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Copyright © by Hilrio France Jinior ‘Nenhuma parte desta publicagdo pode sr gravada, armazenada em sistemas eletrnicos,fotocopiad 2+ odio revista eampliad, 2001 7 reimpressdo, 2010 Coordenacio editorial: Morse Eeger-Moellwald CCoordeneso de produsio: Célia Rogalski Preparapio: Felice Morabito Revisio: Marinete Pereira da Siva ¢ Beat de Freitas Moreira Projeto grifico e editoragio: Produtores Assocladas (Capa Mauricio Negro e Danilo Henrique editors elivraiabrasiiense Rua Mourato Coelho, 11 ~ Piheltos ‘CEP 05417010 ~ Sao Paulo~ SP ‘wok elitorabrsiliense.com.be sar -022 “0 (eu)somcethe ae manta Taacke Mivclin” Trop foie Wishes Mecbonnt Tie -Nobame Prefécio ‘Quando langamos a primeira edigio ao interesse que comesava a haver no Bri que com muitas décadas de atraso em relagio a Europa e algumas décadas em telagio aos Estados Unidos, a Argentina e mesmo 2o Jupto. Aquele novo interesse decorria da crescente compreensio da importincia que teve o periodo medieval na Formasio de eivilizagao ocidental, da qual nosso pais faz parte. Assim, revelava-se estimulante, ainda que problemitico, elaborar uma obra adequada & nossa realida- de académica, sem tradigio medievalistica e distanciada dos grandes centros historiogréficos especislizados naquela época. iitado de paginas (devoreés de nosso mercado editorial) tratar de assunto tio rico ¢ complexo? te, no ce poderia dar por conhecidos todos os fatos importantes (0 desconsiderar a situagio em que o aluno chega & universidade), centrando-se apenas na sua andlise. Mas tampouco se deveria fiver uma mera descrigao dos principais eventos da Idade Médi, o que fogiia Aquilo que nos parece a razio de ser da Histéria: a compreensio do passado para se langar luz sobre a compreen= sio do presente. Vencidas as hesitagbes, definido o espitito do livro, partimos para sua elaboragao, Hoje o relangamos, revisto e ampliado, gragas a uma dupla constatagdo, De tum lado, interesse dos brasleiros pela Idade Média nfo foi um mero modismo, [esses iltimos anos ele consolidou-se, atraiu um piblico fiel aos cursos € pales tas sobre 0 tema, permitiu a tradusdo de diversas obras importantes sobre 0 sssunto, gerou mesmo uma certa produsio nacional no setor. De outro lado, vvirios anos e viras edigbes depois, parece-nos que a férmula adotada por este Livro mereceu o interesse dos colegas ¢ dos estudantes, Por essa razio, la foi mantida nesta nova edigfo, na qual realizamos pequenas correcbes e muitos acréscimos, inclusive de todo um capitulo. livro, em 1986, foi como resposta a historia da Téade Média, sinda aExhci0 Aintengfo do vo continua, portanto, a sera da busca de equilbrio entre as informagdes e suas interpretasées. Claro que a escolha tanto de umas quanto de outras send sempre discutivel. Mas ela nio seguiu apenss preferéncias pessoais do autor o citétiabésico fo! acompanhar — aos limites de um pequeno manual — as tendéncias eas conguistas mais recentes da historografa espevaligada, Nao der amos, poréa, de apontar algumas questbes polemicas ou topicos a serem ainda explorados pelo medievalstas. Tas indicases,apesar de spidas, eam como su- gestBes para eventuais pesquisas futuras por parte do leitor A concepgio do live nio segue » extrtura tradicional, cronolégic,e sim temético-cronolégica. Isto é, cada grande tema (economia, politica, cultura etc.) corresponde a um capftulo, dentro do qual o assunto é deserwolvido eronologica- smente. Contudo, é natural, todo capitulo faz referencias freqentes a aesuatorta- tados em outras partes. Desta forma, a relativa autonomia de cada capstulo nfo prejudica o fundamental, o sentido da globalidade. Na verdade, qualquer que fosse ® arquitetura adotada por este trabalho, cla implicaria um fracionamento do objeto de estudo, o que ¢ um recurso inevitivel de anise. Para que se perca menos & totalidade histrica medieval, érecomendivelletura completa do lio, mesmo quando o interesse imediato for por