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Optimização dos processos de produção de xaropes de glucose e

dextrose monohidratada

Marta Pereira Pinto

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em


Engenharia Biológica

Júri

Presidente: Professor Arsénio do Carmo Sales Mendes Fialho


Orientadores: Engenheira Maria Leonor Tavares (COPAM)
Professor Luis Joaquim Pina da Fonseca (IST)
Vogal: Professor José António Leonardo dos Santos

Novembro 2009
AGRADECIMENTOS

Não podia deixar de agradecer a todos os que, de algum modo, me ajudaram na realização deste
projecto.

Ao Professor Luís Fonseca, pelo seu apoio, disponibilidade e encorajamento.

A todos na COPAM, por me terem recebido de braços abertos. Em especial à Engenheira Leonor
Tavares pela oportunidade concedida, pelas palavras duras na hora certa e pelas palavras de
conforto quando foram precisas. Obrigada por esta experiência tão enriquecedora. Ao Engenheiro
Edmundo Freitas por toda a ajuda prestada ao longo destes meses. Ao Engenheiro Jorge Vargas
Moniz pela infinita paciência, sabedoria e conhecimento proporcionados. A todos os membros do
laboratório pelo excelente ambiente de trabalho e por todo o auxílio prestado. Ao Marco Baeta e ao
Filipe Cardoso pelos momentos descontraídos, pelos almoços, pelas conversas animadas, pelo apoio
incondicional, por me ajudarem a compreender como funciona este lado.

Ao Filipe Sousa. Sem ti não teria sido tão divertido. Obrigada pelas horas de partilha e desabafos,
pela compreensão, mas acima de tudo, pela amizade.

À Sílvia e à Sofia, por serem as melhores amigas do mundo, por estarem sempre presentes em todos
os momentos, nos bons e nos maus. Obrigada pelas gargalhadas e pelas lágrimas dos últimos seis
anos. À Sara, por me compreender como ninguém e por ter sempre a palavra certa na hora certa.
Pelos longos emails trocados durante estes últimos meses. Por se fazer presente apesar da longa
distância. À Inês Vilalva por ser a miúda mais doce que conheço, sempre pronta a ajudar. À Inês
Lopes por ter sempre uma palavra de apoio escondida na manga.

À Ana Luísa por ser a melhor companheira de casa que podia desejar. E uma grande, grande amiga.

À minha família, em especial aos meus pais, pelo esforço que fizeram ao longo de todos estes anos,
por terem estado sempre ao meu lado, por nunca me deixarem baixar os braços e desistir. Esta
vitória também é vossa. À pessoa mais importante da minha vida, o meu sobrinho David. Pela sua
energia contagiante. Por ser o meu bebé mesmo quando já não o é. Por ser a minha alegria de viver.

Ao Armindo, por ter sido o meu porto seguro durante todos estes anos. Sem as suas palavras de
incentivo nunca teria conseguido chegar aqui.

Obrigada a todos!
RESUMO

A contínua descoberta e selecção de novas enzimas para a indústria do amido apresenta-se


como uma oportunidade de melhoria dos processos produtivos. A implementação de novas
preparações enzimáticas disponíveis comercialmente só é possível depois de uma validação rigorosa
em termos tecnológicos e económicos, de modo a mostrar inequivocamente que estas novas
enzimas trazem mais-valias ao processo produtivo e à empresa.
O primeiro objectivo do presente trabalho foi estudar a possibilidade de homologação de uma
nova α-amilase com vantagens técnico-económicas e ao mesmo tempo permitir que a empresa
pudesse dispor de um fornecedor alternativo deste tipo de enzima.
A enzima em teste mostrou possuir características adequadas à sua utilização quando aplicada
no processo de liquefacção do amido, nomeadamente, capacidade de manter a sua actividade a
baixas concentrações de cálcio e baixos valores de pH.
Depois de evidenciada a aplicabilidade da enzima no processo, efectuou-se uma análise do
impacto económico da sua utilização, tendo-se concluído que a utilização da nova enzima no
processo de liquefacção do amido permitiria um ganho total de 43%, face à utilização da enzima
actual.

O segundo objectivo deste trabalho incidiu na optimização do rendimento de cristalização do


processo de produção de dextrose monohidratada, através da optimização das variáveis do processo.
Concluiu-se que seria possível actuar ao nível das características do xarope de alimentação à
cristalização e do perfil de arrefecimento durante a cristalização.

Palavras-chave: α-amilase, liquefacção enzimática, sacarificação, dextrose, cristalização,


granulometria.
ABSTRACT

The continuous discovery and selection of new enzymes for the starch industry is presented as
an opportunity to improve production processes. The implementation of new commercially available
enzymatic preparations is only possible after a meticulous technological and economic validation, to
show unequivocally that these new enzymes bring more resources into the productive process and
the company.
The first goal of this study was the endorsement of a new α-amylase with technical and
economic advantages while providing the company with an alternative supplier of this type of
enzyme.
The enzyme in test proved to have suitable characteristics to use when applied in the process
of starch liquefaction, namely, the ability to maintain its activity at low concentrations of calcium and
low pH.
After the results evidenced the applicability of the enzyme in the process, an analysis of the
economic impact of its use was carried out, and it was found that the use of this new enzyme in the
process of starch liquefaction allowed a total gain of 43% compared with the use of the current
enzyme.

The second goal of this work layed on the yield optimization of the crystallization process of
dextrose monohydrate, through the optimization of the process variables.
It was concluded that it would be possible to adjust the characteristics of the feeding syrup of
the crystalization and of the cooling profile throughout the crystallization.

