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ESTUDO DA CONTAMINACAO DO LASTRO FERROVIARIO E 0 USO DE GEOSSINTETICOS NO CONTROLE DO FENOMENO José Marcio Cuconato TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENIE DA COORDENACAO DOS PROGRAMAS DE POS-GRADUACAO EM ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSARIOS PARA OBTENCAO DO GRAU DE MESTRE EM CIENCIAS (M.Sc.) EM ENGENHARIA CIVIL. Aprovada por: Prof. Laura Maria Gorefti da Mott’, D.Sc. pla ZA Prof. Mauricio Ehrlich, D.Sc. ( < Prof. Jacques de Medina, L.D. mes Valenca, Ph.D. LEB, Prof. Hostiifo Xavier Ratton Neto, Dr. ENPC Rio de Janeiro - RJ — Brasil Margo de 1998 IL CUCONATO, JOSE MARCIO #Estudo da contaminagao do lastro ferroviario e o uso de geossintéticos no controle do fendmeno. Ja Vile8a 110 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M. Sc., Engenharia Civil, 1998). @ Tese - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ 1. Contaminago de lastro 2. Uso de geossintéticos I. COPPE - UFRJ IL Titulo (Série) Agradecimentos A COPPE/UFRI pela oportunidade que me deu de realizar 0 curso de Mestrado em Geotecnia. As seus professores pelos ensinamentos transmitidos e, especialmente, aos professores Mauricio Ehrlich ¢ Laura Maria Goretti da Motta pelo trabalho de orientagao de tese. A Companhia Fluminense de Trens Urbanos - FLUMITRENS - que, em parceria com a COPPE/UERJ, por meio de convénio, permitiu a utilizagdo de suas instalagGes ferrovidrias e Proveu os meios necessarios, em pessoal especializado e¢ em material, para a execugio do trecho experimental. Aos seus engenheiros que, pela troca de informagées técnicas que, em muito contribuiram para a pesquisa. A RHODIA/STER pelo apoio financeiro 4 pesquisa. Ao LABORATORIO DE GEOTECNIA da COPPE/UFRIJ e seu pessoal, pelo trabalho de amostragem e instrumentacao dz campo, bem como, pela realizacdo dos ensaios no proprio laboratdrio. Dedico este trabalho ao meu filho VITOR que, completa 15 anos no dia 26 de margo de 1998, pelo estimulo e apoio. Resumo da tese apresentada 4 COPPE/UFRJ como parte dos requisitos para obtencdo do grau de mestre em engenharia civil (M.Sc.) ESTUDO DA CONTAMINACAO DO LASTRO FERROVIARIO E 0 USO DE GEOSSINTETICOS NO CONTROLE DO FENOMENO. José Marcio Cuconato Orientadores: Laura Maria Goretti da Motta Mauricio Ehrlich Fez-se uma Revisao bibliografica sobre observagdes de campo, testes de laboratorio referente ao emprego de geossintéticos, abrangendo assuntos relacionados a “contaminagao do lastro ferroviario”. Realizou-se um estudo de campo nas linhas da Companhia Fluminense de Trens Urbanos - FLUMITRENS - procurando-se observar o problema da contaminacao “in loco” e as solugdes existentes. Os dados serviram de base para a implantagao do trecho experimental que, permitiu a observagio do comportamento das camadas da infraestrutura da ferrovia, comparando o desempenho de quatro segdes proximas com solugées diferentes, inclusive o emprego de geossintéticos. Mediram-se deformagées elasticas e plasticas. Abstract of thesis presented to COPPE/UFRJ as partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) STUDY OFF BALLAST FOULING AND THE APPLICATION OF GEOSYNTHETICS IN PHENOMENON CONTROL, José Marcio Cuconato Thesis Supervisors: Laura Maria Goretti da Motta Mauricio Ehrlich A bibliographic review related to fouling effects on track behavior is presented. Companhia Fluminense de Trens Urbanos - FLUMITRENS - lines have been analysed and ballast fouling problems and solutions were evaluated. Four nearby sections on a same area were monitored and different solutions performance including the use of geosynthetics had it behavion. Plastics and elastics soil deformation were measured. CAPITULO 1 - INTRODUCGAO . CAPITULO 2 - REVISAO BIBLIOGRAFICA - A VIA PERMANENTE ..... 21 211 2.2 2.3 23.1 2.4 2.5 2. 2. 2. 2.5.1 252 2.5.2.1 2.5.2.2 2.6 CAPITULO 3 - 3.1 3.2 2.6.1 2.6.2 2.63 3.11 3.1.2 3.1.3 264 3.24 264.1 2.6.4.2 2.6.4.3 2.6.4.4 Comportamento mecdnico - Modelo de andlise 0.00.00. 10 Teoria da viga sobre Fundagio Elastica .. A superestrutura Caracterizagao geotécnica da infraestrutura As camadas de assentamento ... Olastro .... : O sublastr ee cece cette cece eee eeseeieestieerrenecsreitesmeeseneneeneicese 19 O subleito o Deformagdo permanente A contaminacao do lastro Generalidades . A manutengao e a contaminagao . As origens da contaminagiio ................. Os efeitos da contaminacio ...... Aplicagao de geossintéticos em ferrovia Apresentagao ........... Caracteristicas gerais dos geossintéticos Caracteristicas do geotéxtil Uso do geotéxtil o.oo Geotéxtil como sublastro ............ Estudos em laboratorio ... Estudos de campo ... see Consideragées finais s0 sobre re aplicagio de geossintéticos em ferrovia ANALISE DO COMPORTAMENTO “IN SITU” DE TRECHOS Introdugao oo. ee Objetivo e metodologia .. 7 Amostragens ¢ estudos em laboratorio wes cette 47 3.2.1.14 Escolha do local para implantagao do trecho experimental. fee 63 3.2.2 Anilise dos resultados .........-..0cc-seccsceseesces esses ecceesteeceseeeeeeeeennnniseeenmneceeaee 64 3.23 Conclus6es «........-.....- 33 Trecho experimental . 33.1 Introdugao . . . 3.3.2 Estudos de campo e em laboratoric .. seveceestessctanssriessiessrsecseessercseees OF 3.3.2.1 Analise petrogrfica do lastro novo .. 3.3.2.2. Determinacao da forma do material de lastro > padrio . 3.3.2.3 Analises granulométricas ... ecco 3.3.2.4 Analise granulométrica nos trés subirechos d da pista a experimental 3.3.2.5 Ensaio de desgaste de material de lastro padrao ..... 3.33 Identificagao dos subtrechos do trecho experimental 33.4 A implantagao dos subtrechos 3.3.4.1 Geocélula - 1° subtrecho ..... 3.3.4.2 Geotéxtil - 2° subtrecho 3.3.43 Relastro - 3° subtrecho 3.3.4.4 Sem intervengio - 4° subtrecho ... 3.3.5 Instrumentagao . 3.3.5.1 Medigao das deflexdes para a obtengo do modulo de de via 3.3.5.1.1 Deflexdes medidas no 1° subtrecho .......... 3.3.5.1.2 Deflexdes medidas no 2° subtrecho .... 3,3.5.1.3 Deflexdes medidas no 3° subtrecho ... 3,3.5.1.4 Deflexdes medidas no 4° subtrecho ...... 3.3.5.2 As deformagGes permanentes .. 3.3.6 Analise dos resultados ..... CAPITULO 4 - CONCLUSAO E SUGESTOES PARA FUTURAS PESQUISAS . APENDICE I - DESCRICAO PETROGRAFICA MACROSCOPICA E MICROSCOPICA DAS ROCHAS USADAS NO LASTRO ............... 105 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ........ CAPITULO 1 INTRODUCAO A Companhia Fluminense de Trens Urbanos - FLUMITRENS - vem aplicando geotéxteis em alguns trechos da sua ferrovia que apresentou problemas de contaminagao do lastro por finos. Algumas aplicages jé tinham cerca de onze anos a época dos trabalhos de campo desta dissertagao e outras séo mais recentes, O acompanhamento visual indica bons resultados, porém se tinha necessidade de uma avaliag4o sistematica e quantitativa que permitisse explicitar os mecanismos de estabilizacdo. Existem poucas informagées sobre o assunto, mesmo fora do pais. SELIG e WATERS. (1994) descrevem algumas observagdes de campo e experigncias em laboratério realizadas na Inglaterra e nos Estados Unidos da América. Ressaltam, contudo, a necessidade de um maior numero de verificagdes de campo de modo a se constatar a sua adequagao ¢ eficacia. A COPPE/UFRJ, em parceria com a FLUMITRENS e a RHODIA/STER, montou um programa experimental visando o estudo de alternativas de intervencdo para protegao do lastro contra a contaminacao por finos, levando em conta a andlise do comportamento mecanico das camadas e os materiais aplicados, através de monitoramento do trecho e ensaios de laboratorio de solos. Inicialmente, foi feita uma amostragem, em diversos focais das linhas da FLUMITRENS, para estudo da presenga de finos no lastro, incluindo aqueles pontos onde ja tinha sido aplicado o geotéxtil em diversas épocas, bem como outros locais com bolsdes de lama, parcialmente contaminados e sem contaminagdo. Em seguida, executou-se o trecho experimental com trés tipos de intervengGes: duas com geossintéticos (geotéxtil ¢ geocélula) e uma terceira sem geossintético mas com substituigdo do lastro. Para servir de referéncia, uma outra secdo foi deixada intacta. A proposta deste trabalho é fazer uma observagdo mais sistematica do comportamento de trechos com geossintéticos, e os trabalhos executados com a finalidade de se alcangar os objetivos descritos nos capitulos assim organizados: - O capitulo 2 contém uma revisao bibliografica; - O capitule 3 faz uma anilise do comportamento “in situ” de trechos com intervengGes antigas e do trecho experimental do programa. - No capitulo 4 sao apresentadas conclusdes e recomendagées finais. CAPITULO 2 - REVISAO BIBLIOGRAFICA A VIA PERMANENTE 2.1. | Comportamento Mecinico - Modelo de Anilise A via permanente suporta as cargas transmitidas pelas rodas, guiando o seu movimento, A qualidade da via permanente determina a carga permitida, velocidade, seguranca © operagao da ferrovia. As cargas, na via permanente, atuam em trés diregdes: vertical, lateral e longitudinal, porém, nos modelos de analise geotécnica convencional, as avalia¢des consideram unica ¢ simplificadamente a componente vertical. HAY (1982) define a via permanente como uma estrutura elastica que recebe a carga das rodas, a distribui ao subleito, sendo a sua rigidez medida pelo valor da deflexdo, e pelo modulo da via, 0 mesmo autor aponta a deflexdo vertical como o melhor indicador da resisténcia, durabilidade e qualidade da via permanente. A deflexdo excessiva causa movimentos diferenciais, e desgaste nos componentes da via, podendo levar 4 deterioracdo do lastro, devido a abrasao, transformando em po as particulas de agregado. Também em caso de subleito argiloso fraco, com a presenga da agua, podem ocorrer bolsdes de lama, com bombeamento para a via, ocasionando deformagées permanentes, e diminuicdo da resisténcia mecdnica. A deformagdo permanente ¢ sempre prejudicial, na ferrovia, por conduzir a recaiques diferenciais. MEDINA (1988) da a via permanente o nome simbélico de “pavimento ferroviario”, a semelhanga do pavimento rodoviario e define o pavimento ferroviario como um sistema de camadas sujeito a tensdes ¢ deformagdes provenientes do trafego e do clima. As dificuldades no seu dimensionamento se complicam quando se considera a variabilidade do trafego quanto a freqiéncia, peso e velocidade, bem como quanto 4s caracteristicas construtivas e de conservagao de toda a via € dos proprios trens. No projeto da via permanente, faz-se 0 dimensionamento do trilho, do dormente e do numero de dormentes (afastamentos), da espessura do fastro, para se determinar a carga admissivel da roda e velocidade. As pesquisas para melhorar a estrutura da via permanente incluem o estudo das deflexdes, dos momentas fletores e tensGes; de cisalhamento; tensio de contato; reagdes; tensdes laterais, momento de tombamento, cargas dindmicas; tipo de lastro; e a variacdo geotécnica do subleito ao longo da linha. A acuracia da analise fica limitada, devido aos seguintes fatores: 1) a variagdo da carga por roda e a sua avaliacao; 2) a complexidade das propriedades do lastro, que variam com o trafego, manutengao e condicdes ambientais, ¢ 3) as caracteristicas do solo. HAY (1982) cita que, o modulo de via (u) é definido como a carga por unidade de comprimento do trilho que provoca um recaique unitario no lastro. E também a carga no trilho que provoca o recalque unitario dividido pelo espagamento do dormente (KN / mim )- O médulo da via nao pode ser calculado através das propriedades dos componentes (lastro, dormente, camadas inferiores...), sendo avaliado, no campo, através de medigdes das deflexdes, apés a aplicago de cargas conhecidas. SELIG e WATERS (1994) citam, como o melhor método para obtenco do médulo de via, a aplicacao de cargas verticais conhecidas, no topo do trilho, num ponto qualquer, onde se mede a deflexo vertical, utilizando um macaco hidraulico e um vagio como reagiio. 2.1.1. Teoria da Viga sobre Fundagao Elastica Um dos modelos mais comumente empregado para representar a via permanente € baseado na Teoria da Viga (trilho) sobre fundagdo elastica. A fundagao é representada pelo médulo da via (u), incluindo os efeitos dos afastamentos, dormentes, lastro, sublastro e subleito. A equacdo diferencial para esse modelo € 4 Bi SS says 0 ay ie onde: E: modulo de elasticidade do trilho I: momento de inércia do trilho u: modulo da via y: deflexdo do trilho A Fig, 2.1 ilustra o trilho como uma viga sobre fundagao elastica. P TRAN Fig. 2.1 Modelo da viga sobre fundagao elastica A solugdo da equagao diferencial, para a deflexdo do trilho y (x), a uma distancia x ao longo do trilho, devido a carga P, num ponto escolhide, é: y (y= PA e™* (cos 4 x+sen A x) (2) 2u u \ 2 aE 8) Neste caso, 2 = ( A linha suporte das forgas de reacdo: F(x)=-uy (x) (4) As derivadas sucessivas da Eq. 1 fornecem as equacdes da rotagdo @(x), momento fletor M (x) e cortante V (x): @ (ye Pe e* (sen 4 x) (3) Poe : M (x)= — e™ (cos 2 x-sen % x) (6) 4A P V@)=->e* (cos 2 x) q) Fig. 2.2 Variagao dos parametros, ao longo do trilho (SELIG e WATERS, 1994) Os valores maximos para cada parametro sdo dados pelas seguintes equagdes: Ya= Fe @) =2 Mo 4a ® Fa=u Yn, (10) estima-se 0 cortante maximo pela expressdo Qm = Fm. S qd) onde: S: espagamento entre os dormentes. Estima-se a pressdo sobre o dormente, pela expressio: p= 20 (12) onde: A: area de contato do dormente. O modulo da via (u) ¢ obtido pela expressao’ ( -.