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OS (DES)CAMINHOS

DA IDENTIDADE*

Roberto Cardoso de Oliveira

O interesse sobre o tema da identidade tem e “descaminhos”, utilizados metaforicamente, para


tido ultimamente, entre nós, estudiosos de ciênci- designar uma ambigüidade. A associação das duas
as sociais, uma freqüência extraordinária! Embora palavras, sintetizada numa única expressão,
eu pretenda falar a partir do horizonte de minha “(des)caminhos”, sugere a direção que desejo dar,
disciplina, a Antropologia, não posso deixar de nesta exposição, àquilo que entendo como sendo
reconhecer — e nesta oportunidade mencionar o ponto estratégico sobre o qual o estudioso
— o quanto o tema deslizou sobre as demais melhor poderá fixar a sua atenção em sua tentativa
disciplinas irmãs. Tal constatação animou-me a de elucidar a identidade como um objeto de
escolher “os (des)caminhos da identidade” como investigação antropológica ou sociológica. Esse
o assunto desta conferência, a qual fui convidado ponto estratégico é precisamente o oposto do
a ministrar pela presidência da Anpocs, convite “ponto cego”, isto é, aquele lugar que não nos é
que considero um privilégio e uma honra. Espero permitido visualizar pelo espelho retrovisor do
que as considerações que passarei a fazer pos- automóvel. Claro que trazer essa imagem tão
sam ir ao encontro das preocupações de um cotidiana e trivial não é um desses recursos corren-
público mais amplo, não restrito ao de minha tes utilizados por alguns importantes filósofos bri-
própria disciplina, como de resto são os colegas e tânicos ao lançarem mão de historietas — como
estudantes — e o público em geral — que nor- bem ironiza Geertz — para ilustrar suas reflexões.
malmente ocorrem às reuniões anuais de nossa Para mim, neste momento, a imagem só se explica
Associação. — e se aplica — pelo fato de ter sido ela que me
Em primeiro lugar, creio que deva esclarecer levou a questionar sobre como melhor enxergar ou
a expressão a que recorri relativamente à identida- visualizar esse fenômeno sociocultural que deno-
de, isto é, a recorrência a dois termos, “caminhos” minamos identidade quando ele está escondido,
escamoteado, não só ao olhar do homem da rua
mas também — e muitas vezes — ao olhar sofisti-
* Versão revisada de conferência proferida no XXIII
Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, MG, outubro de cado do antropólogo, do sociólogo ou do cientista
1999. político. E ao aduzir ao termo identidade a expres-

RBCS Vol. 15 no 42 fevereiro/2000


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são “sociocultural” já estou indicando que iremos tes residentes em sociedades anfitriãs. Natural-
examinar um fenômeno cuja inteligibilidade re- mente, falar de etnização é nos socorrer do con-
quer contextualizá-lo no interior das sociedades ceito de etnicidade, de ampla utilização na litera-
que o abrigam. tura das ciências sociais modernas, onde é defini-
Em um rumo diferente daquele tomado, por do como envolvendo relações entre coletividades
exemplo, pelo filósofo Charles Taylor em seu no interior de sociedades envolventes, dominan-
celebrado livro As fontes do self: a construção da tes, culturalmente hegemônicas e onde tais cole-
identidade moderna, minha intenção aqui é foca- tividades vivem a situação de minorias étnicas
lizar o Nós, explorando precisamente aquelas ins- ou, ainda, de nacionalidades inseridas no espaço
tâncias empíricas em que identidades globalizado- de um Estado-nação. De uma maneira mais sim-
ras se manifestam. Como melhor poderíamos pe- plificada, o termo etnicidade poderia ainda ser
netrar no fenômeno sem construirmos um foco aplicado a modalidades de interação bem menos
estratégico para sua elucidação? Pareceu-me — e complexas, como a uma mera “forma de intera-
essa é uma questão que me acompanha há bastan- ção entre grupos culturais atuando em contextos
te tempo — que devemos procurar equacionar tais sociais comuns” (cf. Cohen, 1974, p. xi). Não
identidades enquanto em crise. Quando, em sua obstante, por mais simplificada que possa ser
movimentação no interior de sistemas sociais, os nossa concepção de etnicidade, ela não deve
caminhos de que se valem levam-nas a viverem deixar de considerar pelo menos dois aspectos
situações de extrema ambivalência. São seus des- teóricos, como aponta o antropólogo norueguês
caminhos, ainda que não necessariamente equivo- Thomas H. Eriksen (1991, p. 131): “[...] etnicidade
cados, pois em regra tendem a ser os únicos é uma propriedade de uma formação social e um
possíveis — conjunturalmente possíveis —, na aspecto de interação; ambos os níveis sistêmicos
medida em que o processo de identificação pesso- podem ser simultaneamente compreendidos. Se-
al ou grupal chega a estar mais condicionado pela cundariamente, diferenças étnicas envolvem dife-
sociedade envolvente do que pelas “fontes” origi- renças culturais que possuem impacto comparati-
nárias dessas mesmas identidades, sejam elas con- vamente [cross-culturally] variável [...] sobre a
sideradas como “coletividades” (Talcott Parsons), natureza das relações sociais”.
ou “identidade de grupo básico” (Harold Isaacs) Esses dois aspectos têm, a meu ver, o méri-
ou, ainda, “identidades totais” (Ali Mazrui).1 Imagi- to de tornar mais sensível ou sofisticada a clássica
no que tratar aqui, topicamente, de uns poucos definição de outro norueguês, Fredrick Barth
casos empíricos possa nos auxiliar a compreender (1969), conhecido por tantos quantos dentre nós
que a focalização de crises identitárias relativas a tenham trabalhado com questões étnicas.2 Mas o
nacionalidades ou a etnias — portanto, relativas a que me parece importante de se levar em conta
identidades totais — pode constituir uma estratégia aqui é que interações sociais desse teor têm sido
de investigação bastante frutífera. Porém, as crises observadas em diferentes latitudes do planeta,
identitárias que procurarei examinar nem sempre envolvendo formações sociais nas mais variadas
poderão ser observadas em toda sua concretude modalidades de interação, incluindo grupos de
empírica; algumas delas apenas podem ser apre- migrantes — que, nesta conferência, serão o nos-
endidas em sua virtualidade, isto é, como crises so alvo de maior atenção. E isso porque, no
virtuais. Procurarei deixar isso mais claro no decor- mundo moderno, a observação desses grupos
rer de minhas considerações. oferece uma oportunidade privilegiada para o
estudo daquelas formas de interação onde a arti-
⌦ culação entre a identidade, a etnicidade e a
nacionalidade se impõe como um foco de inegá-
Gostaria de refletir inicialmente sobre aqui- vel valor estratégico para uma investigação que
lo que chamarei de condições de possibilidade de se pretenda capaz de elucidar os mecanismos de
etnização das identidades nacionais de imigran- identificação pelos outros, tanto quanto os de
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auto-identificação, não obstante esta ser reflexo Todavia, dos anos 50 para cá muito se inves-
daquela. tigou sobre essas modalidades negativas de classi-
Darei destaque inicialmente, como base para ficação pelos outros e de autoclassificação, investi-
minha argumentação, a situações observadas nos gações essas que passaram a ser enfeixadas sob o
Estados Unidos da América junto a imigrantes tema da identidade e de suas vicissitudes. E apren-
brasileiros. Naturalmente, partirei dos trabalhos de demos — como me referi há pouco — que a
antropólogos que recentemente pesquisaram nas estrutura das relações interétnicas, inerente às soci-
costas Leste e Oeste daquele país, especialmente edades hospedeiras, é muitas vezes fortemente
em lugares de expressiva imigração brasileira. Vale institucionalizada. E que tais relações, como se
acentuar que pesquisas de brasileiros sobre os observa certamente mais nos Estados Unidos do
Estados Unidos têm ocorrido com certa freqüência que no Brasil, estão reguladas tanto in mores
nestes últimos anos, se bem que nem todas tenham quanto in juris, o que lhes confere grande peso na
redundado em publicações de fácil acesso — configuração das relações de imigrantes de dife-
muitas ainda estão em seu formato original de teses rentes nacionalidades e/ou etnias junto à popula-
ou dissertações acadêmicas. Mas, pelo menos des- ção nativa, isto é, do lugar.
