Você está na página 1de 15

PROPOSTA DE INSERÇÃO COMUNITÁRIA NA ATIVIDADE ECOTURÍSTICA

NO MANGUEZAL DE CARAVELAS/NOVA VIÇOSA – BA.

Autor: Carlos Alfredo Ferraz de Oliveira1


Instituição: IBAMA/CEPENE
e-mail: cferrazgp99@yahoo.com.br
Eixo temático: O Homem (Trilhas em comunidades tradicionais e preservação)

INTRODUÇÃO
Nos Municípios de Caravelas/Nova Viçosa, localizados no Extremo Sul do Estado da
Bahia, encontra-se um complexo estuarino que possui um manguezal de área
estimada de 11.000 hectares (ha) (CSR/IBAMA, 2003) 2, abrangendo uma área de
influência de 36.000 ha onde se encontra o ecossistema de Restinga que varia em sua
forma de Mata Seca a Inundada (UERJ,2006) 3. Aproximadamente 350 famílias
ribeirinhas dali retiram o seu sustento, mas na forma atual de exploração dos recursos
naturais, não conseguem melhorar suas condições de renda e qualidade de vida, e
ainda causam danos ambientais, que comprometem o direito das gerações futuras ao
meio ambiente saudável e sustentável.
Pela situação exposta acima, o Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros
do Litoral Nordeste (CEPENE) um órgão de pesquisa do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), ao final de 1998, passou a
preocupar-se e elaborou o Projeto Integrado de Manejo e Monitoramento para Uso
Sustentável das Populações no Manguezal de Caravelas – BA (Projeto Manguezal),
voltados aos estudos e monitoramento dos crustáceos e moluscos com valor
econômico e explorados pela comunidade ribeirinha no manguezal de Caravelas,
associativismo dos marisqueiros e criação de opções de renda diversificada para
estes.
A execução do Projeto Manguezal iniciou em 2002 e foi dividido em 11 subprojetos,
dentre os quais encontra-se o sub-projeto de Ecoturismo, que teve o objetivo de

1
Turismólogo , especialista em ecoturismo e professor da disciplina de Ecologia e Ecoturismo do curso
de graduação em Turismo - FASB.
2
Em 2003 o Centro de Sensoriamento Remoto (CSR/IBAMA) realizou o geoprocessamento de
dados do manguezal e entorno de Caravelas e Nova Viçosa na Bahia.

3
Em 2005 foi realizado pela equipe da UERJ sob coordenação do Dr. Mário Luiz Gomes Soares o Laudo
Biológico do Sistema Caravelas-Nova Viçosa-BA, sendo publicado em março de 2006.
Ambos os trabalhos citados acima foram realizados com o objetivo de compor a proposta de criação da
RESEX do Cassurubá.
diagnosticar as potencialidades e oportunidades de implementação do ecoturismo de
base comunitária que segundo a WWF-BRASIL (2003:23) é conceituado como
“Turismo realizado em áreas naturais, determinado pelas comunidade locais, que gera
benefícios predominantemente para estas e para as áreas relevantes para a
conservação da biodiversidade”.
O diagnóstico do sub-projeto de ecoturismo resultou em uma proposta de
desenvolvimento ecoturístico comunitário para uso indireto e sustentável dos atrativos
naturais e culturais no complexo estuarino de Caravelas/Nova Viçosa junto à
comunidade ribeirinha.
Este trabalho representa a descrição da 1ª fase do subprojeto de ecoturismo que
iniciou em 2002 e finalizou em 2004 resultando nos dados necessários para
implementação da 2ª fase, que consiste, na organização comunitária, instalação da
infra-estrutura, realização do programa de capacitação, divulgação do produto, e
monitoramento e manejo sócio-ambiental das atividades ecoturísticas. Esta
implementação encontra-se em fase de captação de recursos.
O diagnóstico realizado oportunizou verificar o potencial ecoturístico, proporcionando o
reconhecimento do produto ecoturístico através do atrativo natural e cultural, da infra-
estrutura e de serviços necessários, os quais permitirão ao ribeirinho observar e
analisar sua inserção na atividade como diversificação de renda, valorização de sua
cultura e conservação do complexo estuarino de Caravelas/Nova Viçosa-BA.

OBJETIVOS

Objetivo Geral
Diagnosticar potencialidades ecoturísticas do complexo estuarino de Caravelas e Nova
viçosa – BA, para elaboração de proposta da implementação de atividades
ecoturísticas inserindo a comunidade ribeirinha e local na prestação de serviços e
gestão.