Keywords: α-amylase, enzymatic liquefaction, saccharification, dextrose, crystallization, crystal


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ÍNDICE GERAL

1. APRESENTAÇÃO DA EMPRESA E DO PROCESSO DE PRODUÇÃO ........................................ 1

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................... 3


2.1. O amido ....................................................................................................................... 3
2.1.1. Composição, Estrutura e Fontes de Amido .......................................................... 3

2.1.2. Propriedades do amido ........................................................................................ 4

2.2. A indústria amideira .................................................................................................... 6


2.2.1. O mercado mundial de amido ............................................................................. 6

2.2.2. Sectores de aplicação dos produtos amiláceos ................................................... 6

2.2.3. Produção de xaropes de glucose a partir do milho ............................................. 7

2.2.3.1. A hidrólise enzimática do amido ................................................................... 7

2.2.3.1.1. As enzimas amilolíticas .......................................................................... 7

2.2.3.1.2. A liquefacção do amido........................................................................ 10

2.2.3.1.3. A sacarificação do amido ..................................................................... 10

2.2.3.2. O processo de produção de xaropes de glucose utilizado na COPAM ....... 11

2.2.4. Produção de dextrose a partir do milho ............................................................ 11

2.2.4.1. O processo de produção de dextrose monohidratada utilizado na


COPAM……………..................................................................................................................... 12

3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................... 13


3.1. Materiais.................................................................................................................... 13
3.1.1. Reagentes........................................................................................................... 13

3.1.2. Enzimas .............................................................................................................. 13

3.1.3. Equipamento e outros materiais ....................................................................... 13

3.2. Métodos Analíticos .................................................................................................... 14


3.2.1. Determinação da matéria seca através do índice de refracção ........................ 14

3.2.2. Determinação do Equivalente em Dextrose (DE) por osmómetria ................... 14

3.2.3. Determinação da composição em açúcares por HPLC....................................... 14


3.2.4. Determinação do pH .......................................................................................... 14

3.2.5. Realização do teste de amido por reacção ao iodo ........................................... 14

3.2.6. Determinação do teor em cálcio por titulação com EDTA ................................. 14

3.3. Métodos experimentais ............................................................................................ 15


3.3.1. Ensaio industrial: liquefacção enzimática com a enzima em teste.................... 15

3.3.2. Optimização do rendimento de cristalização da dextrose ................................ 15

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................... 16


4.1. Optimização do processo de produção de xaropes de glucose ................................ 16
4.1.1. Levantamento das condições de processo ........................................................ 16

4.1.2. Correcção dos parâmetros do processo de produção utilizando a enzima


actual…………… ........................................................................................................................... 17

4.1.3. Ensaio indústrial com a enzima em teste .......................................................... 18

4.1.4. Análise comparativa do efeito de vários parâmetros na liquefacção


enzimática……. ........................................................................................................................... 19

4.1.4.1. Efeito da concentração específica de enzima ............................................. 19

4.1.4.2. Efeito da concentração de cálcio ................................................................ 19

4.1.4.3. Efeito do pH ................................................................................................ 19

4.1.4.4. Qualidade do produto final ......................................................................... 19

4.1.5. Análise comparativa de custos .......................................................................... 20

4.2. Optimização do processo de produção de dextrose ................................................. 21


4.2.1. Determinação do rendimento teórico de cristalização ..................................... 22

4.2.2. Determinação do rendimento real de cristalização ........................................... 23

4.2.3. Análise comparativa entre rendimento teórico e rendimento real de


cristalização…. ........................................................................................................................... 24

4.2.3.1. Variáveis do processo que influenciam o rendimento de cristalização ...... 24

4.2.3.2. Perdas de produto nas várias operações unitárias que influenciam o


rendimento de cristalização .................................................................................................. 24

4.2.4. Sugestões de acções futuras .............................................................................. 25

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 26


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 28

ANEXOS ....................................................................................................................................... 30
A. Tabela de valores de osmolalidades de referência para o xarope após liquefacção
(15DE) e após sacarificação (H95) ..................................................................................................... 30
B. Folhas de especificação e segurança da enzima Liquozyme Supra ............................... 30
C. Folhas de especificação e segurança da enzima Clearflow AA ..................................... 30
D. Cromatogramas obtidos pela técnica de HPLC aplicada às amostras de hidrolisado ... 30

ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 2.1. Amilases de origem microbiana. Fonte: Grael (1989) .......................................................... 8

Tabela 3.1. Reagentes utilizados nos diversos procedimentos experimentais. .................................... 13

Tabela 3.2. Alfa-amilases utilizadas no ensaio industrial para optimização do processo de produção
de xaropes de glucose. .......................................................................................................................... 13

Tabela 3.3. Equipamento utilizado nos diversos procedimentos experimentais. ................................ 13

Tabela 3.4. Condições operatórias da cromatografia para uma boa separação de picos. ................... 14

Tabela 3.5. Tempos de retenção típicos de cada componente das amostras em análise, para a coluna
Aminex-87 C. ......................................................................................................................................... 14

Tabela 3.6. Resultados possíveis após realização do teste de amido por reacção ao iodo. ................. 14

Tabela 4.1. Condições de especificação do processo de produção de xaropes de glucose por via dual
enzimática. ............................................................................................................................................ 16

Tabela 4.2. Condições de especificação indicadas pelo fornecedor para a utilização da enzima actual.
............................................................................................................................................................... 16

Tabela 4.3. Ensaio de optimização do processo de liquefacção enzimática, utilizando a enzima actual.
............................................................................................................................................................... 17

Tabela 4.4. Condições óptimas de funcionamento do processo com a enzima actual. ....................... 17

Tabela 4.5. Condições de especificação indicadas pelo fornecedor para a utilização da enzima em
teste....................................................................................................................................................... 18

Tabela 4.6. Ensaio de optimização do processo de liquefacção enzimática, utilizando a enzima em


teste....................................................................................................................................................... 18

Tabela 4.7. Condições óptimas de funcionamento do processo com a enzima em teste. ................... 18
Tabela 4.8. Seguimento do processo de sacarificação do xarope produzido durante o ensaio de
optimização da liquefacção enzimática. Comparação de valores para o xarope produzido utilizando
ambas as enzimas na liquefacção. ........................................................................................................ 19

Tabela 4.9. Comparação dos valores dos vários parâmetros do processo, depois da optimização do
mesmo, para cada uma das enzimas em estudo. ................................................................................. 20

Tabela 4.10. Condições de especificação do processo de produção de dextrose monohidratada. ..... 21

Tabela 4.11. Rendimento teórico de cristalização calculado para uma temperatura de cristalização de
30°C e um coeficiente de sobressaturação final de 1,05, variando a percentagem de matéria seca e a
percentagem de glucose do xarope de alimentação à cristalização. .................................................... 22

Tabela 4.12. Rendimento teórico de cristalização calculado para uma temperatura de cristalização de
31°C e e um coeficiente de sobressaturação final de 1,05, variando a percentagem de matéria seca e
a percentagem de glucose do xarope de alimentação à cristalização. ................................................. 22

