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Titulo Unico Das Normas Fundamentais e da Aplicagao das Normas Processuais 1. Interpretacdo. Interpretarsignifi- ca adscrever sentido a textos e a elementos no textuais da ordem juridica. O objeto da interpretagio € 0 texto ou algum elemento nio textual daordem juridica (por exemplo, ocostume).O resultado da interpretacioéa norma. A atividadeiinterpretativaé reconstru- tiva, porque parte de significados existentes reconduziveisaostextos que constituemoseu objeto. A interpretacio exige um processo deidentificasio de sentidos,valoragio entre sentidos concorrentes e decisio por um des- ses sentidos. Interpretar implica identificar, valorar e decidir. A fim de que a interpreta~ fo seja aceitével do ponto de vista juridico, cla tem de ser racional. A racionalidade da interpretagio decorre da necessidade de a atividade interpretativa serjustificadainter- nae externamente e de o seu resultado ser coerente e universalizavel. Como anormaé resultado da interpretagao,é teenicamente impossivel qualquer aplicaso normativa sem prévia interpretagio. Nada obstante, € perfeitamente possivel interpretagdo sem aplicasfo: a interpretago doutrinéria é um exemploclarodeinterpretacio sem aplicaglo. 2. Aplicagdo.Enquantoainterpretagio tem por objeto os textos, a aplicagao tem por ‘objeto as normas. Aplicar normas significa produzir efeitos juridicos concretos sobre determinada situacio juridica. E pressuposto inarredével da aplicagao a interpretagio. Capitulo! DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 1, Normas fundamentais. As normas fandamentaiselencadas pelolegislador infra~ constitucional onstituemaslinhas mestrasdo (Codigo: sio os eixos normativos a partirdos quais o processo civil deve ser interpretado, aplicado e estraturado. As normas funda- ‘mentais do processo civil esto obviamente nna Constituigoe podem ser integralmente reconduzidas.aodireito fundamental ao pro- cessojusto (art.5.°,LIV, CE).O Cédigo néo reproduz a titulo de normas fundamentais todos os direitos fundamentais processuais quecompéem odireitoao processojusto.Iss0 obviamentento quer dizer queesses direitos fundamentais tenham perdido esse status normativo:o direito aojuiz natural,o direito a defesa ¢ 0 direito & prova, por exemplo, permanecem como normas fundamentais. do processo civil brasileiro, nada obstante ‘a auséncia de reprodusio no Cédigo a esse titulo. A aberturadeum Cédigode Processo Civilpelaintrodusiode suas normas funda~ mentaisconstituluma tendéncia que ressai do direito comparado desde a segunda metade dos Novecentos (0 Code francés principia enunciando principes directuers du procés¢ as Civil Procedure Rulesinglesas comegam pela exposisio do seu overriding objective). 2. Compromissos fundamentals. A ‘maior visibilidade outorgada a determina~ dos direitos fundamentais processuais no novo Cédigo em detrimento de outros por forsa da respectiva previsio como normas fandamentais do processo civil decorre da circunstancia desses constituirem compro~ missos fundamentais dollegislador:respeitar aliberdade e a igualdade de todos perante a ‘ordem juridica (arts.1.°,2.°,3.2e8.°,CPC), prestar tutela tempestiva aos direitos (arts. 42¢ 12, CPC) e administrarajustiga civil a partir de uma ideologia democritica (o que Ievaaum novo equacionamentodasrelagdes entre ojuizeas partes partirdacolaborasio, do contraditério ¢ da fundamentacio, arts. 5,62,78,9.,10€ 11,CPC). 1 3. Reprodug: snormasfundamen dispositivos apen: Constituigao, serr ppasso que outros ¢ ficar os direitos fu © direito ao proce de texto e de sen ‘causa o significad tal como reprodu Cédigo, caberé re perior Tribunal de estiver em causa ¢ sobre injustaprote: processual pelo roterao,protecio de protegio), cabe para SupremoT Art. 1.8 0 prc do, disciplinado € 05 valores € as 1 tabelecidos na Cc Federativa do Bra: osigdes deste Cé 1. Ordenado, tado. Oprocessoci direitos fandament fandamentalaopre dizer queolegis odors dedeeake Em outras palvra nado e disciplinadc ‘0 Cédigo de Proce: legislador infraco: com o seu dever d justo. Vale dizer: 0° constitui direito cc Cédigodeveserint Constituiggoecom ‘oque significa que ever ser resolvida alcance da Constt ‘como meio para tur antais e da 3 Processuais o civil deve ser interpretado, vuturado. As normas funda- -cesso civil estdo obviamente oe podem ser integralmente > direito fundamentalao pro- 58,LIV,CF).O Cédigonio ilo de normas fiandamentais os fandamentais processuais > direitoao processojusto.1ss0 oquerdizerque esses direitos tenham perdido esse status scito20juiznatural,odireito reito & prova, por exemplo, como normas fundamentais vil brasileiro, nada obstante eprodugio no Cédigo a esse radeum Cédigo de Processo dugiode suas normas funda uiumatendénciaqueressaido ado desde a segunda metade 9s (0 Code francés principia incipes directuer du procs as ‘Rulesinglesascomegam pela auoverriding objective). omissos fundamentais. A ade outorgada a determina indamentais processuais no m detrimento de outros por stiva previsio como normas do processo civil decorre da lesses constituirem compro~ entaisdo legislador-respeitar igualdade de todos perante a (arts.1,22,3.2€8.°,CPC), ‘empestiva aos direitos (arts. eadministrar a justica civil deologia democritica (0 que equacionamento das elagées partes partirdacolaborasio, ioe da fundamentacio, arts. 110e11, CPC). 3. ReprodugZoedensificacao. Entreas normas fundamentaisdo processocvilalguns dispositivos apenas reproduzem o texto da ‘Constituiso, sem acréscimo de sentido, 20 pasto que outros claramente buscam densi ficar os direitos fndamentais que integram 0 direito ao processo justo, com acréscimo de texto e de sentido. Quando estiver em ‘causa o significado do direito fundamental tal como reproduzido ou densificado pelo Cédigo, caberé recurso especial para o Su- perior Tribunal de Justica. Quando, porém, estiver em causa eventual questionamento sobreinjusta protegioao direito fundamental processual pelo Cédigo (por auséncia de protesao, protesio insuficienteouretrocesso de protecio), caberd recurso extraordinéio para o Supremo Tribunal Federal. Art. 1.2 O processo civil serd ordena- do, disciplinado e interpretado conforme (08 valores ¢ as normas fundamentals es- tabelecidos na Constituigéo da Reptiblica Federativa do Brasil, observando-se as dis- posigdes deste Cédigo. 1. Ordenado, disciplinadoeinterpre- tado. Oprocesso civil éestruturadoapartirdos direitos fundamentaisquecompoem odireito fundamental ao processojusto,oque significa dizerque olegisladorinfraconstitucional tem odeverdedesenhé-loapartirdoseucontesido. §: Em outras palavras, 0 processo civil é orde- hado e disciplinado pela Constituigéo,sendo FE 6 Cédigo de Processo Civil uma tentativa do ‘egislador infraconstitucional de adimplir com o seu dever de organizar um processo Vale dizer: 0 Cédigo de Processo Civil onstitui dreito constitucional aplicado. O ue significa que as dividas interpretativas em ser resolvidas afavor da otimizagaodo Rance da Constituiglo e do processo civil no meio para tutela dos direitos. 4 [Nove Cédigo de Proceso Civil Comentade Titulo Unico - Das Normas Fundamentals 2. DaConstituigdoaoCédigo.0 Cédi- .gode Processo Civilnio éplenoenem central, nada obstante sirva, enquanto densificagio infraconstitucional do direito a0 processo justo, como direito processual geral — isto 6, transsetorial, sendo aplicavel naquilo que nioconfliteem toda disciplina processual no direito brasileiro (art. 15,CPC).Naoépleno, porque o sistema & relativamente aberto © diferentes estatutos processuais previstosem leis extravagantes convivem com o Cdigo. Nioécentral, porqueacentralidadenaordem juridica brasileira éda Constituigio. Isso quer dizer que a construgio e a reconstrugdo do sistema processual civil parte da Constituigéo, vai legislagio e volta paraa Constituiglo:o direito fundamental ao processo justo prin- cipia e enfeixa o processo civil brasileiro. Por essa razio € que o processo tem de ser interpretado de acordo com a Constituigao, observando-seas dispasigdesdo Cédigo—que deseuturno nfo estio imunesaocontrolede constitucionalidade. 