Objetivos Específicos
Realizar inventário dos atrativos naturais e culturais, condições socioeconômicas e o
perfil do visitante.
Diagnosticar os dados coletados no inventário, sistematizando e analisando estes.
Elaborar recomendações e sugestões, propondo a implementação do plano de
ecoturismo de base comunitária no manguezal e entorno.
MÉTODOLOGIA
Duas publicações da WWF-Brasi, Uso Recreativo do Parque Nacional Marinho de
Fernando de Noronha (WWF-BRASIL,2001) e Manual do Ecoturismo de Base
Comunitária (WWF-BRASIL,2003), orientou a elaboração da metodologia utilizada e
no planejamento das ações.
O planejamento da 1º fase do sub-projeto de ecoturismo foi adaptado da metodologia
descrita por SALVATI (2003), passando por 3 processos: Inventário, diagnóstico e
prognóstico.

1. Inventário
Consistiu em levantar, as estruturas, atrativos, condições sócio econômicas da
comunidade ribeirinha e sua visão sobre o turismo, e perfil do público alvo. Esta fase
foi dividida em 3 etapas:

1.1 Reconhecimento e levantamento das áreas de ação:


Após análise de mapas e conversa com membros da comunidade local conhecedores
da região, foram determinadas 10 áreas de ação na região do manguezal de
Caravelas/Nova Viçosa: Ilha do Cassuruba, Barra Velha, Barra Nova, Rio do Cupido,
Rio do Poço, Rio Jaburuna, Rio do Caribê, Rio do Massangano, Largo e Rio do
Macaco.
Nas áreas determinadas foram realizadas as seguintes atividades: o coordenador
técnico do subprojeto e um auxiliar de campo, com “conhecimento tradicional” da
região, elaboraram uma logística para percorrer as áreas de ação. Esta foi feita com
uso de mapas e tabua de maré. A carta topográfica foi usada para estabelecer o
caminho e os locais que foram percorridos por terra, e a carta náutica para os
ambientes aquáticos das áreas. Na logística foram estabelecidos os locais percorridos,
tempo de duração para cada saída de campo, equipamentos necessários, pessoal e
alimentação.
O coordenador técnico do sub-projeto, o auxiliar de campo e um marinheiro, quando
foi necessária a saída com embarcações motorizadas, foram para as áreas de ação
em locais e tempo predeterminado na logística. O reconhecimento da área terrestre foi
realizado caminhando ou utilizando bicicleta, em área aquática foi utilizado barco de
alumínio com motor de 15/25 hp ou canoa canadense. Nas saídas de campo que
necessitaram de pernoite, foram utilizados equipamentos de camping. Durante o
reconhecimento das áreas os atrativos naturais, culturais e as infra-estruturas já
existentes foram registradas em coordenadas geográficas no Sistema Global de
Posicionamento (GPS) configurado no DATUM SAD 69, e em formulário específico4
foram anotados os pontos de registro feitos no GPS e as observações necessárias
sobre os atrativos e infra-estruturas para análise e localização.
Foram elaborados e aplicados dois questionários mistos seguindo o método de
ALENCAR (2003) na comunidade de Ponta de Areia, Barra de Caravelas e Caravelas
com proprietários ou responsáveis de embarcações de pesca, com o objetivo de
levantar a sua experiência e interesse com turismo, estrutura das embarcações e
registrar sugestões de locais nas áreas de ação que apresentam atrativos naturais e
culturais; o outro questionário foi aplicado na comunidade ribeirinha, com o objetivo de
levantar sua condição sócio-econômica, principalmente no que diz respeito a
habitação, sua experiência e interesse com turismo, sugestões de locais nas áreas de
ação que apresentem atrativos, sua culinária e um breve relato de sua cultura e
artesanato. Estes formulários foram aplicados por uma equipe de seis estagiários e
pelo coordenador do sub-projeto que percorreu as áreas de ação pelo período
aproximado de quatro meses.
A beleza cênica dos locais, a comunidade local, suas residências visitadas e o
trabalho realizado foi fotografado em máquina digital, para arquivo e análise das áreas
reconhecidas.
Esta etapa foi realizada no período de seis meses.

