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XII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 07 a 09 de novembro de 2005

A ergonomia e a gestão da segurança do trabalho


Samuel Potma Garcias Gonçalves (CEFET-PR) potma@creapr.org.br
Prof. Dr. Antônio Augusto de Paula Xavier (CEFET-PR)augustopx@brturbo.com
Prof. Dr. Luis Maurício Martins de Rezende (CEFET-PR) mauricio@pg.cefetpr.br

Resumo
O artigo trata da gestão da segurança do trabalho em empresas. A análise ergonômica do
trabalho é apontada como caminho para melhorias neste campo. O objetivo é levantar a
situação atual da segurança do trabalho e buscar soluções para serem implantadas. Foi feita
uma pesquisa documental nos laudos do Instituto de Criminalística de Ponta Grossa-PR.
Foram disponibilizados 25 laudos para a pesquisa. Desses, foram escolhidos 10 laudos como
amostra de análise. Concluiu-se que para melhorar as condições de segurança nas empresas,
deve-se, como primeiro passo, atuar sobre maquinários e operadores para cumprir as
Normas Regulamentadoras (NRs) e, como medida complementar, aplicar uma Análise
Ergonômica do Trabalho nas empresas para levantar itens não alcançados pelas NRs .
Palavras-chave: Ergonomia; Segurança do trabalho; Acidentes.

1. Introdução
A ergonomia é a adaptação do trabalho ao homem e, para isso, aplica teorias, princípios,
dados e métodos a projetos que visam melhorar o bem-estar humano e a performance global
dos sistemas.
A Ferramenta da ergonomia é a Análise Ergonômica do Trabalho que acontece para
solucionar exigências de melhorias nas condições de trabalho (saúde e segurança) e melhorias
na eficácia econômica do sistema produtivo (produtividade).
A gestão de segurança do trabalho aplica metodologias e técnicas apropriadas às possíveis
causas de acidentes de trabalho, objetivando a prevenção de suas ocorrências.
O objetivo do artigo é levantar a situação atual da segurança do trabalho nas empresas
brasileiras e buscar soluções que signifiquem condições de melhorias.
2. A ergonomia
A ergonomia pode ser definida de forma simplificada como a adaptação do trabalho ao
homem. O trabalho, nesta definição, tem uma acepção bastante ampla. Segundo Iida (2002),
abrange não só máquinas e equipamentos utilizados, mas também toda a situação em que
ocorre o relacionamento entre o homem e o seu trabalho.
O objetivo da ergonomia é a situação de trabalho. Ela está focada na atividade de trabalho das
pessoas. A ergonomia faz uma análise das situações reais de trabalho, constatando uma
discrepância nunca anulada entre o previsto (a norma, o regulamento e a prescrição) e o real (o
efetivamente realizado). A atividade, o real do trabalho, permite revelar, de um lado, as
disfunções constantes, as panes, os erros de previsão, de projeto e, de outro lado, o esforço dos
trabalhadores para gerir essa variabilidade, no mais das vezes, empreendida num quadro
temporal e espacial rígido.
A finalidade da ergonomia, segundo Petzhold e Vidal (2003), é “a transformação para
melhorar o contexto onde a execução desta atividade ocorre e, finalmente, a própria
atividade.”
Petzhold e Vidal (2003) afirmam que a ergonomia (ou Fatores Humanos) trata da
compreensão das interações entre os seres humanos e outros elementos de um sistema. É a
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profissão que aplica teorias, princípios, dados e métodos, a projetos que visam otimizar o
bem-estar humano e a performance global dos sistemas.
