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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 651.203 - PR (2004/0081242-9)

RELATOR : MINISTRO HÉLIO QUAGLIA BARBOSA


RECORRENTE : BANCO ABN AMRO REAL S/A
ADVOGADO : OSMAR MENDES PAIXÃO CÔRTES E OUTROS
RECORRIDO : ANTÔNIO FRANCISCO DOS SANTOS JÚNIOR
ADVOGADO : SHEYLA DAROLT BOLSI DOS SANTOS
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL. ABERTURA DE CONTA
CORRENTE. DOCUMENTOS EXTRAVIADOS. INCLUSÃO INDEVIDA
EM CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO. RESPONSABILIDADE
DO BANCO. REVISÃO DO VALOR. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS
DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. RECURSO
PROVIDO.
1. Responde pelos prejuízos gerados pela sua conduta a instituição financeira
que permite a abertura de conta corrente mediante a apresentação de
documentos falsos.
2. Para a fixação dos danos morais, o entendimento deste Superior Tribunal de
Justiça é firme no sentido de que evidente exagero ou manifesta irrisão na
fixação, pelas instâncias ordinárias, viola os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, tornando possível, assim, a revisão da aludida quantificação.
2. Recurso conhecido em parte e, na extensão, provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os ministros da QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade
dos votos e das notas taquigráficas, por unanimidade, em conhecer em parte do recurso e, nessa
parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Cesar Asfor Rocha e Aldir Passarinho Junior
votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Hélio Quaglia Barbosa.

Brasília (DF), 10 de abril de 2007

MINISTRO HÉLIO QUAGLIA BARBOSA


Relator

Documento: 683950 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 21/05/2007 Página 1 de 8
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 651.203 - PR (2004/0081242-9)

RELATOR : MINISTRO HÉLIO QUAGLIA BARBOSA


RECORRENTE : BANCO ABN AMRO REAL S/A
ADVOGADO : OSMAR MENDES PAIXÃO CÔRTES E OUTROS
RECORRIDO : ANTÔNIO FRANCISCO DOS SANTOS JÚNIOR
ADVOGADO : SHEYLA DAROLT BOLSI DOS SANTOS

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO HÉLIO QUAGLIA BARBOSA (Relator):


Cuida-se de recurso especial interposto por BANCO ABN AMRO REAL S/A,
com fulcro no artigo 105, inciso III, alíneas "a" e "c", da Constituição Federal, manejado contra
acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.
Verifica-se que o autor, ora recorrido, ajuizou ação objetivando indenização
por danos morais em face do Banco ABN AMRO Real S/A, sob alegação de indevida
negativação cadastral do seu nome em órgão de restrição ao crédito, que se deu em
decorrência da abertura, por terceira pessoa, de conta corrente em seu nome, ensejando a
emissão de cheques sem provisão de fundos.
O Tribunal a quo, dando parcial provimento à apelação, manteve o valor da
indenização de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) arbitrado pelo juízo monocrático, sob o
fundamento de que o réu não agiu com a necessária cautela, a fim de evitar os fatos narrados
na inicial. O acórdão recorrido restou assim ementado:

"AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS.


ABERTURA DE CONTA CORRENTE COM BASE EM DOCUMENTOS
FALSOS. NEGLIGÊNCIA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
EMISSÃO, PELO FALSÁRIO, DE CHEQUES SEM PROVISÃO.
INSCRIÇÃO DAQUELE QUE CONSTA COMO CORRENTISTA NO
SPC. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. PROCEDÊNCIA PARCIAL.
DECISÃO CONFIRMADA." (fls. 22/26)
A instituição financeira, nas razões do apelo especial, suscita, além de
divergência jurisprudencial, violação do artigo 159 do Código Civil. Pugna pelo afastamento
da condenação dos danos morais supostamente sofridos pelo recorrido, sustentando não
restar comprovada tanto a existência desses, como a conduta culposa do banco-recorrente.

