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= ree Paulo Marchiori Buss Vice-Presidente de Informasio e Comunicagao Maria do Carmo Leal EDITORA FIOCRUZ Diretora Maria do Carmo Leal Editor Executivo Joao Carlos Canossa Percina Mendes Editores Cientificos Nisia Trindade Lima e Ricardo Ventura Santos Conselho Editorial Carlos EA. Coimbra Jr Gerson Oliveira Penna Gilberto Hochman Ligia Vieira da Silva Maria Cecilia de Souza Minayo Maria Elizabeth Lopes Moreira Pedro Lagerblad de Oliveira Ricardo Lourengo de Oliveira Colegio Loucura & Civilizagao tor Responsével: Paulo Amarante OTT TTT ee ENSAIOS subjetividade, satide mental, sociedade Paulo Amarante ‘organizador 1 reimpresstio. FUNDAGAO OSWALDO CRUZ / TORA ISBN: 85-85676-86-8 1 edigio: 2000 14 reimpressio: 2006 Capa, projeto grifico: Guilherme Ashton Editoragio eletrdnica: Itabel Vidal Copidesque, preparagao de originais: Marciontlio Cavaleanti de Paiva Revisio: Mdrcia da Silva Campos Catalogagio-na-fonte Cas de Informagio Cientifieae Tecnoldgica reca Lincoln de Freitas Filho AM485e Amarante, Paulo -subjetividade, side mental, sociedade./ Coordenadla Euitora Fiocruz, 2000, e-mail editore@fioceus br hhup://www.fidcrus.brleditora “Abilio da Coa-Rowa — professor asistente, doutor em psicologia do Departamento idade Estadual Paulista, campus de Asis, $80 “Alesandve Magno Teixeira de Carvalho —psicdlogo, pexquisado Oswaldo Cruz. / Fandagao de Amparo 3 Pesquisa do Estado do Rio de Janei®, wo da Faculdade de Medicinal sidade Federal do Rio de Janel doutorando em teotla do Instiruto Fernandes Figueira da Fundagio Oswaldo Cruz. Cecilia M. B. Coimbra — psi inta da Universidade Pederal Fluminense, doutora em psicologi sidade de Sé0 Paulo (pb outorado); presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Rio de Janeiro Cltudia Carbisir ~ psican Janeico; coordenadora da Recepsio Incegrada do 1 Rio de Janeiro code Prcologia da Universidade Reuter ~ professora-adjunta do Departam: eral Fluminense; doutora em psicologia el Eduardo Moun of Econor Vasconcelos psicblogo, cient |, dour pela London School is and Political Science; professoradjunto da Escola de Servigo Social idade Federal do Rio de Janciro, pesquisidor-associado do Instinuto dessa mesma universidades pesquisador e consultor do Consetho Franco Rotelli ~ psiqh deTe Heliana de Barres Conde Rodrigues ~ professora e pi ta do Departamento de Psicologia Sociale In to de Psicologia da Universidade do Estado. do Rio de Janeiro rT 7, : Orictnas para Qué? UMA PROPOSTA ETICO-ESTETICO-POLITICA PARA OFICINAS ‘TERAPBUTICAS Crusrina RAUTI Em que consiste a “reabilitasio psicossocial””” a que se refers a cual reforma psiquidtrica? Sabemos a parti da histéria da loucura natrada POF Foucault que desde o seu nascimento a psiquiatria passa por reformiass A adaptagio pura e simples do doente mental "A sociedade" ¢ o horizonte da smaloria dessa reformas peas quais passou a psiquiatsia. O termo reabiltaglo poss um cunho pragmtico, visto como seu maior mérito por alguns q¥6 8 ‘fefinem como uma pritica que se desenvolven mais depressa que a teoriay OW ‘até mesmo como uma ‘pratica sem teorid.'”* E necessirio problematizar essa afirmages, Problematizar, nfo para proclamar a solugio definiciva, mas Ae sentido bergsoniano,"” no qual pensar é saber “colocar problemas’, Pols Sabemos nés, ndo hé solugbes defintivas num terreno imediaramente poltieg ome o da psiquiatria. Que falar de psiquiatia seja falar imediatames politica, jf foi sufcientemente demoastrado por Franco Basaglit Foucault, entre muitos outros. Mas pensemos no que pode se const pritica sem teora. Uma pritica levada a efeto por atores socais de cabega varia, que no pensam, apenas agem? Consideramos inicilmente impossivel t existéncia de uma pritica sem teoria — pois se trata sempre de saberes, malt fou menos complexos, mais ou menos elaborados, mas sempre de saberes indjssociavelmente articulados a préticas socinis, (1996). ese respeito, Saractno (1996). 