Arede 021

Apresenta
A Rede
Novela de:
Evana Ribeiro
CAPÍTULO 21
TV DESTINO . A REDE . CAPITULO 21 2
CENA 01 – AP. DE WALTER/SALA – INT – DIA

Continuação imediata da cena do capítulo anterior. Walter,
então sério, começa a rir.
WALTER – Você não tá falando sério, Beth.
BETH – Eu não tô brincando! Fala logo onde foi que você se enfiou a
madrugada toda e é melhor falar a verdade!
WALTER – Mas eu já falei, e vou dizer de novo. Encontrei Teresa na

Universidade, fui levá-la na casa do Danilo e ficamos os três lá
batendo papo!
BETH – E por que o telefone desligado?
WALTER – Descarregou.
BETH – E por que não deu um jeito de ligar pra casa?
WALTER – Admito, esqueci.
BETH – Aha! Quer dizer que agora você admite que não tá nem aí pra
mim!
WALTER – Peraí, eu esqueci, mas não foi por isso que você tá
pensando não.
BETH – Quer dizer que agora a sua meia irmã tem o poder de te fazer
esquecer que tem casa, família e a obrigação de dormir em casa, né?
WALTER – Ah, já chega, Beth. Tô cansado, com licença.

Walter sai. Beth senta no sofá.
BETH – Mas eu não acredito. Não acredito mesmo!
Close em Beth.
CORTA PARA
CENA 02 – AP. DE CATARINA/COZINHA – INT – DIA

As garotas continuam comendo, agora com Teresa.
FELÍCIA – Uma mulher invade o evento da outra e as duas vão morar

na mesma casa! Acho que essa é a história mais doida que eu já vi
em toda a minha vida.
TERESA – Você tinha que estar lá pra ver a cena. Achei que o Walter
fosse me engolir...
JOYCE – Mas o professor Walter é tão bonzinho...
TERESA – Ah, florzinha...Professores, professores; irmãos à parte!
JOYCE – Talvez, se você fosse irmã da professora Helena, ela

realmente te engolisse, depois de mastigar bem mastigado.
FELÍCIA – Credo, que medo...
CATARINA – Ela tá exagerando, Feli. Você conhece a Helena, ela era

bem amiga da tia Judith, lembra?
FELÍCIA – Helena... Helena Mendonça, né? Lembro assim, mais ou

menos.
TERESA – Helena é diva! Até hoje acho que o Walter devia ter se
casado com ela, em vez da Dona Encrenca lá.
Catarina e Joyce olham para Teresa com espanto.
TERESA – É, a Helena era, ou é, sei lá, a fim do meu irmão. Dava pra
notar a quilômetros a carinha de interesse dela quando ia lá na casa
dele... Mas ele fica bancando o ceguinho, diz que não tem nada a
ver...
JOYCE – Agora eu visualizei a cena. (pausa) Os dois casados... Só

não consigo imaginar com filhos. Professora Helena na versão mãe é
algo meio impensável.
Elas riem.
OLGA – Deixa eu ver se eu entendi. A Tetê conheceu a Catarina sem

saber que era a irmã da Felícia, que tem uma tia que é amiga dessa
Helena aí, que gosta do irmão da Teresa, que é professora da
Catarina, que também é aluna do irmão da Teresa. É isso?
TERESA – É!
MARIA – E se vocês se conheciam antes?
TERESA – Bom, acho que não. Mas essa é uma das provas de que
certa estava a primeira pessoa que disse que Recife é um ovo!
Ouve-se Irina chorando.