de os anos 50, se tomarmos em conta a importante Para ficarmos só com os processos identitários
comunicação de Oracy Nogueira ao XXXI Con- observáveis entre imigrantes brasileiros residentes
gresso Internacional de Americanistas, intitulada nos Estados Unidos, consideremos, por exemplo,
“Preconceito racial de marca e preconceito racial esse mecanismo identitário que denominei etniza-
de origem” (Nogueira, 1955), a comparação entre ção de identidades nacionais. Quero me referir,
as sociedades brasileira e norte-americana já mos- inicialmente, às observações feitas por Gustavo Lins
trava o quanto ambas se distinguiam no que se Ribeiro (1998a, 1998b e 1998c) sobre imigrantes
refere à absorção de suas minorias étnicas ou brasileiros em San Francisco, Califórnia, onde o
raciais. Com o seu interesse voltado para o “pre- processo de etnização — pelo menos segundo
conceito racial”, Oracy Nogueira pôde traçar, não minha leitura — fica bem aparente. Sua pesquisa
obstante, os lineamentos daquilo que ele chamou tem o mérito de realçar o poder da sociedade local
de “flagrante contraste entre o clima de relações na determinação das regras do jogo identitário,
inter-raciais que predomina nos Estados Unidos e graças às características dos novos contextos no
o que caracteriza o Brasil” (Nogueira, 1955, p. 415). interior dos quais os imigrantes passam a viver suas
O processo de estigmatização observável num e condições de existência. O autor nos mostra, pri-
noutro cenário inter-racial ou interétnico é por ele meiramente, que as identidades regionais brasilei-
caracterizado pela dicotomia aparência/ascen- ras, significativas no âmbito interno da comunidade
dência étnica: a primeira, vigente no Brasil, ex- imigrante (como as de goiano, mineiro, paulista ou
pressa no preconceito de cor ou de marca; a carioca), são englobadas pela população hospedei-
segunda, manifesta nos Estados Unidos como pre- ra não necessariamente na de brasileiros — o que
conceito de origem. Evoquemos um trecho de sua seria o natural —, mas, com freqüência, na de
comunicação: hispânicos, o que significa submeter a identidade a
um inefável processo de etnização, uma vez que,
Quando o preconceito de raça se exerce em nesse caso, hispânico não é nacionalidade, é etnia.
relação à aparência, isto é, quando toma por Há, portanto, o que se pode reconhecer como a
pretexto para as suas manifestações os traços sujeição dos processos identitários a um sistema
físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o social estruturalmente segmentado em etnias (ou,
sotaque, diz-se que é de marca; quando basta a mesmo, grupos raciais). Nas palavras do antro-
suposição de que o indivíduo descende de certo pólogo:
grupo étnico para que sofra as conseqüências do
preconceito, diz-se que é de origem. (Nogueira, A segmentação étnica americana implica uma luta
1955, p. 417) permanente por visibilidade na cena política, eco-
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nômica e cultural mais ampla. Em um país onde a identitária —, quando ela pode significar, por
política da diferença é dominada por uma elite exemplo, uma eventual participação nas cotas da
branca anglo-saxã, os segmentos étnicos procu- Affirmative Action? Ao menos, seria uma maneira
ram tornar visíveis seus pertencimentos a heranças de manipulação positiva da identidade... (Cardo-
culturais diferenciadas para adquirir distinção e so de Oliveira, 1976, especialmente cap. 1). Po-
acumular capital simbólico e político como atores rém, tal manipulação encontraria como obstácu-
no contexto da chamada política da identidade e lo a crônica dificuldade de regularizar, ou me-
da ideologia do multiculturalismo. (Ribeiro, 1998a, lhor, legalizar a situação de imigrante, uma vez
p. 15) que, sem a documentação necessária (ou o Green
Card), torna-se impossível participar daquelas
Os brasileiros são apanhados pela rede de cotas e beneficiar-se de eventuais vantagens do
classificação étnica local e, “muito a contragosto” status de minoria étnica (idem, p. 230). Trata-se,
— continua Ribeiro (1998a, p. 13) —, são, assim, por conseguinte, da extrema vulnerabilidade em
confundidos com hispânicos. E essa identificação que se encontra esse grupo de imigrantes, equili-
não fica restrita à costa oeste estadunidense. Ana brando-se sobre a linha ilegal/legal. E isso pode
Cristina Braga Martes, em sua tese de doutorado ser generalizado para todos os imigrantes e não
sobre a imigração brasileira em Boston, Massachu- apenas para os brasileiros, pois cruzar essa linha
setts, observa também semelhante rejeição da em direção à legalidade faz com que suas oportu-
identidade hispânica: nidades mudem radicalmente (cf. Ribeiro, 1998a,
p. 9). Em suma, o que se pode observar é que
Um dos traços mais expressivos da formação da essa ambigüidade inerente ao processo identitá-
identidade coletiva dos brasileiros é a tendência à rio que se verifica entre os imigrantes abre uma
negação da identidade hispânica [Hispanic]. Pare- via para o surgimento de crises de identidade,
ce existir poucas afinidades entre os dois grupos sejam elas reais ou virtuais.
[de brasileiros e de hispânicos]: não moram nos Mas se a identidade desses imigrantes mais
mesmos bairros e [os brasileiros] desfrutam de carentes sofre seus descaminhos, há de se reco-
uma condição econômica relativamente melhor nhecer que os imigrantes de classe média, mesmo
do que a do restante da população latina em os bem qualificados profissionalmente, não esca-
Boston [...]. Ademais, os brasileiros, assim como os pam de certas armadilhas do processo identitário.
demais grupos latinos, querem ter uma identidade A análise do tema feita por uma imigrante uru-
própria e lutam por isso nos Estados Unidos. guaia, a professora Helen Regueiro Elan, a partir de
Entretanto, tal recusa está também associada às sua própria experiência de membro do corpo
desvantagens que o rótulo “Hispanic” pode acar- docente de uma universidade americana, é extre-
retar, porque trata-se de um “grupo” que parece, mamente aguda e muito esclarecedora sobre as-
também aos olhos dos brasileiros, desvalorizado pectos pouco conhecidos do processo identitário.
