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OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - PALESTRA

Ilton Carmona de Souza


Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo
Membro da Comissão dos Novos Advogados do IASP
Advogado em São Paulo

Introdução

O presente estudo tem como escopo apresentar


sinteticamente os principais aspectos destes recursos, tais como
sua origem e evolução histórica, seu procedimento nos tribunais,
com remissões ao modus operandi anterior e, finalmente, analisar
algumas de suas especificidades e os principais pontos polêmicos
que a doutrina anota.

Os embargos de declaração estão previstos


topicamente em seqüência aos embargos infringentes, nos artigos
535 a 538 do CPC, e não sofreram alterações com a reforma de
2002.

É importante, antes, repisar algumas características dos


recursos que reputo necessárias à melhor compreensão dos
embargos.

Bom, primeiramente, os recursos têm sua origem de


longa data e desde sempre tem servido a propósitos relevantes nos
sistemas processuais. Nesse sentido, a finalidade imediata dos
recursos é permitir um novo julgamento da causa ou a anulação
do julgamento anterior para que seja proferido um novo, quer pelo
juiz original, a quo, quer seja pelo juízo recursal, ad quem. Tem-
se, ainda, recursos que visam a ensejar um esclarecimento ou
integração da decisão judicial impugnada. O novo julgamento
permitiria, então, que fossem corrigidas eventuais distorções
formais ou materiais na decisão recorrida.
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Ressalte-se, entretanto, que os recursos apresentam


uma função social mais profunda, na medida em que, geralmente,
os recursos são decididos por um outro juiz, com mais
experiência, ou por um grupo de juízes, organizados em
colegiados. Diz-se “geralmente” pois os embargos de declaração,
por exemplo, que estudaremos ao final, são julgados pelo mesmo
juiz.

Os sistemas processuais vigentes na maioria dos


países, geralmente, utilizam-se destes dois expedientes, quais
sejam, o recurso é julgado por um grupo de juízes, mais
experientes. Este sistema de colegiado é utilizado nos tribunais
nacionais, por opção do legislador, daí a denominação do juiz
original de singular.

Essa construção garante uma maior conformidade da


parte, ou seja, mesmo derrotada na lide, a parte sai ciente de que
obteve um julgamento justo, ela se conforma com a decisão do
órgão colegiado e mais experiente, ainda com mais força quando
derrotada duas vezes (dupla sucumbência) no juízo a quo e no
juízo ad quem. Esta é a sua função social, a de pacificação da
sociedade.

Em nosso sistema, portanto, teremos certos tipos de


atos realizados num processo que estarão sujeitos à revisão,
recorríveis pelos diversos recursos previstos no código de
processo civil. Temos então as decisões interlocutórias, as
sentenças e os acórdãos (frise-se que despachos sem conteúdo
decisório não são recorríveis e o despacho com conteúdo
decisório “pura e simplesmente não é despacho”, nos dizeres de
Barbosa Moreira, eles são, na verdade, decisões interlocutórias).

Adiantamos que os embargos infringentes, na letra do


art. 530, caberão “quando o acórdão não unânime houver
reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver
julgado procedente ação rescisória”. Isso nos leva à questão: o
que é um acórdão? Pois bem, vamos novamente à letra da lei: art.
163 “recebe a denominação de acórdão o julgamento proferido
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pelos tribunais”. Aqui, então, já fica claro o que é um acórdão,


que é o pronunciamento judicial sujeito ao recurso de embargos
infringentes.

Declaração – leitura do art. - Já com relação aos Embargos de


Declaração, a previsão do artigo 535 reza que estes caberão
quando “inciso I - houver, na sentença ou no acórdão,
obscuridade ou contradição e inciso II – for omitido ponto sobre o
qual deva pronunciar-se o juiz ou tribunal”. Escopo - Este é um
recurso, portanto, que tem o escopo, o objetivo de que a decisão
seja feita ou refeita sem erros. Que a jurisdição seja aplicada de
modo claro a todas as pessoas. Nesse sentido, a jurisprudência é
pacífica no entendimento de que todas as decisões estariam
sujeitas aos embargos de declaração.

Conclusão quanto a embargos declaratórios – Quais Atos?


Nas palavras de José Carlos Barbosa Moreira: “Não tem a
mínima relevância que se trate de decisão de grau inferior ou
superior, proferida em processo de cognição, de execução ou
cautelar. Tampouco importa que a decisão seja definitiva ou não,
final ou interlocutória”. Fica, destarte, claro o cabimento dos
embargos de declaração, contra todo e qualquer ato com conteúdo
decisório.

Quando – Introdução histórica - Dando seqüência, já sabemos


quais são os atos embargáveis e a pergunta agora é quando, qual
a circunstância que permite sua interposição. Quando o
acórdão é embargável? Pela leitura dos artigos, já se dá para ter
essa noção, mas vamos voltar um pouco para mostrar a evolução
dos embargos no sistema processual pátrio.

Remédio Luso-brasileiro - Os embargos, em sua origem e como


toda a doutrina reconhece, são um remédio tipicamente luso-
brasileiro, esse o termo por todos utilizado, e a sua função não era
de um recurso processual, mas um remédio processual. Ou seja,
era uma impugnação à alguma decisão.
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Origem antiga - E nesse ponto ambos os recursos que estamos


estudando provêm da mesma origem. Os embargos, em sua
criação, eram, igualmente à apelação, meios de impugnação às
sentenças de primeiro grau, já no século XIII, mas eram um
recurso inominado, isso segundo o autor Moacyr Lobo da Costa
(afirmava o autor que haveria um recurso igual à apelação, pelo
qual a parte poderia reffertar a sentença, e o autor indica que este
verbo era sinônimo de impugnar, contrariar).