um assunto especifico. Somente de posse de todos os fatos e andlises ¢ que se poders ver melhor as articulagdes profundss as linhas evoltivas bsicas da Tdade Me, Buscando aliviar texto de definigdes que paresam ser redundantes a muitos Jeitores, mas sem esquecer que elas podem ser imprescindivels a muitos outton gaye ort lar tais palavras {nia sua p: aparigo dentro de um item) oii ith dstristl Bete eretid AAice 1 cblocado no fim do vo, um glos= sitio que também pode scr usado independentemente do texto, funcionando como uma espécie de minidiciondio téenico, que especamos poss ser tl mesmo a quem {i tena algumas nogées de histéria medieval. Também em apéndice, foram inclu‘ dos quadros que, conforme a necessidade, desenvolvem ou sintetizam matérias cratadas ao longo da obra. Ainda como instrumento de utilizapao deste manual, ineluimos, além do in- dice geral dos capftulos, um indice de tabelas, mapas e figuras, um outro cronolé= ico por fim um tematico, Se se desejaconheces, por exempl, a economia medi val esis evolugio, basta recorrer ao capitulo cortespondente. Mat se st quer, por hipotese, ter uma visio globel da Alta Idade Média, deve-se consultar o indice cronolégico, Ou, se se quer estudar temas como feudalism, heresas,Franga ete, deverse utilizar 6 indice temstic, Por economia de espago, e para nio dar um tom excessivamente académico a este texto introdutério, suprimimos as tradicionais notas de rodapé. Contudo, ndo podeslamos deinr de indicar a origem de uma informasio pouco divelgada ou de ‘uma interpretaso original e/on polémiea. Para tanto, colocamos entre pareneses lum ntimero em negrito que indica a obra, listada na Orientagio para pesquisa, seguido de outro miimero que aponta a pagina da qual se extraiu aquele dado ou aquela citasio. No caso de artigos de revistas especializadas, aparecem trés nimeros: . _AIDADE MEDIA sAscatENto Do oDENTE 6 primeiro refere-se ao perisico, o segundo a0 ano de publicagao do volume uti- lizado, o terceiro & pagina ‘Como nosso texto fornece apenas um primeiro contat, ramos s6lido, com a histéria medieval, no final de eada situlos da Orientasio para pesquisa voltados para osssunto em pau. Aosinteressa- dos em aprofundar ainda mais 0 tema, vém a seguir outras cinco sugestdesbibliogri ficas, de obras mais técnicas, mais especializadas, versando sobre determinados as- ppectos do capitulo em questio. O mesmo procedimento, com menor nimero de indieages, foi adotado também na Introdusio, na Conclusio e nos Apéndices pido mas que espe- fnulo indiearmos dex rrerhcio cen cnc n ccc n enc c cnc c ccc ee Introdugse O (pre)conceito de Idade Média Se numa conversa com homens medievais utlizisemos a expressio “Idade Média", cles néo teriam idéia do que estariamos falando. Como todos os homens e todos os perfodos histéricos, eles viam-se na época contemporines. De fato, falarmos em Idade Antiga ou Média representa uma rotulagio a posterior, uma satisfagio da necessidade de se dar nome aos momentos pastados. No caso do que chamamos de Idade Média, oi século XVI que elaboron tal conceito, Ou me- thor, tal preconceito, pois o termo expressava um desprezo indisfarcado em relapio aos séculos localizados entre a Antiguidade Clissiea e proprio século XVI Este sevia como o renastimento da civilizagio greco-ltina, eportanto tudo que estive- ra entre aqueles picos de criatividade artistico-lterdria (de seu préprio ponto de lato) nfo passara de um hiato, de um intervalo. Logo, de um tempo inter smedidrio, de uma idade média, A. Ldade Média pare os renascentistes ¢ iluministas Admnirador dos cléssicos, italiano Francesco Petrarca feao pedo anterior como de ncaa Giovanni Andee, bibliotecério papal, falava em de gel Tuna’ A ida enaisou-e quando em mendor do scalo XVI Giorgio ‘Vasa, numa obta biogréfica de grandes artistas do seu tempo, popularizou 0 ter- mo “Renascimento”. Assim, por contrast difundiram-se em relagio 20 periodo anterior as expressbes media alas, media antiguitese