nos Estados Unidos. Tal comportamento, no en- Seu ensaio “El índio ausente y la identidad nacional
tanto, reforça o preconceito contra os latinos e, uruguaya” (Regueiro Elan, 1995) descreve o que
por decorrência, contra os próprios brasileiros que ela denomina de identidade “desplazada”, ou
também são vistos como Hispanics. (Martes, 1998, “deslocada”, como chamaríamos em português.
p. 229) Tendo sempre se considerado uma pessoa cosmo-
polita, associado ao fato de ser professora de um
Diante desta ambigüidade que se manifesta departamento de inglês — razão de espanto dos
no processo identitário do imigrante, poder-se-ia norte-americanos, que sempre lhe perguntavam
questionar a razão de aqueles brasileiros dos se- por que não ensinava num departamento de espa-
tores mais pobres e mais despreparados da co- nhol —, a autora é levada a se classificar como
munidade de imigrantes não assumirem a identi- possuidora de uma identidade deslocada, uma vez
dade étnica hispânica — como política pessoal que, se na retórica da identidade ser de nacionali-
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dade uruguaia não faz nenhum sentido, nem por ⌦⌦


isso ela consegue se ajustar à identidade hispânica
(graças ao forte caráter etnicista da categoria), e Gostaria de me voltar agora para um cenário
muito menos à de latina; no que diz respeito a esta bastante diferente, mas que poderá nos ajudar a
última, não só pelos mesmos motivos de discrimi- melhor compreender a dinâmica das identidades,
nação étnica, como ainda pelo fato de não se sentir detendo-me mais na questão das nacionalidades e
semelhante a qualquer membro do segmento ma- no espaço europeu. Quero me referir à Catalunha,
joritário de imigrantes latino-americanos, possui- uma região da Espanha que tem Barcelona por sua
dor de ancestralidade fortemente indígena. Para capital e possui status jurídico autonômico desde
Helen Regueiro Elan, estar desplazada, deslocada, a queda da ditadura franquista. Claro que essa
“é movimentar-se em espaços que estão sempre no escolha não é casual. Pois, se o meu objetivo é
meio, dos quais não se pode dizer que sejam nem refletir sobre o tema da identidade baseando-me
uma coisa nem outra, dos quais não se pode dizer em etnografias que domino (uma vez que, mesmo
que se encaixem, sem resíduo e sem crítica interna, relativamente aos Estados Unidos, minha vivência
à adequação do nome e de uma identidade” naquele país aguçou minha sensibilidade no exa-
(Regueiro Elan, 1995, p. 320). Comenta, assim, que me dos dados fornecidos pelos autores que lá
a necessidade, nos Estados Unidos, “de localizar, fizeram suas investigações), é natural que me
de nomear e de definir é tão intensa que se torna detenha na identidade catalã e demais identidades
difícil permanecer fora das categorias estabeleci- que com ela interagem, as quais pude estudar
das” (ibidem). E continua: diretamente na cidade de Barcelona em 1992
(Cardoso de Oliveira, 1995a e 1995b). Mas, obvi-
Nem a identidade étnica nem a nacional podem amente, nem por isso deixarei de me socorrer de
ser o que eram no antigo país: o conceito de ser obras de colegas catalães. Questiono-me, inicial-
uruguaio carece de sentido nos Estados Unidos, e mente, sobre em que o exame da identidade
no Uruguai se assume. E o conceito de identidade catalã poderá ampliar a nossa compreensão sobre
étnica carece de sentido no Uruguai, e é vital nos as relações entre identidades e seus respectivos
Estados Unidos do final do século XX. Tanto a contextos? Entendo que a consideração da reali-
identidade étnica como a nacional são constructos dade barcelonesa, considerada com referência ao
com um propósito: no caso da identidade nacio- seu movimento migratório interno, envolvendo
nal, a coesão de um país por meio da narração de portanto identidades étnicas e regionais do territó-
sua cultura e de sua história, e no caso da identi- rio espanhol, possa iluminar um dos pontos cegos
dade étnica, a narração a partir da margem da do processo identitário, precisamente aquele que
história e da cultura daqueles que precisamente eu chamaria de dupla dimensão da identidade
são excluídos da narrativa da primeira. (Regueiro relativamente ao quadro valorativo em que esta
Elan, 1995, pp. 321-322) identidade se insere. Como descrever essa iden-
tidade bidimensional para que possamos com-
Estaria a autora expressando a virtualidade preendê-la?
de uma crise identitária? Parece-me que sim. E, de Começarei pela menção de alguns dados. Se
certa maneira, sua análise complementa bem as considerarmos que aproximadamente 40% da
considerações que fizemos sobre os imigrantes população de Barcelona, lá por volta dos anos 70,
brasileiros nos Estados Unidos, uma vez que muito era composta de imigrantes, e se excluirmos os
do que ela escreveu pode se aplicar — ainda que falantes de diferentes idiomas do país (como os
não necessariamente se aplique — ao imigrante galegos, os bascos, os valencianos e os proceden-
brasileiro de classe média, profissionalmente qua- tes das ilhas Baleares, estes dois últimos também
lificado, submetido à mesma lógica identitária ine- falantes do catalão), reduziríamos a pouco mais de
rente ao sistema de classificação étnica estadu- 30% o percentual de imigrantes internos falantes
nidense. de castelhano — a língua oficial da Espanha, ainda
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que o catalão seja atualmente uma segunda língua maneiras as mais diversas de desconsideração
oficial na Catalunha. A diferença entre os percentu- moral.3 É comum ouvir-se admoestações dirigidas
ais seria da ordem de mais de 10%; logo, haveria a imigrantes que não dominam o catalão, como:
um percentual significativo de indivíduos classifi- “Tens que aprender o catalão, se não, volte para
cáveis como etnias minoritárias relativamente à tua terra”. Ou, passando de um argumento lingüís-
população catalã barcelonesa. Considerando-se tico para um de ordem econômica: “Volte para tua
apenas as etnias mais numerosas, teríamos, em terra! Tu vens para nos tirar o pão” (Esteva Fabre-
números redondos e não desprezíveis, quase 47 gat, 1984, p. 103). Além dos mecanismos mudos de
mil galegos e pouco menos de 18 mil bascos como mercado, que por si só atuam de modo a colocar
membros de grupos étnicos sujeitos à condição de esses imigrantes nos serviços menos qualificados,
hóspedes da sociedade catalã dominante, sofren- observa-se um mundo de representações negativas
do, por conseguinte, toda sorte de preconceitos que marcam o etnicismo catalão perante os imi-
comuns àquelas situações caracterizadas como de grantes de um modo geral e sobretudo os de língua
etnicidade. Uma descrição feliz desse quadro mar- castelhana, como aqueles provenientes da Andalu-
cado pela etnicidade faz o decano dos antropólo- zia ou de Castilha, um dos contingentes mais
gos catalães, Claudio Esteva Fabregat (1984, p. numerosos.