Origem do Termo Embargos - Já outros autores como Egas


Dirceu Moniz de Aragão, repetido por Barbosa Moreira afirmam
que sua origem está nas Ordenações Afonsinas, que foram
vigentes de 1446 até 1521, em que era encontrado o termo
“Embargos Modificativos”, e tais embargos só poderiam se dar
contra a execução de sentença, para alegar o pagamento ou a
compensação do débito, ou seja, nada que negasse a decisão da
sentença.

Outros tipos de Embargos – Ordenações Afonsinas - Por sua


vez, o já mencionado Moacyr Lobo da Costa afirma,
desvinculando a necessidade do termo “embargos”, que já haveria
outros embargos ainda nas Ordenações Afonsinas, espalhados em
seus títulos. Ele acrescenta outros dois tipos de impugnações, que
o autor chama de Embargos Declaratórios e Embargos
Ofensivos. Os primeiros para atacar as palavras duvidosas em
sentenças, e os segundos para alegar situação preexistente à
sentença, que a tornaria desnecessária, como outra sentença sobre
o mesmo ponto ou o pagamento ou a prescrição.

Igual até 1850 - Tais embargos se mantiveram nas ordenações


Manoelinas e Filipinas. Nas ordenações Filipinas utilizou-se pela
primeira vez o termo Embargos Declaratórios, época em que se
deu a independência do Brasil. Uma lei sem numeração, mas
datada de 20.10.1823, determinou que se mantivesse em vigor as
disposições portuguesas até então vigentes. E em 1850, com o
regulamento n.º 737, houve a utilização da nomenclatura
“embargos infringentes”, e cabiam, como hoje, contra acórdãos
de segundo grau. De acordo com o seu art. 663, nestes poder-se-ia
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alegar qualquer nulidade do processo, e quanto ao mérito somente


se houvesse prova documental sobre a alegação. Os embargos
declaratórios mantiveram-se praticamente iguais desde então.

1939 - Portugal – Brasil - Em 1939, o Código de processo Civil


Português eliminou os embargos infringentes de seu sistema. Já
no Código de Processo Civil pátrio, do mesmo ano, estes restaram
mantidos, e previstos com esse nome em três hipóteses: nas
sentenças de pequeno valor, em que não cabia sentença; contra
acórdãos do Supremo Tribunal Federal; e nas decisões não-
unânimes proferidas em julgamento de apelação e ação
rescisória.

O Decreto-lei 8570 de 1946 restringiu o cabimento nesta última


hipótese, sendo que os embargos só poderiam se fundamentar no
voto minoritário desta decisão não-unânime.

1973 – mais restrição - Em 1973, com a publicação do CPC em


vigor, e apesar da tentativa de eliminar os embargos infringentes
do nosso sistema, mais uma vez ele se manteve, porém restringiu-
se seu cabimento a apenas esta última hipótese.

2001 – restrição - E, finalmente, em 2001 a lei 10.352 restringiu


ainda mais os embargos infringentes, cabíveis apenas contra
julgamentos de apelação que houverem reformado sentença de
mérito e ação rescisória julgada procedente.

Introdução - Findado o escorço histórico dos embargos, cumpre


separarmos os temas para a sua melhor compreensão. Comecemos
com a análise dos embargos infringentes.

EMBARGOS INFRINGENTES
Embargos Infringentes – Bom, já vimos que os embargos
infringentes são um recurso, e já vimos que o ato decisório que
ele visa a atacar é o acórdão. A pergunta que ficou sem resposta é
a oportunidade de seu cabimento: quando que este recurso é
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cabível. Ele depende de três circunstâncias concorrendo, tudo de


acordo com a recente reforma.

Circunstâncias – primeira - Voltemos ao artigo 530 do CPC:


Em primeiro lugar, “quando o acórdão não unânime”. Isto quer
dizer que os acórdãos são julgados por um órgão colegiado, que
pode ter 3 ou mais juízes, votando as questões deduzidas pelas
partes e as questões de ordem pública. Quando o julgamento for
unânime, a decisão tende a ser mais correta. Quando o julgamento
se der num sentido por maioria, isto significa que a decisão não
parece a mais correta nem para, pelo menos, um dos juízes
que a julgaram. Neste caso, o sistema pátrio faculta à parte uma
nova decisão para que haja uma maior consenso entre os
julgadores, para uma decisão mais correta. Não quer dizer que o
sistema exija um consenso entre os julgadores, mas tão-somente
um outro julgamento para satisfazer a parte, isto porque se não
houver unanimidade no julgamento dos Embargos Infringentes,
não caberá um outro recurso de Embargos Infringentes.

Circunstância – Segunda - Esta já é a outra circunstância: ao


artigo 530. Em segundo lugar “acórdão em grau de apelação ou
ação rescisória”. Ou seja, deve haver a sentença de primeiro grau
recorrida através de apelação, e esta apelação deve ter sido
julgada, com a produção de um acórdão. Ou deve haver uma
sentença de mérito transitada em julgado a menos de dois anos, e
que sua causa seja rejulgada através da competente ação
rescisória, com a produção de um acórdão. Somente esses dois
acórdãos poderão ser embargáveis na forma infringente.

