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Resumo:
Este trabalho se propôs a analisar a evolução do pensamento brasileiro em três momentos
importantes da história do país. Quando o futuro do povo brasileiro como nação estava sendo
discutido na passagem da monarquia para a república. A sua cor estava sendo colocada à
prova, seus traços físicos, sua estatura, sua localização geográfica, sua origem. Essas
características nesse período histórico foram determinantes para o nosso futuro como nação.
Nos primeiros anos após a Primeira Guerra Mundial, o povo brasileiro parece que surgiu das
cinzas, através da escrita dos novos intelectuais, e também de suas próprias manifestações na
medida em que ocorreu uma politização das massas, devido ao crescimento urbano e a
industrialização. Na década de 20 os intelectuais e artistas acirraram os debates no sentido de
se reproduzir cultura nacional: a literatura, a música, a dança, a comida, a alegria, a cultura, as
festas, o folclore, a linguagem. Essa irradiação nacionalista, partindo principalmente da
capital e também de São Paulo foi decisiva para a formação da nossa identidade nacional até a
década de 20 do século passado.
Abstract:
This work intended to analyze the evolution of the Brazilian thought in three important
moments of the history of the country. When the future of the Brazilian people as nation was
being discussed. In the passage of the monarchy to republishes, your color was being placed
to the proof, your physical lines, your stature, your geographical location, your origin. Those
characteristics in that historical period went decisive for our future as nation. The first years
after First World War, the Brazilian people seem that it appeared of the ashes, through the
new intellectuals' writing, and also of your own manifestations in the measure in that
happened one it politicizes of the masses, mainly due to the urban growth and the
industrialization. In the decade of 20th the intellectuals and artists went fundamental for the
incentive of the discussions in the sense of reproducing national culture. Valuing what had of
better: the literature, the music, the dance, the food, the happiness, the culture, the parties, the
folklore, the language, etc. that nationalist irradiation, leaving mainly of the capital and also
of São Paulo, it was decisive for the formation of our national identity to the decade of 20th.
Even Brazil being of such extensive continental dimensions and your such varied and rich
cultural wealth.
Professor de História em Manaus / AM
Cinco anos após a independência do Brasil – 1827 -, já se aventavam discussões
sobre o fim da escravidão ou sobre o fim do tráfico de escravo. De 1827 a 1888 tivemos cinco
importantes iniciativas e leis coibindo ou proibindo o tráfico negreiro no país: 1827 - a
postura de José Bonifácio sobre o fim do tráfego negreiro no processo de reconhecimento de
nossa independência em acordo com a Inglaterra; 1831 – o decreto regencial do Pe. Diogo
Antônio Feijó; 1850 – a lei Eusébio de Queirós do ministro Eusébio de Queirós; 1854 – lei
Nabuco de Araújo. Enfim, do decreto regencial de 1831 a lei Áurea de 1888, Foram
necessários mais de 50 anos, para que de fato, colocassem essas idéias em prática. Idéias essas
que estão intimamente ligadas aos interesses políticos e econômicos que se seguiram por esse
mesmo período - até 13 de maio de 1888.
As motivações, como se sabe, que levaram o país para a libertação dos escravos,
vão, naturalmente, do próprio negro, passando por simpatizantes, como os conjurados
baianos, contribuindo os ingleses por motivos econômicos e os republicanos por motivos
políticos. Esses últimos, no final do Segundo Reinado, se aproveitaram da imagem desgastada
da monarquia afetada pela guerra do Paraguai, para galgarem lugar de destaque no cenário
político brasileiro. Não menos importantes alguns monarcas como Joaquim Nabuco a, que
viria a ser o grande abolicionista, ao lado de colaboradores como, Castro Alves b, José do
Patrocínioc e tantos outros, também foram decisivos nesse processo de transição do trabalho
escravo para o livre. Somando-se a tudo isso, a influência liberal, como se sabe, influenciou
categoricamente esse novo raciocínio, no qual voltaremos mais adiante.
a
Abolicionista e diplomata do segundo império. Considerado um político mais apaixonado pelas reformas, do
que pela rotina partidária. Enciclopédia Britânica do Brasil.
b
Um dos mais populares poetas brasileiros. Da geração dos românticos. Enciclopédia Britânica do Brasil.
c
Filho de uma escrava e de um cônego. Devido as suas origens enfrentou grandes dificuldades sociais para se
ascender. Jornalista, escritor e abolicionista. Enciclopédia Britânica do Brasil.