1.2 Mapeamento de trilhas e estuários:


Após ter feito o reconhecimento e o levantamento das áreas de ação, foram
analisados os dados obtidos através dos questionários e formulários tabulados
,juntamente com as fotos, onde se estabeleceram as trilhas que apresentavam os
atrativos ecoturísticos de maior relevância.
Os critérios de seleção das áreas para o mapeamento foram os graus de
potencialidade dos seguintes aspectos: conservação e beleza cênica das áreas
naturais, condições físicas da infra-estrutura e sócio econômica das famílias
residentes, costumes culturais, acesso e possibilidades de aproveitamento recreativo.
O formulário específico para o mapeamento de trilhas foi elaborado através da
adaptação do método utilizado por ANDRADE (2003) no levantamento e mapeamento
de trilhas.
Nestas trilhas foram realizados com GPS, bússola e preenchimento do formulário,
mapeamentos, identificando os locais denominados pontos de apoio e suas
necessidades de criação ou melhoria de infra-estruturas para atender e receber

4
Adaptação do formulário utilizado para levantamento e mapeamento de trilhas por Andrade (2003).
ecoturistas, minimizando o impacto ambiental e oferecendo maior conforto e
segurança, característica interpretativa estabelecendo o tema e o método para
interpretar estas trilhas e observações gerais que a equipe achou necessária.
O traçado da trilha e os waypoints foram registrados no GPS sendo feito uma interface
para as cartas topográficas e náuticas georeferenciadas, através do programa
Trackmaker, no qual facilitou a localização geográfica no mapa das identificações
feitas no formulário.
Durante o mapeamento das trilhas foi elaborado e aplicado um questionário misto
seguindo o método de ALENCAR (2003) nos pontos de apoio habitados, que
apresentavam necessidade e interesse de ter uma infra-estrutura para receber o
ecoturista; este questionário foi aplicado com as famílias ribeirinhas previamente
selecionadas durante o reconhecimento de área com o objetivo de obter informações
sobre a infra-estrutura já existente, sua condição social e econômica, o interesse e
condições em receber os ecoturistas e os saberes populares e manifestações culturais
que possuem ou conhecem.
A infra-estrutura e obras necessárias e o trabalho realizado foram registrados em uma
máquina fotográfica digital para arquivo e analise do mapeamento.
Esta etapa foi realizada no período de seis meses.

1.3 Levantamento do perfil do público alvo:


Foi elaborado pelo técnico responsável um questionário misto com base no método de
BORGES (2003) para pesquisar o perfil do visitante e o seu grau de experiência em
atividades ecoturísticas. Estes foram aplicados com turistas que já visitavam
Caravelas, pela razão de ser o porto de saída para o ParNaM dos Abrolhos, por dois
estagiários e o técnico responsável pelo sub-projeto no momento de saída ou chegada
do turista no cais de Caravelas, local de desembarque e embarque dos turistas para o
ParNaM dos Abrolhos, nos meios de hospedagem de Caravelas e no ParNaM dos
Abrolhos. O objetivo deste questionário foi traçar o perfil deste turista que já visita a
região, levantando principalmente o seu gosto por atividades ao ar livre e o seu
interesse por outros atrativos ecoturísticos da região. Este foi aplicado na temporada
de verão de janeiro a março e na temporada de baleia de julho a novembro .

4. Diagnóstico
Consistiu em sistematizar e analisar os dados coletados no inventário objetivando
avaliar a situação.Esta fase foi dividida em duas etapas:
4.1 Sistematização dos dados:
Após o mapeamento concluído, as informações das trilhas e seus pontos de apoio
foram sistematizados em um formulário de diagnóstico e descrição dos locais5 para a
caracterização e o detalhamento.
As informações obtidas nos questionários de levantamento do perfil do turista e sócio-
econômico da comunidade ribeirinha foram tabuladas.
Esta etapa foi realizada no período de dois meses.

4.2 Análise dos dados:


A análise das trilhas sistematizadas consistiu na caracterização dos atrativos e
necessidades operacionais, focando minimizar os impactos, maximizar a experiência
do ecoturista e inserir a comunidade ribeirinha em todos os processos.
O questionário de levantamento do perfil do público alvo tabulado, foi analisado
dividindo os dados em categorias para melhor interpretação: condições
socioeconômicas, interesses na viagem e na região, grau de experiência em
atividades ao ar livre e sugestões de melhorias.
Esta etapa foi realizada no período de dois meses.