Tabela 4.13. Caracterização das correntes do processo de produção de dextrose monohidratada. As


quantidades de cada componente nas correntes foram determinadas por balanços mássicos .......... 23

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1. Esquema do processo fabril da COPAM. As operações unitárias foram removidas por
questões de confidencialidade................................................................................................................ 2

Figura 2.1. Fotomicrografia de grânulos de amido de diferentes origens botânicas. (A) Amido de
milho. (B) Amido de batata. Fonte: Davies, 2006. .................................................................................. 3

Figura 2.2. Projecção das diferentes ligações entre as unidades de glucose, na amilose e na
amilopectina. (A) Estrutura da amilose – polímero linear composto por D-glucoses unidas por
ligações α-1,4. (B) Estrutura da amilopectina – polímero ramificado composto por D-glucoses unidas
por ligações α-1,4 e α-1,6. Adaptado de Dziedzic & Kearsley (1984). .................................................... 4

Figura 2.3. Fotomicrografia de grânulos de amido de milho, não gelatinizados, sob luz polarizada.
Fonte: Rotkiewicz (2008). ........................................................................................................................ 5

Figura 2.4. Quota de aplicação dos produtos amiláceos, nos diversos sectores industriais, no ano de
2008. Dados relativos à União Europeia. Adaptado de AAF (2009). ....................................................... 7
Figura 2.5. Diagrama do processo de produção de xaropes de glucose, por via dual-enzimática,
implementado na COPAM. .................................................................................................................... 11

Figura 2.6. Curva de solubilidade da dextrose monohidratada. Adaptado de Blanchard (1992). ........ 12

Figura 2.7. Diagrama do processo de produção de dextrose monohidratada implementado na


COPAM. ................................................................................................................................................. 12

Figura 3.1. Indicação do local de recolha das amostras analisadas no diagrama de produção de
xaropes de glucose, por via dual-enzimática, implementado na COPAM. ........................................... 14

Figura 4.1. Representação gráfica do pH do leite de amido à entrada do processo de liquefacção, ao


longo dos meses em estudo. ................................................................................................................. 16

Figura 4.2. Representação gráfica da concentração de cálcio do 15 DE à saída dos reactores tubulares
do processo de liquefacção, ao longo dos meses em estudo. .............................................................. 16

Figura 4.3. Representação gráfica da percentagem de matéria seca do 15 DE à saída dos reactores
tubulares do processo de liquefacção, ao longo dos meses em estudo. .............................................. 16

Figura 4.4. Representação gráfica do Equivalente em Dextrose (DE) do xarope 15 DE à saída dos
reactores tubulares do processo de liquefacção, ao longo dos meses em estudo............................... 16

Figura 4.5. Representação gráfica dos consumos específicos de enzima utilizada na liquefacção, para
os meses em estudo. ............................................................................................................................. 16

Figura 4.6. Representação gráfica do pH do xarope à entrada do processo de sacarificação, ao longo


dos meses em estudo. ........................................................................................................................... 16

Figura 4.7. Representação gráfica da percentagem de matéria seca do Hidrolisado 95 após


sacarificação, ao longo dos meses em estudo. ..................................................................................... 16

Figura 4.8. Representação gráfica do Equivalente em Dextrose (DE) do Hidrolisado 95 após


sacarificação, ao longo dos meses em estudo. ..................................................................................... 16

Figura 4.9. Representação gráfica da composição em açúcares do hidrolisado 95, obtida por HPLC,
para os vários meses em estudo. .......................................................................................................... 17

Figura 4.10. Análise do efeito da concentração específica de enzima necessária à obtenção de


determinados valores de DE. ................................................................................................................ 19

Figura 4.11. Análise comparativa do efeito da concentração de cálcio na liquefacção enzimática do


amido..................................................................................................................................................... 19
Figura 4.12. Ensaio laboratorial para determinar a dosagem de solução de carbonato de sódio
necessária ao ajuste de pH para as condições óptimas de funcionamento de cada enzima. .............. 20

Figura 4.13. Ensaio laboratorial para determinar a dosagem de solução de ácido clorídrico necessária
ao ajuste de pH para as condições óptimas de funcionamento da sacarificação................................. 20

Figura 4.14. Diagrama representativo do processo de produção de dextrose monohidratada. .......... 23


CAPÍTULO 1
1. APRESENTAÇÃO DA EMPRESA E DO PROCESSO DE PRODUÇÃO

A presente Dissertação de Mestrado resulta da realização de um estágio inserido no plano de


Desenvolvimento de uma empresa produtora de amido e seus derivados, a COPAM – Companhia
Portuguesa de Amidos, S.A.
Os ensaios necessários ao presente estudo foram realizados à escala industrial nas instalações
fabris da COPAM e todo o suporte experimental decorreu no Laboratório de Controlo de Qualidade,
recorrendo a métodos e técnicas experimentais implementadas nesta empresa.

A COPAM é uma empresa privada com sede em S. João da Talha, concelho de Loures, fundada
em 1937. Esta empresa produz e comercializa produtos amiláceos, utilizando como matéria-prima o
milho. Os principais produtos fabricados são o amido nativo, os xaropes de glucose, os xaropes de
glucose-frutose e a dextrose monohidratada. Do processo de produção obtêm-se ainda, como sub-
produtos, o corn gluten feed, o corn gluten meal, o gérmen, a água de maceração concentrada e o
milho partido.
Os produtos amiláceos são comercializados para serem utilizados como matérias-primas em
indústrias alimentares, indústrias de rações animais, indústrias farmacêuticas e ainda em indústrias
de papel.
A fábrica labora em regime contínuo e todos os processos tecnológicos utilizados nas diversas
linhas produtivas são equivalentes aos adoptados por outras fábricas similares a nível internacional.
Actualmente, a COPAM é a única empresa nacional produtora de amido e seus derivados e
constitui-se como uma referência nesta área, apesar da crescente concorrência dum mercado sem
fronteiras.

Na Figura 1.1 apresenta-se um esquema do processo fabril. O milho amarelo dentado é a


matéria-prima utilizada nesta empresa e, numa primeira fase do processo, sofre um tratamento de
moagem húmida para separação dos diversos componentes. O leite de amido, assim obtido, é então
enviado para diversas linhas produtivas podendo originar amido nativo, xaropes de glucose, xaropes
de glucose-frutose e dextrose.