2
Percebemos na análise, que as discussões nesse período semi-republicano eram
pautadas em torno de debates étnicos. Concluímos que esses intelectuais menosprezavam a
formação étnica do povo brasileiro devido a sua mestiçagem e negritude. Posição essa, que
estava em conformidade com as teorias européias de inviabilidade do Brasil devido aos traços
físicos e as misturas éticas do povo.
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Um Brasil Mestiço: a questão da raça na passagem da monarquia a república
Embora os temas para discussão estivessem definidos com muita clareza, esses
pensadores se depararam com o próprio entrave do preconceito, aliado às suas próprias
covardias perante às campanhas de inviabilidade do Brasil como nação - devido ao
cruzamento das etnias - disseminadas na Europa, EUA e em boa parte do Mundo. Portanto, ao
d
Unesco: Organização Educacional Científica e Cultural das Nações Unidas
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invés de se discutir temas políticos, sociais e econômicos; discutia-se a respeito do
branqueamento da pele, e da cultura européia como um padrão de perfeição a ser seguido a
todo custo. Os atrasos eram atribuídos à grande diversidade étnica de sua população e não a
empáfia de seus mandatários, ou seja, novas exigências estrangeiras conduziriam o pensar
brasileiro para essa direção, como veremos em momento oportuno. Esta colocação de
Ventura, já pode dar uma introdução ao problema: “Os letrados se mostravam divididos entre
a valorização dos aspectos originais do povo brasileiro e a meta de se construir uma
sociedade branca de molde europeu”. (Ventura. S.d. 331).
José de Alencar era um romântico que via o índio como símbolo de autonomia
frente à metrópole. Deputado do Império e escritor com uma visão literária pró-escravo.
Embora suas obras tentassem exaltar os índios, mestiços e negros, na verdade, exaltavam a
própria cultura branca – concebendo a arte como expressão idealizadora da sociedade branca
e cosmopolita, cujo domínio político e cultural seria a pré-condição para a civilização
moderna. (Ventura. s.d.).
Como deputado, Alencar era favorável a manutenção da escravatura, votou contra
a lei Visconde do Rio Branco ou do ventre livre (1871) e não aceitava a intervenção estatal no
círculo familiar dos patriarcas. Como escritor, colocava o índio, o mestiço e o negro no
“centro” das atenções. Um pensamento dúbio e de difícil entendimento.
5
O professor e escritor Flávio Aguiar, em seu livro Panorama da Literatura, afirma
que Alencar exaltou o índio através do personagem Peri porque estava imbuído de um
sentimento nacionalista e entregue ao desejo de criar uma literatura brasileira autônoma: “De
Peri em diante (...) a História portuguesa voa pelos ares...” (Aguiar, op cit p. 30). Mas em
Cartas de Erasmo (1865) Alencar afirma que a escravidão era um “fato social necessário”.
Que só poderia ser abolido com a evolução da sociedade brasileira, pois a emancipação
prematura traria ameaças à estabilidade da monarquia e da agricultura. (José de Alencar,
Cartas de Erasmo (1865) obras completas Rio de Janeiro 1959-60 vol 1 p. 1.059 apud Ventura
s.d. p. 335).