1 Sobre o sentido de problematizar, vera obra de Diets (1987). 268 Alguns dito, com a sri ip ino, que até agora levancamos apenas quest séricas, ¢ se trata sobretudo de i erence i agit, de inserir socialmente individ Sic eee josos ~ recupers 's enquanto cidadios, Cor w passam fundamentalmente pela inser ie abalho e/ou em atividades artist peg ae dar-he acesso aoe meios de comunicagio etc. Urge ranto, dar aos pacientes oportunidade: socal medial trablho criagfo anita, Tae ersdo social mediante Nao apenas para o: n 8 pacientes psiquidtricos o tra fng80 de insergdo no mand ca cole ey que caracteriza a vivénci a aa x “éncia subjetiva contemporanea. O trabalho (dependendo ‘ . como veremos 2 seguit) pode nos torn: Pact) aie ane DRETeR gion aoa espectadorespasivos ou submisos a que ocome fora de nds, Sim, trabalho Roles podem ser grandes “vetores de exstencalizsio” ~ com "ord, em que condigdes isso pode ocorrer? Em que indo queremos nos rit 05"? Responder a ort questo é muito importance: ser que queremos nos eid ‘ sernorunt simplesmente ao mundo em que vivemos hoje? Do ponto de vd ine eden dy gates com ee preliaeleeehted wwe etna capitalista o trabalho segue tendo icas (de funcionar como vetor de exi pe que ponto? Ou se trata de transformar as relay re a clas possam funcionar desse modo? oe ee No que se refere & arte, tere edgier também que pensar sobre o lugar da porineo. Terfamos, portanto, que colocar todas essas quest6es quando fazemos ofici ese quests quand fazemos oficinas nas quai tabaho e ciglo a 70, ou quando queremos estabelecer relagé: nd trabalho, cio © einvencio do votidiano, ica rye’ 7 es do trabalho no capitalismo ‘condigdes pelas quais 0 a tt que nesse sistema social o homem se tomnou eseravo das ma diz8-lo de outro modo, as maquinas récnicas ad ae artificial. No capi ad no ; sm uma autonomia , a mecanizasio da produgéo trouxe consigo 0 ” referindo-se & transigéo da manufatura is da lo fp yee aumento da exploragio, dz Marx, A grande indiistria, sem chegar a ver 0: informatizagio e robotizagio da produgio, um dos farores responsdveis fumento do descmprego em todo o mundo. Nao é possivel considerar que fo progresso tecnoldgico traga nele mesmo avangos do ponto de vista de uma melhoria geral das condigGes de trabalho. Marx deixa ‘bem claro, ao analisar 0 ae veto de forgas produtivas, que 0 desenvolvimento das mesmas no se sol ao desenvolvimento tecnoligico, mas 2 relacSo estabelecida entre Forgas produtivase relages de produgio ~relagSes que os homens cestabelecem entre i num process histérico concreto. No capitalismo, 2 produséo mecanizada trouxe consigo, desde o inicio, um aumento da extragio dt sumento da exploracfo operira. Assim, 0 progresso tecnolégico nfo assepuray ‘como podemos fcilmente verificar olhanco em tomno de nds mesmos, melhoria dhs qualidade de vida do conjunto da populagéo, 2 no ser que «cls ‘ubsrdinado a um aspecto primeiro, que Ihe deve prevalecer — 0 da producio desejante ou do plano de imanéncia da vida. Para pensarmos © trabalho no mando contemporineo € necesrio contrapos, & aparente autonomia ca ‘uma subordinasgo da tecnologia a uma ética da vida, Falar de implica sempre falar de producto da vida em primeito por Deleuze ¢ Guattati, ¢ podemos mais equipara 1s desenvolvimentos ais-valia © um cecnologia, produgio da vida mat: plano, Esse 6 esforgo te6ricn empreendido arriscar dizé-o, também de Marx, jf que este, em suas an: as forgas produtivas a ama instincia onic auténoma, mas sempre | ida was rlagGes complexas que as forgas produivas estabelecem com as reas de produglo, vale dizer, com as hutas sociais, com as