Circunstância – Terceira - Mas não basta isso, há a terceira


circunstância prevista no artigo 530: acórdão que houver
reformado a sentença de mérito ou o acórdão que julgue
procedente a ação rescisória. São três aspectos: a)importante
alteração da lei 10.352 é que, agora, os embargos são só contra
sentença de mérito, antes podia ser contra sentença terminativa,
que não julgasse o pedido do Autor; b) outra nota importante é a
questão da ação rescisória, pois na ação rescisória julga-se,
primeiramente, se a ação é admissível (condições da ação,
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pressupostos processuais), depois, julga-se se a decisão original


deve ser rescindida, e se for rescindida, declara-se a nova decisão
que substituirá a anterior, num novo julgamento da causa. Com a
reforma de 2001, só caberão os embargos infringentes se a
decisão original for rescindida, e a nova for julgada procedente; c)
sentença que houver sido reformada.

Divisão em momentos - Para esta ficar mais claro vamos separar,


então, a situação que enfrentamos em três momentos, referentes
tanto à apelação quanto à rescisória. No primeiro momento, você
tem o processo de primeiro grau que culmina em uma sentença
de mérito. Ou, no caso de você embargar na ação rescisória, você
tem todo um processo que culminou numa decisão transitada em
julgado. Depois, num segundo momento, você tem a apelação
contra a sentença de mérito junto ao Tribunal que culmina no
acórdão. Ou, no caso da rescisória, o processo da ação rescisória
em si que culmina num acórdão também. Estes acórdãos são o
que se chama de acórdão embargado ou recorrido. E, finalmente,
no terceiro momento, há a interposição dos embargos
infringentes contra esse acórdão, o embargado, que culmina em
outro acórdão, soberano.
Primeiro Caso:

Processo de Embargos
Apelação
Primeiro Grau Infringentes

Acórdão
reformado
Sentença
r por Acórdão
de Mérito
maioria

Segundo Caso:
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Processo não mais Embargos


Ação Rescisória
recorrível infringentes

Decisão Acórdão
transitada procedent Acórdão
em e por
julgado maioria

Conclusão de cada momento - Então, cientes desses três


momentos, há a uma decisão do tipo que mencionei na primeira
momento, em um sentido, seja pró-autor ou pró-réu. A parte
derrotada interpõe a apelação ou ação rescisória contra tal decisão
e ganha no Segundo momento, ou seja, o acórdão do Segundo
momento reformou a decisão da primeira fase. Neste caso, e
somente neste caso, caberão os embargos infringentes. Não
caberão, portanto, se a parte for derrotada duas vezes, no primeiro
e no segundo momento (dupla sucumbência).

Procedimento – Então vamos ao procedimento. Após a


publicação do acórdão, a parte vencida, de acordo com o art. 499
do CPC, dispõe do prazo de 15 dias para protocolar a petição dos
Embargos infringentes. Essa petição deve ser direcionada ao
Exmo. Sr. Dr. Desembargador Fulano de Tal, relator do acórdão
embargado.

Petição - Nessa petição, deve constar a identificação do


recorrente e do recorrido, as razões da inconformidade com a
decisão impugnada e o pedido de novo julgamento. Geralmente,
são feitas duas petições: uma de interposição, encaminhada,
então, para aquele Dr. Fulano de Tal, opondo os embargos e
requerendo seu processamento, com as razões inclusas. E na outra
petição, grampeada junto com a petição de interposição, a parte
transcreve suas razões, para que o voto vencido prevaleça.
Normalmente, as razões são direcionada para a turma que vai
julgar, então se coloca a epígrafe: Egrégio Tribunal de Justiça ou
de Alçada, Colenda Câmara, Ínclitos ou Eméritos
Desembargadores (ou Juízes, ou Julgadores), e Douto Relator.
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Razões – Voto Vencido - Com relação às razões da


inconformidade, deve-se fundamentá-las baseando-se no voto
vencido, sendo que a parte do pedido que ultrapassar o voto
vencido não será conhecida para apreciação nos embargos. Esta é
a idéia em si dos embargos infringentes.

Exemplos 1 – Um pedido: Primeiro – No julgamento da apelação


havia um pedido. Dois juízes reformaram a sentença, acatando as
razões da apelação, e um juiz julgou improcedente o pedido.
Caberão embargos infringentes pela parte vencida contra o
acórdão, para que o voto vencido prevaleça. Este o caso mais
simples.

Ex. 2: pedido de 100 – 2 votos iguais - Se no julgamento da


apelação, o primeiro juiz julgar procedente em 70 (portanto
improcedente nos 30 restantes), o segundo juiz julgar igual, e o
terceiro juiz julgar procedente em 40 (portanto improcedente nos
60 restantes), tem-se que o apelante ganhou por maioria em 70. O
apelado poderá embargar em modo infringente para que prevaleça
o voto vencido de 40. Ou seja, o apelado não poderá pedir que
seja julgado totalmente improcedente ( zero), isso porque o
Tribunal decidiu por unanimidade os 40 (o juiz que deu 70
também deu 40). O apelante-ganhador em parte nada poderá fazer
uma vez que os três juízes negaram 30 ( o juiz que negou 60
também negou 30), e os 70 ele já ganhou.

Ex. 3: pedido de 100 – 2 votos iguais – Agora a situação


inversa: se no julgamento da apelação, o primeiro juiz julgar
improcedente em 70 (portanto procedente nos 30 restantes), o
segundo juiz julgar igual, e o terceiro juiz julgar improcedente em
40 (portanto procedente nos 60 restantes), tem-se que o apelante
ganhou por maioria em 30 somente. O apelado não poderá
embargar pois todos os juizes decidiram por unanimidade 30 (os
dois primeiros juízes deram 30 e o terceiro deu 60= unanimidade
em 30). Não há como reduzir mais.. O apelante-ganhador em
parte poderá embargar no modo infringente fazer prevalecer o
voto vencido, que lhe daria a procedência em 60 (a condenação
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subiria de 30 para 60), mas não mais que 60, pois todos os juízes
foram unânimes em negar 40 (improcedente em 40).

