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“OS MAIAS”

Cap. XVII

Escola Secundária ES/3 de Maria Lamas


Português B

Nome: Suéli d’Avó Ano: 11º Turma: 2ª A nº: 21572


Data: Março de 2005 Professor: Rosa d’Avó Marques

“OS MAIAS”
Eça de Queirós
Análise do Capítulo XVII

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“OS MAIAS”
Cap. XVII

Síntese do cap. XVII

No Ramalhete, Baptista acorda Ega (que tinha em sua posse a caixa já


conhecia a verdade acerca dos laços que uniam Carlos a Maria Eduarda), às 7
horas. Este, sem coragem de contar a verdade a Carlos, inventa uma ida a
Sintra com o intuito de não passar a tarde com o amigo para poder contar a
verdade a Vilaça e os dois resolverem o problema.
Mais tarde, Ega desvenda o segredo ao procurador e incumbe-o de
revelar a noticia ao neto de Afonso. Após uma tentativa falhada, Vilaça
consegue contar a verdade a Carlos, e quando Ega se confronta com o amigo,
este já estava ocorrente dos laços sanguíneos que o uniam à mulher que tanto
amava e queria levar ao altar. Desesperado, Carlos procura explicações no avô
que de nada sabia acerca da neta. Afonso revela a Ega que conhece a relação,
agora incestuosa, que une os dois amantes.
De seguida, numa tentativa desesperada de acabar com a relação com
Maria, Carlos planeia uma mentira para ganhar tempo e depois revelar o que
sabia à irmã. No entanto, ao visitar a amante, Carlos cai no seu leito e, mesmo
consciente dos laços de sangue, não consegue evitar comete incesto
voluntário.
Apesar do amor que os unia, Carlos começa a sentir repugnância física
do corpo quente com quem dormira nas ultimas noites e toma consciência dos
seus actos, da completa morte dos seus valores morais e do sofrimento que
causara ao avô e ao amigo, conhecedores do incesto voluntário.
Numa das noites em que voltava para casa, por volta das quatro da
manhã, após o encontro com a irmã, Carlos encontra-se, pela ultima vez, com
o avô que o fita com os olhos e não lhe dirige uma palavra. Na manhã seguinte,
os criados chamam Carlos até ao jardim onde este se depara com Afonso,
morto, sentado no banco de jardim. Carlos sente-se desesperado e culpado,
pois sabe que o avô morreu de desgosto.
Depois do funeral, Carlos parte para Santa Olávia e deixa dinheiro a Ega
para que este o entregue a Maria, incumbindo-o também da tarefa de revelar o
conteúdo da carta de Maria Monforte. Maria Eduarda deveria partir para Paris,
a pedido de Carlos.

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Juntamente com Ega, Maria parte no comboio que a levaria para França
e deixaria Ega no Entroncamento, a fim de se dirigir para junto do amigo.

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Análise

• Acção
Tempo e Espaço físico

Espaço: Lisboa

7 horas 11 horas No dia seguinte

Rua da Prata Ramalhete


Ramalhete (revelação da
(encontro com
(Ega acorda) verdade a Carlos)
Vilaça)

Rua de
S.
Francisc
Quatro noites a o
dormir com a irmã (incesto
voluntário
)
Dia seguinte Dia seguinte De manhã
Rua de S.
Estação Sta. Francisco Ramalhete :
Apolónia (Ega informa Maria) recanto do jardim
(morte de Afonso)

 Ega acorda no Ramalhete às 7 horas e vai procurar Vilaça à Rua da


Prata por volta da 11 horas.
 No dia seguinte, no Ramalhete, Vilaça conta a verdade a Carlos.
 Nessa noite, Carlos procura Maria e comete incesto voluntário. Passa as
próximas quatro noites com a irmã.
 Numa das manhãs em que acordava no Ramalhete, após passar a noite
com a irmão, Carlos depara-se com o avô morto no banco de jardim.
 No dia seguinte, após o funeral, Carlos parte para Santa Olávia e Ega
entrega a Maria, na Rua de S. Francisco, a carta de sua mãe.

