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Res, Fisioter, Univ, So Paulo, v6, 0.2, p-164-70, ju {dez., 1999. OS EFEITOS FISIOLOGICOS DA CRIOTERAPIA: UMA REVISAO THE PHYSIOLOGICAL EFFECTS OF CRYOTHERAPY: A REVIEW Rinaldo Guirro*, Carla Abib", Carla Méximo™ Guirro, R., Adib, C., Maximo, C. Os efeitos fisiol6gicos da crioterapia: uma revisto. Rev, Fisioter, Univ. Sao Paulo, v6,n.2, p.164-70, jul dez., 1999. RESUMO: A cxioterapia um método utlizado hi mais de 100 anos para o tatamento das diversas patologias. Atwalmente, uusado pela maioria dos tsioterapeutas nas clinicas de reabilitasio, principalmeate no tratamento de disfungdes neuroldgicas ¢ trauméticas. Por serum recurso barato, de fc acesso por no apresentar efeitos colaerais,& utilizado também pela medicina popular. O seu largo espectro de agdo nos permite otratamento de lesbestraumstico-ortopédlcas agudas, lnficas assim como dde queimaduras, objetivando a redugo do edema, a diminuigao da dor, a prevengo da hipSxia secundria e a diminuigio de contraturas, proporcionando uma reabiltago mais ripida do individuo. A sua indicagao para lesdes neurolégicas centrais esta ‘embasada na diminuigdo da espasticidade muscular. Pode ser uilizada também nas cinurgias com o intuito da diminuigdo do uso ‘de medicamentos ¢ das complicayées pés-operat6rias. Visando resumie os estudos encontrados sobre a crioterapia, foi realizado um levantamento nos bancos de dados MEDLINE ¢ LILACS, no site da internet, bem como no sistema COMUT. Foram. !nalisadas a informagoes dos ltimos trinta anos e alguns periddicos que se mostraram importantes da década de 40. Este artigo. tem como propésito ressaltar os efeitos terapéuticos da criterapia nos diferentes sistemas a fim de minimizar as controvérsias existentes. A revisdo aqui apresentada demonstra que este recurso &eficaz, sua ago est bem apoiada nas respostas fisiolégicas, sendo utlizada no trtamento de um grande nimero de patologias, DESCRITORES: Criterapia, métodos. Fisioterapia. Edema, reabilitagio, Dor, reabilitagao, Fisiologia muscolosquelética InTRODUGAO que apresenta-se como um recurso Universidade Metodista de Piracicaba, 0 qual incluiu terapéutico valioso, mas com pouco _ bancos de dados (MEDLINE, LILACS) e site da internet embasamento tedrico por parte da maioria dos (Altavista), bem como o sistema COMUT. Foram fisioterapeutas, Tendo como base esta premissa, foi _levantadas as informagées dos tiltimos trinta anos & JA. ciciespia é um toma bastante dscuido, realizado ‘um levantamento bibliogrético na “Professor do Curso de Fsioterapia da Universidade Metoista de Piracicaba, “Fisiocerapeuts graduadas pela Universidade Metodista de Piacicaba, Enderego para correspondéncia: Rinaldo Guirro. Curso de Fisioterapia da Faculdade ce Ciéncias da Sade, UNIMEP. Rodovia do ‘Agucar, Kin 156, 13.400-901 Piraccaba, SP. email: iguirrogunimep bt It Guirro, R., Adib, C., Maximo, C, Os efeitos fisiolégicos da crioterapia: uma revisho. Rev. Fisioter, Univ, Sdo Paulo, v.6, 1.2, 164-70, juL/dez., 1999. alguns peri6dicos que se mostraram importantes da ddécada de 40, tendo como palavras-chave os termos ctioterapia, fisioterapia, gelo, misculo-esquelético, metabolismo ¢ edema. O material foi fichado, ressaltando as informag&es consideradas de relevancia, de forma a abranger ¢ registrar seu contetido. Uma ver fichado e organizado por assunto (metabolismo, circulagao, sistema nervoso periférico e misculo- esquelético), 0 material foi utlizado para a redagio do artigo, onde pOde-se cruzar e explorar as idéias dos diversos autores. 