Uma lua prateada baixa lentamente no escuro céu,

talvez seu brilho tão pálido possa aureolas dar,

e transformar simples mortais em noturnos anjos,
e mesmo sem asas talvez na imaginação possam voar.

Anoiteceu também em minha ansiosa alma,

Prepara-se ela não para dormir, apenas sonhar,
pelos campos floridos que em sonhos eu vi,
como uma tela de Monet a impressionar.

Não, essa suavidade de pinceladas não me atrai,

nem essa regularidade de cores tão certas,
ainda que borradas as sombras ou nas distâncias,
ou paisagens, nem pessoas bem vestidas.

Óleos irregulares, pinceladas cheias,

íris, corvos, batatas e rostos macilentos,
girassóis e vasos simples e olhares desalentados,
onde transitou a mão e a mente insana,

Como ele viverei sem um centavo de minha arte,

e morrerei ao abandono de minha esperança,
e a orelha que cortarei será o futuro,
e um punhado de cartas voarão, aqui e ali,

E até lá o cálice será servido, gota a gota,

aos lábios, mais ainda aos ouvidos,
a mente mais lúcida buscará sentido,
nada achará exceto um errante navio.

Vai pirata aos sete mares, saqueia a sanidade

e pilha risadas, mesmo que ao negro humor
tenha que arrancá-las, afinal o que é a vida,
sem um pouquinho de nossa insanidade.