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 No dia seguinte, Ega e Maria embarcam na estação de Santa Apolónia


com destino a Santa Olávia e à capital Francesa, respectivamente.

Espaço psicológico
Este tipo de espaço representa as emoções, a afectividade, o íntimo das
personagens. É traduzido sob a forma de sonhos, reflexões e visões, portanto
está ligado ao mundo interior e não ao mundo objectivo. Assume maior
importância nos momentos próximos do desenlace, pois as inquietações, os
conflitos psicológicos intensificam-se, ao nível da intriga, mais concretamente
com as personagens Ega e Carlos.
Ega sente-se preocupado com a dimensão dos actos de Carlos e das
suas consequências. Carlos sente-se revoltado e impotente face aos
acontecimentos, não tem coragem para acabar o relacionamento com Maria
Eduarda.

Espaço Social
A crónica de costumes remete para este tipo de espaço. Reflecte a
oposição entre o ser e o parecer das personagens-tipo que se apresentam
nestes ambientes. Estas pertencem à alta burguesia, à elite portuguesa, que
vivia ociosamente sem precisar de trabalhar para sobreviver. A intenção
satírica do autor manifesta-se, sem dúvida, na descrição destes espaços assim
como nas situações lá vividas.
Neste capítulo o espaço social está presente nos jantares no Ramalhete e
nos jantares com o Marquês.

• Personagens

Neste capítulo intervêem: Carlos da Maia, Afonso da Maia, João da


Ega, Maria Eduarda, Vilaça, Baptista, Rosa, Miss Sarah, escrevente de
Vilaça, Craft, Sequeira, D. Diogo, Steinbroken, Darque, Taveira, Cruges,
Dr. Azevedo, Vargas, Melanie, Neves.

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Personagens como Craft, Sequeira, D. Diogo, Steinbroken, Darque,


Taveira, Cruges , Vargas e Neves não ocupam um lugar muito importante no
decorrer da intriga, são todas personagens tipo e representam uma
determinada classe social ou mentalidade.
• Steinbroken é ministro da Finlândia e entusiasta da educação inglesa.
Para além disso é bom entendedor de vinhos.
Aparece no sarau no Ramalhete e no Funeral de Afonso.
• Taveira mostra a irresponsabilidade dos funcionários do Estado.
Aparece no funeral de Afonso.
• Craft é um inglês amigo de Carlos e de Ega. Tem uma formação inglesa
pelo que é culto. É rico e leva uma vida boémia.
Aparece no sarau no Ramalhete e no funeral de Afonso.
• Sequeira era um velho amigo de Afonso.
Aparece no sarau no funeral de Afonso.
• D. Diogo era um velho amigo de Afonso.
Aparece no sarau no Ramalhete e no funeral de Afonso.
• Cruges era um músico talentoso.
Aparece no funeral de Afonso.
• Vargas e Darque aparecem no funeral de Afonso.
• Neves é um deputado e político, director do jornal “A Tarde”. É símbolo
do jornalismo político.
Aparece na estação de Santa Apolónia, quando Ega e Maria Eduarda
embarcam.

Personagens como Miss Sarah, Dr. Azevedo, Melanie, Rosa e o escrevente


de Vilaça funcionam apenas como figurantes da acção e só intervêem nela
devido à necessidade de existência de um intermediário.
• Miss Sarah e Melanie são empregadas de Maria Eduarda e Rosa é
sua filha.
• Dr. Azevedo apenas aparece para confirmar a morte de Afonso.
• O Escrevente de Vilaça apenas aparece quando Ega procura Vilaça
e não o encontra.

