Se voc pega o direito romano, no digesto, sempre utilizada a
palavra periculum. Por exemplo, na lex aquilia, se um escravo alheio causar dano ou ferir de morte qualquer pessoa o dono do escravo responde pelo dano ou pela exposio a perigo . Ento a ideia de periculum est no digesto. A palavra risco nunca foi encontrada no direito romano, na rea penal. E a palavra risco vem do latim resicum que significa cortar o mar. Era indicada para o desconhecido. Se voc for observar o latim erudito, que era usado at as fases iniciais acadmicas na Alemanha no sculo XIX, voc encontra s a palavra periculum. A vinculao de risco e perigo como conceitos sinnimos algo relativamente recente. At porque o conceito de risco um conceito unvoco. Se verdade que Beck trabalha risco e perigo como sinnimos, se voc pega o referencial do funcionalismo, como o caso de Luhmann, isso no identificado. Risco no identificado como perigo, porque o risco supe uma atividade humana. Luhmann prope um exemplo que eu estava trazendo para Eduardo. Se voc chega e abre o seu guarda chuva porque est chovendo e essa ao atrai a descarga de um raio, isso o produto de um risco. Mas se voc anda, surpreendido por uma tempestade e um raio produz a tua morte, isso produto de um perigo. A diferena de risco e perigo vinculada a ideia de interveno humana. Isso tem reflexo no Direito penal, isso tem reflexo na fundamentao dos crimes de perigo abstrato. Eles no so novos, so muito antigos. Se voc pega no sculo XIX eles eram chamados de crimes de perigo geral. O que o crime de perigo geral? Como a gente tinha uma quantidade muito pequena de tipos, algumas aes tinham, e isso era sabido por todos, um perigo jungido a si. E os crimes que tinham perigos eram to pequenos, diminutos em termos de nmero, que de fato nunca se questionou se haveria ou no uma presuno. Acontece que com a expanso do direito penal, ns no temos aes assemelhadas. O que a gente tem que os crimes de perigo de hoje muitas vezes independem de uma ao humana, logo independem de uma prova, s pode ser auferido no caso concreto, isso a luz da ideia de que o perigo que interessa para ns aquele que se traduz num risco. (...)