3. Direitoao processojusto.O direito ‘a0 processo justo constitui principio fun- damental para organizacio do proceso no Estado Constitucional (art.5.°,LIV,CF).E, modelo minimo de atuagao processual do Estado e mesmo dos particulares em deter- minadas situag6es substanciais. A sua obser- vasio é condicio necesséria e indispensivel para obtengio de decisdes justas. O direito 420 processo justo € um direito dé natureza processual. Eleimpoe deveres organizacionais ao Estado na sua fungio legislativa judiciéria ‘cexecutiva. E por essa razio que seenquadra dentro da categoria dos direitos a organizagio ao procedimento.A legislagZo infraconsti- tucional constitu um meio de densificagio do direito 20 processo justo pelo legislador. E a forma pela qual esse cumpre com o seu deverde onganizarum processoidéneo dtutela dos direitos. Asleis processuaisnostonada mais nada menos do que concretizagées do art. 1.° direito'20 processo justo. O mesmo se passa com a atuagio do Executivo e do Judiciario. A atuagio da administracio judiciéria tem de-ser compreendida como uma forma de concretizasio do direito a0 processo justo. Qjuie tem o dever de interpretar e aplicar a legislaso processual em conformidade como direito fundamental ao processo justo. O Estado Constitucional tem o dever de tutelar de forma efetiva os direitos. Se essa protegio depende do processo, ela s6 pode ocorrer mediante processo justo. No Estado ‘Constitucional, o proceso s6 pode ser com- preendido como 0 meio pelo qual se tutela 0s direitos na dimensio da Constituigao.O direito ao processo justo visa a assegurar a obtengio de uma decisio justa. Ele €o meio pelo qual se exerce pretensio & tutela dos direitos. Esse é0 seu objetivo central dentro do Estado Constitucional. 4. Contetido do direito ao processo justo. Nao & possivel definir em abstrato a cabal conformasao do direito ao processo justo. Trata-se de termo indeterminado. O direito ao processo justo constitui cliusula geral - a norma prevé um termo indeter- minado no seu suporte fatico e néo comina ‘consequéncias juridicas & sua violagio. No entanto, é possivel identificar 0 seu micleo duro, sem o qual seguramente nfo se esta diante de um processo justo. O direito a0 processo justo conta, pois, com um perfil minimo. Em primeiro lugar, do ponto de vista da divisdo do trabalho processual, 0 processo justo pautado pela colaboragiodo juizparacomas partes (art.6,CPC).O juiz, € paritdrio no didlogo e assimétrico apenas ‘nomomento da imposigao de suas decisbes. Em segundo lugar, constitui processocapaz de prestar tutela jurisdicional adequada e efetiva (art.5.°,XXXV, CF,e3.°,CPC),em queas partes participam em pé de igualdade e com paridade de armas (art. 5.°,1, CF, ¢ 7.2, CPC), em contradit6rio (art. 5.°, LV, Marinoni ~ Arenbart ~ Mitidiero 92 CFe7-,92e10.°,CPC),comampladefesa (xt. 5°, LV, CF), com direito a prova (ast. 5.2 LVI, acontrario sensu, CF,¢369,CPC), perantejuiznatural (arts.5.°,XXVIe LIL, CF) emque todos os seus pronunciamentos sio previsiveis, confidveise motivados (arts. 93,IX, CFye 11¢ 489, § 1.°,CPC),em pro- cedimento ptiblico (arts. 5.°, LX, e 93, IX, CFe11¢189,CPC),com duragio razoavel (arts. 5°, LXXVIII, CR,e 4°, CPC) eem, em sendo o caso, com direito 4 assisténcia juridica integral (art.5.°, LXXIV,CRe98a 1102, CPC) ecom formaciode coisa julgada (art.5.°, XXXVI, CF,e502,CPC).A obser vvincia dos elementos que compoem o perfil minimo do direito ao proceso justo so os critérios a partir dos quais se pode aferir a jjusta estruturagao do processo. O processo justo depende da observancia de seus ele- ‘mentos estruturantes. A aferigao da justiga do processo mediante a verificago pontual decada um de seus elementos é método re- correntena jurisprudéncia. Trata-se de meio objetivo de controle de ustica processual. A violagSodo direito a0 processo justo pode ser direta ou indireta. O cabimento de recurso ‘extraordinério fundadonaviolagao do direito a0 proceso justo (art. 5.°, LIV, CF) s6 se configura quando i ofensa direta. Quando o-exame da violagao do direito ao proceso justo depende da simples interpretagio da legislacio infraconstitucional que 0 con- cretiza, hé apenas ofensa indireta. Isso no quer dizer,contudo, que Supremo Tribunal ‘Federal ndo possa controlar mediante recurso ‘extrordindrioa suficiénciaouaexcessvidade daprotesao despendidapelo legisladorinfra- constitucional na densificasao do principio do direito a0 processo justo. Nesse caso nio ha simples interpretagao de normas infra~ constitucionais. H4 controle de adequada densificagao do direito 20 processo justo. Quando a parte afirma a existéncia de pro- tego insuficiente ou excessiva da legislagao diante da Constituiglo, firma a existéncia 93 Thu deofensa direta nom a0 processojusto, deser lidade decontroledeco legislagio infraconstitu ainterposigao 0 conh extraordinirio. O mest afirmaaviolagiododin pelaauséncia de norm que oconcretize. Nesst ‘ofensa diretae abe rec 5..Eficdcia do di justo. O direito a0 pr ficécia vertical, horia, repercussfolateral. On clementosestruturante: Constitucional aadota zadoras do ideal de pr dimana (eficdcia verti pode ocasionar reper esfera juridica dos parti tical com repercussiola os particulares, em sew tendentesarestrigdese: aobservé-lo (eficiciah 420 processo justo é mul fangZo integrativa, inte dora e atimizadora. Cc arealizagdo de um esta 40s direitos, determin clementosnecessérios’ protetividade,ainterpre Jépreveemelementosne doestadoideal derutelal ficéciadenormascontss com a promogio do es! otimizaglo do alcance dadedosdireitosno Est A atuagio do legislador ~ mediante a elaboragi cédigos processuais ed forma exclusiva ou pan podeservistacomocon 40 processo justo. Hé: subjetiva, de que o leg i 92 :10,CPC),comampladefesa CF), com direito a prova (ar. atraria sensu, CF,€369, CPC), catural arts.5.°,XXVIe LIM, 1odos os seus pronunciamentos s,confidveise motivados (ars. 11¢489,§1.°,CPC),em pro- Sblico (arts. 5.°, LX, e 93, IX, ',CPC),com durasio razoivel XVIII, CF, 4, CPC) eem, 4380, com direito & assisténcia alla 58 LXXUV,Che980 ‘om formagio decoisajulgada VicEe302,CPC) Reece ‘mentos que compéem o perfil tito a0 processo justo s80 08 ‘tir dos quais se pode aferir a ag40 do processo. O processo + da observancia de seus ele- ‘urantes. A aferigao da justiga tediante a verificaséo pontual seus elementos é método re~ ‘isprudéncia. Trata-sede meio atrole dejustiga processual. A «ito aoprocessojusto pode ser seta. O cabimento de recurso fundado naviolaggodo direito sto (art. 5.8, LIV, CF) 56 se ado héofensa direta. Quando slagao do diteito 20 processo da simples interpretagio da -aconstitucional que o con- nas ofensa indireta. Isso no xudo,queo Supremo Tribunal ssacontolarmedianterecurso \suficiéncia ouaexcessividade pendidapelolegisladorinfra- nadensificagio do principio :ocesso justo. Nesse caso no pretagio de normas infra~ Hi controle de adequada 0 direito ao processo justo, cafirma a existéncia de pro- ite ouexcessiva dalegislagio situigdoafirma a existéncia 93 [Novo Cio de Proceso Civil Comentade Titulo Unico - Das Normas Fundamentals de ofensa direta i normatividade do direito a0 processojusto, desencadeandoa possibi- lidade decontrole de onstitucionalidade da legislagdoinfraconstitucional,o queautoriza ainterposiglo eo conhecimento de recurso extraordinério. O mesmose diga quandose afirmaaviolagso do direito ao processojusto pela auséncia de norma infraconstitucional que oconcretize. Nesse caso ha igualmente ofensa dineta ecabe recurso extraordindio. 