150): Mas se toda a relação social é uma via de mão
dupla, o etnicismo vivido pelos catalães não deixa
Barcelona é uma sociedade pluricultural e poliét- de igualmente envolvê-los quando são levados a
nica: está constituída de uma base étnica catalã e se assumirem como identidade étnica — portanto,
de etnias resultantes de imigrações massivas, de sociologicamente minoritária — diante dos caste-
maneira que à sua complexidade socioeconômica lhanos emigrados de Madri e possuidores de certa
relativa soma-se a complexidade etnocultural rela- respeitabilidade, particularmente quando são fun-
tiva. Como processo, Barcelona é um conjunto de cionários do Estado espanhol. É quando a Catalu-
interações sociais governadas por uma estrutura nha, mesmo desfrutando o regime autonômico,
cultural comum, a urbana e a correspondente ao passa a se relacionar nos termos da opressiva
sistema político-administrativo do Estado espa- dependência secular que caracteriza sua interação
nhol. Mas esse conjunto está formado por subcon- com os castelhanos. Como procurei mostrar algu-
juntos étnicos com suas culturas específicas, cada res, essa interação catalã/castelhana é uma verda-
um dos quais obedece a uma orientação de com- deira antinomia que, por sua vez, fundamenta a
portamento que lhe é própria. Referimo-nos, neste ideologia da catalanidad (Cardoso de Oliveira,
caso, ao modo cultural de ser de cada etnia, à sua 1995a). As representações negativas vão colhê-los
diferenciação interna enquanto, pelo menos, lín- com o mesmo caráter de desconsideração moral
gua e folclore e, ademais, a um modo de ser, a que vitimaram galegos, bascos e outros imigrantes
uma axiologia e a uma consciência histórica, isto regionais. Tanto estes quanto os castelhanos che-
é, enquanto um grupo etnicamente polarizado nas gam, em determinadas situações, a tratar os cata-
ocasiões de contrastes. lães com as mais variadas formas de descortesia:
quando irritados com a língua catalã, assim se
Nestas ocasiões é que se atualiza a identidade expressam: “A mim, fale-me como cristão!” ou “Os
étnica como identidade contrastiva — de confor- catalães falam como cães!”; e quando politicamen-
midade, aliás, com o que nos ensina a teoria te indignados, interpelam: “Vocês não querem ser
barthiana relativa ao processo de identificação espanhóis!”, ou “Vocês são uns separatistas!”. E
étnica (cf. Barth, 1969; Cardoso de Oliveira, 1976). parecem buscar explicações que, de algum modo,
A situação das minorias étnicas residentes em possam levá-los a melhor compreender os donos
Barcelona corrobora claramente essa teoria: trata- do lugar, dizendo: “Os catalães são muito egoístas
se de identidades coletivas submetidas freqüente- e fechados!”, ou “Falam em catalão para não
mente à humilhação, quando não à desonra. E há podermos entendê-los!” (Esteva Fabregat, 1984, p.
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102). Diante dessas inversões da etnicidade obser- dariamente. A equação resultante da combinação
váveis em Barcelona, pode-se deduzir que a iden- das respostas a essas duas questões indica que
tidade catalã enfrenta dois desafios: de um lado, o
de sustentar o seu domínio sobre os grupos imi- Para o total da Espanha, o que predominava na
grantes ingressados no território catalão; de outro, primeira menção era a referência à localidade,
o de marcar sua soberania perante os castelhanos, povoado ou cidade onde se vivia. Em continuação
representantes reais ou simbólicos do Estado espa- se mencionava o país em conjunto, Espanha; e
nhol. Atuando entre duas frentes na sustentação de finalmente a região, o país [Catalunya, País Basc
sua identidade, os catalães — conforme as circuns- etc.] ou a autonomia. Para a Catalunha a ordem é
tâncias de sua inserção no cenário interétnico — diferente: são menos importantes os sentimentos
vivem a ambigüidade de sua dupla situação: a de locais referentes ao povoado ou à cidade onde se
membros de uma sociedade anfitriã (diante das vive. (Institut Català d’Estudis Mediterranis, 1991,
etnias imigrantes) e a de “povo hóspede” do p. 213)
Estado espanhol, dominado pelos castelhanos.
Isso me leva a considerar um ponto que Isso significa que, comparada à Espanha
talvez ajude a esclarecer melhor aquilo que menci- como um todo, a Catalunha se caracteriza por um
onei há pouco relativamente aos valores vigentes “menor localismo”, ou seja, por uma menor identi-
para os catalães quando inseridos no quadro da ficação com o povoado ou cidade em que se
nacionalidade espanhola. Tomo por referência nasceu. E isso paralelamente a uma “acentuação
uma ampla pesquisa européia sobre valores que da identidade regional ou da nacionalidade catalã”
inclui a Catalunha em sua amostragem. Publicada (idem, p. 214). Mas não se pode dizer que as
com o título O sistema de valores dos catalães. respostas, sobretudo as relativas à primeira ques-
Catalunha dentro da pesquisa européia de valores tão, tenham sido claras e absolutas — razão pela
dos anos 90 (Institut Català d’Estudis Mediterranis, qual houve necessidade de uma segunda questão.
1991), a pesquisa cobre uma ampla variedade de Tal fato levou os responsáveis da pesquisa a
tópicos que descrevem os valores catalães associ- constatarem que “a ambivalência é moeda corren-
ados a objetivos sociais e vitais, à família, à ética e te” entre os entrevistados catalães, o que de certo
à moral, à religião, aos movimentos sociais e modo estaria a indicar crises virtuais no seu proces-
instituições, à política, ao trabalho e à economia. so de identificação étnica. Em última análise, isso
Vou me deter apenas nos valores relativos aos vem fortalecer a interpretação sobre a relativa
“sentimentos de identidade catalã”, parte do tópico ambigüidade da identidade étnica de povos como
sobre valores políticos. Para evitar sobrecarregar o catalão, submetido às condições de existência
esta exposição, fugirei da interpretação das inúme- vigentes em cidades cosmopolitas como Barcelo-
ras tabelas estatísticas em que a Catalunha é com- na. E corroborando essa constatação, a pesquisa
parada ao conjunto da população do país, bem vai demonstrar que em cidades “tipicamente” cata-
como com as diferentes etnias, autonomias ou lãs, como Girona ou Terragona (portanto, mais
nacionalidades que compõem esse mesmo conjun- conservadoras e provincianas), o sentimento de
to. As entrevistas feitas com catalães que se pode catalanidade tende a ser muito mais forte; nelas
considerar inicialmente — e com brevidade — não se observaria indicadores expressivos de am-
fornecem respostas relativas a duas questões: (a) bivalência na afirmação da identidade, como se
“A quais destes agrupamentos geográficos [relacio- observa em Barcelona.4
nados na pergunta] você diria que pertence, em
primeiro lugar?”; (b) “E depois?”. As respostas à ⌦⌦⌦
primeira questão (sobre o lugar de pertencimento)
possuem, sem dúvida, um peso maior comparati- No intuito de explorar um pouco mais a
vamente às respostas à segunda questão, isto é, natureza dos processos identitários, cabe dizer
sobre o lugar que o entrevistado escolheria secun- alguma coisa sobre o que considero ser, talvez,
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senão o melhor, pelo menos um dos mais desafian- cesa], é um impedimento importante para a cons-
tes cenários de investigação sobre a relação dialé- trução de uma “identidade andorrana”, já que
tica entre identidade étnica e identidade nacional. dificulta a apreensão do sentido de continuidade e
E assim continuamos com a mesma orientação de do sentido de comunidade que são imprescindí-
explorar o poder de determinação dos contextos veis para veicular a identidade.5
em que se inserem identidades totais. Quero me
referir agora ao contexto de fronteiras, isto é, de Desde logo pode-se verificar que o quadro
fronteiras entre países. E para quem se habituou ao que contextualiza o processo identitário em An-
significado de “fronteira cultural” ou boundaries, dorra é bastante diferente do encontrado em Bar-
bastante difundido, cabe dizer que prefiro a ex- celona. Nesse minúsculo país de fronteira, a ques-
pressão “limite cultural” para dar conta do sentido tão crítica parece ser menos a da identidade étnica
do termo que lhe atribui Fredrick Barth, deixando e mais a da identidade nacional, quando a cons-
o termo fronteira para expressar o conceito tradici- trução da nacionalidade andorrana fica sobrepos-
onal de “fronteira política”. Naturalmente, não se ta, por sua vez, à identidade (étnica) catalã, pois
trata de realizar pesquisas a respeito de fronteiras, que esta é observável tanto na Espanha e na França
mas apenas de realizá-las na fronteira; e no caso quanto em Andorra. Mas não são apenas catalães
de investigações sobre identidade étnica ou nacio- espanhóis e franceses que emigram para este país.
