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Graduando em Geografia pela UERJ e bolsista IC/FAPERJ.
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Orientadora, Coordenadora do Grupo de Estudos Ambientais (GEA/UERJ) e Professora Adjunta do Deptº
de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
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Co-orientadora, Professora Visitante do Deptº de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
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informações da duração de percurso de cada trilha e com informações coletadas
em campo (identificação dos obstáculos, comprimento e duração de percurso),
serviu para calcular o gasto calórico perdido durante a caminhada. Com este
método a trilha não será analisada de modo subjetivo o que ocorre em
metodologias nacionais e internacionais, mas sim através de parâmetros objetivos
e científicos. A partir desta análise poderemos relacionar o grau de dificuldade de
uma trilha, através do seu equivalente gasto energético expresso em Joules ou
calorias, gerando um parâmetro de fácil comparação. As trilhas pesquisadas
foram: Trilha do Camorim, Sacarrão, das Praias e Sacarrão, com o seu grau de
dificuldade, respectivamente: grau moderado (1166 kcal), grau fácil a moderado
(958 kcal), grau fácil (589 kcal) e grau muito fácil (274 kcal).
1. Introdução e Objetivos
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essas novas modalidades de incursões na natureza. Sua abrangência e efeitos são
ainda pouco conhecidos, devido ao desenvolvimento recente e à territorialidade
instável das atividades.
No contexto das atividades ecoturísticas, relacionadas aos esportes de
aventura, os atrativos que oferecem ao visitante maior experiência e vivência da
natureza são as trilhas, que exigem uma infra-estrutura de manejo apropriada à
demanda de seus usuários, principalmente quando em áreas naturais (COSTA,
2006).
Assim podemos observar em sua própria definição, que a trilha é um:
“Caminho existente ou estabelecido, com diferentes formas, comprimentos e
larguras, que possui o objetivo de aproximar o visitante ao ambiente natural, ou
conduzi-lo a um atrativo específico, possibilitando seu entretenimento ou
educação, através de sinalizações ou de recursos interpretativos” (SALVATI, 2000).
A implementação do turismo sustentável, particularmente do turismo
ecológico ou ecoturismo, deve estar em sintonia com a capacidade de suporte dos
recursos naturais e infra-estrutura física existente, sendo legitimada pela ampla
participação das comunidades locais, principalmente aquelas próximas às Unidades
de Conservação. Essas populações devem ser contempladas com atividades de
interpretação e educação ambiental, para servir de suporte ao conhecimento e
difusão da importância de se conservar a flora e a fauna.
Na cidade do Rio de janeiro, a população tem utilizado, cada vez mais, as
áreas preservadas para o lazer, o turismo ecológico e a prática de esportes de
aventura, e é no centro geográfico do município que se encontra uma das áreas de
maior potencial: o Maciço da Pedra Branca, possuidor da maior floresta urbana do
mundo e de uma significativa área de Mata Atlântica a ser protegida pelo Parque
Estadual da Pedra Branca - PEPB (COSTA, op. cit).
Segundo dados do relatório de normatização e certificação sobre o turismo
de aventura do Ministério do Turismo (2005), a caminhada ou hiking, é a principal
atividade de aventura realizada, e é responsável por 21,4% na freqüência da
atividade mais praticada, dentre várias outras modalidades de turismo de
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aventura. Outra constatação do estudo é sobre a atividade de aventura praticada
em parques nacionais e estaduais: a caminhada de um dia é responsável, em
média, por 23% dentre todas as demais modalidades. A caminhada tem enorme
importância na prática do ecoturismo, por ser a principal modalidade praticada e a
de maior potencial de crescimento. Nesse sentido, o presente trabalho acadêmico
pretende contribuir para a melhoria das informações desta atividade de aventura
para o caminhante das trilhas.
Entretanto, as formas para medir o nível ou grau de dificuldade de uma
trilha / caminhada - principalmente quando esta é voltada à atividade física
(turismo desportivo ou de aventura) - atualmente, são subjetivas na maioria das
metodologias nacionais e internacionais. Nestas, consideram-se como parâmetros:
o tempo estimado de percurso, a declividade da travessia, à distância do trajeto e
a altitude. Dentre as metodologias os níveis ou graus utilizados seguem uma
escala de 1 a 5 ou de 1 a 10, para mensurar os tipos de dificuldades, ou seja, do
mais fácil ao mais difícil.