0s resultados da crioterapia sobre os sistemas vascular, misculo-esquelético e nervoso sio bastante satisfatrios, uma vez que todos geram respostas frente a este estimulo, Os temas so apresentados separadamente para que se tenha uma visio da agio especifica da crioterapia em um determinado sistema No entanto, devemos lembrar que, quando da aplicagao do gelo sobre um determinado segmento corpéreo ou patologia especifica, as agdes envolvem todos os sistemas simultaneamente. METABOLISMO centto responsével pelo controle da temperatura corpérea localiza-se na regio pré-dptica do hipotslamo anterior", A diminuigio da temperatura é a primeira resposta fisiol6gica do organismo ao resfriamento, ‘ocorrendo de forma localizada e imediatamente apés a aplicagio do gelo, tesfriamento local leva a uma diminuigao do rmetabolismo celular, proporcionando a célula um menor consumo de oxigénio’, sobrevivendo por um maior periodo de isquemia ou de diminuigio parcial da circulagio®, evitando assim a hipéxia secundaria © consequentemente a morte celular. Toma-se menor, desta forma, a extensio do tecido lesado, diminuiindo as protefnas livres ea pressio oncética do tecdo, reduzindo assim o edema. Segundo pesquisa realizada por Blair’ em cachorros, 0 consumo de oxigenio varia de acordo com a diminuigio da temperatura. Em 37°C uma célula presenta um consumo maximo de oxigénio (100%), sendo que a 15°C a sua necessidade reduz.a 10%. Com relagio a0 CO,, um dos mais importantes metabélitos do organismo, softerd alteragses que tornario escassa sua concentragio, levando a um aumento do tonus vascular e, conseqilentemente, diminuindo 0 seu dimetro, havendo assim uma vasoconstrigdo. Na evisio uss apresentada por Monteiro-Pedro® a redugio da produgso de metabélitos, apés a aplicagao do gelo, 6 deserita em muitos estudos. A aplicagdo do gelo promove a estimulagdo dos receptores térmicos™, que uilizam a via espino-talmico lateral, uma das quaistransmite 0s estimulos dolorosos. Segundo Knight", 0 resfriamento faz com que ocorra tum aumento na duragio do potencial de ago dos nervos sensoriaise, conseqilentemente, um aumento do periodo refratirio, acarretando uma diminuigo na quantidade de fibras que iro despolizar no mesmo perfodo de tempo. Conclui-se entio que ocorre uma diminuigSo na freqiéncia de transmissio do impulso © naturalmente na sensibilidade dolorosa. A aplicagio do gelo faz com que aumente o limiar de excitago das células nervosas «em Fungo do tempo de aplicagao, ou seja, quanto maior © tempo, menor a transmissio dos impulsos relacionados a temperatura, o que pode gerar analgesia ou diminuigio da dor. Apés um trauma, inflamagio ou degeneragio de partes moles, as eélulas mesenquimatosas indiferencia- «das tendem a migrar para o local do trauma e se diferen- cciam de forma gradual em fibroblastos. Estes deslocam- se ao longo das camadas de fibrina, multiplicam-se & desenvolvem organelas que produzem colfgeno*. As fibras de colégeno recém-formadas vao se dstribuir de forma aleat6ria no tecido conjuntivo frouxo, Caso este coligeno tenha uma maior sintese do que degradacio, resultard em fibrose, jf que seu metabolismo consiste em degradagées e sinteses continuas'*, No trauma e na inflamagio, a terapia com gelo atua prevenindo 0 extravasamento sangufneo, levando a uma menor quantidade de fribinas e a uma menor sfntese de colgeno, minimizando assim a aderéncia. Uma vez que a imobilizagio pés-trauma também contribu para o aumento da sintese de colégeno, o gelo pode atuar diminuindo 0 tempo de imobilizagio. Naarrite reumatéide, aenzima colagenase éliberada por leuc‘citos polimorfonucleares, que destroem 0 coligeno na cartilagem articular, aumenta sua degeneragio". 14 se demonstrou que a articulagiio inflamada apresenta uma temperatura entre 34 € 37°C, diferente da temperatura articular normal, que oscila entre 30,5 € 33°C”. As colagenases articulares tomam- se, em média, quatro vezes mais ativas quando a temperatura sobe para 36°C em relagio a 33°C ¢ 2,9 vvezes mais ativas em 39°C em relagio a 37°C. A aplicagdo de compressas frias, por mais de 10 minutos, podem reduzir a temperatura articular em 2 ou 3*C™. Guirro, R., Adib, C,, Méximo, C. Os efeitos fisoldgicos da eriterapia: uma revisfo, Rev, Fisioter, Univ. Sd0 Paulo, v.6, 0.2, 164-70, jul /dez., 1999. Harris e MeCroskery"”aplicaram colagenase sinovial em articulagdes de cachorros com diferentes