5. Eficdcia do direito ao processo justo. O direito ao processo justo goza de cficécia vertical, horizontal e vertical com repercussio lateral. mesmo se digade seus ‘elementos estruturantes. Ele obrigao Estado Constitucional a adotar condutas concreti~ zadoras do ideal de protetividade que dele dimana (eficécia vertical), o que inclusive pode ocasionar repercussio lateral sobre a esfera juridica dos partculares (eficécia ver- tical com repercussio lateral). Ainda, obriga os particulares, em seus processos privados tendentesarestrigdese extingdes de direitos, a observi-lo (eficacia horizontal). O direito a0 processo justo € multifuncional. Ele tem fangio integrativa, interpretativa, bloquea~ dora e otimizadora. Como principio, exige arealizagio de um estado ideal de protego 408 direitos, determinando a criagio dos ‘elementosnecessirios promociodoideal de protetividade, ainterpretagio dasnormas que jpreveem elementos necessérios’ promosio doestadoidealdetutelbilidade,obloqueioa cficécia de normascontririasou incompativeis ‘com a promocio do estado de protegio ea ‘otimizagao doalcance do ideal de protetivi- dadedos direitos no Estado Constitucional. A.atuagio do legislador infraconstitucional ‘+mediante a elaboragdo e promulgagio de ‘cédigos processuais e de leis que tratam de forma exclusiva ou parcial de processo ~ $6 -podeservsta como concretizagio do dizeito adpprocesso justo, Hi ai dupla presungto: getiva, de que o legislador realizou sua fangio dando adequada resposta A norma constitucional favor legislatorit), objetiva, de que a lei realiza de forma justa o fundamental ao processojusto (favorlegis).A. Constituigio-o direito ao processojustonela previsto- €0 centro a partir do qual a legis- ago infraconstitucional deve se estruturar. O diteito ao processo justo exerce papel de centralidade na compreensioda ‘nftaconsticonal do proceso nee que sedeve buscaraunidade na conformagiodo processo no Estado Constitucional. Dadaa complexidade dasua ordem juridica,marcada pelapluralidadede fontesnormativas,imp5e- ~senios6 umaleituraa partirda Constituigio da legislagao infraconstitucional, mas tam- ‘bém de um dilogo das fontes para melhor interpretaslo da legislagdo processuale para otimizagao de solugées conforme ao direito fundamental a0 processo justo. Art. 2.° © proceso comesa por inicia- tiva da parte e se desenvolve por impulso Oficial, salvo as excecGes previstas em lei. 1. Nemoiudexsineactore.Neprocedat index ex officio. Ao lado dos arts. 141, 490 © 492, CPC, o artigo em comento forma o conteido daquilo que 2 doutrina costuma chamar de principio da demanda (ou prin- cipio dispositivoem sentido material). Duas ideias basicas encontram-se af enunciadas: 0 aforismo nemo iudex sine actore traduz a necessidade de pedido da parte para que se inicico processo;oneprocedat index ex officio concerne & amplitude que se deve outorgar ‘aos poderes do juiz uma vez,jé instaurado 0 proceso. Prestigia-se, nessa senda, o valor autonomiaindividual naconstrugiodo proce- dimento, So excegées Ainérciajurisdicional quanto a necessidade de provocasio para atuagio 20 longo do processo, por exemplo, os arts. 485, § 3.°,€ 487, II, CPC. 2. Impulso oficial. Quando a marcha do processo, 0 impulso processual pode se dar pelas partes ou pelo juiz. O direito bra~ sileiro adotou a segunda opsiio. O processo desenvolve-se porimpulso oficial no sendo necessiria a previsio de normas t6picas ¢ cexpressas para que se passe dessaparaaquela fasedo procedimento (STJ, 1*Turma, REsp 866.445/MG, rel. Min, Francisco Faldo, j 27.02.2007, DJ 16.04.2007,p.177).A.para- lisagio do feito nfo ofende aoart.2.°,CPC, quando o seu desenvolvimento depende de providéncia da parte (STJ, 1. Turma, REsp 27.158/RJ,rel. Min. Demécrito Reinaldo,}. 14.12.1998, DJ22.03.1999, p.54):€poressa razio que a parte final do artigo ressalva as excegies legais. Art. 3.° Nao se excluiré da apreciacéo jurisdicional ameaga ou lesio a direito. \§1.°€ permitida a arbitragem, na forma dalei. § 2° 0 Estado promoverd, sempre que possivel,a solucdo consensual dos confltos. §3.Aconciliagio, a mediagao e outros métodos de solucdo consensual de confli tos deverdo ser estimulados por juizes, ad- vogados, defensores piiblicos e membros do Ministério Pablico, inclusive no curso do processo judicial. 1. Direitoa tutelaadequadaeefetiva. ‘Ao proibirajustigade mao prépriaeafirmar quea*leinio excluiré da apreciaglo do Poder Judiciario lesio ou ameaca a direito” (art. 5.2, XXKV, CF), nossa Constituigio afirma a existéncia de direito a tutela jurisdicional adequadaeeefetiva. Ao reproduzirsemethante dispositive, o art. 3, capur, funciona como sumaclfusula de destaque desse compromisso donovo Codigo. Obviamente,aproibigdo da antotutelas6 pode acarretar odeverdo Estado ‘Constitucional de prestartutelajurisdicional idénea 20s direitos. Pensar de forma diversa significa esvaziar nio s6 0 direito a tutela Marinoni ~Arenbart ~ Mitidiero 94 jutisdicional (plano do direito processual), ‘mas também o proprio direito material, isto 6 0direito’ tuteladodireito (plano do direito material), E por essa razio que o dircito & tutela jurisdicional sé pode ser concebido como direito & tutela jursdicional adequa- da, efetiva e tempestiva (arts.5.°, XXKV e LXXVII, CF, ¢ 3° e 4°, CPC). O direito A tutela jurisdicional ¢ exercido mediante propositurade aslo. A ago édireito a utela adequada, efetiva e tempestiva mediante proceso justo. Importa antes de qualquer ‘coisa ofingulo teleolégicodo assunto. Arica literatura formada a respeito do conceito de ago na segunda metade dos Oitocentos ¢ na primeira metade dos Novecentos, prin- cipalmente Alemanha ¢ na Itilia, portanto, com 0 advento da fundamentalizagio do direito de ago, ganha novo significado - 0 focoédeslocadodoconceito paraoresultado propiciado pelo seu exercicio. Vale dizer: a ado passa a ser teorizada como meio para prestagdo da tutelajurisdicional adequada, efetivac tempestiva dos direitos. Trata-sede direso oritunda da consciéncia de que nio basta declarar os direitos, importando antes de qualquer coisa prever técnicas processuais capazes de realizé-los, sem os quais o direito perde qualquer significado em termos de efetiva atuabilidade. 2 Atutelaadequada.A tutela jurisdicional tem de seradequada para tutela dos direitos. O processo tem de ser capaz-de promovera realizacio do direito material. O. meio tem de ser idéneo & promosio do fim. A adequagio da tutela revela a necessidade deanilisedo direito material posto em causa para, partir dai, estruturar-se um proceso dotado de técnicas processuais aderentes & situaglo levada a juizo. A igualdade mate~ rial entre as pessoas ~e entre as situages substanciais carentes de tutela por elas titu- larizadas ~ s6 pode ser alcangada na medi- cdaem que se possibilite tutela jurisdicional ‘deo 94 A (plano do diteito processual), no proprio direito material, isto ‘utelado direito(planodo direito or essa razao que o direito & dicional s6 pode ser concebido ‘0 tutela jurisdicional adequa~ + tempestiva (arts. 5.°, XXXV e 2B¢3.