5. Prognóstico - propostas e recomendações:


Com a análise do diagnóstico das trilhas, foi elaborado um plano de implementação
das infra-estruturas e obras necessárias.
A partir da análise geral do diagnóstico, principalmente dos dados obtidos no
levantamento sócio-econômico da comunidade ribeirinha e caracterização dos
atrativos, foi elaborado um programa de capacitação em ecoturismo.
Através dos resultados das análises do perfil do público alvo, a caracterização dos
atrativos, levantamento sócio-econômico e pesquisa bibliográfica foi sugerido um
plano de divulgação.
De acordo com FONTES et al. (2003) a avaliação de quanto às atividades
ecoturísticas e de interpretação ambiental estão contribuindo para conservação do
patrimônio sócio ambiental pode ser através da observação das mudanças de
comportamento dos visitantes e qual o nível de satisfação destes com as atividades.
Tendo em vista a satisfação e sensibilização do ecoturista e a melhoria da qualidade
de vida da comunidade envolvida, foram necessárias a elaboração do plano de
monitoramento de qualidade de serviço, sugestão de diretrizes para o ordenamento
participativo do ecoturismo no manguezal e de condutas para os visitantes.

5
Adaptação do formulário utilizado no Planejamento de Uso Recreativo do ParNaM de
Fernando de Noronha (WWF,2001).
As sugestões de diretrizes e condutas foram elaboradas com referência nos dados
analisados no diagnóstico, nas diretrizes publicadas no site do ECOTOURISM
SOCIETY (1998), nos códigos de práticas para operadoras de ecoturismo publicada
no site da ECOTOURISM ASSOCIATION OF AUSTRALIAN (1998), na campanha de
condutas de visitação em Unidades de Conservação (UC) chamada “Pega Leve”
(CEU/MMA,2003) e nas diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo
(MICT/MMA,1994).
Esta etapa foi realizada no período de três meses.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

1. Reconhecimento e levantamento das áreas de ação:


Na 1º etapa do inventário foram percorridas as 10 áreas de ação, aproximadamente
20.000 ha, destas foram identificadas 7 trilhas aquáticas e 8 terrestres. As trilhas
selecionadas apresentaram, comunidade ribeirinha hospitaleira e interessada em
trabalhar com ecoturismo e necessitando de melhorar e diversificar as opções de
renda, beleza cênica, fauna e flora diversificada e conservada e razoável facilidade de
acesso.
Foram aplicados 27 questionários sócio econômico com as comunidades ribeirinhas
residentes nas áreas de ação, nestes foram constatados que as moradias são simples
muitas vezes precárias, sem estrutura para receber ecoturistas para pernoite e servir
refeições. Os acessos as suas casas são difíceis principalmente àqueles que vivem na
beira do rio, a captação de água é feita por bomba manual ou de água da chuva, a
qualidade da água é duvidosa sendo muitas vezes salobra, quase todos possuem
energia de sistema solar necessitando de manutenção, em suas propriedades
possuem diversas árvores frutíferas e pequenos fragmentos de restinga: As festas
típicas quase não ocorrem mais, possuem grande praticidade e habilidade em produzir
manualmente artefatos pessoais e de trabalho, culinária não é diversificada
predominando pratos que utilizam recursos pesqueiros como moquecas, não possuem
experiência com turismo mais mostraram muito interesse em iniciar.
Foram aplicados 59 questionários com os proprietários das embarcações de pesca da
cidade de Caravelas e distritos de Ponta de Areia e Barra de Caravelas, nestes foram
levantados que a metragem média das embarcações é de 3 a 8 metros de
comprimento, capacidade média de passageiros é de 3 a 5 pessoas, 52% já tiveram
experiência com turismo principalmente em ecossistemas de recifes coralíneos e
manguezais da região, 100% dos entrevistados vê o turismo como uma boa opção de
renda e trabalho.
2. Mapeamento de trilhas e estuários:
Foram mapeadas 5 trilhas aquáticas e 3 trilhas terrestres, segue os dados parciais
coletados no mapeamento das trilhas:

2.1 Trilha Caravelas/Nova Viçosa: trilha aquática com a extensão de 50.559 metros,
pode ser realizada em embarcação a remo ou motor, o ecossistema predominante e o
manguezal, as principais belezas cênicas ficam nos 9 pontos de apoio identificados
que não possuem piers (estrutura para embarque e desembarque) em boas condições
de uso, casas de farinha manual em condições precárias, não existe local para servir
alimentos, não possui unidade sanitária, poço artesiano, coleta de lixo e equipamentos
de comunicação e o sistema de energia solar não está em condições de uso.