A ferramenta principal da Ergonomia é a Análise Ergonômica do Trabalho (AET). O ponto
inicial de uma AET é a demanda que reflete um problema. O ergonomista é o profissional que
busca esclarecer esta demanda para propor medidas de intervenção, a fim de que o problema
seja resolvido ou, pelo menos, minimizado. A intervenção ergonômica, na concepção dos
sistemas de produção, conforme Santos et. al. (1997), em geral, acontece para solucionar duas
exigências: “a melhoria das condições de trabalho (critério de saúde) e a melhoria da eficácia
econômica do sistema produtivo (critério de produtividade)”. Para Montmollin (1990), essas
duas exigências estão interligadas e melhorar as condições de trabalho poderá significar,
igualmente, uma melhora na produção.
Formulada a demanda, o ergonomista deve conhecer as possibilidades e limites de sua
intervenção (FIALHO e SANTOS, 1997). Para isso, deve, na seqüência, estudar os aspectos
técnicos, econômicos, sociais e organizacionais da empresa. É necessário levar em conta a
idade, o tempo de serviço na profissão, o grau de escolaridade dos envolvidos. Deve-se
conhecer a tecnologia que os trabalhadores operam e considerar os fatores econômicos que
delimitarão, em partes, as soluções que serão propostas.
Na verdade, numa situação ideal, segundo Iida (2002), a ergonomia devia ser aplicada desde
as etapas iniciais do projeto de instalação de um ambiente do trabalho. Deveriam ser levados
em conta o ser humano e seus componentes. As suas características e restrições, bem como
das máquinas, deveriam se ajustar mutuamente uns aos outros. Para Kroemer e Grandjean
(2005), o trabalho deveria, ainda, considerar o potencial, as inclinações da pessoa, e oferecer
treinamento, pois assim, elas apresentariam melhor desempenho. Esta intervenção desde o
começo é chamada de ergonomia de projeto, a outra, que visa resolver problemas e, como o
mundo do trabalho está muito longe do ideal, chama-se ergonomia corretiva e é a mais
aplicada.
Na gestão de segurança do trabalho, para Santos et al (1997), quando acontece um incidente
grave, é frequente atribuir ao ser humano o “erro” ocorrido, na medida em que alguém deveria
fazer diferente algo que foi feito. Porém “esta situação condicional não permite avançar na
análise do incidente”. Se erros foram cometidos, afirma o autor, eles foram devidos à
concepção dos dispositivos técnicos e à organização do trabalho e é preciso prevenir a
ocorrência de novos incidentes.
O erro humano, segundo Decker (2003), é um julgamento feito depois que o fato acontece
para achar culpados pelo acidente. O erro humano, todavia, pode também ser visto como um
efeito ao invés de uma causa de problemas graves dentro de sistemas.
Segundo Montmollim (1990), a apresentação tão simples de erro humano, já não é aceita, hoje
em dia, em ergonomia, a análise do trabalho e, em particular a dos acidentes, leva a isolar o
erro do seu contexto específico e da sua história. Ainda, segundo Dekker (2003), a perspectiva
mais recente é chamada de “nova visão” em ergonomia, atualmente. O apoio para a nova
visão é extraído de pesquisas recentes sobre acidentes como fenômenos emergentes sem
causas claras, onde desvios se tornaram um padrão de operações normais geralmente aceitos.
Almeida e Baumecker (2004) mostram claramente a defasagem entre a velha e a nova visão,
apresentando as idéias do Professor Sidney Decker no livro “The Field Guide to human error
investigations”, onde o autor afirma que é possível fazer uma análise retrospectiva de uma
situação de acidente. A tabela 1 apresenta a velha e a nova visão da ergonomia sobre o erro
humano.
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A velha visão A nova visão


- O erro humano é a causa de acidentes. -O erro humano é sintoma de problemas
profundos do sistema.
-Para explicar falhas os investigadores devem -Não tente saber em as pessoas estavam erradas
procurar falhas para explicar falhas.
-Você deve encontrar falhas de avaliações, decisões -Procure saber como as avaliações e ações das
erradas e julgamentos inadequados das pessoas. pessoas faziam sentido para elas na hora em que
ocorreram, dadas as circunstâncias que as
cercavam.
