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Folha.

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Imagens aéreas revelam como SP
mudou em 50 anos
25/01/2011 - 03h00

ANDRÉ MONTEIRO
DE SÃO PAULO

Quem "sobrevoa" a São Paulo dos dias atuais com ferramentas como o Google
Maps não imagina que o mesmo passeio pode ser feito como se estivéssemos
em 1958.

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Por meio de fotos aéreas tiradas naquele ano, é possível ver com fidelidade
como era a cidade que tinha, então, "apenas" cerca de 2,2 milhões de
habitantes.

"Em 1958, a cidade ainda estava praticamente vazia. O que se nota,


principalmente na região da represa de Guarapiranga, é que um eixo indutor do
crescimento para aquela área pode ter sido o loteamento que ficou conhecido
como Interlagos. Apesar de ser um loteamento no estilo bairro-jardim, a região
não tinha acesso fácil, e se oferecia até um veículo pra quem comprasse lote na
área", afirma Denise Antonucci, professora do Mackenzie.

A área ficou congelada até meados dos anos 1970, quando entraram em vigor
leis de proteção aos mananciais no Estado e no país.

"A lei de proteção dos mananciais desvalorizou as terras, porque era difícil
aprovar os projetos, exigia pouca ocupação dos terrenos, e ficou fácil para a
camada mais pobre da sociedade invadir. Agora nós temos uma situação
dificílima e de quase impossível reversão", afirma a urbanista Lucila Lacreta, do
Movimento Defenda São Paulo.

"E sempre há uma discussão sobre como retirar a população que está ali hoje,
mas nunca se discute o que é mais caro: fazer esse realojamento da população
ou o tratamento da água [poluída], que é cada vez mais caro", diz Antonucci.

Outra região que teve uma ocupação caótica foi o Jaguaré, à beira do rio
Pinheiros, na zona oeste. Em 1958 a área estava vazia, mas foi dando lugar a
casas e a uma favela com mais de 130 mil moradores, incrustada "em um
morro tão complicado quanto qualquer outro que a gente vê hoje em dia",
segundo Antonucci.
Na avaliação de Lacreta, "a favela foi construída justamente em uma colina,
que foi a área que sobrou na região, pois não servia para utilização tanto da
indústria, que exige terrenos muitos grandes e planos, tanto do entreposto da
cidade, que é o Ceagesp, que já está saturado e que provavelmente, daqui a
uns anos, será obrigatoriamente transferido para outro lugar".

Para o urbanista Cândido Malta, ex-secretário municipal de planejamento, as


imagens áreas não devem ser consideradas isoladamente. "Dizer que o Jaguaré
estava vazio, e agora está preenchido, é dizer muito pouco. Como planejador
urbano, analiso várias questões, como, por exemplo, os vazios urbanos --as
áreas não utilizadas quer servem à especulação imobiliária. Outra coisa que as
fotos não mostram são problemas como enchentes e congestionamentos.
Dependendo do dia e da época em que foram tiradas, são coisas que não
aparecem."

PLANEJAMENTO

Mas nem todas as áreas da periferia de 1958 foram ocupadas de maneira


completamente desordenada. "No caso da Vila Formosa [zona leste de SP], já
vemos bairros planejados, com arruamentos diferenciados. É interessante olhar
as fotos, porque, em 1958, já havia aquele desenho definido, e nos dias de
hoje vemos que foi densamente ocupado. Me parece que foi uma área melhor
resolvida do que as outras duas", diz Antonucci.

Para Lacreta, a cidade foi crescendo acompanhando os grande corredores


viários, principalmente após a lei de zoneamento de 1972. "Ela criou uma
colcha de retalhos, dizendo se podia construir mais ou menos. Só que ela não
determinou como essas construções iriam se dar, nem onde. Quem tinha terra
na periferia começou a lotear, e as companhia de ônibus começaram a levar
ônibus pra lá e o poder público tinha que sair correndo pra dotar de
infraestrutura", afirma.

"Esse é outro dado que a foto não vai revelar: o esvaziamento do centro.
Porque ele aparece cheio, mas é cheio de prédio sem gente dentro. Mas porque
nesses 50 anos ele esvaziou? A explicação são os congestionamentos de
trânsito. Eu e todos os meus amigos e parentes, nós saímos do centro, onde
tínhamos nossos escritórios, para poder fugir dos congestionamentos. E agora
estamos no lugar mais congestionado da cidade, que é o centro expandido", diz
Malta.

Antonucci diz que é otimista, "de certa forma", pois nota que "já se percebeu
que não adianta mais ir para a periferia". "Há investimentos em áreas que
estavam há muito tempo congeladas e agora retomaram interesse", diz,
citando as regiões da Água Branca, na Barra Funda, e da Mooca, na zona leste.

REFERÊNCIAS

A empresa Multispectral, especializada na produção de mapas digitais, usou as


imagens aéreas de 1958 e montou uma ferramenta de busca na internet.

Veja como era São Paulo em 1958


Assim como no Google Maps, o usuário paulistano pode procurar a região da
sua casa ou trabalho pelo endereço. É surpreendente notar que referências hoje
absolutas, como a avenida 23 de Maio ou o Masp (Museu de São Paulo), na
avenida Paulista, sequer existiam.

"Ver as transformações da maior cidade do Brasil ao longo de 53 anos é uma


experiência incrível para qualquer pessoa que conheça a cidade. É possível
redescobrir cada um dos seus locais favoritos", diz Wagner Pacífico, diretor da
Multispectral.

1958 1972 1994 2007

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