2.2 Trilha do Rio do Macaco: trilha aquática com extensão de 18.000 metros,
podendo ser percorrida em embarcação a remo ou motor, tendo a opção de aumentar
e diversificar seu percurso por um canal de maré quando feito em embarcação a remo
podendo usar a embarcação motorizada até o inicio do canal. O ecossistema
predominante é o manguezal, tendo pequenas áreas de vegetação de restinga na
margem do rio que apresenta diversidade de aves. Os quatro pontos de apoio
identificados não possuem piers em condições de uso, casa de farinha em condições
precárias, não existem locais para preparar e servir alimentos, não possui unidade
sanitária, poço artesiano, coleta de lixo e equipamentos de comunicação e o sistema
de energia solar não está funcionando.

2.3 Trilha do Rio do Poço: trilha aquática com extensão de 29.602 metros, podendo
ser percorrida em embarcação a remo ou motor. O ecossistema predominante é o
manguezal e restinga, possui o diferencial de coroas de areia que ficam expostas
sobre a superfície da água apenas na baixamar ou na maré de quadratura, a
navegação tem que ser feita com cautela e o mestre da embarcação necessita
conhecer as localizações das coroas de areia para evitar atrasos e acidentes, os três
pontos de apoio identificados não possuem piers, não existem locais para preparar e
servir alimentos, não possuem unidades sanitárias, poços artesianos, coletas de lixo e
equipamentos de comunicação, o sistema de energia solar funciona e os proprietários
dos pontos de apoio apresentaram experiência em receber turistas em suas
propriedades.
2.4 Trilha do Riacho Peroba: trilha aquática com extensão de 7.350 metros, podendo
ser percorrida apenas em embarcação a remo. O ecossistema predominante é o
manguezal e foi identificado um ponto de apoio que não possui píer, não existe local
para preparar e servir alimentos, não possui unidade sanitária, poço artesiano, coleta
de lixo e equipamento de comunicações, o sistema de energia solar funciona.

2.5 Ilha de Barra Velha: localizada no município de Nova Viçosa. Durante o verão o
fluxo de turistas proveniente é em sua quase totalidade deste município. Existem duas
principais trilhas aquáticas que acessam esta ilha, uma via Caravelas e outra via Nova
Viçosa. Via Caravelas a extensão e de 55.185 metros e de Nova Viçosa 18.700
metros, o único ponto de apoio possui um bom píer com capacidade para grupos de
10 pessoas, existe um local em condições precárias para preparar e servir alimentos,
possui unidade sanitária em condições precárias, não possui poço artesiano, coleta de
lixo, equipamento de comunicação e sistema de energia solar. Os moradores da ilha
possuem experiência em prestação de serviços aos turistas no verão, vendendo
artesanatos e servindo refeições.

2.6 Trilha da Ponta do Catoeiro: trilha terrestre com extensão 30.011 metros,
podendo ser percorrida de bicicleta ou a pé necessitando utilizar em pequenos trechos
o uso de embarcação a motor. A trilha passa pelo ecossitema de restinga, áreas
alagadas, apicum e manguezais, existem três pontos de apoio com piers em boas e
em ruins condições de uso, possui unidade sanitária em condições precárias, sistema
de energia solar, não possui poço artesiano, coleta de lixo e equipamentos de
comunicação.

2.7 Ilha do Pontal do Sul: o trajeto de acesso à ilha tem a extensão de 2.000 metros
e necessita ser percorrido em embarcação de remo ou motor, na ilha há uma pequena
trilha terrestre com ecossistemas de restinga e manguezal, existem apetrechos
enferrujados que eram utilizados no beneficiamento dos produtos extraídos da baleia.
Os pontos de apoio são os locais de embarque e desembarque que não possuem
piers, não existem moradores na ilha.

2.8 Trilha das Telhas: trilha terrestre com extensão de 32.000 metros, podendo ser
percorrida a cavalo, bicicleta e andando. A trilha passa por ecossistemas alagados, da
restinga e manguezais. Existem quatro pontos de apoio com piers em ruins condições
de uso , não possui unidade sanitária, energia, poço artesiano, coleta de lixo e
equipamentos de comunicação.
Legenda:Os pontos amarelos do mapa se referem aos pontos de apoio.