relages de poder, numa dada sociedade. Deleuze utiliza a palavea construivismo quando fala de descjo. O deseo ‘um construtivismo, diz ele. Tnta-se de construgio e ndo de espontancsimos Nonmalmente quando profissionais do campo psi falam de deseo, referems se a fantasias, ridades, inti ‘esse € 0 modo de funciona a que estd reduzida a produgio desejante por si mesmo revolucionério por set Pt ‘de mundos,, e é por isso que a questio das of ‘As oficinas serio terapeu ago caso consigam esta lutor no apenas de Fantasias, mas ficinas se reveste de um carter ou funcionatio como lecer outras e melhores imediatamente vetores de existen ‘Manx (1945). ‘Aq edalbamossobretudo com ida desenolvidss pox Deneve & 270 conexdes que as habitualmente existentes entre produgto desejant produgio da vida material. Caso consigam conectar-se com 0 plano imanéncia da vida, 0 mesmo plano com base no q arte, a politica e 0 amor. io engendradas Quando nos perguncamos sobre sentido das oficinas terapéuticas tal questionamento diz respeito 20 desejo ¢ suas condigdes de efetuagao na vida, no trabalho, na criagdo. A questo do desejo e de suas produgées nos remete 2 pensar a época em que vivemos ¢ as condigées de produgio da cultura na contemporaneidade. Embora uma diferenga de grau ¢ no de nnatureza nos separe dos animais (assim, néo haveria oposicéo entre natureza e cultura, se consideramos a perspectiva da filosofia da diferenga)'® = enquanto eles téim um mundo =," para os homens “o munda” se apresenta como uma construgio permanente. © “mundo humano” no est tio garantido por padroes de comportamento fixados hereditariamente como corte no mundo animal, embora © mundo animal também nao possa ser compreendido como um mundo estético, sem a variagio trazida pela experiencia, Mas 0 que queremos enfatizar é que o mundo humano depende mais radicalmente, que o animal, da invengio que se dé no cotidiano da experigncia, Ele tem que ser recriado, um tecido cultural tem que ser produzido. A espécie humana demonstra, no perfodo em que vivemos, uma deficiéncia, uma certa incapacidade na criagio € recriagio deste tecido nos dizer que a capacidade do animal humano de construie mundos parece estar comprometida atualmente.™” Os tiltimos desenvolvimentos do capitalismo parecem agravar diversas condigdes solamento, 20 esvaziamento da esfera coletiva, a0 empobrecimento afetivo das cidades e a modalidades de controle sobre 0 campo da subjetividade que tém como efeito justamente dissociar a produgao da vida material da produgio da vida em geral conei as que levam a wdemos aquela‘regite’ da filosoi 1082, Nietrsche, Bergson, entre out laborada por Deleuze, como aparecem emt UEsKC 986), sobre as ameags que pram sobre a erpéci human. "Para uma dscusio sobee 2 aparece decadéncia da cleus humana nos cezmos a Loner (1986). Quando se desea, por melo da arte ou do trabalho, producirtestéros cexistenciais (insetit ou reinserie socialmente os ‘usuétios, torné-los cidadies...) cresse que est se falando (a meu ver, dever-se-ia falar) nao de adaptagio 4 ‘ordem estabelecida, mas de fazer com que trabalho e arte se reconectem com © primado da criagéo, ou com o desejo ou com o plano de produgio da vida. Pois que o plano da produgio desejante é também o plano de engendramento do ‘mundo humane’. No trabalho com os usutios de psiquiatria (terminologia empregada na atual reforma psiquidtrica), trata-se de seus aspectos mais cotidianos, pois é do cotidiano, principalmente, qu encontram privados os chamados doentes mentais, como disse Sarace Entretanto, vimos como o estabelec! seja no campo da psiquiatria, soja no campo da criagio artist , se apresenta pleno de obsticulos e isso no apenas para os chamados usuérios de psiquiatra, Do mesmo modo, uma subjetividade voltada unicamente para a utilidade, para