TERESA – Opa... Ou tá com fome ou tá reclamando que a gente não

chamou ela pra conversa.
Teresa sai correndo para ver Irina.
CORTA PARA
CENA 03 – CASA DE Mª EDUARDA/SALA – INT – DIA

Jacqueline está pronta para sair, muito feliz. Eduarda a vê
estranha o comportamento.
Mª EDUARDA – Já vai sair? Não tá cedo demais?
JACQUELINE – É! Primeiro dia de aula de dança, né?
Mª EDUARDA – Mas essa aula não começa só às 11?
JACQUELINE – Sim, mas chegar um pouco mais cedo não faz mal
nenhum, né?
EDUARDA – Vê lá como se comporta, hein?
JACQUELINE – Ai, mãe... Falando desse jeito até parece que eu sou
uma demoniazinha, né?
EDUARDA – Não é isso. Mas...
JACQUELINE – Tá, mami, pode deixar que eu vou me comportar

direitinho, viu?
Jacqueline dá um beijo na mãe e sai, saltitante.

CORTA PARA
CENA 04 – CASA DE EMÍLIO/COZINHA – INT – DIA

Toda a família está tomando café da manhã.
MIRANDA – E aí, Minerva? Quanto te pagaram pela entrevista?
MINERVA – Pagar?
MIRANDA – É, eles pagaram, certo?
MINERVA – Pela publicidade que fizeram da minha página, tava mais

fácil eu pagar pra eles..
MICK – Mas é sério isso que eles falaram na matéria, que tem gente
de fora do Brasil usando o site?
MINERVA – São brasileiros que moram fora. E ainda é pouca gente,

se muito for, são umas dez pessoas, só.
MICHELLE – Mas pra quem começou um dia desses já é um feito e

tanto! Daqui a uns dias é bem capaz de uma empresa querer
comprar seu projetinho.
MINERVA – Ou não, né?
MIRANDA – Claro que vai! Depois de aparecer no jornal, todo mundo

vai querer saber de você. Não dá pra pensar pequeno com um
negócio grande...
MINERVA (pensativa) – E esse aqui tá ficando grande demais...

MICHELLE – Bom, mudando de assunto, melhorou, pai?
EMÍLIO – Tô menos pior, filha. Se eu pelo menos tivesse conseguido

dormir direito...
AMÉLIA – Desculpa, mas não deu pra segurar! Aquela mulher lá

olhando pra você... Enfim.
MIRANDA – Ei, que história é essa?
MICK – Ah, foi a mãe aqui que foi tirar satisfação com a Raquel aí do
lado porque ela tava vendo o pai dormindo. A janela do quarto tava
aberta, aí...
MIRANDA – Ah, mãe, sacanagem! Olha não tira pedaço.
AMÉLIA – Já disse que não consegui me controlar! Agora vamos

esquecer esse assunto e continuar tomando o café em paz?
Eles continuam conversando enquanto comem.
CORTA PARA
CENA 05 – CASA DE RAQUEL/SALA – INT – DIA

Miguel está deitado no sofá com o caderno de informática do
jornal na mão. Está quase dormindo. Raquel entra, vinda da cozinha,
e o acorda.
RAQUEL – Ei, não vai comer não?
MIGUEL – Já vou... A Minerva saiu no jornal.

RAQUEL – Quem?
MIGUEL – Minerva, a filha da...
RAQUEL – Tá, já lembrei, não precisa ficar mencionando certos

nomes. E por que ela saiu no jornal?
MIGUEL – Por causa do site que ela criou.
RAQUEL – E já arrumou confusão?
MIGUEL – Não, pelo contrário... Tá fazendo o maior sucesso.
Miguel mostra o jornal para Raquel. Ela olha a foto de Minerva

com atenção, depois olha para o filho e sorri com uma pontinha de
tristeza.
RAQUEL – E é tão lindinha... Vocês formariam um belo par.
Miguel sorri.
RAQUEL – Isso se não fossem irmãos.
Miguel fica sério.
MIGUEL – Ah, mãe, de novo essa história?
RAQUEL – Insisto porque é a verdade. E se você duvida da minha

palavra, posso muito bem entrar na justiça e pedir o DNA.
MIGUEL – É mais fácil eles entrarem na justiça e pedirem que a

senhora faça exame de sanidade mental.
RAQUEL (brava) – O café tá na mesa e vai esfriar, viu?
MIGUEL – Já vou.
Raquel volta para a cozinha. Miguel arruma o jornal e vai para

lá logo depois.
CORTA PARA
CENA 06
Sonoplastia: Bob – Otto.
Tomada de vários locais de Recife pela manhã.
CORTA PARA
CENA 07 – RUA – EXT – DIA