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As restantes personagens intervêem directamente na intriga principal ou


contribuem para o desenrolar da mesma, são o caso de Carlos, Afonso, Ega,
Maria Eduarda e Vilaça.
• Carlos da Maia é sem dúvida a personagem principal de toda a
obra. Devido à sua educação tipicamente inglesa, rígida mas
completamente desprovida de moralidade, Carlos acabará na ruína
moral. Após a sua formatura de médico em Coimbra, Carlos fez uma
viagem pela Europa voltando com a ideia de abrir um luxuoso
consultório em Lisboa, pelo que se instala no Ramalhete. Devido ao
fracasso do seu projecto, Carlos é absorvido pela intensa vida social
e amorosa que o conduzirá à perda das suas motivações e
capacidades. É vítima de dois factores:
1. O meio em que se insere, o que o tornará num fracasso
aristocrata.
2. A hereditariedade visível na sua beleza física bem como no
seu obsessivo gosto pelo luxo. Herda do pai a fraqueza e a
cobardia e de sua mãe o egoísmo e a futilidade.
Neste capítulo mostra-se um jovem apaixonado por Maria.
Essa paixão arrebatadora que o consome fá-lo viver momentos
áureos e de plena felicidade. No entanto, ao saber da verdade
acerca dos laços de sangue que o unem à amante, Carlos sente-se
revoltado, mas mesmo assim não desiste de Maria Eduarda e,
consciente, comete incesto voluntário. Com o decorrer do tempo
apercebe-se de uma certa repugnância física em relação à irmã e
decide acabar tudo. Os seus actos imorais levam à morte do avô.
Apesar de tudo acaba por assumir a culpa pelo fracasso da vida.
• Afonso da Maia é viúvo de Maria Eduarda Runa e pai de Pedro
da Maia. Era um nobre rico, preconceituoso, carinhoso, culto, liberal,
preconceituoso e austero. Educa o neto como desejou poder educar
o filho Pedro, à inglesa. No entanto, com o decorrer dos
acontecimentos, e ao saber da existência de uma neta viva, Afonso
mostra-se impotente e velho perante a situação. Resta-lhe apenas
observar observar o relacionamento de ambos os netos que o levam

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à morte de desgosto. Apesar das tentativas, Afonso acaba também


por falhar na educação de Carlos.
• Maria Eduarda é a neta que Afonso procurara e amante de
Carlos. Desconhece por completo que é irmã do mesmo e neta de
Afonso. Comete incesto involuntário com o amante. É uma jovem
culta, sensata e equilibrada, bela e sensual (alta, loira, olhos claros),
delicada e dedicada. Possui uma forte consciência moral e social.
Esta personagem é considerada o último elemento feminino da
dinastia Maia, e à semelhança de todas as outras mulheres é
portadora da desgraça e da fatalidade da família.
• João da Ega é amigo de Carlos desde os tempos de Coimbra
onde frequentou o curso de Direito. É em jovem romântico
(impulsionado pelos sentimentos) e ao mesmo tempo realista
(contesta a sociedade, a politica e a religião), boémio rebelde e
revolucionário. É Ega o primeiro a conhecer a verdade sobre Maria
Eduarda através de Guimarães que lhe entrega a caixa de Maria
Monforte. Resolve procurar Vilaça para que este o ajude com os
documentos. Ajuda, ainda, Carlos a contar a verdade a Afonso bem
como revela a verdade a Maria Eduarda, a quem acompanha no dia
da partida.
• Vilaça era o procurador dos Maias e também fiel amigo. A sua
geração havia servido a família Maia e por isso também Manuel
assume esse cargo. Retrata a burguesia conservadora. Foi a ele que
coube a tarefa de revelar a Carlos a verdadeira identidade da
amante.

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Simbologia

Carlos, com um profundo sentimento de culpa, dirige-se da Rua de D.