Para um caminhante iniciante ou leigo, esta escala não lhe traduz muito
significado, o que torna a trilha menos interessante para este. Já um caminhante
experiente, ou seja, que participa de uma atividade de aventura relacionada ao
(ecoturismo), e que tenha algum conhecimento sobre a mesma, quanto maior
informação, mais fácil o caminhante responderá positivamente à atividade.
O caminhante, inicialmente necessita de informações sobre o local para
decidir se poderá aventurar-se na trilha. Informações sobre as condições do meio
ambiente e o grau de dificuldade da trilha são importantes, tais como:
comprimento da trilha, duração da caminhada, condições de conservação,
atratividades encontradas, entre outras.
A falta de informação geralmente leva a uma expectativa positiva que pode
tornar-se negativa, por exemplo, se a trilha for demasiadamente extenuante para
um caminhante despreparado e que não está acostumado a grandes esforços
físicos. A caminhada poderá gerar um impacto ruim, criando uma imagem
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desagradável frustrando expectativas e, assim, se tornar prejudicial para a
indústria turística.
Além da dificuldade da travessia alguns pontos onde seja necessário um
maior esforço físico, obviamente as condições físicas variam de caminhante para
caminhante. Um caminhante com excelente vigor físico e praticante de exercícios
físicos regularmente, provavelmente irá discordar do grau de dificuldade de uma
trilha, achando-a extremamente fácil, ao contrário de um indivíduo sedentário, que
nunca pratica exercícios físicos.
A avaliação do grau de dificuldade da trilha é complexa, pois deverá
abranger diversas variáveis que se somam de forma independente, tais como:
altitude média do local, condições climáticas, comprimento da trilha, massa
corpórea do caminhante, velocidade de percurso e diferenças de alturas
topográficas e também outras variáveis intangíveis, (vigor do caminhante,
obstáculos nas trilhas e até mesmo a condição emocional do caminhante). Porém,
essas variáveis são subjetivas, e, portanto difíceis de serem incorporadas numa
equação matemática.
Logo, como podemos obter um parâmetro único e objetivo para tal
mensuração?
Esta resposta pode vir da aplicação de um modelo único de mensuração
para todos e quaisquer tipos físicos de caminhante, que é o seu gasto energético
ou calórico. Tal modelo propõe determinar quanto gasto calórico/energético que
uma trilha pode proporcionar a um caminhante. Assim, esse terá condições de
avaliar se a trilha é ou não adequada ao seu condicionamento, não frustrando as
suas expectativas sobre a mesma.
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cota altimétrica de 100 metros. Estende-se por cerca de 12.500 hectares (125
km2), de área e está cercado por vários bairros da Zona Oeste. No interior do
Parque está situado o ponto culminante do município do Rio de Janeiro — o Pico
da Pedra Branca, com 1.024 metros de altitude, e possui diversas trilhas e
caminhos, sendo as de maior importância e visitação as trilhas do Rio Grande,
Sacarrão, Camorim, Pico da Pedra Branca e das Praias Desertas (Figura 1).
Figura 1
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final). O tempo estimado para caminhada é de cerca de 30 minutos (total do
percurso), possuindo subidas e descidas leves (sem muita inclinação no eixo da
trilha), sendo destinada a qualquer faixa etária. Por este motivo, é a mais usada
para atividades de lazer e educação ambiental, com visitas agendadas,
principalmente por escolas.
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cerca de 50 minutos (total do percurso), possuindo subidas e descidas leves (sem
muita inclinação no eixo da trilha). Atualmente, (Julho/2006) está em fase de
término, a construção de uma sub-sede no local, o que irá favorecer um maior
controle de acesso dos visitantes e dos caminhantes dessa trilha.
4. Materiais e Métodos
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que normalmente são realizados nas academias de ginástica e até nas embalagens
de alimentos que descrevem o potencial calórico.
Com este modelo, o caminhante terá como resposta um grau de dificuldade
relacionado diretamente com o seu desgaste físico na trilha. Com isso, qualquer
gestor de uma Unidade de Conservação poderá informar ao visitante, a partir
desta metodologia, o grau de dificuldade que ele irá encontrar ao escolher
determinada trilha.