nal, sublinhe-se que a fronteira se impõe — como Também castelhanos, portugueses e emigrantes de
já disse — como um cenário privilegiado. Mas vários outros lugares da Europa procuram se esta-
antes de falar sobre pesquisas em fronteiras e de belecer nos belos vales dos Pirineus andorranos,
sua relevância específica para a nossa discussão tendo-se a destacar ainda a atração que a Andorra
sobre os caminhos e descaminhos da identidade, moderna e urbana exerce nos setores de comércio,
ainda quero permanecer na realidade catalã, po- finanças e de turismo. Hoje Andorra “é uma socie-
rém não mais na Catalunha espanhola, mas no dade opulenta, plenamente imersa no mundo do
único país oficialmente catalão: Andorra — situado consumo e do cosmopolitismo” (D’Argemir e Puja-
entre Espanha e França, um país inteiramente “de das, 1997, p. 65), e onde três línguas são de uso
fronteira”. Algumas reflexões que sobre ele preten- corrente: o catalão, como idioma oficial, mais o
do fazer servirão de passagem para o próximo e francês e o castelhano, sendo o castelhano a
último tópico desta exposição, antes de empreen- principal “língua de interação e intercâmbio com
dermos as considerações finais. os numerosos turistas que passam pelo país. No
Permanecendo, portanto, ainda com o tema contexto de Andorra, o castelhano tem um valor
catalão, gostaria de tratá-lo agora numa outra claramente instrumental, mais que simbólico ou
dimensão, isto é, passando da questão da catalani- identitário (exceto para aqueles originários de
dade para a da “andorranidade” — ou andorrani- zonas de fala castelhana)” (idem, p. 3).
tat, no idioma catalão. O que significa esse último Diante desse quadro, as evidências que mais
termo? Segundo revela uma pesquisa recente rea- se impõem para a elucidação da nacionalidade
lizada em Andorra pelos antropólogos Dolors andorrana são as seguintes:
d’Argemir e Joan Josep Pujadas (1997, p. 63):
1. Todo o universo cultural deste micro-Estado é
[...] a incorporação de população estrangeira [que catalão; 2. As pessoas nascidas na Catalunha espa-
torna numericamente minoritários os próprios an- nhola ou seus filhos têm uma presença muito
dorranos] propicia um processo de construção numerosa no país, superior à dos andorranos; 3.
nacional em que se procura diferenciar a “andor- Mais de 70% da população residente é estrangeira
ranidade” da “catalanidade” [...] Ademais, o acele- (umas 45 mil pessoas), diante dos 19.653 cidadãos
rado processo de mudança social, somado à hete- do Estado; 4. A segunda residência da imensa
rogeneidade existente no país [com a forte presen- maioria dos andorranos está situada nas costas
ça de imigrantes de cidadania espanhola ou fran- catalãs [no Mediterrâneo]; 5. A imensa maioria dos
OS (DES)CAMINHOS DA IDENTIDADE 15

visitantes e compradores em Andorra é catalã; 6. como “o resultado da acumulação histórica”, como


Os meios de comunicação mais influentes em uma “variável abstrata” de conteúdo psicológico,
Andorra, por razões lingüísticas, são catalães, so- porém central na construção simbólica da cidada-
bretudo a Televisão da Catalunha. (D’Argemir e nia, a bem dizer, da essência da identidade andor-
Pujadas, 1997, p. 66) rana (cf. D’Argemir e Pujadas, 1997, p. 134).
Em suma, a questão da nacionalidade, quan-
Entende-se, assim, a necessidade dos an- do comparada com a da etnicidade, apresenta-se
dorranos de afirmarem sua nacionalidade como no mundo andorrano provavelmente como sua
distinta da dos demais catalães, sejam eles france- expressão mais forte. Nesse sentido, poderíamos
ses ou espanhóis. Diferentemente da antinomia considerá-la como o extremo de um espectro de
étnica catalã/castelhana vigente na Catalunha es- identidades nacionais, onde a nacionalidade ganha
panhola, há pouco examinada, trata-se, em An- contornos excepcionalmente nítidos, com grande
dorra, de uma dicotomia6 que não é étnica, mas poder de sinalização de indivíduos ou grupos no
nacional. Daí a andorranidade e o esforço cívico sistema societário envolvente. E, naturalmente, no
de sua construção. outro extremo do espectro, as identidades nacio-
Para encerrar o exame dessa situação de nais estariam bastante diluídas comparativamente
fronteira, onde etnia e nacionalidade se justapõem às identidades étnicas, como, por exemplo — para
como variáveis no processo identitário, vale a pena ficarmos com o outro extremo do espectro e último
tentarmos aqui indicar certas características bastan- tópico a ser considerado —, as identidades de
te esclarecedoras desse processo dotado, aliás — índios situados em regiões de fronteira, observá-
como estou procurando mostrar —, de profunda veis em nosso continente. O caso da identidade
ambigüidade. Essas características estão bem assi- andorrana que estamos acabando de considerar
naladas pelos colegas catalães mencionados, serve-nos aqui de ilustração de um “tipo ideal” de
D’Argemir e Pujadas, para os quais os contrastes identidade nacional, como uma identidade sujeita
entre nós e eles, marcadores do jogo de exclusão a ser invocada quase cotidianamente, mesmo
e inclusão que expressa a natureza da identidade quando os cidadãos andorranos se encontram no
contrastiva, podem ser observados com referência interior de seu próprio país; pois qual o sentido de
a vários operadores simbólicos. alguém invocar sua nacionalidade quando dentro
A terra ou território é certamente o primeiro de seu próprio país? Isso é algo que parece não
desses operadores, onde o nós são os filhos da fazer sentido, salvo em áreas de fronteiras comuns
terra e os outros são os recém-chegados. Como com outros países, onde a nacionalidade torna-se
segundo operador simbólico tem-se a história real então absolutamente operacional — que é, preci-
ou suposta (as lendas), que remonta à época de samente, o caso de Andorra.