Geysa se locomove sozinha pela calçada, com sua cadeira de
rodas. Tem certa dificuldade em fazê-lo.
GEYSA – Com esses buracos, não tem cadeira que agüente...
Ela anda mais um pouco e pára na frente do que era a Barnet,

agora um prédio cercado por tapumes. Ela olha, estranhando.
GEYSA – Ué, e a lan house?
Geysa pega o celular e liga para Miranda.
CORTA PARA
CENA 08 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MIRANDA – INT –

DIA
Miranda se arruma para começar a fisioterapia. O médico ainda
não chegou. Seu celular toca.
MIRANDA – Alô? (pausa) Geysa! Como é que tu tá, menina? (pausa)

Ah, bom. (pausa) É, a lan vai ficar parada por uns tempos, a turma tá
meio apertada demais pra reconstruir qualquer coisa... Mas aí perto
tem outro lugar legal, passa lá! (pausa) Quero te ver depois. Beijo,
tchau.
Ela desliga.
CORTA PARA

Continuação da cena 08. Geysa desliga o celular e segue seu
caminho. Entra em uma lan house perto dali.
Corta para o interior da lan house. Geysa fala com o gerente
dali, que indica um computador desocupado para ela, que vai para lá
e logo começa a verificar seus e-mails. Lê alguns deles e logo depois
clica em um link, que dá acesso a página do blog de fofocas. Na
página, vemos as fotos de Helena abraçando Walter. As fotos são
seguidas de um texto, que Geysa lê em silêncio. Enquanto lê, ela ri.
Pega outra vez o celular e liga para Catarina.
CORTA PARA
CENA 10 – AP. DE CATARINA/SALA – INT – DIA

Teresa, Olga, Maria e Felícia vêm do quarto, prontas para sair.
Joyce brinca com Irina. O telefone toca.
FELÍCIA – Alô? (pausa) A Catarina? Aguarde um minuto por favor.
Felícia sai com o telefone na mão. Instantes depois, volta sem

ele.
JOYCE – Quem era?
FELÍCIA – Uma tal de Geysa.
JOYCE – É uma amiga nossa lá da faculdade.
FELÍCIA – Não lembro dela, mas enfim...
TERESA – Vamos lá, moças? A gente ainda tem muita coisa pra ver
por aí... Joyce, cuida direitinho do meu bebê, tá?
JOYCE – Pode ficar tranqüila, a gente tá se dando super, né Irina?
As meninas saem. Sonoplastia: Eu queria morar em Beverly

Hills – Paulo Francis Vai Pro Céu.
CORTA PARA
CENA 11 – RECIFE/RUAS – EXT – DIA

Sonoplastia: continuação da cena anterior.
Felícia, Maria, Olga e Teresa passeiam pelas ruas da cidade.
Cortes descontínuos, mostrando-as em vários locais. As crianças
observam tudo, curiosas. Felícia e Teresa conversam e riem muito. A
seqüência termina na praça do Marco Zero. Teresa vai sozinha, a
passos lentos, até a beira do rio Capibaribe e fica olhando a
paisagem. Felícia e as crianças a seguem.
TERESA – Eu sempre achei que o Recife visto daqui era mais bonito.
(pausa) Lembro do dia que eu saí da casa do meu pai... Antes de ir
pra casa do Walter eu passei um tempão perambulando, pensando na
vida, aí parei aqui.
FELÍCIA – Lá de cima do shopping é mais bonito. Foi uma das últimas

coisa que fiz questão de ver antes de viajar. (pausa) A outra foi a
vista lá do último andar do CFCH. Deu um medo danado, aquela
altura... Mas é lindo!
Felícia ri. Só então percebe que Teresa não presta atenção;