Ex 4: pedido de 100 – todos votos diferentes - Outro exemplo:


Em um acórdão, foi julgada procedente uma apelação. Nessa
apelação, a parte, que perdeu no 1.º grau, pedia a condenação em
100. O relator julgou procedente em 80 e improcedente os 20
restantes. O revisor julgou procedente em 70 e improcedente os
30 restantes. O terceiro juiz julgou procedente 40 e improcedente
os 60 restantes. Portanto, o acórdão resolveu julgar a apelação
procedente em parte para condenar o apelado a pagar 70, por
maioria de votos.

Parte vencida – ambas - Em primeiro lugar: Quem vai poder


embargar? A parte vencida, como já visto. Agora: quem é a parte
vencida? Neste caso, tanto apelante quanto apelado foram
vencidos. O apelante queria 100 e só levou 70, ou seja, perdeu 30,
e o apelado não queria nada, zero, mas perdeu 70.

Conclusão - Os embargos do apelado vão se fundamentar no voto


vencido, mas todos os juízes julgaram procedente. Um deu 80,
um 70 e um 40. Portanto o apelado pedirá que prevaleça a posição
do voto vencido, para diminuir a condenação para 40. E o
apelante? pedirá que prevaleça a posição do voto vencido, o que
deu 80, porque neste, o apelante só perdeu 20. No acórdão ele
perdeu 30. Isto é conhecido como a divisão da decisão em
capítulos.

Ex 5: indeniz. materiais e morais - Mais um exemplo: Se


houverem dois pedidos, um de indenização de danos materiais e
outro de danos morais. No acórdão, o pedido de danos materiais
foi julgado procedente por unanimidade, e o pedido de danos
morais foi julgado procedente por maioria, só caberão embargos
infringentes neste pedido e fundamentando-se no voto vencido.

Parte dispositiva do voto vencido - É importante salientar que os


embargos caberão apenas quanto à parte dispositiva ou decisória
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do acórdão, sendo defeso interpô-los contra os fundamentos, uma


vez que não se alteraria o resultado do acórdão. Ex.: do prof.
Sergio Shimura da PUC – a mulher pede separação por
adultério e abandono do lar. O pedido é a separação. Na
apelação os juízes por unanimidade entendem que houve adultério
e, por maioria, que houve abandono do lar (voto vencido =
abandono do lar). Se houvesse embargos do marido, baseado no
voto vencido e ficasse julgado que não houve abandono do lar,
esses embargos de nada adiantariam, já que a separação já foi
concedida.

Art. 531 – Contra-razões - Esta é a oposição dos embargos


infringentes. Daí, segundo o art. 531, na seqüência do CPC, abre-
se vista para o recorrido para juntar suas contra-razões aos
embargos. Após, caberá ao relator do acórdão embargado, o Dr.
Fulano de Tal, apreciar a sua admissibilidade, analisando, além
daquelas três circunstâncias mencionadas, se há legitimidade,
interesse recursal e tempestividade. A lei estadual 4.952/85,
aqui para São Paulo, dispensa o preparo no valor de 1%, uma
vez que já foi recolhido quando da interposição da apelação.
Porém, é exigido no caso de ação rescisória. Já o regimento
interno do TRF da 3ª Região, que julga as causas em que a União
ou suas autarquias são partes, dispensa o preparo. O advogado
deve se informar qual o regime adotado no Tribunal, pois se
obrigatório e não for preparado, julgar-se-á deserto o recurso.

Art. 532 – Se o relator indeferir o prosseguimento dos embargos


infringentes, caberá, nos termos do art. 532, Agravo dessa
decisão, em cinco dias, que será julgado pelo colegiado que
julgaria o mérito dos embargos. Também seria uma petição de
interposição e uma juntando as razões do agravo, fundamentando-
se contrariamente ao decidido na rejeição dos embargos.

Admissão irrecorrível - Por outro lado, a decisão que os admite


é irrecorrível, e, segundo o art. 533. Findada a fase do
julgamento da admissibilidade dos embargos, passar-se-á ao
julgamento do mérito do recurso, em que se analisará se o
pedido recursal é procedente ou improcedente.
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Art. 533 - Julgamento – Regimento Interno - O processamento


dos embargos infringentes se dará de acordo com o Regimento
Interno do Tribunal. Por isso que não se tem um número preciso
de julgadores dos embargos infringentes, pois varia nos Tribunais.
O art. 534 afirma que se houver a disposição de sorteio de novo
relator no RI, esta deverá cair, se possível, em juiz que não haja
participado do julgamento anterior. Se não for possível, paciência.

CPC – Procedimento – Art. 547 - Está previsto que o RI disporá


o modo de julgamento dos embargos infringentes, mas o próprio
CPC dispõe alguns procedimentos, a partir do art. 547, sob o
título da ordem dos processos no Tribunal.

Art. 549 - Relator - O art. 549 prevê o encaminhamento do


processo para o relator sorteado, que deverá redigir um relatório,
expondo os pontos controvertidos sobre que versar o recurso.

Art. 553 – Cópias - Após, de acordo com o art. 553, com a


devolução dos autos para a secretaria do Tribunal, haverá
expedição de cópias autenticadas do relatório, tantas quantos
forem os juízes que participarão do julgamento dos Embargos
infringentes.

Art. 551 – Revisor - Após, os autos serão encaminhados ao


revisor para seu estudo, nos termos do art. 551, que requererá ao
presidente do Tribunal que o processo seja colocado em pauta
para o seu julgamento. O presidente, então, designará o dia para o
julgamento.