Fonte: ALMEIDA & BAUMECKER (2004) apud DEKKER (2003)
Tabela 1 – As duas visões do “erro humano”

Além disso, as organizações revelam desordens em seus interiores não importando se elas
estão predispostas a um acidente ou não. Quando se fala em erros humanos, geralmente isto se
refere a uma desatenção ou negligência do trabalhador. Para que essa desatenção ou
negligência resulte em acidente, houve uma série de decisões que criaram as condições para
que isto acontecesse. Se essas decisões tivessem sido diferentes, essa mesma desatenção ou
negligência poderia não ter resultado em acidente. A abordagem do erro humano tem sofrido
mudanças na medida em que se compreende melhor o comportamento do homem.
Atualmente, existem dados que permitem analisá-lo melhor, para se prever o desempenho
futuro de sistemas onde haja a participação humana. O erro humano na visão da ergonomia,
está relacionado às anormalidades ergonômicas no ambiente de trabalho. Essas anormalidades
é que levam à ocorrência do que conhecemos por erros humanos. (ALMEIDA e
BAUMECKER, 2004).
A ergonomia pode ser aplicada na gestão integrada de qualidade, meio-ambiente e segurança
do trabalho. Na gestão de segurança do trabalho, de que trata este artigo, atuará na interface
homem-ambiente de trabalho, para a saúde e segurança dos trabalhadores evitando doenças e
acidentes ou diminuindo suas conseqüências.
3. A gestão de segurança do trabalho
A segurança do trabalho estuda, através de metodologias e técnicas apropriadas, as possíveis
causas de acidentes do trabalho, objetivando a prevenção de suas ocorrências. Para isso,
segundo Pacheco Jr (2000), deve realizar o planejamento e controle das condições de trabalho
existentes na empresa, através da identificação, avaliação e eliminação dos riscos existentes
no local de trabalho.
O organismo de âmbito mundial que tem a incumbência de legislar sobre proteção ao trabalho
é a Organização Internacional do Trabalho (OIT), vinculada à Organização das Nações Unidas
(ONU). O Brasil participa da OIT, sendo um de seus membros fundadores em 1919.
No Brasil a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) reuniu em um só diploma legal toda a
legislação trabalhista em 1943. O “marco zero” na prevenção de acidentes do trabalho em
nosso país é o Decreto-lei nº 7.036 de 10 de novembro de 1944, que instituiu a
obrigatoriedade de criar a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA).
A Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho
(FUNDACENTRO) é uma entidade governamental vinculada ao Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) e é considerada a maior entidade brasileira de pesquisa na área de prevenção
de acidentes do trabalho. A segurança do trabalho é regulada principalmente pelas Normas
Regulamentadoras (NRs) aprovadas pela portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978, do MTE.
Existem ainda uma infinidade de Leis e Decretos que tem por objetivo atender os requisitos
para tratar a questão de segurança e higiene do trabalho.
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A gestão de segurança do trabalho, de acordo com Araújo e Meira (2001), vem sendo tratada
com mais seriedade pelas organizações a partir do advento da busca da certificação da
qualidade pela série ISO 9000 a partir de 1994. As empresas estão descobrindo que os
sistemas de gestão de qualidade podem servir também de base para o tratamento eficaz de
questões relativas à segurança e saúde do trabalho.
Foram criadas ainda as normas internacionais BS 8800 (Guide to occupational health and
safety management systems), em 1996 e a OHSAS 18001 (Ocupational Health and Safety
Assessment Series) em 1999, especificamente para a Gestão de Saúde e Segurança do
Trabalho.
A gestão de segurança do trabalho, portanto, dispõe de farta normalização para atingir os seus
objetivos, no entanto, do confronto entre o prescrito e o real, revela-se uma situação difícil de
ser controlada em nosso país.