1
Milho amarelo dentado

Limpeza
Milho partido

Maceração
Água de Maceração

Pré-moagem Desidratação Secagem


Gérmen de Milho

Moagem Desidratação Secagem Fibra


(Corn gluten feed)

Desidratação Secagem Glúten


(Corn gluten meal)

LEITE DE AMIDO

Hidrólise ácida Liquefacção e Centrifugação


Hidrólise enzimática

Purificação Secagem
Sacarificação

Concentração
Purificação

Xaropes de Glucose Amido Nativo

HIDROLIZADO

Pré-concentração Concentração

Isomerização Cristalização

Purificação Centrifugação

Concentração Secagem

Xaropes de Glucose-Frutose Dextrose

Figura 1.1. Esquema do processo fabril da COPAM. As operações unitárias foram removidas por questões de
confidencialidade.

2
CAPÍTULO 2
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. O AMIDO

2.1.1. COMPOSIÇÃO, ESTRUTURA E FONTES DE AMIDO

O amido é a principal substância de reserva nas plantas superiores e fornece de 70 a 80% das
calorias consumidas pelo homem. Existem diversas fontes de amido, sendo o milho a mais comum
em todo o mundo (Schenck & Hebeda, 1992). As fontes comerciais de amido mais importantes são os
grãos de cereais, os grãos de leguminosas e as raízes tuberosas. As cinco principais espécies
consideradas mundialmente como fontes comerciais de amido são o milho, o trigo, o arroz, a batata
e a mandioca.
O armazenamento de amido sob a forma de grânulos é um processo conveniente para a planta
uma vez que é uma fonte insolúvel de energia, a qual pode ser gradualmente utilizada através da
acção de enzimas, sem aumentar a pressão osmótica. Os depósitos de amido podem ser temporários
ou permanentes. Como forma de armazenar temporariamente os produtos da fotossíntese, o amido
é produzido em grande quantidade nas folhas dos vegetais. Por outro lado, como reserva
permanente de hidratos de carbono para as plantas, o amido é armazenado em órgãos de reserva,
tais como as sementes, a medula, os raios medulares e o córtex de caules e raízes.
O tamanho e a forma dos grânulos são específicos de cada espécie de planta e podem servir de
meio de identificação microscópica da origem botânica do amido (cf. Figura 2.1). (Bueno, 2006)

Figura 2.1. Fotomicrografia de grânulos de amido de diferentes origens botânicas. (A) Amido de milho. (B)
Amido de batata. Fonte: Davies, 2006.

3
O amido puro é um pó branco, sem sabor e inodoro, insolúvel em água e álcool. Consiste numa
mistura de dois polissacáridos estruturalmente diferentes: a amilose e a amilopectina.
A amilose (cf. Figura 2.2 A) é uma molécula linear composta por unidades de D-glucose ligadas
uniformemente por pontes glicosídicas α-1,4, que conferem forma helicoidal à molécula. Tal como a
amilose, a amilopectina (cf. Figura 2.2 B) é constituída por unidades de glucose unidas por ligações α-
1,4, diferindo desta por apresentar ligações α-1,6 que constituem pontos de ramificação. Devido a
essas diferenças estruturais, a amilose é mais hidrossolúvel que a amilopectina, e essa característica
pode ser usada para separar esses dois componentes. A mesma característica constitui um factor
importante para explicar a acção de enzimas sobre o amido e a sua aplicação em processos
industriais (cf. subcapítulo 2.2.3.1.1). (Dziedzic & Kearsley, 1984; Schenck & Hebeda, 1992)

Figura 2.2. Projecção das diferentes ligações entre as unidades de glucose, na amilose e na amilopectina. (A)
Estrutura da amilose – polímero linear composto por D-glucoses unidas por ligações α-1,4. (B) Estrutura da
amilopectina – polímero ramificado composto por D-glucoses unidas por ligações α-1,4 e α-1,6. Adaptado de
Dziedzic & Kearsley (1984).

2.1.2. PROPRIEDADES DO AMIDO

O amido tem sido considerado um produto de grande potencial não só para alimentação
humana e animal, mas também para a indústria. Contudo, importa ressalvar que a exploração deste
potencial depende do conhecimento das suas propriedades quanto à estrutura, forma, cor, absorção
de água, solubilidade, dilatação e viscosidade.
As propriedades do amido envolvem as suas características físicas, químicas e funcionais,
estando muitas delas associadas entre si. Actualmente, diversas pesquisas sobre a relação existente
entre a estrutura molecular do amido e as suas propriedades físico-químicas sugerem que diversas
características estruturais, como o teor de amilose, a distribuição de comprimento das cadeias de

4
amilopectina e o grau de cristalinidade do grânulo, poderiam estar estreitamente relacionadas com
os processos de gelatinização e retrogradação (Denardin & Silva, 2008).
A solubilidade do amido é uma propriedade de extrema importância no contexto deste
trabalho, na medida em que as enzimas em estudo não actuam sobre o amido sólido, mas sim sobre
o amido gelatinizado. Assim, é importante referir que o amido, quando adicionado a água fria e
mantido sob agitação, forma uma suspensão de aspecto leitoso, separando-se após repouso. Embora
se tenha verificado que uma pequena fracção se torna solúvel quando agitado em água, é tido como
praticamente insolúvel.
O aquecimento de suspensões de amido em excesso de água causa uma transição irreversível
denominada gelatinização, cuja principal característica é o aumento da condutividade e da
viscosidade, pela diminuição ou mesmo perda de birrefringência (perda da cruz de malta), observada
usando microscopia de luz polarizada (cf. Figura 2.3) e pelo desaparecimento da cristalinidade
evidenciada pela difracção de raios X (Garcia et al., 1997).

Figura 2.3. Fotomicrografia de grânulos de amido de milho, não gelatinizados, sob luz polarizada. Fonte:
Rotkiewicz (2008).

Todas estas alterações ocorrem numa gama de temperaturas relativamente pequena e são
formadas pastas das suspensões de amido.
A gelatinização é causada pelo enfraquecimento da rede intermicelar, pela quebra das ligações
de hidrogénio e pela ligação de moléculas de água de modo a libertar os grupos hidroxilo, causando a
desintegração total da estrutura do grânulo.