¥ (13) (64E1)3 HAY (1982) indica valores do médulo da via entre 14000 - 17500 KN / m,m (dormente de madeira) e entre 49000 - 56000 KN / m/m (dormente de concreto) como os que representam bom comportamento. Cita, ainda, um faixa de valores admissiveis para a deflexo vertical entre 3 e 5 mm, para vias de alta carga, que propicia uma combinagao adequada entre flexibilidade e rigidez. STOPATTO (1987) fez um calculo aproximado do médulo da via indicando um valor u = 16000 KN/ mm, pata o caso da bitola larga (1,60 m), que servira como indicador para projetos de trechos novos. RIVES e outros (1977) apresentam uma simplificagio para o complexo estudo do estado de tensdes no pavimento ferroviario. Mais recentemente, programas de computador, como o ILLITRACK e 0 GEOTRACK, citados por SELIG e WATERS (1994), vém sendo utilizados no dimensionamento de trilhos, fixagdes. dormentes e todas as camadas de assentamento da ferrovia. Na COPPE/UFRJ, um programa de elementos finitos que adota a mesma concep¢ao do lastro e camadas de solo que o GEOTRACK, chamado FEPAVE, vem sendo utilizado, com sucesso, na analise mecanistica de estruturas de rodovias (SILVA e MOTTA, 1995), A resiliéncia é a propriedade da via se deformar sob um carregamento, e retornar 4 posicao original quando cessa o carregamento, sendo necessdria para prover um suave movimento das rodas, prevenindo a quebra de componentes, absorvendo os choques, impactos. oscilagdes verticais, ¢ vibragdes. O lastro normalmente fornece a resiliéncia necessaria. A deformacdo plastica sera tratada no item 2.4. A estabilidade da via é 0 grau de permanéncia ou habilidade de manter a posicdo vertical e lateral, exige drenagem das camadas, compactagdo, lastro dentro dos padrdes, dormente e trilhos bem dimensionados, e contengdo lateral do dormente, exercida pelo lastro. A duragéo dessa estabilidade pode ser maior, se for mantida a geometria da seco e elasticidade uniforme da camada de lastro. 2.2. A Superestrutura A superestrutura corresponde ao conjunto de trilhos, fixagdes e dormentes. O trilho adotado pela FLUMITRENS ¢ 0 TR-57 (ABNT), ¢ 0 tipo de emenda é a soldada. Os dormentes. identificados em cada trecho estudado. foram de trés tipos, com os seus respectivos pesos médios: madeira (80 kg), concreto bibloco (180 kg) e concreto monobloco (390 kg). Para este ultimo, o espagamento nominal é de 0.56 m e sera considerado no estudo do “Trecho Experimental” a ser apresentado no capitulo 4. Quanto as fixagées: PANDROL nos dormentes monoblocos. RN nos biblocos parafusos nos de madeira A carga por roda. segundo reiatorio da FLUMITRENS, varia de 78,87 kN (composicdo mais ieve) até 134.88 KN (locomotiva mais pesada). 2.3. Caracterizagao Geotecnica da Infraestruura Define-se como infraestrutura 0 suporte da estrutura da via da qual recebe, através do lastro (ou sublastro. se for 0 caso), as tensdes devidas ao trafego. e das demais instalagdes necessarias a operacdo ferroviaria. O lastro e o sublastro serao incluidos na infraestrutura como camadas de assentamento. A identificagio do solo sera feita pelos seguintes paraémetros: granulometria, sedimentacao, limites de Atterberg e a atividade das argilas. - ANBR 7181 normaliza os ensaios de granulometria e sedimentacao. - A NBR 6459 estabelece a determinacdo do indice de plasticidade (IP), do limite de liquidez (LL) e do limite de plasticidade (LP), sendo: IP=LL-LP - A atividade coloidal das argilas foi estudada por Skempton (1953), sendo: % < 0,002 mm Se. A<0,75 = argilas inativas 0,75 1,25 ~ argilas ativas (pequenas quantidades podem provocar elevado IP) A identificago de argilas pode ser realizada pela difracdo de raios X, que consiste no emprego de radiacées eletromagnéticas, numa camara de po (assim chamada para materiais formados por conjuntos de pequenos cristais, como as argilas). Um feixe de raios X de comprimento de onda conhecido atinge a amostra, cada grupo de planos cristalinos ira difratar 0s raios X, em um angulo diferente, sendo que esses angulos sdo registrados numa fita de filme fotografico ou por um contador Geiger, e comparados com valores tabelados, para, entdo, se interpretar 0 difratograma. Os dados dos principais argilominerais foram tabelados por Brown (1961), citado por SANTOS (1982). 2.3.1. As Camadas de Assentamento As camadas de assentamento contribuem para assegurar, por sua natureza e espessura, © bom desempenho da via permanente, sob os pontos de vista: rigidez, nivelamento e drenagem. 2.3.1.1. O lastro O lastro utilizado pela FLUMITRENS ¢ de pedra britada 12/60 mm, e desempenha as seguintes funcdes, na via permanente: 1) reduzir as tensGes recebidas dos dormentes, transmitindo-as, uniformemente, para 0 subleito; 18 2) resistir as forgas verticais (nos dois sentidos) e horizontais, mantendo a superestrutura na posi¢ao; 3) prover a resiliéncia necessaria a superestrutura; 4) assegurar a drenagem e escoamento rapido das aguas; 5) facilitar as operagdes de nivelamento ¢ alinhamento, e 6) prover os vazios necessdrios para o movimento das particulas, e conter os finos da contaminagao. O lastro desempenha outras fungdes adicionais, como: inibigaio do crescimento da vegetagiio; absorgo de ruidos; isolamento elétrico, e facilidade de reconstrugao. Entre as camadas de assentamento, a de lastro é o local onde se desenvolvem as maiores tensdes e os maiores recalques, RIVES e outros (1977) citam um estudo de campo onde se verificou que 75 % do recalque da via sob cargas verticais ocorre no lastro. Suas propriedades fisicas podem ser avaliadas pela densidade, medida no local, ¢ pelos indices: dimensdo, forma, angularidade, dureza, textura e durabilidade. Na via permanente, as propriedades da infraestrutura, ¢, especialmente, as do lastro, variam, ao longo do tempo, devido a: degradac&o durante a construgao, contaminagao por finos, manutengdo, trafego e intemperismo, que reduzem a sua capacidade de desempenhar as fungées as quais se destina, descritas anteriormente. O comportamento mecanico do lastro depende do efeito combinado das suas propriedades. No Capitulo 3, sero descritos alguns ensaios realizados com o lastro existente e com lastro novo empregados pela FLUMITRENS. A ABNT, através da NBR 5564, recomenda, entre outras prescrigdes, que: - O lastro padrao deve atender 4 seguinte granulometria: Porcentagem de massa retida (%) Peneira (mm) 63,5(2%4") 0-0 50,0 (2”) 0 - 10 38,0(1 4%”) 30 - 65 25,0 (1) 85 - 100 12,0(4”) 95 - 100 - O desgaste maximo, no ensaio de abrasao Los Angeles: 40% Quanto as caracteristicas petrograficas, o lastro deve apresentar: - massa especifica aparente minima ~ absorgdo de agua MAXIMA oo... ee 1% 1% - porosidade aparente maxima ... = Tesisténcia 20 ChOQUE ....... ee seeeeeeeeeseeseee ~ forma cubica Tolerancias: - particulas lamelares - material pulverulento ....... - torrées de argila - fragmentos macios e friaveis ............ z . 24 KN/m? 10% 1% - 0,5% 5% A FLUMITRENS adota uma espessura minima de lastro de 0,30 m (correspondente a classe II da linha férrea / ABNT). 2.3.1.2. O sublastro 20 E a camada de adaptacdo interposta entre 0 lastro e o subleito, que desempenha uma funcdo semelhante ao lastro, ou seja, a redugdo das tensdes no subleito. Porém, o sublastro tem fungdes especificas, como: 1) prevenir a migragdo de finos, atuando como camada separadora; 2) servir de interface entre lastro/subleito, evitando 0 atrito dessas camadas, que pode gerar o bombeamento de lama; e 3) conduzir as aguas oriundas do lastro para as laterais da via, e drenar as aguas de sub-pressao. A auséncia do sublastro pode levar a um alto custo de manutencdo da via permanente, dependendo do tipo de solo do subleito O sublastro, usualmente, é constituido de materiais bem graduados (areia com cascalho, agregados ou escoria). Existem outras opdes de materiais que podem ser utilizados para desempenharem as fungdes do sublastro, como: solo-cimento, solo-cal, concreto e geossintéticos. Estes ultimos sero tratados, com maior énfase, neste capitulo, mais adiante. No caso especifico da FLUMITRENS, assim como em ferrovias ja com muitos anos de implantagdo, em geral o sublastro nao foi previsto no projeto, mas acaba surgindo uma camada intermediaria entre lastro e subleito, devido as diversas intervengdes de manutengao que se * fazem, ao longo dos anos, com relastro parcial e/ou socaria. 2.3.1.3 - O subleito A fungao do subleito ¢ fornecer uma fundagao estavel ao sublastro/lastro. As tensdes, no solo, podem atingir cinco metros abaixo da superficie, conforme relato de SELIG e 21 WATERS (1994), e o subleito deve ter caracteristicas tais que permitam contribuir para a elasticidade e resiliéncia da via permanente. Suas fungGes sao: 1) evitar recalques excessivos com 0 trafego, e 2) manter a sua estabilidade, sob as cargas transmitidas pelas camadas superiores. Devem ser evitados materiais expansivos. A ABNT apresenta a seguinte classificago, segundo a NBR 7964, para a plataforma ferroviaria, que compreende o subleito e o reforgo, quando for o caso, no quadro 2.1, a seguir: Quadro 2.1 CLASSIFICACAO DE PLATAFORMA FERROVIARIA Classe da plataforma Classe do Camada de reforgo da plataforma Co. Designagio material suporte Classe do Espessura material minima (cm) PL Plataforma ruim Qs1 Qs1 - ~T solo fino tratado Plataforma com ligante 30 P2 média Qsl Qs2 55 Qs3 40 Qs2 Qs2 : Plataforma QsI Q83 fC P3 boa Qs2 Qs3 40 Qs3 Qs3 - A qualidade do solo depende dos aspectos geotécnicos, e das condigdes hidrogeologicas/hidrologicas. Estas condigdes sto consideradas boas, em fungio da 2 localizagéo do lengol freatico, de percolagdes de agua e a adequada drenagem das aguas pluviais. Os aspectos geotécnicos sao agrupados, pela ABNT, em quatro classes. QSO: solos “improprios” 4 execugio correta das camadas de assentamento; QS1: solos “ruins”, aceitaveis, desde que haja uma boa drenagem; QS2: solos “médios”, QS3: solos “bons”. Os solos QSO compreendem: QS0-1: os solos moles orginicos; QS0-2: os solos finos. que contenham mais de 15% de finos, umidos e. portanto, nio compactaveis; QS0-3: os solos tixotrépicos; estes solos, sob determinadas condigdes, passam do estado coesivo para o estado liquido (Argila sensivel), QS0-4: os materiais soltiveis que contenham, por exemplo, sais minerais ou gesso; QS0-5: os materiais poluentes, como os residuos industriais, por exempio; QS0-6: os solos mistos (minerais e organicos). Os materiais enquadrados na classe QS, por serem improprios para plataforma, devem ser substituidos ou tratados, nado constando no quadro de classificagao por esse motivo. Os solos QS1 compreendem: QS1-1: os solos moles, com mais de 40% de finos; QS1-2: as rochas muito metamorfizadas, tais como carbonatos muito friaveis, margas, os xistos alterados; estas rochas so tao alteradas que chegam a ser consideradas como solos ruins; QS1-3: os solos com 15 a 40% de finos; 23 QSt-4: rochas menos metamorfizadas (carbonatos de friabilidade baixa), os xistos nao alterados;, QS1-5: as rochas brandas. Alguns solos enquadrados como QS1-3, QS1-4 e QS1-5 podem ser enquadrados como QS2, se as condigdes hidrogeolégicas/hidrologicas forem boas. Os solos QS2 compreendem: QS2-1: os solos com 5 a 15% de finos, QS2-2: as areias com menos de 5% de finos, mas de granulometria uniforme, QS2-3: as rochas de dureza média. Qs solos QS3 sdo os melhores solos; eles compreendem: QS3-1: os solos com menos de 5% de finos; QS3-2: as rochas duras. Quanto a classificagdo descrita, cabe ressaltar a caréncia de publicagdes técnicas sobre © assunto, principalmente sobre 0 comportamento dos solos tropicais como plataforma ferroviaria, 0 que poderia, a priori, indicar que os solos lateriticos seriam melhor classificados que os solos de regides de clima temperado. Estes, supostamente, serviram de referéncia para os limites, ora estabelecidos. STOPATTO (1987) cita que esse método de classificagao foi introduzido pela SNCF (Société Nationale des Chemins de Fer) francesa. 2.4. Deformacao Permanente As deformagées plasticas, no lastro, ocorrem devido 4 repetic¢ao do carregamento; a componente vertical da deformagao resultara no recalque da via. O trafego provoca uma variagdo progressiva do volume, devido ao rearranjo das particulas e 4 quebra dos graos 24 (existe uma contribuigio na quebra dos graos, devida aos fenémenos fisico-quimicos e ambientais). A contaminagao do lastro pode contribuir, nesse processo de variagio do volume, com © aumento ou a diminuigdo da taxa de variagao da deformagao plastica acumulada. Quando a contaminagao é por finos plasticos, a umidade e a lama propiciarao a lubrificagdo das particulas, e o rearranjo sera facilitado. Por outro lado, quando as particulas finas esto secas e/ou sao nao plasticas, aumentam a rigidez do lastro, devido ao maior contato das particulas grandes, entremeadas pelas menores; isso causa maior desconforto ao trafego e maior desgaste do material rodante. O maior efeito da deformagao permanente ocorre, apos a socaria, em lastro contaminado, devido ao afofamento da camada; e, com o trafego, reinicia-se 0 processo de varia¢ao do volume. Para avaliar a qualidade de um material, sob estes aspectos de deformacao, SELIG e WATERS (1994) descrevem o ensaio triaxial nao drenado de carga repetida, com lastro ferroviario, para obtengdo do modulo resiliente e da acumulagio da deformagao plastica, representado, na figura 2.3, que, hoje em dia, deve ser utilizado para caracterizar os materiais que comporao a infraestrutura. Este ensaio ja é largamente utilizado em pavimentagao rodoviaria, inclusive no Brasil ja é feito em alguns laboratérios tais como o da COPPE/UFRJ, desde 1977, Esta normalizado pelo DNER desde 1986. 