temperaturas e observaram que nas temperaturas baixas a degradacio do colégeno foi consideravelmente menor, sendo que a 36°C foi de aproximadamente 40%; em 33°C foi de 10% € em 30°C foi menor que 5%, quando a quantidade de colagenase sinovial foi maxima. O frio afeta negativamente outra enzima de degradagio similar a colagenase, a lisossoma, que também esté envolvida no processo inflamat6rio" ‘Segundo Monteiro-Pedro et al" a aplicagao de gelo associada a elevagio da pata por uma hora reduzi 0 edema induzido pelo dextrano na pata posterior do rato. ‘A autora conclui que aelevagio provavelmente diminuiu 1 presstio hidrostatica capilar e aumentou a drenagem linfética, ao passo que a crioterapia produziu vasoconstriglo, reduziu 0 metabolismo, bem como, a liberagdo ¢ a agdo da histamina nas jungdes endoteiais. Um detalhe que chama a atengio de muitos profissionais é 0 aspecto de eritema cutineo formado apds a aplicagdo do gelo, Para Collins” a cor vermelha brithante surge em decorréncia da presenga de ‘oxiemoglobina © de menos hemoglobina reduzida no sangue, Segundo 0 autor, isto acontece, pois em baixas temperaturas, ocorre um desvio na curva de dissociagio do oxigénio, como resultado da dissociagio da coxiemogtobina ser mais lenta. SISTEMA VASCULAR A crioterapia diminui a dor, 0 edemal, a resposta inflamatéria, eas perturbagdes circulatérias®. Uma das principais fungdes do gelo no sistema citculat6rio 6 a diminuigo do fluxo sangiiieo devido a vasoconstrigdo™, Este efeito acarreta um controle da hemorragia inicial intra-tecidual ¢ limita a extensdo da lesio, A vasoconstri¢do que ocorre por um estimulo das fibras simpaticas® e a diminuigao da pressio oncética, juntamente com a diminuicao da permeabilidade da ‘membrana, levam a uma redugdo do edema. Também se sabe que a vasoconstrigao ocorre devido a uma diminuigdo do fluxo sangilineo nos vasos lesados™, sendo que o efeito da histamina na membrana vascular também € diminuida com a ago do gelo’, Em traumas mecinicos, 0 gelo € utilizado imediatamente apés a lesdo, com 0 intuito de diminuir 0 extravasamento celular por meio da vasoconstrigio & 166 por promover diminuigio do edema devido a um decréscimo do metabolismo e da permeabilidade”; reduzindo assim a morbidade da lesio ‘Ap6s a aplicagio do gelo, o luxo sangiineo ainda petmanece diminufdo por aproximadamente 20 minutos?™*, De acordo com Knight nao é certo alguns terapeutas c atletas usulruirem do gelo, da compressio edaelevagio somente por 20 minutos em casos de lesbes agudas, pois esse tempo nfo € suficiente para que ocorra a diminuigdo do fluxo sangifneo, da hemorragia © da hipdxia secundaria. A aplicagéo deve ser, segundo 0 autor intermitente por 30 minutos em qualquer segmento corpéreo © por 45 minutos em musculatura de grande secgdo transversal, num intervalo de uma a duas horas, sobre a pele nas primeiras 12-24 horas apés a lesio. No entanto, segundo Fu et al a crioterapia exerce seus efeitos benéficos quando aplicada em até 48 horas apés alesio. O uso atemad entre o geloe a égua acima dos 35°C, ou seja, 0 banho de contrast, esti relacionado com as mudangas na circulagio devido ao mecanismo de bombeamento. A alternncia entre a vasodilatagio ¢ a vasoconstrigio eleva o bombeamento sangtiineo, conseqiientemente ofluxo, aumentando a quantidade de nutrientes para reparar o tecido, diminuindo assim o edema. Por outro lado, para que isto ocorra, necessita- se da retrada de proteinas livres de pequena densidade molecular do local lesado que ocorre via sistema linfatico. Neste caso, niio hi resposta a aplicagio do bbanho de contraste e a alternincia entre exerciciosfisicos © 0 gelo € mais indicada por ter uma interferéncia significaiva no sistema lnftico, favorecendo um maior bombeamento por minuto via contragio muscular ‘A temperatura da pele softe decréscimo logo apés 0 contato com 0 gelo, porém, mesmo apés sua retirada, esta resposta ainda permanece por aproximadamente | hhora’, Segundo Knight ct al, a