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consciência de que estou com o povo defendendo a Monarquia, porque não há, na república,
lugar para os analfabetos, para os pequenos, para os pobres”.e
Para ele o folclore brasileiro teria sido criado graças à atuação do mestiço, o
“agente transformador por excelência”, formado a partir de cinco fatores: o português, o
negro, o índio, o meio físico e a influência estrangeira. Para ele a literatura deveria ser a
expressão da etnia e do povo.
e
(discurso num meeting popular na praça de S J do Riba-Mar – 05/11/1884)
f
Doutrina religiosa e filosófica dos que atribuem tudo à natureza como primeiro princípio, sem recorrer a causas
ou intervenções transcendentais. (BUENO, Silveira. Dicionário Escolar).
g
Silvio Romero, Estudos sobre a poesia popular no brasil - RJ Laemmert 1888 p. 355.
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c) Pensamento de Nina Rodrigues
h
Frenologia: Estudo do caráter e das funções intelectuais humanas com base na conformação do crânio.
(BUENO, Silveira. Dicionário Escolar, p. 406).
i
Antropometria: Técnica de tomada e confronto sistemático das medidas do corpo humano. Surgida no século
XIX, tornou-se indispensável na paleoantropologia. Antropometria. Inicialmente utilizada em teses duvidosas
sobre a superioridade racial ou individual, a antropometria no século XX tornou-se técnica indispensável à
paleoantropologia, contribuindo para o conhecimento efetivo da evolução dos hominídeos (Família de
mamíferos da ordem dos primatas, cuja única espécie atual é o homem (Homo sapiens sapiens). Encyclopaedia
Britannica do Brasil.
j
Esses estudos foram desenvolvidos por André Retzius, Cesare Lombroso e Paul Broca, que determinavam a
capacidade humana a partir do tamanho e da proporção do cérebro dos diferentes povos. A loucura, a
criminalidade e a degeneração poderiam ser previstas e entendidas a partir dos cruzamentos raciais, que
produziam uma população fraca e doente.
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não poderiam contaminar os brancos. Ou seja, os brancos não poderiam ser contaminados por
costumes e superstições africanas. Ao contrário de uma lei universal, conforme queria os
juristas, propôs critérios diferenciados de cidadania e a divisão da legislação penal em vários
códigos, adaptados às condições climáticas e raciais de cada uma das regiões do país. Logo, o
negro como um ser num estágio infantil e mais propenso ao erro, deveria ter sua pena
atenuada. O antagonismo disso tudo, é que os direitos de cidadania seriam cerceados na
mesma proporção. Quando a coerência seria dar mais a quem menos tem. O grifo é nosso.
k
Psicose: Designação genérica de diversos processos mórbidos de desintegração da personalidade, acompanhada
de grave desajustamento do indivíduo ao meio social. Também chamada de Esquizofrenia: Distúrbio psíquico
caracterizado por dissociação mental, que provoca perda de contato com a realidade. Pode ser simples,
hebefrênica, catatônica ou paranóide. Encyclopaedia Britannica do Brasil.
l
Neurastenia: neurose caracterizada por astenia, cefaléia, irritabilidade, grande preocupação com a saúde e
alteração do sono. (BUENO, Silveira. Dicionário Escolar, p. 652).
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conseqüência de desigualdade social ou econômica. Nina desdenhava o Sertanejo, porque
esse foi dominado, e Euclides o valorizava porque este resistiu com bravura. E ambos não
davam valor ao mulato e nem ao negro. O grifo é nosso.
e) A Solução Do Branqueamento
m
Museu Nacional Histórico do Rio de Janeiro.
