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2010 
Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra 
Lúcida 

Nuno Barbieri 
NOVA ESCOLA DE SAGRES 
1/12/2010 
Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

Nova Escola de Sagres ‐ Nuno Barbieri  Pág. 2 
Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

«Eu sou o que chamam Anura. Ou, pelo menos, foi assim que me apresentei a
este canal, há já algum tempo atrás. Falo do fundo de mim, dirigindo-me a si, leitor,
e a todos os outros seres humanos deste planeta, para contar um pouco da minha
história: a fusão da Matriz do Feminino com a Matriz do Masculino – as bases da
Fonte Luz/Amor – gerou a minha consciência. Mais tarde, quando a matéria
planetária já estava suficientemente estável, comecei a animar cada átomo dela, o
que permitiu a manifestação e a sustentação das diferentes formas de vida.»
«Eu sou, portanto, aquela que gera, nutre e protege. Tudo o que emana de mim
tem a ver com criação e sustento. Em termos cósmicos, sou uma das faces da
«Mãe»; em termos humanos, sou a Alma do Mundo. Noutras condições seria
diferente.»
«Ao longo dos tempos têm me dado nomes diferentes – Gaia, por exemplo –,
mas Anura é uma sigla, cujos elementos representam as diferentes realidades e
existências que habitam, cuidam do planeta, reequilibrando-o. Esse nome
corresponde à nova condição que adquiri quando, em 2006, nos mais altos níveis da
Criação, se iniciou a fusão dos dois Universos Complementares, o da «Luz» e o da
«Sombra».»
«O Livro de Anura», de Esmeralda Rios e Vitorino de Sousa,
pág. 13.

Abrimos o nosso artigo, que constituirá o primeiro Caderno Náutico da Escola de


Sagres, com esta citação extraída de «O Livro de Anura», de Esmeralda Rios e
Vitorino de Sousa, recentemente editado. Neste trecho de texto, Anura define-se do
seguinte modo: «Eu sou, aquela que gera, nutre e protege». Pela importância do
assunto em si e, pela sua oportunidade, o lançamento da obra ocorreu recentemente
em Fátima, não poderíamos escolher melhor tema para celebrar a cerimónia de
colocação da «Pedra de Fundação» da nova Escola de Sagres, fundação que
ocorreu em «Lys», em Novembro de 2009. Ritual que corresponde, em terminologia
náutica, ao quilhar 1 da Nau no Arsenal.
É, pois, sobre Anura que iremos falar de seguida.

Anura é o Ser-Terra, a Consciência/Energia da Terra, para nós na sua forma


mais avançada, na qual ela se nos oferece, presentemente, à nossa percepção.
Percepção inesgotável, se atendermos às suas múltiplas extensões, compostas por
planos e subplanos de consciência, para a realidade dos quais somos agora
convidados. Abre-se, aqui, ante nós um campo vastíssimo de dissertação em torno
do Ser e das suas múltiplas irradiações ou projecções particulares. Devido à
necessária extensão da sua exposição e à sua natural complexidade, não
poderemos, por agora, abordá-la com o detalhe merecido, pelo que, de momento, só
nos resta deixar essa dissertação para futura ocasião. A ela voltaremos.

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Por ora, interessa-nos apenas salientar que o Ser, na sua criatividade, ou ânsia
de desdobramento, se projecta em múltiplos «Planos de Consciência» que são,
simultaneamente, outros tantos «Planos de Manifestação». E isto porque o Ser é
Consciência 2 e Forma. Forma plasmada pela Energia própria da Consciência,
através da qual esta se revela, ou se vai revelando no desdobramento das suas
próprias potencialidades. O Ser é Mente, englobando capacidades sensitivas e
intelectivas de input, acompanhadas pelo processamento de percepções e
pensamentos, a par duma capacidade selectiva extraordinária para a retenção de
sensações, percepções, processos e ideias; e Forma corporal que as exterioriza,
particularizando-as. Cada Plano de Consciência/Energia/Ser alberga, assim, outras
tantas dimensões de consciência, sendo cada uma, por sua vez, sustentáculo de
novas multiplicidades de expressão – inclusivamente corporal – que se formam, e se
desenvolvem a partir da própria especificidade, ou «dimensionalidade», do plano
que as alberga e sustenta. Cada «Plano» é Mãe duma cadeia indefinida de
manifestações, para as quais ela é Útero, o abrigo e o colo, o plano de sustentação
e cenário de actuação. Cada «Plano» é assim, simultaneamente, um Projecto Divino
e uma Matriz para as singularidades que nele se expressam, nele se criam, se
abrigam e nele se desenvolvem a partir das próprias potencialidades do Plano.
Seres que a ele se limitam, na impossibilidade temporária de transcenderem as
barreiras de vibração que o formam.
Voltando a Anura. Anura é pois um «Plano de manifestação 3 » no Grande
Projecto Divino que é a Vida; um «Suporte», entre múltiplos outros, para formas de
vida-consciência ansiosas de nele se desenvolverem a partir dos parâmetros
«individuais» de Anura, «decrescendo», ontologicamente, dentro dos «limites» da
sua Matriz.
Anura é a Vagem que alberga no aconchego e protecção do seu interior, as
sementes que nela se criam, como seus filhos dilectos. Anura é para nós,
presentemente, a Terra-Mãe na sua nova expressão e potencialidade. É,
simultaneamente, a Deusa na sua expressão mais directa, na forma mais elevada
que nos é presentemente acessível, na nossa actual elevação de consciência. Ela é,
portanto, a nossa fonte, o nosso suporte e sustento, mas, também, o suporte sobre o
qual é possível edificar a «Ponte», estabelecer o elo de ligação entre «formas» do
Ser e destas para outras ainda por manifestar. Anura é, assim, a Terra e o Mar
Cósmico, que nos «separa» de outros planos, mas que está destinado a ser o meio
através do qual nos será dado a eles nos unirmos, se essa for a nossa vontade e a
nossa ousadia. Esta é a razão que faz de Anura a «Senhora dos Navegantes», dos
Nautas do Cosmos. É ela que nos Guia, assinalando a hora e marcando a rota. É
ela que nos Salva, porque é ela que «equilibrando» proporciona a Navegação que
conduz à Chegada, à Descoberta dessa outra Terra por achar.

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Anura é um nome que define uma Entidade – Eu sou o que chamam Anura.
Repare-se na frase: «o que chamam» e não a quem chamam. Mas o que é, na
realidade, um «Nome»? Para melhor compreendermos o conceito de «nome» temos
de nos recorrer, sucintamente, à sua noção egípcia. A esse respeito, diz-nos o
seguinte, o Dicionário do Antigo Egipto: «O nome consistia na imagem daquilo que
mais identificava o seu possuidor; é como que uma postura perante o mundo, uma
integração no cosmos» e, mais à frente: «o nome no Antigo Egipto é como que uma
porta de acesso, uma password, para um universo de maior valia e significação».
Podemos constatar, ainda, que a palavra Egípcia para nome era ren, ou rem,
como em remrem (o nome de um deus) e que aquela palavra possuía também o
sentido de «amamentar», nutrir – Wallis Budge, A Hieroglyphic Vocabulary to the
Book of the Dead, pág. 237.
O nome, ren, era, juntamente com o ka e o ba, um elemento constituinte do ser
humano 4 . Ele representava de certo modo esse elemento matricial, «mágico» que
origina e determina uma particularidade, nutrindo-a, simultaneamente, ou seja,
mantendo-a de uma forma sustentada ao longo de um determinado período de
tempo. Mas o nome é, também, como vimos, uma password, isto é, um código de
acesso que permite a evocação, o próprio acto de chamar, e determina,
consequentemente, o contacto. Esta é toda a importância desta temática, por
exemplo, do verdadeiro nome de Deus, o Tetragramaton, da tradição judaica – ou
dos seus Setenta nomes –, tal como ela surge, por exemplo, também na tradição
islâmica, etc., temas que, apesar da sua extraordinária importância, apenas
podemos, por ora, assinalar de passagem 5 .
Anura é uma sigla – o texto diz-nos literalmente que «Anura é uma sigla».
Podemos agora adiantar que ela possui o poder de uma password de acesso. Mas
de acesso a quê? Obviamente à Mãe, o masterserver – apetece-nos dizer a
motherserver –, o servidor de rede na qual nos situamos presentemente, e «que
gera, nutre e protege» com a toda a eficácia da sua potencialidade. Ora a
potencialidade da Mãe é-lhe conferida pelo Poder do Pai, ou dito de outro modo, a
Mãe é a face geradora do Pai. Ou seja, a Mãe concretiza o Projecto do Pai e, esse
Projecto, não tem fim como o Pai. Nele, no Projecto Divino, encontram-se os
«códigos» que definem e estabelecem; códigos que criam o ser e o preservam, isto
é, o mantêm naquilo que ele é na sua «inércia» do Tempo. Códigos que
designaremos por «Selo Divino», no sentido de serem precisamente o que assegura
a integridade da sua expressão criacional, protegendo-a da plasticidade inerente à
potencialidade absoluta e indiferenciada do Todo. Essa noção de «Selo», traduzida
no esoterismo hebraico, pela letra Tav 6 , a última do alfabeto, e por isso equivalente
ao ómega grego, corresponde também ao conceito de «códigos» de transcendência.
Estes, são códigos que, anulando os anteriores, permitem contudo o acesso a novos
«códigos de criação» situados, relativamente aos anteriores, em outros planos de
manifestação, planos que correspondem a «novas» e «superiores» expressões do

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ser, em conformidade com o poder de manifestação, a energia de criação, dessas


novas consciências.
Ora é esta capacidade de geração e protecção de Anura que abre, em nós, o
leque para novas compreensões. Como vimos anteriormente, este poder de
custódia, entendido de um modo mais vasto que a simples e imediata segurança, ou
preservação física, remete para uma noção mais ampla de conservação do ser, no
sentido de permitir que ele seja aquilo que é durante uma determinada extensão de
tempo, a necessária e suficiente para a realização de todo um ciclo de experiências
ao alcance desse ser. Ou, dito de um modo mais simples, essa custódia traduz-se
naquilo que comummente chamamos o nosso «tempo de vida», de uma vida, mas
também para todo o ciclo de existências durante o qual a potencialidade do ser,
neste caso do ser humano, se mantém como forma básica experiência 7 . A
individualidade do ser, isto é de se ser particularmente humano, entre outras formas
do Ser, fica assim dependente desse poder de nutrição/protecção da Mãe que o
«fixa» num determinado patamar da cadeia indefinida dos graus múltiplos do Ser.
Sendo ela, primariamente, quem gera, é ela também quem altera, reinterpretando o
Pai, provocando no «filho» – na forma gerada –, a alteração radical dos «códigos» a
que já nos referimos, o que corresponderá, segundo a nossa lógica, a um novo ciclo
de geração/nutrição (sustento) /protecção/sustentação (suporte).
Em caso extremo, a realização dos novos códigos poderá implicar uma
transferência para um outro plano dimensional de suporte – A Nova Terra –, pois a
sua materialização necessita para sua sustentação de outra «plataforma física» de
suporte e concretização, já que a anterior não dispunha das potencialidades
necessárias para a alicerçar os novos seres, dando-lhes o ancoramento adequado à
sua nova e elevada vibração.
Daí toda a relevância da evocação de Anura e do contacto consigo, o que, na
nova perspectiva, agora relanceada, corresponde, verdadeiramente, àquilo a que
poderíamos designar com toda a propriedade, como se tratando de um Retorno às
Origens, via um Regresso ao Útero.