aplicago do gelo por 30 minutos, uilizando diferentes métodos, faz com que 4 temperatura permanega menor que a inicial mesmo ap6s 60 minutos de sua retrada, De acordo com Knight" a vasoconstrgio permanece por um perfodo relativamente longo apés a retirada do estimulo hipotérmico; resposta esta que nfo confirma a crenga de alguns fisioterapeutas que acreditam na ocorréncia de uma vasodilatagio induzida pela ctioterapia. Nao se pode dizer que hé uma vasodilatagao induzida, ¢ sim uma reducio parcial da vasoconstrigio, tuma vez que 0 dimetro do vaso apés a terapia no Guirro, R., Adib, C., Méximo, C. Os efeitos fisioligicos da erioterapia: uma revisho, Rev, Fisioter. Univ. Sdo Paulo, v.6,n.2, .164-70, jul /dez., 1999. ultrapassa seu didmetro incial. © proprio autor mostra que um vaso de aproximadamente 5 de diametro (unidade arbitréria) tem, durante a aplicagao do gelo, seu diémetro reduzido para 1, sendo que, apés otérmino da terapia, 0 didmetro toma-se 3; conclui-se, portanto, que nao ocorre uma vasodilatagio propriamente dita. Segundo Merrick et al. o gelo associado a ‘compressio faz.com que se tenha uma maior diminuigio dda temperatura na pele e uma maior manutengao desta apés a retirada do mesmo. Segundo estudos realizados por McMaster et al. na articulagio do joelho de 42 individuos, a temperatura intra-articular foi diminuida de 9.4 + 0,7°C em 30 minutos de aplicagao, apresentando um decréscimo de #"C mesmo apés 150 minutos da sua retirada, Segundo Knight, apés um trauma, ocorre hemorragia decorrente da lesio vascular com consequente extravasamento sangiiineo, A crioterapia 6 de suma importincia, pois restringe o extravasamento sangiiineo, diminuindo a intensidade da hemorragia © conseqiientemente os seus efeitos secundaios; como a diminuigdo do fluxo sangiiineo, podendo causar uma lesio por hipdxia secundéria. O controle do hematoma de extrema importincia na fase inicial da lesio, uma vez que a formagio do hematoma pode gerar uma resposta inflamatria ¢ edema, Nos casos onde ocorre a formagio do edema, este pode comprimir terminagées nervosas e induzir o ciclo dor-espasmo-dor, que reduizem 4 forga muscular ¢ @ amplitude de movimento, Ocorre ainda no sistema nervoso a diminuigdo da dor. SISTEMA MUSCULO-ESQUELETICO © gelo 6 utilizado no sistema muscular principalmente nas patologias neurol6gicas. Segundo ‘Swenson etal a redugdo da temperatura promove uma diminuigdo da ago muscular e um relaxamento dos rmesmos, favorecendo a diminuigio da espasticidade c a realizagio da cinesioterapia. O resfriamento limita a velocidade de conduc nervosa das fibras Ia e II ¢ também inibe o neurdnio motor gama, diminuindo assim © arco reflexo miotitico™, Para Faulkner et al.!? a insuficiénia, contengio ou restrigéo da performance muscular e da atividade elétrica muscular aparenta ser dependente da velocidade, pois exercicios répidos, com maior velocidade, so mais afetados pelo resfriamento ddo que os mais lentos, com menor velocidade, sugerindo 167 assim que as fibras musculares de contragio répida so mais susceptiveis ao resfriamento. ‘Oksa et al.*! demonstraram que o resfriamento sistémico, a uma temperatura de 20'C, é suficiente para limitar a performance muscular e promover distirbios miisculo-esqueléticos, além de proporcionar queda na atividade elétrica muscular. Observagdes realizadas por varios autores mostram a redugio da espasticidade e do clénus®, favorecendo o aumento de forca do agonista®, A aplicagao da crioterapia por 30 minutos, em forma de banho de imersio entre 10 € 15°C, diminui o torque muscular em 60 a 80%. Fanning ¢ MacDermott"' estudaram o efeito da redugao da temperatura na resposta de miisculo esquelético de ratos in vitro a agentes indutores de iotonia. Os autores conclufram que nas temperaturas entre 25 e 15°C no houve o desenvolvimento da rmiotonia (contragao lenta, seguida de um relaxamento que ocorre nos movimentos voluntirios devido a uma excitabilidade © contratilidade muscular