Figura 1: Mapa da trilha Caravelas/Nova Viçosa

3. Levantamento do perfil do público alvo:


Foram aplicados 520 questionarios com os vistantes de caravelas e do ParNaM dos
Abrolhos, o que equivale aproximadamente a 8% dos visitantes no ParNaM dos
Abrolhos nos períodos de aplicação.

4. Diagnóstico:
Após o mapeamento das 8 trilhas e a aplicação de 520 questionários de levantamento
do perfil do visitante de Caravelas e do ParNaM dos Abrolhos, os dados gerados
foram sistematizados e analisados no diagnóstico.
Segue os dados e análises parciais:
Os principais atrativos naturais e culturais identificados nas trilhas e roteiros são:
Ecossistema Manguezal e Restinga, transição de ecosssitemas, avifauna diversificada
e abundante, crustáceos e bivalves do manguezal, mamíferos, formações rochosas,
beleza cênica, culinária, festas regionais, modo de vida e artesanatos.
As atividades ecoturísticas a serem desenvolvidas nas trilhas e roteiros inventariados
são: canoagem, acampamento, caminhada, ecociclismo, cavalgada, contemplação da
beleza cênica, conhecimento e convivência com a cultura tradicional e observação de
fauna e flora.
Para que as trilhas e atividades ecoturísticas sejam implementadas são necessárias
as seguintes instalações e obras nos pontos de apoio: construção de unidades
sanitárias, alpendres com infra para cocção de alimentos, poços artesianos, instalação
de comunicação VHF, instalação e reforma de piers, casa de farinha manual, manejo
das trilhas terrestres.
A capacitação será realizada através da realização de um programa, este incluirá os
seguintes cursos: monitor de recursos naturais costeiros e náutico, culinária com
ênfase em manipulação de alimentos, saúde familiar com ênfase em higiene
doméstica, oficina de bio-construções, oficina de artesanato e manutenção geral dos
equipamentos instalados.
Para boa operacionalização das trilhas e roteiros com objetivo de oferecer experiência
significativa e segura para o ecoturista, e minimizar os impactos sócio ambientais na
localidade foi determinado o limite de no máximo 10 pessoas por grupo com a
obrigatoriedade de um monitor e atenção especial para os seguintes itens de
segurança: kit de 1º socorros, salvamento e resgate em selva e áreas aquáticas e
sistema de comunicação.
A análise dos dados dos 520 questionários aplicados com os visitantes do ParNaM
dos Abrolhos apresenta uma mescla de uma demanda real ou efetiva com uma
demanda reprimida (COOPER et al. 2001), ou seja, a presença de um ecoturista e o
turista de aventura de fato, com percentual maior de mergulhadores, o que se justifica
por ser um Parque Marinho, mas sem experiência em outras atividades ecoturísticas,
demonstrando interesse em praticá-las, caso ofereça-se oportunidades.