a adaptacio é, na maioria das vezes, a demanda de instituigdes, de Familias, de clientes. No entanto, trata-se, também nesse contexto, de ‘estabelecer 0 primado da criagdo sobre todos os outros aspectos da vida’, compatibilizando do 0s aspectos pragmaticos e ui inas, 0 trabalho © a arte possam funcionar como catalisadores da construgio de cerritérias existenciais, ou de ‘mundos nos quais os usudrios possam reconquistar ou conquistar seu ci as questdes cotidianas que hoje vivemos, sejamos usustios psiquidtricos, idotos, desempregados, semi-empregados, mulheres chefes de familia, deficientes etc., referem-se também & a0 deserto das cidades e as palavras de reinvengio do c ordem freqiientem: (© campo da subj avaliagio das relagGes amorosas, nas politicas implementadas pelos governos, ‘ou nos aspectes ligados ao trabalho. Ora, tal prevaléneia dos aspectos técnico- sobre aqueles referentes & produgio ies a0 congress « .nco Basaglia em noverbro de 1996, Ria de Janeiro, que eve como remaica: Paradigmas da Arengo Psicos "= A questio do chamado seo sexual’ um indicador da que podemas cht dda sexualidade’, e também toda a ‘novel’ Clinton-Levinsiy ~ de péssimo gosto ~ © 0 julgumento do presdeace americano quanto a ese cso. 2 2m desejante € 0 que esti condenando nosso mundo & desertificagio = desertificagio das relagbes amorosas e do sexo, esvaziamento do campo vo, produgio de um niimero cada vex maior de excluidos, niio apenas do mercado de trabalho, mas de um co que muitos modos de ser wo se adequam a um mundo que coloea em primeito plano os aspectos ligados & produtividade cécnico-econémica. Com relagio & vida amorosa e & vida sexual assistimos, de um lado, @ uuma incitagio constante & sexualidade € a0 mesmo tempo a veiculagio de modelos fixando pré-requisitos rigidos 20 seu exercicio. Alguns centimetros de bunda, de coxa e mts indispensiveis! Ficam excluldos dessa maravilhosa sexual um grande niimero de pessoas ‘cujas formas esto aquém ou além dos padrées, Para estes, talvez reste uma sexualidade woyeur. Cresce 4 estranha idéia de que nos tempos modernos 0 sexo possa ser vivido sem contato corporal —os famosos namoros pela signos dessa modernidade ascética. Iss0 tudo conjugado a uma asso entre vida sexual e perigo, inevitavelmente 4 Atos, ou associada & estranhos ~ 0 que certamente reduz em muito a disp de corpos Vemos generalizar-se uma atitude pragmaticamente cautelosa diante da vida amorosa que acaba por inibi-la consideravelmente, Uma segio do jornal Folba de S. Paulo, denominada Saia Just ‘macéria sobre mulheres bem-sucedidas que viv sexual, dedicando-se inteiramente 20 trabalho, referindo-se quase corgulhosamente ao longo tempo em que jé estavam vivendo abstinenites. Uma entrevista com uma psicanalista no programa Sem Censura, da TV Educativa do Rio de Janeiro, falava dos inconvenientes do amor romAntico, em desuso no nosso tempo, no qual estaria em ascensio a amizade como tum valor maior que o amor. Nela, era sugerido que o amor era algo fantasioso, tuma espécie de engano ou comportamento neurstico em que se idealizava excessivamente 0 objeto amoroso mas que, no entanto, o sexo no casamento sto ada a campanhas de prevengio ir Arua, medo dos Jo para “encontros cera quase sempre ruim. Acreditamos que, para além da constatagio inegével que os costumes amorosos mudam nas diferentes épocas icas, 0 tom sensato € ‘Aqui aludimos & nogSo cspinorsta de envontro de compos. aparencemente mado, 94 a meso "nics! em que tas fi proferidas merece reflexlio, Recomenda-se, de forma disfargada, evitar @ estado de paixtio = presente nfo sé no amor sexual, mas na arte € ni revolugées politicas, como afirma Nietzsche." A paixio amorosa, assim como os movimentos de massa, sio fenémenos que parecem estar rareeitos za contemporaneidade