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O Brasil do pós-guerra: Anos de Transformações
Vendo por uma ótica otimista, podemos dizer que a 1ª Guerra Mundial fez muito
bem ao Brasil. Essa declaração não é xenófoba não, evidente que nós pesamos pelo horror e
destruição que toda guerra traz. E temos certeza de que os problemas trazidos pela Primeira
Guerra Mundial (1914-1918) foram muitos. O que queremos dizer agora, é que momentos
difíceis como aquele podem fazer uma nação inteira refletir sobre sua história. Se não uma
nação inteira, pelo menos um grupo dela: intelectuais, políticos, médicos, militares,
empresários, educadores e artistas. Vale a pena dizer, que na Europa pós-guerra, o
nacionalismo continuou sendo fomentado e ganhou milhares de adeptos. No Brasil não seria
muito diferente, todos estavam preocupados com sua história e tentavam unir o passado ao
futuro para tomarem novos rumos pós 1ª Guerra Mundial. Cada grupo estava preocupado em
analisar o cenário brasileiro de acordo com sua capacidade e seu campo de interesse. Olavo
Bilac se preocupava em fechar as fronteiras, obrigar os civis ao alistamento militar
obrigatório, preparar, treinar e armar os militares mais do que já havia sido preparados até
aquele momento, dentre outras propostas. Outros iriam ensejar algumas transformações nas
instituições nacionais. Exigiriam uma modernização nas nossas leis, começando pela nossa
Constituição, que era de 1891, considerada por boa parte dos intelectuais, como obsoleta. E
isso por três motivos principais: “A Constituição de 1891 estava (...) ultrapassada, (...)
possuía inspiração externa e assegurava grande poder aos estados em detrimento do poder
central”. (CPDOC/FGV).
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criticou o governo republicano por estimular a separação de dois mundos que não podiam
viver separados, pois um dependia do outro: o mundo dos privilegiados e o mundo dos
deserdados, ou a cidade européia e a cidade indígena (Recordações do Escrivão Isaías
Caminha).
Sobre o “passado como padrão”, o presente seria uma reprodução dos principais
aspectos da sociedade estudada. O aspecto da moral, o político e o religioso estariam
praticamente intactos. Essa sociedade estaria quase que fechada às novidades externas. Sobre
o “passado como modelo” haveria um contato maior entre uma sociedade e outra, onde certos
padrões culturais teriam sido assimilados e inovações incorporadas. Nesse caso, o passado
não formularia mais conceitos, o que era padrão em alguns casos deixou de ser, e em outros,
passou a ser apenas um modelo. O outro aspecto que nos interessa, é o “passado como
rejeição”, neste caso Hobsbawm afirma que o problema maior é legitimar a mudança, a
inovação e apresenta dois problemas: como identificar a “inovação” e o “progresso”? E o
segundo: como formular um modelo de sociedade, sem as prerrogativas do passado?
(Hobsbawm, op cit, 1998).
Hobsbawm inicialmente deixa claro que não haveria nenhum problema em rejeitar
o passado. Desde que não fosse às vésperas de grandes mudanças. E também propõe que é
possível rejeitá-lo, desde que não se perca o “alicerce do passado”. Sem querermos devagar
muito com esses problemas, para caracterizar o nosso tema dentro dessa base teórica colocada
por Eric Hobsbawm, devemos fazer a seguinte pergunta, qual tem sido a relação do Brasil
com o seu passado até o inicio da década de 20 do século passado?
Pelo que vimos até agora, tem sido de rejeição, e num grau muito pequeno, de
modelo. Esses novos elementos culturais é que vão tentar reconciliar o Brasil com seu
passado. Oswald de Andrade, por exemplo, iria responder: "O passado é lição para se
meditar, não para reproduzir" (Andrade, Mário de Encyclopaedia Britânnica do Brasil), ou
seja, iria preferir um passado como modelo.
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Esse dualismo está presente, sobretudo, porque nas primeiras décadas do século
XX entrecruzam dinâmicas diferentes: industrialização, urbanização, crescimento do
proletariado e do empresariado de um lado. E do outro, tradição colonialista, latifúndios,
sistema oligárquico e o desenvolvimento desigual das regiões. Sobre essa dicotomia, Lima
Barreto ainda afirmou: “Nós não nos conhecemos uns aos outros dentro do nosso próprio
país”. (Lima Barreto, Apud CPDOC/FGV).
Fica patete então que a década de 20 do século passado foi uma década de
contrastes e confrontos, continuidade e mudanças. Contrastes esses que foram o epicentro das
discussões: Qual imagem que o Brasil deveria ter? Qual a cara do Brasil? Eram os tempos
modernos. O tempo das Kodaks, do Cinema, das Revistas, era natural que quiséssemos criar a
nossa imagem, ou melhor, criar e resgatar simultaneamente. A mesma discussão que
acompanhamos anteriormente, e agora ela continuava, só que numa outra dinâmica. Aquele
passado que os intelectuais do final do Império e do começo da Republica repudiaram,
renascia com mais força.