5. Prognóstico:
A realização das obras e a implementação das infra-estruturas recomenda-se a ser
executada utilizando a mão de obra local com participação das famílias ribeirinhas
residentes próximas e diretamente beneficiadas, e terá como responsáveis um
arquiteto e um turismólogo que usarão técnicas sustentáveis de bio-construções e
adaptadas para a realidade local.
Após a implantação da infra-estrutura e a realização da capacitação, ambas previstas
no diagnóstico das trilhas e roteiros, são necessárias a realização da comercialização
e divulgação do produto. A proposta de comercialização é para incentivar e auxiliar o
associativismo/cooperativismo da população local, que esteja envolvida diretamente
no receptivo do produto ecoturístico no manguezal. Com a criação desta
associação/cooperativa é facilitada as negociações e decisões dos preços por serviço
e o operacional dos roteiros e trilhas. Tendo estes valores determinados é necessário
buscar parcerias e interação com as agências de turismo da região para serem
responsáveis pela venda do produto para o consumidor final.
Os resultados dos questionários aplicados com os visitantes do ParNaM dos Abrolhos
mostraram que o principal meio de informação e influência para o turista vir a visitar o
ParNaM dos Abrolhos foram os amigos e familiares. Na pesquisa do Ministério do
Turismo e EMBRATUR (2004), sobre o perfil do turista estrangeiro que visita o Brasil o
principal meio de divulgação e influência de sua viagem foi através da “propaganda
boca a boca” feita pelos amigos e familiares, em segundo a consulta na Internet. Estes
dados mostram que as melhores formas de divulgação de um produto turístico hoje no
mundo é a boa qualidade do serviço prestado e o potencial do atrativo, conquistando o
público presente para que este se multiplique, uma boa e forte apresentação virtual na
Internet, principalmente para divulgar ao público estrangeiro.
A proposta de divulgação é que através da finalização da elaboração do planejamento
de comercialização as vendas e a prestação de serviço sejam monitoradas por todos
os participantes através da aplicação de questionários com os ecoturistas ao final de
cada roteiro e trilha, com objetivo de saber a opinião e sugestão destes. Estes dados
serão tabulados e posteriormente discutidos e analisados por todos envolvidos no
intuito de melhorar os seus serviços para satisfação do ecoturista, conservação
ambiental e cultural do local. Esta satisfação e conservação terá conseqüência na
multiplicação dos ecoturistas através da propaganda “boca a boca” feita
espontaneamente.
A 2º proposta é a elaboração de um site bilíngüe (inglês e português) de divulgação
dos roteiros de ecoturismo e venda do produto a ser feito por uma empresa
especializada, e o pedido de link nas principais páginas da internet nacionais e
internacionais de ecoturismo e meio ambiente. Este site terá o principal objetivo de
divulgar e vender para ecoturistas estrangeiros.
A 3º proposta de divulgação é a produção de folhetos, cartazes e painéis, através do
contrato de uma empresa de publicidade e marketing para elaboração e confecção.
Estes materiais serão usados para divulgação nas agências e pousadas da região e
eventos do setor.
A 4º proposta tem o objetivo principal de divulgação nacional para as empresas e
profissionais de ecoturismo e também para o ecoturista, através da integração de
todos os atores atuantes no diversos setores, tais como os empreendimentos
turísticos, ONG´s e poder público municipal da região, para a montagem de um stand
de ecoturismo para participar dos principais eventos do setor no país.
Foram sugeridas diretrizes para implantação do ecoturismo de base comunitária na
região de manguezal de Caravelas/Nova Viçosa, com intuito de sensibilizar os
envolvidos, direcionar a implantação do produto ecoturístico e orientar o
monitoramento.
Segue parcialmente as sugestões de diretrizes:
• Planejar e implantar infra-estruturas adequadas aos pontos de apoio, que não
desperdice recursos ou destrua o meio ambiente. Elas devem proporcionar ao
visitante harmonia com os ambientes e as comunidades locais visitadas;
• Desenvolver um programa de reciclagem do lixo orgânico nos pontos de apoio
visitados, através da compostagem;
• Definir e implementar estratégias para um aumento de benefícios para a localidade,
incluindo à informação, o desenvolvimento humano, físico, financeiro e social, que
venham com o crescimento da prática do ecoturismo.
• Fortalecer, estimular e encorajar a habilidade da comunidade em manter e utilizar, o
folclore, a culinária e demais atividades que utilizam os recursos locais através dos
conhecimentos tradicionais que sejam relevantes para a atividade do ecoturismo,
como o artesanato, a agricultura, pescaria e a mariscagem sustentável.
• Priorizar a capacitação para o ecoturismo, das comunidades ribeirinhas envolvidas
no diagnóstico;
• Providenciar oportunidades para a comunidade ribeirinha participar do planejamento
e gestão;
• Educação e treinamento ecoturístico para formação de monitores, cozinheiras e
administradores dos pontos de apoio e vendedores dos produtos ecoturístico do
manguezal nas agências de viagem locais;
• Desenvolver uma metodologia adequada para monitoramento e procedimentos para
avaliar os impactos no meio ambiente e no social;
• Assegurar que todos envolvidos participem do monitoramento e avaliação de
impactos sócio-ambientais, tendo participação na elaboração das propostas para
possíveis soluções;
Para ajudar a desenvolver um informativo aos ecoturistas sobre as atitudes que ele
deve ter dentro do ambiente a ser visitado nos roteiros e trilhas diagnosticados neste
projeto foi elaborada uma sugestão de condutas de mínimo impacto para o visitante no
manguezal e entorno.
Segue parcialmente as sugestões de condutas de mínimo impacto:
• Não ande nas escoarias do mangue, pois é por elas que o mangue respira;
• Trate os moradores ribeirinhos com cortesia e respeito, aproveitando para aprender
sobre os hábitos e a cultura do meio de vida no manguezal;
• Jogue o seu lixo orgânico e inorgânico nas devidas lixeiras, você estará contribuindo
para a produção de um maravilhoso solo que produzirá alimentos orgânicos e facilitará
a reciclagem do lixo.