está ausente com ar triste.
FELÍCIA – Ei, Tetê... O que foi?
TERESA – Eu tava aqui pensando no Mick... Meu amigo, o meu outro

namorado virtual. (pausa) Só agora a ficha caiu que a gente nunca
esteve tão perto como agora.
FELÍCIA – Ele também é daqui?
TERESA – É! A gente falava tanto sobre a cidade, sobre os lugares

pra onde a gente costumava ir... Eram os mesmos. E era tão bom
conversar com ele... Pra falar a verdade, eu só topei ficar com o Ed
porque achava que nunca ia conseguir encontrar o Mick... Eu sempre
gostei mais do Mick!
Lágrimas começam a rolar pelo rosto de Teresa.

FELÍCIA (tenta consolar) – Mas veja só... O rolo com o Ed pode ter
um lado bom agora! Você e esse cara agora estão bem pertinho um
do outro, podem se encontrar e quem sabe...
TERESA – Agora não sei... Depois de tudo isso, fiquei com um medo
danado. Medo de cair no mesmo golpe do Ed. Vai que os dois são
iguaizinhos?
FELÍCIA – Pode ser, pode não ser...
TERESA – Mesmo assim, acho que é melhor eu não vê-lo nunca mais,
nem pensar nisso...
FELÍCIA – Tem certeza?
TERESA – Não.
FELÍCIA – Bom, de toda forma, eu acho que uma hora dessas vocês
vão acabar trombando por aí. Afinal de contas, Recife é um ovo, não
é?
TERESA – É...
OLGA – Ei, a gente vai continuar andando, né?
TERESA – Sim, vamos sim!
Elas continuam passeando.
CORTA PARA
CENA 12 – SHOPPING PAÇO ALFÂNDEGA/1º PISO – INT – DIA

Mick e Elissa andam de mãos dadas pelo shopping.
ELISSA – Você tem alguma idéia do que fica bom eu dar de presente
pra sua irmã?
MICK – Ah, ela com certeza ia gostar de livros. Se bem que eu acho
que não precisa disso.
ELISSA – Precisa sim! Quero dar um presente a Minerva e o senhorito

não vai me fazer mudar de idéia.
MICK – Tá bom, já que insiste...
ELISSA – E depois de comprar, nós vamos falar com o meu pai.
MICK – Pra quê?
ELISSA – Esqueceu que ele disse que ia desenrolar um emprego pra

você lá no jornal?
MICK – Ah, é...
ELISSA – Então, vamos aproveitar que estamos bem pertinho do

trabalho dele e ir lá.
MICK – Tá certo.
Elissa e Mick entram em uma livraria.
CORTA PARA

Catarina e Joyce, com Irina no colo, vêem o blog de fofocas.
JOYCE – Caramba, sacanagem isso! A mulher foi dar um abraço no

colega e o povo já vai inventando que os dois tem um caso!
CATARINA – E, tipo, o professor é casado, né? Imagina se a mulher

dele fica sabendo, o rolo que vai dar...
JOYCE – Talvez a Teresa pudesse evitar isso. Tipo, ela é irmã do

professor, né?
CATARINA – É... A gente mostra isso aqui pra ela quando elas
chegarem.
JOYCE (lendo) – A professora Helena Mendonça não conseguiu

controlar o entusiasmo ao ver seu colega, o professor Walter. Ao vê-
lo chegar, lançou-se aos braços dele, num clima altamente
romântico... Será que tá rolando? (pausa, olha para Catarina) E a
Teresa tava mesmo falando que a Helena tinha uma quedinha por
ele, né?
CATARINA – Pode ser, mas isso aí é armação feiosa.
CORTA PARA
CENA 14
Tomada aérea do Recife/Vila do Ipsep.
CORTA PARA
CENA 15 – ESCOLA/CORREDOR – INT – DIA