2s 0, = CONSTANTE a [CARREGAMENTO ! o-40 Sendo uma das principais fungées do lastro assegurar a drenagem e 0 escoamento rapido das aguas, Parsons (1990), citado por SELIG e WATERS (1994), fez uma correlagao entre o F; eo coeficiente de permeabilidade (k), apresentados na Tabela 2.2, a seguir: Tabela2.2 —_ Correlagdo entre o Freok Fi k (cm/s) <1 25-5 —___| 1-9 0,25 - 2,5 10-19 0,15 = 0,25 20-39 $x10* - 0,15 >39 <5x10* A titulo comparativo, citam-se, a seguir, os valores tipicos de k para alguns solos: 7 Cascalho: 1100 cms Areia: lotal om/s Silte 10%al0* cms Argila 10a 10% cm/s 2.5.2 - A Manutencao e a Contaminacao Os esforgos na superestrutura, com movimentos verticais ¢ laterais, alteram a geometria da segao, de forma irregular, isso provoca um incremento nas solicitagdes dindmicas, com efeitos maiores na perda da geometria. Para a corre¢do necessaria, é feita a operacdo de socaria, que consiste na operacdo de adensar a camada de lastro. Entretanto, a socaria provoca uma modificagdo no lastro, no sentido de afofamento, o que possibilitara novos recalques; estes serao maiores que os anteriores, ¢ 0S danos no lastro também, exigindo nova socaria. Ao longo do tempo, surgira um acimulo de particulas finas, no lastro, caracterizando a contaminacao. J4 o trafego provoca a compactacao do lastro, além da quebra de graos. Estes procedimentos compdem 0 que se pode denominar de “ciclo de manuten¢ao”, esquematizado na figura 2.4. A propria socaria provoca alguma quebra de lastro; além disso, 0 fato de revolver a * camada cria novos pontos de contato, aumentando a quebra do lastro, com 0 trafego. Em trechos antigos de ferrovia, a maior parcela do recalque ocorre no lastro perturbado pela socaria, O recalque excessivo, quando o trilho esta descarregado, pode criar um vazio (“gap”), entre a face inferior do dormente e o astro, que, na presenca da agua e particulas pequenas de brita, provoca uma aceleracdo no processo de desgaste, com o impacto das cargas. Neste caso, 28 a socaria apenas minimiza os efeitos do “gap”, porém, devido 4 contaminagao, este defeito ressurgira, rapidamente. TRAFEGO ACUMULADO ciclo de 6 a socaria — recalques limite aceitavel tendéncia sem a socaria Fig, 2.4 A socaria em lastro contaminado (SELIG e WATERS, 1994) 2.5.2.1. As origens da contaminagdo As fontes de contaminagao sao: a quebra do lastro, infiltragdes de camadas inferiores, infiltragdes da superficie e o desgaste do dormente A quebra do lastro ocorre durante 0 manuseio, desde a jazida; durante o transporte, e 0 descarregamento; ocorre devido ao intemperismo, a socaria, ao trafego, vibragdes, bombeamento e a compactagao mecanica, A infiltragio das camadas inferiores ocorre devido ao bombeamento de material fino saturado (lama), que ¢ impulsionado para cima, por pressiio das cargas dindmicas A infiltragao da superficie da via pode ocorrer por particulas langadas, sobre a camada de lastro, por vagées, ventanias, ou transportadas por correntes de agua. O desgaste do dormente consiste na abrasio da superficie do mesmo, por atrito com particulas de lastro, na presenga de agua e sob a agao do carregamento. SELIG e WATERS (1994) fizeram um levantamento estatistico sobre a contaminagaio do lastro, mostrado na fig. 2.5, onde foram compiladas observagées de laboratério ¢ de campo, inhas da Canadian Pacific Railroad. E constataram as seguintes contribuigées HBB infittracao do subleito 16% Infiltracdo da superficie Infiltracdo de camadas inferiores HBL astro (quebra) Figura 2.5 - Porcentagem de causas de contaminagao do lastro (SELIG e WATERS, 1994) 2.5.2.2. Os efeitos da contaminagao A contaminagao impedira 0 lasiro de cumprir, plenamente, as suas fungdes. A contaminagao com materiais mais granulares (areia/cas alho fino) causa aumento da rigidez. ¢ estabilidade, porém, reduz.a resiliéncia, dificulta as operagées de nivelamento e alinhamento, e reduz a drenagem. A contaminagdo com materiais mais finos (argila/silte) forma os bolsdes de lama, que aceleram a abrasio do lastro € sua deterioragiio, e dificultam, sensivelmente, a drenagem e a manutengao; o lastro perde a estabilidade pela lubrificag&o das superficies das particulas - alterando 0 comportamento mecnico da camada de lastro e a geometria da segao. ‘Neste segundo caso, ainda, se o material estiver seco, o lastro nao se rearranja, a cada passagem dos trens, e, se estiver umido, as particulas finas revestirdo a superficie de contato dos graos do lastro, enfraquecendo a estrutura num todo. Algumas medidas podem reduzir os efeitos danosos da contaminagao, como se segue: + No langamento do lastro, evitar a mistura com a terra da superficie. - Tomar cuidados no descarregamento dos vagées. - Utilizar lastro de material mais resistente 4 abrasio. + Prever, executar e manter uma drenagem eficiente. - Utilizar camadas de regularizacao e sublastro, para evitar o bombeamento. 2.6 - Aplicacao de Geossintéticos em Ferrovia 2.6.1 - Apresentagaio Os geossintéticos sao materiais de tecnologia de fabricagio muito diversificada. Tipicamente, compdem-se de materiais de base polimérica, cujas propriedades so ajustadas a fungdes especificas, conjugando, ainda, baixos custos e metodologias de construgao simplificadas. Seu emprego com solos e agregados objetiva normalmente a retengdo de particulas, drenagem e reforgo. Um exemplo de aplicagdo do geossintético seria a separacao e drenagem de agua subterranea onde se verificar dificuldade de encontrar a granulometria necessaria para filtro do material granular natural e o alto custo de importar outro material 31 substituto, além dos custos inerentes de transporte e mao-de-obra. A figura 2.6, a seguir, ilustra a drenagem com a retencdo de particulas. Fig. 2.6 Mecanismo de retengao de particulas Condigées sugeridas pelo U.S, Army Corps os Engineers and U.S. Bureau of Reclamation para a rerencdo: Ds (filtro) <5 Das (solo) e@ Deo (filtro) $25 Dso (solo). para a drenagem mais a condigao Dis (filtro) > 4.a 5 Djs (solo) No caso especifico de ferrovia, a figura 2.7 ilustra uma proposta de granulometria para atender as condigdes de separacdo das camadas: 3% 8 88 4 8 8 PORCENTAGEM DE FINOS POR PESO Fig. 2.7 - Condigdes para retengdo de finos nas camadas da ferrovia (SELIG e WATERS, 1994) 32 PALMEIRA (1981) apresentou um estudo sobre a utilizagao de geotéxteis como reforgo de aterros sobre solos moles, onde mostrou os métodos de calculo, e os resultados da instrumentagdo de campo em uma rodovia de acesso. Concluiu que ha uma redug&o no volume de materiais, para a construgéo do aterro com o emprego do geotéxtil (com economia em volumes entre 9,6% e 22,6%, dependendo das condigdes de ancoragem), ¢ outras vantagens, como a melhoria do desempenho do pavimento e o aumento da sua vida util. O mesmo autor, PALMEIRA (1995), apresentou uma analise critica dos métodos de projeto de estradas nao- pavimentadas, com e sem reforco geossintético, que serve de atualizagdo do assunto, com uma bibliografia de trabalhos desenvolvidos nos ultimos 20 anos. SPADA (1991) apresentou um estudo experimental sobre filtragdo em solos, comparando dez combinagSes solo-geotéxtil, e concluindo scbre o bom desempenho dos filtros geotéxteis, no que se refere 4 capacidade de drenagem da agua e a retengao de particutas do solo. EHRLICH (1995) apresentou um estudo efetuado em parceria entre a COPPE, RHODIA/STER e a Prefeitura dz Petropolis/RJ, no qual monitorou-se o desempenho de estruturas de contengio de encostas executadas com o solo reforcado com geotéxteis. EHRLICH (1995) constatou o bom desempenho das estruturas, quanto 4 sua estabilidade, ¢ uma grande vantagem econ6mica, no custo total da obra (com redugdo de custos variando de 37% a 49%, comparada com outros tipos de estruturas usualmente adotadas). 3 2.6.2 - Caracteristicas gerais dos Geossintéticos Qs geotéxteis podem ser, quanto a fabricacdo, tecidos ou nao-tecidos, com varios niveis de permeabilidade, ¢ se destinam ao atendimento das fungées: separacdo, filtragao, drenagem e reforgo. A tabela 2.3 agrupa os tipos usuais de geossintéticos, indicando suas fungGes principais. Tabela2.3 — Tipos usuais de geossintéticos e suas fungdes TIPO FUNCAO GEOTEXTIL SEPARACAO TECIDOS FILTRACAO NAO-TECIDOS DRENAGEM REFORCO GEOMEMBRANAS TSOLAMENTO SEPARACAO REFORCO GEOGRELHAS REFORCO GEODRENOS DRENAGEM GEOCELULAS REFORCO. ‘GEOCOMPOSTO COMBINACAO DE FUNCOES A Fig, 2.8 ilustra as fungdes desempenhadas pelos geossintéticos nas ferrovias € outras obras geotécnicas. separacao filtracao RETENCAQ DE SOLO 34 drenagem isolamento reforco meio je osteo Fig. 2.8 - Fungdes dos geossintéticos A fungao separacdo foi citada no item 2.6.1, como exemplo. A filtragdo consiste na passagem da agua pelos orificios do geotéxtil, enquanto as particulas do solo ficam retidas. Dependendo da espessura do geotéxtil, e sendo este nao-tecido, a agua pode fluir no seu plano, caracterizando a fungao drenagem. A quarta fungao, de reforgo, pode ser desempenhada pelo geotéxtil oferecendo resisténcia 4 tragdo, quando a deformagao do solo ocorre na diregaio do seu assentamento. As geomembranas sao laminas impermeaveis que podem funcionar como reforgo a tragdo, além de apresentarem superficie rugosa que melhora a resisténcia ao cisalhamento do 35 solo. Ao contrario dos geotéxteis, as geomembranas evitam a passagem de fluidos entre camadas de solos adjacentes, caracterizando a fungao isolamento, evidentemente, a fungao separa¢do ocorrera. As geomembranas atuam, portanto, como isolantes e reforgo das camadas. As geogrelhas sio plasticos planos. furados e convenientemente esticados, que possuem alta resisténcia e rigidez. Sao assentadas, no solo, como reforco na diregdo das solicitagées. Os geodrenos sao canais de fluxo usualmente constituidos de elemento plastico vazado envolvido por geotéxtil. A agua do solo passara pelo tecido e escoara pela parte vazada. A funcdo principal do geotéxtil, no caso, seria a drenagem. Os geodrenos devem ser resistentes 2 pressao do solo. ‘As geocélulas, mostradas na figura 2.9, sdo plasticos compartimentados, abertos nas partes inferior e superior. As geocélulas sdo colocadas sobre o terreno, & preenchidas com solo granular. A resisténcia a tragéo das paredes das células propiciam um confinamento lateral do solo, formando uma camada de reforgo. ENCHIMENTO COM AREIA ae GEOSSINTETICO Fig. 2.9 Esquema de geotéxtil tipo geocélula 36 O geocomposto € uma combinagdo de geossintéticos. Como exemplo, cita-se o uso de geogrelha anexa a um geotéxtil, propiciando maior capacidade de reforco. 2.6.3 - Caracteristicas do Geotéxtil As propriedades dos geotéxteis sao influenciadas, fortemente, pelas propriedades das suas fibras ou filamentos, que irdo determinar os parametros do comportamento mecinico. Na Geotecnia, as propriedades das fibras e filamentos de maior interesse sao: - Fisicas (massa/unidade de area, didmetro, densidade, rugosidade e absorgao) - Mecanicas (tenacidade, rigidez, flexibilidade, resisténcia 4 abrasdo e fluéncia) - Quimico-bioldgicas (resisténcia a acidos, alcalis, oxidagdo, redugio, luz solar, fungos e bactérias) As propriedades mecAnicas do geotéxtil que medem a sua habilidade de cumprir as fungdes determinadas sao, basicamente: - compressibilidade (variagao da espessura, em fungo do carregamento) - resisténcia ao rasgo e sua propagacao - resisténcia a perfuragao (impacto, puncionamento e estouro) - resisténcia a tragao/alongamento/médulo de rigidez. As propriedades do conjunto solo - geotéxtil sao: - resisténcia a tragdo confinada + resisténcia ao cisalhamento direto - resisténcia ao arrancamento. As propriedades hidraulicas sao: - permeabilidade normal ao tecido - permeabilidade no plano do tecido 37 + porometria (medida da abertura de filtragdo - AOS “Apparent Opening Size”, que é a mais importante caracteristica para a fungdo separagdo). As propriedades ligadas a durabilidade mais importantes sao: - fluéncia - relaxagdo - fadiga + abrasio - colmatagao (retencdo de particulas no geotéxtil). A FLUMITRENS tem utilizado, com maior freqiiéncia, 0 geotéxtil marca Bidim OP- 30, no tratamento de bolsdes de lama com AOS 0,12 a 0,17 mm. 2.6.4. Uso do Geotéxtil 2.6.4.1. Geotéxtil como sublastro O geotéxtil, empregado em sublastro, com o objetivo de reforco, é utilizado para propiciar um confinamento lateral, reduzindo as tensdes residuais no astro, principalmente em subleitos fracos que nao amenizam esses efeitos. O reforco pode aumentar a rigidez do lastro, diminuindo as tensGes verticais no subleito. As restrigdes desse emprego estao ligadas aos grandes alongamentos ¢ fluéncia (Creep) do geotéxtil, a superficie irregular no contato com o lastro € ao aumento da abertura dos orificios da manta com o tempo de uso. Deve ser analisado o emprego da geogreiha, numa fungio de refor¢o, em substituigaéo ao geotéxtil. Porém, o principal papel esperado do geotéxtil é quanto a separaco/filtragéo. O AOS deve ser menor que as dimensdes das particulas do solo a ser contido. Sendo as particulas maiores bloqueadas, sucessivamente as menores vao ficando retidas no solo e, ento, forma-se um filtro adjacente ao geotéxtil. 38 Outras fungdes desempenhadas pelo sublastro podem ser executadas pelo geotéxtil: amortecimento do atrito do lastro sobre o subleito (restrigao no caso de subleito duro, rijo, devido 4 abraséo do geotéxtil), redug&o dos efeitos do bombeamento, permissio do escoamento de aguas oriundas do subleito (excesso de poropressdo, devido a ciclagem do carregamento, capilaridade ¢ outras). Byrne, citado por SELIG e WATERS (1994), constatou a inexisténcia de especificagdes quanto a permeabilidade, adaptadas as diversas situagdes da ferrovia e a repetigao de carga. O geotéxtil nao preenche uma das fungdes do sublastro, que é a de conduzir as aguas do lastro para fora da via, protegendo o subleito. 