°e 4, CPC). O direito sdicional € exercido mediante deasio. A ado édireito arutela -fetiva c tempestiva mediante xo, Importa antes de qualquer loteleolégico do assunto. Arica «mada a espeito do conceito de anda metade dos Oitocentos metade dos Novecentos, prin ‘Alemanha e na Italia, portanto, ato da fundamentalizacio do 4o, ganha novo significado — 0 sdodoconceitoparaoresultado ‘elo seu exercicio. Vale dizer: a ser teorizada como meio tutela jurisdicional adequada, >estivados direitos. Trata-sede ada da consciéncia de que no +08 direitos, importando ante cisaprevertécnicas processuais lizé-los,sem os quaiso direito tet significado em termos de Tidade. oatutelaadequada.A tutela emdeseradequada paratutela ) processo tem de ser capaz de alizagao do direito material. eridéneo a promosio do fim. da tutela revela a necessidade lireito material postoem causa In estruurar-se um processo nicas processuais aderentes & ‘aa juzo. A igualdade mate- ‘ess0as —e entre as situacdes arentes de tutelapor elas titu- Pode ser alcancada na medi- »ossibilite tutela jurisdicional 95. Nowe Ciige de Proceso Civil Comentado “Titulo Unico - Das Normas Fundamentais diferenciada 20s direitos. O proceso tem de ser adequado A finalidade que pretende a alcangar, o que significa que é inafastavel do campo da tutela jurisdicional a relagto entre meio e fim, capazde outorgar unidade teleol6gicad tutelajusisdicional dos direitos. E poressa razao que o novo Cédigo,além de prever procedimentos diferenciados aolado dorprocedimento comum, introduz varias ‘éenicas processusisno procedimentocomum capazes de moldaroprocesso as necessidades do.direito material afirmado em juizo. Por essazazio € que 0 novo Cédigo prevé, por exemplo, distribuigio adequada do énus da nclusivecom possibilidade deinversio (qxt:373,CPC), téenicas antecipatérias id6- neas a distribuir isonomicamente 0 onus do no processo, sejaem face da urgéncia (arts. 300 a 310, CPC), seja ern face da evi- denicia (art. 311, CPC), de formas de rutela jurisdicional com executividade intrinseca (arts. 536 a 538, CPC) e técnicas executivas atipicas (arts. 139, IV, 536 a 538, CPC). dever do legislador estruturar 0 processo em atengio & necessidade de adequago da tutelajurisdicional. E deverdojuizadapté-lo concretamente, a partir da legislacdo, a fim dexiabilizar tutela adequada 20s direitos. 3. Direito a tutela efetiva. A tutela jurigdicional tem de ser efetiva. Trata-se de imposiglo que respeita aos préprios funds- mentos do Estado Constitucional,jé que € facfimo perceber que a forea normativa do Direito fica obviamente combalida quando esse.carece de atuabilidade. Nao por acasoa cefetividade compéeo principio daseguranga jusidica ~ um ordenamento juridico s6 ése- sgurose hi confianga narealizapiodo direito queseconhece. A efetividade da tutelajuris- dicionaldizrespeitoao resultado do processo. ‘Mais precisamente, concerne necessidade de o resultado da demanda espelhar 0 mais possivelo direito material, propiciando-se as partes sempretutelaespecifica—ou tutelapelo resultado priticoequivalente-emdetrimento datutelapelo equivalentemonetirio,O direito aefetividade da rutelajurisdicional, portanto, implica necessidade:i) de encarar oprocesso partir do direito material - especialmente, 1 partir da teoria da tutela dos direitos ¢ if) de viabilizar-se nfo s6 tutela epressiva, mas também e fundamentalmente tutela pre- ventiva aos direitos, E imprescindivel para prestacio de tutelajurisdicional efetivaa fiel identificagao da tutela dodireito pretendida pela parte. Vale dizer: preciso em primeiro lugar olhar para o direito material afim de saber-se qual a situaglo juridica substan- cial quese pretende proteger judicialmente. ‘Durante muito tempo foi suficiente pensar ‘em tutelas repressivas contra o dano para prestar tutela jurisdicional. Ocorre que o aparecimento dos novos direitos, marcados emgeral pelaideiade inviolabilidade,obrigou co Estado a reconhecero direito a tutela pre- ventiva contra ilicito, Em outras palavras, determinou o reconhecimento do direito ‘utela inibitéria, capaz de prestar impedir a pritica,a continuagio ou areiteragaode um ilicito (por essa razio € que 0 novo Cédigo prevéo direito a tutela inibitéria no art. 497, parigrafo nico, CPC). Dafficouficiladou- tina, na verdade, perceber a necessidade de pensar todo o processo a partir do direito ‘material com o objetivo de promover a sua efetividade, propondo-se a estruturagio do ‘processo como um todo a partir do direito a tutelaespecifica dos direitos. A tutelajurisdi~ ional pode ter por objetivoaprotegio contra 2 ilicito ou contra o dano. Ato ilicito € ato contririo ao Direito. Fato danoso é prejuizo juridicamente relevante. So conceitos que ‘do se confundem. Nada obsta, inclusive, a ‘queomesmo processo viablizetutelacontra oilicitoe tutelacontraodano.A tutelacontra oilicito pode ser prestada de forma preventiva (tutela inibitéria, at. 497, pardgrafo tinico, CPC) ou de forma repressiva (tutela de re- mosio do ilicito, art. 497, pardgrafo tinico, ppm Marinoni — Arenbert— Mitidiero 96 CPC).A primeiravisaaimpedira pritica,a reiteragSo ou a continuagio de um ilicito. E uma tutela voltada para futuro. A segunda, a remover a causa de um ilfcito ou os seus efeitos. Em ambos os casos prescinde-se da demonstragio do dano e de culpa ou dolo ‘parasuaconcessio (art.497, parégrafotinico, CPC). E uma tutela voltada ao passado. A tutela contraodano ésemprerepressiva. Ela pressupbe a ocorréncia do fato danoso. Ela pode visarreparagdo do dano (tutela repa~ rat6ria) ou a0 seuressarcimentoem pecinia (tutelaressarcitéria), Aonde existeum direito cxisteigualmente direito’suarealizacio.Um direitoéuma posicSojuridicamente tutevel. E da sua previsio que advém o direito asua tutela~jé que o fim do direito éasua prépria realizacio. A previsio do direito pela ordem Juridica outorga desde logo pretensio a sua protecaio efetiva. Se a ordem juridica prevé direitoinvioliveld imagem, honra,intimidade vida privada, por exemplo, prevé no mes- ‘mo passo direito& tutelainibitéria capaz de prevenirasuailicita violagao, direitoatutela reintegratéria para remover afonte doilicito ou seus efeitos e direito a tutela reparatéria contra o dano experimentado. 4. Arbitragem. A ordem juridica bra- sileirareconhece a possiblidade de pessoas capazessolucionarem seuslitigiosenvolvendo direitos patrimoniais disponiveis mediante arbitragem (arts. 3.°, § 1.°, CPC, 1.°, Lei 9.397, de 1996). O Supremo Tribunal Fe- deral entende que essa previsio & constitu- ional, STF, Pleno, AgRg na SE 5.206/EP, rel. Min. Sepilveda Pertence,j. 12.12.2001, DJ30.04.2004, p. 29: “Lei de Arbitragem (L. 9.307/1996): constitucionalidade, em tese, do juizo arbitral; discussio incidental daconstitucionalidade de virios dos tépicos danovalei, especialmente acerca da compa tibilidade, ou nfo, entre a execucio judicial cespecifica para a solusio de furuzos confli- tos da cliusula compromissériae a garantia constitucional da universalidade dajurisdigd0 do Poder Judiciério (CF, art. 5.°, XXXV). Constitucionalidade declarada pelo plen rio, considerando o Tribunal, por maioria de-votos, que a manifestaco de vontade da partemnacliusula compromisséria,quando da celebragio do contrato, e a permissdo legal dada a juiz para que substitua a vontade da parterecalcitranteem firmar o compromisso niio ofendem oart.5.°, XXXV, da CF. Votos vencidos, em parte ~ incluido o do relator — que entendiam inconstitucionais a cusula compromiss6ria~dada aindeterminaciode seuobjeto-eapossibilidade de aoutra parte, hhavendo resisténcia quanto & instituigao da arbitragem, recorrerao Poder Judicidrio para compelira parte recalcitranteafirmarocom- promisso,e,consequentemente, declaravam a inconstitucionalidade de dispositivos da Lei 9.307/1996 (art. 6.°, pardgrafo tinico; 7.9 seus parigrafos ¢,no art. 41, das novas redagées atribuidas aoart.267, VITeart.301, TX doC. Pr. Civile art. 42), por violagio da garantia da universalidade da jurisdigao do Poder Judiciério. Constitucionalidade-aipor decisiounanime, dos dispositivos da Lei de Axbitragem que rescrevem airrecorsbilida- de (art. 18) € 0s efeitos de decistojudiciéria da sentenca arbitral (art. 31)”. Submetida determinada questio cuja solugfo deve ser arbitral 20 Poder Judiciério por conta da ‘existencia de convengdo de arbitragem, tem o interessado de arguir a existéncia de con- vengio na contestacio (art. 337, X, CPC), sob pena de sua omissio implicar aceitaco dajurisdigdo erentincia ao jtzo arbitral (art. 337, § 6, CPC). Da decisao que rejeita no todo ou em parte a alegacio de convencio de arbitragem cabe agravo de instrumento (art. 1.015, 111, CPC). Dadeciséo queacolhe, indo processo, cabe apelagso (art. 1.009, CPC). 