Sonoplastia: Jacqueline – Kostars.
Jacqueline está sentada sozinha no chão, acompanhando com o

olhar o movimento dos alunos que passam fazendo um barulho
ensurdecedor. Rodrigo chega, a vê e se aproxima, sentando ao lado
dela.
RODRIGO – Oi.
JACQUELINE – Ah, que surpresa! (dois beijos) Tudo bem?
RODRIGO – Tudo. Mas por que chegou tão cedo?
JACQUELINE – Nada... Não tinha nada pra fazer em casa mesmo, aí

resolvi vir pra cá, pra ver se espantava o tédio.
RODRIGO – Sei...
JACQUELINE – Não vai demorar muito pra começar, né?
RODRIGO – Só mais quinze minutos.
JACQUELINE – Mal posso esperar.
Jacqueline sorri para Rodrigo. Ele sorri de volta.
CORTA PARA

Teresa, Felícia, Maria e Olga caminham pela rua, conversando.
TERESA – Era nesse bairro aqui que eu morava com os meus pais.
MARIA – Aqui é muito grande?

TERESA – Comparado com outros bairros, é até bem pequenininho,

Maria. Mas eu gostava pra caramba daqui, tinha um monte de
amigos.
OLGA – E por que saiu de casa mesmo?
TERESA – Depois que a minha mãe morreu, o negócio ficou um pouco

difícil. E meu pai não gostava nada, nada de mim...
OLGA – Mas por que ele não gostava? Você é uma gracinha!
TERESA – Mas ele não gostava, não. Só queria abusar de mim.
FELÍCIA – Abusar? Mas abusar como?
TERESA – Não era esse tipo de abuso; ele ficava me fazendo de

empregadinha o tempo todo. Eu não queria sair de casa porque
achava que depois o juiz ia me mandar voltar pra casa, aí não ia
adiantar. Fiquei três anos nessa, até que fui morar com meus irmãos
na casa que hoje é do Walter e da Beth. (pausa) E fomos todos muito
felizes até que a Beth apareceu.
MARIA – Aí você voltou pra casa do seu pai?
TERESA – Nem... Não queria falar com ele nunca mais, de tão ruim
que ele foi pra mim.
FELÍCIA – Ele ainda tá vivo?

TERESA – Não sei, acho que sim. Pelo menos há cinco anos atrás,
quando eu fui pros Estados Unidos, ele tava vivinho. A gente até se
falou...
CORTA PARA

Sonoplastia: The end – Nico.
Flashback do dia em que Teresa viajou.
Teresa está no ponto de ônibus, com uma mala. Frederico se
aproxima.
FREDERICO – Maria Teresa! Há quanto tempo, não? Nunca mais veio

visitar o papai...
TERESA – É. (amarga) Papai...
FREDERICO – Onde vai? Aeroporto?
TERESA (irônica) – Não, vou pro Porto de Recife. Um jeito muito mais
emocionante de viajar...
FREDERICO – E para onde vai?
TERESA – Nova York, por quê?
FREDERICO – Nada, só queria saber. (pausa) Seus irmãozinhos não

vão te levar pro aeroporto?
TERESA – Não... Odeio despedidas.
FREDERICO – Quer dizer alguma coisa pra mim antes de ir?

TERESA – Quero sim. (pausa, olha nos olhos dele) Tchau.
Teresa faz sinal para um ônibus, que pára. Ela entra nele.
CORTA PARA

Volta à realidade. Elas continuam andando.
TERESA – Essa foi a última vez que eu vi meu pai! Agora vamos pra
casa, né? Outro dia a gente volta aqui pra ver se algum dos meus
amigos das antigas ainda mora aqui.
Elas vão andando até um ponto de ônibus ali perto. Corta para
um barzinho, onde Frederico está, já bebendo. Ele vê o grupo
passando e reconhece, surpreso, Teresa entre as garotas.
FREDERICO – Maria Teresa? (pausa) Será ela mesmo?
Sonoplastia: The end – Nico.