4. A realidade da segurança do trabalho no Brasil
Os dados de acidentes de trabalho de 2002, revelaram a ocorrência de 410.502 acidentes do
trabalho, deixando 15.029 trabalhadores incapacitados permanentemente e 2.898 óbitos
(www.fundacentro.gov.br). Esses dados mostraram que o Brasil está com uma taxa de
mortalidade por AT acima da média dos países da América Latina que ficou em 13,5/100.000,
perdendo para os países da Ásia – 23/100.000 e da África 21/100.000, segundo a OIT.
Buscando descobrir os “porquês” dessa realidade, muitos pesquisadores empreenderam
esforços de pesquisa e chegaram as seguintes conclusões:
O empresariado brasileiro trata as normas como exigência legal e acabam apenas cumprindo
os requisitos mínimos para evitar problemas com a fiscalização e a justiça do trabalho
(TOMAZ e OLIVEIRA, 2001).
Existe uma difusão de idéias no Brasil, segundo Vilela (2003), de que em última instância, o
culpado por um acidente de trabalho é o próprio acidentado. Afirma ainda que essa
consciência culposa de caráter perverso é induzida em campanhas promovidas pelos órgãos
oficiais e entidades empresariais da área e com sérias repercussões nas ações preventivas por
parte dos trabalhadores. No bojo dessa consciência culposa, “mesmo no caso de acidentes de
trabalho onde a responsabilidade da empresa é evidente, os acidentados assumem para si essa
responsabilidade, inclusive a de trabalhar em uma máquina quebrada ou sem dispositivos de
proteção.”
Para Vilela (2003), no Brasil predomina a visão reducionista e preconceituosa de que os
acidentes do trabalho têm como causa a falha humana chamada de “ato inseguro” ou como
causa uma falha de material denominada de “condição insegura”. Esta visão simplista assume
status de “teoria hegemônica de causalidade dos acidentes” e está ultrapassada há décadas em
países desenvolvidos, mas continua prevalecendo na grande maioria das empresas brasileiras.
Sobre a gestão de segurança do trabalho em nosso país, Peeters et al.(2003), afirmam que o
sistema brasileiro é baseado na proteção. Para o autor, “proteger significa etimologicamente
isolar do mal; portanto proteger o trabalhador significa resguardá-lo do mal veiculado pelo
processo técnico”, o que resulta em prejuízo se compararmos com um modelo ideal baseado
na prevenção.
O discurso por parte dos trabalhadores e empregadores é voltado para a importância da
segurança, porém, a prática mostra o contrário. A formatação das atividades de segurança do
trabalho nas organizações é normalmente legalista e/ou fatalista. São legalistas porque se
preocupam apenas com questões normativas e fatalistas porque a preocupação com o todo,
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quando ocorre, é motivado por um acidente de trabalho ou um distúrbio de produção grave,


repentino e com conseqüências imprevisíveis.
5. Os profissionais da gestão de segurança do trabalho
Os profissionais envolvidos mais diretamente com a segurança do trabalho no Brasil são
aqueles que compõem o SEESMT - Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho: o Engenheiro de Segurança do Trabalho, o Técnico de Segurança do
Trabalho, o Médico do Trabalho, o Enfermeiro do Trabalho e o Auxiliar de Enfermagem do
Trabalho.
Outros profissionais como o Terapeuta Ocupacional, o Psicólogo, o Fisioterapeuta também
são envolvidos, mas não tem uma atuação direta no chão de fábrica por não integrarem o
SEESMT.
Peeters et al. (2003), citam que os profissionais de segurança do trabalho são responsáveis,
conforme os países ou empresas, pelas seguintes tarefas:
-Gestão do orçamento;
-Acompanhamento de projetos, obras, recepção de equipamentos;
-Introdução de programas de prevenção de acidentes definidos pela empresa;
-Elaboração de procedimentos de segurança;
-Preparação e gestão de situações de crise;
-Análise de acidentes e reconhecimento de doenças profissionais;
-Participação em diferentes reuniões;
-Contatos com representantes dos vários fornecedores de equipamentos e serviços, órgãos
governamentais, fiscais do trabalho...