Art. 554 – Exposição e Manifestações - No dia do julgamento,


na respectiva sessão de julgamento, o relator fará a exposição da
causa, dando prazo de 15 minutos para as partes se manifestarem
oralmente, se assim quiserem, como descrito no art. 554. Após as
manifestações, o juiz relator profere o seu voto, seguido do
revisor e dos demais juízes.
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§ 2.º Art. 555 – Vista dos Autos - Nos termos do § 2.º do art.
555, qualquer destes juízes pode pedir vista do processo para
estudá-lo melhor, se não estiver habilitado a proferir
imediatamente o seu voto. Nesse caso, o julgamento se dará na
próxima sessão.

Art. 556 – Julgamento e Redação do Acórdão - Proferidos os


votos, conforme dispõe o art. 556, o presidente da sessão
anunciará o resultado do julgamento, designando o relator para
redigir o acórdão, ou, se este for voto vencido, o primeiro juiz a
ter dado o voto vencedor.

Lei de Execução Fiscal – Vale a pena frisar desde logo que


existe um recurso com o mesmo nome , “embargos infringentes”,
no art. 34 da Lei de Execução Fiscal, n.º 6830/80, que é uma lei
específica para execuções promovidas pela Fazenda Pública, só
que esse embargos infringentes serão julgados pelo próprio juiz
do 1.º grau, e só para causas de valores inferiores a 50 ORTN’s,
que hoje corresponde a aproximadamente 283 UFIR’s, que
alcança hoje o valor de R$ 301,52, isso na data da distribuição,
atualizado, com multa e juros. Com a publicação da sentença, a
parte derrotada tem prazo de 10 dias para opor o recurso,
fundamentando na defesa que achar mais conveniente, pode ser
todos os alegados no decorrer do processo. Ou seja, é um recurso
igual à apelação, mas para valores menores e julgado pelo mesmo
juiz.

Embargos de Declaração

Introdução - Vamos agora tratar dos embargos de Declaração,


deixando os pontos polêmicos dos dois recursos para o final da
palestra. Os embargos de Declaração são um recurso menos
complexo do que os outros, e têm sua previsão, com já
mencionado, do art. 535 a 538 do CPC. Além disso, têm outras
menções esparsas no corpo do Código.

Natureza Jurídica – incidente processual - Antes de


adentrarmos no estudo procedimental do instituto, vale mencionar
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a discussão doutrinária da natureza jurídica dos embargos de


declaração, sendo que parte da doutrina os entende como sendo
um recurso e parte afirma que seriam um mero incidente
processual específico para aperfeiçoar “a forma pela qual a
decisão se manifestou”, nas palavras de Sérgio Bermudes, ou
seja, não se quereria alterar o conteúdo da decisão.

NJ – Recursal - Pela visão recursal do instituto, partilham Pontes


de Miranda, Greco Filho, Humberto Theodoro Jr e Barbosa
Moreira, segundo o qual em legislações estrangeiras os institutos
análogos aos embargos de declaração não são arrolados como
recursos, mas uma vez que o legislador pátrio o fez, deve-se
respeitar tal opção, reconhecendo-os como recurso.

Todos os atos - Bom, como já citado anteriormente, cabem


embargos de declaração contra quaisquer atos decisórios do juiz
ou Tribunal, atos que terão conseqüências para terceiros, sejam
partes ou pessoas interessadas juridicamente no processo.

Quando? - Discorrido sobre contra quais atos são cabíveis os


Embargos de Declaração, a pergunta que ficou sem resposta é
“quando?”. Ou seja, em qual circunstância será cabível tal
remédio. O próprio artigo 535 responde, com estas palavras:
“Cabem embargos de declaração quando:
I – houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou
contradição;
II – for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou
Tribunal”

Quais atos – Artigo x Jurisprudência - Pela própria leitura do


artigo, vocês podem perceber uma certa contradição no que
acabei de dizer, e é aqui onde residiu grande parte de discussões
com relação aos embargos declaratórios, uma vez que o inciso I
do artigo menciona tão-somente a sentença ou acórdão. Porém, tal
discussão restou pacificada sendo que maioria esmagadora da
doutrina e jurisprudência reconhecem o seu cabimento contra
quaisquer atos decisórios, como já afirmado. Tais doutrinadores
criticam a falta de zelo do legislador ao não reparar tal equívoco
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tanto nas reformas processuais de 94/95 quanto nas do ano de


2001/2002.

Qualidades da decisão ausentes - Então vamos, agora, analisar


quais qualidades que estarão ausentes nestas decisões que as
sujeitarão aos embargos de declaração. A lei menciona a
obscuridade, a contradição e a omissão de ponto imprescindível.

Obscuridade x Clareza - A obscuridade seria então a falta de


clareza e precisão das decisões, ou seja, elas seriam difíceis de se
compreender, ou de se interpretar. Os embargos servirão para que
o julgador esclareça o ponto confuso. Esta é uma análise que deve
ser feita tanto pela parte, que interporá o recurso, quanto pelo
juiz, que irá julgá-lo.

Contradição x Lógica - A contradição, por sua vez, é a falta de


lógica dentro da decisão, ou seja, com partes inconciliáveis entre
si. Isto quer dizer que toda a decisão pode ser dividida em
partes, por exemplo, fundamentação e decisão. Exemplo, o juiz
dá reconhece os fundamentos de uma parte, mas condena essa
mesma parte. Ou outro exemplo, só na fundamentação, sendo que
o juiz ora reconhece uma prova como convincente, ora não. Ou só
na parte decisória, o juiz nega o pedido de indenização de um
acidente, pois o réu não o causou, mas condena o réu a pagar os
danos morais decorrentes daquele acidente.