Frederico esvazia um copo e levanta, saindo do bar. Tenta
atravessar a rua, mas os carros não param para que ele atravesse.
Teresa faz sinal para um ônibus, que para. As meninas sobem.
Frederico tenta atravessar a rua outra vez e quase é atropelado por
um ônibus, mas se joga na calçada no último instante. Corta para
dentro do ônibus. Felícia olha para o homem caído, impressionada.
FELÍCIA – Que horror! Viu isso, Tetê?
TERESA (pagando a passagem) – Isso o quê?

FELÍCIA – Um ônibus quase pegou o homem ali... Se ele não tivesse

se jogado na calçada...
Felícia indica o lugar onde Frederico estava. O ônibus começa a

andar e quando Teresa vai olhar para onde Felícia estava apontando,
já não vê mais nada.
FELÍCIA – Deixa, agora já foi...
As meninas sentam em um dos bancos finais do ônibus.
CORTA PARA
CENA 19 – ESCOLA/SALA DE DANÇA – INT – DIA

Os alunos, um grupo de 14 pessoas, estão reunidos na sala,
com Rodrigo, esperando Anuska chegar. Rodrigo olha no relógio,
preocupado. Anuska chega, quase sem fôlego.
ANUSKA – Bom dia, pessoal... Me desculpem o atraso, mas o ônibus

que eu tava quase atropelou um homem aí, foi uma confusão
danada...
RODRIGO – Tudo bem, nem se atrasou tanto assim. Mas tem gente
que tá muito ansiosa pra começar, né?
Jaqueline sorri, sem graça.
ANUSKA – Muito bem, a hora chegou! Tá todo mundo pronto pra

começar, né?
RODRIGO – Todo mundo aquecido.

ANUSKA – Então já podem se dividir em pares, ok?
Anuska coloca uma música pra tocar e os alunos começam a

formar pares. Jacqueline se aproxima de Rodrigo, meiga e fingindo
timidez.
JACQUELINE – Cunhadinho... Será que você podia ser meu par?
Rodrigo olha em volta, vê que já está todo mundo com par.
RODRIGO – Tudo bem.
Jacqueline sorri e segura a mão de Rodrigo. Anuska os vê e se

aproxima ligeira.
ANUSKA – Ei, tem um negócio... É melhor que o Rodrigo fique comigo

e você, Jacqueline, fique com aquele menino ali, o Décio.
JACQUELINE – Ele?
ANUSKA – É.
Jacqueline, desgostosa, solta a mão de Rodrigo e vai,

emburrada, até onde está o outro garoto.
JACQUELINE (baixinho) – Essa chata!
ANUSKA (baixinho, para Rodrigo) – É melhor eu te manter bem longe

dessa mocinha aí... Se deixar, ela te leva.
RODRIGO – Impressão tua.

ANUSKA – Impressão ou não, é melhor eu ficar de olho nessa garota.
Anuska dá prosseguimento a aula. Jacqueline olha feio para ela.
CORTA PARA

As garotas chegam da rua. Não há ninguém na sala.
FELÍCIA – Ei, tem alguém aí?
CATARINA (off) – Tô aqui no quarto!
Elas vão para lá.
CORTA PARA
CENA 21 – AP. DE CATARINA/QUARTO – INT – DIA

Catarina está terminando de trocar a fralda de Irina. As
meninas entram no quarto.
TERESA – Ah, que fofo... Desse jeito vou acabar abdicando do posto
de babá de Irina!
CATARINA – Ah, não... Eu sou apenas uma substituta de emergência.

E o que as mocinhas acharam do passeio?
OLGA – Ah, tem um monte de lugar bonito aqui...
CATARINA – Isso é porque só viram Recife. Tem muito mais coisas

bonitas por aí. (pausa) Ah, Teresa, eu tenho um negócio pra te
mostrar ali no laptop.
Catarina se afasta um pouco para pegar o laptop. Maria e Olga

ficam com Irina. Depois de ligar o computador, Catarina abre a
página do blog de fofocas.
CATARINA – Olha só isso aqui.
TERESA (olha rapidamente as fotos, surpresa) – Eles estão juntos?
CATARINA – Não... Isso aqui é um blog de fofocas do povo lá da sala.