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Alternativamente, requer a redução do quantum fixado a título de danos morais, ao considerar
que o valor arbitrado pelo Tribunal de origem é excessivamente elevado, destoando dos
padrões adotados por este Superior Tribunal de Justiça em casos semelhantes.
É o breve relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 651.203 - PR (2004/0081242-9)

EMENTA
RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL. ABERTURA DE CONTA
CORRENTE. DOCUMENTOS EXTRAVIADOS. INCLUSÃO INDEVIDA
EM CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO. RESPONSABILIDADE
DO BANCO. REVISÃO DO VALOR. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS
DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. RECURSO
CONHECIDO EM PARTE E PROVIDO.
1. Responde pelos prejuízos gerados pela sua conduta a instituição financeira
que permite a abertura de conta corrente mediante a apresentação de
documentos falsos.
2. Para a fixação dos danos morais, o entendimento deste Superior Tribunal de
Justiça é firme no sentido de que evidente exagero ou manifesta irrisão na
fixação, pelas instâncias ordinárias, viola os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, tornando possível, assim, a revisão da aludida quantificação.
2. Recurso conhecido em parte e, na extensão, provido.

VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO HÉLIO QUAGLIA BARBOSA (Relator):
1. Cinge-se a irresignação do recorrente na ausência de culpa no evento danoso
e no excessivo valor arbitrado a título de indenização por danos morais, pela indevida inclusão
em cadastro restritivo de crédito.
2. Inicialmente, cumpre destacar que, ante as circunstâncias fáticas apuradas
nas instâncias ordinárias, restou incontroversa a responsabilidade do banco-recorrente, que
permitiu a abertura de conta corrente mediante documentos falsos, ocasionando a inscrição
indevida do nome do autor-recorrido em registros de proteção ao crédito.
Nesse ponto, assim esclareceu o Tribunal a quo:
"Com efeito, o fato alegado restou comprovado: os documentos de fls. 17 e
26/37 atestam que houve adulteração do documento de identidade do autor,
utilizado pelo falsário, e que houve utilização de cheques, em nome do
autor, debitados em conta corrente aberta sem o devido cuidado pela
instituição bancária, tanto que a assinatura aposta pelo falsário no contrato
de abertura da conta corrente é muito diferente daquela que consta na
carteira de identidade do autor, que foi adulterada pela troca de
fotografias. Ademais, se houvesse uma verificação cuidadosa, pelo gerente
da agência bancária, por certo, teria sido frustrada aquela ação criminosa.
Assim, presente o nexo causal - atitude do réu em promover a inscrição do
nome do autor no SPC, pelo suposta emissão de cheques sem provisão, de
conta corrente que nunca requereu abertura, causando ao autor
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constrangimentos e abalos morais - não há dúvidas de que o réu deve
responder civilmente, reparando os danos sofridos."

Dessa forma, para o acolhimento da tese do recorrente, relativo à inexistência


de culpa, seria imprescindível ir adiante dos fundamentos colacionados no acórdão vergastado
e adentrar no exame das provas, o que é vedado em sede de recurso especial a teor do
Enunciado nº 7 da Súmula desta Casa. Nesse sentido, vale reproduzir:

"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. NULIDADE DO


ACÓRDÃO RECORRIDO. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 458 E 535 DO CPC.
OMISSÃO. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INEXISTÊNCIA.
SERASA. INSCRIÇÃO INDEVIDA. DANOS MORAIS.
CONFIGURAÇÃO. ATO ILÍCITO. REEXAME DE PROVA. SÚMULA
7/STJ. 1 - Não se verifica a suscitada violação aos arts. 458, II, e 535, I e II,
do CPC, porquanto as questões submetidas ao Tribunal de origem foram
suficiente e adequadamente delineadas, com abordagem integral do tema. 2 -
Aferir a existência de provas suficientes para embasar condenação por danos
morais, demanda revolvimento do conjunto fático-probatório delineado pelas
instâncias ordinárias, providência vedada em recurso especial. Incidência da
súmula 7-STJ. 3 - Agravo regimental não provido." (AgRg no Ag 696.719/DF,
Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em
06.10.2005, DJ 24.10.2005.