Omissão x Inteireza da decisão - A omissão é a falta de alguma


parte da decisão ou a ausência de disposição da decisão sobre
algum pedido, algo sobre o que ela deveria se manifestar. “Deixa
de dizer algo que deveria dizer” (RT 573/234). Essa omissão
poderá então ser de duas espécies: a omissão de parte formal da
decisão ou omissão em relação ao seu conteúdo. No primeiro
caso, é, e.g., a sentença que não apresenta relatório ou não
apresenta fundamentação. No segundo caso, é a ausência de
manifestação do juiz, decisão, quanto a algum pedido formulado
pelas partes, seja autor ou réu. O juiz não precisa se manifestar
quanto aos fatos mencionados pelas partes, mas precisa decidir
todos os pedidos, fundamentando tal decisão.
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Finalidades – indiretas - Todos esses casos têm o escopo de


permitir a correta compreensão do enunciado na decisão. Ex. 1 -
Além disso, alguns embargos declaratórios podem ter outras
finalidades indiretas, como, por exemplo, alertar o juiz para a
necessidade de cobrança de juros ou correção monetária, num
pedido de indenização. Ex. 2 - Ou alertar o juiz para a existência
de uma preliminar que não foi julgada, que poderia reverter o
julgamento do processo. Assim, se o réu defende-se afirmando
que não é o verdadeiro devedor, e que a dívida não existe. São
dois pedidos do réu: a extinção do processo por ilegitimidade, e o
improcedência do mérito pela inexistência da dívida. Se o juiz só
julgar o segundo procedente, ele condenará o réu a pagar. Com os
embargos, o réu pediria o julgamento do primeiro pedido, que, se
for acolhido, extingue o processo. Esse exemplo é o que a
doutrina e jurisprudência chamam de efeitos infringentes ou
modificativos dos embargos de declaração. É uma espécie
porque, a princípio, os declaratórios visam apenas a que a idéia
seja expressa de modo claro na decisão, sendo a modificação do
seu sentido permitida apenas em casos raros como o supra
apontado, são mais comuns em casos de omissão ou contradição,
uma vez que a obscuridade raramente afeta o sentido da decisão.

Ex. 3 - Além desse caso, damos outro exemplo: Há a súmula 283


do STF que não admite o recurso extraordinário quando a decisão
recorrida se assentar em mais de um fundamento e esse recurso
só combater um desses fundamentos. Para o vencedor, seria
interessante que o Tribunal fundamentasse sua decisão em vários
argumentos, que dificultaria o recurso do perdedor. Nesse caso,
além dos embargos de declaração serem interpostos pelo
vencedor, eles seriam utilizados simplesmente para incluir
algum fundamento no acórdão recorrido.

Art. 536 - Procedimento – Com relação ao procedimento, de


acordo com o art. 536 do CPC, estando publicada a decisão
obscura, contraditória ou omissa, tem a parte 5 dias de prazo para
opor os embargos de declaração. Também nesse caso, fala-se em
opor uma vez que embargo é sinônimo de obstáculo. A petição
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simples deve ser endereçada ao juiz da respectiva vara que


prolatou a decisão ou ao relator do processo, se estiver no
Tribunal. Coloca-se na petição que a parte com fundamento no
art. 535 e seguintes do CPC vem opor embargos declaratórios à
respeitável decisão pelos motivos descritos, aí coloca-se “dos
fatos” relatando a falha da decisão, daí coloca-se “do direito”
afirmando que a decisão não está clara, ou está omissa, sendo
cabíveis os embargos, e requer, ao final, a sua correção. A parte
final do art. reza que este recurso não está sujeito a preparo.

Art. 537 – O art. 537 prevê que o juiz monocrático deve julgar os
embargos prontamente, no prazo de 5 dias. Vale lembrar que esse
prazo não inclui o tempo que o processo fica aguardando no
cartório a juntada da petição e o envio do processo à conclusão do
juiz. Inicia-se o prazo à medida que os autos estiverem conclusos
ao juiz. No Tribunal, o relator deverá apresentar os embargos na
próxima sessão, a partir da interposição, para julgamento. Não há
tempo para manifestações orais, segundo o art. 554 do CPC.
Então, são proferidos os votos e é anunciado o resultado,
designando-se o relator para redigir acórdão, ou, se vencido, o
autor do primeiro voto vencedor.

Admissibilidade x Mérito – Vale lembrar que os embargos


declaratórios também devem sofrer uma análise dos requisitos de
admissibilidade e, após, o julgamento do mérito, como todos os
recursos. Nessa primeira fase, o julgador analisará se o recurso é
tempestivo, se o ato é embargável e se a parte tem
legitimidade e interesse em recorrer. Após, julgar-se-á
propriamente o mérito, ou seja, se há obscuridade, contradição ou
omissão na decisão.

Art. 538 - O art. 538 trata do efeito interruptivo que os


embargos declaratórios apresentam. Sabe-se que de cada ato
decisório do julgador caberá um recurso que irá questionar o
mérito desse ato, assim, se decisão interlocutória, caberá agravo
de instrumento, se sentença, caberá apelação, se acórdão, caberão
embargos infringentes ou os recursos para os Tribunais
superiores. Concomitantemente, caberão os embargos
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declaratórios. Se ninguém interpuser os declaratórios, o prazo


para os outros recursos corre normalmente, a partir da publicação
do ato decisório. Porém, se houver a interposição dos
declaratórios, interromper-se-á o prazo para o outro recurso. Isto é
uma questão lógica, pois o julgamento dos declaratórios pode
afetar o conteúdo da decisão e os fundamentos do recurso cabível.

