autos consta, julgo PROCEDENTE a pretensdo inicial para declarar que o requerido LUIZ GONZAGA VIEIRA DE CAMARGO praticou ato de improbidade administrativa, nos termos dos artigos 10, "caput", e 11, “caput” e inc. |, da Lei n. 8.429/92, bem como para CONDENA-LO: a) ao ressarcimento dos prejuizos suportados pelo Municipio, no montante repassado pela Unido, correspondente a RS 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais), com acréscimos de correcdo monetaria desde 29/06/2010 e juros de mora de 1% (um por cento) ao més a partir da citagao e do montante despendido pelo Municipio de Tatui/SP a titulo de contrapartida, correspondente a R$ 15.000,00 (quinze mil reais), com acréscimos de correcdo monetaria desde junho de 2010 e juros de mora de 1% (um por cento) ao més desde a citagdo; b) a suspensao dos ireitos politicos por cinco anos. c) ao pagamento de multa civil no valor de duas vezes o dano suportado pelo Municipio, devidamente atualizado, e d) proibicao de contratar com o Poder Publico ou receber beneficios ou incentivos fiscais ou crediticios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa juridica da qual seja sécio majoritario, pelo prazo de 5 (cinco) anos, nos termos do art. 12, incisos Il e Ill, da Lei n. 8.429/92. Por conseguinte, MANTENHO A LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS até o ressarcimento ao erério. Condeno, ainda, o requerido ao pagamento das custas, despesas processuais e honordrios advocaticios que fixo em 10% sobre fis. 61: sa De Almeida. & c6via do oriainal assinado digitalmente por MIGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA. © am NAINAIONAA Ae 4AM nor Gi PODER JUDICIARIO SAO PAULO 1? VARA CIVEL Comarca de Tatui Processo n°: 4001799-30.2013.8.26.0624 © valor da condenagao pecunidria, nos termos do art. 85, § 2°, do CPC. Apés 0 transito em julgado, expecam-se os oficios necessérios, inclusive ao E. Tribunal Regional Eleitoral, informando as penalidades aplicadas. PRI Tatui, 04 de abril de 2016. MIGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA Juiz de Direito | pocumE fis. 61 iberado nos autos em 04/04/2016 as 18:01, por Guacyra De Almeida, ¢ copia do original assinado digitalmente por MIGUEL ALEXANDRE CORREA FRANCA,

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