3. Dessarte, tampouco prospera a alegação de ausência de dano, porquanto a


simples inscrição indevida do nome do recorrido no cadastro de inadimplentes já é suficiente
para gerar lesão reparável.
A respeito do tema, tem-se o seguinte precedente:

"RESPONSABILIDADE CIVIL. INCLUSÃO DO DEVEDOR NO


SERASA. ALEGAÇÃO DE FALTA DE PROVA DA CULPA E DO
DANO MORAL SOFRIDO. SÚMULA 07/STJ. DANO PRESUMIDO.
VALOR DA INDENIZAÇÃO. PADRÃO DE RAZOABILIDADE.
REDUÇÃO DESCABIMENTO. I - A argumentação deduzida pelo
recorrente, voltada para a ausência de comprovação da sua culpa, bem como
do dano moral sofrido, está relacionada às circunstâncias fáticas da causa, cujo
reexame é vedado em sede de especial, a teor do enunciado da Súmula 07
desta Corte. II - Em casos que tais, faz-se desnecessária a prova do prejuízo,
que é presumido, uma vez que o dano moral decorre da própria inclusão
indevida do nome do autor no cadastro de inadimplentes. III - Fixado o valor
da indenização dentro de padrões de razoabilidade, faz-se desnecessária a
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intervenção deste Superior Tribunal, devendo prevalecer os critérios adotados
nas instâncias de origem. Agravo a que se nega provimento." (AgRg no AG nº
470.538/SC, rel. Min. CASTRO FILHO, DJU de 24/11/2003)

4. Todavia, no que se refere ao quantum indenizatório, melhor sorte colhe o


recorrente.
Em linha de princípio, vale salientar que a jurisprudência deste Superior Tribunal
de Justiça já firmou entendimento no sentido de que a alteração no valor de indenização por
danos morais somente pode ser realizada em sede de recurso especial, se o quantum definido
pela Corte de origem for irrisório ou exorbitante. Porque em verdade, definir o valor da
indenização implicaria reexaminar fatos e provas que orientaram o Tribunal a quo, o que é
vedado nos termos do enunciado n.º 7 da Súmula desta Corte Superior.
Na espécie, todavia, a fixação de indenização em R$ 20.000,00 (vinte mil
reais), consideradas as peculiaridades do caso, destoa dos parâmetros traçados por este
Superior Tribunal de Justiça para ressarcimento de danos morais, em situações semelhantes.
Nesse sentido, confira-se o entendimento prevalente neste Sodalício:

"impende ressaltar que, consoante entendimento pacificado desta Corte, o valor


do dano moral só pode ser alterado nesta instância quando ínfimo ou
exagerado, o que ocorre no caso em tela, uma vez que foi fixado no montante
de R$ 24.000,00 (vinte e quatro mil reais) (fls. 153), e, em casos semelhantes,
em que há inscrição indevida de nome de pretenso devedor em cadastro de
inadimplentes, esta Corte tem fixado a indenização por danos morais em valor
equivalente a cinqüenta salários mínimos." (REsp 731.689/RJ, Rel. Min.
Fernando Gonçalves, Quarta Turma, DJ de 13.6.2005).

5. Redução essa que não induz, porém, configuração de sucumbência


recíproca, para refletir em repartição dos encargos correlatos, na medida em que a referência
a valor monetário, objeto de expressão no pleito inaugural, terá sido sempre de cunho
estimativo, desimportanto como venha expresso e, por isso, não gizando limites para o juízo
cognitivo, nem redundando em visão de derrota, mesmo parcial, em caso de arbitramento
inferior, nesta ou naquela instância; como é da jurisprudência remansosa desta Corte.
6. Pelo exposto, conheço em parte do recurso especial e, nesta extensão, lhe

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dou provimento, para reduzir a R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a indenização por danos morais,
atualizado monetariamente esse valor desde a data do julgamento deste recurso até a efetiva
liquidação.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 2004/0081242-9 REsp 651203 / PR

Números Origem: 200301726108 3472000

PAUTA: 10/04/2007 JULGADO: 10/04/2007

Relator
Exmo. Sr. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretária
Bela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO ABN AMRO REAL S/A
ADVOGADO : OSMAR MENDES PAIXÃO CÔRTES E OUTROS
RECORRIDO : ANTÔNIO FRANCISCO DOS SANTOS JÚNIOR
ADVOGADO : SHEYLA DAROLT BOLSI DOS SANTOS

ASSUNTO: Civil - Responsabilidade Civil - Indenização - Ato Ilícito - Dano Moral

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso e, nessa parte, deu-lhe
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Cesar Asfor Rocha e Aldir Passarinho Junior votaram
com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 10 de abril de 2007

CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK


Secretária

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