Voltemos ao nome de Anura e à citação de abertura, em que ela nos revela algo
sobre si: «Anura é uma sigla, cujos elementos representam as diferentes realidades
e existências que habitam, cuidam do planeta, reequilibrando-o.» Fixemos, agora, a
nossa atenção sobre a sua estrutura. O texto acrescenta-nos que o seu nome é,
uma pluralidade, constituído por elementos que representam as diferentes
realidades que se manifestam no planeta, o habitam e dele cuidam, reequilibrando-
o. Logo no início da citação foi-nos dito, como elemento crucial de compreensão a
propósito da geração de Anura, o seguinte: «A fusão da Matriz do Feminino com a
Matriz do Masculino – as bases da Fonte Luz/Amor – gerou a minha consciência».
Somos assim, claramente, remetidos para uma compreensão essencialmente dual

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da geração de Anura, e, consequentemente, para a composição igualmente dual do


seu nome, que terá necessariamente de reflectir, a esse nível, a eficácia da
dualidade primordial. A sigla Anura terá, então, de se desdobrar em dois fonemas,
cuja articulação mantém a dinâmica das origens, reflectindo a grande Fonte
Luz/Amor. Sugerimos para a compreensão da sua semântica os nomes Sumérios
AN e UR, pelas razões que veremos, detalhadamente, em seguida.
A primeira questão que se nos coloca consiste em avaliar a razão pela qual
sugerimos que a sua interpretação seja feita utilizando a língua Suméria, extinta pelo
menos há 4.000 anos. Mas porquê nomes Sumérios, e não outros? Porque a
Suméria, tal como o antigo Egipto, representa, de certo modo, para nós o arquétipo
de Civilização, como berço de nomenclaturas, de conceitos e experiências de
organização humana, cuja compreensão se mostra de grande relevância para o
entendimento da nossa cultura. Em particular no que diz respeito ao conceito dos
deuses, sua funcionalidade e hierarquia, sua relação com o homem. Logo de
seguida, a organização da sociedade, espelhando os deuses e evocando, através
da instituição da Monarquia sagrada, a hierarquia do divino. A criação do calendário,
na compreensão dos ciclos e ritmos celestes, apreendidos pela observação
«científica» dos céus, a fundação da cidade, com as suas ruas, quarteirões,
muralhas e portas de acesso, reproduzindo na Terra a estrutura paradisíaca das
moradas divinas, vêm completar a visão que a Terra apenas é, e deve ser, um
espelho ou uma projecção do Céu.
Ao nível da compreensão do homem, sua natureza e missão, é o caso particular
do Rei e da Rainha, consagrados pelo matrimónio sacro inerente ao poder da
Rainha, entendida como representante terrestre da deusa-Mãe, que estabelece a
«ponte» entre Deus e os homens. Deus apreendido na multiplicidade das suas
expressões, na pluralidade dos seus rostos, através dos quais se dá a conhecer, e
não na visão exclusivamente monoteísta, mediante a qual ele se isola e se afasta da
sua Criação, na própria transcendência com que se reveste. Os deuses, assim
entendidos, aproximam o divino do humano e permitem que o homem se organize
na sua nova qualidade de «cidadão», isto é de obreiro da «Cidade de Deus», na
qual Deus reside efectivamente como energia constituinte da própria cidade, como
foco irradiante de energia que «organiza» e sacraliza o espaço circunvizinho,
conduzindo às noções de Cidade-Estado e, mais tarde, de Reino. Veremos, mais
adiante, a relevância de se sentir membro da Cidade e, por extensão, do Reino.
Voltemos, por ora, para a constituição Suméria do nome de Anura.
AN é um sinal cuneiforme, de valor silábico, que é
simultaneamente um ideograma e um pictograma. Isto é, AN é um
desenho de uma estrela de oito pontas, o que constitui o pictograma,
traçado, normalmente, com um fino estilete sobre uma tira de
cerâmica, a tabuinha, ou num cilíndrico de pedra ou barro, o selo.
AN
Esse desenho representa, esquematicamente, o Céu, assumindo

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assim, simultaneamente, a especificidade de um ideograma, ou seja, de


representação de uma ideia.
AN é, em si, uma estrela de oito pontas. Representa pois uma luz que se afirma
no céu, na indistinção própria da noite, que tudo mascara, do mesmo modo que o
pictograma o faz na superfície lisa e uniforme da tábua cerâmica. Simbolicamente,
representa a Luz Divina que assinala o Fiat Lux, no seio indiferenciado da Grande
Noite primordial, a Noite pré-Cósmica que antecede a Criação, e a desencadeia na
aurora dos Tempos. Já na Criação, na ordenação do Espaço e do Tempo, AN é a
Luz que Gere, Nutre e Guia, que Ordena – no sentido de que introduz a Ordem 8 , a
Diferenciação e o Ritmo –, apontando e traçando o Caminho. A seu respeito, diz-nos
Thorkild Jacobsen, na obra «The Treasures of Darkness, A History of Mesopotamian
Religion», o seguinte:
«An ranked highest among the gods. His name, borrowed by the Akkadians as
Anum, is the Sumerian word for «sky», and inherently An is the numinous power in
the sky, the source of rain and the basis for the calendar since it heralds through its
changing constellations the times of year with their different works and celebrations.
Originally, one may surmise, An belonged to the herder's pantheon since he is often
visualized in bovine form. »
«An's spouse was the earth, Ki, on whom he engendered trees, reeds, and all
other vegetation. »
«There also seems to have been a tradition that saw the power in the sky as both
male and female and distinguished the god An (Akkadian Anum) from the goddess
An (Akkadian Antum) to whom he was married. According with that view the rains
flowed from the sky goddess' breasts, or (since she was usually envisaged in cow
shape) her udder - that is, from the clouds. 9 »
Neste texto podemos ver retratado o carácter ambivalente de AN representando,
simultaneamente, aqueles dois elementos base da polaridade primordial: o Céu,
aqui tido por masculino – no Egipto Antigo o Céu era feminino, a deusa Nut –, e a
Terra, feminina, enquanto no Egipto era masculina e correspondia a Geb. A
feminilidade Suméria da Terra entende-se mais facilmente pela sua característica de
suporte de manifestação, elemento eternamente gerador de novas formas por ela
nutridas e protegidas, às quais concede suporte físico, à imagem da mãe que
recolhe e transporta o filho. Esta polaridade não constitui propriamente uma
dualidade, mas sim aquilo que podemos designar por bi-unidade, ou seja, por uma
Unidade aonde se manifesta uma especialização diferenciante que, contundo,
permanece interior e lhe é específica.
A ambivalência já encontrada em AN acha-se ainda reforçada na constituição do
próprio nome Anura, pela presença adicional do vocábulo Ur, que lhe completa o
nome (An+Ur = Anur). Em Sumério, Ur significava Terra arável, tal como em Nin-Ur,
o «Senhor da terra arada» 10 . A noção de Terra arável, de fecundidade da Terra,

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encontra-se particularmente relacionada com a própria ideia da Terra como Mãe, e


da Terra como suporte de civilização. A Civilização nasce, de facto,
predominantemente rural, assentando as suas raízes na prodigalidade da terra
fecundada pelas águas, pela luz e pela organização ou cooperação do labor
humano. É a terra com os seus cereais, os seus produtos hortícolas, os seus
pomares e os seus rebanhos, que possibilita a sedentarização e a organização da
sociedade em torno da Cidade. A transição não é brusca, mas, quando se dá, é de
tal modo importante que, embora tenha ocorrido ao longo de milénios, constitui uma
verdadeira revolução: a da criação da Cidade-Estado, com a sua individualidade
centrada em torno do Templo 11 principal da cidade.
Ur, que veio a representar o próprio conceito de Cidade, é nome de uma cidade
particular: «Ur (Sumerian: Urim, Biblical Hebrew ‫[ אּור‬Aur]) was a city in ancient
Sumer, located at the site of modern Tell el-Mukayyar in Iraq (…) and close to the
site of ancient Eridu - Eridu was the earliest city in southern Mesopotamia, founded c.
5400 BCE. Located 12 km southwest of Ur, Eridu was the southernmost of a
conglomeration of Sumerian cities that grew about temples, almost in sight of one
another. In Sumerian mythology, Eridu was founded by the Sumerian deity Enki, later
known by the Akkadians as Ea. 12 »
Como acabamos de ver, na citação atrás reproduzida, a palavra hebraica
correspondente ao Sumério Ur, ou Urim, era ‫אּור‬, que se lê Aur, ou Or. Ora, em
Hebreu antigo, a palavra Or ou Ohr, representava a Energia Divina, ou a
Consciência, tal como se pode verificar nos seguintes textos: «Or is [a] commonly
used metaphor for the Divine energy that generates and sustains the universe. Ma'or,
Ziv, He'arah.» (…) «Ohr represents the all-encompassing infinite «light» which
inspires every element within Creation to transcend the boundaries of its own nature
and become absolutely one with God. 13 »
O sentido de Or, em Hebreu, tido como Luz ou Consciência, surge, por exemplo,
em expressões, tais como, Or pnimi, que significa, «consciência íntima», e em Or
chozer, que significa «Luz de retorno» e é o sentido esotérico profundo da letra Zain,
a sétima do alfabeto hebraico – «Or chozer is a reverberation of spiritual energy
emanating from Creation in the direction of the Creator; a response to Or yashar 14 ».
Or yashar que, por sua vez, corresponde ao sentido esotérico do Vav, a sexta letra
do alfabeto hebraico (o Filho), significando a Luz/Consciência emanada pelo Criador,
e que estabelece a «ponte» entre Deus e o Mundo. Essa Luz/Consciência é uma
segunda emanação de Deus e representa Deus como Filho, num propósito de
redimir a Criação, despertando-a da sua letargia substancial pelo poder messiânico
do Filho, pela incidência da sua Luz/Consciência – da Luz/Consciência inerentes ao
Filho e que representa a sua essência e verdadeira natureza. Esta emanação, que é
Dádiva e Misericórdia, destina-se a produzir no Mundo, a resposta que é Or chozer,
ou Luz/Consciência de resposta e de retorno (a Filha). Como esta é consequência
daquela, podemos afirmar que sem a incidência de Or yashar, o Filho, que

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corresponde na Criação a uma activação de carácter Messiânico, não haveria, no


Mundo, a Consciência de resposta, traduzida no alfabeto hebraico pelos mistérios da
sétima letra, o Zayin 15 .