2.6.4.2 - Estudos em laboratorio E grande a utilizagdo de geotéxteis na manutenco de ferrovias, tanto no tratamento de bolsdes de lama, como em outras obras, do tipo: 1) rebaixamento de lengdis d’agua, em cortes; 2) em solos motes; 3) locais de travessia, na ferrovia, 4) desvios. SELIG e WATERS (1994) constataram que o uso de geotéxtil tem baixo custo, ja que se destina a pequenas areas. Porém, existem poucas avaliagdes divulgadas na literatura sobre o desempenho do geotéxtil em ferrovias, ¢ os relatérios sobre experiéncias em campo sao praticamente inexistentes. Entretanto, algumas experiéncias em laboratério serao descritas a seguir: - Geotéxtil como reforgo ‘Na 2* Conferéncia Internacional sobre Geotéxteis nos EUA (1982), citada por SELIG e WATERS (1994), foram descritos ensaios em células triaxiais sob carga repetida, nas comparagdes entre amostras, com e sem geotéxtil, entre material de lastro e subleito. A amostra com geossintético apresentou maior resisténcia e menor deformagao plastica, porém 39 os estudos de campo se fazem necessérios para quantificar esses beneficios em escala real. - Geotéxtil como separador/filtro Em laboratorio, Byrne, citado por SELIG e WATERS (1994), verificou o seguinte: 1) Na amostra com camada de argila sob o geotéxtil, ocorreu c bombeamento sob carga repetida. 2) A situago acima ocorreu com diversos tipos de geotéxteis, variando a velocidade de bombeamento. 3) O bombeamento era formado préximo dos pontos de contato entre o agregado ¢ a argila (através do geotéxtil). 4) Quando o tamanho das particulas do agregado diminuiu, 0 volume de bombeamento diminuiu, provavelmente porque a pressdo de contato foi reduzida, devido ao aumento do nimero de pontos de contato por unidade de area. 5) A espessura do geotéxtil no afetou, significativamente, o volume de bombeamento. 6) Quando o solo era arenoso, o geotéxtil funcionou como separador. 7) A camada de areia, no lugar do geotéxtil, foi eficiente na prevengio da migragao de argila para o lastro. O mesmo Byrne estendeu os estudos, incluindo as seguintes amostras: 1) Argila; 2) Silte com 10 a 15 % de areia fina; 3) Silte; e 4) Lastro contaminado. Entre o lastro e uma das quatro amostras de solo, foi colocado: 1) Geotéxtil nao-tecido AOS 0,075; 2) Areia natural, com granulometria adequada para filtro adjacente a argila, 3) Areia natural coberta por geotéxtil; 4) Filtro de areia revestido com geotéxtil; e 5) Manteve a amostra inicial. Verificou que: 1)O geotéxtil sozinho ndo previne o bombeamento, mas reduz o proceso. 2) A lama se formou na superficie da argila. 3) O silte com areia (amostra 2) nao teve bombeamento significativo, 4) A diminuicio da pressdo de contato reduz o volume de bombeamento. 5) O silte (amostra 3) foi bombeado, mas nao tanto quanto a argila. 6) O silte com areia proximo da superficie do lastro contaminado migrou através do geotéxtil para o lastro acima. Isso criou uma zona granular abaixo do geotéxtil, com pequeno bombeamento de finos. 7) O filtro de areia com granulometria para manter a separagdo com o lastro e a argila impediu o bombeamento da argila para a areia e da areia do filtro para o lastro. 8) O filtro de areia com granulometria para manter a separacdo somente com a argila impediu o bombeamento da argila para a areia, mas nao da areia do filtro para o lastro. 9) O geotéxtii na parte de cima do filtro de areia impediu a areia de migrar para o lastro. 10) O critério de separagio do geotéxtil que demonstrou ser mais consistente, nos ensaios, é 0 que estabelece a abertura AOS (mm) < < Dss (solo). 2.6.4.3 - Estudos de campo Raymond (1986), citado por SELIG e WATERS (1994), fez observacdo sobre o geotéxtil entre lastro e subleito, protegido por camada de areia acima e abaixo do tecido 4l Ocorreu uma melhoria quanto ao geotéxtil dificultar a penetragdo do lastro no subleito, ¢ significativa redugdo na migragdo de finos. Ha de se considerar que o subleito, no caso, apresentava material granular com 90% das particulas de dimensdes maiores que a abertura AOS. Haliburton, citado por SELIG e WATERS (1994), estudou a colmatagao do geotéxtil, constatou sérios problemas em locais da ferrovia com geotéxteis danificados, num periodo de 17 meses, causando a ruptura do solo pelo excesso de poropressio e umidade. Zimmerman, citado por SELIG e WATERS (1994), testou amostras de geotéxteis retiradas da ferrovia, apds 48 meses da instalagdo, e verificou: 1) A permeabilidade reduziu, numa média de 92%, em 15 meses, ¢, em seguida, aumentou, devido a perfuragao. 2) A drenagem diminuiu, numa média de 85%, em 15 meses. 3) A resisténcia 4 tensdo diminuiu, numa média de 54%, em 48 meses. 4) A resisténcia ao rasgo diminuiu 48%, em 48 meses. 5) A resisténcia ao estouro e a perfuragao diminuiu em 48 meses. Williams, citado por SELIG e WATERS (1994), estudou locais com drenagem deficiente e lastro contaminado. Foram colocados diversos tipos de geotéxteis e nova camada de lastro. As propriedades dos geotéxteis foram avaliadas, em laboratério, em diversos periodos. Em 3 meses, ocorreram grandes decréscimos na resisténcia a tragdo, perfuracdo, drenagem e permeabilidade. Apos esse tempo, as perdas das caracteristicas foram menores. SELIG (1994) examinou um local com bombeamento de argila, mesmo com geotéxtil ja instalado para evitar a contaminagao do lastro. Havia deficiéncia de drenagem, agua até a base do dormente e havia p6-de-pedra no subleito. Retirou-se a parte superior do lastro 42 contaminado, foi colocado o geotéxtil e lastro limpo, porém, o bombeamento ressurgiu. Num periodo de 2 anos, a lama atingiu a superficie, formando, de novo, bolsées. SELIG (1994) examinou locais com sérios problemas de bombeamento, onde, posteriormente, foram assentadas combinagdes de geotéxtil, geomembrana, camada de areia e geogrelha, a 55 cm de profundidade, ¢ colocado lastro limpo. Em uma das alternativas que utilizou areia (5 cm) sobre o subleito e geotéxtil, apds trés anos, 0 lastro estava muito limpo, e a argila ficou retida na parte inferior da camada de areia. Na combinagdo geogrelha e geotéxtil, constatou-se boa condi¢ao. Em outro local, foram usadas areia e uma lamina impermeavel de polietileno (geomembrana), com resultados desfavoraveis. Uma ultima combinagado de geotéxtil tecido, junto com nao-tecido, apresentou contaminacio do lastro. Porém, a conclusio a que se chega é que os acompanhamentos de campo sao poucos e © relato de casos de sucesso nao sao tao divulgados. 2.6.4.4 - Consideragées finais sobre aplicagao de geossintéticos em ferrovia As duas principais fungdes de interesse em ferrovia sao: |) Manter a separagio da camada de lastro da camada de sublastro ou subleito, conforme 0 caso, que poderiam misturar-se com a repetigao do carregamento. 2) Permitir percolagao da agua para fora da via, enquanto retém as particulas de solo. A filtragaio/drenagem sera necessaria quando: 1) Houver excesso de poropressio abaixo do geotéxtil, pela repeticio do carregamento. 2) Houver pressio de agua de percolacao no subleito. 3 A fungio de reforco é melhor desempenhada por geogrelhas. Algumas alternativas para aplicagdo dos geotéxteis em ferrovias estéo indicadas a seguir. SELIG e BYRNE (1993) apresentaram as alternativas de emprego de geotéxteis em ferrovia descritas na fig. 2.10, onde se mostra, esquematicamente, as varias posigées relativas do geotéxtil, dentro do pavimento ferroviario. = geotéxtil apropriado para o subleito - boa drenagem do astro {a) tastro - podera requerer uma camada de areia RXXKKEKY (protest) subleito -subleito (que apresentar maior % a cascatho) pode dispensar filtro -protege o geotéxtil da perfuracdo abrasao 'astro - deve ser usado quando: (| sublastro . sublastro muito grado ral . sublastro com baixa permeabilidade subleito .geotéxtil com maior resisténcia a colmatagao = sublastro deve atender 4 granulometria KXXXXKXX] para protegdo do subleito {normalmente, sublastro areia) subleito - geotéxtil corrige a granulometria - geotéxtil ajuda a impedir a contaminagdo lastro novo (d)} do lastro novo KXXXXXEX lastro antigo sujeito - geotéxtil deve ser dimensionado para subleito erosio reter © fino do lastro antigo Lt lastro novo ~ encapsulamento do geotéxtil, dentro da (e)} — sublastro I 25em camada de sublastro XXXXXEX — sublastro L >5cm __” Sublastro devera atender 4 granulometria subleito para o lastro novo e 9 subleito Fig. 2.10 Alternativas de uso do geossintético (SELIG e BYRNE, 1993) Para todas as alternativas de aplicagado do geotéxtil, o mesmo devera ficar pelo menos 30 cm abaixo da base do dormente, para proteger contra o bombeamento, erosdes, e permitir operagdes de limpeza do lastro. A aplicag3o do geossintético, na prote¢do contra o bombeamento, nao ¢ indicada se: 1) a lama nao vier do subleito; ou 2) se a lama vier do subleito, com graos muito finos para serem fetidos pelo geossintético. A ligdo a ser aprendida de experiéncias anteriores € que a aplicacdo do geotéxtil deve ser orientada pela analise detalhada do local especifico: 1) Determinar a causa do problema, pela observacdo no campo e ensaios de laboratorio. 2) Analisar as fungées a serem desempenhadas pelo geotéxtil e a alternativa para sua nao utilizagao. 45 3) Analisar aspectos de custo de cada solucdo possivel. 4) Conduzir o julgamento, no campo. objetivamente, nao adotando uma primeira experiéncia como solucao definitiva. 5) Monitorar o desempenho e avaliar os resultados. Cuidados devem ser tomados, na instalagéo dos geotéxteis, para evitar danos que enfraquecam o funcionamento do proprio elemento. De inicio, deve-se providenciar, na camade de apoio do geotéxtil, uma superficie lisa e inclinada para drenagem. Nao se deve conduzir equipamentos sobre o geotéxtil. Cuidados especiais devem ser tomades nas opera¢des de alinhamento/nivelamento da linha, recolocagio do lastro e outras. Deve ser evitada camada dupla de geotéxtil, devido a possibilidade de escorregamento. Uma adequada drenagem deve ser estabelecida, para escoar as aguas para fora da plataforma da ferrovia. Os geotéxteis sio faceis de escolher ¢ instalar, podendo resultar em baixo custo inicial Por outro lado, tém os beneficios limitados, no tempo, acarretando a sua substituicdo periédica, o que podera superar as vantagens iniciais, tendo em vista que os geotéxteis ndo atendem a todas as fungées do sublastro. Estudos cuidadosos devem analisar a solugdo mais econémica. As geomembranas sao aplicadas para evitar a infiltragdo de agua da superficie para o subleito. Nao devem ficar em contato com o lastro. Podem ser utilizadas para bloquearem a umidade em cortes. CAPITULO 3 ANALISE DO COMPORTAMENTO “IN SITU” DE TRECHOS EXPERIMENTAIS 3.1. Introdugao As linhas da FLUMITRENS tiveram a sua construcdo iniciada na metade do século passado; © projeto com as suas especificagdes atendiam a dados empiricos, disponiveis na época. Com o passar dos anos, as exigéncias da via permanente evoluiram em fungéo do aumento da carga nos cixos, da velocidade e da freqiiéncia do trafego, surgindo entio, problemas na estabilidade da superestrutura e comprometimento da geometria da via. Nestes ultimos anos verificou-se que um dos principais fatores que contribuiu para isso foi a contaminagao do lastro. Este fato vem tomando a manutengao mais intensa, para se alcancar padres minimos de seguranga e conforto. 3.2. Objetivo Metodologia O objetivo deste trabalho era, precipuamente, a construgao de um trecho experimental para a observaco sistematica do uso de geotéxtil como solucdo para problema de contaminacao de lastro. No entanto, como o tempo de observagdo do trecho para esta tese seria curto, e sabendo-se que a FLUMITRENS ja dispunha de varios trechos construidos, em épocas distintas, contando com a cooperacéo dos engenheiros do Departamento de Via Permanente da FLUMITRENS, foram escothidos alguns destes trechos ja implantados para amostragem e avaliago, antes da construgao do trecho experimental. 47 O objetivo do levantamento foi a verificagéo da contaminagao do lastro, em diversos pontos de linhas da FLUMITRENS. de forma que se tivesse uma avaliagao mais abrangente, com amostragem em locais contaminados. especificamente aqueles com bolsdes de lama, locais com aplicagdo de geotéxteis (até aquele momento. nao existia aplicacao de geocélula), e, até mesmo, outros locais que pudessem servir de referéncia para os trabalhos de pesquisa. Certamente, a avaliacao de diversos trechos, inclusive as intervengdes adotadas, dariam indicagdes para 0 projeto e a execugao do trecho experimental 3.2.1. Amostragens e estudos em laboratorio O objetivo da “classificagao dos solos”. sob o ponto de vista de engenharia, é o de poder estimar o possivel comportamento do solo, ou, pelo menos, o de orientar o programa de investigac¢ao necessario para permitir a adequada analise de um problema. Os sistemas de classificagdo se baseiam no tamanho dos graos e nas caracteristicas dos argilo-minerais. O tamanho dos graos ¢ determinado diretamente pela analise granulométrica e as caracteristicas dos argilo-minerais séo consideradas. indiretamente. pelo comportamento do solo na agua, medido pelos limites de Atterberg, As argilas muito ativas podem produzir nos solos um comportamento muito mais caracteristico dos materiais reconhecidos como argilosos pelos engenheiros do que maiores quantidades de outras argilas menos ativas, O “bolséo de lama” consiste na presenga de finos no lastro (contaminagao) mais a presenga de agua. As particulas que constituem os finos tem a sua origem, conforme descrito no item 2.6.1, no: proprio lastro (desgaste e quebra); infiltragao do subleito; infiltragao da superficie; infiltracao do sublastro ou 0 desgaste da superficie do dormente. 