desértica que vivemos. O estado de paixtio amorosa icas e politicas, & tio petigoso para este mundo quanto as revolugdes por seu poder em germinar novos mundos ou territérios.. ‘A postibilidade de reinvencio do cotidiano, trazida pela destruigso que © capitalismo opera nos modos de vida tradicionais é, também, condigio de possibilidade para 0 que poderfamos chamar de plasticidade sem precedentes do mundo contemporinco, no que diz respeito & possibilidade de invengao de novos modos de vida. Essa plasticidade ¢ @ contrapartida positiva dt idade de que do deserto brotem flores € desertificagao, ou s frutos, caso saibamos Que tipo de relagio poderia haver entre loucura e arte? Sabemos que nem todo louco é artista, mas temos conhecimento de que entre louctifa ¢ arte hd um parentesco ~ tantas vezes expresso por figuras como Bispo do Rosirio (paciente da Colénia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro). Podemos Ea vida ¢ criagllo jos. E a vida que ha na loucuitt, dizer que hé vida na loucura, asim com: continua de novas formas, de novos tert enquanto forsa disruptiva, que cria constantemente esse parentesco ehitie loucura ¢ arte. Muitos loucos, no entanto, tém como destina @ psiquiattizagio, ou caminhos sem saida, ‘linhas de aboligio ¢ nfo linhas de fuga’. Assim, enquanto a arte & sempre desestabilizagio de antigos e erlago de novos tertitérios, seria problemstico afirmar o mesmo acerca da louetti, ‘A loucura como processo é que € renovadora, ¢ nfo a loucura psiquiatrizada, objetivo das oficinas terapéuticas nos parece set 0 de produzir outras conexdes entre esses aspectos: produgio desejante, trabalho, criagio artlstiet, ‘A problematizagio dessa questo nos dé a idéia de sew carder abrangente no mundo em que vivemos. No caso especifico dos usuarios de psiquiatra, muitas quest6es se colocam toda ver. que nos defrontamos com o trabalho Vender ou nio vender o produto? E certo que os pacientes de usu: iS Nierzscne (a) estabelee uma rlagio centre a patio, a eragio arctica eas revolugBes que se dariam em momentos de esquecimento 278 necessitariam de recursos para poderem viver seu cotidiano. No entanto, ouvilie ito de uma experiéncia em que a maioria dos pacientes de uma of ina Terapéutica de Criagdo Artist decidiram, num certo momento, nZo fiz-lo Petmanegam na instituigio, como que marcando um territério construfdo por cles. Numa outra experiéncia, cujo relato se ouviu, todas as vezes que 0 ppaciente estava ‘em crisc’ néo conseguia receber pagamento que the deviam, Eis um funcionamento que apenas repete 0 modo de funcionar capitalista: ‘quem nfo tabalha, nfo ganhal. Nenhuma solidariedade, mesmo para com os impo: idos de produzit. E 0 trabalho alicnado, individualizado, impessoal. Cremos que nessas condigGes, o trabalho nao pode funcionar como vetor de existencializasao, como catalisador para que o paciente ‘reconstrua seu mundo’. Acreditamos que com as oficinas se quer muito mais do que getar algum dinheiro para o usudtio, Isso é importante, mas nio é apenas isso, No trabalho de supervisio que realizamos juntamente com Regina Benevides, no curso de especializagio Teorias e Priticas Psicolégicas em Instituigdes Publicas ~ Clinica Transdisciplinas, na Univeisidade Federal costumamos pér em pritica 0 trabalho de problematizagio terapeuticas. No curso, de formagio de profissionais para 0 trabalho em satide mental publi idas experiéncias de € mesmo em hospitais dissertagio a psicdloga ia Raposo Lopes," fieqiientemente os profissionais que atuam em oficinas ndo se questionam acerca do porqué e do para qué fazem o que fazem. Isso contribui para que com freqiiéncia, sob 0 rétulo ‘oficina’, se exerga a velha psiquiatria. Desde © seu nascimento, a psiquiatria procurou fazer do trabalho um instrumento terapéutico. A associagao