5
A retrogradação é o processo que ocorre quando as moléculas de amido gelatinizadas se
começam a reassociar, favorecendo uma estrutura mais ordenada. O nome retrogradação é dado
porque o amido volta à sua condição de insolubilidade em água fria. A retrogradação tem origem na
tendência das moléculas, ou de grupos de moléculas, de amido dissolvido, se unirem umas às outras
através de pontes de hidrogénio, formando novamente partículas de maior dimensão, numa
tentativa de cristalização de moléculas grandes e pesadas que, por essa razão, precipitam (Atwell et
al., 1998). A retrogradação é um fenómeno complexo e varia de acordo com diversos factores, como
a temperatura, o pH, a fonte de amido e a presença de outros componentes (lípidos, electrólitos e
açúcares) (Denardin & Silva, 2008).

2.2. A INDÚSTRIA AMIDEIRA

A indústria amideira extrai amido de diversas fontes e processa-o numa grande variedade de
produtos, como é o caso dos amidos nativos, xaropes de glucose, xaropes de glucose-frutose (vulgo
isoglucoses) e dextrose (anidra ou monohidratada). Dos processos de produção obtêm-se, ainda,
diversos sub-produtos, como por exemplo, o corn gluten feed, o corn gluten meal ou o gérmen, cuja
valorização representa uma forma de reduzir custos de produção.

2.2.1. O MERCADO MUNDIAL DE AMIDO

O mercado mundial de amido está dividido em cinco matérias-primas: milho, trigo, arroz,
batata e mandioca. O milho é a mais significativa, sendo utilizado em 75% da produção mundial de
amido. É a principal fonte de amido nos Estados Unidos, sendo responsável por cerca de 90% da
produção de amido do país. No que diz respeito à União Europeia, o milho é responsável por cerca
de 46% da produção de amido. No Brasil, o sector de produção de amido de milho é responsável por
70% da produção total de amido, sendo os restantes 30% predominantemente provenientes de
mandioca.
De acordo com a Association des Amidonniers et Féculiers, a indústria do amido na União
Europeia processa cerca de 21,6 milhões de toneladas de matérias-primas e produz mais de 9,0
milhões de toneladas de amido e seus derivados.

2.2.2. SECTORES DE APLICAÇÃO DOS PRODUTOS AMILÁCEOS

Os produtos amiláceos são utilizados como matérias-primas principalmente nas indústrias


alimentares, indústrias de rações animais, indústrias farmacêuticas e ainda em indústrias de papel.
Segundo a Association des Amidonniers et Féculiers, o consumo de amido e seus derivados nos
mercados da União Europeia atingiu os 8,7 milhões de toneladas em 2008 (AAF, 2009).

6
A Figura 2.4 representa os diversos sectores de aplicação dos produtos amiláceos e respectiva
quota.

Sectores de Aplicação dos Produtos Amiláceos


Sectores de aplicação em 2008 em termos de consumo em toneladas

Aplicações alimentares: 60% Aplicações não alimentares: 40%

Outros produtos
não alimentares, 4% Alimentos
processados, 29%
Papel, 28%

Produtos químicos/
farmacêuticos, 6%
Confeitaria e
Rações animais, 1% bebidas, 32%

Figura 2.4. Quota de aplicação dos produtos amiláceos, nos diversos sectores industriais, no ano de 2008.
Dados relativos à União Europeia. Adaptado de AAF (2009).

2.2.3. PRODUÇÃO DE XAROPES DE GLUCOSE A PARTIR DO MILHO

Os xaropes de glucose são o produto da hidrólise do amido. Este pode ser hidrolisado por via
química (através de tratamento com ácidos, temperatura, pressão), por via enzimática, ou ainda por
uma conjugação dos dois processos.

2.2.3.1. A HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO AMIDO

2.2.3.1.1. AS ENZIMAS AMILOLÍTICAS

As enzimas utilizadas no processo de hidrólise do amido são conhecidas por enzimas


amilolíticas ou amilases e podem ser classificadas pelo mecanismo de acção ou pela acção em si. Se
tivermos em consideração o mecanismo de acção, classificam-se em:

 Endo enzimas: α-amilase, pululanase, enzimas ciclizantes (CGTase) que quebram ao acaso
as ligações glicosídicas no interior da molécula;

7
 Exo-enzimas: β-amilase, amiloglucosidase, que hidrolisam a molécula a partir de uma
extremidade não redutora.

Por outro lado, se considerarmos as enzimas utilizadas no processo de hidrólise quanto à


acção, as mesmas classificam-se em:

 Amiloglucosidase: é uma enzima que hidrolisa as ligações α-1,4 o amido a partir de uma
extremidade não redutora.

 β-amilase: é uma enzima que catalisa especificamente a hidrólise das ligações α-1,4 do
amido a partir de uma extremidade não redutora, produzindo maioritariamente maltose,
açúcar composto por duas unidades de glucose.

 α-amilase: é uma enzima que catalisa especificamente e ao acaso a hidrólise das ligações α-
1,4 do amido, mas não consegue hidrolisar as ligações α-1,6. Esta enzima é considerada
uma enzima liquidificante porque reduz drasticamente a viscosidade de pastas de amido;

 Pululanases: são enzimas que hidrolisam apenas as ligações α-1,6 do amido.

 Ciclizantes ou CGTases: são endoenzimas capazes de, simultaneamente, cortar dextrinas de


7, 8 e 9 moléculas de glucose e promover a sua ciclização para formar ciclodextrinas. Grael
(1989)

As enzimas podem ser de origem vegetal, animal ou microbiana. Esta última representa a
maior fonte de enzimas comerciais e, como tal, tem sido objecto de muitas pesquisas científicas e
tecnológicas, tanto no aspecto da optimização do processo de produção, como no aperfeiçoamento
genético de microrganismos utilizados na sua produção.

Na Tabela 2.1 apresenta-se um resumo da classificação das amilases.