-Formação e treinamento dos empregados;
-Auditorias.
Peeters et al. (2003), afirmam que o modelo brasileiro se baseia no isolamento do trabalhador
das “fontes acidentárias” e não na eliminação destas fontes. Que em muitas empresas reina a
filosofia de “primeiro a produção”. Esta visão limita o gerenciamento de segurança,
atribuindo-lhe um papel secundário na organização que se manifestará pelas seguintes
características:
-Pouca atenção é dada em relação aos pequenos e frequentes incidentes no gerenciamento dos
riscos, que não são gerenciados, nem utilizados de forma preventiva.
-“Cultura da segurança reversa”, em que premia a produção máxima, frequentemente
operando em ambiente degradado.
-O governo pauta a sua atuação em uma fiscalização restrita e estática pautada em normas
técnicas específicas de máquinas e equipamentos e procedimentos frequentemente
incompletos.
-Na estrutura organizacional da maioria das empresas, as funções relacionadas à segurança são
separadas das de planejamento e controle da produção, havendo, de modo geral uma oposição
entre as funções segurança e produção.
-Devido à necessidade de redução de custos, a produção é levada a reduzir efetivos, terceirizar
setores, reduzir manutenção de peças de reposição, com conseqüências diretas sobre a
segurança.
Nas organizações é muito comum a criação de “verdadeiras ilhas” especializadas em
segurança do trabalho designadas pela sigla SEESMT – Serviço Especializado em Engenharia
de Segurança e em Medicina do Trabalho. O SEESMT toma para si, ou a organização lhes
impõe, a responsabilidade pela segurança, como se os demais setores produtivos da empresa,
não mais precisassem se preocupar com isso.
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6. Materiais e método
Esta pesquisa foi realizada, buscando no Instituto de Criminalística de Ponta Grossa-PR, casos
de acidentes de trabalho com óbitos ocorridos entre 2001 e 2004 e que foram objeto de perícia
do Instituto. Foram disponibilizados 25 laudos e, desses laudos, foram escolhidos 10 para
evitar a repetição de um mesmo tipo de acidente. Nos casos escolhidos, foi feita uma
pesquisa documental que, segundo Gil (2002) vale-se de materiais que ainda não receberam
um tratamento analítico e, apesar de não responder definitivamente o problema, proporcionam
uma melhor visão dele. Nesse intuito, os acidentes foram discutidos segundo a revisão teórica
apresentada.
7. Os casos escolhidos
Data Acidente Conclusão levantada
08/11/01 Morte de duas pessoas pela inalação de gás letal Faltou sistema de ventilação natural ou
CO e CO2 em túnel de um silo sem exaustão ou forçada que impediria a concentração de gases
ventilação adequadas. nocivos e em volumes incompatíveis e letais
ao ser humano.
24/07/01 Morte de trabalhador que foi recolocar o papel em A máquina deveria possuir mecanismos que
uma bobina com o maquinário em movimento. Foi impedissem esta ação por parte do
prensado entre as bobina de papel. Segundo o funcionário.
assistente era acostumado a fazer tal procedimento
sempre que o papel rompia e tinha 14 ano de
serviço na empresa.
14/09/01 Morte do trabalhador que foi pegar uma ripa de O funcionário não observou o contido em
uma pilha de MDF. A pilha de MDF precipitou-se placas de sinalização existentes no local como
sobre o mesmo ocasionando sua morte. “Acesso restrito ao pessoal autorizado” e “Uso
obrigatório de capacete”.
13/05/03 Morte de duas pessoas que estavam erguendo uma Ocorreu erro na montagem da torre.
torre metálica. Em dado momento, a torre acabou
se desequilibrando e caiu, provocando a morte.
22/06/04 Morte de trabalhador provocada pela queda do Falta de manutenção do sistema de elevadores.
elevador por rompimento do eixo do carretel.