Um camarada lá tá tirando foto adoidado e escrevendo esses
textinhos aí.
TERESA – Nossa, se a Beth ficar sabendo...
FELÍCIA – A tua cunhada é ciumenta?
TERESA – Até da sombra!
CATARINA – Então é bom você falar logo com ela, antes que essa
fofoca tome proporções maiores.
Teresa fica calada por uns instantes, pensativa.
TERESA – Pra falar a verdade, eu acho que a Beth não merece o meu
irmão. Até que seria bom que ele largasse ela de vez. Mas como eu
não quero que meu maninho vire pastel nas mãos daquela doida, eu
vou lá mandar a real pra ela.
CATARINA – Ah, bom...

TERESA – Não, melhor. (pausa) Vou falar pro próprio Walter, aí ele
explica tudo pra Beth. É mulher dele, ele deve entender.
CORTA PARA
CENA 22
Sonoplastia: Delete – Lulu Santos.
Tomada de Recife. Passagem de algumas horas.
CORTA PARA
CENA 23 – AP. DE WALTER – SALA – INT – TARDE

Beth assiste televisão enquanto Jéssica faz a lição de casa,
deitada no chão.
BETH – Menina, não é melhor você ir estudar lá dentro?
JÉSSICA – Tá bom aqui.
A campainha toca. Jéssica pára o que está fazendo, vai atender.

Sorri ao ver Teresa.
JÉSSICA – Tia Tetê!
TERESA – Jéssica!
Elas se abraçam, felizes.
TERESA – Como você cresceu, menina! Tá uma gatinha!
BETH (baixinho) – Ah, não... Ela de novo não!

TERESA (entrando) – Tudo bem, Beth?
Teresa dá dois beijos em Beth, que permanece quieta.
BETH – Tudo indo, Teresa. Tudo indo...
TERESA – Walter tá em casa?
BETH – O que você quer com ele?
TERESA – Quero conversar com ele, afinal, é meu irmão...
BETH – Meio irmão.
TERESA – Podia ser até um oitavo de irmão, mas ainda assim é meu
irmão e eu quero falar com ele. Pode ser ou tá difícil?
BETH – Tá lá na salinha dele. Pode ir.
TERESA (saindo) – A burocracia nessa casa só fez aumentar, viu...
Quando Teresa sai, Beth levanta e vai atrás dela.
CORTA PARA
CENA 24 – AP. DE WALTER/SALA DE ESTUDOS – INT – TARDE

A porta está aberta. Walter está lá, trabalhando. Teresa entra
sem bater.
TERESA – Pára de trabalhar um pouquinho, Walter.

WALTER – O que você tá fazendo aqui, Tetê?
TERESA – Pegou a mania da Beth agora, foi? Pra dizer oi tem que dar
até o CPF...
WALTER – Diz aí, veio fazer aqui o quê?
Teresa fecha a porta e se aproxima de Walter.
TERESA – Tá rolando uma fofoca sua na net.
Corta para fora da sala. Beth está com o ouvido colado à porta,
ouvindo tudo.
WALTER (off) – Fofoca? Mas que fofoca?
TERESA (off) – Tiraram umas fotos suas com a Helena. A Helena te

abraçando ontem lá no congresso.
Corta para dentro da sala.
TERESA – As fotos caíram num blog de fofocas e...
A fala de Teresa é cortada pela entrada brusca de Beth, furiosa.
BETH – Agora vai negar, Walter? (pausa) Vai negar que tem outra ou
essas fotos de que a Teresa falou são montagens?
TERESA – Calma aí, Beth, eu ainda não terminei...

BETH (corta, brava) – Mas já disse tudo o que eu precisava saber! Me

diz, Walter... Você tá de casinho com aquela professorinha oferecida,
é?
WALTER – Lá vamos nós de novo...
Walter olha para Teresa, depois para Beth; e suspira,

emburrado.
FIM DO CAPITULO 21

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WALTER – Você não tá falando sério, Beth.