media tempore. ‘De qualquer forma, o critério era inicalmentefilolégico. Opunba-se o século XVI, que buscava na sua produsio literéria utilizar o latim nos moldes clissicos, ‘os séculos anteriozes, caracterizados por um latim “birbaro’. A aste medieval, por fugir aos padroes clissicos, também era vista como grosseira, dat o grande pintor Rafael Sanzio (1483-1520) chamé-la de “gétiea”, ermo entio sinénimo de “bis- bara”, Na mesma linha, Frangois Rabel falava da Idade Média como a "espessa noite gotica’ sstRoaupkO a ulo XVIL, foi ainda com a cer a expressio medium acon, usada 1678 (13). Mas 0 sucesso do termo v Keller (1638-1707, conhecido tamb blicado em 1688 ¢ Constantinepolim a Turis tum dedicado aos semédio & inseguranga e a0s problemas decorrentes de um eulto exagersdo 20 clentificiemo, Vista como fase histérica das liberdades, das imunidades e dos privi- legios,reforgavao tiberlismo burgués vitorioso no século XIX, Dessa mancira, © equillbrio ea harmonia na literatura enas artes, que o Renascimento e o Classcismo do século XVII tinham buscado, cedia lugar & paixdo a exuberincia e i vitalidade ‘encontriveis na Tdade Média. A verdade procurada através do rac 6 Ilvminismo do séeulo XVIM, cedia lugar A valorizagto dos sent do isco mancinhavse renascentit:“Idade Medi" tera dos sonhos, das recordagies, Abundam entéo obras de ambientacio, rupgo no p 1winano, instgurido pelos gregos e romanos ¢ mado pels homens do século XVI. Oy sea umber parce mpos “medievais” term sido de barbirie, ignorincia spe eles Ivanbot e Contos des cruxades, diversas composigées de Wagner, como Trirtaa¢ Isclda (1859) ¢ Parsifa (1882), Essa Idade Média dos escrtores misicos roménticos era tdo preconceinuosa quanto a dos renascentistas ¢ dos iiaministas. Para estes dois, ela teria sido uma época neget, a ser relegada da meméria histérca, Para aqueles, um periodo espléndi= do, um dos grandes momentos da trajetéria humans, algo a ter imitado, prolongado. Tal atragio fez o Romantismo resturar intimezos monuumentos medievais e cons- ‘tule paléciose igtejas neogsticas, mas inventando detalhes, modificando concep s8es, criando a sua Tdade Media, A historiografia também nif ficou imune a isso, como mostra ocaso de Thomas Ca intetizando tais civilizagfo feudal "a coisa mais elevade" que a Europa tinha produzido. Ms to seriamos um pou- | _fututos estudos, apesar de suas imperfeigées, foi a organizacdo de de Condorcet (1743-1794), a humanidade sempre Patrologia frances em diregfo a0 progresso, com excegto do no qual predo ingleses (9), todas elas produto da paixio do século XIX pela época medieval Idade Média, Para Volesire (1694-177 De qualquer forma, a Idade Média permanecia incompreendida. Ela ainda os- os Hdd drabo Uday Fis histories, por ismo Kehastentistv/iluiminista ¢ bialtasdo romantica. Aos pre~ gque“é uma prova da divindade de seus caracteresrerem subsist ¢ 0 da ideslizacto,jé antecipado por Gorthold Lessing A posigio daquele pensador sobre a Idade Média poderia ser «i (1729-1781): "Noite da Idacle Média, que seja! Mas era uma noite resplandecente de famento que dispensava A Igreja:"a Infare” estrels”. A melhor sintese daquela osclagio estd no maior historiador da épocs, Jales Michelet (1798-1874). Na sua Histoire de France, ele reservou se ‘dade Média (1833-1844), defnindo-a como “iquilo que amamos, amamentou quando pequenos, aquilo que foi nosso pai e nosea mie, aquilo que nos cantava tio docemente no bexgo". Mas nas reedigbes de 1845-1855 ele mostra uma dade Média negativa, reduzida a longo preimbulo ao século XVI, mudar resultava das dificuldades do presente hstérico da Franga e do préprio Mi XVII, antiaristocritico © anticlerical, ace Tdade Média, vista como momento éureo da nobreza ¢ do época, chamada de A Idade Media para os romanticos © Romantismo da primeira metade do séeulo XIX iverte, contd, o pre- coneeito em relagao a Idade Média. O ponto de partida nacional, que ganhara forte si 40 Francesa, As conquistas de