Voltemos a Ur. Uma concepção semelhante à contida no termo Sumério Ur


surge nos vocábulos egípcios tendo por raiz her 16 , que se escreve, isoladamente,
usando apenas o hieróglifo da cabeça , o qual possui o sentido geral de «em
cima», «sobre», ou ainda escrevendo aquele hieróglifo, conjuntamente com outro,
encimando-o, neste caso o símbolo alfabético da letra «r», , pictograma da boca
e ideograma de Ré, o deus-Sol, simbolizando o carácter logóico da luz manifestada,
como Verbo Divino; em heri, possui o significado de «aquele que está em cima»,
«chefe»; heriu, são «aqueles que estão acima», os «seres celestes»; heru, as
«regiões superiores», o «céu»; hert, o «céu», o «paraíso». Como nome, surge ainda
em Herui, o «deus das duas faces», em Her-nefer, a «Face perfeita» ou a «Bela
Face», que é um nome de Ré e de Ptah (sendo este o Deus da Criação e o patrono
dos construtores); Her é ainda o nome antigo do deus-Sol, e é por isso aplicado ao
rei como seu representante na Terra.
Ur aparece directamente na escrita egípcia sob forma do hieróglifo «wr», ,
normalmente encimando o hieróglifo alfabético de valor «r», , já visto
anteriormente; «wr» possui o sentido de «ser grande», «poderoso», «supremo»; urt,
é aquela que é «grande», «a deusa»; uru, é o «duplamente grande»; ur é o
«príncipe», o «nobre», o «chefe». Como superlativo, ur é o «altíssimo» e, como tal,
aplicável ao deus supremo, ou às suas manifestações. Por fim, em Egípcio, Urit é o
nome de uma cidade, onde Tot, o deus da Sabedoria, era venerado.
De regresso à Suméria, podemos acrescentar que as cidades situavam-se todas
à beira dos rios Tigre e Eufrates, ou de alguns dos seus afluentes, podendo os
aglomerados mais pequenos se situar junto a canais deles derivados, natural ou
artificialmente, devido sobretudo a necessidades climáticas de irrigação, mas
também a necessidades de transporte. Convém não esquecer que numa época em
que a força de transporte é principalmente humana, fazendo-se maioritariamente a
pé, ou usando, como auxiliar, o burro, o barco representava o veículo principal de
transporte, sobretudo no caso de cargas pesadas ou volumosas, ou, sempre que
viável, aquando de grandes distâncias.
A civilização nasce com a interligação: primeiro com a ligação ao divino e ao
desejo de o espelhar na Terra, depois com a ligação entre gentes com laços comuns
de sangue, ou de proximidade, formando comunidades de cooperação e, finalmente,
entre grupos humanos mais vastos entre os quais se estabelecem relações de
permuta e comércio. Nela, o transporte assume, naturalmente, importância
fundamental, assim como se tornam cada vez mais relevantes a vias de
comunicação, sejam elas terrestres, fluviais ou marítimas. Os utensílios de

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transporte, como cestos e vasos, assim como os meios de transporte, carros e


barcos, transformam-se em elementos essenciais de civilização. O mesmo
ocorrendo com o domínio da força – energia de transporte –, abrangendo a
domesticação de animais: primeiro o boi e o burro, depois o cavalo 17 e o camelo, a
surgir somente por volta do ano 1400 antes de Cristo, embora a sua difusão seja
mais tardia, cerca do ano 1000. Esta é a razão pela qual o burro contrai, sobretudo,
na Suméria, um valor simbólico de grande relevo, ao qual não podemos dar agora a
devida importância, que se perpetuará durante bastante tempo. Veja-se, por
exemplo, a relevância que lhe é conferida no Novo Testamento.
A par do incremento da força e da velocidade de comunicação, pela via da
diversificação da domesticação de animais e aperfeiçoamento de vias e veículos,
surge também uma melhor compreensão das forças naturais, tais como as inerentes
aos cursos de água e às vastidões marítimas: aproveitamento da força das águas,
ou defesa perante elas, assim como uma progressiva adaptação ao regime de
ventos e correntes oceânicas. A aventura marítima nasce com o desejo de conhecer
e com a necessidade da permuta. Em qualquer dos casos, é um aspecto mais desse
intuito de interligação do qual nasce a Civilização.
Para se compreender razoavelmente a Mesopotâmia, como berço de civilização,
há que olhar atentamente para as suas características geográficas: acidentes
físicos, relevo e bacias hidrográficas, linhas de costa, assim como estruturas
geológicas, riquezas minerais e aptidões agrícolas; incidências meteorológicas, etc.
O Sul da
Mesopotâmia, a
região que
corresponde
histórica e
geograficamente à
Suméria, é quase
plano, apresentando
apenas um desnível
de 3 cm em 100 km,
pelo que as águas
dos rios – o Tigre,
mais a leste, e o
Eufrates, a oeste –,
quase não têm
escoamento natural.
Assim, quando na Primavera se dá o degelo nas montanhas do Tauros, situadas
contudo mais a norte, no sul da actual Turquia, local aonde se originam as bacias
hidrográficas daqueles dois rios, é, também nessa mesma altura, que chegam a Sul
as chuvas da Primavera provenientes do Golfo Pérsico. Os seus efeitos conjugados,

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provocam o rápido incremento do volume de caudais, assim como o da velocidade


do seu escoamento, motivando a sua impetuosidade, destruindo barreiras naturais
ou artificiais, galgando margens de rios e muralhas de diques, alagando as terras
baixas do Sul e arrastando materiais de sedimentação, por vezes, violentamente. O
Eufrates, sobretudo, antes do ordenamento moderno das suas margens, galgava
facilmente o seu leito natural, gerando grandes inundações das quais resultava,
muitas vezes, uma mudança radical do seu curso, capaz de se traduzir num
deslocamento lateral de vários quilómetros em poucos anos. Por isso, as cidades,
sobretudo as do Sul, eram edificadas sobre elevações naturais, muito escassas e
normalmente formadas pelo anterior acumular de materiais transportados pelos
caudais, aquando do transvasamento anterior dos rios, ou então, eram-no sobre
elevações artificiais, as mais frequentes, sobrepostas a núcleos naturais de
elevação. Esses montes, ou Tell, na linguagem local, eram assim muitas vezes
edificados pelo labor humano organizado como força de trabalho, isto é, constituído
por uma mole humana suficientemente vasta e hierarquizada, ou seja, direccionada
e motivada para a execução de tarefas de grande envergadura. Essa mão-de-obra
era paga pela colectividade, através da entrega de rações alimentares, a origem do
soldo, provenientes dos celeiros da comunidade, muitas vezes sob administração do
templo.
Essas elevações, ou Tell, eram normalmente edificadas, a partir do amontoar de
tijolos de lama, secos ao sol, sobre um núcleo natural de sedimentos ou de
afloramentos rochosos, como vimos muito escassos sobretudo nas regiões do sul.
Esta elevação, ou socalco artificial, era a plataforma indispensável para erguer a
cidade e evitar assim os efeitos perniciosos das cheias. As muralhas, espessas de
vários metros, que rodeavam as cidades, eram, igualmente, um meio de defesa
destinado sobretudo a enfrentar as cheias, pelo que eram revestidas externamente
por tijolos feitos ao fogo, os únicos capazes de resistirem às águas que constituíam
o principal inimigo de então. Só com a chegada do quarto milénio A.C. é que se
vêem sinais de forte instabilidade e ameaça guerreira, a justificar a muralha como
meio de defesa estratégico. Só mais tarde é que surgem indícios da utilização militar
do desvio de caudais, como forma de privação de água a cidades sitiadas, ou como
meio de destruição das suas muralhas e casas, pela força das enchentes.
Se nos recordarmos que os templos,
originalmente, tiveram a sua origem em
«celeiros», casas grandes de arrecadação de
produtos/oferendas das comunidades,
compreenderemos melhor a necessidade de
sobreelevar e preservar esses espaços,
edificando essas estruturas, exclusivamente, na
parte alta da cidade. Os espaços assim
Zigurate elevados eram, por sua vez, rodeados por

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Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

novas muralhas de defesa. Os produtos da terra, já de si naturalmente perecíveis


em climas quentes, tinham de ser preservados a todo o custo do contacto com a
água, para que a sua conservação fosse prolongada tanto quanto possível. Eles
eram o «tesouro» da colectividade, não só porque lhes asseverava o futuro, pela via
da sobrevivência alimentar, mas também porque representavam a moeda da época,
sobretudo os cereais, com a qual era possível liquidar a prestação de serviços e
garantir o soldo de funcionários, servindo inclusivamente como forma de garantia, ou
«depósito bancário», capaz de assegurar grandes trocas comerciais ou de efectuar
as grandes obras de edificação que irão assinalar a civilização: muralhas,
plataformas de aterro, templos, palácios, diques e palácios e, por fim, exércitos e
administrações, sem as quais não era possível a organização e o desbravamento de
vastos territórios.
Esses bens, mais tarde entendidos como bens da colectividade, o que constitui
uma profanação e uma secularização do seu carácter sagrado original, tinham de
ser preservados na própria «casa» do deus, não só por essa ser a única casa
grande, mas também como consequência da virtude conservadora da energia divina
que, sendo criacional, é igualmente motivadora de preservação: «Eu sou, (…)
aquela que gera, nutre e protege», diz-nos Anura. Esses produtos assim
preservados entravam, mais tarde, em circulação. Normalmente, e como vimos,
como forma de retribuição pecuniária por troca de trabalho contratual, ou eventual,
prestado ao Templo ou à Cidade, ou então em épocas de crise como modo de suprir
a escassez alimentar em consequência de desastres naturais ou por efeitos de
guerras prolongadas.
Essas redistribuições às populações, sobretudo nos tempos antigos, assumiam o
carácter de dádivas do deus patrono da cidade, o deus do seu Templo principal,
situado na sua «acrópole», e em torno do qual a cidade se havia desenvolvido. Os
produtos da Terra eram entendidos como dádivas dos deuses, mesmo logo ao
germinar. Eram oferendas da deusa da maternidade e da fertilidade. Na Suméria,
eram dádivas de Ninhursaga, «a Senhora da Montanha 18 », ou de Inanna, a
«Senhora do céu».
Os Templos eram o Tesouro das colectividades, principalmente, pela mais-valia
da presença Divina, que consagrava o espaço e permitia a cidade, protegendo-a e
nutrindo-a, com a sua energia sagrada. Mas os templos, antes dos palácios, eram
também o Banco Central que encerrava no seu interior, nos armazéns protegidos
pelas suas muralhas e elevação, o «tesouro» da colectividade e dádiva dos deuses.
Como vimos, aqueles que trabalhavam para a cidade, ou para o templo, eram pagos
com rações retiradas dessas reservas colectivas, cuja salvaguarda e administração
competiam ao complexo do templo. Mais tarde, com o aparecimento daquilo a que
poderíamos designar de «administração pública» a cargo do soberano ou de um
colégio de soberania que representava a cidade, aquela função de «reserva pública»
que o templo assumira, dissociou-se das suas funções religiosas e tornou-se