5. Solugao consensual. O novo Cé- digo tem como compromisso promover a 97. Tel solusio consensual doli suas marcas a viabiliza abereura para a autonor tes—o que se manifest: aque o resultado do pt tum consenso das part 32,CPC),mas tambéa cestruturagio contratu: aspectos do processo (n art. 190, CPC, ¢ calenc 191,CPC). O juizditig incumbénciadepromov ‘a autocomposisio, pre auucilio de conciliadore: iis (art. 139, V,CPC, ‘mediadores judiciais si cujasatribuigées estiod 165a175,CPC. Art. 42 As partes t 1. Direito a tutel reito a duragio razoi constitui € no implic rapido ou célere.As exp nimas. A propriaideia a instantaneidade e rer algoinerentea fisiologi rezariecessarlamente't constitui imposiga6 di do diréito das partes ¢ de forriaadequada,do traditérioe osdémiaisd Para organizacao do p qualqier possbilidade direito a0 processo co simplesmente como d célere. O que a Consti digo determinam éae patoloigico ~ a desproy durigdo do processo ¢ debatedacausaquene! a0processo justoimpli -auniverslidadedajuridigio tio (CF, art. 5.°, XXXV). dade declarada pelo ples «do o Tribunal, por maioria ‘manifestagdo de vontade da acompromisséria,quandoda sontrato ¢ a permissio legal raquesubstitua avontade da teem firmarocompromisso art. 5.°,XXXV, da CF. Votos sarte~ incluido 0 do relator— 1 inconstitucionais a cléusula ia-dadaaindeterminaséode possibilidadedeaoutraparte, éncia quanto 2 instituigéo da -prrerao Poder udicidrio para ‘erecalcitrante firmarocom- nsequentemente,declaravam analidade de dispositivos da 36 (art. 6.°, pardgrafo tinico; grafose, no art.41, das novas aidasaoart.267,VIeart.301, ivikeart. 42), porviolagao da siversilidade da jurisdigio do ‘o,Constitucionalidade~aipor tne, dos dispositivos da Lei de seprescreve airrecorribilida- ssefeitos de decisio judicidria sbitral (at. 31)”. Submetida questi cufja solugio deve ser oder Judiciérig por conta da sonwengacide trbitragem, tem de arguir a existéncia de con- atestagao (art: 397;X,CPC), ‘aa omiséio implicar aceitagio srentinciaaojuizo arbitral (art 2C):Da decisio que reeita no ‘arte a alegacio de convencio acabe agravo de instrumento §{CPC).Dadecisioqueacolhe, ‘> processo, cabe apelagio (art. Jo consensual. © novo Cé- sno compromisso-promover soluslo consensual dolitigio,sendoumadas suas marcas a viabilizagio de significativa abertura para a autonomia privada das par- tes—o que se manifesta nfo s6 no estimulo a que o resultado do processo seja fruto de ‘um consenso das partes (art. 3.%, §§ 2.0 32,CPC),mas também na possibilidade de estruturacio contratual de determinados aspectos do processo (negécios processusis, art. 190, CPC, e calendério processual, art. 191, CPC). O juiz disigira o processo coma incumbéncia de promover,a qualquertempo, a autocomposicio, preferencialmente com aunxilio de conciliadores e mediadores judi- ciais (art. 139, V, CPC). Os conciliadores-e mediadores judiciais sio auxiliares do juizo cujas atribuigdes estiodisciplinadas nos arts. 165 2175,CPC. ‘Art. 4. As partes tém 0 direito de ob- ter em prazo razodvelaa solucao integral do mérito, incluida a atividade satisf reito a duragio razoavel do processo nio constitui ¢ no implica direito a processo rapido ou célere. As expresses nfo sio siné- nimas. A prOptia ideia de processo ja repele a instantaneidade e remete 20 tempo como algo inerente’ fisiologia processual. A natu- rezanecessariamente temporal do processo constitui imposigio demrocrética, oriunda do direito das partes de nele participarem de forma adequada, donde odireitoaocon- traditérioe os demais direitos queconfluem para organizagio do processo justo ceifam qualquer possbilidade de compreensio do direito 20 processo com duragio razoivel simplesmente comio direito a um processo ‘élere. O que a Constituigao ¢ 0 novo Cé- digo determinam € eliminacio do tempo patolégico ~ a desproporcionalidade entre durigio do proceso ¢ a complexidade do debate dacausaquenele tem lugar.O direito ao processo justo implica direito ao processo Nowe Cédign de Proceso Civil Comentado Titulo Unico — Das Normas Fundamentais sem dilagdes indevidas, que se desenvolva temporalmente dentro de um tempo justo. 2. Tutela tempestiva.O direitofunda- ‘mental duracio razodvel do processo.cons~ titui principio redigido como cléusula geral. Ele impée um estado de coisas que deve ser promovido pelo Estado~aduragao razodvel do processo. Ele prevé no seu suporte fitico termoindeterminado—duragiorazotvel—€ no comina consequéncias juridicas a0 seu nio atendimento. Seu contetido minimo esté em determinar: i) ao legislador, a ado- ‘do de técnicas processuais que viabilizem a prestagio da tutelajurisdicional dos direitos em prazorazosvel (porexemplo, previsiode julgamento antecipado parcial domeérito,art. 356, CPC, e a previsio de aproveitamento sempre que possivel das formas processuais, ats. 188,276,277 €282,§ 1.°,CPC),aedisao delegislaso que reprimaocomportamento inadequado das partes em juizo (litigincia de ma-fée contempt of court, rts. 77 € 79 & 81, CPC) e regulamente minimamente a responsabilidade civildo Estado por duragio niorazodvel doprocesso;ii)aoadministrador judiciério, a adogao de técnicas gerenciais, capazes de viabilizar 0 adequado fluxo dos atos processuais, bem como organizar 0s 6r- sos judiciérios deformaidonea (niimerode juizes e finciondrios, infraestruturaemeios tecnol6gicos) iti) aojuiz,acondugiodo pro- cessode modo prestara titelaurisdicional em prazo razodve, inclusive com a adoszo de técnicas de gestio capazes de dispensar intimagées paraa priticade atos processuais (calendério processual,art.191,CPC)e com ‘a adog&o de uma ordem cronolégica para julgamento das causas (art. 12,CPC). 3. Tempo justo. Pressuposto para afe- rigo da duracio razofvel do processo € a definigao do seu spatium temporis—o dies a quoco diesadquementre 0s quais 0 processo se desenvolve. O processo deve seravaliado, parafins de aferigio de sua duragio,levando- cs se em considerago todo o tempo em que pendenteajudicializacdo do conflitoentreas ‘partes. Isso quer dizer que a propositura de agio visando a concessio de tutela cautelar preparatéria serve para fixagio do termo inicial,assim como atividade voltada exe cugdododireito também deve sercomputada paradeterminagaodotermofinal. Aduragio tazodvel do processo deve levar em conta 0 ‘tempo para prestacao da tutela do direito — acaso a parte autora se sagre vencedora ou simples prestaglo da tutela jurisdicional ~ acasoaparte autorasucumbaousejaprolatada decisio que extinga proceso sem resoluglo demérito.A jurisprudénciada Corte Europeia de Direitos Humanos desenvolveu critérios paraaferigioda duragio azoveldo processo. Em sua primeira formulagdo,a Corte erigiu ‘como critérios: i) a complexidade da causa; #8) ocomportamento das partes il) ocom- jento dojuiznacondusaodo processo (CEDH,CasoNeumeister us. Austria, 1968). Hoje, além desses trés clissicos parametros, aCortevem apreciando igualmentearazoa- bilidade da duracio do processo a partir da relevincia do direito reclamado.em juizo para vida do litigante prejudicado pela duragio excessiva do processo — critério da posta in gioco, que determina redobrada atengio do Estado nos casosem que olitigioversa sobre responsabilidad civil porcontigiode doensas (CEDH, Caso Comissio us. Dinamarca, 1996), statuspessoal(CEDH, Caso Laino ws. Tedlia, 1999)equeameacem aliberdade pes- soaldoréuno processo penal (CEDH,Caso Zarmakoupis Sakellaropoulos vs. Grévia, 2000).Vale dizer:aimportinciadadecisioda causanavidadolitigante adquire significativa importincia paraandlise da razoabilidade da duragio do processo. Esses parimetros sio perfeitamente aplicéveisnodireitobrasileiro para fins de afericfo da concretizagio do direito ao processo sem dilacées indevidas. ‘A complexidade da causa, sua importancia na vida do litigante, o comportamento das Marinoni ~ Arenbart— Mitidiero 98 partes ¢ 0 comportamento do juiz — ou de qualquerde seus awiiliares— sto critérios que permitem aferirracionalmentearazoabilida- deda duragio do processo. Alguém poderia imaginar que ocomportamento inadequado da parte que acarrete dilagio indevida nao gera direito a tutela reparatéria por dura- ‘go ndo razoavel do processo por auséncia de nexo de causalidade entre a conduta do Estado eo dano a parte. Contudo, sea parte se comporta de forma inaceitével, gerando incidentes procrastinatérios, por exemplo, ha responsabilidade do Estado. E preciso perceber que juiz tem odever de velar pela répida solugao do litigio, tendo de conduzir ‘oprocesso de modo a assegurar a tempesti- vidade da tutelajurisdicional. Dai que ojuiz que se omite na repressio ao ato abusivo da parte contribui para dilacioindevida, dando azo a responsabilizacao estatal. 