48 O quadro 3.1, a seguir, relaciona amostras retiradas destes trechos da ferrovia em estudo, a varias profundidades, e identificagao dos trechos e materiais. Apresenta os resultados dos ensaios de laboratorio de granulometria, atividade, limite de liquidez, indice de plasticidade e indice de contaminagao Fj, este descrito no item 2.5.1 pela formula F; = Py + Proo. As curvas granulometricas de todas as amostras sio apresentadas a seguir, nas figuras 3.1 a 3.13, mostrando, nos casos de contaminagdo, a degradagao do lastro, e a granulometria do subleito. Para servir de referéncia, foram colocados, também. os limites recomendados pela ABNT, para “lastro padrao” novo. oF ‘ap a]UAWHOD ‘Bp WY eNlaIped “BU3, ‘eUe| ap ogsjoq wi0d [e907 “oy910U00 9p aqueuitop ‘9s wy ejaIpad “BUS ‘euse| ap ogsiog was (2907 (9861) up “921009 2p aauop ‘9s Wy exaipad Guz We} ap ORSIOg MIO 7e907 “0D0191q oy@19U09 ap ayuauop "soyINBueyy ‘Seig0 ta OWDaH “eUNARd (quel) Wipiq"| eyuly “soued eisoD ones ap eduasaid ‘ewe} ap oBS}0q ‘woo 12907 Z eyUr] 'soHeg eIs09 “eyerou0e ap aquounop ‘soyuinBuew | ‘One| SeIATIA SeBE ORSUBIO ewe] ap 08509 09 [e907 “euapeW 2p ajuauuiop'¢ eu “einpeased BWIe} Bp OBSIOq WHOD [2907 'O}419 Yoo op a1uaUlHOp ‘py BYUl) “@PEPAA ‘eule] ap OFS}oq WH09 Je007 -O}aI9 ~09 ap ayvausiop ‘Z euUlT ‘@PEPAId ‘ewe| ap o7sjoq was e907 “2119p -2u.9p ayusuiop seul SBepatd oujse| op oeSeuIWe}UOD ep opnise eyed SNAMLINNT4 - AddOD / PUAN ClugAUOD ou sopeNsoWe soyda4 | be oNavNo 50 3.2.1.1 Furo 1 Local: Piedade (linha 5) Dormente: madeira O lastro enconctra-se altamente contaminado (F, = 41) contudo nao apresenta bolsGes de lama superficiais. Isto ocorre devido ao reduzido trafego de composi¢6es na linha, que é utilizada quando da interrupgao de outras finhas. As curvas abaixo mostra a degradagao do lastro (0 a 90 cm), por profundidade em fungao da contaminagdo. Mostra a granulometria do subleito. CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA| SILTE aa AFA ee econ] _PEDREGULHO = mown ema mw, my ; ° MIT \ i oe +t Ett Whe ii ' Lb ty os i al fl] I ' | é wt f 2 Lit i ! o § g a NTT Lie 1 yyt s | a AGN | a mr a ail i 1 s 1 Lay“ erty ol fhe 1A fi o + Ji 100 001 aot a1 1 0 100 OIAMETRO DAS PARTICULAS (mm) Fig. 3.1. Furo 1 - curvas granulométricas 3.2.1.2 Furo2 Local: Piedade (linha 2) Dormente: concreto monobloco O lastro encontra-se altamente contaminado (F; = 50,5) e com bolsdes de lama. As curvas abaixo mostram a degradacgao do lastro (0 a 60 cm), por protundidades, em fingdo da contaminag&o. Mostra a granulometria do subleito. CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA| — SILTE ame REA m| PEDREGULHO ' a a ay We 5 ny) Uh 1 I! Poni NY {Hh ' I! \ ray 8 8 tH Pot. o2000. er tt 2 fe Prof. 80cm (subj Nyy {I 1 il 6 5 he tao arto ie tl! B 3 aw eo nsate wo t vi z g* iT i AA a HTH} ray [ HL: Ce 28 ¢ 4 5 hee 7) Wie q x] tT WHAT y ° : u tt 100 oot aot o1 1 10 100 ‘DIAMETRO DAS PARTICULAS (mn) Fig. 3.2 Furo 2 - curvas granulométricas 3.2.1.3 Furo3 “Local: Piedade (linha 4) Dormente: concreto monobloco O lastro encontra-se altamente contaminado (F; = 65,1) e com bolsdes de lama. Devido ao seu indice de contaminagao, localizagéo, a sua tipicidade e elevado trafego, foi definido este local para a construgao do trecho experimental, CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA| SILTE ax AREA Team] PEDREGULHO mm @ et) ° T 7 - Hq] a I ray . Ll - ; Q 1 t Hi! 4 chs | Ty \ ya e & 2 Le | a 8 4) Fly 1 é a A I] V) Q g ta Le | & a ret TNT a Lier {|i 1 2 ry Tl I) 7% pla WI VM LAT ff ° ! 100 oom oot at 1 10 109 DIAMETRO DAS PARTICULAS (mm) Fig. 3.3. Furo 3 - curvas granulométricas 53 3.2.1.4 Furo4 Local: Cascadura (linha 3) Dormente: madeira O lastro encontra-se altamente contaminado (Fi = 50,7) e com bolsdes de lama. ‘As curvas abaixo mostram a degradacao do lastro, por profundidades, em fungao da contaminagao. “Mostra a granulometria do subleito. Durante a escavacdo do furo, constatou-se que 0 lastro encontrava-se mais amido do que 0 subleito, devido a contaminagao do lastro, as particulas finas retiveram grande umidade, aps um periodo chuvoso. Ocorreu uma drenagem satisfatoria no subleito devido aos dispositivos de drenagens sub-superficiais. CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA | SILTE a AEA Towsn|_PEDREGULHO | eo Sm me et me Ng Wit ty T ' ' "enor AHH) Wile df! = Prof On 20cm yy ' \ ' ' ™m 4 | AQ Prot 20.2 40m - 1 4 Hi 26 8 ee rcaoesoon.| | fil) ill i Wyle 4 j ae lnsopato ny AL kt WAL el 8 a te Lastro prao (a) i} a = na ‘ Wi, oo & 3 nT Hy! € 8 HTL 4 § 2 HAH ty . 25 HH Hh 8 Whee LAL e TI TNA ° | r 10 ooo oot as 1 10 cy DIAMETRO DAS PARTICULAS (mn Fig. 3.4 Furo 4 - curvas granulométricas 3a 3.2.1.5 Furo 5 Local: Manguinhos Dormente: concreto monobloco ‘A FLUMITRENS fez uma interveng&o no local, com a colocagéo de geotéxtil (bidim) em agosto de 1994. A degradagao ocorrida deve-se ao atrito e consequente quebra do material de lastro. O indice de contaminacio (F; = 9,5) é considerado “moderadamente limpo”. CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA | SILTE ax — ARIA emen|_ PEDREGULHO ease ee 1 (I Ik Wt daly aan Wyib by 4 . Li os 8 TT & ; mn 2 g 1 } | | “% i itd i 8 $ 1 | Wi a t | r +) LW qi | . theo oot aot ot 1 10 100 DIAMETRO DAS PARTICULAS (1mm) Fig. 3.5 Furo 5 - curvas granulométricas 3.2.1.6 Furo 6 Local: Costa Barros (linha 2) Dormente: concreto bibloco O lastro encontra-se altamente contaminado (F; = 49,3) e com bolsdes. Verificou-se a presenga de uma camada de carvao na profundidade de 40 a 60 cm, cuja origem deveu-se a um acidente de vagdes de carga. CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA | SILTE wa Eas] PEDREGULHO 8 PORCENTAGEM RETIOA PORCENTAGEM PASSANDO DIAMETRO DAS PARTICULAS (mm) Fig. 3.6 Furo 6 - curvas granulométricas 36 3.2.1.7 Furo7 Local: Costa Barros Dormente: concreto bibloco A FLUMITRENS fez uma intervengdo no local, com a colocag%o de geotéxtil (bidim) em janeiro de 1995. A degradagdo ocorrida deveu-se ao atrito no material de lastro, caracterizando a camada como contaminada (F; = 37,5). E provavel que a causa seja devido a material “fora de especificagao”. CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA | SILTE aa AREA Teme] _PEDREGULHO cee ee wn wm f Wilke j Wied oii as 8 im 5 a UA od 8 Tih wr : iA | i Ua: | 3 i y iH 5 fhe VLA, J 400 1 ‘0 10 DIAMETRO DAS PARTICULAS (mm) Fia. 3.7 Furo 7 - curvas aranulométricas 3.2.1.8 Furo 8 Local: Augusto Vasconcelos Dormente: concreto monobloco A FLUMITRENS fez uma intervengdo no focal, com a colocagao de geotéxtil (bidim) em setembro de 1979. Nao ha ocorréncia de bolsio de lama e o nivel de contaminagéo é moderada (Fi= 15). CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA| —SILTE =a — AREA —Temten|_PEDREGULHO | TN dat alll ay, soy 5 8 | dy j Ht , Wilf 8 Wh 8 td we a 100 t (DIAMETRO DAS PARTICULAS (em) ° . Fig. 3.8 Furo 8 - curvas granulométricas 58 3.2.1.9 Furo9 Local: Pavuna O local, pur ocasiac da visita técnica, encontrava-se em obras, e sem a superestrutura. O lastro foi considerado contaminado (H; = 37,5). CURVAS GRANULOMETRICAS Tasa|_PEDREGULHO | wo waa Wid, | nie | st {6 Pidadan oUt hy s | 8 he Lasopcts Hye 4 2 Ae Lain va | u 5 ; L Un A ao 8 T | | TI TWP i i an TE OH 2 ! 4 <1 | | Hi i TL AG, ° obite-e Lon oo oot os ' i. 10 DIAMETRO DAS PARTICULAS (em) Fig. 3.9 Furo 9 - curvas granulométricas 3.2.1.10 Furo 10 Local: Manguinhos Dormente: concreto bibloco © lastro encontra-se contaminado (Fi = 45,8) e com bolsées de lama. Verificou-se a presenca de particulas finas oriundas das enchentes do canal de Manguinhos (infiltragao da superficie) CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA| — SILTE cx AE x emamm|__PEDREGULHO wo eo eae Te ae ay ° AEGEROR A AATL VEE a —O— prtoazen | | fil hl 1 Wye a 8 =O rt madven-[ | iy \ WU UL a 8 b Prtoasoen | | | 1 \ ray 4 5 mae usps |] |! till] Wy 5 e o —he— Lasto patio, ATH Wa i % z g \ 1 Ti Wl g a AML | 2 jaf oi A i * ey r s \ Wile o - i I 100 aon oot a1 4 0 100 DIAETRO DAS PARTIGULAS (mm) Fig. 3.10 Furo 10 - curvas granutométricas ~ 3.2.4.11 Furo 11 Local: Engenheiro Pedreira Dormente: concreto monobloco A FLUMITRENS fez uma intervenco em [986 com a colocag&o de geotéxtil (bidim). Acima do geotéxtil o nivel de contaminagao é moderado (Fi = 13,2) Constatou-se um bom desempenho do geotéxtil, ja em uso por mais de 9 anos, na fungao de separador. Na amostragem, posicionou-se o furo 12 9 mais proximo do furo 11, em local sem o geotéxtil, de forma a servir de comparagao, naquele caso com a intervengao sem o geotéxtil. CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA| SILTE me AEIA [mom] _PEDREGULHO ith if ' I Lei] | Tim iy 8 1 I my g oh g Wh cy 4 1 uy § Ht} | Ui 1 1 td * let 1) | hy 1 1 1 r ty pf 1 I it) | te 1 tH tie y oo oot os 1 0 100 DIAMETRO DAS PARTICULAS (ren) 50 18 PORCENTAGEM RETIDA Fig. 3.11 Furo 11 - curvas granulométricas 6b 3.2.1.12 Furo 12 Local: Engenheiro Pedreira Dormente: concreto monobloco A intervengio feita em 1986 consistiu no relastro. Na primeira camada de lastro analisada (0 a 20 cm) o lastro apresentou-se moderadamente limpo (F, = 5,3) e, na camada seguinte, moderadamente contaminado (F; = 31). Comparando com 0 resultado do furo 12, verificou-se um processo de intiltragao do subleito que poderia ter sido contido pelo geossintético, nos mesmos moldes do local do furo 11 CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA | SILTE am on [eroma|__ PEDREGULHO two er TN i i . Sa iN 7 8 ayy | i ii: £ a y 14 Hl z 3° ; TH ; | ° Q a 1 Hi § 5 ' I ' . * T i iu rt mq *® Wile Let We if | o 4 Le-tot-P} t rt el 100 oot oot as 1 10 00 DIAMETRO OAS PARTICULAS (mn) Fig. 3.12 Furo 12 - curvas granulométricas 62 3.2.1.13 Furo 13 Local: Engenheiro Pedreisa Dormente: concreto monobloco A intervengdo de 1988 consistiu no emprego de geotéxtil tecido e apresentou um bom desempenho, na faixa de limpo (F,= 0,9) a moderadamente limpo (F; = 13,1), na fungao de separador. CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA SILTE me Won [@rosan| PEDREGULHO to ee eae me LEGENDA aay i iN q Hi ya) —O— Prof.082em nH} Wye da 76 | BR Prot acre coroner [ 1 u 1 ty 25 8 BE Prot aboixa do propa: fj] 5 )}] 1 I. HT Wy a i ater ccomate fli), | | | ie 5 pe eee LPI § g AVM Th he | fl s § WW | Sa Dein 8 * Dal D 4 % I, ‘c | We | 4B iy » acca pull ater « ooo aos on 1 10 ‘00 DIAMETRO DAS PARTICULAS (ram) Fig. 3.13 Furo 13 - curvas granulométricas 63 3.2.1.14 Escolha do local para implantagaio do trecho experimental Dentre os pontos levantados, como comentado no item 3.2.1.3, 0 local do furo 3, Piedade, linha 4, foi escolhido para a implantagao do trecho experimental. Por isso uma aten¢ao especial foi dada ao material ai coletado, julgando-se conveniente se fazer um estudo por diftagdo de Raios X para detectar se o material fino presente no lastro tinha ligago com 0 do subleito. Este ensaio foi realizado no Departamento de Geologia do Instituto de Geociéncias da UFRJ. Do Laudo Técnico extraiu-se o seguinte: “No ensaio de difragéo em raios X de amostra colhida de material contaminado do trecho experimental, antes das intervencGes de relastro € assentamento de geossintéticos, constatou-se tanto a presenga de finos de degradaco do lastro, como de particulas do subleito. Por tratar-se de subleito de areia argilosa, a areia, por sua maior representatividade no solo, foi o material predominante na difragdo em raios X”. Conclui-se que, no trecho analisado, 0 bombeamento transportou nao sO particulas finas de argila, como particulas maiores de areia, provavelmente em grande parte proveniente do proprio lastro, indicando que o elevado grau de degradagio do mesmo (fig. 3.3) permitiu que esforgos elevados fossem transmitidos ao subleito e, com a presenca da agua, ocorresse esse bombeamento. 64 3.2.2 Analise dos Resultados Com os dados obtidos da amostragem e. relacionados no quadro |, cujas curvas granulométricas constituem as figuras 3.1 a 3.13. podemos fazer uma sintese dos dados levantados, mostrada a seguir. correspondente a amostragem realizada entre novembro de 1994 e Abril de 1995 AMOSTRA | CONTAMINACAO| Tipo de Inter- | Bolsio de lama | Percentual de (Categoria) vencao existente argila (% ) Furo | Fr= 56,5 néo 5,43 (AC) Furo 2 F,= 58,5 sim 8,68 (Ac) Furo 3 F, = 65,1 sim 7,26 (AC) Furo 4 F, = 53,0 sim 5,80 (AC) Furo 5 Fyp=9,5 bidim (Ago 94) nao 0,55 (ML) Furo 6 F, = 78,1 sim 11,48 (AC) Furo 7 F, = 37,5 bidim (Jan 95) nao 1,77 (C) Furo 8 F,= 15,0 bidim (Set 91) nao 0,97 (MC) Furo 9 F, = 33,8 em obras 2,40 (C) Furo 10 F,= 45,8 sim 5,16 (ac) Furo 11 F, = 13,2 bidim (Ago 86) nao 0,65 (Mc) Furo 12 F,=31 sim 5,67 (Cy Furo 13 F,= 13,1 Propex (88) nao 1,44 (MC) LEGENDAS: AC = ahamente comtaminado ML. moderadamente limpo» MC = moderadamente contaminade i C = contaminado 3.2.3. Conclusées Qs locais onde a intervengao com geossintéticos (bidim e propex), furos 5, 7, 8, Il € 13. foi realizada. apresentaram indices de contaminagao entre ML e MC, descartado o resultado C no local do furo 7 devido a presenga de carvao nas amostras. A camada de carvao ocorreu devido a um antigo acidente com vagées e, posteriormente assentou-se nova camada de lastro sobre a camada de carvao. Verificou-se também, o bom desempenho dos geossintéticos como fungao separadora de camadas. constatada pelos baixos percentuais de argila nas amostras da camada de lastro Os furos 11 e 12 representam, respectivamente. um local sem intervencéo com geotéxtil, e outro, muito proximo, com geotéxtil (Bidim). Considerando 0 nivel acima e abaixo do geotéxtil, constata-se, nitidamente, a separacdo do material muito argiloso existente na camada inferior do material de lastro, evitando a degradacao do lastro (a figura 3.11 mostra que as curvas referentes ao lastro ficam, praticamente, na faixa da granulometria de lastro padrao). Por outro lado, no local sem geotéxtil, ocorreu a contaminagaéo do lastro, e, consequentemente, a degradagdo do mesmo (a figura 3.12 mostra essa degradacao, acentuada na profundidade de 20-40 cm). Podemos considerar, nesse caso, que a solugado com geotéxtil foi muito eficaz, haja visto o prazo de 12 anos ja transcorrido. A comparacdo entre os dois pontos é valida, pois os materiais de solo e lastro sao muito parecidos (Figuras 3.11 € 3.12). E um caso tipico de adequada solugio com geotéxtil, pois, na época da intervengao, o local apresentava bolsao de lama, e o subleito é argiloso. Nas amostras, furos 1, 2, 3, 6 e 12, da categoria AC (1, 2, 3 e 6) e C (12), constatou-se altos percentuais de argila no subleito, A presenca dos “bolsdes de lama” indica provavel necessidade de intervencdo com geossintéticos para solugao destes problemas. 