anormal)" induzida por acido antracénico-9-carboxilico. Cortelacionam os resultados com a miotonia congénita, quando contragées mioténicas do miisculo adutor do polegar desaparecem, momento em que a temperatura {oj diminuida a 20°C. O mecanismo provével édiscutido «em termos da despolarizagao da membrana na prevengiio (ou redugiio da tesposta miot6nica Jé nos pacientes ortopédicos, a diminuigio do espasmo muscular ocorre por bloqueio do ciclo espasmo- isquemia-dor”®. A utilizagdo da erioterapia para o aumento da amplitude de movimento muscular ainda ¢ incerta. O ‘aumento do limiar da dor ea diminuiglo da velocidade de conducio nervosa beneficiam 0 alongamento muscular, em contrapartida, a diminuigio da extensibilidade do tecido conectivo atua reduzindo a flexibilidade muscular" Para que seja atingido o resfriamento muscular em individuos magros, sio necessérios no minimo 10 ‘minutos, sendo que em individuos obesos este tempo sobe para 30 minutos, pois somente com esse tempo 0 resfriamento consegue ultrapassar a camada de gordura™, Lentell et al." recomendam que apés a realizagio do alongamento muscular deve-se resfriar os tecidos moles, com a aplicagdo do gelo, para minimizar dor muscular pés-alongamento e manter uma maior amplitude de movimento, Guirro, R., Adib, C., Maximo, C. Os efeitos fisiolbgicos da erioterapia: uma revisdo, Rev. Fisioter. Univ, Sao Paulo, v.6,n.2, p.164-70, jul/dez., 1999. SISTEMA NERVOSO PERIFERICO 3s receptores de temperatura transmitem impulso, tanto para temperaturas ambientais como para mudancas bruseas de temperatura, sendo que as localizadas nos nervos profundos so menos vulneriveis a agio do gelo ‘ou da temperatura elevada, A ordem de sensagiio, quando da aplicagao do gelo, &: formigamento, edcegas, fro, dor, perda do tato". A sensacio de dor observada nos primeiros minutos apés a aplicagio da crioterapia & atribuida principalmente a vasoconstriegio. [As respostasiliciadas do sistema nervoso periférico so decorrentes do seu resfriamento. Segundo Lipoid et al." o gelo elimina a dor, pois aumenta o seu limiar, sendo que, com femperaturas baixas, o estiramento necessério para produzir uma resposta é aumentado. A dor também pode ser diminuida diretamente pelo efeito nas terminagdes sensoriais e nas fibras periféricas de dor ou indiretamente através da redugo do edema ou dos espasmos musculares”. Segundo pesquisa realizada por Lowitzsch et al, 0 periodo refratirio absoluto € de 0,54 milissegundos a 35°C, aumentando para 3,07 rilissegundos, quando a temperatura diminui para 20°C; {6 periodo refratério retativo sofre um aumento de 3,19 para 20,9 milissegundos nas mesmas variagdes de temperatura. Conclui-se entio que com 0 uso do gelo o perfodo refratirio aumenta, reduzindo assim a velocidade do impulso nervoso, proporcionando ao paciente um alivio da dor. O resfriamento aleta as fibras gamas, a condugdo nervosa através dos nervos periféricos e os mpulsos nervosos através da jungio mioneural O frio também ¢ usado para diminuir aespasticidade ‘em casos de lesdes neurolégicas, reduzindo ou abolindo © clonus espastico e este efeito permanece além da aplicagdo do gelo, por isso, 0 individuo fiea apto para a realizagio da cinesioterapia com fungio, resisténcia © forga suficientes”. Uma das possibilidades de estimular o sistema nervoso € através do reflexo miotitico, que pode ser ‘obtido tanto por percussio do tendo muscular como da propria massa corporal, através do estiramento brusco dos fusos musculares!