O princípio fundamental no qual se baseia este estudo é no simples fato de
que todas as atividades humanas consumam de energia. Portanto, quanto mais
difícil for à trilha, maior será o gasto de energia necessária para a sua caminhada.
O desafio está em mensurar o grau de dificuldade da trilha, através da previsão do
somatório de energia requerida para a travessia.
O corpo humano requer alimento e oxigênio para produzir energia.
Portanto, tanto o tempo de respiração do caminhante quanto o tempo de
transporte de oxigênio pelo corpo (freqüência cardíaca) pode ser usado como
indicação da taxa de energia que o corpo necessita.
Para podermos compreender a equação científica que governa a energia
equivalente será necessário relembrar conceitos de física, tais como a definição de
trabalho, que é o produto do módulo da componente da força na direção do
deslocamento, pelo módulo do deslocamento, ou seja, a força multiplicada pela
distância percorrida.
Já a potência é a razão entre a quantidade de energia pelo tempo
decorrido, que pode ser representada pela força multiplicada pela velocidade de
deslocamento. A potência pode ser considerada como a taxa de trabalho
consumida/gasta no tempo.
τ = F.d (1)
e P = F.v (2)
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τ : Trabalho
P : Potência (taxa de trabalho)
F : Força
d : Distância
v : Velocidade
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(Daehne & Hugo, 1995)
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Trabalho x Gradiente
6000
5000
4000
Trabalho (J/s)
3000
2000
1000
0
-30 -25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Gradiente ( º )
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Sendo
h : Altura [m]
l : Comprimento [m]
Considerando,
E = P.t e t = l / v
Logo,
Sendo
E : Energia [kJ]
m : Massa [kg]
v : Velocidade [m/s]
l : Comprimento do trecho [m]
g : Aceleração da gravidade [9,8 m/s2]
h : Altura ou desnível [m]
t : Tempo [s]
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estatisticamente com grupos de pessoas, ou seja, o modelo procura fornecer o
grau de dificuldade em quilocalorias para a trilha, o que não quer dizer que um
caminhante irá gastar essa mesma quantidade. Uma pessoa de excelente vigor
físico pode gastar menos energia do que uma pessoa sedentária, porém ambos
irão concordar que, proporcionalmente, uma determinada trilha será mais
exaustiva do que outra.
A modelagem matemática para a energia equivalente é independente da
variação da velocidade do caminhante. Logo, se o caminhante completa a trilha
em uma hora e depois descansa o resto do dia, ou o mesmo pára várias vezes ao
longo da trilha, isto não terá nenhuma influência no resultado final da energia
gasta. Portanto, para efeito de cálculo é usada a velocidade constante de 3 km/h.
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4.2.2 Manejo e planejamento de trilhas
Como é sabido, uma pessoa se cansa mais quanto mais estiver quente o
ambiente em comparação em um dia mais ameno. De maneira simplificada, o
efeito de altas temperaturas pode, de certa maneira, aumentar o consumo de
água. Quanto maior o trabalho/ exercício, maior será o consumo de água.
Grosseiramente falando, são necessários 0,5 litro de água para repor 4500 kJ
gastos no inverno e o dobro (9000 kJ) no verão. A temperatura é uma variável que
poderá ser acrescentada no futuro modelo da energia equivalente, essa nova
variável exigirá um estudo mais aprofundado, não contemplado no presente
trabalho.
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em ambientes semelhantes a desertos ou praias o incremento pode chegar a
180% da energia consumida, comparativamente a terrenos de solo firme.
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Tabela 1: Grau de Dificuldade x Energia Equivalente (trilha plana)
Grau Trilha horizontal (plana) Duração (3 km/h) Energia Gasta (kJ) Categoria
1 < 5 km 1,7 h < 2500 Muito Fácil
2 5 - 10 km 1,7 - 3,3 h 2500 -5000 Fácil
3 10 - 15 km 3,3 - 5 h 5000 - 7500 Médio
4 15 - 20 km 5 - 6,7 h 7500 - 10000 Moderado
5 20 - 25 km 6,7 - 8,3 h 10000 - 12500 Difícil
6 25 - 30 km 8,3 - 10 h 12500 - 15000 Muito Difícil
7 > 30 km > 10 h > 15000 Extremamente difícil
Elaborado por HUGO (1999).