CONCLUSÃO
Sub-projeto de Ecoturismo realizou o diagnóstico das potencialidades e oportunidades
ecoturísticas resultando em uma proposta piloto de utilização, comercialização e
divulgação deste potencial pela comunidade local no intuito de oportunizar a esta
meios para conservar os seus patrimônios culturais e ambientais, e melhorar a sua
qualidade de vida.
Através do diagnóstico concluiu-se que para utilização e gestão participativa do
potencial identificado na área são necessárias capacitação e organização da
comunidade local envolvida e instalação de infra-estrutura adequada tendo a
participação direta dos beneficiários. Para comercialização do produto ecoturístico são
necessárias parcerias para a divulgação e desenvolvimento de estratégias de
marketing e monitoramento. Para o ordenamento das atividades precisão serem
apresentados e debatidos com a comunidade local envolvida as sugestões de
diretrizes para implantação do ecoturismo de base comunitária e a sugestão de
condutas para o visitante no manguezal e entorno no intuito de ser estabelecido pela
própria comunidade local qual será o norte e regras da visitação nestas áreas.
A implementação e sucesso das ações previstas na proposta dependem da
mobilização e sensibilização da comunidade ribeirinha sobre a importância do uso
sustentável dos recursos naturais do manguezal e restinga, e a organização
comunitária como forma desta conquistar os seus direitos e cumprir seus deveres de
cidadão podendo de fato gerir as atividades ecoturísticas e outras no complexo
estuarino de Caravelas/Nova Viçosa – BA.

BIBLIOGRAFIA CITADA
ALENCAR, E. Pesquisa Social e Monografia. Lavras: UFLA/FAEPE, 2003. 190p.
ANDRADE, W.J. Implantação e manejo de trilhas. In: Mitraud, S.F. (Org) (Ed). Manual
de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento
responsável. Brasília: WWF-Brasil, 2003. p. 247-259.
BARROS, M. S; PENHA.L.H.D (Coord). Diretrizes para uma política nacional de
ecoturismo. Brasília: MICT/MMA, 1994. 48p.
BORGES, M. M. Levantamento do potencial ecoturístico (inventário). In: MITRAUD, S.
F. (Org) (Ed). Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para
um planejamento responsável. Brasília: WWF-Brasil, 2003. p. 89-144.
CEU/MMA 2003. Pega leve! Mínimo impacto em ambientes naturais. Disponível em
www.pegaleve.org.br. Acesso em 19 de agosto de 2004.
COOPER, C; FLETCHER, J; WANTILL, S; GILBERT, D. E. R. Turismo: princípios e
prática. Porto Alegre: BOOKMAN, 2001.559P.
ECOTURISM SOCIETY, 1997. Resumo das diretrizes para o ecoturismo.
Disponível em www.ecotourism.org. Acesso em 21 de agosto de 2004.
ECOTURISM ASSOCIATION OF AUSTRALIAN, 1998. Código de práticas para
operadoras de ecoturismo. Disponível em www.ecotourism.org. Acesso em 21
de agosto de 2004.
EMBRATUR. Anuário estatístico: 2004 0 estudo da demanda turística de 2003.
Disponível em www.embratur.gov.br. Acesso em 20 de agosto de 2004.
FONTES, M. A.L; VITORINO, M. R. Ecoturismo e interpretações. Lavras: ufla/faepe,
2003. 73p.
MITRAUD, S.F (Coord). Uso recreativo no Parque Nacional Marinho de Fernando
de Noronha: um exemplo de planejamento e implementação. Brasília: WWF-
Brasil, 2001. 100p.
MITRAUD, S. F. (Org). Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas
para um planejamento responsável. Brasília: WWF-Brasil, 2003. 470 p.
SALVATI. S. S. Planejamento do ecoturismo. In: MITRAUD, S. F. (Org) (Ed). Manual
de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento
responsável. Brasília: WWF-Brasil, 2003. p. 33-88.
UERJ/NEMA. Laudo bilógico do sistema de Caravelas-Nova Viçosa com vistas à
criação da Reserva Sustentável do Cassurubá. Rio de janeiro: NEMA, 2006.
229p.

AGRADECIMENTOS

Minha esposa Priscila pelo auxílio e apoio, a comunidade ribeirinha por sua
hospitalidade e confiança e o coordenador local do Projeto Manguezal, servidor do
CEPENE/IBAMA, Ulisses Scofield pelo apoio técnico e confiança em meu trabalho.

Você também pode gostar