WALTER – Mas eu já falei, e vou dizer de novo. Encontrei Teresa na

BETH – E por que o telefone desligado?

BETH – E por que não deu um jeito de ligar pra casa?

WALTER – Admito, esqueci.

WALTER – Ah, já chega, Beth. Tô cansado, com licença.

Walter sai. Beth senta no sofá.

BETH – Mas eu não acredito. Não acredito mesmo!

CENA 02 – AP. DE CATARINA/COZINHA – INT – DIA

FELÍCIA – Uma mulher invade o evento da outra e as duas vão morar

JOYCE – Mas o professor Walter é tão bonzinho...

TERESA – Ah, florzinha...Professores, professores; irmãos à parte!

JOYCE – Talvez, se você fosse irmã da professora Helena, ela

FELÍCIA – Credo, que medo...

CATARINA – Ela tá exagerando, Feli. Você conhece a Helena, ela era

FELÍCIA – Helena... Helena Mendonça, né? Lembro assim, mais ou

Catarina e Joyce olham para Teresa com espanto.

JOYCE – Agora eu visualizei a cena. (pausa) Os dois casados... Só

OLGA – Deixa eu ver se eu entendi. A Tetê conheceu a Catarina sem

MARIA – E se vocês se conheciam antes?

Ouve-se Irina chorando.

TERESA – Opa... Ou tá com fome ou tá reclamando que a gente não

Teresa sai correndo para ver Irina.

CENA 03 – CASA DE Mª EDUARDA/SALA – INT – DIA

Mª EDUARDA – Já vai sair? Não tá cedo demais?

JACQUELINE – É! Primeiro dia de aula de dança, né?

Mª EDUARDA – Mas essa aula não começa só às 11?

EDUARDA – Vê lá como se comporta, hein?

EDUARDA – Não é isso. Mas...

JACQUELINE – Tá, mami, pode deixar que eu vou me comportar

Jacqueline dá um beijo na mãe e sai, saltitante.

CENA 04 – CASA DE EMÍLIO/COZINHA – INT – DIA

MIRANDA – E aí, Minerva? Quanto te pagaram pela entrevista?

MIRANDA – É, eles pagaram, certo?

MINERVA – Pela publicidade que fizeram da minha página, tava mais

MINERVA – São brasileiros que moram fora. E ainda é pouca gente,

MICHELLE – Mas pra quem começou um dia desses já é um feito e

MINERVA – Ou não, né?

MIRANDA – Claro que vai! Depois de aparecer no jornal, todo mundo

MINERVA (pensativa) – E esse aqui tá ficando grande demais...

MICHELLE – Bom, mudando de assunto, melhorou, pai?

EMÍLIO – Tô menos pior, filha. Se eu pelo menos tivesse conseguido

AMÉLIA – Desculpa, mas não deu pra segurar! Aquela mulher lá

MIRANDA – Ei, que história é essa?

MIRANDA – Ah, mãe, sacanagem! Olha não tira pedaço.

AMÉLIA – Já disse que não consegui me controlar! Agora vamos

Eles continuam conversando enquanto comem.

CENA 05 – CASA DE RAQUEL/SALA – INT – DIA

RAQUEL – Ei, não vai comer não?

MIGUEL – Já vou... A Minerva saiu no jornal.

MIGUEL – Minerva, a filha da...

RAQUEL – Tá, já lembrei, não precisa ficar mencionando certos

MIGUEL – Por causa do site que ela criou.

RAQUEL – E já arrumou confusão?

MIGUEL – Não, pelo contrário... Tá fazendo o maior sucesso.

Miguel mostra o jornal para Raquel. Ela olha a foto de Minerva

RAQUEL – E é tão lindinha... Vocês formariam um belo par.

RAQUEL – Isso se não fossem irmãos.

Miguel fica sério.

MIGUEL – Ah, mãe, de novo essa história?

RAQUEL – Insisto porque é a verdade. E se você duvida da minha