Nós não nos conhecemos uns aos outros dentro do nosso próprio
país”. (LIMA BARRETO, Apud CPDOC/FGV).
Para responder a essa pergunta, muitos se dispuseram, inclusive o próprio governo
federal, no sentido de estimular e financiar a Exposição Universal do Rio de Janeiro de 1922 e
a Semana de Arte Moderna de 1922.
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O Brasil dos anos 20: Novos elementos somam-se a discussão
14
O grupo dos verde-amarelos
Esse grupo não representou um dos mais importantes, mais vale a pena citá-lo
porque sua bandeira tinha algo de nobre: propunha um “retorno ao passado”. Não aquele que
representava o atraso, mas a valorização do que tínhamos de melhor: o nosso povo, a nossa
gente. Pregava um protecionismo cultural, via popular, com sua índole pacífica, a alma da
nacionalidade a ser guiada pelas elites político-intelectuais do país.
n
Enciclopédia Britânica do Brasil
15
À Margem da história da República
o
Deixou outras colaborações escritas, como Populações Meridionais do Brasil (1920); Evolução do Povo
Brasileiro (1924); O Idealismo da Constituição (1927), etc. (Dicionário Internacional de Biografias, s.d., Rio de
Janeiro, editora formar, V. 1, p. 1.118).
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A Semana de Arte Moderna
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Interessante também observar, que o movimento de 22 foi um manifesto regional.
Vários observadores têm a Semana de 22 como uma manifestação que priorizava chamar a
atenção não apenas para o nacional, mas, sobretudo para o regional, nesse caso São Paulo.
Essa crítica geralmente partia de pesquisadores também considerados
regionalistas:
A soma desse regionalismo é que gerava a nação, com seus contrastes e que se
completavam e se configuravam na cara do Brasil que temos hoje. A única região que
significava ameaça à unidade nacional, no entendimento de Freyre, era o Sul (Seyferth, op
cit). Hardman, também propõe que a semana de 22, redescobriria o Brasil:
18
Considerado por muitos o iconoclasta do Movimento de 1922, Oswald de
Andrade sintetizava o lado irreverente do modernismo. Com seu Manifesto Antropofágico, de
1928, recria o índio como expressão da pátria brasileira, mas, dessa vez, elogiando tudo o que
os românticos idealizadores haviam desprezado: a preguiça, o canibalismo, a disposição de
devorar tudo o que os colonizadores traziam para recriar das sobras, organicamente, uma nova
cultura brasileira.
Isso também representou uma revolução para a época, sugerir que continuássemos
a comer o que vinha de fora o era quase um insulto. Mas, dessa vez, amadurecidos o
suficiente para sorver somente aquilo que iria acrescentar à nossa cultura, e não subtrair dela,
embora nas palavras de Amaral: O nacionalismo nesta primeira fase foi a mola do
movimento, não sendo de forma alguma o objetivo. (Amaral, Aracy op cit).
O Pau-Brasil:
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Podemos concluir que a Semana de Arte Moderna contribui para a formação de
uma identidade nacional.
Na Paulicéia Desvairada havia uma preocupação com o Brasil como um todo. Foi
o grito de independência cultural da metrópole contra o atraso do resto do país. A metrópole
industrial que abrigava burgueses e proletários, caipiras e estrangeiros, palacetes tradicionais e
arranha-céus que começavam a despontar. Mario de Andrade se deu conta do processo de
modernização por que passava a cidade.