4. Direito a reparagio. A violagio do dizeito’ duracio razoavel geradireito’tutela reparatéria. A responsabilidade do Estadoé pela integralidade do dano experimentado pela parte prejudicada pela duracao.excessiva do processo, medindo-se a reparacio pela sua extensio (art. 944, CC). Nada obsta a configurasio de direito’reparacio pordanos patrimoniais e por danos extrapatrimoniais ~porexemplo, por danosmoraise por danos ‘imagem ~ em face da excessiva duracio do processo. A ago visando & indenizagio pela duracio excessiva do processo segue o procedimento comumetem ser propostaem primeiro graudejurisdigio. Pode sr proposta tanto contra a Unio, perante a Justiga Fe- eral (art. 109,1, CF), sea responsabilidade pela condusiodo processoem que ocorreua processo em queocorreua fordejutzo federal (comum ), quanto contra o Estado, Estadual (art. 125,CF),se Jeforde juizo estadual. aprocessual. O direito a implica direito economia processual, na medida em que o aproveita- ‘mento na maior medida possivel dos atos processuais é praticados ~ sem decretagées de nulidade e repetigoes desnecessérias de atos ~ promove um processo com consumo equilibradode tempo. Dafarzzio pelaqualse entende que a economia processual entrano micleo duro do direito & tutelajurisdicional teimpestiva. Art. 5.° Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. 1. Boa-fé. Aboa-fépodeserreconduzida 8 seguranca juridica, na medida em que é possivel eduzi-la dogmaticamenteaneces- sidade de protesi04 confiangallegitima—que constitui um dos elementos do principio dda seguranga juridica ~ e de prevaléncia da materialidade no tréfego juridico. Como elemento que impée rutela da confianga e dever de aderéncia a realidade, a boa-fé que éexigida no processo civil € tanto a boa-fé subjetiva como a boa-fé objetiva. Ao vedar © comportamento contririo a boa-f, 0 ar- ‘igo em comento impée especificamente a necessidade de boa-f objetiva * 2. Boa-fé objetiva. Comporta-se com bboa-ftaquele que nio abusa de suas posigées juridicas. Sio manifestages da protesio a ‘boa-fé no processo civila exceptiodoli,o venire éantra factum proprium,ainalegabilidade de riulidades formais, a supressio a surrectio, fu quogue e 0 desequilibrio no exercicio do ito. Em todos esses casos hé frustragio {confianca ou descolamento da realidade, © que implica violagio ao dever de boa-fé comio regra de conduta. A exceptio doli € a ‘excegdo que tem a pessoa para paralisar 0 comportamento de quem age dolosamente contra si. O venire contra factum proprium f, revélaa proibicdo de comportamento contra dinério. Traduz.oexereicio de uma posigioju- Titulo Unico — Das Normas Fundamentals ridicaem contradi¢ao como comportamento assumidoanteriormente peloexercente. Age contraditoriamente quem, dentrodomesmo processo,frustra a confianga de um de seus participantes. A inalegabilidade de vicios formais protege aboa-fé objetivana medida fem que prosbe a alegacio de vicios formais porquemaelesdeu causa, intencionalmente ‘uno, desde que por ase possa surpreender aproveitamento indevido da situago criada com a desconstituigao do ato. A supressio constitui a supressio de determinada posi- io juridica de alguém que, nao tendo sido exercida por certo espago de tempo, cré-se firmemente poralguém quenomais passivel deexercicio. A supressiolevaa surrectio,istoé aosurgimentodeum direito pela ocomréncia da supressio.O tu-quoquetraduza proibigaode determinada pessoa exercer posislo uridica oritunda de violagao de norma juridica por la mesma patrocinada. O direito nfo pode surgir deuma violagio.ao proprio Direito ou, como diz o velho adagio do Common Lavo, equity must come with clean bands. A ideia de desequilibriono exerciciodo direitorevela,em seuconjunto,odespropésito entre oexercicio dodireitocosefeitos dele derivados.Trés io asmanifestagbes do exercicio desequilibrado do direito: exercicio inttil danoso, a ideia subjacente ao brocardo doloagit quipetitquod statim redditurusestea desproporcionalidade entre a vantagem auferida pelo titular do direito e 0 sacrificio imposto pelo exercicio aoutrem. 3. Auséncia de boa-fé. A auséncia de bboa-fé pode levar, conforsae o caso, inefi- cécia do ato processual contrario a boa-fé, 4 responsebilizasao por dano processual ¢ inclusive a sangio pecuniéria, 4. Qualquer forma. Todos os parti- cipantes do processo devem comportar-se de acordo com a boa-fe: partes, advogados, membrodoMinistério Piblico, da Defensoria Publica e juiz. Também aqueles que parti- i Ta ea cipam apenas episodicamente do processo também estio sujeitos ao dever de boa-fé processual. Art. 6.° Todos 0s sujeitos do processo devern cooperar entre si para que se obte- nha, em tempo razodvel, decisdo de mérito justa e efetiva. 1. Colaborago. Problema central do processo esté na equilibrada organizagio de seu formalismo- vale dizer, da divisio do trabalho entre os seus participantes. O ‘modelo do nosso processo justo € 0 modelo cooperative — pautado pela colaboragao do juiz para com as partes. A adequada cons- truco do modelo cooperativo de processo € do principio da colaborasio que ¢ a ele inerente servem como linhas centrais para organizacio de um processo civil que reflita de forma efetiva os pressupostos culturais do Estado Constitucional. A colocacao da colaboragio nessesdois patamaresvisaades- tacar,portanto, a necessidade de entendé-la como 0 eixo sistemitico a partir do qual se pode estruturar um processo justo do ponto evista da divisio do trabalho entre o juize ‘as partes no processo civil. So basicamente doisosenfoquescom queacolaboragio pode serobservada no direito procesual civil: como modelo e como principio. A ligacio entre o modelo cooperativo €0 principio da coope- ragio € inequivoca. Os deveres inerentes & colaborasono processo respondem aospres- supostos que ustentam omodelo cooperativo. Os deveres de esclarecimento e de consulta respondem principalmente aos pressupos- tos Iégicos e éticos do modelo cooperativo de processo, na medida em que decorrem do caréter problematico-argumentativo do Direito e da necessidade de protecao contra ‘asurpresa, Os deveres de prevengioe de au adliodescendem diretamente do pressuposto social do modelo, haja vista evidenciarem © fato de o sistema processual civil ser um Marinoni ~ Arenbart~ Mitidiero 100 sistema orientado para tutela dos direitos, tendoojuizodever de realizé-losa partirda relativizagio do binémio direito ¢ processo edocompartilhamentoda responsabilidade pela atividade processual. Vale dizer: deve o juizvero processo no como um sofisticado conjunto de férmulas mégicas e sagradas, a0 estilo das legis actiones, mas como um instrumento paraefetivarealizacaodo direito material 2. Como modelo. A colaboracéo éum modelo que visa organizaro papel das partes edojuiznaconformagio do proceso, estru- turando-ocomoumaverdadeiracomunidade detrabalho (Arbeitsgemeinschaft—naclissica expressio da doutrina austro-germanica), em que se privilegia o trabalho processual em conjunto do juize das partes. Em outras palavras: visa a dar feicio & organizacio do procedimento, dividindoas posig6esjuridicas processudis de seus participantes de forma equilibrada. Como modelo, a colaboragio rejeita a jurisdico como polo metodolégico do processo civil, angulo de visio evidente- mente unilateral do fendmeno processual, privilegiando em seu lugar a propria ideia de processo como centro da sua teoria,con- cepgio mais pluralistae consentineaafeigao democritica nsitaao Estado Constitucional. Semelhante modelo processual resulta da superasio histérica -e, pois, cultural ~ dos modelos de processo isonémico e de pro- cesso assimétrico. Hé quem caracterize a cooperacio, ainda, a partir das conhecidas Iinhas do processo dispositive edo processo inquisit6rio. Seja qual for a perspectiva, certo que a anilise histérico-dogmética da ‘radio processual mostra orastro pelo qual se formou e ganhou corpo a colaborago no nosso contexto processual. 