Interrupção – A interrupção difere da suspensão processual.


Com a suspensão, o prazo para de fluir até ser resolvido um
incidente ou até uma data prevista pelo juiz. Assim, com o fim da
suspensão, o prazo volta a fluir do momento em que havia parado.
Na interrupção, o prazo é zerado, ou seja, com o fim do motivo
que justificou a interrupção, no nosso caso, com a publicação do
julgamento dos embargos declaratórios, inicia-se a contagem do
prazo para o outro recurso desde o começo, assim, se se
embargasse da sentença no quarto dia da publicação, haveria a
interrupção desse prazo da apelação até o julgamento dos
embargos, quando começaria a contar o prazo para a apelação do
zero, por mais quinze dias.

Protelatórios – Percebe-se que, com a interrupção do prazo, a


parte poderia se utilizar dos embargos declaratórios sem motivo,
simplesmente para retardar o final do processo, uma vez que o
prazo para o outro recurso voltaria a fluir do zero, após o
julgamento dos embargos. Para coibir tal atitude, o próprio art.
538, em parágrafo único, prevê a condenação do embargante ao
pagamento de multa, no valor de 1% do valor da causa, para o
embargante, quando o juiz declarar que os embargos forma
interpostos simplesmente para protelar o feito.

Reiteração – Art. 538 – Continua o parágrafo único: se a parte


multada opuser outros embargos de declaração contra a mesma
decisão, sem fundamentos, o juiz pode elevar a condenação da
multa em até 10% do valor da causa.

Embargos sobre embargos – Há que se ressaltar, porém, que é


plenamente permitida a oposição de dois ou mais embargos
declaratórios, na hipótese em que haja na nova decisão uma nova
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obscuridade, contradição ou omissão. Não caberá no caso de a


decisão que julgar os embargos negar a existência desses vícios.
Ou seja, a parte opõe os embargos contra a decisão afirmando que
esta é obscura, o juiz julga os embargos decidindo que sua
decisão anterior era perfeita. A parte não poderá opor novos
embargos alegando que a decisão continua obscura. Só poderá
opor embargos se a última decisão apresentar vícios que os
justifiquem. É necessário que os vícios sejam diferentes,
segundo orientação dominante na doutrina e jurisprudência (Asp.
p, 370, §1.°).

Pontos Polêmicos

Introdução – Agora, faremos o estudo de alguns dos pontos


polêmicos levantados pela Doutrina referentes à matéria por nós
estudada.

1.º - Nulidade da sentença - Assim, tem-se o caso em que o


Tribunal reconhece uma nulidade da sentença de mérito. Nesse
caso, se o julgamento dor unânime, o Tribunal deverá enviar o
processo de volta ao primeiro grau para que tal nulidade seja
corrigida, e seja prolatada nova sentença. A pergunta é: se o
Tribunal reconhecer a nulidade por maioria, ele não reformará a
sentença, mas a cassará, caberão embargos infringentes?

Shimura – sim - O Prof. Sérgio Shimura entende que sim, uma


vez que afirma serem necessários uma sentença de mérito e uma
apelação conhecida e julgada procedente, não importando se o
acórdão cassou a sentença, no caso de nulidade, ou substituiu a
sentença, julgando novamente o mérito da ação. O autor afirma
que o termo “reforma da decisão” é amplo, albergando as duas
situações.

2.º - Sentença terminativa – Acórdão de mérito –art. 515 , §3.º


- Agora vamos pensar uma situação oposta a essa: no caso do juiz
do primeiro grau ter proferido uma sentença terminativa, ou
seja, que não julgou o mérito declarando que aquele processo não
poderia atingir seu objetivo. O autor, que nesse caso perdeu a
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ação, apela dessa sentença. O Tribunal julga procedente a


apelação e reforma a sentença, e o Tribunal vai além, pelos
poderes atribuídos pelo parágrafo 3.º do art. 515, e entende que o
processo já estava totalmente instruído, com todas as provas
realizadas, e decide julgar o mérito da ação. E esse mérito é
decidido por maioria de votos. Caberão embargos infringentes?

Resposta na Lei - De acordo com a letra do art. 530, só cabem


em casos de sentença de mérito.

Interpretação do palestrante - Então passo agora a expor a


minha visão sobre os dois casos: este e o anterior. Isto seria uma
interpretação doutrinária e não quer dizer que é a leitura pura da
lei, e nem que os Tribunais vão operar deste modo.

Crítica 1.º exemplo – muitos recursos - No primeiro caso, de


acordo com o Prof. Shimura, com a anulação da sentença de
mérito por maioria, caberiam embargos infringentes. E se esses
embargos fossem improcedentes, o processo retornaria à
primeira instância para o julgamento do seu mérito. Após o
julgamento do mérito caberia nova apelação, e se essa fosse
julgada procedente por maioria, caberiam novos embargos
infringentes. Dois infringentes no mesmo processo! Imaginaram o
tempo de duração desse processo. Creio que não é esta a intenção
do legislador, especialmente no momento em que estamos, no
qual nunca se ouviu falar tanto em efetividade e celeridade do
processo.

Crítica ao 2.º exemplo – restrição do acesso à justiça - No


segundo caso, do art. 515, § 3.º, e apesar da letra da lei, entendo
que os embargos poderiam ser opostos, uma vez que a parte não
teria outra oportunidade para a utilização desse recurso, com
fundamento no voto divergente de um desembargador, e entendo
que tal proibição feriria o princípio do acesso isonômico à
justiça dessa parte em juízo. Mas repito que esta visão é
puramente doutrinária, albergada pelo Prof. Cândido Rangel
Dinamarco, e não necessariamente aderida pelos Tribunais.
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Agravo Retido do réu – extintivo - Mas por identidade de razões


é que a doutrina, albergada pela jurisprudência, admite os
infringentes no julgamento de agravo retido por maioria, quando
este agravo retido do apelante tiver força extintiva do processo.
Nesse sentido, há a súmula 255 do STJ.