Tabela 2.1. Amilases de origem microbiana. Fonte: Grael (1989)

Microrganismos
Sub-Divisão Enzimas Actividade
Produtores
B. subtilis
Hidrolisam as ligações α-1,4 do amido a partir de uma
β-amilases B. amyloliquefaciens
extremidade não redutora, produzindo apenas maltose.
B. liqueniformis
Exoamilases
A. niger
Hidrolisam as ligações α-1,4 do amido a partir de uma
Amiloglucosidases A. awamori
extremidade não redutora formando glucose
A. orysae
B. cereus
B. megaterium
Hidrolisam especificamente e ao acaso as ligações α-1,4 do
B. polymyxa
α-amilases amido formando glucose, maltose, maltotriose e outros
A. niger
polissacáridos.
A. awamori
Endoamilases A. orysae
B. cereus
Pululanases Hidrolisam as ligações α-1,6 do amido B. macerans
B. amiloliquefaciens
Enzimas Hidrolisam o amido formando compostos cíclicos de D-
B. macerans
ciclizantes glucose

8
As α-amilases, enzimas sobre as quais incide este estudo, precisam de certas condições
específicas para que possam ser utilizadas com o máximo desempenho. A actividade enzimática é
condicionada por diversos factores como a temperatura, o pH, a concentração de substrato, a
concentração da própria enzima, a presença de activadores e a presença de inibidores.
As enzimas são activas num determinado intervalo de temperatura, apresentando actividade
máxima à temperatura óptima. Acima da temperatura óptima a actividade enzimática diminui
rapidamente e para temperaturas elevadas a enzima sofre desnaturação, com consequente perda
irreversível de actividade biológica. Por sua vez, baixas temperaturas causam a inibição da actividade
da enzima mas não as destroem e, consequentemente, a actividade é retomada quando aumenta a
temperatura.
As enzimas têm também um pH óptimo de actuação, acima e abaixo do qual a sua actividade
diminui e acaba por cessar. O pH do meio influencia a conformação do centro activo da enzima e,
consequentemente, a sua interacção com o substrato. Valores extremos deste parâmetro induzem a
desnaturação da enzima, perdendo irreversivelmente a sua actividade.
Relativamente à concentração de substrato, existe uma concentração óptima no que diz
respeito à actividade da enzima.
Ao aumento da concentração da enzima, corresponde um aumento da velocidade da reacção
desde que haja substrato disponível e se mantenham as condições de temperatura e pH dentro do
intervalo óptimo de funcionamento da enzima.
A presença de inibidores é outro parâmetro que condiciona a actividade enzimática,
diminuindo-a. Os efeitos dependem do tipo de inibição (irreversível, reversível competitiva,
reversível não competitiva).
Por sua vez, a presença de activadores, como é o caso dos iões cálcio, é necessária para
manter a estabilidade da estrutura secundária e terciária da enzima (Fischer & Stein, 1960).
Apesar de existir um valor óptimo de cada um destes parâmetros, é necessário ter em conta o
compromisso entre actividade e estabilidade enzimática. A estabilidade enzimática é, então, a
capacidade que uma enzima tem de manter a sua actividade catalítica sob diferentes condições de
reacção ao longo do tempo. Deste modo, as condições de processo ideais ao uso de determinada
enzima, não são mais do que compromissos entre os diversos factores, daí que a correcta definição
dos intervalos das variáveis de processo represente uma fase crítica para o bom funcionamento do
mesmo. (Blanchard, 1992)

9
2.2.3.1.2. A LIQUEFACÇÃO DO AMIDO

A liquefacção do amido é a combinação de dois processos: a completa gelatinização do


polímero de amido, de modo a possibilitar a acção da α-amilase, seguida da dextrinização até um
determinado grau que previna a retrogradação em passos posteriores do processo. O xarope
resultante da liquefacção pode ser considerado um produto final ou um produto intermédio, sendo,
neste último caso, enviado para a etapa de sacarificação (Schenck & Hebeda, 1992).
O controlo do processo de liquefacção deve ser efectuado por medições das variáveis de
processo, nomeadamente, temperatura, pH, concentração de cálcio e percentagem de matéria seca,
bem como por um acompanhamento do grau de hidrólise através de medições de Equivalente em
Dextrose (DE) do hidrolisado obtido e a capacidade que este tem para desenvolver coloração azul
quando em contacto com iodo (é o chamado teste de amido). O grau de hidrólise obtido nesta etapa
tem uma grande influência na composição dos produtos obtidos pela subsequente sacarificação.

2.2.3.1.3. A SACARIFICAÇÃO DO AMIDO

A sacarificação é a segunda etapa da hidrólise enzimática do amido, na qual os oligossacáridos


provenientes da liquefacção são hidrolisados de uma forma mais completa para originar um xarope
com uma elevada proporção de açúcares de baixo peso molecular. A sacarificação pode produzir
uma vasta gama de xaropes com diferentes composições, dependente do grau de hidrólise medido
em DE. DE representa o Equivalente em Dextrose e é uma medida do número de extremidades
redutoras dos produtos de hidrólise do amido. O número de extremidades redutoras transmite uma
ideia da polimerização da molécula de amido e, portanto, quanto maior o valor de DE, maior o efeito
de hidrólise
A enzima utilizada nesta fase do processo é uma amiloglucosidase que, como foi referido no
subcapítulo 2.2.3.1.1, hidrolisa apenas as ligações α-1,4 do amido. As ligações α-1,6 constituem cerca
de 4 – 5% das ligações totais no amido. Deste modo, se se usarem apenas α-amiloglucosidases na
sacarificação do amido, apenas se consegue obter um xarope com 95 – 96 DE. Para aumentar o teor
em glucose do hidrolisado é necessário usar uma combinação entre α-amiloglucosidases e
pululanases, enzimas que hidrolisam as ligações α-1,6.
O controlo do processo de sacarificação deve ser realizado por medições das variáveis de
processo, nomeadamente, temperatura, pH e percentagem de matéria seca, e por um
acompanhamento do grau de conversão através de medições de equivalente em dextrose e da
composição de açúcares do xarope obtido, bem como realização de testes de amido.

10
2.2.3.2. O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE XAROPES DE GLUCOSE UTILIZADO NA COPAM

CONFIDENCIAL

Figura 2.5. Diagrama do processo de produção de xaropes de glucose, por via dual-enzimática, implementado
na COPAM.