3. Pressupostos culturaisdomodelo. Acolaboragioéum modelo que se estrutura apartirde pressupostos culturaisque podem servisualizados sob os angulos social, logico Jot Title € ético. Do ponto de vi Codstitucional de modi confundido com o Esta quadra, assim como a: cotipreendidacomoum: cooperacio entre osseus obtengio de proveito mt ‘tab deixa de terum pape iissaa ter que prestar cuifiprircom seus devere Estado Constitucionalé: peloseudeverde dartut: Sqjle deve promover os! Jhuimana e nfo antepor! adequado desenvolvim vista logico,o processo« OE o reconhecimento problemitico do Direit sid feigto logico-argun dizer que a ciéneia doT cotnpreendida simplesn éticia descritva, as nor er vistas como 0 resi boracio entre olegislad elementos textuais emit juridica e a interpretage serencaradacomoumaa cognitivista. Finalment ético, o processo pautac am processo orientad ‘quanto posstvel da verd: déemprestarrelevoabo bbém exige'de todos os a observincia da boa-f CPC), sendo igualment jiiz, tendo como objetiv justas. O modelo de pre colaborackovisaoutorg ‘papeldojuiznacondugés doprocesso cooperative nasuacondugioe assimé impée suas decisées. I papel: é paritdrio no dit nadecisfo.A paridaden emaue,emboradirjapr Mitiiero 100 otientado para tutela dos direitos, uizodever de realiz4-los apartirda 1g do bindmio direito é processo partilhamentodaresponsabilidade dade processual. Vale dizer: deve 0 ptocesso nio comoum sofisticado ‘de formulas mégicas e sagradas, ds legis actiones, mas como um ato para tfetva realizagiodo direito ymo modelo. A colaboragio é um sevisaa organizaro papel das partes iconfcanods mena ‘comoumaverdadeira comunidade oUreitgemeinhep-naclsica a todo use du partes. Em outa ‘sa a dar feicio & onganizacao do nto dvidindoa’ posigBesjuridicas de seus participantes de forma 2 Como modelo, a colaboragao isdigio como polo metodolégico > civil, angulo de visio evidente- ateral do fendmeno processual, do em seu lugar a prépria ideia “como centro da ‘sua teoria, con- 'pluralistae consentinea a feigao \insitaao Estado Constitucional. + modelo processual resulta da ‘stérica~e, pois, cultural - dos rocesse isondmico e de pro- Gtzico: Hé quem caracterize a ainda, a partir das conhecidas 2ees80 dispositivo edo processo Seja quil fora perspectiva, é indlise histérico-dogmatica da sessual mostra rastropelo qual sanhou corpo a colaboragio no 10 processual. ‘postos culturais do modelo. ‘o€um modelo quese estrutura ‘ssupostosculturais que podem ossobos angulos social, l6gico 101 ¢ ético. Do ponto de vista social, o Estado Constitucjonal de modo nenhum pode ser ‘confundido com o Estado-Inimigo. Nessa ‘quadra, assim como a sociedade pode ser compreendidacomoumempreendimentode cooperagio entre os seus membros visendoa obtengio de proveito métuo, também 0 Es- tado deiéa de terum papel de pura abstencio c passa d ter que prestar positivamente para ‘cumpri# com seus deveresconstitucionais.O EsaadéConstitucional um Estado marcado peloseirdever de dar tutela aos direitos,com 0 quedéve promover os fins ligados pessoa hhumaiia‘€ nio antepor barreiras para o seu adequade desenvolvimento. Do ponto de vista 16g, o processo cooperativo pressu- oe oéebnhecimento do caréter cultural ¢ probleméti¢o do Direito, reabilitando-se a sua feigéc'logico-argumentativa. Isso quer dizer'que'# ciéncia do Direito deixa de ser compiténdida simplesmente como uma ci- éncia descritiva, as normas juridicas passam 4 ser vistas como o resultado de uma cola boragiiv‘entre olegislador eo juiz a partirde elementos téxtuais e nfo textuais da ordem juridica ea interpretacio juridica deixa de serencarada como umaatividade puramente cognitivista. Finalmente, do ponto de vista éticoz-processo pautado pela colaboracdo unt proceso orientado pela busca tanto ‘quanto’ possivel da verdade e que, para além de emprestar relevo A bos-f¢ subjetiva, tam- bém exigerde todos os seus participantes a observdsicia da boa-fé objetiva (art. 5.°, "PE), séndo igualmente seu destinatério o juz, tendéxcomo objetivo produzir decisses justas:@timodelo de processo pautado pela colahorigiovisa a outorgar novadimensioao papeldo juizina conduso do proceso. Ojuiz do imtoesss cooperative éum juizisondmico nasusjéoindusio eassimétrico apenasquando impée-suas decisdes. Desempenha duplo papels€:paritirio no didlogo e assimétrico nadecisio.A paridade na sua condusao std cemqgussembora dirija processuale material- Nowe Cédigo de Processo Civil Comentade Titulo Unico - Das Normas Fundarhentais mente o processo (art. 139, CPC), atuando ativamente,essa diregioé desempenhadade maneiradialogal. Vale dizer: ojuiz participa doprocessocolhendo a impressio das partes a respeito dos seus rumos, possibilitando assim a influéncia dessas na formagao de suas possiveis decisdes (arts. 7.°, 9.° ¢ 10, CPC). Toda a condugio do proceso dé-se coma observincia, inclusive com relagio.20 prépriojuiz, do contraditério. A assimetria, deoutrolado, esti em que ojuiz,aodecidiras, questdes processuais eas questées materiais do processo, necessariamente impée o seu comando, cuja existéncia e validade inde- pendem de expressa adesio ou'de qualquer espécie de concordancia das partes. 4, Como principio. A maneira como esse modelo cooperativo opera no processo € obra do principio da colaboragio. A cola- boragio no processo é um principio juridico. Ela impée um estado de coisas que tem de serpromovido. Ofim da colaboragaoestiem servir de elemento para organizagio de um processojustoidéneoaalcancaruma decisio demérito usta. efetiva art.6.°,CPC),além de viabilizar a formasio de precedentes de- vidamente dialogados no ambito da Justica Civil. Para que processo seja organizadode forma justa os seus participantes tém de ter posigées jurfdicas equilibradas ao longo do procedimento. Portanto, é preciso perceber que aorganizagio do proceso cooperativoen- volve~antesde qualquer coisa-anecessidade eum novodimensionamento de poderes no processo, o que implica necessidade derevisio da cota de participacdo que se defere a cada um de seus participantes ao longo do arco processual.A colaborasio implicarevisiodas fronteiras concernentes & responsabilidade das partes ¢ do juiz no processo. Em outras palavras: a colaboragio visa a organizar a ‘participago do juize das partes no processo de forma equilibrada. A colaborasio impée a organizagio de processo cooperative —em que haja colaboragao entre os sus partici- pantes (art. 6.°, CPC). O legislador tem 0 dever de perfilar 0 processo a partir de sua normatividade, densificando a colaboragio no tecido processual: por essa razio 0 novo (Cédigo encampoulargamenteacolaboracio ao longo de toda a sua estruturagao (arts.5.°, 62,72,98, 10, 11, 139, VII e IX, 191, 317, 319, § 1., 321, 357, § 3., 487, parégrafo tinico, 488, 489, §§ 1.°¢ 2.