Napoleéo tinham alimentado o fendmeno, pois a pretensio do imperadorfran- cés de reunir a Europa sob uma tnica diresio despertou em cada regize dominada ouwameasada uma de ecificidades, de sua personalidade nacio A Idade Média para o século XX 80 punha em xeque a validade Finalmente, passou-se a tentar ver a Idade Média como os olhos dela que levara 2 Europa aquele ‘nfo com os daqueles que viveram ou vivem noutro momento, Entendeu-se que & nostalgia romantica pela Idade fungio do historiador € compreender, nio lgar 0 passado. Logo, o tinico se considerada o momento de origem das na lida- ivel para se ver a Idade Médi propria Idade Média. Com base tsi 0s novos sentimentos do aéeulo XIX” claborando, para concretiz-la,iniimeras novas metodologias etée- como época de ff, autoridade e tradigéo, a Idade Média oferecia um historiografia medievalistica deu um enorme salto qualitativo. Sem cisco de A]DADEMEDIA,NASCRAENTO DD OCIDENTE sNTRODUPAO I aaa a ae ea ns ree es oe peat perenne. ype Pra ea cxagerar pode-se dizer que 0 medievalismo se tornou uma espécie de carro-chetfe da rafia contemporanea, ao propor temas, experimentar métodos, revercon= ronal ata EEE piiblico mais vasto e mai consciente do que o do sécalo ue nfo significa que a imagem negativa da de Media tena desaparecdo, Nio rao encontratmos pessoas sem conhec= rento hist6rico ainda qualificando de “medieval” algo que elas reprovam. Pio, lo XX, o francés Alain Mine falou mesmo em uma “Nova Idad ‘Medi, No aaaro, de Fora geo tacit Julcoe de aoe sobre aoe xdo parecem recuar, eesti eae moo utr dae cao que histories do seo 1X tenham rege lade Media. Ao examinar qual qualquer periodo do passado, 0 ament tabula com restos com fagmentos sft pr ‘no jasgio dos historiadores — desse passado, que portanto jamais poder sgraimente reconstituido, Ademais ool falas Naclebre Le problime de Vinerayance au ia 6 filha de seu tempo", por isso cada formulagio de Lucien Febvre NVI sidele, La religion de Rabe tade um complexoconjunto de cond duale coletivo que a v8 nascet Data des-Estado pega, a hstéria de hagiograas’ nos mosteiros medie: dinistica e nacional nas cortes mondrquicas modcrnas, a histéria econémai biente da industializag dos séculos XIX-XX, a tia ae metadade oo cone pesar de jeval baseada em maior disponibilidade 10 dessasfontes, nio podemos ae que ra de ace Mei reload polo se XX 1 defi eitas essa ressalvas metodolégicas obri ogue devemos ent pee cape ae el ces caaorac sc a sees pos ns, dentre outras datas, Jem 392 (oficializagio io da Reforma Protestante). se deve renunciar & busca de um _AtoADe ota NascuumtTo Do ociDENTE fato expectico que teria inaugurado ou encerrado um determinado perdodo. Mesmo assim oe problemas permanecem, pos nfo hi unanimidade sequer quanto 20 século fem que se deu a passage da Antguidade para a Idade Média. Tampouco hi acordo no que diz respeito & transigho dela para a Modernidade, Mats ainda, apesar da exis Xdncia de estruturas bésicas a0 longo daquele milénio, nfo se pode pensar, & claro, smo, Passou-se entioa subdividir historia medieval em fases que apre- ‘enidade interna, Mas também aqui nfo chega a haver consenso entre adores. A peciodizasio que propomes a seguir nfo éinica ace que nos parega mais adequada 2 maneira como montamos est livzo isto €, buscando a ‘ido dos eventos) medievais. do século IV a mea ‘nfo mais “antiga” © chamécla de Pri- ainda nao claramente “medieval”, Apessr disso, tlver seja m teira Idade Média do que usar o velho rérulo de Antiguidade Tar {nico a convivéncia ea lentainterpenetrapio dos trs elementos histéricos que com= poriam todo operfodo medieval Elementos que, por sso, chamamos de Fundamen tos da Idade Média: heranga zomana classics, heranca germi ‘A partiipagio do primeiro deles na formagio da Idade Me tudo apés a profunda crise do séoulo TIL, quando 0 Império Romano tentou a Sobrevivencia por meio do estabelecimento de novas estruturas, que nto impedi- celeraram) sua decadéncia, mas que