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E sobre o rico seio de rainhas,

Entre o céu e a terra


Não como tu que sob o olhar dos pobres
Encontraram se um dia
Poetas vagabundos te encaminhas...
Uma lágrima, uma estrela, uma pérola e um
orvalho. Valho mais do que tu, e mais ainda valho

Falou primeiro a estrela: “ Quem diria Do que um simples orvalho

Que eu tivesse o trabalho E uma lágrima, pois são ambas gotas d’agua

De descer das alturas luminosas Sem mínimo valor

Para vir conversar com vocês três?

Não sabem que sou eu mais alta que as nuvens Disse o orvalho com mágoa:

E que minha altivez Nenhuma de vocês tem este encanto

Fulgura entre mil chamas radiosas De transformar-se em gozo

Na infinita amplidão? Na boca imaculada de uma flor.

Não é minha existência transitória, Eu venho lá de cima radiante

Desde que existe o mundo acendo o Nos braços da alvorada


firmamento
Para cobrir de beijos uma rosa
Por entre o universal deslumbramento.
Que se sente tão doce nesse instante
Qual de vocês terá tamanha glória
Que vale a pena vê-la tão ditosa,
Que não passam do chão?
E trazer riso ao coração da terra

Engolfada no pranto
Mas respondeu a pérola vaidosa:
Eis como sou feliz... Ou na campina
- Quem te dará valor
Ou no cimo da serra
Entre os milhões de lâmpadas do espaço?
Sou sempre uma esperança cristalina
Tu não passas de um grão de resplendor
Nos lábios sorridentes duma flor”
Metido na poeira do infinito.
Calou-se o orvalho. E a lágrima? Coitada:
Ninguém se lembra de te por no braço.
Esta nada dizia
Enquanto eu, lá no fundo dos oceanos,
- “ E que respondes tu?”
Sou buscada e vendida aos soberanos
E ela rolada
Para enfeitar com minha limpidez
Na terra úmida e fria
A coroa dos reis
Nada ousava falar... Porém, sublime
Vivo no colo explêndido dos nobres
Com calma respondeu: Serenamente

- “ Sou o perdão no crime Na vastidão vazia,

E a vibração no amor. A estrela se ocultou

Bailo no olhar risonho da alegria Por detrás de uma nuvem...E chorava

Moro no olhar tristíssimo da dor A pérola desceu á profundez dos mares

Sou a alma da saudade e da harmonia E chorava também

Sou até estribilho O orvalho tremulando sobre a relva

Na lira soluçante dos poetas... Também chorava...

Sou oração no peito dos ascetas, E a lágrima sorria! ...

Sou relíquia de mãe em coração de filho

Sou lembrança de filho em coração de mãe.

Não vivo sobre seios perfumosos

E colos orgulhosos

Na ostentação efêmera do luxo...

Porém pentro o espírito do mundo;

Seja do rei, do sábio mais profundo,

Do rústico mais vil,

Do pecador,

Do santo,

E até na face do senhor

Um dia já rolei...

Eu, lágrima pequenina penetrei

No coração de Deus,

E fiz estremecer e abrir-se extasiado

O pórtico dos céus!

Não sei quantos pecados já lavei...”

A lágrima calou-se humildemente...

Deslumbrado,

O silêncio a tudo isto contemplou

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