2.2.4. PRODUÇÃO DE DEXTROSE A PARTIR DO MILHO

A dextrose é um monossacárido disponível em duas formas: monohidrato com 8.5 por cento
de água de cristalização e anidro que, como o nome indica, não contém humidade livre (Josly, 1964).
Quando a dextrose é o produto final desejado, as condições de hidrólise do amido devem ser
ajustadas para dar um conteúdo máximo de D-Glucose no hidrolisado, de modo a maximizar o
rendimento de cristalização.
Para produção de dextrose monohidratada, o hidrolisado proveniente da sacarificação, depois
de purificado e descolorado, é concentrado num evaporador de filme descendente até se obter cerca
de 75% de matéria seca e, de seguida, é arrefecido e enviado aos cristalizadores, nos quais foi
deixada uma quantidade prévia de cristais para servir de núcleo de cristalização. A cristalização da
forma hidratada é geralmente conduzida na gama de temperaturas 30-50 °C, pelo período de 3-5
dias, podendo ser realizada em batch ou em contínuo (Blanchard, 1992). A matéria seca, o conteúdo
em D-Glucose e a temperatura do hidrolisado devem ser cuidadosamente controladas de modo a
garantir que a sobressaturação, força motriz da cristalização, se mantém dentro da gama óptima
(Schenck, 1992). É importante definir a taxa de arrefecimento de maneira a que a sobressaturação
permaneça praticamente constante durante o período de arrefecimento (Mersmann, c1995).
Os cristalizadores de dextrose monohidratada são tanques cilíndricos horizontais equipados
com agitador e camisas de arrefecimento, nas quais circula água, para induzir o crescimento dos
cristais. O processo de cristalização por arrefecimento pode ser utilizado quando a solubilidade da
substância a ser cristalizada aumenta com a temperatura, o que, de facto, acontece no caso da D-
Glucose (cf. Figura 2.6)

11
Solubilidade da dextrose monohidratada

(g dextrose/g água)
4,0

Solubilidade
3,0
2,0
1,0
0,0
15 25 35 45 55
Temperatura (°C)

Figura 2.6. Curva de solubilidade da dextrose monohidratada. Adaptado de Blanchard (1992).

A massa resultante dos cristalizadores tem o nome de massecuite e é enviada para uma
centrífuga de cesto perfurado com tela filtrante para separar os cristais das águas-mães de
cristalização, às quais se dá o nome de hidrol. Utiliza-se água quente desmineralizada para lavar os
cristais e a quantidade de água deverá ser optimizada para remover o hidrol sem, no entanto,
dissolver excessivamente os cristais (Schenck, 1992).
O hidrol pode ser concentrado e recirculado a um novo ciclo de cristalização, de modo a
aumentar o rendimento de cristalização (Hui, 1992).
A humidade e a temperatura do produto final devem ser rigorosamente controladas. Assim, os
cristais provenientes da centrífuga, cuja humidade ronda os 12-14 %, são enviados a um secador de
leito fluidizado até que apresentem uma humidade abaixo da quantidade estequeométrica do
monohidrato (8,5%) de modo a remover toda a humidade livre. Deve ter-se em atenção que a
secagem do produto a temperaturas elevadas consegue retirar alguma água de hidratação e
converter parcialmente os cristais à forma anidra. O mesmo acontece se o produto for armazenado a
elevadas temperaturas. Para o evitar, os cristais, depois de secos, são arrefecidos a uma temperatura
inferior a 30°C. (Schenck, 1992)

2.2.4.1. O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE DEXTROSE MONOHIDRATADA UTILIZADO NA COPAM

CONFIDENCIAL

Figura 2.7. Diagrama do processo de produção de dextrose monohidratada implementado na COPAM.

12
CAPÍTULO 3
3. MATERIAIS E MÉTODOS

CONFIDENCIAL

3.1. MATERIAIS

3.1.1. REAGENTES

Tabela 3.1. Reagentes utilizados nos diversos procedimentos experimentais.

3.1.2. ENZIMAS

Tabela 3.2. Alfa-amilases utilizadas no ensaio industrial para optimização do processo de produção de xaropes
de glucose.

3.1.3. EQUIPAMENTO E OUTROS MATERIAIS

Tabela 3.3. Equipamento utilizado nos diversos procedimentos experimentais.

13
CONFIDENCIAL

3.2. MÉTODOS ANALÍTICOS

Neste subcapítulo descrever-se-ão os procedimentos laboratoriais adoptados. Cada um dos


métodos analíticos descritos foi utilizado para analisar amostras de xaropes após liquefacção e após
sacarificação. Para aplicar cada um dos métodos indicados é necessário começar por filtrar a amostra
em papel de filtro para reter os resíduos proteicos.

Figura 3.1. Indicação do local de recolha das amostras analisadas no diagrama de produção de xaropes de
glucose, por via dual-enzimática, implementado na COPAM.

3.2.1. DETERMINAÇÃO DA MATÉRIA SECA ATRAVÉS DO ÍNDICE DE REFRACÇÃO

3.2.2. DETERMINAÇÃO DO EQUIVALENTE EM DEXTROSE (DE) POR OSMÓMETRIA

3.2.3. DETERMINAÇÃO DA COMPOSIÇÃO EM AÇÚCARES POR HPLC

Tabela 3.4. Condições operatórias da cromatografia para uma boa separação de picos.

Tabela 3.5. Tempos de retenção típicos de cada componente das amostras em análise, para a coluna Aminex-
87 C.

3.2.4. DETERMINAÇÃO DO PH

3.2.5. REALIZAÇÃO DO TESTE DE AMIDO POR REACÇÃO AO IODO

Tabela 3.6. Resultados possíveis após realização do teste de amido por reacção ao iodo.

3.2.6. DETERMINAÇÃO DO TEOR EM CÁLCIO POR TITULAÇÃO COM EDTA

14
CONFIDENCIAL

3.3. MÉTODOS EXPERIMENTAIS

3.3.1. ENSAIO INDUSTRIAL: LIQUEFACÇÃO ENZIMÁTICA COM A ENZIMA EM TESTE

3.3.2. OPTIMIZAÇÃO DO RENDIMENTO DE CRISTALIZAÇÃO DA DEXTROSE

15
CAPÍTULO 4
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

CONFIDENCIAL

4.1. OPTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE XAROPES DE GLUCOSE

4.1.1. LEVANTAMENTO DAS CONDIÇÕES DE PROCESSO

Tabela 4.1. Condições de especificação do processo de produção de xaropes de glucose por via dual
enzimática.

Tabela 4.2. Condições de especificação indicadas pelo fornecedor para a utilização da enzima actual.

Figura 4.1. Representação gráfica do pH do leite de amido à entrada do processo de liquefacção, ao longo dos
meses em estudo.