Execução e Processo Cautelar - cabimento se houver sentença


- Outro ponto levantado pela doutrina é o cabimento dos
embargos em apelação nos processos de execução ou cautelar.
Fica claro que, em havendo sentença nesses processos e apelação
procedente por maioria, caberão os embargos infringentes.

Reexame Necessário - Com relação ao reexame necessário,


previsto no art. 475 do CPC, em que o juiz é obrigado a enviar
para o Tribunal o processo em que a Fazenda Pública tenha sido
derrotada em primeiro grau. Se o Tribunal houver por bem julgar
a decisão inadequada, reformando-a por maioria de votos,
caberiam embargos infringentes, uma vez que o procedimento do
reexame necessário segue o rito das apelações no Tribunal, de
acordo com os costumes judiciários e previsão em alguns
regimentos internos.

Infringentes contra acórdão em Embargos de Declaração -


Outro ponto: são cabíveis embargos infringentes em acórdão de
julgamento de embargos de declaração? Só caberão infringentes
se este acórdão integrar a decisão original, por exemplo, se o
acórdão suprir uma omissão, e este ponto que era omisso for
votado por maioria.

Mandado de Segurança – súmulas contrárias - No caso de


mandado de segurança, e apesar de doutrina que defenda o
contrário, a jurisprudência tem acatado as súmulas 597 do STF e
169 do STJ, pelas quais não cabem os infringentes em mandado
de segurança.

Art. 557 – duas questões – Acórdão com um voto - Mais um


ponto: o art. 557 do CPC reza que o relator do processo poderá
proferir uma decisão singular no caso de recursos manifestamente
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inadmissíveis ou improcedentes ou contrários a entendimento dos


tribunais superiores. Surgem duas questões: cabem embargos
infringentes contra o acórdão desse relator? A resposta é negativa,
uma vez que o pressuposto específico dos embargos infringentes é
o voto vencido, no qual se fundamentará. A solução é interpor os
recursos aos Tribunais superiores, se cabíveis.

Embargos julgados por um voto? Não, Colegiado - A outra


questão é: se houver um acórdão por maioria de votos, e o
recorrente opuser os infringentes, poderia o relator que recebeu
esses embargos julgá-lo monocraticamente, singularmente, de
acordo com o art. 557? A resposta também é negativa, atentando-
se para o ideal deste recurso, que seria apresentar a causa a um
colegiado maior que o primeiro para se obter maior segurança, e
não, permitir que o voto do relator valha mais que os dos demais.

Recursos superiores – Finalmente, como último ponto a ser


lembrado, é que, além dos embargos infringentes, caberiam contra
o acórdão do nosso estudo, o acórdão do segundo momento, os
recursos superiores, ou seja, especial para o STJ, geralmente
quando ofender lei federal, e extraordinário para o STF,
geralmente quando ofender a Constituição Federal, e são previstos
nos artigos 105, III e 102, III da Constituição Federal,
respectivamente.

Súmula 207 – STJ – esgotamento - Mas é importante salientar


que, para a interposição dos recursos superiores, deve haver o
esgotamento dos recursos comuns, previstos no CPC, caso
contrário, não se admite o conhecimento do recurso superior.
Assim, fica bem claro o entendimento da súmula 207 do STJ: “É
inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos
infringentes contra acórdão proferido no Tribunal de origem”.

Antes da reforma – prazo comum - Então deve-se opor os


embargos infringentes fundamentado no voto vencido. Mas e se o
acórdão contiver uma parte votada por unanimidade e uma parte
votada por maioria? Antes da reforma de 2002, a parte deveria
opor infringentes contra a parte não unânime e interpor desde
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logo o recurso superior contra a parte unânime do acórdão. E o


julgamento do recurso superior ficava parado até o julgamento
dos embargos.

Art. 498 – prazo sobrestado - Com a reforma, apurou-se o art.


498 do CPC para que o prazo dos recursos superiores fique
sobrestado, parado, até a publicação da decisão dos embargos
infringentes.

Parágrafo Único – sem embargos - De acordo com o parágrafo


único desse artigo, se a parte não opuser os infringentes, não
poderá argüi-la no recurso superior, e o prazo para se recorrer da
parte não unânime começará a contar após o prazo dos
infringentes, ou seja, o dia de início será o 16.º desde o dia da
publicação do acórdão.

Art. 546 – Embargos de Divergência – Não se deve confundir


os embargos infringentes do art. 530 com os embargos previstos
no art. 546 do CPC, que a doutrina e jurisprudência chamam de
embargos de divergência. De acordo com esse artigo, “é
embargável a decisão que: I – em recurso especial, divergir do
julgamento de outra turma, da seção ou do órgão especial; II – em
recurso extraordinário, divergir do julgamento da outra turma ou
do plenário”.

Objetivo – Unificação - É um recurso cabível somente após


decisões recursais do STJ e do STF, respectivamente, e serve para
unificar o entendimento desses órgãos superiores.

Parágrafo único – Regimento interno - O parágrafo único


afirma que o procedimento deste recurso será previsto nos
Regimentos internos destes tribunais. E de acordo com o
regimento interno dos dois tribunais, a parte deve fundamentar
suas razões na decisão da outra turma ou órgão especial, e
apresentar cópia integral dessa decisão divergente, caso contrário
não será conhecido

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