°, 772, III, 926, § 19, 932, pardgrafo tinico, 1.007, §§ 29, 42 €7.,€1.017,§ 32, CPC). E aqui importa desde logo deixar claro: a colaboragio no proceso nio implica colaboracio entre as. partes ~ qualquer leitura do art. 6%, CPC, nesse sentido ¢ equivocada. As partes nio querem colaborar.A colaboragio no proceso queédevidano Estado Constitucionaléaco- laboraciodojuiz paracomas partes. Gize-se: niose trata de colaboragio entreas partes.As partes nfo colaboram eno devem colaborar entre si simplesmente porque obedecem @ diferentes interesses no que tange a sorte do litigio. O méximo que se pode esperar uma colaboragio das partes para com 0 Juizno processo civil. Esse ponto é digno de nota:enquanto os deveres de colaboragaono planodo direito material tiveram sua rigem ‘no campo obrigacional a partir dos estudos ligados a boa-fé, o que acabou desaguando na construsio de deveres cooperativos entre as partes, no processo esses deveres nio se originam da boa-fé e no podem ser con- cebidos como deveres que gravam as partes entresi. E queno plano do direito material as partes constroem vinculosjuridicos comuma finalidade comum. Vale dizer: 08 interesses sloconvergentes. Oadimplementoéofimdo [processo obrigacionaledomina todaasuaes- ‘truturaglo. nexistea principio qualquer crise que afaste as partes da finalidade comum no planodo direitomaterial.O planodo processo, orém, pressupée justamente uma ameaca decrise ou uma efetiva crise narealizagao do direito material. E a partir desse exato mo- Marinoni ~ Arenbart~ Mitidiero 102 ‘mento os interesses das partes deixam de ser convergentese passam aserdivergentes. Isso cobviamentendodispensaas partesde agirem ‘comboa-fé noprocesso, Noentanto,daipara exigéncia decolaboracio entreas partes existe ‘uma significativa distancia. 5. Deveres cooperativos. O principio da colaboragio estrutura-se a partir da pre~ visio de regras que devem ser seguidas pelo juiz na condugio do proceso. O juiz tem deveres de esclarecimento, de didlogo, de prevengio ede auxilio para com oslitigantes. Esses deveres consubstanciam as regras que estéo sendo enunciadas quando se fala em colaboracio no processo. O dever de escla- recimento constitui o dever de o juiz aclarar as dividas que eventualmente tenha sobre 4 posigio das partes a respeito da narragio dos fatos ou sobre os pedidos formulados. O dever de didlogo,o dever de o 6rgio judicial dialogare consultar as partes antes de decidir sobre qualquer questio, possibilitando que ssas 0 influenciem a respeito do rumo a ser dado a causa. O dever de prevengio,odever deo 6rgiojurisdicional preveniras partesdo perigo de o éxito de seus pedidos ser barrado pelo uso equivocado do processo. O dever de auxilio, o dever de ausiliar as partes na transposigao de eventuais obsticulos que dificultem ouimpecam o exerciciode direitos, ocumprimento de deveres ouodesempenho de énus processuais. Vérias sio as situagoes em que esses deveres gravam o juizaolongo doprocesso. Odeverdeesclarecimentoimpoe sojuizodeverde indicar as partes eventuzis ‘obscuridades ou incoeréncias nas narrativas enunciadas quando se fala em >no processo. O dever de escla- consttui o dever deo juiz aclarar que eventualmente tenha sobre as partes arespeito da narragio tsobre os pedidos formulados.O logo, dever deo 6rgio judicial onsultaras partes antes de decidir {ner questio, possibilitando que tenciem a respeito do rumoaser 4. Odeyer de prevencio, o dever arisdicional preveniras partesdo txito de seus pedidos serbarrado uivocado do processo. O dever 2 dever de auxiliar as partes na 0 de eventuais obstéculos que uimperam oexerciciode direitos, nto dedeveres ouodesempenho cessuais. Varias sio as situagdes sdeveres gravam ojuiza0 Cite tered ‘erdeindicar as partes eventuais sou incoeréncias nas narrativas _am suas posigbes quantois ques~ uridicas que compéem a causa ‘erque évedadoaojuizindeferit ceventuais postulagdes das partes ‘sauséncia de compreensio da do imperiosa a oportunizagao ago das partes para esclareci- «stio,oportunidadeem quetem, 103 Nev Cige de Proceso Civil Comentado Titulo Unico ~ Das Normas Fundamentais de indicar claramente o ponto que entenda ddeva seraclarado (art.321, CPC). Trata-se de providéncia que visa aviabilizar um mais adequado entendimento da argumentagio das partes no processo. Especial atengio na conformagio do processo civil do Estado ‘Constitucional assume 0 dever de didlogo = tanto é assim que o proprio legislador 0 destacos dando especial énfase ao direito a0 contradit6rio (arts. 7.°, 9.°, 10, 11 e489, §§ 1.° 22, CPC). O assunto seré tratado adiante. O dever de prevengaoincumbeojuiz de indicar as partes que eventuais escolhas ‘equivocadas do ponto de vista do processo podem acarretar na frustragio do exame do direito material. Assim, por exemplo, € vedado aojuiz nfo conhecer dedeterminada postulagio da parte por defeito processual sandvel sem que se tenha primeiramente dado oportunidade paraapartesané-lo arts 3176932, pardgrafo tnico, CPC). Bisso por ‘uma razio muito simples: no faz sentido afirmiar que o Estado tem o dever de tutelar 0s direitos e a0 mesmo tempo permitir que odireito sucumbadiantede defeitos formais, sandveis ndo relevados pelo préprio Estado. dever de auxilio determina ao juiz que colabore com as partes no desempenho de seusOnusenocumprimentode seus deveres no ptocesso. Trata-se de dever que visa a viabilizaro adequadoatendimentoaos6nuse aos deveres das partes no processo. Pense-se, porexemplo,noexequente quenioencontra benspenhoriveisdo exccutado parasatistagio de seu crédito. tarefa do juiz auxilié-lo na identificasio do patriménio do executadoa fimde que atutela executiva possaserrealizada de forma efetiva (art. 772,111, CPC). ‘Art. 7.°€ assegurada as partes paridade de tratamento em relagdo ao exercicio de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos dnus, aos deveres e 4 aplica- io de sangdes processuais, juiz zelar pelo efetivo contr 1. Direito a igualdade no processo Civil. O direito aigualdade peranteo Estado Constitucional é pressuposto bésicodetoda ¢ qualquer concepsao juridica de Estado. Estado Constitucional é Estado em que ha juridicidade e seguranga juridica. A juridi- cidade —todos abaixo do Direito~remete justiga, que de seu tuo remontaaigualdade. ‘Natural, portanto, que componha o direito a0 processo justo o direito & igualdade e & paridade de armas no processo—e que o di- reitoa paridade de tratamento constituiuma dasnormas fundamentais do novo proceso civil brasileiro. Como jé decidiu o Supremo ‘Tribunal Federal, “a igualdade das partes € imanente 20 ‘procedural due process of law” (STF, Pleno, MC na ADC 1.753/DF, rel. Min, Sepiilveda Pertence, j. 16.04.1998, ‘DJ 12.06.1998, p. 51). Trata-se de direito fundamental que, nada obstante nil pre- visto expressamente na Constituigdo parao ‘campodo proceso, decorre naturalmente da ideia de Estado Constitucional edo direito fandamental 4 igualdade perante a ordem juridicacomoum todo (art.5.°,caput,CF).E ‘muito oportuna a sua previsio expressa pelo novo Cédigo (art.7.°, CPC). A igualdade no processo tem de ser analisada sob duas pperspectivas distintas. Na primeira, impor- ta ter presente a distingao entre igualdade perante a legislacZo (igualdade formal) e gualdade nalegislacio (igualdade material). [Na segunda, é preciso ressaltar a diferenga centre igualdade no processo eigualdade pelo processo~igualdade diante do resultado da aplicagio dalegislacto no processo. O novo (Ciédigo falaem paridadede tratamentodiante deposigdes processuais (direitose faculdade, meios de defesa, Onus, deveres ¢ sangdes processuais), o que inclui a necessidade de igualdade perantealegislasioenalegislagio. 2. Igualdade perante a legislagao. A igualdade perante a legislacao determina a aplicagio uniforme da lei processual. O juiz

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