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Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

«pública», sob a regência do soberano, pelo que a noção dessas funções se perdeu
para nós com o decorrer do tempo.
Contudo, nos primórdios da civilização, era essa uma das funções principais do
Templo, motivo para fosse edificado sobre um largo terraço ou plataforma
sobreelevada, que lhe dava assento, e se constituía como seu alicerce 19 . Essa
elevação formava a acrópole, nome que lhe é dada pela sua semelhança com a
Acrópole de Atenas, Acropolis, de acro (extremo) e polis (cidade), quer dizer, em
grego, cidade elevada, ou parte alta, extrema da cidade, em oposição à sua parte
baixa, a Baixa, como local de residência de artífices e trabalhadores rurais que se
abrigavam, ou viviam normalmente, sob a protecção das muralhas.
Ao salientarmos este aspecto naturista da edificação do templo, não
pretendemos de modo algum excluir, com tal, o seu valor simbólico. É claro que o
«Monte do Templo» simboliza a Montanha Sagrada como local de epifania da
divindade. Epifania, isto é manifestação, aparecimento, que é, simultaneamente,
uma kratofania, ou seja, uma manifestação do «poder» de Deus e da sua
capacidade de intervenção. Capacidade que se apresenta, prioritariamente,
mediante fenómenos atmosféricos de grande espectacularidade, susceptíveis de
impressionar pela violência e rapidez da sua impetuosidade, tais como a trovoada, à
qual estão associadas as chuvas torrenciais e o granizo, relâmpagos e trovões,
ventos fortes ou ciclónicos, interpretados como consequências da cólera divina.
Neles tem origem, na sua forma mais vulgarizada, o temor a Deus, conceito que,
infelizmente, ainda hoje perdura no consciente humano.

De um modo geral, a elevação física constitui-se como um altar, um local de


«elevação» e reencontro com a divindade, ou como um ponto de oferenda e de
celebração ritual. Era por isso, como vimos, que o templo ficava na acrópole –
palavra que etimologicamente significa «cidade na extremidade», no «alto», e que,
por isso, pode ser utilizada, num sentido lato, para descrever qualquer uma dessas
ocorrências, sem que tal implique uma referência à acrópole de Atenas, a verdadeira
Acrópole, local onde se situa o Partenón, o templo da deusa Atena – esta deusa
possuía o epíteto de «donzela», parthénos (παρθένος), em Grego. Saliente-se, a
título de curiosidade, que ao Partenón coube, igualmente, uma função de tesouro
público da cidade-estado ateniense 20 .

Na Suméria, o templo principal de Ur era dedicado a Nanna, ou Suen, o deus-


Lua (em Hebreu Sin, e origem do nome Sinai). A casa/residência de Nanna era,
propriamente, o topo do zigurate Ekishnugal, e devia a sua pureza à presença do
deus Enki, o «Senhor das águas» e da Sabedoria.

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Inanna era filha de Nanna, o deus-Lua. Tinha como nome alternativo Ninanna, nome
derivado de uma designação mais antiga, Nin-Ana, significando, literalmente, «Senhora do
Céu» - de Nin, «Senhora», e AN, «Céu». Era identificada pela estrela matutina e vespertina,
a Vénus luciferina, sendo representada figurativamente por uma estrela de oito pontas,
símbolo que veio a constituir-se como seu emblema e talismã. Inanna é posteriormente
identificada à deusa Ishtar (Síria), ‘Ashtart (Fenícia), a ‫( עשתרת‬Asthoret, Hebraica), Ἀστάρτη
(Astártē, Grega); a palavra Ishtar encontra-se ainda na raiz da palavra star, «estrela» na
língua Inglesa, e, entre nós, astro 21 .
Os gregos identificavam Astarté a Afrodite e esta à Egípcia Hatór e à Suméria
Inanna. Ela era a deusa da Beleza (Perfeição, Harmonia e Equilíbrio) e do Amor.
Consequentemente, estava igualmente associada à Fertilidade e ao Casamento
sagrado, cuja realização «consagrava» o rei – só mais tarde, e já na Idade Média, é
que sobrevém a coroação por mediação sacerdotal. Na Suméria, o rei consagrado
pelo Matrimónio Sacro, em que a rainha representava a Deusa, e muito
particularmente, Inanna ou Ninhursaga, instituía a Monarquia sagrada dos
representantes dos deuses na Terra, estabelecendo assim a «ponte» com o Céu,
através da qual descia a virtude celestial que edificava o Reino e lhe assegurava a
prosperidade e continuidade. Veremos, mais adiante, com algum detalhe este tema
de crucial importância, quando abordarmos, mais em particular, o sentido da deusa
Ninhursaga. Regressemos, por ora, a Inanna, explicitando o seu conteúdo, para tal
usando a sua equivalente egípcia, a deusa Hátor, sobre a qual são conhecidos mais
detalhes.
A palavra Hátor escreve-se em egípcio hieroglífico Het-Heru, sendo composta
por duas palavras, het, com o sentido de «templo», «casa» e Heru, ou Hor, o nome
egípcio do deus Hórus, vulgarmente conhecido como o deus-falcão. Hátor é, pois, a
«Casa de Hórus», simultaneamente, «morada» e «templo» de Hórus. Mas quem
era, ao certo, Hórus? A seu respeito, O Dicionário do Antigo Egipto, diz-nos o
seguinte: «O seu nome, Hor, significa «O Elevado», ou «O Longínquo», o que se
adapta extremamente bem a um deus voador e que plana bem alto no céu como é o
falcão. A própria semelhança da terminologia («céu» diz-se heret) reforça esta ideia:
era «O Senhor do Céu».»
O faraó era assimilado a Hórus, enquanto soberano reinante, e a Osíris, após a
realização dos rituais de imortalidade que lhe proporcionavam a sua «regeneração»,
e constituíam o âmago do seu funeral. Esses rituais terminavam aquando da
colocação definitiva do sarcófago real no Templo de Milhões de Anos, cuja
construção, expressamente realizada para si, começava mal se iniciava o seu
reinado.
O Hórus osírico, oculta, porém, uma outra forma mais antiga. A ela se refere,
igualmente, o Dicionário do Egipto Antigo: «O Hórus solar é representado como um
falcão ou como um deus Sol de figura humana com cabeça de falcão, usando por
vezes sobre a cabeça o disco solar e o uraeus, o diadema sagrado. As suas formas

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Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

mais importantes no âmbito deste ciclo solar são: Horuer, Hórus o Grande (Uer), o
Antigo ou o Primogénito, em grego Haroéris. Sob esta forma, era ainda chamado
Horkhenti-irti (ou Hormenti), «Hórus, o que tem os seus dois olhos na cabeça» ou
«Hórus dos dois olhos» (o Sol e a Lua).»
Este Hórus era considerado, ainda, nos tempos primordiais do Egipto, como
parceiro de Hátor, sendo o seu culto celebrado em Edfu, no Alto Egipto, num templo
situado próximo do daquela deusa, este localizado em Dendera, a egípcia Iunet.
Hátor era, por sua vez, tida por filha de Ré e era equiparada a Tefnut 22 , pelo que era
ainda designada por Neferti, «a Bela 23 », ou Merit, «a Amada» do deus. Hátor, tal
como Tefnut, representava a «Luz que regressa», tal como, no Judaísmo, Or chozer,
expressão que, já vimos anteriormente, e é simbolizada pela letra Zayin.
O «retorno da Luz», simbolizado por Hátor, ou Tefnut, é, recordemos uma vez
mais, retratado na concepção judaica do Zayin, como o voltar da consciência ao
Criador. Regresso possibilitado pela própria incidência da Luz messiânica, que
engrandece por íntimo contacto, e que é a Luz emanada directamente da Fonte: «é
o Pai em mim», dizia Jesus. O seu carácter feminino, como vimos anteriormente,
apenas sublinha a natureza passiva e fecunda do ser humano que, ao receber e
recolher em si, a incidência da Luz, assim se vê «nobilitado» por essa
Luz/Consciência, o que lhe permite o regresso ao Criador. Regresso que lhe era
restringido pela sua própria incapacidade, na qual o ser humano se situa no seu
presente estado, em suportar a poderosa energia da Fonte. Impossibilidade que
ocorre em virtude do distanciamento assegurado pela perda de valência ontológica,
inerente à descida efectuada na cadeia múltipla dos graus do Ser, por incarnação
em planos vibracionais inferiores, à qual corresponde a ideia desvirtuada da
«queda» e expulsão do Paraíso.
Hátor, assim como Tefnut, ambas filhas de Ré, ou Rá, perdem-se, no mito, do
Pai por dele se terem afastado, em condições que aquele não esclarece
inteiramente. São achadas, posteriormente, na imensidão pelo «Olho de Ré» que
fora enviado em missão de resgate 24 . Engrandecidas no seu regresso, ao qual
corresponde a exaltação da frase «a bela chegou!», frase que expressa o júbilo
naturalmente sentido ante a coroação da Luz e o efeito que ela produz, acto que
«conclui» o processo da Criação, nele introduzindo a mais-valia que o justifica
plenamente e que consiste na experiência física, chamemos-lhe real, da plenitude
divina. O Mundo não está destinado a ser um vale de lágrimas, mas, muito pelo
contrário, o Paraíso da Exaltação.