Carlos Magno, fundador do Principado de Andor-
ra. O sangue é o terceiro operador, marcador de ⌦⌦⌦⌦
uma ancestralidade genética, isto é, ser “andorrano
de raiz” ou, conforme a expressão catalã, andor- Interessado em aprofundar a elucidação des-
rans de soca. A língua aparece como o quarto sa questão das identidades étnicas e nacionais nas
operador, pois se identifica univocamente todos os situações fronteiriças, decidi iniciar um programa
catalães de Espanha e França, possui um peso de pesquisa voltado precisamente às relações ob-
simbólico extremamente importante para a cidada- serváveis em diferentes fronteiras internacionais.
nia andorrana, uma vez que Andorra é o único Trata-se de um programa de pesquisa capaz de
Estado que tem o idioma catalão por língua oficial. abrigar projetos individuais de investigação com-
A propriedade, seja individual ou comunitária, parada destinados, em sua maioria, à elaboração
também é um atributo de andorranidade que não de dissertações de mestrado e de teses de doutora-
se pode deixar de considerar. Finalmente, temos o mento. É um programa que no momento estou
que se pode denominar de caráter, entendido coordenando no Centro de Pós-Graduação e Pes-
16 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 15 No 42

quisa para a América Latina e o Caribe (Ceppac), da fronteira tríplice, Foz do Iguaçu, Puerto Iguazu, na
Universidade de Brasília, e que está aberto a outras província argentina de Misiones, e Ciudad del Este,
unidades da UnB bem como à cooperação com no Paraguai. E, ainda, nessa mesma província
outras universidades. Quanto às estratégias de argentina, Posadas e Encarnación no Paraguai, ou,
investigação, vale esclarecer que embora o progra- na fronteira Uruguai-Argentina, as cidades de Salto
ma tenha um marco teórico bastante amplo, uma e Concórdia e as de Paysandú-Colón e Concepción
vez que se filia ao campo da etnicidade e das del Uruguai.
identidades sociais — como pude explicitar em Esses espaços fronteiriços, se bem que con-
artigo recente (Cardoso de Oliveira, 1997) —, em centrados na região do Mercosul (pelo único mo-
nenhum momento ele pretende ter o monopólio tivo de que nessa área se está concentrando ex-
de um ponto de vista, certamente antropológico, pressivo número de pesquisas), incluem outros,
que venha eliminar a possibilidade de participação como o constituído pela articulação das cidades
de estudantes ou colegas originários de outras de Letícia e Tabatinga, praticamente unidas por
disciplinas, como a Sociologia, a Ciência Política, a uma pequena estrada entre Colômbia e Brasil,
Psicologia Social ou a História. O nosso interesse por onde transitam índios Tükúna e não-índios;
(isto é, dos membros desse programa) é não ou, ainda, para exemplificar com grandes regiões
apenas comparar situações de fronteira — a come- e não apenas com cidades, a área indígena Rapo-
çar pela comparação de ambos os lados dessa sa/Serra do Sol, habitada pelos Makuxi, nas fron-
fronteira —, mas também proceder à avaliação das teiras brasileiras com a Guiana e a Venezuela,
diferentes abordagens ou pontos de vista teórico- uma área que recentemente esteve em grande
metodológicos exercitados no trato de uma mesma evidência pela luta política para a sua demarca-
e ampla temática. ção. Também é importante assinalar que essas
Abstraindo-nos dos aspectos estritamente regiões de fronteira, em maior ou menor grau,
acadêmicos desse programa, sua menção nesta abrigam sistemas de interação não só entre nacio-
oportunidade justifica-se porque ele nos conduz a nalidades e etnias extremamente variadas, e não
um patamar de discussão raramente proporciona- apenas indígenas, como bem ilustram as áreas
do entre nós: o da situação vivida nas condições de Tükúna e Makuxi — que acabei de mencionar —,
fronteira, a saber, quando indivíduos e suas famí- mas também entre contingentes populacionais
lias vivem compulsoriamente o contato com o massivamente representados por imigrantes de
Outro, aquele que está “do outro lado”, submetido diferentes nacionalidades. Essas áreas de circula-
a outras leis, ditadas por outro Estado nacional, a ção latino-americana e de imigração européia
outros costumes, em suma, a outros padrões cultu- apresentam-se, portanto, na região do Mercosul,
rais, quando não — em alguns casos, como o das como exemplos privilegiados de interação inter-
relações entre brasileiros e seus vizinhos hispano- cultural e interétnica.
americanos — a outros idiomas. Daí porque a Vou me permitir reproduzir aqui algumas
situação de fronteira, assim vivida, diverge radical- considerações já feitas algures (Cardoso de Olivei-
mente da situação vivenciada por cidadãos de um ra, 1997, pp. 13-14) sobre esses interessantes cená-
“país de fronteira”, como vimos no caso de Andor- rios, os quais se encontram abertos à pesquisa:
ra. Quais, portanto, as peculiaridades de cidades
fronteiriças como as que podemos observar no É assim que em ambos os lados da fronteira pode-
espaço latino-americano, que se encontram dividi- se constatar a existência de contingentes popula-
das — ou, melhor dizendo, unidas — seja por uma cionais não necessariamente homogêneos, mas
rua (como Rivera e Santana do Livramento, ou diferenciados pela presença de indivíduos ou
Chuí e Xui, todas na fronteira Brasil-Uruguai), seja grupos pertencentes a diferentes etnias, sejam elas
por uma ponte (como Artigas e Quarai, ou Rio autóctones ou indígenas, sejam provenientes de
Branco e Jaguarão, na mesma fronteira); cidades outros países pelo processo de imigração. Ora,
como Uruguaiana e Pasos de los Libres; ou, como isso confere à população inserida no contexto de
OS (DES)CAMINHOS DA IDENTIDADE 17

fronteira um grau de diversificação étnica que, alto rio Solimões, na tríplice fronteira Brasil-Co-
somado à nacionalidade natural ou conquistada lômbia-Peru, onde estão situados os já menciona-
do conjunto populacional de um e de outro lado dos Tükúna, o que se pode observar é a grande
da fronteira, cria uma situação sociocultural extre- facilidade com que esses índios transitam nas
mamente complexa. No caso das etnias — se me fronteiras onde a identidade indígena prepondera
é concedido o direito de especular —, não se trata nitidamente sobre as identidades nacionais. Se
mais de considerá-las em si mesmas, isto é, en- tomarmos a moeda como símbolo de interação
quanto tais, mas de inseri-las num outro quadro de entre os atores Tükúna, veremos que o real brasi-
referência: o quadro (inter)nacional. A rigor, po- leiro, o peso colombiano e o sol peruano são
der-se-ia dizer que tal quadro teria sua configura- para as populações fronteiriças um objeto de
ção marcada por um processo transnacional, desejo em nada diáfano, uma vez que as moedas
apontando esse termo para o caráter dinâmico das têm sua procura determinada pela maior ou me-
relações sociais vividas em fronteira. E é precisa- nor taxa cambial do momento! Esses Tükúna,
mente esse processo transnacional que, a meu ver, particularmente os que vivem às margens do So-
se impõe ao observador como uma instância limões, uma verdadeira estrada fluvial (pois há os
empírica sujeita à descrição sistemática. Portanto, que vivem mais afastados do grande rio, nos
no caso de uma situação de fronteira, aquilo que altos igarapés), bem sabem o valor de cada moe-
surge como poderoso determinador social, políti- da ao câmbio do dia... Já quanto à nacionalidade,
co e cultural — provavelmente mais do que a como uma segunda identidade, é claro que ela
etnicidade — passa a ser a nacionalidade dos será instrumentalizada de conformidade com situ-
agentes sociais. É quando nacionalidade e etnici- ações concretas em que os indivíduos ou os gru-
dade se interseccionam, tal qual identidades que pos estiverem inseridos, como a de procurarem
passam a ocupar um mesmo espaço. E é exata- assistência à saúde, à educação dos filhos ou
mente esse espaço ocupado pela nacionalidade uma eventual proteção junto a forças militares de
que tende a se internacionalizar, graças ao proces- fronteira: seriam casos típicos de manipulação de
so de transnacionalização que nele tem lugar. identidade junto a representantes dos respectivos
Torna-se um único espaço virtual — do ponto de Estados nacionais.7
vista social e cultural — ao longo de um processo Em outros cenários internacionais onde se
histórico onde — como seria de se esperar — encontram povos indígenas — portanto, em outras