66 No local do furo 4, constatou-se que o principal problema consistia na deficiéncia de drenagem superficial. Notou-se que o leito da ferrovia no local formava uma bacia de aguas superficiais, apés as chuvas. por falta de drenagem Situagdo semelhante a do local do furo 10 onde verificou-se ao longo da pesquisa que trata-se de um local sujeito as enchentes do canal de Manguinhos. No local do furo 9, devido o fato de estarem sendo executadas obras no local, o ensaio da amostra serviu para orientar os trabalhos, informando sobre a contaminacdo do lastro existente. 3.3. TRECHO EXPERIMENTAL 3.3.1. Introdugio Com a finalidade de desenvolver um estudo sobre a contaminagao do lastro e o bolsdo de lama, envolvendo o emprego de geossintéticos. na fun¢do separacao/filtragao e, ainda, de reforco, foi escolhido um trecho de 40 metros de extensdo, que apresentava um bolsdo de lama no seu comprimento total, e de forma que a proximidade dos pontos estudados permitisse as comparagdes entre as solugdes adotadas. envolvendo intervengdes sequenciadas, em cada subtrecho, desde a situacdo encontrada, passando pelo relastro e até o emprego dos geossintéticos. A foto 1, a seguir, mostra o bolsao de lama. na situagdo encontrada antes da execugao do trecho experimental, Como relatado, a escolha deste trecho deu-se apés a vistoria de varios outros trechos possiveis, junto com os engenheiros residentes. Além dos aspectos acima. foi considerada, na decisdo: o interesse da FLUMITRENS, a posi¢ao geografica do trecho, o volume de trafego, os acessos ¢ outras facilidades para a montagem do canteiro de obras. O trecho foi dividido em trés subtrechos de 10 metros cada um, sendo que no primeiro subtrecho foi feita a intervengao com relastro e em seguida com a geocélula, no segundo il, no terceiro subtrecho somente o relastro subtrecho com relastro e em seguida com o geoté: €, no quarto subtrecho permaneceu a situagdo existente para fins de comparagoes. O ponto médio de cada subtrecho passou a ser 0 ponto de amostragem denominados, a partir de entio, PS, P15, P25 e P35, A foto 1 mostra o bolsao de lama 3.3.2. Estudos de Campo e em Laboratorio Com a finalidade de aplicar material de lastro no trecho experimental dentro das especificagdes técnicas, preconizadas pelas normas da ABNT, foram procedidos os seguintes ensaios e analises. 68 3.3.2.1 Analise petrografica do lastro novo A analise petrografica do material destinado ao emprego como lastro ferroviario, aliada aos resultados dos ensaios de caracterizacdo (abraséo e outros), tornou-se um valioso instrumento de previsio do comportamento das particulas de lastro. As propriedades mineralégicas, texturais, estruturais, forma e superficie das particulas, através de seus parametros, obtidos em escala macro ¢ microscopica, poder’o fornecer indicios sobre a possivel degradacao do lastro (por quebra dos préprios graos). SELIG e WATERS (1994) relatam que as analises petrograficas tem contribuido para a predigao do comportamento do lastro, quanto aos efeitos degradantes, entretanto, ressaltam a importancia da experiéncia do gedlogo, fundamental para o sucesso dessas avaliagdes. O material de lastro novo empregado pela FLUMITRENS, na execugao do trecho experimental, objeto de estudo nesta tese de mestrado, foi analisado, num todo, e foram colhidas amostras, para andlise petrografica, cujos resultados, constituem o Apéndice 1. 3.3.2.2 Determinacao da forma do material de Lastro Padrao Este ensaio foi realizado no Laboratorio de Geotecnia da COPPE/UFRJ. Foram colhidos 25 fragmentos do material de lastro da FLUMITRENS destinado ao trecho experimental de Piedade. O ensaio foi realizado de acordo com a NBR 6954 - - Determinagao da forma do material de lastro padriio, obtendo-se as seguintes relacdes: =0,699 (> 0,5) alo © =0,674 (20,5) b As dimensdes a, b ec estdo definidas na NBR 6954, sendo a maior dimensao (a), @ intermediaria (b) e a menor (c). ‘A forma obtida, no ensaio, é a cibica. atendendo a NBR 5564 - Lastro padrao. 69 3.3.2.3 Analises Granulometricas Andlise Granulometrica do Material de Lastro Padrao Este ensaio foi realizado no Laboratorio de Geotecnia da COPPE/UFRJ Foi feita uma amostragem do material de lastro da FLUMITRENS destinado ao trecho experimental de Piedade. atendendo 4 NBR 7181 - Andlise Granulométrica. O resultado esta na Fig, 3.14 a seguir: CURVAS GRANULOMETRICAS +—A PEDREGULEO = Fo m0 100 =a wee woe 11 lll i ae WA UE Fig 3.14 Curva granulométrica - Material de lastro PORCENTAGEM PaSSANDO O material ensaiado atende as especificagdes da NBR 5564 - Lastro padrio. 70 3.3.2.4 Analise Granulométrica dos 3 Subtrechos da Pista Experimental Foi feita uma amostragem do subleito do trecho experimental, nas profundidades de 1,50 m e 3,00 m. Escolheram-se os pontos médios de cada subtrecho (P5, P15 e P25), onde serdo feitas as intervengdes finais, com geocélula, geotéxtil e relastro, respectivamente, a identificacdo desses pontos sera melhor explicitada ainda, no capitulo 3. As Fig. 3.15, 3.16 € 3.17 mostram essas curvas da analise granulométrica. CURVAS GRANULOMETRICAS PORCENTAGEM PASSANDO YOLLEY NADVINIOUOd Fig. 3.15 Curvas granulométricas do subleito do 1° subtrecho da pista experimental 7m GRANULOMETRICAS CURVAS PEDREGULHC | wou | ROS PORCENTACEM RETIDA aR EGS TA ARGILA OGNYSS¥d RADVLNG INO Curvas granulométricas do subleito do 2° subtrecho da pista experimental Fig. 3.16 c CURVAS GRANULOMETRICAS T aR ETA 1 * | sean amo | PRDRECOUHO 10a ] g 3 3 i 3 3 8 i 3 é ¢ g : j . 5 Fig. 3.17 Curvas granulométricas do subleito do 3° subtrecho da pista experimental 3.3.2.5 Ensaio de Desgaste do Material de Lastro Padrao Este ensaio foi realizado no Departamento de Geologia do Instituto de Geociéncias da UFRI. Foi feita uma amostragem do material de lastro da FLUMITRENS destinado ao trecho experimental de Piedade, atendendo a NBR 6465 - Determinacio da abrasio “LOS ANGELES”. Foi considerada a graduagdo do ensaio mais préximo da granulometria do B material de lastro da FLUMITRENS destinado ao trecho experimental (faixa G: com 1.000 rotagdes do tambor € 12 esferas), Convém ressaltar que a gr2nulometria do material atende a granulometria de Lastro Padrao prescrita na NBR 5564. O desgaste verificado foi de 41,2% (> > 40%, desgaste maximo), porém apresentamos mais algumas informacdes a seguir, no intuito de justificar 0 emprego do lastro utilizado. SELIG e WATERS (1994) citam a graduagio do ensaio citada acima como a mais aceitavel para lastro ferroviario. Porém, acreditam que outros ensaios podem complementar o “LOS ANGELES”, como “DEVAL” (INGLATERRA), ou “MILLS” (EUA), que consideram a.acio da 4gua nas amostras, fator este significativo no estudo do lastro € da contaminagao. O “DEVAL” consiste em ensaiar uma amostra de 5 kg. em um cilindro inclinado de 30 graus que gira 10.000 vezes a aproximadamente 30 rpm. O teste pode ser a seco ou com uma quantidade de agua equivalente ao peso da amostra. Anota-se a quantidade de finos de diametro até 2,36 mm, apés o ensaio. O “MILLS” consiste em ensaiar uma amostra de 3 kg, num recipiente com agua e, que gira 10.000 vezes a aproximadamente 30 rpm. O numero de abrasdo (MA) é obtido pela percentagem de material passante na peneira 200. Os autores apresentam uma formula adotada pela “Canadian Pacific Railroad”, que combina os indices do ensaio “Los Angeles Abrasion (LAA)” com o “MILL ABRASION (MA)”, e sugere um numero de abrasio (AN): AN = LAA +5MA SELIG, T. S. e BOUCHER, citadoS por SELIG (1994) apresentaram um estudo comparativo sobre a abrasio do lastro, além de apresentar os procedimentos dos ensaios “DEVAL” e “MILLS”. Concluem que o “AN” seria a melhor caracteriza¢ao dos diversos tipos de rocha, quanto 4 abrasao. 74 O resultado do ensaio, para a amostra ensaiada, apresentou um percentual um pouco acima do maximo recomendado. No entanto, 0 que se percebe da tendéncia internacional é a realizacdo do ensaio “MILLS”, e uma formula composta para um numero de abrasiio “AN”, Outro aspecto relevante é quanto a graduago do ensaio, em condigdes mais rigorosas, nas versdes mais recentes do método de ensaio normatizado (a partir de 1984) no L.A. (1000 revolugdes contra as 500 anteriores da época da especificagdo da ABNT de lastro). 3.3.3 Identificagao dos Subtrechos do Trecho Experimental Como ja mencionado 0 trecho de 40 metros foi subdividido em 4 subtrechos de 10 m, sendo: subtrecho etapas 1° subtrecho: ponto de referéncia PS - sem intervengio ~Telastro - geocélula 2° subtrecho: ponto de referéncia P15 - sem intervengado - relastro - geotéxtil 3° subtrecho: ponto de referéncia P25 - sem intervencado - relastro 4° subtrecho: ponto de referéncia P35 - sem intervengio (a situagao permanece a mesma) 75 Cada subtrecho tem 10m de extensdo, ¢ os seus por:¢s medios foram denominados P5, P15, P25 e P35, cujos numeros correspondem as distancizs. em metros. do inicio do trecho experimental. Em todos os 4 pontos. foram feitas as medidas das deflexdes verticais com cargas estaticas (modulo de via), conforme descrigao detaliada a seguir, nos pontos P5, PIS e P25, foram medidas as deformagées verticais permaneztes. com sensores magnéticos colocados em pontos até a profundidade de 3,00 m, e. =os pontos P5 e P25, medidas as deformacées horizontais permanentes, com sensores magneticos colocados, horizontalmente. numa extensdo de 4 metros, conforme detalhamento a seguir Todos os niveis de referéncia foram tomados a partir da base dos dormentes, e as cargas concentradas sobre o trilho, alinhadas com o centro do dormente. 3.3.4 A Implantagao dos Subtrechos Em cada subtrecho, foi feita uma coleta de amostras, para identificagao granulométrica dos materiais, conforme ja indicado neste capitulo, nas figuras 3.15, 3.16 e 3.17. Foram medidas as deflexdes verticais obtidas atraves da aplicagao de cargas verticais estaticas sobre os trilhos, e medidas as deformagdes permanentes no terreno, tanto verticais como as horizontais, no caso dos geossintéticos, a partir de instrumentagdo executada para este fim, conforme detalhado a seguir. Os niveis de contaminagdo serio avaliados, ao longo do tempo, distinguindo-se as suas origens, e as relagdes com os tipos de intervencdes. A tese ora proposta pretende um estudo nos primeiros meses da impiantacao do trecho experimental. 76 3.3.4.1 Geocélula - 1° Subtrecho: descrigao das etapas, dificuldades encontradas, detalhes de execugao. No primeiro subtrecho de 10 metros, foi feito o relastro com brita nova. Antes, foi retirada toda a camada de lastro antiga e os dormentes para o assentamento da geocélula, tipo GW 8208 da RHODIA/STER. A geocélula utilizada foi a de 0,20 m de altura, medindo 2,40 x 6,00 m cada segao expandida, que foi preenchida com areia seca. Antes da aplicagao da geocélula, o subleito foi devidamente compactado. Também, a areia de preenchimento das geocélulas foram compactadas o melhor possivel, com soquete manual. Como a largura da plataforma era maior (4,70 m), que a seco da geocélula (2,40 m), foram necessdrias duas linhas de geocélulas ao longo do trecho, sendo que as emendas foram feitas com gancho de ago de @10 mm, tudo conforme as recomendagdes do fabricante. A altura de lastro foi de 0,30 m, acima dos 0,20 m da geocélula, estabelecida em projeto pela FLUMITRENS, de forma a nao causar dificuldades nas operagdes de socaria. O tipo de geocélula foi indicado e cedido pelos engenheiros da RHODIA/STER, parceira no experimento. Durante o assentamento da geocélula, foram constatadas as seguintes dificuldades: - A emenda das segSes de geocélula com grampos, no caso do tratamento com geossintéticos em bolsao de lama, foi dificultada pela pouca resisténcia do terreno, durante a cravagdo dos ganchos. Ha de se considerar que foi feita em toda extensio do subtrecho uma escavagao de 0,50 m abaixo do nivel do dormente e neste trecho, o subleito apresentava grande umidade propiciando uma sensivel diminuigao de suporte do solo. A foto 2 ilustra o inicio do preenchimento da geocélula Tomou-se 0 cuidado de preencher, primeiramente, as células onde passavam os tubos da instrumentago (um movimento da segao poderia gerar esforgos indesejaveis, nos tubos, & prejudicar as leituras, posteriormente). 78 1° Sub-trecho: Geocélula A foto 3 ilustra o langamento do lastro so- bre a seco da geocélula preenchida de areia. 1* etapa: relastro Consiste na substituigdo do lastro antigo por lastro novo, dentro das especificagées e, na espessura de 0,30 m da camada. 