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O Cristo do Povo

Nº11

Pregado na manhã de domingo, 25 de fevereiro de 1855, por Charles Haddon Spurgeon, em


Exeter Hall, Strand, Londres.

“Exaltei a um eleito do povo.” Salmo 89:19b

Não me cabe nenhuma dúvida que, originalmente, estas palavras se referiam a Davi. Ele foi um
escolhido do seu povo. Sua linhagem era respeitada, porém não era ilustre. Sua família era
santa, porém não era exaltada: os nomes de Isaías, Obede, Boaz e Rute, não evocavam
lembranças de realeza, nem motivavam pensamentos da antiga nobreza ou de uma gloriosa
genealogia. Quanto ao próprio Davi, sua única ocupação havia sido a de um jovem pastor
carregando aos cordeiros em seu regaço, conduzindo ternamente as ovelhas com suas crias;
um jovem simples que possuía uma alma real, reta, de valor inabalável, porém ainda assim um
plebeu- alguém do povo.

Mas isso não o desclassificava para a coroa de Judá. Aos olhos de Deus, a procedência deste
jovem herói não era nenhuma barreira para levá-lo ao trono da nação santa, como tampouco
o mais admirador das castas e linhagens se atreveria a insinuar sequer, alguma palavra
contrária ao valor, sabedoria, e justiça do governo deste monarca do povo.

Não cremos que Israel ou Judá haviam tido jamais um governante melhor que Davi, e nos
atrevemos a afirmar que o reino de “um eleito do meu povo” superou em glória os reinos de
imperadores de linhagem, e de príncipes em cujas veias corria o sangue de vários reis. Sim,
mais ainda, afirmamos que a humildade de seu nascimento e da sua educação, longe de fazê-
lo incompetente para governar, deram-lhe, em boa medida, melhor preparação para seu
trabalho, e maior capacidade para desempenhar seus tremendos deveres. Ele pôde legislar
para muitos, porque era um deles- ele pôde governar o povo como o povo devia ser
governado, porque era “osso de seus ossos e carne de sua carne”; seu amigo, seu irmão, assim
como seu rei.

Sem dúvida, neste sermão não vamos falar de Davi, senão do Senhor Jesus Cristo, pois Davi,
como refere o texto, é um eminente tipo de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, aquele que
foi escolhido do seu povo. Jesus é aquEle, de quem Seu Pai pôde dizer: “Exaltei a um eleito do
povo.”

Antes de entrar na ilustração desta verdade, quero fazer uma declaração, para evitar todas as
objeções relacionadas a doutrina do meu sermão. Nosso Salvador Jesus Cristo, digo eu, foi um
eleito de seu povo, porém somente no que se refere a sua natureza humana.

Como “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro” Ele não foi escolhido de seu povo, pois não havia
ninguém exceto Ele. Ele era o unigênito do pai, “gerado do pai antes da criação do mundo”. Ele
era igual a Deus, e eterno; consequentemente, quando falamos de Jesus Cristo como eleito de
seu povo, devemos falar dEle como Homem. Nos esquecemos frequentemente, penso eu, da
verdadeira humanidade do nosso Redentor, porque era um homem em todos os sentidos e
para todos os efeitos, e me regozijo ao cantar
“Houve um Homem, um Homem de verdade

Que um dia morreu no calvário”

Jesus não era um mistura de homem e Deus; suas duas naturezas não se confundiam. Ele era
Deus verdadeiro, sem nenhuma diminuição da Sua essência nem de Seus atributos; e Ele era
igualmente, verdadeiramente e certamente u homem. Nesta manhã falo de Jesus homem.
Meu coração se alegra quando apreciar o lado humano desse glorioso milagre da encarnação,
e tratar a Jesus Cristo como meu irmão: habitando a mesma mortalidade, lutando com as
mesmas enfermidades e dores, companheiro no caminho da vida, e por alguns instantes,
companheiro dormente na fria câmara da morte.

O texto menciona três coisas: A primeira: Sua extração; Cristo era uma pessoa do povo. A
segunda: sua eleição: Ele foi eleito de seu povo. E a terceira: a exaltação de Cristo: Ele foi
exaltado. Podem ver que eu escolhi três palavras que começam com a letra E, para facilitar a
lembrança, extração, eleição e xaltação.

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