trabalho e te tem, pois, uma longa histéria, nfo sendo de nenhum modo uma novidade, Para que essa ‘problematizacio’ possa ser fei saberes compreendidos no cam da psicologia, da psicanilise. Eis © que denominamos “clinica transdisciplinar"™*— lider com diferentes campos do saber, desarticulando as frontciras tradicionais © construindo novos parimetros tedrico-préticos, trouxemos fragmentos de questées ligadas & his io nos restringimos aos da ante, & filosofia 274 No livo © Papalagudl™ entramos em contato com um relato sobre ak impresses de um chef samoano de nome Tuiavi, ao visitar a Europa no inicio do século, Observando o trabalho do Papalagui (nome com o qual ele nha orgulho, mas que ele 4o: a de fazer uma s6 coisa por toda avidly ‘ uma choupéiil resultava numa grande Na aldeia em que vivia, se se dispusessem a con: eram capazes de fazer todas as tarefas requeridas. A choupana era construfel mente €, ao final, todos festejavam celebrando a tarefa cumpriday Esse eee nos leva a pensar que estamos diante de uma modalidade de relagio com o trabalho em que ele comporta uma insergao no eoletivoy com 0 prazes, com a festa. O trabalho moderno geralmente exclul eH aspectos, pois mesmo sendo shee: olghin, ol ol aa {que talvez. melhor caracterize as relagbes do Papalagul ‘trabalho seja a idéia de que lazer e trabalho esto em campos opostos, Gna unin an Tica cana passivamente de algo, freqitentemente diante de um video de TV. Espertse ‘com impaciéncia o fim de semana, que muitas vezes chega sem satisfaner etree prazer tio longamente adiado por intimeras enfadonhas obrigagées. Nao estamos propondo uma ida para Samoa nem uma volta As sociedades sem Estado, mesmo porque nem mesmo em Samoa as coisas s@ im, Se a Samoa de Tuiavi tem algo a nos ensinar, esta ¢ va de buscar estabelecer mais @ como correlato un prazer na tarefa. Ali passam mais apenas como ‘utop! ‘mais conexses entre aspectos que acl : tablho, rape, peter. Temos que incorporer como wpa anil ‘plans’ para nosso cotidiano, ja que tod ado a subjetividade a dolorosos impasses qu contemporiinea nao pode deixar de enfrentar. nas se reveste de tantos questionamentos? cemente problematizé-lo? Porque as questOes Por que 0 trabalho das o Por que é necessério const 10 da produgio que 0 Foucault nos mostrou que pa ragio da pr prod, este também foi capuz de produzeestratégias de poder altamente individual por ele denominadas ‘poder discipline tem sido utilizada no contexto do movimento a 276 a colocadas nfo dizem respelto apenas & cerapeutica da doenga m Ee eee rial pat tod ocedede, + ues ras neeavl rt oeriiscl oc nash ee Te justamente pelo etabelecimento de outta ¢ melhores flap Produgio descjante e produgfo socal, no sentido da expan de Gero, cba, nko di mpco pent es unui de pg nll “ Ruveencias Bistiocrsnicas igs pablicas. Cadernos de dade do Programa de Esudos 97. [ABBES, C. etal Teoriase priticas psicoldgicas em ‘Subjeridade, NGclo de Estudos Pesquisas dat [P6e-Graduados em Psicologia Clini da PUC DELEUZE, G. El Beyzonismo, Madrid: Cétedrs, 1987. DELBUZE, G. &e GUATTARI E 0 Anti-Ealio: capitalimo ecxguiofinia. Rio de nie Imago, 1976. LANCET, A: (Ong). Sade cura, Séo Paulo: Hucitec, 1990. LONRENZ, K.A Demolio do Homem: cvsca fa religdo do progr. Sao Palo: 1986. LOPES, M.C.R, Repersando Mestrado, Rio de Janeiro: Rio de Janeit. MARX, K. EiCapita, Mexico: Fuente Cultural, 1945. NIETZSCHE, F, Da Usilidade « Incomvenientes da Histéria para a Vide, Usbo Livrolindia, sd PITTA, A. (Org)- Recbilizo Picosocial no Brasil. Sio Paso: Hite, 1996. SARACENO, B. Rebiltagio oil, Una prétca i expre de tara Un: PTA ®- (OMB) Reabilieeo Prcosocial no Brasil. Sao Paulo: Hucitee 1996. SAUER, E.(Org.). 0 Pupalagu, So Paulo: Marco Zero 5d UEXKOLL J. V. 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