Francisco para o Ramalhete pensando que, depois de ter cometido incesto
consciente, é-lhe impossível recomeçar a sua vida, tranquilamente, na
presença do avô e de Ega.
No momento da chegada ao Ramalhete (p.667), no exterior “os
candeeiros ainda ardiam”, porém o advérbio de tempo “ainda” indica que a
noite está prestes a acabar, dando lugar à luz do dia. Mas no interior reinava a
escuridão e Carlos procurava uma luz para iluminar os seus passos e o seu
comportamento, é que moralmente sentia-se também às escuras.
Neste momento de hesitação surge o avô com uma luz, manifestada
primeiro como claridade que vai crescendo e depois se torna num clarão, numa
luz bem definida. Podemos descortinar nesta luz um simbolismo: o avô sempre
representou a luz, uma luz para Carlos, que lhe dissipava os momentos de
incerteza e o orientava na vida. Mas agora “estava lívido”, descorado pelas
dúvidas, os seus olhos estavam vermelhos, não só por ter passado a noite em
claro, mas pelo sofrimento. A luz de antigamente apagara-se e agora o avô não
se encontrava ali para orientar mas para pedir contas, para recriminar.
A luz do avô agora assustava Carlos porque este, cedendo ao prazer
pecaminoso, tornou-se cúmplice do mal e do poder das trevas. Não admira que
entrasse no quarto às escuras, sem rumo, desorientado, tropeçando num sofá,
sem saber o que fazer. A imagem do avô ficou gravada no neto, sobretudo
através de duas cores: o lívido do rosto e o vermelho da vela e dos olhos,
ambas de natureza negativa que apontam para a morte. A partir desta
confrontação, a vida perdera todo o sentido para ele.
Foi preciso ser anunciado o sol e a luz do dia para ele reagir a este
estado depressivo que o dominava e adormecer. Através da evasão do sono,
logrou fechar as portas à luz do dia e da razão, e mergulhar na escuridão que é
o antegosto da morte.

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Comentário

A acção deste capítulo desenrola-se através do seguimento do


reconhecimento da verdade por Ega e pelos leitores, no capítulo anterior, onde
a acção atinge o clímax. No entanto, é neste capítulo que é revelada a verdade
acerca dos laços de sangue dos amantes às personagens interessadas, “Maria
Eduarda era, pois, sua irmã!... E um defronte do outro, o velho e o neto
parecim dobrados por uma mesma dor nascida da mesma ideia.”.
Note-se a cobardia e a falta de princípios morais de Carlos que
toleraram a sordidez do incesto, “Sem resistência, como um corpo morto que
um sopro impele, ele caiu-lhe sobre o seio. Os seus lábios secos acharam-se
colados, num beijo aberto que os humedecia. E de repente, Carlos enlaçou-se
furiosamente, esmagando-a e sugando-a, numa paixão e num desespero que
fez tremer todo o leito.”, cuja ideia só rejeita por via de repulsa física
Devido aos acontecimentos anteriores, instala-se a pathos, pois, apesar
da falta de moralidade de Carlos, este toma consciência dos seus actos e do
sofrimento que provocavam, “Era, surgindo do fundo do seu ser, ainda ténue
mas já perceptível, uma saciedade, uma repugnância por ela, desde que a
sabia do seu sangue!... Uma repugnância material, carnal, à flor da pele, que
passava como um arrepio.”.
Do reconhecimento à catástrofe que aniquilará os Maias é apenas um
passo. O neto que Afonso educara desde pequeno acabou por matar, de
desgosto, o avô, “O avô sabia tudo, disso morrera!”.
É neste capítulo que se fazem as revelações mais importantes e é onde
se decide o futuro das personagens, pelo que o último capítulo apenas
funciona como remate de uma história trágica, com a moralidade do tempo ser
um factor de esquecimento, que acabará por enterrar o passado.
Eça terá querido personificar em Carlos o ideal da sua juventude, a que
fez a “ Questão Coimbrã ” e as “Conferências de Casino”, acabando no grupo
dos vencidos da vida, de que Carlos é um bom exemplo.

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