apenas a dimensão política, ou melhor, a identida- fronteiras —, formas bastante inovadoras em rela-
de política e, portanto, a nacionalidade, continua- ção às culturas tribais podem ser observadas, como
ria a marcar a identificação dos indivíduos num ou o uso de passaporte para circulação regional, por
noutro lado da fronteira. eles mesmos reivindicado. A divisão dos territórios
étnicos por fatores exógenos, como a ação de
Nesse sentido, vale considerar, no que diz Estados nacionais invasores, responsáveis por re-
respeito ao processo identitário, que se trata de um parti-los em várias jurisdições — conforme nos
espaço marcado pela ambigüidade das identidades relata o antropólogo boliviano Xavier Albó —,
— um espaço que, por sua própria natureza, abre- levou “indígenas de alguns países, como os Guaji-
se à manipulação pelas etnias e nacionalidades em ros da Colômbia-Venezuela ou os Shuar do Equa-
conjunção. dor-Peru, a postular formalmente uma espécie de
Vamos examinar mais detidamente o caso passaporte próprio que os permita transitar através
das etnias indígenas situadas em áreas de frontei- do território, para um e outro lado das atuais
ra — e que constituiriam o outro extremo do fronteiras estatais”. O mesmo autor ainda comenta:
espectro do processo identitário, ao qual me refe- “A freqüência com que ocorrem situações seme-
ri momentos atrás, a saber, onde as identidades lhantes também em outros países nos faz pensar
nacionais estariam bastante diluídas quando com- que a proposta de um Estado plurinacional resulta-
paradas às identidades étnicas. No cenário do ria em algo mais viável dentro de uma confedera-
18 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 15 No 42

ção interestatal a nível andino ou continental” E é verdade que pelo menos a partir do final
(Albó, 1995, p. 431). Ainda que me pareça bastante dos anos 60, quando os movimentos sociais de
utópica — e, pelo que me consta, não seja uma afirmação de identidade começaram a eclodir —
reivindicação das lideranças indígenas no Brasil —, como, no caso dos índios, o pan-indianismo está aí
esta é uma questão da maior importância mas que, para confirmar —, a auto-afirmação da identidade
infelizmente, extrapola os limites aos quais me indígena passou a ser uma regra de aceitação
impus nesta exposição. Entretanto, é um tema que absoluta pelo movimento. O ser índio passou a ser
chama a atenção para várias questões associadas, fonte de dignidade e de autovalorização do “Nós
como as que se relacionam com o multiculturalis- tribal”. Tal como no movimento negro norte-ame-
mo ou a sociedade plural, entre outras, todas elas ricano cunhou-se a expressão “Black is beautiful”,
estratégicas para se pensar o país e a América no movimento indígena expressões equivalentes
Latina no âmbito da problemática da construção de começaram a surgir. O reconhecimento da identi-
uma sociedade e de um Estado efetivamente de- dade do indígena como ser coletivo passou então
mocráticos. a ser mais do que um direito político; passou a ser
Mas, o mais interessante a ressaltar relativa- um imperativo moral. Como diz Taylor (1994, p.
mente às identidades modernas dos “povos origi- 42), “o reconhecimento não é simplesmente uma
nários” — para adotarmos uma expressão “politi- polidez que se faz às pessoas: é uma necessidade
camente correta” no âmbito do atual movimento humana vital”. Com isso quero dizer que a ambi-
pan-indígena — é que os seus objetos culturais de güidade histórica da categoria índio, como termo
desejo recentes, como a moeda ou o passaporte, identitário originalmente pejorativo, acabou por se
são o resultado da necessidade que esses povos desfazer no bojo dos movimentos indígenas liber-
têm de incorporar em seu modo de vida meios de tários.
sobrevivência nesse novo mundo em que foram
obrigados a se inserir. “Sofrem, então, em nome de ⌦⌦⌦⌦⌦
uma [suposta] cidadania universal, novas formas
de colonialismo etnocêntrico” (Albó, 1995, p. 432). Penso que é chegada a hora de concluir.
Porém, o que talvez seja o pior é o efeito moral- Pudemos ver que, a despeito da variedade dos
mente perverso do etnocentrismo colonial, que cenários examinados — propositadamente esco-
tende a transformar a consciência indígena numa lhidos —, eles têm em comum um conjunto de
“consciência infeliz” — para usar uma expressão pontos que vale ressaltar. De uma maneira muito
hegeliana de que me vali em outro lugar (Cardoso sucinta, apontaria três deles:
de Oliveira, 1996) e que descreve essa consciência 1. O reconhecimento da identidade étnica ou
como cindida em duas, levando “o índio a se ver nacional seria o primeiro ponto em comum a
com os olhos do branco”, do colonizador. Vejamos destacar, uma vez que é fundamental em quais-
o que diz a respeito Charles Taylor, autor citado no quer dos cenários escolhidos. Para todas essas
princípio desta exposição: manifestações de identidade étnica e nacional
talvez se ajuste bem o conceito de identidades
[...] após gerações, a sociedade branca forjou uma traduzidas, formulado originalmente pelo escritor
imagem depreciativa à qual certamente [os discri- indiano Salman Rushdie, com a expressão “ho-
minados] não tiveram força para resistir. Desse mens traduzidos”, para exprimir a idéia de homens
ponto de vista, esta autodepreciação tornou-se e mulheres que são simultaneamente plurais e
uma das armas mais eficazes de sua própria parciais.8 Os diferentes casos examinados, de um
opressão. Seu primeiro objetivo deverá ser desem- modo ou de outro, expressam essas identidades
baraçar-se dessa identidade imposta e destrutiva. traduzidas, ainda que com intensidade variável
Recentemente, uma análise semelhante foi feita segundo os fatores de cultura, a qualidade do
pelos povos indígenas e colonizados em geral. contato interétnico e/ou as nacionalidades em
(Taylor, 1994, p. 42) conjunção, e o fato de as relações entre os agentes
OS (DES)CAMINHOS DA IDENTIDADE 19

sociais serem conflituosas ou não. Naturalmente, o sim, mais do que este último, “uma necessidade
caráter crítico da relação entre o Nós e os Outros, humana vital”, para repetirmos as palavras de
gerador de crises reais ou potenciais, tem um papel Charles Taylor, agora aplicada à consideração
definitivo. Nesse sentido, pode-se imaginar uma como condição de moralidade nas relações interé-
gradação, do menor até o maior grau de virulência, tnicas ou entre nacionalidades. A consideração
ou seja, do caso dos imigrantes sul-americanos (os pelos Outros, indispensável à própria autoconside-
brasileiros e a professora uruguaia nos Estados ração, seria a verdadeira fonte de dignidade do
Unidos) até a situação de fronteira vivida por Nós, tanto quanto do Self, seja ele étnico ou
povos indígenas (como os Tükúna, os Guajiro ou nacional. E a ênfase que estou pondo na dignida-
os Shuar), passando pelos cenários habitados pe- de das identidades “desplazadas”, traduzidas, ou
los catalães, onde pudemos visualizar a menciona- mesmo estigmatizadas, inerentemente ambíguas
da dialética entre a etnicidade e a nacionalidade devido aos azares dos novos contextos sociais e
(em Barcelona e em Andorra). culturais em que se vêem inseridas, espero que
2. O respeito à diferença é outro elemento represente — nesta oportunidade em que me dirijo
da interação social recorrente em todos os cenários aos colegas aqui presentes — um estímulo ao
considerados. Evidentemente, também aí pode-se desenvolvimento de pesquisas nesta direção, em
observar uma variação no espectro do relaciona- que questões de moralidade, sobretudo quando
mento entre o Nós e os Outros, desde uma posição associadas a processos identitários como os que
em que se rejeita qualquer diferença (como no examinamos, possuem a mesma espessura empíri-
caso dos imigrantes sul-americanos “brancos”), ca que os demais fenômenos com os quais as
pois ela tende a assumir uma forma étnica (Hispa- ciências sociais estão habituadas a investigar. O
nic), quando não simplesmente racista, em lugar que diagnostiquei como “os (des)caminhos da
de privilegiar a nacionalidade, que seria a natural identidade” não significa mais do que um alvo de
reivindicação de um cidadão de outro país; até a pesquisa e de reflexão, para o qual eu gostaria
aceitação voluntária da diferença (como os índios, muito que colegas e estudantes de ciências sociais
na outra ponta do espectro), desde que ela seja pudessem, em algum momento, dirigir sua atenção
absolutamente respeitada. Já nos cenários marca- e, melhor ainda, os seus estudos. Muito obrigado.