p
www.angelfire.com/mm/macunaima/ Acesso em 14/06/05
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contribuiu para o acirramento de um debate em torno das questões nacionais. Ainda sobre
Macunaíma, observe na página seguinte:
“Foi inovando com audácia e rebelando-se contra a mesmice das normas que ele
chegou a Macunaíma, texto que escreveu em 1926 e chamou de rapsódia ao
publicá-lo em 1928. Com enorme sucesso, a obra repercutiu em todo o país por
seus enfoques inéditos. Sob um fundo romanesco e satírico, aí se mesclavam numa
narrativa exemplar a epopéia e o lirismo, a mitologia e o folclore, a história e o
linguajar popular. O personagem-título, um "herói sem nenhum caráter", viria a
ser uma síntese, o resumo das virtudes e defeitos do brasileiro comum. Nascido em
plena selva amazônica, e daí transplantado para o coração febril de São Paulo,
Macunaíma recorre à esperteza e à macumba a fim de derrotar o opressor
estrangeiro: o nacionalismo proposto em 1922, e inseparável da formação do
modernismo, havia encontrado nele sua expressão mais legítima”. Encyclopaedia
Britannica do Brasil.
A contribuição da Semana de Arte Moderna pode ser vista ainda nos dias de hoje.
Como bem afirmou a professora de Literatura da USP Maria Augusta Fonseca em artigo no
jornal O Mundo:
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f) A Boemia Carioca
Conforme a citação de Velloso no capítulo anterior, a intelectualidade no pós-
guerra foi chamada a se engajar. “A turma da Ouvidor” como era chamada parte da Boemia
carioca, associava retórica e humor para falar de um mesmo assunto: nacionalidade, cultura,
política, dentre outros temas. E estando em dia com os novos conceitos, tinham suas intenções
sociais bem definidas:
“Eram nítidas as intenções sociais por parte dos intelectuais nas duas primeiras
décadas do século XX. O que se pregava eram conceitos éticos bem definidos;
assim, termos como humanidade, nação, bem, verdade e justiça faziam-se
lugares-comuns entre nossos intelectuais”. (Sevcenko, 1989:22 Literatura como
missão apud Cadernos da Comunicação Série Estudos: Um olhar bem-
Humorado sobre o Rio nos anos 20: p. 14)
Nas charges feitas por Kalixto, Raul J. Carlos, Sorni, Yantok, e outros, o
Centenário da Independência era retratado como um personagem velho, que já deveria ter
chegado a muito tempo, um personagem que estava sempre tentando se aproximar da cidade.
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Quando perguntado sobre o andamento das obras, respondia com tristeza e preocupação que
elas estavam muito atrasadas.
“Na Republica que não era. A cidade não tinha cidadãos. Para a grande maioria dos
fluminenses, o poder, permanecia fora do alcance, do controle e mesmo da compreensão. Os
acontecimentos políticos eram representações em que o povo comum aparecia como
espectador ou, no máximo, como figurante”.“(...)”. “Impedida de ser republica, a cidade
mantinha suas republicas, seus nódulos de participação social, nos bairros, nas associações,
nas irmandades, nos grupos étnicos, nas igrejas, nas festas religiosas e profanas e mesmo nos
cortiços e nas maltas de capoeiras. Estruturas comunitárias não se encaixavam no modelo
contratual do liberalismo dominante na política”. (CARVALHO, 1987: 163).
q
Fonte Ministério da Agricultura, Industria e Comercio. Apud Cadernos da Comunicação Série Estudos:
Um olhar bem-Humorado sobre o Rio nos anos 20: p. 22)
24
“Ironicamente, foi da evolução destas repúblicas, algumas inicialmente discriminadas,
se não perseguidas, que se foi construindo a identidade coletiva da cidade. Foi nelas
que se aproximaram povo e classe média, foi nelas que se desenhou o rosto real da
cidade, longe das preocupações com a imagem que se devia apresentar à Europa. Foi
o futebol, o samba e o carnaval que deram ao Rio de Janeiro uma comunidadede
sentimentos, por cima e além das grandes diferenças sociais que sobreviveram e ainda
sobrevivem. Negros livres, ex-escravos, imigrantes, proletários e classe média
encontram aos poucos um terreno comum de auto-reconhecimento que não lhes era
propiciado pela política”. (Carvalho, op cit , p. 163-164).