2" etapa: geocélula (tipo GW 8208 Rhodia/Ster) 0,20 m de altura segdo 2,40 x 6,00 m (plataforma = 4,70 m) preenchida com areia seca emendas com gancho de aco @ 10 mm lastro = 0,30 m escavagao = 0,50 m 79 A foto 4 ilustra a reco- locago dos dormentes, um a um, sob 0s trilhos, apés o langamento da camada de lastro, no subtrecho com geo- célula. Mostra o final da seco da geocélula. 3.3.4.2.Geotéxtil - 22 Subtrecho: descrigiio das etapas, dificuldades encontradas e detalhes de execugado No segundo subtrecho de 10 metros foi feito o relastro, com brita nova e, posterior- mente, assentado o geotéxtil tipo Bidim OP 30, OAS entre 0,12 0,17 mm e gramatura de 300 @/q?. Antes da aplicag&io do geotéxtil, o subleito foi devidamente compactado. Foi feita a ancoragem lateral, pelo dobramento das pontas em volta de uma leira de brita continua. O tipo de geotéxtil utilizado (OP 30) seguiu as indicagdes fornecidas pelos engenheiros da FLUMITRENS, devido aos bons resultados obtidos naquela Empresa e as constatagdes, descritas no capitulo 3 desta tese, de casos anteriores de emprego de geotéxteis. Cuidados especiais foram tomados no langamento do lastro, para evitar danos ao bidim. As caracteristicas do proprio lastro, porém, impedem um nivelamento perfeito da superficie do geotéxtil 80 A foto 5 ilustra a colocagao do bidim no 2° subtrecho. 3.3.4.3 Relastro - 3° Subtrecho No 32 subtrecho de 10 metros foi feito o relastro, com brita nova na espessura de 30 cm A inteng&o era a observagio de um subtrecho apenas com a substituigio de uma camada de lastro contaminada e fora das especificagdes, por outra com lastro novo que, melhor serviria de comparagao aos subtrechos, onde seriam utilizados os geossintéticos, haja visto que suas camadas de lastro seriam idénticas. 3.3.4.4 Sem intervengao - 42 Subtrecho No 42% subtrecho de 10 metros, foi mantida inalterada a situagao pré-existente. Obteriamos 0 “médulo de via” na situago de lastro altamente contaminado e ver-se-ia a evolugao dos defeitos, ja bastante graves 4 época da implantagao do trecho experimental 81 3.3.5 Instrumentagdo Para a leitura das deformagdes permanentes foram instaladas “aranhas magnéticas”, conforme o desenho da pag. 84 ¢ o croqui da pag. 85. As “aranhas magnéticas” sio inseridas em um tubo de PVC de 100 mm e, quando atinge a profundidade desejada, o tubo é retirado e a aranha fixa-se no terreno devido a elasticidade de suas hastes. Quando a escavag4o permite, os imas, presos em chapas de aluminio, so colocados na posigaio desejada apés o nivelamento do terreno. A foto 6 ilustra a instalagdo de uma “aranha magnética”, que sera langada numa cota pré- estabelecida, e ficara cravada no terreno, acompanhando o movimento vertical do solo. Um sensor, atravessando 0 tubo de 32 mm (visto na foto), ao passar pelo ima da “aranha magnética” ou pelo ima preso na placa de aluminio, acionara um dispositivo de som externo; um operador registrar a profundidade A foto 7 ilustra a colocagao da placa de aluminio com ima. 83 A foto 8 ilustra o dispositivo utilizado para a medigdo dos deslocamentos verticais causados pela aplicagao de carga estatica vertical. Na aplicagiio de carga estatica vertical, foram utilizados - | vagao prancha de contra-carga, carregado com trilhos; - 1 macaco hidraulico de 200 kN; - 1 célula de carga de 200 KN, marca KYOWA, - | indicador de deformagdes VISHAY P350A, constante 0,0049 t/ 1 «10°; - 2 extensdmetros 10° m, - bench mark 3,50 m; - | cantoneira de aluminio 2 / x 2 % x 3 mm e 1,20 m de comprimento. O croqui a seguir mostra a situagdo do trecho experimental e as etapas da obra, a locagao da instrumentagio vertical e horizontal. Segue um esquema, Fig. 3.18, com a segao transversal mostrando o posicionamento das aranhas e placas magnéticas. croaui DA SITUACAO DO TRECHO EXPERIMENTAL E ETAPAS DA OBRA TT ESTACAO SECCIONADORA DE PIEDADE {Rua Elias da Silva, 139- Piedods) ESTAGAO DOM PEDRO II (Sem escala) ESTAGAO CASCADURA 1? subtrecho 2° suptrecho: 3° subtrecho: 4° subtrecho 10m poe fom lomo. 10m _ 3 | a5 i i is | raino> z z| : é ae |e | | 2 5 = = A 3 2 fms By TOTS BF ig 5 é z 3 ole |2 | 3 ais FE 2 2 ! $ PS mrezouer | P PIS — prexomerRo P25 pezdmerRo P35 piczduerRo | @ oO [truwo~, @ O @ oO NCHMARK | geNCHMARK BENCHMARK BENCHMARK 8 8 8 SiTUAGAO. ATIVIOADE siruacao ATIVIOADE AIVIDADE < e tome | _t a [wente ae tome | 1 a v a 2 (astro 12 4 Teiastea 2 2 1 2 ” 4 geotéx: 12 3 4 ‘gam intervengao joe 4 1 4 LEGENDAS @ PS, PIS, P25 @ P35 - pontos mé: PO - ponte inicial (reteréncia} ca_—_imas da instrumentagde horizontal © benchmark O piezémetro § dos subtrechos CODIGO DAS ATIVIDADES: 1 feitura de defiexdes verticais, apés aplicagdo de carga estdtica 2 ura de recolques - deformagéo permanente 3 teitura de destocam. horizontais - deformagao permanente 4 Ieitura do nivel d'dagua ts TRECHO EXPERIMENTAL tubo PVC 32mm, 30cm places, 30 em mognéticas 60 em 60 cm aronhgs. magneticos 60 cm ——ancoragem Fig. 3.18 Esquema do posicionamento das “aranhas magnéticas" e das "placas magnéticas”, no furo vertical. 86 3.3.5.1 Medicao das deflexdes para obtengdo do Modulo de Via 3.3.5.1.1 Deflexdes medidas no 1° subtrecho © quadro a seguir, relaciona as cargas verticais aplicacas ¢1* coluna) e os desloca- mentos ou deflexdes medidas nas etapas: bolsio de lama (04/10 95), relastro (30/11/95), e na etapa com a geocélula, sendo a primeira (09/12/95) logo apés a execucao da pista, ¢ outras duas leituras subsequentes (28/01/96 e 04/02/96). DEFLEXOES VERTICAIS NO 1° SUBTRECHO (x 10 * m) ‘Geliexbes_| deflexdes_| deflexdes afexdes, BO/11/95 "0912/95 | 26/01/96 7402/96 (© quadro acima contém na 1 cotuna o valor das cargas aplicadas e “2s colunas sequintes as correspondentes defiexdes anotadas, no 1° subtrecho. rae O grafico a seguir, mostra 0 desenvolvimento das curvas carga vertical x deflexdes. CARGA VERTICAL (kN) x DEFLEXAO (x 10 * m) P5-GEOCELULA > 20 40. «60 80 100 120 140 160 180 200 CARGAS (KN) -® 4Qut:sem intery ~S- 30 Nov:relastro -3— 9 Dez:geocélula ~> 28 Jan:geocélula — 4 Fev:geocélula 87 88 3,3.5.1.2 - Deflexdes medidas no 2° subtrecho O quadro relaciona as cargas verticais (1* coluna) e as deflexdes nas etapas: bolsdo de lama (04/10/95); relastro (30/11/95); e na etapa com o geotéxtil, sendo a primeira (09/12/95) logo apés a execugao da pista, e outras duas leituras subsequentes (28/01/96) e 04/02/96), DEFLEXOES VERTICAIS NO 2° SUBTRECHO (x 10 * m) deflexdes | 04/70/95 [30/11/95 09/12/95 28/01/96 a al 20,95 374 44,89] 19,44 60,28 25 81,99] 26,36 100) 29,6 32,28: 103,69) 154,15) 174,15) [RAST em [NAST Som | NAST 20m | NACOBEm © quadro acima contém na 1* coluna o valor das cargas aplicadas e nas colunas seguintes as correspondentes defiexes anotadas, no 2° subtrecho. eae O grafico a seguir, mostra o desenvolvimento das curvas carga vertical x deflexdes CARGA VERTICAL (KN) x DEFLEXAO (x 10 * m) P1S-GEOTEXTIL 0 20 40 60 80 100 120140 160 180 CARGAS (kN) -e 4Out:semintery ~~~ 30 Novirelastro * 9 Dez:geotextil “<- 28 Jan:geotextii —* 4 Fev:geotextil 39 3.3.5.1.3 Deflexdes medidas no 3° Subtrecho O quadro a seguir, relaciona as cargas verticais aplicecas (1* coluna) e as deflexdes medidas nas etapas: bolsdo de lama (04/10/95) e relastro (09/12 25, 28/01/96 e 04/02/96). DEFLEXOES VERTICAIS NO 3° SUBTRECHO (x 10 * m) Lamon | acam | Faorn | (© quadro acima contém na I" coluna o valor das 2-235 aplicadas ¢ nas colunas seguintes as correspondentes deflexdes anotadz:. no 3° subtrecho. rosa O Grafico a seguir, mostra 0 desenvolvimento das curvas carga vertical x deflexdes CARGA VERTICAL (kN) x DEFLEXAO (x 10° m) P25-RELASTRO 30. 100 «+120. «140 +«160:~=—«180 CARGAS (kN) —*- 4 Qut :sem interv. —* 9 Dez:relastro -o- 28 Jan:relastro ~~ 4 Fevirelastro OL 92 3.3.5.1.4 Deflexdes medidas no 4° Subtrecho O quadro a seguir, relaciona as cargas verticais aplicadas (1° coluna) e as deflexdes medidas (26/10/95, 09/12/95, 28/01/96 e 04/02/96). DEFLEXOES VERTICAIS NO 4° SUBTRECHO (x 10 * m) Tae aT © quadro acima contém na 1* coluna o valor das cargas aplicadas e nas colunas seguintes as correspondentes deflexdes anotadas. no 3° subtrecho. PaaS O grafico a seguir, mostra 0 desenvolvimento das curvas carga vertical x deflexdes CARGA VERTICAL (KN) x DEFLEXAO (x 10 * m) P35-SEM INTERVENCAQ 0 2 4 60 8 100 120 140 160 180 CARGAS (kN) -# 26 Qut :sem interv. —*- 9 Dez :sem interv. ~¢- 28 Jan: sem interv. —— 4 Fev: sem interv. 93 4 3.3.5.2 As deformagdes permanentes Nos quadros a seguir, sdéo apresentados os resultados das deformagGes permanentes verticais, no 1*, 2° e 3° subtrechos, e as deformagdes permanentes horizontais, no 1° ¢ 2° subtrechos, medidas através do sensor magnético (projetado no laboratorio da COPPE) e uma régua graduada, nos pontos PS, P15, P25 e P35. com os resultados dos recalques acumulados: Quadro - leituras verticais (m) DATA 01/12/95) 06/12/95) 31/01/96) recalque acumulado(mm) DATA placa 2 P15 01/12/95} -0,797| GEOTEXTIL 06/12/95) -0,805} 31/01/96 tecalque acumulado(mm) Placa 1 | placa 2 | aranha 1 P25 -0,493) -0,764 -1,415) 1,885) -2,572| RELASTRO 06/12/95| -0,493] -0,764 -1,415] -1,885} 31/01/96] -0,498] -0,767; 1,415) -1,889| Deformagées permanentes verticais no trecho experimental 56 yeiuautuadxe oysan ou srejuozoY soyaueutsed sagdeuLojaqy quod ou oj08 op ojuswieoo|sap oe epuodse1io0 seamwel senp eujue edual9yID ep oBSELEA Y FeOSA ep oBUO} OF EU WN B apUodseNICD BiMyja} ePED eyo end eve ep ogs seme oqiewepmove ‘enteBau us 2s0'0 [2€0'0- ee0'0- [zb0'O. (w) sowawesoised 12Z'0 6s9'0 209°0 ers‘o [co0'o beZ0 logs" zer'e sec _loe/torve r99'0 968°0 Ise9'0 bos'0 (060'0 99'0 09st : S6h% lgeo'% |S6/Z1/90 wipia peunye; | esueleyip| zene; | eSuelayip| eeimiay [eduaayp | pesnyey edueiayip| seme, | viva Sid oro O00 PO0'O- 600'0 (ui) sojueweso}seq 190 gig°0 Z0$°0 z09'0 (000'0 Ppi9'0 ebb 6e9"t lye%__[96/L0/LE p09'0 2zg'0 Lis'0 e6s'0 000°0 lpo9'0 Seb Zest oez'z |s6/21/90 gemoe6 eimal | edueseyp| zeumie; [edualayp| eine; [edualayp| peinie; [eSueseyp| seme, | Viva SIeUOZIIOY SOIAWEdO[Sap SOP SOPEINSA! SO WOd ‘(U) So}HaUTBOO [SEP 8 sivjUOZLIOY SBINIIA| - O1PENS 3.3.6 Anialise dos Resultados das Medigdes 96 Com base nas medigdes das deflexdes verticais, devido 4 aplicagao de cargas verticais estaticas no trilho, constantes nos quadros dos itens 3.3.5.1.1, 3.3.5.1.2, 3.3.5.1.3, 3.3.5.1.4, representadas, também, nos respectivos graficos, foi utilizada a formula (13) do capitulo 2, na obtengio do médulo da via (u), este sobejamente utilizado na engenharia ferroviaria, 0 que pode servir de parametro de comparagao em diversas situagdes. O grafico a seguir mostra a evolugao dos valores do médulo de via u em fungao do carregamento: Valores de u(kN/nym) x carga (KN) 10000 u (kNimim) 8000 6000 4000 2000 0 eg 100 120 160 180 cargas (kN) —o— P5 P15 —&— P25 —e- P35 200 A tabela a seguir mostra a comparago dos médulos de via, em cada subtrecho, para um mesmo carregamento de 100 KN: Médulo de via u (KN / mim) Medicao | P5 PIS P25 P35 1° subtrecho 2° subtrecho 3° subtrecho 4° subtrecho Dez 95 6081 1235 1118 1020 (geocélula) (geotéxtil) (relastro) (sem intervengao) Jan 96 6519 1460 1581 1361 (geocélula) (geotéxtil) (relastro) (sem intervengao) Fev 96 4706 1118 1374 588 (geocélula) (geotéxtil) (relastro) (sem intervengao) 7 Calculou-se também, os médulos de via u, onde as deflexdes atingiram 0,01m para efeito de comparac3o com os valores do médulo u, de referéncia, citados, na bibliografia pesquisada, com os valores: PS=7582 kN/m/m; P15=658 KN/m/m e P25=867 kN/m/m. Os resultados disponiveis, apds decorridos 2 meses da execugéo do trecho experimental, mostram um aumento significativo no modulo u do 1° subtrecho, onde foi aplicada a geocélula, com o geossintético atuando aparentemente como reforgo da camada. No 2° e 3° subtrechos, onde as ultimas intervengdes foram o relastro e o geotéxtil (Bidim), respectivamente, houveram acréscimos semelhantes no médulo de via u, o que, a principio, indica que o geotéxtil nfo est4 dsempenhando, neste caso, a fungao de reforgo, justificavel pela acentuada irregularidade da interface com 0 lastro (o geotéxtil, naturaimente, acompanhou o contorno da superficie do lastro), Entretanto, hé uma expectativa favoravel quanto ao seu desempenho, na fungao separagdo/filtragio, com base nos bons resultados obtidos pelas intervengSes semelhantes anteriores com o geotéxtil bidim OP-30, adotadas pela FLUMITRENS e relatadas neste capitulo. Apesar do valor absoluto dos médulos de via apresentados terem ficado aquém do valor de 16000 kN/m/m (citado por STOPATTO, para fins de projeto), devemos considerar as condigées do subleito encontrado (fraco), o afofamento do lastro, nas operagées de alinhamento/nivelamento e socaria, as interferéncias das tubulagdes de plastico da instrumenta¢ao. Quanto 4 deformagao permanente, no 1° subtrecho (geocélula), devido ao reforgo da camada, apresentou recalque maximo de 4x10? m (1* placa, 0,30 m de profundidade) e de 1x107 m (2* placa, 0,60 m de profundidade). Isto demonstra que a maior parte da deformacao permanente acontece no lastro novo, nos primeiros momentos da colocagao. Com relagdo aos deslocamentos horizontais, mediu-se, na geocélula, um deslocamento maximo, de 0,9x10° m, 98 ou seja, 1,5 % do comprimento considerado (distancia entre os medidores). No geotéxtil, mediu-se um deslocamento maximo de 0,057 m, porém, cabe aqui, a mesma observacao, quanto a adaptagio do geotéxtil ao contorno da superficie irregular do lastro, traduzindo esse deslocamento mais como um deslocamento inicial da camada de lastro, e nao, representando necessariamente o alongamento do proprio geotéxtil. © trecho com relastro e sem aplicago com geossintético, a principio, apresentou resultados semelhantes ao trecho com geotéxtil , quanto ao médulo de via. O contato direto do lastro