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Percebe-se que o mito de Tefnut/Hátor, mais


tarde reposto na importância conferida a Nefertiti,
a rainha de Akenaton, no culto de Aton, esclarece
em parte o que a tradição judaica nos pretende
comunicar ao se referir os mistérios do Zayin, em
que a consciência coroada pela Luz Divina faz do
ser humano a «mulher» fecundada pela Luz,
simbolizando um ser engrandecido e capaz de
gerar uma forma superior de si próprio. É essa
jóia, que constituindo sublime alegria, coroa a
Criação.
A estrela de Inanna
Voltando à Suméria, podemos assim
concluir, numa compreensão mais alargada do tema, que a nossa Inanna, figurando
a deusa-Mãe sob o aspecto de deusa do Amor, da Criação, e da Fertilidade, o faz
sob a forma de Luz Divina Matricial. Não directamente «solar» e «masculina», sob o
seu aspecto dourado, atributo exclusivo do deus-Sol, mas sim sob uma forma sua,
abrandada na sua vibração, suavizada, por assim dizer, e situada numa frequência
mais próxima do nível da Criação por nós experimentado. Essa Luz era figurada
pela cor branca/prateada, a cor argêntea própria da luz da Lua e das estrelas. Luz
essa que era considerada como sendo o «leite» da deusa e, por isso, constituía, e
constituirá sempre, a fonte de «nutrição» do iniciado, o alimento espiritual do
«nauta» 25 .
Recordemos que na mitologia Suméria, Nanna, que era o pai de Inanna, era o
deus-Lua e, Uttu, seu irmão o deus-Sol. Inanna figurava de um modo geral a luz
estelar, representada pelos astros nocturnos, que ela interpretava de modo
antropomórfico e divino, originando na mente colectiva a noção de «Estrela», como
astro de oito raios. Lembremos, uma vez mais, que a Lua, assim como a Estrela,
são formas de Luz no seio da Noite que, pela sua presença, se vê iluminada,
iluminando as «trevas», «pacificando-as», protegendo e guinando com o seu manto
de luz, homens e animais. A luz dos astros nocturnos, afastando pela sua
luminosidade a escuridão da noite escura, portadora de incertezas e angústias,
constitui uma evocação do Céu, uma chamada irresistível por parte do insondável
que se traduz pela atracção imemorial dos céus e dos sinais neles traçados. A
palavra árabe dîn, que possui o sentido de religião, corresponde propriamente a
evocação, a chamada do espírito, obviamente referida a Alá.
A Civilização, ou cultura da Civis, da Cidade, é, como recordámos, um fenómeno
social e psíquico de sedentarização, de cultivo da Terra, de organização social e de
edificação arquitectónica que surge, precisamente, em torno do Templo, como ponto
focal da Energia Divina. O templo é o eixo central da cidade. Marca o seu centro, o
seu foco de irradiação, e é o ponto alto do aglomerado humano. É o seu núcleo, o
centro geométrico e espiritual da sua configuração: o pólo tractor da sua periferia. Se

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atentarmos na representação gráfica de Inanna, veremos que o centro da estrela


que a figura, está ocupado por um círculo com o seu ponto central. Este símbolo ,
considerado normalmente como exclusivamente solar, representa para a Tradição o
Grande Sol Central, o Sol Cósmico, assim como já o representava para os eruditos
do antigo Egipto. Ele figura, muito simplesmente, a Grande Fonte de
Luz/Consciência que é Deus, da qual constitui, talvez, a mais elevada, completa e
eloquente de todas as suas figurações. A sua presença no seio da estrela não é
fruto do acaso.
A geometria da estrela de Inanna revela-nos uma estrutura octogonal, ou seja,
diz-nos que a sua essência se explicita mediante a compreensão aprofundada do
número oito. Naturalmente, muito haveria a dizer relativamente a este assunto,
porém pelas razões já por diversas vezes expostas ao longo do presente trabalho,
apenas nos é lícito relembrar que esta figura resulta da articulação de dois
quadrados, um considerado sob forma estática, com um lado assente na horizontal,
e o outro, na forma dinâmica, assente no vértice. Um é
masculino e apresenta as diagonais em forma de «X», ao
passo que o outro, feminino, tem as diagonais em cruz
vertical. O octógono resulta da união geométrica desses
dois quadrados, pelo que representa a união das
polaridades essenciais, masculino e feminino, Deus-Pai e
Deusa-Mãe, Luz Dourada e Luz Prateada, Céu e Terra.
Ao abordarmos o óctogono, que é uma figura plana,
logo bidimensional, convém não esquecermos que essa
representação, inscrita na superfície de um plano, é de
facto uma projecção sobre o plano constituindo, portanto,
uma simplificação da sua verdadeira realização
tridimensional, que sendo em volume, corresponde ao
espaço. Razão pela qual não podemos perder de vista
que os dois quadrados, atrás mencionados,
correspondem mais propriamente a dois cubos que se
Óctogono intersectam e que o fazem dinamicamente já que, no
universo, tudo se move e vibra. Assim, numa das
potencialidades representativas, a que acentua a polaridade, um girará no sentido
dos ponteiros do relógio, sentido directo ao passo que o outro o fará no sentido
retrógrado 26 .
As velocidades de rotação das figuras são, igualmente variáveis, tendendo para
a velocidade da luz à medida que se dá o «despertar» do símbolo. Despertar que
ocorre pela activação da Luz Divina produzida pelo enfoque da consciência 27 . Esse
incremento de rotação gera, por sua vez, a percepção de uma vibração susceptível
de se traduzir sonora e cromaticamente, naquilo que é o seu mantra e yantra. Que o
leitor se recorde destas considerações quando focar, prolongada e

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sustentadamente, a sua atenção na estrela de Inanna. Compreenderá, então, que


esse vórtice de energia, quando levado a um extremo, que é o seu limiar, se
transforma num portal interdimensional. Esta é a razão pela qual se pode afirmar
com toda a precisão que um símbolo não é apenas uma figuração intelectual,
sugerindo uma analogia, mas antes um «instrumento», uma «chave».

Abordemos, agora para finalizar, outra figuração da deusa, desta vez sob a
forma de Ninhursaga, a deusa-Mãe Suméria. O seu nome é
composto por Nin (Senhora) e Hursaga, Nin-hursaga. A
palavra Hursaga era, por sua vez, provavelmente, derivada de
Hur e Sag (Sag, em Sumério, significando «cabeça» era,
também, a designação dada às parteiras na sua função de
«auxiliarem» e «protegerem os nascimentos»). Nin-hursaga
era, ainda, designada por Ninti (Nin-ti), a «Senora dos
Nascimentos». Nin-hursaga era ainda denominada por outras
palavras, tais como, Nin-Khursag, Nin-Mah ou Nin-Ki. Como o
Ninhursaga vocábulo Nin significava, em Sumério, «Senhora», Nin-
hursaga, significava literalmente a «Senhora Hursaga», ou a
«Senhora dos Partos». Por sua vez, Nin-Ki, palavra composta de Nin (Senhora) e Ki
(Terra), significava, literalmente, «Senhora da Terra» e Nin-Mah, com Mah
significando «Augusta», designava a «Augusta Senhora». Em Sumério, Hursaga
(Hur.sag), queria dizer «montanha», «contraforte montanhoso», pelo que, numa
primeira aproximação, Nin-hursaga seria a «Senhora da Montanha». Contudo se nos
recordarmos que sag significava, por si só, «cabeça», assumindo aqui,
possivelmente, o sentido de «pico», ou «cume», «parte alta», ou «extrema» e que
Hur, possui noutras línguas da antiguidade, como vimos anteriormente,
nomeadamente na língua Egípcia, o sentido de «cabeça» e «alto», ou aquilo que
está no «alto», e por isso mesmo é «elevado» e «luminoso», então, talvez nos seja
legítimo concluir que Nin-hursaga representava a Luz altíssima, sob a sua forma
feminina de deusa-Mãe, a «Augusta Senhora», tal como ela era legitimamente
cognominada 28 .
Nin-hursaga é por vezes, no mito, consorte de An, o deus supremo do Céu, e,
noutras, a esposa de Enlil – o Senhor do Ar ou dos ventos – e Enki – o Senhor das
Águas. Contudo, ela é sempre a Mãe de todos os seres. Thorkild Jacobsen, já
anteriormente referido, na sua obra «The Treasures of Darkness», página 107, a ela
se refere, do modo seguinte: «Other terms for her that stress this aspect are «Lady
of the embryo» (Nin-ziznak), «Lady fashioner» (Nin-dím), «Carpenter [artisen] of (i.e.,
«in») the insides» (Nagar-sagak) [ => Naggar], «Lady potter» (Nin-bahar), «Copper-
caster of the land» or «of the gods» (Tibira-kalammak, Tibira-dingirenek),
etcetera. 29 »

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Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