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De fato, as festas do Rio de Janeiro dos anos 20 do século passado contagiavam
toda a cidade. A da Penha era a mais popular. Todos iam, até os malandros. A cidade ficava
unida em torno da alegria e a polícia se dirigia até a Penha para tentar prender os procurados
pela justiça. Realmente, nesse sentido, a festa da Penha era a mais popular da cidade do Rio
de Janeiro. No entanto, a que mais o povo gostava era o Carnaval, que provocava na cidade
um maior frenesi.
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Considerações finais
Ao olharmos pelo retrovisor da história, vemos que houve avanços em nosso país
e não pelo “branqueamento” das "etnias", (o que de fato não ocorreu), mais pelo aclaramento
das mentalidades que vieram nascendo. Quem sabe não é o resultado de uma miscigenação de
almas (consciência), em busca de um ideário comum? É certo que mesmo após a abolição,
tais concepções permaneceram triunfando, basta acompanhar as evoluções que sofreram as
constituições brasileiras ao longo de toda a República. Assim, a passos lentos, uma
democracia representativa e à universalização dos princípios liberais e humanos começavam a
se formar e ainda hoje o processo não está totalmente conquistado.
José Carlos Reis em seu livro, As identidades do Brasil, faz uma análise das
tendências da historiografia brasileira. De 1850 a 1930 é caracterizada por ele como um
período de continuidade e descoberta. Os principais pensadores, segundo ele, desse período
foram Francisco Adolfo de Varnhagem e Gilberto Freire. Reis afirma que os que representam
esse grupo trabalharam na identificação das forças que reproduzem e renovam a dependência.
“Preferem o Brasil português ao Brasil brasileiro”. “O Brasil tradicional ao Brasil moderno”.
Reis afirma que a tese do progresso desse grupo é a tese linear e gradual, ou seja, são
conservadores na interpretação de nossa cultura. E que pelo que tudo indica uma forte
influencia positivista.
A análise que fizemos acima, nos mostra que houve uma ruptura com esse tempo.
Ainda que tímida. O pensamento dos intelectuais citado no primeiro capítulo perdeu a força
diante de novos paradigmas, e diante das transformações que o país atravessou, sobretudo,
após a Primeira Guerra Mundial. (Num momento mais para o futuro pretendemos continuar
esses estudos a partir dos anos 30). A partir desse momento, de forma gradual começa a
nascer uma nação. Estruturada, com suas características e particularidades. A falta de
representatividade das minorias ainda nos dias de hoje, não é fruto da mentalidade política ou
social ou econômica hodierna, (ainda que saibamos que existem entidades e personagens que
representam o passado), mas sim, de um passado que ainda se desconfigura na medida em que
o tempo avança. Também, no embate desse passado com novos pensamentos deste presente,
resultando numa "nova química" não vinculada a esse passado, mais ao contrário, pertence a
uma nova safra de gerações, que dará com certeza, novos elementos sociais; capazes de
mudarem o porvir, não só no campo jurídico mais também no social. Pelo menos é o que a
nosso ver vem despontando.
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REFERÊNCIAS
AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura. s.e , Editora Nova Cultural. São Paulo: 1988
AMARAL, Aracy. Artes Plásticas na Semana de 22: subsídios para uma história da
renovação das artes no Brasil. 4 ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1979.
CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi.
São Paulo: Cia das Letras, 1987.
CPDOC/FGV
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. s..ed.., São Paulo: Cia. Das Letras, 1998.
MARTINS, Ana Luiza. Império do Café – A grande lavoura no Brasil – 1850 a 1890: Atual
Editora – História em documentos. 9ª Edição
28
REIS, José Carlos. As Identidades do Brasil: De Varnhagen a FHC, Rio de Janeiro: Ed. FGV,
1999.
Um olhar bem-humorado sobre o Rio nos anos 20. Secretaria especial de comunicação
Social. CADERNOS DA COMUNICAÇÃO. Série Estudos v. 5. 2003.
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