dos pelas identidades catalã e andorrana, o respei-
to à diferença exprime-se como tolerância recípro-
NOTAS
ca aos costumes tradicionais característicos de uns
e de outros, sejam eles catalães espanhóis, france-
ses ou andorranos, separados por suas respectivas 1 Cf., por exemplo, Isaacs (1974, p. 17), artigo incluído,
nacionalidades. com algumas alterações, em uma coletânea de grande
repercussão no meio acadêmico internacional, intitula-
3. Como corolário ético aos dois pontos da Ethnicity: theory and experience (Glazer e Moynihan,
anteriores, pode-se observar nos diversos cenários 1975), que reuniu prestigiosos autores como Talcott
uma expectativa dos agentes sociais, étnicos ou Parsons, Daniel Bell, Milton Gordon, Daniel Horowitz,
dentre outros.
nacionais, quanto à elevação daquilo que poderí-
2 O célebre texto de Barth é uma curta introdução a uma
amos chamar de “taxa de consideração”. É impor- coletânea de ensaios escritos por ele e seus colaborado-
tante ter em conta que enquanto os dois primeiros res sobre os limites dos grupos étnicos e a organização
pontos são de ordem política — esfera na qual social da diferença cultural (Barth, 1969).
políticas públicas como a “ação afirmativa” ou o 3 Apoiado em Charles Taylor, Luís Cardoso de Oliveira
multiculturalismo, entre outras, teriam uma de- (1997, p. 5) procura elucidar essa importante questão
sobre a desconsideração moral na análise de um caso
manda certa —, este ponto é de ordem moral. E, concreto relativamente ao Canadá: “[...] as demandas de
por essa razão, talvez mais difícil de observação reconhecimento têm pelo menos duas características
empírica. Contudo, creio que ficou evidenciado no importantes que se manifestam de maneira acentuada
no caso do Quebec: (1) um forte conteúdo simbólico
exame dos diferentes cenários que é a considera- que torna absolutamente indissociável a relação entre
ção que está na base do reconhecimento — aquela direitos e valores e (2) a dificuldade de serem satisfeitas
20 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 15 No 42

fora de condições dialógicas mínimas, nas quais o CARDOSO DE OLIVEIRA, Luís. (1997), “Democracia,
reconhecimento do interlocutor reflita uma aceitação hierarquia e cultura no Quebec”. Série Antro-
genuína da(s) particularidade(s) do outro. Enquanto a pologia, Departamento de Antropologia da
primeira característica indica que a falta de reconheci- Universidade de Brasília, 232.
mento, ainda que essencialmente simbólico, pode ame-
açar direitos através de atos de desconsideração — CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. (1976), Identida-
traduzidos na rejeição ou na desvalorização da identida- de, etnia e estrutura social. São Paulo, Pionei-
de do outro —, a segunda sugere que a eventual ra.
reparação da desconsideração não pode ser plenamen-
te efetivada por meios exclusivamente legais.” __________. (1995a), “Identidade catalã e ideologia
4 “A proporção maior dos que se sentem catalães encon- étnica”. Mana: Estudos de Antropologia Social,
tra-se nas populações de Girona e Terragona; a propor- Rio de Janeiro, PPGAS/Museu Nacional, 1, 1.
ção maior dos que se sentem espanhóis se encontra em
__________. (1995b), “A etnicidade como fator de
Barcelona.” (Institut Català d’Estudis Mediterranis, 1991,
p. 217). estilo”. Cadernos de História de Filosofia e
Filosofia da Ciência, 3, 5; republicado em
5 “O estudo etnográfico dos vales de Andorra teve como Roberto Cardoso de Oliveira, O trabalho do
objetivo reconstruir os principais elementos que dão
antropólogo, Brasília, Paralelo 15/Ed. da
especificidade à sociedade e à cultura andorranas.”
(D’Argemir e Pujadas, 1997, p. 9). Foi encomendado
Unesp,1998.
pelo governo de Andorra e realizado em 1994-1995 por __________. (1996 [1964]), O índio e o mundo dos
um casal de antropólogos, Dolors Comas d’Argemir e brancos. 4ª ed., Campinas, Ed. da Unicamp.
Joan Josep Pujadas, docentes da Universitat Rovira i
Virgili, de Terragona, na Catalunha espanhola. __________. (1997), “Identidade, etnicidade e nacio-
6 O uso do termo dicotomia em lugar de antinomia nalidade no Mercosul”. Política Comparada:
aponta para a diferença de natureza da relação catalão/ Revista Brasiliense de Políticas Comparadas, 1,
castelhano quando comparada com a relação catalão 2.
(espanhol ou francês)/andorrano: a primeira relação
envolve conflito (étnico), quando não explícito, pelo COHEN, Abner. (1974), “Introduction: the lesson of
menos virtual, ao passo que a segunda relação exprime ethnicity”, in A. Cohen (org.), Urban ethnici-
apenas o caráter de diferenciação (de nacionalidade) na ty, Londres, Tavistock Publication.
interação.
D’ARGEMIR, Dolors C. e PUJADAS, Joan J. (1997),
7 Em meu livro O índio e o mundo dos brancos (Cardoso Andorra, un país de frontera: estudi etnogràfic
de Oliveira, 1996) o leitor encontrará informações etno- dels canvis economics, socials i culturals. Bar-
gráficas mais completas sobre a inserção desses índios
celona, Editorial Alta Fulla.
no sistema monetário.
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