Estes termos, sem excepção, expressam a sua natureza «geradora», aqui


salientada pela designação de «artífice», Naggar, em Sumério, palavra que gerou o
Hebreu, naggar, com o mesmo sentido, «mestre artífice», «mestre artesão»,
possuindo ainda o valor de «professor», «mestre», apresentando sobretudo
equivalências com o termo moderno, «mestre mação» – como mestre detentor de
um conhecimento capaz de conduzir à realização da Obra. Digamos de passagem,
que este termo naggar era utilizado, nas antigas escrituras, para designar S. José, o
«pai» humano de Jesus. Como o termo possuía múltiplas ressonâncias,
nomeadamente, poderosas conotações com a mestria da metalurgia, fácil será de
ver que o seu emprego alude a algo mais do que a simples carpintaria, mesmo que
a esta lhe seja dado um alcance superior. Por sua vez, a metalurgia na época de
Jesus, englobava a tecnologia do cobre, do bronze e do ferro, como a própria
ourivesaria. O trabalho com a prata e com o ouro, a sua purificação e ligas,
nomeadamente para a obtenção do electrum, faziam da metalurgia/ourivesaria uma
técnica profundamente simbólica associada por isso aos mistérios da matéria e,
consequentemente, da edificação da vida, possuindo assim fortes conotações
esotéricas que não convém esquecer.
Não sendo aqui, por ora, o lugar ideal para desenvolver este tema, o do valor
simbólico do cobre e dos metais, não podemos, contudo, deixar de sublinhar a
característica avermelhada do cobre e a sua similitude com a tonalidade da terra
Suméria, semelhança que fundamenta a designação de «fundidora-de-cobre da
terra», Tibira-kalammak, atribuída a Ninhursaga. Afrodite, nascida no mar, refugia-se
em Chipre, a Kuprós grega, palavra que origina o latim cuprum, o cobre 30 . Por sua
vez, Hátor 31 , a «Senhora do Sinai», aonde se localizavam as minas de cobre, era
patrona do Cobre, da Malaquite e das Turquesas e, em geral, de todas as pedras
verdes. Acrescentemos que o cobre, quando levado directamente à chama, liberta
uma linda cor verde-esmeralda e mesmo, quando se oxida por processos naturais,
assume uma coloração esverdeada. Cabe aqui recordar as palavras de Jesus:
«Quem tenha ouvidos que Ouça! Quem tenha olhos que Veja!»
Se Ninhursaga é a deusa-Mãe primordial, Inanna, bem mais perto de nós, é a
efectivamente a «Senhora do céu» (Nin-anna, de Nin, «Senhora», e An, «Céu»). É
ela que assinala no céu, todas as manhãs, a hora do despertar para homens e
animais, a hora do ressurgir e do regresso aos seus labores. É ela, também, que
marca, ao entardecer, o encerramento das ocupações diárias e o início dos
folguedos vespertinos, danças rituais que se iniciavam após o regresso dos campos.
É ela a estrela do «bom pastor». É igualmente ela que preside aos julgamentos dos
vivos, durante o dia, e ao dos mortos durante a noite. É ela que «julgando»
reintroduz a Ordem, sempre que o caos ameaça o «equilíbrio» e a «Paz». De facto,
ela é a «Rainha» que faz do mundo o seu Reino, à «Imagem e Semelhança do
Reino dos Céus». Ela é a «Filha», o Zayin, a Shechinah 32 .

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Inanna, pela sua ligação ao poder fertilizante das chuvas, está também
associada, tal como Ninhursaga, às montanhas. Ela reina, igualmente, nessas
alturas, estando por isso associada ao touro e ao leão, animais cujos bramidos e
rugidos, assimilados às trovoadas que coroam os cimos, os tornam em animais
emblemáticos das kratofanias celestes. Inanna, «Senhora do Céu», está
intimamente ligada a esses animais que de certo modo representam a «elevação
primordial», o esforço da Terra em sair do caos aquoso que lhe dá origem. A Colina
sagrada e primordial, o benben egípcio é a primeira emergência da Terra, aonde o
Sol assenta pela primeira vez 33 . Como tal, Inanna é, também, essa emergência, ela
é propriamente a Terra nimbada de Luz como por um diadema real, fertilizada pela
Luz que nela incide, exemplarmente. Ela é a «Terra Lúcida», a «Terra Primeira» que
é visitada pela Luz e por ela amada. Corresponde à Meritré, nome egípcio que
significa a «amada de Ré» – Mer, em egípcio, significa «amor», «pirâmide» ou,
ainda, «canal de irrigação» –, tal como houveram os nomes Meritamon e Meritaton.
Ela é amada pela Luz, na «proximidade» à Fonte, em que se situa de livre vontade,
sendo por ela fecundada numa aliança que fazia o Reino. Reino a entender no
sentido simbólico de Reino Sagrado e não no sentido laico e histórico de reinado
humano, sem contudo o excluir, ao qual alude a oração, quando nela se afirma, a
jeito de co-criação: «Vinde a nós o Vosso Reino. Faça-se, na Terra, a Vossa
Vontade».
Este é, como vimos, o papel da rainha, sobretudo quando ela assume a
plenitude das suas tarefas, desempenhando a função de pólo de atracção do Amor
Celeste do Pai, ora representado por Ré, ou Aton, ou por An, o Céu, papel que faz
dela um verdadeiro canal de comunicação, um obelisco, ou seja, de um eixo de Luz
ancorado na terra que, tal como sucede com a pirâmide, ou com a Colina Primordial,
se transforma num canal privilegiado de descida e ancoragem da Luz. A esse
enraizamento da Luz corresponde a função do Templo, como local de presença e
foco de irradiação, aonde se origina uma verdadeira «irrigação» da Terra que traz
consigo a «Fertilidade», a Estabilidade», a «Ordem 34 » e a Paz. Inanna assume
assim o papel arquetípico de «Rainha de Shabbat».
A deusa, ao estabelecer esse elo com o Céu, torna-se apta a desenvolver, a
gerar e a nutrir, novas formas de Criação. Em certo sentido, como «amada» da Luz,
que a cinge e coroa, nobilitando-a, Inanna é a geradora da «Cidade», da Civilização,
como realidade «cósmicizada», isto é ordenada e organizada como reflexo na Terra
de uma ordem superior e Celeste. A cidade suméria, originada a partir do Templo,
pré-figura e institucionaliza a «Cidade de Deus». Tal como Hátor, ela é «A Casa da
Luz», pois é nela que a Luz habita, fazendo dela a sua morada e nela colocando o
seu «trono». Casa que é um «útero» para múltiplas formas.
A Ísis egípcia, figurada por uma cátedra, ou trono que lhe encima a cabeça, à
laia de coroa, salienta assim a sua qualidade de «Trono da Luz» 35 . Lembremos que

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Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

a rainha de Sabá ajuda o rei Salomão a construir o Templo de Jerusalém, trazendo-


lhe, como oferta, entre outras, grandes quantidades de ouro.
Por muito interessantes que possam ser todos estes desdobramentos do
conhecimento tradicional em torno do nosso tema, não nos é possível, aqui e agora,
continuar o seu desenvolvimento por mais tempo. Prometemos que a eles
voltaremos em seu devido lugar, e oportunidades não nos faltarão, para tal, neste
curso que agora se inicia. Julgamos, contudo, já termos dito o suficiente, sobretudo
se tivermos presente a insuficiência de informação que, normalmente, é posta ao
alcance do leitor interessado nestes assuntos.

Por ora, nesta «cerimónia de abertura» da Nova Escola de Sagres, em que se


assentou a peça chave da Nau, que é a sua quilha, lançando assim a construção
dessa nova Argos, a Nau S. Gabriel das Revelações e Descobertas, quisemos com
esse acto prestar homenagem à «Senhora», como «Senhora do Céu» e «Senhora
dos Navegantes». Será ela a nossa padroeira. Será dela a «Estrela» que nos guiará.
E será ela quem assinalará a Hora!
Anura é a Deusa e a Nova Terra, a «Terra Lúcida», a «Terra» a achar,
deslumbrada e transfigurada pela Luz Divina que nela incide como «manto» e
«coroa». É só com ela que é possível edificar a Nova Civitas, o Novo Mundo, a Nova
Civilização que terá por propósito a edificação na Terra da «Jerusalém Celeste».
Esse será o «Reino dos Céus 36 », traduzido de planos de vibração altíssimos para
outros mais «terrestres», embora suficientemente «celestes» para lhe conferir a
sustentabilidade necessária para o seu ancoramento e perpetuidade.
A elevação desses planos de consciência, que irão acolher o Templo de Luz,
corresponde a esse labor organizado de edificação do Tell, como «grande
plataforma de construção». Será sobre essa base, esse alicerce que será possível
estabelecer o centro de «irradiação» e «ancoramento» da Luz. Esse é o esforço a
que nos propomos, repartindo-o com o nosso leitor, se este assim o desejar e se a
sua vontade e ousadia o auxiliarem.
Tal como na antiga Escola de Sagres, recorreremos aos mais insignes mestres,
vindos de todos os sectores, nunca recusando os recursos já disponíveis, a não ser
após a profunda análise. Ponderaremos os conhecimentos à procura da Sabedoria.
Ousaremos o «Mar Profundo», orando e laborando, meditando e reconhecendo.
Apelaremos à Alma Lusa para que desperte em nós o vigor necessário para a nossa
Empresa. Tomaremos piloto sempre que tal for necessário. E acharemos…
Sabemos que não estamos sós, como nunca o estivemos. Por isso, fazemos
votos que este Curso, que agora se inicia, o possa evidenciar. Dispomos, como
sempre dispusemos, da ajuda da Mãe-Terra, a Anura dos novos tempos. A
informação, o Conhecimento, embora careça de adaptação às potencialidades do

Nova Escola de Sagres ‐ Nuno Barbieri  Pág. 22 
Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

presente, esteve sempre presente, tal como o evidencia o saber antigo. A


humanidade, numa leitura apressada e pouco atenta, nem sempre o compreendeu.
Compete-nos a nós tentar de novo.
Terminaremos, como começámos, com outra citação da mesma obra, «O Livro
de Anura», que nos aponta um caminho a seguir:
«Dado que o Espírito da Terra, tal como a Fonte, tem duas polaridades, também
eu tenho o meu correspondente vibracional masculino. A face da Mãe Terra é
visível; a face do Pai Terra nem sempre é perceptível, mas é a sua força criadora.»

Nova Escola de Sagres ‐ Nuno Barbieri  Pág. 23 
Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

Notas e referências:

