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INTRODUÇÃO
Certificação é o processo pelo qual uma agência certificadora credenciada autoriza uma
outra empresa a usar um selo distintivo cujo objetivo é assegurar ao consumidor que
essa empresa, seus produtos, processos ou serviços estão de acordo com
determinados padrões de eficiência e desempenho, ou, ainda, que a empresa está
comprometida com determinados processos.
O trabalho que segue, parte de tese de doutorado defendida e aprovada, é resultado
de uma análise crítica orientada a resgatar o sentido e a meta do processo de
desenvolvimento, bem como desvelar incoerências subjacentes ao discurso baseado
numa noção enviesada de
sustentabilidade enquanto lastro para a confecção de sistemas de certificação
ambiental, notadamente, a certificação em ecoturismo.
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É certo que uma parte desses produtos está de fato engajada em programas de
empresas e organizações comprometidas com os princípios da sustentabilidade e que
procuram minimizar os impactos ambientais e sociais. Por outro lado, a outra parte
desses produtos resulta de uma estratégia puramente publicitária, isto é,
desenvolvem-se produtos com apelos ecológicos para atrair o consumidor responsável,
constituindo-se apenas num engodo desprovido de qualquer comprometimento com as
questões ambientais.
A situação dos segmentos do mercado relacionados ao turismo sustentável e
ecoturismo não é diferente. A utilização à revelia de denominações tais como turismo
natural, turismo cultural, turismo responsável, turismo ambiental, turismo ecológico e
ecoturismo é uma prática comum, mesmo quando o empreendimento está
grosseiramente em contradição com os conceitos de sustentabilidade (BIEN 2003;
WWF-BRASIL, 2001). A rápida disseminação deste tipo de prática é o resultado da
busca irracional por maiores lucros e produz, por um lado, a necessidade de controlar
o uso arbitrário dos eco-determinantes e, por outro lado, uma oportunidade de
mercado para o surgimento e propagação das agências de certificação ambiental.
Sob o argumento, parcialmente incontestável, de orientar o consumidor responsável
em meio ao labirinto dos produtos verdes, as agências e programas de certificação
ambiental acompanharam a nova onda do mercado e se multiplicaram avidamente em
busca de garantir um lugar
ao sol. No trajeto da economia neoclássica, as promessas de maior competitividade e
maiores lucros são sempre a fonte de motivação para a captação e adesão das
empresas que procuram pela certificação.
A adoção de um sistema capaz de controlar o uso de eco-determinantes, bem como de
atribuir um distintivo para auxiliar o consumidor a identificar quais produtos estão de
acordo com os princípios da sustentabilidade, constituem-se em demandas plenamente
contempláveis por um sistema de certificação.
Considerando que o ecoturismo é um produto definido a partir de conceitos específicos
que, neste caso, fazem referência direta ao desenvolvimento sustentável (veja GRUPO
DE TRABALHO INTERMINISTERIAL MMA-MICT-IBAMA-EMBRATUR, 1994), a certificação
do ecoturismo pode se constituir num instrumento eficiente para assegurar a sua
legitimidade, ou seja, assegurar que a base conceitual que define o ecoturismo seja
realmente o suporte para o seu funcionamento.
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“[O ecoturismo é] um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio
natural e cultural, incentiva a sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista
por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas.”
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Além disso, outro aspecto que pode auxiliar na proteção contra o impacto cultural e
ambiental do turismo, é a noção de qualidade local, que se destaca pela sua importância
ao procurar respeitar as idiossincrasias de cada grupo cultural no que se refere à noção
de qualidade, constituindo-se em um dos pontos-chave para o sucesso de um projeto
de ecoturismo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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“[...] a certificação participativa funda-se na construção coletiva de normas (embora sendo únicas
para toda a Rede [Ecovida], foram fruto de discussão coletiva e permite-se a revisão das mesmas,
através de propostas que podem ser encaminhadas à coordenação da Rede para nova discussão
coletiva), na co-responsabilização dos membros pelo cumprimento dessas normas e no controle social
de todo o processo, enfatizando a interação entre os produtores e a relação de proximidade.”
REFERÊNCIAS
BEZERRA, J. A. Nossos bosques têm mais vida. Revista Globo Rural, Rio de Janeiro, ano
19, n. 226, p. 22 . 32, agosto de 2004.
BIEN, A. A Simple User´s Guide to Certification for Sustainable Tourism and Ecotourism.
Washington, DC: The International Ecotourism Society (draft publication), 2003. 25p.
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