*. O resfriamento também pode ser utilizado como estimulo proprioceptivo, estimulando os exterorreceptores ¢ faclitando 0 reflexo H, que é uma descarga do neurdnio motor alfa, Com a diminuigio da temperatura na pele ocorre facilitagio do neurdnio alfa aumentando a resposta neuromuscular. © gelo, neste 168 caso, pode ser indicado na forma de tapping por proporcionar uma facilitagiio neuomuscular® Por outro lado, quando o gelo abaixa a temperatura do miscuto, ocorre redugao da forga de contragio devido a0 seu efeito direto sobre o fuso, o que leva'adiminuigio dda sensibilidade fusal e do reflexo tendinoso. Esta é explicagdo do uso do gelo para a diminuigio do tSnus muscular”. O cl6nus ea espasticidade s6 serio diminut dos, sea temperatura muscular baixar significativamente. A sensibilidade das fibras nervosas 20 frio dependem «da miclinizacao e do didmetro da fibra‘*. Um dos efeitos dda crioterapia sobre as fibras nervosas amielinicas € aumento do limiar da sensibilidade dolorosa, no entanto, para que isso ocorra, so atingidas antes as fibras mielinicas responsdveis pela contragao muscular & propiocepeao. Portanto, quando um individuo jé presenta diminuigdo da sensibilidade dolorosa, é sinal de que acontrago voluntaria esti comprometida devido a0 aumento do limiar motor, decorrente do aumento da laténcia e da duragio do potencial de ago’, Segundo Mense”, parece que o gelo age diretamente no fuso muscular € no orgo tendinoso, Este ponto merece destaque, pois uma sobrecarga na execugiio de exercicios és resfriamento do méisculo, podem levara uma nova lesdo muscular, uma vez que 0 controle motor esta com © seu limiar alterado. CONCLUSOES Pelos autores consultados podemos coneluir que: 1. a.agdo dacrioterapia apresenta-se fundamentada em bases fisiol6gicas bastante sdlidas; a literatura sobre o tema 6 bastante extensa, permitindo assim o aprofundamento a respeito das suas reais ages; as vantagens do recurso esto no fato do seu baixo custo, do grande espectro de acio e da fécil aplicago técnica; a.crioterapia reduz 0 edema, a dor e 0 periodo de recuperagio pés-traumay como 0 gelo diminui a resposta da contragiio ‘muscular voluntéria, deve-se tomar cuidado com a realizagio de exereicios fisicos © da marcha ap6s a sua utilizacio, pois o individuo estar sujeito a agravar 0 quadto elinico, Guirro, R., Adib, C., Maximo, C. Os efeitos fisiolégicos da crioterapia: uma revisio, Rev, Fisioter: Univ 164-70, jul /dez., 1999. ido Paulo, v.6,n.2, Guirro, R., Adib, C., Maximo, C. The physiological effects of eryotherapy: a review. Rev, Fisioter, Univ, Sdo Paulo, v.6, 1.2, 164-70, jul/dez., 199 ABSTRACT: Cryotherapy is 2 method which has been used for over 100 years forthe most varied pathologies. Currently, itis ‘amethod used by the majority of physiotherapists in reabilitation clinies, mainly inthe treatment of neurological and traumatic dysfunctions. As itis an easily accessible, cheap resource, and as it does not present side effects, itis also used in popular medicine. Its wide spectrum of action permits us to teat acute traumaie-orthopaedic and lymphatic lesions, as well as burns, the general objective being to reduce edema, diminish pain, prevent secondary hypoxia, as well as diminish contraction, thus Providing a more rapid rehabilitation of the individual. Its indication for central neurological lesions is based on diminishing muscular spasticity. It may also be used in surgery with the object of diminishing the use of medication and post-operative ‘complications Secking to summarize the studies accomplished on the cryotherapy arising was accomplished in the databases ‘medline and lise, sites ofthe internet, as well asin the system COMUT. The information ofthe last thirty years were analyzed nd some newspapers that were shown important of the decade of 40, This article has as purpose to stand out the therapeutic elect ofthe cryotherapy in the different systems, in order to minimize the existent controversies. The revision here presented it demonstrates that this esource is effective, its action is well based in the physiologic answers and it is used in the treatment of a great number of pathologies. KEYWORDS: Cryotherapy, methods. Physial therapy. Edema, rehabilitation. Pain, rehabilitation, Musculoskeletal physiology. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS |. Barber, FAA. McGuire, D.A., Click, $. Continuous-flow arthritis inthe dog. 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