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Sorte

Enquanto vives perseguindo a sorte,


não estás pronto para ser feliz,
ainda que seja teu o que mais queres.

Enquanto te lamentas do perdido,


e tens metas e não te dás descanso,
não podes saber o valor da paz.

Só quando a todo anelo renuncias,


sem objetivos nem desejos mais,
e já não dás à sorte qualquer nome,

já a maré dos eventos não te atinge


o coração, e se acalma tua alma.

(de “Música da Solidão”, 1915)

A Meu Irmão

Quando revemos nossa casa, agora,


andamos encantados pelos cômodos,
ficamos longo tempo no jardim
onde – meninos levados – brincávamos.

E de todos os outros esplendores


que pelo mundo afora conquistamos,
nenhum mais nos alegra nem agrada
quando o sino da igreja faz-se ouvir.

Calados repisamos velhas trilhas


cruzando o verde terreno da infância:
e elas no coração tornam-se vivas,
grandes e estranhas, como um belo conto.

Mas tudo o que estaria à nossa espera


já não há de ter mais o puro brilho
de outrora – quando, ainda rapazolas
no jardim caçávamos borboletas.

(em “Música da Solidão”, 1915)

Andares

Como emurchece toda flor, e toda idade


juvenil cede à senil – cada andar da vida
floresce, qual a sabedoria e a virtude,
a seu tempo, e não há de durar para sempre.

A cada chamado da vida o coração


deve estar pronto para a despedida e para
novo começo, com ânimo e sem lamúrias,
aberto sempre para novos compromissos.
Dentro de cada começar mora um encanto
que nos dá forças e nos ajuda a viver.
Devemos ir contentes, de um lugar a outro,
sem apegar-nos a nenhum como a uma pátria:
não nos quer atados, o espírito do mundo
- quer que cresçamos, subindo andar por andar.
Mal a um tipo de vida nos acomodamos
e habituamos, cerca-nos o abatimento.

Só quem se dispõe a partir e a ir em frente


pode escapar à rotina paralisante.
É bem possível que a hora da morte ainda
de novos planos ponha-nos na direção:
para nós, não tem fim o chamado da vida...
Saúda, pois, e despede-te, coração!

(de “Andares”, 1961)

Glück 

Solang du nach dem Glücke jagst,


Bist du nicht reif zum Glücklichsein,
Und wäre alles Liebste dein.

Solang du um Verlornes klagst


Und Ziele hast und rastlos bist,
Weißt Du noch nicht, was Friede ist.

Erst wenn du jedem Wunsch entsagst,


Nicht Ziel mehr noch Begehren kennst,
Das Glück nicht mehr mit Namen nennst,

Dann reicht dir des Geschehens Flut


Nicht mehr ans Herz, und deine Seele ruht.
Hermann Hesse

http://www.buecher4um.de/SondHess.htm

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