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contemplar a análise por dia (seções da trilha de cada dia). Por exemplo, caso a
caminhada dure dois dias, primeiro será feita à análise do primeiro dia, e depois a
do segundo dia. Se na primeira parte da trilha, a mesma consumir 15.200 kJ
(extremamente difícil) e a segunda parte 9.000 kJ (difícil) o caminhante poderá se
preparar físico e emocionalmente para a primeira parte, que será mais difícil.
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Figura 2: Mapa de Declividade e Trilhas: Em destaque (cor verde), trilha do Camorim (PEPB).
5. Resultados Alcançados
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velocidade de caminhada foi de 3 km/h, a massa corpórea de um caminhante foi
de 90 kg e a aceleração da gravidade para a determinação do peso do caminhante
foi de 9,8 m/s2. Nas tabelas acima citadas encontram-se: a inclinação média de
cada trilha, o tempo médio de caminhada, a distância total da trilha e o trabalho
médio, ou seja, a taxa de energia média gasta no deslocamento na trilha. A análise
foi realizada separadamente na ida e no retorno da trilha, portanto a soma dos
dois trechos determina o gasto energético. Vale ressaltar que diferentes indivíduos
terão distintas condições de gasto calórico, pois o mesmo varia de acordo com o
condicionamento físico do individuo.
IDA
Distância Total (m) Trabalho Médio (J/s) Tempo (s) Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
3270,63 1125,73 3924,76 2771,69 687,10
RETORNO
Distância Total (m) Trabalho Médio (J/s) Tempo (s) Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
3270,63 710,27 3924,76 1930,80 478,65
TOTAL
Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
4702,49 1165,75
Elaborado por PAPINI (2006).
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um valor “constante” de gasto calórico, que a partir da tabela 3, define-se como
Moderado.
IDA
Distância Total (m) Trabalho Médio (J/s) Tempo (s) Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
944,18 548,78 1133,02 528,30 130,97
RETORNO
Distância Total (m) Trabalho Médio (J/s) Tempo (s) Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
944,18 648,10 1133,02 576,89 143,01
TOTAL
Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
1105,19 273,98
Elaborado por PAPINI (2006).
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IDA
Distância Total (m) Trabalho Médio (J/s) Tempo (s) Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
1697,43 581,29 2036,92 1097,00 271,95
RETORNO
Distância Total (m) Trabalho Médio (J/s) Tempo (s) Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
1697,43 660,91 2036,92 1279,56 317,20
TOTAL
Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
2376,55 589,15
Elaborado por PAPINI (2006).
IDA
Distância Total (m) Trabalho Médio (J/s) Tempo (s) Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
2047,51 1662,06 2457,01 2137,48 529,88
RETORNO
Distância Total (m) Trabalho Médio (J/s) Tempo (s) Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
2047,51 1205,72 2457,01 1725,64 427,79
TOTAL
Energia Gasta (kJ) Energia Gasta (kcal)
3863,13 957,67
Elaborado por PAPINI (2006).
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Na tabela 7, podemos verificar o grau de dificuldade e a perda calórica
comparativa entre as quatro trilhas analisadas do Parque Estadual da Pedra
Branca.
6. Considerações Finais
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7. Bibliografia Citada
COSTA, V. C. da et al. Potencial para o turismo ecológico das trilhas do Rio Grande e Camorim –
Parque Estadual da Pedra Branca, pp. 1-10, 2004 (PEPB-RJ).
COSTA, N. M. C. da. Análise do Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB), com base em
Geoprocessamento: Uma Contribuição ao seu Plano de Manejo. Tese de Doutorado. Programa de
Pós-Graduação em Geografia (PPGG) da UFRJ, Instituto de Geociências, pp. 140-160, 2002.
HUGO, M.L. (1998). Energy equivalent as a measure of difficulty rating of hiking trails. University of
Pretoria, pp. 1-17, 1999.
HUGO, M.L. (1999). A Comprehensive Approach Towards the Planning, Grading, and auditing of
hiking trails as Ecotourism Products. University of Pretoria, pp. 1-15, 1999.
AGUIAR, C.R; DAL POZ, W.R.; SILVA, M.R.O.; FURLANETTI, T.L.R.; MENOSSI, R.C.; DECANINI,
M.M.S.; CAMARGO, P.O., pp. 1-5, (2002). Mapeamento das trilhas ecoturísticas e integração de
dados geográficos do Parque Estadual da Ilha Anchieta.
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