com o subleito propiciara a migragao de finos do subleito para o lastro e, surgira o processo de contaminagao. O ensaio de granulometria mostrado na fig. 3.2.3, feito 4 meses apds a implantagao do trecho experimental, onde foram colhidas 2 amostras do 1°, 2° e 3° subtrechos (denominados de Amostra 1 e Amostra 2, em cada subtrecho) e comparadas com o lastro padrao. Observou- se que nos locais com aplicagéo de geossintéticos, o material de lastro permaneceu dentro das especificagées para lastro. E, no trecho de relastro, ocorreu alguma deterioragao, o que também esté de acordo com as observagdes da Selig e Watters (1994) como comentado na revisio, que mostrou que em grande parte a contaminagao provém da quebra do préprio lastro (crescimento da fragao pedregulho fino e areia grossa). ‘Uma segunda coleta de amostras dos varios subtrechos foi feita pela equipa da COPPE que continua junto 4 FLUMITRENS desenvolvendo outros trabalhos de pesquisa, que fario parte de duas teses de doutorado. Estes dados estao mostrados na fig. 3.2.4. PORCENTAGEM PASSANDO CURVAS GRANULOMETRICAS ARGILA| — SILTE wa EIA Tema) PEDREGULHO- =a S58 oven 0 4 mm mit T 1 1 3 | q 1 ! f | 4 1 f t 1 i ' ' ‘ H 1 1 ' ' i 1 1 Hl T t Hct eae: 0.01 on ‘ 0 DIAMETRO DAS PARTICULAS (rm) PORCENTAGEM RETIDA Fig, 3.2.3 - Resultados de granulometria (margo de 96) 99 - O ensaio de granulometria mostrado na Fig. 3.2.4, feito 2 anos apés a implantacao do trecho experimental, também mostra que, nos subtrechos onde aplicou-se 0 geossintético, o lastro ainda permanece dentro das especificagdes (P5 ¢ P15) €, no subtrecho onde ocorreu a intervengo com o relastro, a curva ja se afasta sensivelmente da faixa prescrita na NBR 5564 Lastro padrao. CURVAS GRANULOMETRICAS ARGIA SITE [-—~sa SEAS Tamm PEDREGULHO | = areas ee 7 ; ‘0 - oe : oe ay | 90 ‘Legenda | 4. ili + 4 10 ees 100. THE | i wo {| Se ets000.00m || |/{|f! » —S rwcaroa [fff 70 sa P25 000-9200 - me | -S pxato-cnn | : i wt] = i oe | | PORCENTAGEM RETIDA ri 2.001 001 os 1 0 100 DIAMETRO DAS PARTIGULAS (mm) PORCENTAGEM PASSANDO t Fig. 324 - Curvas granulométricas de amostras de trechos experimentais, apos 24 meses. Do “Relatério de atualizagao tecnolégica para manutengao da via permanente”, de outubro de 1997, elaborado pelo Laboratorio de Solos da COPPE/UFRJ verificou-se que 0 lastro no P15 (geotéxtil) permaneceu na faixa granulométrica prevista na EB 655. No relatorio apurou-se no subtrecho com geotéxtil, indices de contaminacdo, FI = 2 (profundidade de 0 a 0,20 m) e FI = 4 (profundidade de 0,20 a 0,40 m), classificando-o na categoria “Moderada- 101 mente Limpo”. Também, no mesmo relatorio, apurou-se no subtrecho onde foi feito o relastro, indices de contaminacgao, superiores, FI = 9 (profundidade de 0 a 0,20 m) e FI = 24 (profundidade de 0,20 a 0,40 m), este ultimo indice ja na categoria “contaminado”. Essas informacées ratificam a espectativa quanto a fungdo do geotéxtil (separagao/filtragao). Os ensaios para a obtengo do médulo de via realizados pela COPPE/UFRJ, nos pontos PS, P15, P25 e P35, constantes do “Relatorio de atualizagdo tecnologica para a manutengfio da via permanente” - 2° Relatério, Etapa 2 (de 6 de dezembro de 97 4 6 de fevereiro de 98), mostram os seguintes valores, obtidos dos graficos referentes ao 2 carregamento e o trilho direito, para uma carga vertical de 100 kN: P5=11520 KN /n/m, P15=8500 kN/m/m; P25=3030 kKN/m/m e P35=4430 kN/m/m. Nesse trabalho, foi utilizada uma metodologia que difere da adotada nesta tese, devido a utilizagdo de uma viga transversal biapoiada nos dois trilhos, com aplicagio de uma carga concentrada no centro desta viga. Porém, analisando os resultados do modulo de via, ha indicagdes de um bom desempenho do subtrecho onde foi aplicada a geocélula. O subtrecho do geotéxtil obteve resultado melhor que 0 do subtrecho do relastro, o que nos indicou a importancia do geossintético como solugéo para o problema do “bolsao de lama”. O subtrecho do relastro, neste ensaio, apresentou valor de modulo de via, até mesmo, inferior ao subtrecho sem intervengao. 102 CAPITULO 4 CONCLUSAO E SUGESTOES PARA FUTURAS PESQUISAS As linhas da FLUMITRENS tiveram a sua construgao iniciada na metade do século passado, 0 projeto com as suas necessidades, atendia aos dados empiricos disponiveis naquela época. Atualmente, com a evolugao do trafego e o aumento das exigéncias tém causado alguns problemas na manutencao da via, como é 0 caso da contaminacdo por finos da camada de lastro. Como consequéncia dessa contaminagdo, ocorre uma aceleragio no processo de deterioragao da camada de lastro (a presenga da agua e de finos aumentam a abrasdo) e uma transferéncia de esforgos maiores para o subleito, e em razdo disso, como numa Ultima fase da contaminagao surge o bolsdo de lama, comprometendo seriamente a geometria e o alinhamento da linha férrea, o que implica em restrigdes ao trafego. Devemos considerar ainda, que esses movimentos verticais e laterais devido a perda da geometria incrementam as solicitagdes dinamicas, agravando a situacao. ” Para corrigir a geometria € feita a socaria, porém, esta operacao revolve a camada de lastro, 0 que propiciara novos recalques, com novos danos ao lastro (aumentando a presenga de finos), exigindo mais socaria, estabelecendo um "ciclo de manuteng’o" mais curto a cada etapa. O indice de contaminagao, proposto por SELIG, sugere a limpeza do lastro a partir de F; = 20, e absolutamente necessaria a partir de F; = 40, Pela simplicidade e facilidade de levan- tamento desse indice, pode-se estabelecer com ele as prioridades de manutengao no lastro nos ramais ferroviarios. Genericamente, quanto a socaria, a tendéncia é que os valores de levante devem ser limitados de 0,04 a 0,06 m por ciclo individual, nado excedendo a 0,02 m na passada final, minimizando 0 efeito do afofamento da camada. A acomodacao uniforme e controlada da via, apos a socaria, é obtida pela compactagiio com estabilizador dindmico da via. 103 Enesta dissertago pode-se constatar pela instrumentagdo realizada um recalque de 3x10-3 m em dois meses apés a intervengao diretamente localizado no relastro (P25). Isto demonstra a reacomodagao apés a socaria. ‘Nas amostragens de trechos antigos constatou-se a auséncia da camada de sublastro, que poderia estar desempenhando a fungio de prevenir a migragao de finos para o lastro, atuando como camada separadora. O geotéxtil vém preenchendo esta lacuna, quando utilizado no tratamento do bolsao de fama, mas a sua viabilidade econémica reside na solugdo pontual, nos locais com intervengdes mais extensas, devera ser estudada a colocag3o do sublastro. © trecho experimental, no prazo de 2 anos, revelou um bom desempenho dos geossintéticos, o geotéxtil (no caso, o Bidim) como separador de camadas ¢ a geocélula (no caso, o Geoweb) como elemento de reforgo de camada. A medigdo do nivel de agua, no trecho experimental, constatou o bom funcionamento dos dispositivos de drenagem subterranea, com pequenas variagdes durante as medigées do trecho experimental. Como SUGESTOES PARA FUTURAS PESQUISAS, citamos: 1. A continuidade das observagdes no trecho experimental de Piedade, com acompa- nhamento dos niveis de contaminago e das deformagdes verticais e horizontais, a andlise do desempenho dos geossintéticos. 2. A simulagao em laboratorio das condigdes de campo, em escala real, através de uma caixa de ensaios ("Box Test"), para avaliar o comportamento do lastro, geossintéticos, recalques de dormentes, solos de subleito, etc... 0 que poderia fornecer respostas mais rapidas, em fungdo do ciclo de carregamento, em relacao aquelas obtidas com 0 acompanha- mento no campo. 3. Implantagao do ensaio "mills" no laboratorio da COPPE/UFRI e, consequente utili- zagiio da Numero de Abrasdo para caracterizacao de lastro ferroviario, visando, inclusive uma futura normatizagao junto 4 ABNT. 105 APENDICE 1 Descri¢ao Petrografica Macroscépica e Microscépica das Rochas Usadas no Lastro Este estudo foi realizado no Departamento de Geologia do Instituto-de Geociéncias da UFRJ, sob a coordenagdo do geologo JOEL GOMES VALENCA. O exame macroscopico do material rochoso, que constitui o lastro, investigado na pre- sente pesquisa, revela que, em termos percentuais de volume, ele é formado de, aproximada- mente, 70% de biotita gnaisse de granulagao fina 4 média (Tipo I), 5% de biotita gnaisse de granulacdo fina (Tipo II) e 25% de pegmatito (ou granito), Sob o microscOpio petrografico, polarizante, as caracteristicas mineralogicas e texturais de maior relevancia para 0 presente estudo acham-se, abaixo, sucintamente, descritas, para cada um dos tipos de rocha supracitados. GNAISSE TIPO I (AMOSTRA N° 1) Trata-se de uma rocha metamodrfica, incipientemente alterada e, modalmente (em porcentagens de volume), constituida de 42,2% de feldspato plagioclasio, 31,6% de quartzo, 12,9% de mica biotita, 12,7% de alcalifeldspato potassico (microclina), 0.4% de mica sericita (produto de alteragao de feldspatos) e 0,2% de apatita. Em termos de granulometria, volume- tricamente, contém, aproximadamente, 60% de grdos finos (didmetros entre 0,05 e 1,00 mm), 37% de graos médios (diametros entre 1 e 2 mm) e 3% de graios grossos (didmetro entre 2 e 3 106 mm). Em marcado contraste com os restantes dos tipos de rocha que compéem o lastro examinado, o gnaisse Tipo I apresenta forte orientagfio dos gros constituintes, 0 que imprime Arocha uma feig&o grosseiramente planar dos mesmos. Nao obstante, todos os trés tipos de rocha estudados tém, em comum, um mesmo tipo predominante de articulagéo mutua entre graos (tipo de contato entre os grdos), no caso denominado de lobado. GNAISSE TIPO Il (AMOSTRA N 2) E, também, uma rocha metamorfica, porém, praticamente, sem minerais de alteracdo. Em termos de mineralogia, qualitativa e quantitativa, mostra diferengas, quando comparada ao tipo de gnaisse anterior, pois, respectivamente, n&o contém alcalifeldspato potassico, e é formada de cerca de 56,6% de feldspato plagioclasio, 21,1% de mica biotita, 17,0% de quartzo, 4,1% de anfibélio (hornblenda), 0,8% de titanita e 0,4% de zircdo. Além disso, das trés variedades de rochas estudadas, este gnaisse representa o tipo de rocha de granulagio mais fina, sendo formada, aproximadamente, de 90% de graos finos, e o restante de grios médios. Embora esteja presente, na rocha, uma orientagdo de minerais, esta é fraca, nio chegando a definir uma fei¢ao planar, ou seja, a orientagao é do tipo linear. 107 PEGMATITO (OU GRANITO) (AMOSTRA N’ 3) Para fins praticos, adequados aos propdsitos da presente tese, esta variedade de rocha pode ser tratada como um pegmatito ou granito, ou seja, como uma rocha ignea. Contém um total de cerca de 1,7% de minerais de alteragdo, distribuidos entre mica sericita (1,3%) e carbonato (0,4%). Quantitativamente, neste contexto, pode ser considerada como uma rocha incipientemente alterada. Nesta rocha, os minerais constituintes principais, e suas respectivas abundncias, sio os seguintes: quartzo (37,9%), feldspato plagioclasio (34,2%) e alcali- feldspato potassico (microclina) (25,8%). Biotita, embora presente, 6 rara. Granulometri- camente, a rocha contém cerca de 60% de graos grossos, 35% médios e 5% finos. Embora quase destituida de minerais micaceos, observa--se, na amostra em quest&o, uma orientagao pouco perceptivel, dada, grosseiramente, pelas maiores dimensdes dos graos de feldspatos e quartzo. 108 ‘Amostra 3-Pegmatito (Granito) Conclusio sobre a Analise Petrografica O estudo realizado revelou, sob o ponto da anilise petrografica, que apenas o material da amostra II apresenta percentual elevado de mica (21,1%), indicando a possibilidade de uma degradagdo mais acelerada do lastro. Os demais parametros mineralogicos, texturais, estruturais, forma e superficie avaliados nao apresentavam outras indicagdes que possam comprometer as caracteristicas e 0 comportamento esperados para o lastro ferroviario. A presenga do gedlogo experiente no campo definiu as estimativas em percentuais dos tipos de rochas e suas caracteristicas, do material de lastro destinado ao trecho experimental, objeto de estudo nesta tese de mestrado. 109 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS * BRINA, H.L. (1983). “Estradas de ferro - via permanente” - Ed. Livros Técnicos ¢ Cientificos, vol. 1. * HAY, W.W. (1982). “Railroad engineering” - Ed. John Wiley & Sons Inc., 2* ed. * MEDINA, J. (1988), “Fundamentos da mecdnica dos pavimentos” - Tese de Professor Titular COPPE/UFR3 - Rio de Janeiro. * PALMEIRA, E.M. (1981). “Utilizagdo de geotéxteis como reforgo de aterros sobre solos motes” - Tese de M.Sc., COPPE/UFRJ. *® RIVES, F.O. e outros (1977). “Tratado de ferrocarriles” - Ed. Rueda, vol. 1. * SANTOS, P.S. (1982). “Tecnologia de argila” - Vol. 1, Fundamentos. * SELIG, E.T. & WATERS, J. M. (1994). “Track geotechnology and substructure management” - Ed. Thomas Telford. * SILVA, P.E.D. & MOTTA, L. M.G. (1995). “Emprego do programa FEPAVE 2 para estudos e projetos de pavimentos flexiveis” - 29 RAP - ABPv. Cuiaba. * SPADA, J.L.G. (1991). “Ensaios de filtragdo em solos com geotéxteis” - Tese de M. Sc., COPPE/UFRI. * STOPATTO, S. 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Relatério Final da etapa 1 (Out 97) - COPPETEC NORMAS TECNICAS NBR 5564 - Lastro Padrao NBR 7964 - Plataforma Ferroviaria NBR 6954 - Determinacao da forma do material de Lastro Padrio NBR 7181 - Analise granulométrica de solos NBR 6459 - Determinag&o do limite de liquidez NBR 6465 - Determinagiio de Abrasao “Los Angeles” NBR 7180 - Determinacao do limite de plasticidade

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