21/10/02 Morte de quatro funcionários pelo colapso de Montagem sem travamento no momento
estrutura metálica de cobertura que estava sendo necessário tornou as treliças vulneráveis à
montada. As treliças não estavam intertravadas e, ação do vento.
um forte vento durante o serviço veio a desabar a
estrutura, provocando o acidente.
28/04/04 Eletrocussão em transformadores com morte do Trabalhador não observou distâncias corretas,
trabalhador. contrariando sinalização.
24/02/03 Morte do trabalhador por soterramento na valeta Falta de escoramento previsto na NR-18 no
em que estava escavando. Não estava utilizando trabalho de cavar valeta.
de escoramentos previstos em norma para as
paredes da valeta.
17/04/02 Acidente com o tombamento de um trator que Falta de treinamento para o condutor do trator.
estava subindo um aclive muito acentuado. O
trator tombou provocando a morte do trabalhador.
20/08/02 Um trabalhador estava consertando uma cobertura Falta de cumprimento da NR-18
de fibro-cimento, quando veio a cair de altura e
entrar em óbito em razão disso.

Tabela 2 – Acidentes de trabalho com óbito na região de Ponta Grossa, Pr

8. Discussão dos resultados


Os acidentes fatais aconteceram tanto em empresas sem certificação de qualidade, como em
multinacionais que têm esta certificação implantada, o que revela a necessidade de se estudar
melhor este tipo de problema.
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Verificou-se que cinco acidentes de trabalho aconteceram por condições inseguras dos
sistemas instalados como, por exemplo, o túnel sem ventilação e o rompimento do eixo do
carretel do elevador, como a falta de mecanismos que impediriam recolocar papel com
máquinas em movimento.
Outros cinco acidentes ocorreram pela tomada de decisão errada nos sistemas produtivos
como, por exemplo, a falha na montagem da estrutura metálica. Também a falta de
escoramento no trabalho de cavar valetas e, outros ainda, pela falta de treinamento na
condução do trator ou para o trabalho em altura na cobertura do barracão ou, simplesmente,
porque o trabalhador não observou determinações em placas de sinalização.
Quando analisados, os acidentes que ocorreram com conseqüências trágicas, confirmam o que
foi levantado na revisão teórica, fortalecendo a idéia de que a situação geral da realidade
brasileira apresenta-se com as seguintes características:
-Há prioridade da produção em relação à segurança;
-Premia-se a produção máxima, mesmo em ambiente degradado;
-As funções relacionadas com a segurança, quando existem, são separadas do planejamento e
controle da produção e, existe até mesmo uma oposição entre as duas;
-Devido à necessidade de reduzir custos, a produção é levada a reduzir efetivos, terceirizar
setores, reduzir manutenção de peças de reposição, com conseqüências diretas sobre a
segurança;
-A segurança é tratada apenas como exigência legal;
-Em última instância, o culpado por um acidente de trabalho é sempre o próprio acidentado;
-O nosso modelo de gestão da segurança do trabalho é baseado na “proteção” quando deveria
ser baseado na “prevenção”;
-As atividades dos profissionais do SESMT ficam distantes do chão-de-fábrica, por se
envolverem demais em atividades administrativas;
-Não se dá atenção aos relatos de incidentes junto aos trabalhadores para o gerenciamento de
riscos, atuando na forma preventiva.
9. Conclusão
No campo da gestão da segurança do trabalho, em nosso país, há muito que ser feito para
identificar e eliminar riscos de acidentes.
Atuar nas empresas diretamente sobre os maquinários e no treinamento dos operadores em
cumprimento às Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho é o primeiro passo
para resolver parte dos problemas, já que as estatísticas mostram a precariedade da situação
neste setor.
Como solução complementar, para apresentar medidas com alcance maior, deve-se aplicar
uma Análise Ergonômica do Trabalho, nas empresas onde ocorreram acidentes de trabalho,
para levantar anormalidades ergonômicas e, trabalhar com ações corretivas, preventivas e
preditivas para serem eliminadas as fontes causadores de acidentes.
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