Figura 4.2. Representação gráfica da concentração de cálcio do 15 DE à saída dos reactores tubulares do
processo de liquefacção, ao longo dos meses em estudo.

Figura 4.3. Representação gráfica da percentagem de matéria seca do 15 DE à saída dos reactores tubulares do
processo de liquefacção, ao longo dos meses em estudo.

Figura 4.4. Representação gráfica do Equivalente em Dextrose (DE) do xarope 15 DE à saída dos reactores
tubulares do processo de liquefacção, ao longo dos meses em estudo.

Figura 4.5. Representação gráfica dos consumos específicos de enzima utilizada na liquefacção, para os meses
em estudo.

Figura 4.6. Representação gráfica do pH do xarope à entrada do processo de sacarificação, ao longo dos meses
em estudo.

Figura 4.7. Representação gráfica da percentagem de matéria seca do Hidrolisado 95 após sacarificação, ao
longo dos meses em estudo.

Figura 4.8. Representação gráfica do Equivalente em Dextrose (DE) do Hidrolisado 95 após sacarificação, ao
longo dos meses em estudo.

16
CONFIDENCIAL

Figura 4.9. Representação gráfica da composição em açúcares do hidrolisado 95, obtida por HPLC, para os
vários meses em estudo.

4.1.2. CORRECÇÃO DOS PARÂMETROS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO UTILIZANDO A ENZIMA ACTUAL

Tabela 4.3. Ensaio de optimização do processo de liquefacção enzimática, utilizando a enzima actual.

Tabela 4.4. Condições óptimas de funcionamento do processo com a enzima actual.

17
CONFIDENCIAL

4.1.3. ENSAIO INDÚSTRIAL COM A ENZIMA EM TESTE

Tabela 4.5. Condições de especificação indicadas pelo fornecedor para a utilização da enzima em teste.

Tabela 4.6. Ensaio de optimização do processo de liquefacção enzimática, utilizando a enzima em teste.

Tabela 4.7. Condições óptimas de funcionamento do processo com a enzima em teste.

18
CONFIDENCIAL

4.1.4. ANÁLISE COMPARATIVA DO EFEITO DE VÁRIOS PARÂMETROS NA LIQUEFACÇÃO ENZIMÁTICA

4.1.4.1. EFEITO DA CONCENTRAÇÃO ESPECÍFICA DE ENZIMA

Figura 4.10. Análise do efeito da concentração específica de enzima necessária à obtenção de determinados
valores de DE.

4.1.4.2. EFEITO DA CONCENTRAÇÃO DE CÁLCIO

Figura 4.11. Análise comparativa do efeito da concentração de cálcio na liquefacção enzimática do amido.

4.1.4.3. EFEITO DO PH

4.1.4.4. QUALIDADE DO PRODUTO FINAL

Tabela 4.8. Seguimento do processo de sacarificação do xarope produzido durante o ensaio de optimização da
liquefacção enzimática. Comparação de valores para o xarope produzido utilizando ambas as enzimas na
liquefacção.

19
CONFIDENCIAL

4.1.5. ANÁLISE COMPARATIVA DE CUSTOS

Tabela 4.9. Comparação dos valores dos vários parâmetros do processo, depois da optimização do mesmo,
para cada uma das enzimas em estudo.

Figura 4.12. Ensaio laboratorial para determinar a dosagem de solução de carbonato de sódio necessária ao
ajuste de pH para as condições óptimas de funcionamento de cada enzima.

Figura 4.13. Ensaio laboratorial para determinar a dosagem de solução de ácido clorídrico necessária ao ajuste
de pH para as condições óptimas de funcionamento da sacarificação.

20
CONFIDENCIAL

4.2. OPTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE DEXTROSE

Tabela 4.10. Condições de especificação do processo de produção de dextrose monohidratada.

21
CONFIDENCIAL

4.2.1. DETERMINAÇÃO DO RENDIMENTO TEÓRICO DE CRISTALIZAÇÃO

Tabela 4.11. Rendimento teórico de cristalização calculado para uma temperatura de cristalização de 30°C e um
coeficiente de sobressaturação final de 1,05, variando a percentagem de matéria seca e a percentagem de
glucose do xarope de alimentação à cristalização.

Tabela 4.12. Rendimento teórico de cristalização calculado para uma temperatura de cristalização de 31°C e e
um coeficiente de sobressaturação final de 1,05, variando a percentagem de matéria seca e a percentagem de
glucose do xarope de alimentação à cristalização.

22
CONFIDENCIAL

4.2.2. DETERMINAÇÃO DO RENDIMENTO REAL DE CRISTALIZAÇÃO

Figura 4.14. Diagrama representativo do processo de produção de dextrose monohidratada.

Tabela 4.13. Caracterização das correntes do processo de produção de dextrose monohidratada. As quantidades de cada
componente nas correntes foram determinadas por balanços mássicos

23
CONFIDENCIAL

4.2.3. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE RENDIMENTO TEÓRICO E RENDIMENTO REAL DE CRISTALIZAÇÃO

4.2.3.1. VARIÁVEIS DO PROCESSO QUE INFLUENCIAM O RENDIMENTO DE CRISTALIZAÇÃO

4.2.3.2. PERDAS DE PRODUTO NAS VÁRIAS OPERAÇÕES UNITÁRIAS QUE INFLUENCIAM O RENDIMENTO DE

CRISTALIZAÇÃO

24
CONFIDENCIAL

4.2.4. SUGESTÕES DE ACÇÕES FUTURAS

25
CAPÍTULO 5
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

CONFIDENCIAL

26
CONFIDENCIAL

27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Carbohydrate Research Foundation, pp. 89-96.

29
ANEXOS

A. TABELA DE VALORES DE OSMOLALIDADES DE REFERÊNCIA PARA O XAROPE APÓS LIQUEFACÇÃO (15DE) E


APÓS SACARIFICAÇÃO (H95)

CONFIDENCIAL

B. FOLHAS DE ESPECIFICAÇÃO E SEGURANÇA DA ENZIMA LIQUOZYME SUPRA

CONFIDENCIAL

C. FOLHAS DE ESPECIFICAÇÃO E SEGURANÇA DA ENZIMA CLEARFLOW AA

CONFIDENCIAL

D. CROMATOGRAMAS OBTIDOS PELA TÉCNICA DE HPLC APLICADA ÀS AMOSTRAS DE HIDROLISADO

CONFIDENCIAL

30

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