permaneceriam vigentes por séculos (Apéndice 2) Foto caso, por exemplo, do carter sagrado da sarquia 50 rnova espiritualidade que possibilitou o sucesso ‘Neste mundo em transformasio, a penctraglo germanica intensificow as ten~ ruturais anterioses, mas sem alteré-las, Foi o caso da pluralidade politica indo a unidade romana, da concepgio de obrigagdes ceciprocas entre chefe ¢ guerretos, do deslocamento para.o norte do cio de gravidade do Ocidente" que pera su caréter mediterrinico. © cristianismo, por sua vez, foi 0 elemento que possibilitou a articulagfo entre romanos ¢ germanos, o elemento que 20 fazer a Eitese daquelas duas sociedades forjou a unidade espiritual, essencial para a cvili- zagio medieval. “eso foi possivel pelo préprio carter da Igreja nos seus primeiros tempos. De uum lado, ela negavi da civilizagio romana, como a divindade do imperador, a hierarquia social, 0 De outro, ela era um prolongs smeto da romanidade, com seu cariter universalsta, com o cristanismo transfor tnado em religito do Estado, com o atim que por intermédio da evangelizasto fo, Jevado a regibes antes inatingidas. Completada essa de Média (meados do século VIII-fins do X), Fei entio que se atingiu, lus te, uma nova unidade politica com Carlos Magno, mas sem interromper a fortes € profundas tendéncits centeifugas que levariam posteriormente & fragmentacio nereopucto Se Tes Sma mca CE ete nn se corporificou c gunhou condigées de se tornar uma poténcia politica atuante, Ademais, dando forga de lei a0 antigo costume do pagamento do dizimo a Tgreja, 03 Carolingi mente 4 economia agriria da época. Gragas a esse temporirio encontro de interesses entre a Igreja e 0 Império, ocorreu uma certarecuperagio econémica €o inicio de uma retomada demogréfice. iciou-se entio a expansio al cristi sobre egibes pags — que se estende- séculos seguintes — so tudo, deu-se a transfo vulgar. Mas a fase terminaria em crise, devido as contradigoes do Estado Carolingio fatima nova onda de invas ings, musulmaiss, magiates). ‘A Idade Média Central (séculos XI-XIID que entio comegou foi, gros mode ép0ca do feudalismo, cuja montagem representou uma resposta crise geral do século X. De fato,utlizando material histdrico que vinha desde o século 1V, aquela socieda- ‘de nasceu por volta do ano 1000, tendo conihecido seu periodo clissico entre os séc~ los XI e XIII. Assim reorganizada, a sociedade crst@ ocidental conheceu uma forte texpansio populacional e uma conseqiiente expansio territorial, da qual as Cruzadas so a face mais conhecida. Graces a maior procura de mercad dade Média, daf ter merecido em, tox s capitulos dest Mas hquélis tradéfortnagdl a Risa sociedade fortemente estratificada, fechada, agriria, fragmentada politicamente, dominada culturalmente pela Igreja. De dentro dela, e em concorréncia com ela, desenvolveu-se um segmento urbano, mercantil, que buscava outros valores, que ‘expressava ¢ 20 mesmo tempo acelerava as mudangas decorrentes das prépri trururas feudais, Aquela sociedade passava da etapa feudo-clerical” para a feudo- bourguesa’, na qual o segundo element irmemente sobrepujando 0 primeiro: emergiam as cidades, as univers stura verndcula, a flosoia is moniarquias nacionais. Os conservadores, como twansformages. Inegavelmente caminhava-se_ para novos tempos. ‘A Baixa Idade Média (século X1V-meados do século XVI) seus reattanjs, representou exatamente o parto di nidade. A crise do século XIV, organiea, global, foi uma d da continua expansio o que levara o sistema a0 ragio a partir de meados do séeulo XV deu-se em novos modes, estabelecew novas 38 séculos XI-XIL, ® A DADE MEDIA NasctENTO.D0 Ce1DENTE 3 conhecimentos sobre 0 pe de sua vida (séculos IV-X), no entanto as fontes que temos sobre elas so Eomparativamente poucas, Sua maturidade (séculos XI-XII) e senilidade (séeslo XIV-XV1D deixaram, pelo contrério, uma abundante documentasio. cronolégica que nos guiaré a0 longo do exame de cada uma das. da léade Média. Se nos capitulos