1
Quilhar – «Assentar a quilha do navio na carreira» (Dicionário da Linguagem de Marinha
Antiga e Actual).
A nossa Escola, porque pretende um ensino prático, tem como objectivo concomitante a
construção da nau - a Nau S. Gabriel da Revelação e da Descoberta -, para cuja edificação iremos
contribuir, ao longo do nosso curso, com o assentar progressivo das suas peças mais
emblemáticas. A colocação da quilha, como primeira peça da nau, corresponde simbolicamente à
cerimónia de fundação de um edifício, no nosso caso, a nova Escola de Sagres.
2
A Consciência tende para a concretização. O Logos para a Criação.
3
Ao utilizarmos esta expressão temos absoluta consciência que, a par das suas múltiplas
vantagens, ela possui, igualmente, as suas próprias limitações. É que aqui convém, sobretudo,
escapar à limitação inerente à noção geométrica de plano que, embora viabilizando a ideia de
suporte, nos sugere contudo um apoio, exclusivamente, em superfície, com detrimento de
qualquer capacidade ou contenção volumétrica. Melhor seria, neste sentido, utilizar a expressão
alternativa de «Camada» ou «Estrato» de Manifestação, à imagem do que ocorre na estratigrafia
geológica ou arqueológica, como espaço de contenção e de expressão. De facto, esse «Plano»
suporta, mas também contém em si, envolvendo, como um vasto oceano, os seres que dele e nele
se criam.
Por outo lado, o jogo de palavras que se estabelece naturalmente entre plano e projecto,
permite-nos não perder de vista um outro dos seus aspectos essênciais que é o de ser Matriz
intencional de vida, e esse é o Projecto Divino.
4
«Para um antigo egípcio, o nome é uma parte imortal do ser. Vive para além da desaparição
física daquele que o usa. Contém uma energia espiritual que deve ser preservada, de tal modo que,
percorrendo os «belos caminhos do outro mundo», o ressuscitado preserve a sua identidade.» -
Christian Jacq, «Nefertiti e Akhenaton», pág. 67.
5
O nome real dado a cada faraó na sua entronização, e pelo qual era conhecido, não era o seu
nome «mágico», mas mesmo assim esse nome era exibido dentro de uma cartuxa de protecção, o
chen, que simbolizava (materializava) a força mágica que encerra e possibilita um ciclo de
eternidade. O nome real encontrava-se assim, de certo modo, protegido, o que demonstra a
importância que, na concepção egípcia, era atribuída ao nome.
6
«The impression of the tav is the secret of the power that links worlds - generations –
together». www/inner.org
A impressão do tav é o segredo do poder que liga entre si mundos – gerações. (NT)
7
Convém aqui reter a noção de que o ser humano, apesar da multiplicidade e potencialidade
das suas expressões, corresponde a um conjunto de potencialidades de experimentação e
expressão da Vida, de modo algum totalizantes. Convém não esquecer que existem outras formas
de ser, para além das nossas conhecidas no planeta Terra, que possibilitam outras e superiores
experiências de vida que traduzem, simultaneamente, outras expressões superiores de vida. A
superioridade devendo ser aqui entendida de modo relativo.
8
Por Ordem há que entender a regularização do Espaço e do Tempo. Naquele, expressando-
se mediante estruturas geométricas ou geometrizantes da extensão, e, neste, mediante ritmos e
ciclos que diferenciam o Tempo de uma forma harmónica e regular, mesmo quando estes sofrem
expansões. Expansão que é proporcionalidade, e que há que entender de um modo idêntico ao que,
na Geometria, ocorre com figuras semelhantes, ou na Matemática, com proporções numéricas.

Nova Escola de Sagres ‐ Nuno Barbieri  Pág. 24 
Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

9
«An situava-se, entre os deuses, ao mais alto nível. O seu nome, acolhido pelos Acadianos
como Anum, é a palavra Suméria para «céu» e, inerentemente, An é o poder numinoso do céu, a
fonte das águas da chuva e base do calendário pois ele anuncia pela mudança das suas
constelações as diferentes épocas do ano com as suas tarefas e as suas celebrações.
Originalmente, pode-se conjecturar, An pertenceu ao panteão dos pastores já que é, muitas
vezes, visualizado sob forma bovina.»
«A esposa de AN, na terra, era Ki, na qual engendrou árvores, caniços e todo o tipo de
vegetação.»
«Parece também ter existido uma tradição que via o poder no céu como sendo
simultaneamente masculino e feminino e que distinguia o deus AN (Acadiano Anum) da deusa An
(Acadiano Antum) com a qual estava casado. De acordo com esta visão a água da chuva fluía
directamente dos seios da deusa, ou (dado que ela era vulgarmente vista sob forma de vaca)
directamente do seu úbere – isto é, das nuvens.» Obra citada, pág. 95 (Nossa tradução).
É curioso verificar a similitude entre o latim annu, com o sentido de «ano; estação; produto
do ano» - Dic. Etimológico da Língua Portuguesa – e o termo Sumério «anum», para céu, tanto mais
que a noção de ano, como extensão temporal, advém da observação do céu a qual teve os seus
primordios, precisamente, na Suméria.
10
http://en.wikipedia.org/wiki/Ningirsu
11
As cidades da Suméria, como por exemplo Eridu, considerada como tendo sido a primeira
cidade, possuiam diversos templos, nalguns casos, e em épocas mais tardias, chegando alcançar o
número de trinta. Contudo, havia sempre o Templo principal, aonde residia o deus fundador. A
remoção das estátuas dos deuses, aquando de uma conquista militar, era um dos procedimentos
destinados a punir a cidade, sempre que o conquistador a pretendia desfavorecer, retirando-lhe
assim a vitalidade, protecção e progresso que só aquela presença, em última instância, sabia
conferir. Esta prática evidência o poder da crença na eficácia do Templo, como morada real do
deus que nele residia, a tempo inteiro e, a partir do qual, ele era irradiado sobre toda a área
aonde esse deus era celebrado ritualmente. Área essa que coincidia com os limites geográficos
até onde se extendia o poder organizador do seu soberano.
12
«Ur (Sumério Urim, Hebreu bíblico [Aur] ‫ )אּור‬era uma cidade na Suméria antiga,
localizada no sítio da actual Tell el-Mukayyar no Iraque (…) e próxima da antiga Eridu – Eridu era
a mais antiga cidade do sul da Mesopotamia, e foi fundada cerca de 5.400 A.C. Localizada a 12 km
a sudoeste de Ur, Eridu era a cidade que se situava mais Sul na aglomeração de cidades sumérias
que se desenvolverem a partir de templos quase à vista uns dos outros. Na mitologia Suméria,
Eridu foi fundada pelo deus Sumério Enki, mais tarde conhecido pelos Acadianos como Ea.» -
http://en.wikipedia.org/wiki/Ur e http://en.wikipedia.org/wiki/Eridu (Nossa Tradução)
13
«Or é comunmente empregue como metáfora para a energia Divina que gera e sustém o
universo. Ma’or, Ziv, He’arah.» (…) «Ohr representa a infinita «luz» que tudo penetra e que
inspira cada elemento, na Criação, a transcender os limites da sua própria natureza e a tornar-se
absolutamente uno com Deus» - http://www.inner.org/ (Nossa tradução)
14
«Or chozer é a reverberação da energia espiritual emanada pela Criação na direcção do
Criador, em resposta a Or yashar.» - http://www.inner.org/ (Nossa tradução)
15
«The Woman of Valor». (…) «The experience of or chozer, subsequent to the
consummation of the creative process inherent in or yashar, the creation of man on the sixth
day, is the secret of the seventh day of Creation – Shabbat. The Shabbat Queen who, in general,
signifies woman in relation to man – «the woman of valor is the crown of her husband» – has the
power to reveal in her husband his own superconscious crown, the experience of serene pleasure
and sublime will innate in the day of Shabbat.» - www.inner.org

Nova Escola de Sagres ‐ Nuno Barbieri  Pág. 25 
Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

«A Mulher de Valor». (…) «A experiência de or chozer [a luz de retorno], subsequente à


consumação do processo inerente a or yashar [a luz descendente, incidente e messiânica], a
criação do homem no sexto dia [Vav, a sexta letra, e à qual corresponde o número 6, é o «Filho»
ou Mashiach, o Messias], é o segredo do sétimo dia da Criação – Shabbat. A Rainha de Shabbat
que, de um modo geral, representa a mulher em relação ao homem - «a mulher de valor é a coroa
do seu esposo» - possui o poder de revelar nele a coroa da sua superconsciência, a experiência do
prazer sereno e sublime vontade inatos ao do dia de Shabbat.» (Nossa Tradução)
Uma vez mais, e sem quer sermos repetitivos, não podemos, aqui e agora, nos alongar
excessivamente, embora o nosso leitor já se tenha, por certo, apercebido da importância do
assunto em questão. Não podemos contudo deixar de salientar o sentido de «repouso» inerente
ao termo Shabbat, o nosso Sábado como dia sagrado de descanço, que o torna equivalente ao de
«Paz», a Grande Paz só alcançável quando, precisamente, o ciclo da Criação se encerra pelo poder
da Luz que a redime, exaltando-a e exortando-a ao Retorno, isto é, à sua conjunção com o Divino.
Conjunção que é, evidentemente, a sua «coroação» - exaltação e nobilitação –, o que corresponde
de facto à percepção dos chacras supracoronários que, uma vez activados, potenciam a
consciência restituindo ao Homem o seu valor e dignidade originárias, como Filho efectivo de
Deus. Saliente-se que é a mulher, a «Rainha», que significando a consciência aberta e unida a
Deus, e dele recebendo os códigos da transformação, como fruto de divina concepção, se revela
como instrumento da Coroação e do Retorno.
16
Har, em Hebreu, significa «alturas», como por exemplo, Har-Megiddo, «alturas de
Megiddo».
17
O cavalo parece ter sido domesticado por volta do ano 3000 A.C., embora a difusão do seu
uso só se tenha efectuado mais tarde. Na Eurásia, por volta do ano 2000 A.C. No Egipto Antigo o
cavalo surge verdadeiramente com a invasão Hicsos que se dá aquando da XIII dinastia, ou seja,
por volta do ano 1500 A.C.
18
A montanha, à qual a noção de elevação está associada, seja ela natural ou artificial, como
aterro ou edifício de arquitectura, e portanto fruto da obra humana, é um vasto conjunto
simbólico ao qual se prendem os deuses «celestes», uranianos, sobretudo os associados às
tempestades, trovoadas e chuvas de granizo, que normalmente coroam os cumes elevados. Uma
vez mais, e apesar da sua importância, este conjunto será deixado para uma abordagem posterior,
sem deixarmos, contudo, de salientar desde já a importância da «torre», como símbolo de
contacto e portanto de vigília, à qual se prende, por exemplo, a figura de Maria Madalena.
19
O Templo de Salomão em Jerusalém estava edificado sobre a mais vasta plataforma da
antiguidade, em parte artificialmente criada a partir de um núcleo natural, o Monte Moriah
(Hebreu: ‫הַר ַה ַבּיִת‬, Har haBáyit, o «Monte do Templo»). Esta plataforma foi aumentada por
Herodes o Grande, cerca de 19 A.C., passando então a ocupar cerca de 150.000 m2.
20
«Like most Greek temples, the Parthenon was used as a treasury. For a time it served as
the treasury of the Delian League, which later became the Athenian Empire.» -
http://en.wikipedia.org/wiki/Parthenon
«Tal como muitos templos Gregos, o Parténon serviu como tesouraria pública. Serviu, durante
um certo tempo, como tesouraria da Liga de Delos [cerca do 5º século A.C.] que, mais tarde, se
tornou no Império Ateniense.» (Nossa Tradução)
21
A palavra astro tem origem no grego ástron, «astro, astro isolado», pelo latim astru-,
«astro, estrela» - Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado. Por sua
vez, a palavra estrela tem origem directa na forma latina štella, «a estrela»; a stella diurna era a
estrela da alva, a Vénus matutina.