a seguir dedicamos atengto desigual a cada uma saquelasfases, € porque, grsso modo, acomapankamos inversemente o ritmo hist6= rico ¢ diretamente a disponibilidade de fontes trabalhos sobre elas A Idede Media Mas, enfim, que con ‘Questo dificil de ser respondida, apesar dos progressos metodolégicos das dltimas déeadas. A resposta, mesmo proviséria ¢ incompleta precisaria ser matizada no tempo ¢ no espago, ¢ ainda considerar pelo menos dus grandes vertentes, « do loro, elaborada a partir de interpretagbes teoldgicas, ea dos leigos, press x concep 3 implificadamente, essa bipolarizagao quanto & Hist6ria quanto 20 tempo. fortemente entaizada na psicologia coetiva’, acitava a exis daquilo que se chamou de“mito” do eterno etorao". O po biclogicamente, sem transformé- 4 medi lojem Historia, poranto ser has viver ho real era viver Segundo modelos extra-hlmanos, tanto o tempo sagrado (dos rituais) quanto o profano (do cotidiano) sé existiam pot reproduti ats ocoreidos na origer dos tempos. Dai aimportincia da festa de Ano~ Novo, que era uma retomada do tempo no seu comeco, isto &, uma repetiio da cosmogonia, com ritos de expulsio de demdnios ¢ de doengas “Et concepgio softeu sua primeira rejeigio com o judaismo, que vé em Iavé fo uma divindade eriadora de gstos arquetipics, mas uma personalidade que intervém na Historia. O janismo retomou e desenvolveu essa idéia, enfatizando 1 linear da Historia, com seu ponto de partida (Génese), de inflexio (Nati- linear mas no ao infinito, pois ha geo’ — que s6 Deus conhece — limitando o desentoler da em humana pela Tera smo ceinterpre \clusive da mentalidade* cic repetigfo periddica e real de eventos essenciais como Natividade, Paixio e Re reicto de Jesus: a0 participar da reprodusio do evento divino, ofiel volta ao tempo fem que ele ocorreu. Ou seja, a cristianizacto das camadas populares nio aboliu a stRoDuGio » ws teoria pelo contritio, influenciou o cristianismo erudito ¢ reforgou certas pensamento mitico, Em virtude disso, pelo menos até 0 século XII os medievos no sentiam neces sidade de maior preciso no cémputo do tempo, o que expressava eacentuava a falta cde um conceito claro sobre sua prépria Epoca. De maneira geral,prevalecia o senti- mento de viverem em “tempos modemos", devido & conscigncia que tinham do pas sado, dos “tempos antigos”, pré-crstios. Estava também presente a idéia de que se caminhava para o Fim dos Tempos, nto muito distante. Espera dfs, que raramen- te se concentrou em momentos precsos. Sabemos hoje que os preteadidos“terrores do ano 1000” foram uma criagio historiogeifica, pois nfo houve nenhum sentimen- to especial e generalizado de que o mundo Fosse acabar naquele momento. ‘Mas € inegével que « psicologia coleivat medieval esteve constantemente (ain- oximidade do Apocalipse endo a Nova Era. Temnpo nio monelitico, dividido em vitis fses, "A quantidade e a caracteriagio delas nto eram, contudo, consensuais. A | fzagio mais comum, a0 menos entre o clero, concebia ses fases histSricas iagio. Como no sétimo dia Deus descansou, na sétima no seio de Deus. Assim pensavam muitos, de Santo 1 (354-430) Isidoro de Sevitha (560-636) até Fernéo Lopes (1380- 1460), Também teve sucesso uma concepeto trinitiria da Historia, surgida no s8- culo IX com Joto Escoto Erigena (ca. 830-ca. 880) ¢ que teve seu maior represe tante no monge cisterciense Joaquim de 132-1202). Para este, Era do ter-se-in caracterizado pelo temor servil lei dvina, a Era do Filho pela sabedoria, fé c obediéneia humid, a do Espirito Santo (que comeyaria em 1260) pela pleni- nto, do amor universal e da liberdade espiritual. Qualquer que remporsl adotads, reconhecia-se que o suceder das fases acabaria quando a Histéria enquanto tal debaria de exist. HERS, Theta mr, A tay of mem nroncutae, Care Inscrave are fOseoet haem, Pare, Abi, 1989, € TITRE nga medal Made, crmesisos Careuanoe, 1982 " -AIDADE MEDIA. NASCIMENTO DOGCIDENTE

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