Nova Escola de Sagres ‐ Nuno Barbieri  Pág. 26 
Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

22
«Rei e rainha teriam simbolizado o casal fundamental, a origem de toda a criação, o
primeiro encarnando o deus Chu e a segunda a deusa Tefnut.» - Christian Jacq, em Nefertiti e
Akhenaton, pág. 61.
Chu e Tefnut são filhos de Ré. Um representa o Ar luminoso, a outra a Água-Luz.
23
«Assinale-se que o nome de Nefertiti [mulher de Akhenaton e rainha do Egipto, cujo nome
significa «a bela chegou»] tem um significado teológico preciso. «A bela» não é outra senão a
deusa Hathor, «que veio» de regiões afastadas para onde havia fugido.» - Christian Jacq, em
Nefertiti e Akhenaton, pág. 59.
24
Utilizamos aqui, intencionalmente, a palavra resgate pela sua conotação moderna à já
sobejamente conhecida «Operação Resgate» associada, de modo muito pouco esclarecido, à
«profecia» do ano 2012. Tema que de momento não poderemos abordar, por escapar ao assunto
central em análise, mas ao qual voltaremos muito em breve.
25
Lembremos que a Luz simboliza a Energia da Fonte, que é simultaneamente Ser e
Sabedoria, pelo que a sua recepção constitui um pacote de «Informação/Formação», no sentido
que ela concede o Conhecimento e os Códigos de Formação, no sentido de «edificação», para a
constituição do «upgrade» humano. Por outro lado, a Luz ainda proporciona a energia de
realização suficiente para o empreendimento da Obra.
26
Na modalidade de representação que sublinha a unidade e a convergência, os sentidos de
rotação das figuras serão idêntidos, assim como o serão as suas velocidades. Por sua vez, o eixo
de rotação das figuras que no nosso modelo consideramos estável, para facilitar a sua
compreensão, experimenta ele próprio uma movitação. Se a isto acrescentarmos a realidade para
nós invisualizável, pelo menos da quarta dimensão, veremos como o nosso esquema se complica
desmesuradamente, escapando à nossa capacidade de o abordarmos. Esta é a razão pela qual as
figuras sólidas são muitas vezes à bidimensionalidade do plano, aonde pela redução da sua
complexidade, assume valorizações que facilitam a sua compreensão. Fixemo-nos, pois, no
óctogono, sem contudo nos esquecermos da sua profunda complexidade.
27
A título de esclarecimento pelo que entendemos por enfoque da consciência, convém aqui
recordar de passagem, o que pretendemos significar quando falamos de «quadratura da
consciência». Sabendo nós que, na Unidade essencial, tudo é Uno e, portanto, susceptível de ser
entendido como tal, a Consciência não podendo a tal se escapar, deve, igualmente, e por maioria
de razão, ser tida por Una. Logo, a quadratura, que representa a multiplicação por si mesma, ou
seja a sua potenciação, só poderá ocorrer quando existe igualdade nos factores em operação. Ou
seja, quando a consciência que procede ao enfoque, afasta de si qualquer diferenciação em
relação à Consciência Cósmica. Esse acto, que é simultaneamente uma declaração fundamental de
Unidade, é também um acto de anulação do ego, já que é este que, pela sua redução, introduz
artificialmente a distinção que impede a quadratura ou potenciação. Potenciação que é, sem
querermos jogar com as palavras, a potencialidade que transmuta a figuração em símbolo e faz
dele um instrumento de Realização.
28
Hur é o elemento radical do nome Hórus, que é a forma Grega mais conhecida do nome
egípcio Heru, pelo qual era designado esse deus solar com forma de falcão. A sua representação
figurativa procurava salientar a sua capacidade de se elevar nos céus e de aí permanecer imóvel,
como a querer assim dizer que ele é «aquele que se eleva ao zénite», como cúspide do céu, e aí
reside, assim, simbolizando «O Altíssimo» como «Luz Altíssima», Omnisciente e «Toda
Poderosa», que está nos Céus e «tudo Vê».
Na língua hebraica, este radical surge no nome Aur, muitas vezes transliterado como Or, e
possuindo, tal como vimos, o sentido de Luz Divina, Luz Infinita, tal como em Ain Soph Aur.

Nova Escola de Sagres ‐ Nuno Barbieri  Pág. 27 
Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

Por sua vez, o nome Ahura, do deus do antigo Irão Ahura Mazda, o «Senhor Sabedoria» dos
cultos de Zaratustra, que sendo normalmente considerado como derivado do sânscrito Asura,
possui, contudo, estranhas similitudes com o deus Assírio Ashur, cuja etimologia se desconhece, e
que era identificado com o deus sol Shamash, também ele representado sob forma de um deus
alado. Ahura Mazda era o antagonista de Arimam, o Senhor das Trevas, pelo que simbolizava a
Luz. As formas mais tardias do seu nome são: «Hourmazd», «Hormizd», «Hormuzd», «Ohrmazd»
e ainda «Ormazd/Ōrmazd». Como Mazda, ou mazd, é entendido como nome próprio, podemos
assim arriscar que o seu nome significa Mazda-Luz. A Ahura-Mazda está ainda associada à ideia
de Xvarnah, a «Luz-de-Glória» que confere a Imortabilidade e a Invencibilidade que coroa Reis e
Heróis.
29
«Outros termos para ela, que sublinham este seu aspecto, são «Senhora do embrião» (Nin-
ziznak), «Senhora artífice» (Nin-dím), «Carpinteira [melhor seria dizer «artífice»] (i.e., «no»)
dos interiores» (Nagar-sagak), «Senhora oleira» (Nin-bahar), «Fundidora da Terra» ou «dos
deuses» (Tibira-kalammak, Tibira-dingirenek), etc.» - Nossa tradução.
30
A palavra grega para cobre era calcós (χαλχός) que significava também o bronze, já que
este era, principalmente na antiguidade, uma liga de cobre e estanho. Aquele elemento radical
(χαλχ-) compunha ainda palavras tais como calqueía (χαλχεια), pela qual era designada a «arte do
ferreiro», assim como calcotypiqué (χαλχοτυπιχή), o «ofício de forjador». – Elementos retirados
do Dicionário Grego-Português, de Isidro Pereira.
A palavra grega para carpinteiro é tecton (τεχτων), de onde deriva o nosso vocábulo
«técnica(o)», de igual elemento radical, tal como, ainda, por exemplo, na palavra grega técne
(τεχνη), «artifício». A deusa grega Atena era designada como Politécnica, pala sua múltipla
mestria.
31
Rever acima no texto o que foi dito acerca das relações entre Hátor e Hórus, a Luz
manifestada.
32
«Shekhinah (alternative transliterations Shekinah, Shechinah, Shekina, Shechina,
Schechinah, ‫ )שכינה‬is the English spelling of a grammatically feminine Hebrew language word that
means the dwelling or settling, and is used to denote the dwelling or settling presence of God
(cf. Divine presence), especially in the Temple in Jerusalem.» - www/inner.org
«Shekhinah (transliterações alternativas, Shekinah, Shechinah, Shekina, Shechina,
Schechinah, ‫ )שכינה‬é a ortografia Inglesa da palavra Hebraica feminina que significa morada ou
estabelecimento da presença de Deus (cf. Divina Presença), especialmente no Templo de
Jerusalém.» (Nossa Tradução)
33
A plataforma Suméria de edificação, mais tarde designada por Tell, assume a valência do
benben egípcio, como primeira emergência da Terra, a Colina Primordial, que assim se libertava do
caos aquoso.
«De uma forma geral, a colina primordial era investida com duas facetas complementares:
por um lado possuía uma dimensão ctónica, associada aos poderes generativos da terra, mas por
outro, revestia-se de uma dimensão solar, já que era desta colina que o deus Sol, na forma de uma
criança, emergira e dera origem à primeira manhã do mundo. O templo egípcio surgia assim como a
figuração da colina primordial, a ilha mítica rodeada pelas águas do Nun, a partir da qual o próprio
universo se recriava e regenerava continuamente.» - Iniciação e Mistério no Antigo Egipto, de
Rogério de Sousa, Ed. Ésquilo, pág. 113.
34
Ao falarmos da «Ordem» não podemos deixar de falar, embora de passagem, em Maet,
igualmente filha de Ré, e portanto figuração da Luz Divina, ela era a deusa da Justiça (do
Equilíbrio), base e assento do Reino, no sentido anteriormente ressaltado de Reino Divino, e
igualmente «base», ou «plataforma» de um edifício, e sua «rampa» de acesso – compare-se com o

Nova Escola de Sagres ‐ Nuno Barbieri  Pág. 28 
Caderno Náutico 1 ‐ Anura a Terra Lúcida 

sentido de «elevação» acima apresentado. Maet era oferenda aos deuses e oferta dos deuses.
Pode-se dizer que ela resumia e simbolizava o acto de oferenda. Vejamos algumas citações
extraídas da obra já citada, «Nefertiti e Akhenaton», de Christian Jacq:
«Maet é a soberana da confraria das divindades. A sua protecção é a protecção delas. É filha
de Ré, a luz divina através da qual transmite a essência imortal. É ainda a regra imutável do
universo, o ideal dos sábios, a verdade e a justeza que nunca erro algum poderá macular.»
«Quando se alimenta, quando pensa, quando ensina, o faraó «vive de Maet».»
«A construção da cidade do Sol [Akhetaton, a actual Tell el-Amarna] é colocada sob a
protecção de Maet, tal como o próprio faraó.»
Voltaremos a este assunto numa próxima oportunidade.
35
«Literally, her name means «she of the throne». Her original headdress was a throne. As
the personification of the throne, she was an important representation of the pharaoh's power,
as the pharaoh was depicted as her child, who sat on the throne she provided.» -
http://en.wikipedia.org/wiki/Isis
«Literalmente, o seu nome significa «a do trono». O seu toucado era um trono. Como
personificação do trono, era uma representação importante do poder do faraó, uma vez que o
faraó era representado como seu filho, que se sentava no trono por ela providenciado.» (Nossa
tradução)
36
O Reino dos Céus corresponde à noção de «Quinto Império». Quinto, não por se incluir
numa sucessão histórica de impérios, como alguns erradamente pensam, à qual este «Império»
não saberia pertencer, já que ele se situa para além do tempo exterior, mas Império, e Quinto,
exactamente por ser Central, por ser o «ponto origem» da Cruz quaternária. Ele é o foco de
irradiação dessa Cruz, a sua Fonte imortal.
Abordaremos este conceito ao tratarmos da simbologia da Cruz e do sentido esotérico de
«crucificação».

Nova Escola de Sagres ‐ Nuno Barbieri  Pág. 29 

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