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Joel Barbujiani Sigolo prt yea te eet @ uem nunea sentiu © impacto de miniscu- las particulas de areia carregadas pelo vento forte ao caminhar em uma praia? Esse é 0 mais, simples exemplo de deslocamento de particulas em fungdo da ago do vento e conhecida como ago eélica, Hsta atividade estd associada & dindmica ex- terna terrestre’e modela a superficie da Terra, particularmente, nas regides dos desertos. © movimento das massas de ar representa mais, um dos fenémenos dinimicos importantes obser- vados no planeta e pode ter intensidade muito variavel, Preqiientemente, sao noticiados aa impren- sa deslocamentos de ar catastrdficos furacdes ¢ tornados com seus efeitos devastadores a superficie da Terra associados a Célula boreal dos latitudes meédioe Célule equeterio! bereo! de Hadley Céluls equatorial usta de Hedley Célue borecl das lattudes medion Através desses fenémenos atmosféricos, parti- culas de areia e pocira podem ser transportadas por milhares de quilémetros. Com a diminvis gia de movimento das massas de ar, as particula carregadas depositam-se em diversos ambientes terrestres, desde continentais até oceinicos, pa do a participar de outros processos da dinimi externa, Nas dreas continentais, estas particulas de- positam-se sobre todas as superficies desde as montanhas até as planicies. A atividade edlica re~ presenta assim um conjunto de fendmenos de erosio, transporte e sedimentacio promovidos pelo vento, Os materiais movimentados © depositados nesse proceso si denominados sedimentos eélicos. in Célvis pater bore Fig. 12.1 Modelo simplificado do circulacdo otmosférica resultante dos diferencos de oquecimento entre as regides de latitudes baixas e altos e do rolagdo terresive Campo de dunas, ha Caju, Delta do Pornaiba, MA. Foto: R. Linsher. Processos Eoucos 9249 Capituto 12 Fig. 12.2 Distibuicao dos principais éreas desérticos (em omarelo) na Terra O deslocamento das massas de ar, formando os ventos, é fruto de diferengas de temperatura e, por- tanto, de densidade, nessas massas de at. Essas diferengas sio geradas pela maior ou menor incidén- cia de energia solar sobre a superficie do planeta em fungio da latitude € da estagio do ano e pela diferen- ca do albedo. Fste termo diz respeito 4 proporgio entre a energia solar refletida e a energia solar incidlen- te, revelando, assim, a capacidade de absorgio da energia solar dos materiais terrestres (florestas, tios, lagos, desertos, oceanos e geleiras continental). © aquecimento mais intenso das zonas equatoriais em relacio as zonas polares origina lenta circulacio geral das massas de ar. Cada hemisfério apresenta tés células de circulacio (Fig. 12.1). O ar ascendente no Equador ¢ nas latitudes 60” N € § forma zonas de baixa pressio, enquanto o ar descendente nas laticudes de cerca de 30° Ne S e nos pélos gera as zonas de alta pressio, Deste modo, as massas de ar fluem das zo- nas de alta pressio (de tendéncia descendente) para as de baixa pressio (de tendéncia ascendente), Devido a forca de Coriolis resultante da rotagio terrestre, esses movimentos produzem rotagdes voltadas em geral para a direita (de oeste para leste) no hemisfério Nor- te, € para a esquerda (de leste para oeste) no hemisfério Sul. A essas tos dominantes para cada hemisfério: os aliscos das latitudes intertropicais, os ventos de oeste das latitudes lulas correspondem trés sistemas de ven- médias ¢ os ventos de leste das regides polares. Esse esquema relativamente simples complica-se na pritica devido as interacdes desses ventos com os oceanos, clevagdes terrestres ¢ turbuléncias atmos- fericas temporarias, As regides do planeta mais sujeitas & atividade edlica s80 os denominados desertos absolutos ~ regides na ‘Terra onde inexiste Agua em estado liquide. Exemplos dese tipo de deserto situam-se no Continente Antir- tico € na Groenlindia, onde a agua se encontra no estado sélido sob a forma de sim, ne de areia ¢ de poeira, Porém, os desertos mais conheci- dos compreendem imensas freas de precipitagio anual ‘muito baixa (ou mesmo inexistente), com clevado gra io de ventos. As drcas desérticas mais expressivas no planeta sio o Saara na Africa, Atacama no Chile, Gobi na Mongolia ¢ China, Arabia, sudoeste dos Estados Unidos e a parte central da Australia Figura 12.2). Fssas regides desérticas muito quentes eostumam localizar-se nas baixas latitudes (6 tre 30, de latitude norte e 307, de latitude sul). Nesses oeais, de modo geral, os processos de porte ¢ sedimentagio de materiais sio comandados pela agio dos ventos, a nio ser nas at pouco freqiientes, em que as particulas encontram-se umedecidas e, portanto, mais coesas. essas massas de gelo s desertos quase nio existem grios de evaporagio € intensa atua erosio, trans ou nos periods, pi Te TY Nessas reas desérticas observam-se regides co: pertas de arcia cuja magnitude permite defini-las como mares de areia. Boa parte dessas regides encontra-se submetida 4 aco dos ventos, que desloca redeposita grandes quantidades de areia ao sabor das direcdes >refierenciais dos ventos mais fortes, Por exemplo, em. 1901 fortes ventos do Sara transportaram mais de 4 milhdes de toneladas de areia ¢ poeira, depositando este material sobre 1,5 milhaio de quil6metros quadra dos da Fu 1pa. Outro exemplo € observado nos navios passa proximo a regiiio de Cabo Verde no oeste da Africa, recebendo em seus conveses freqtien: tes “chuvas” de areia e poeira provenientes do Saara, a mais de 1.500 km de distancia, Esse fenmeno de transporte e sedimentagio ocorre cotidianamente nas areas costeiras do planeta ¢ nto somente nos desertos absolutos. E, sempre comanda do por ventos fortes decorrentes, em itima anilise das diferengas de albedo € de troca de calor entre © mar, 0 continente € a atmosfera. Como nas areas esérticas, esse Fendmeno gera dunas, com intimeros excmplos no litoral brasileiro, desde © Sul (Laguna, a dos Patos, Floriandpolis, Garopaba, etc) até 0 ‘ortaleza, Salvador, Recife, etc De wgentes modeladores da superficie terrestre, menos efetive, Muitas das formas erosivas Dbservadas em areas desérticas so creditadas errone amente 20 vento, quando na realidade, sua origem esta ligada 4 atividade da agua corrente (Cap. 10). No en: tanto, dentro do Sistema Solar, verifiea-se que em Marte © vento é 0 agente mais importante na construgio € m em sua superficie, face & exis téncia de uma atmosfera muito rarefeita e & absoluta auséncia de agua, Tabela 12.1 Didmetro maximo de particulas movimentadas pelo vento, para particulas de quartzo (Peso especifico= 2,65 g/cm’). ane do vento (km/h) " 0,25 2 075 a7 10 furaceo 10 Neste capitulo sio descritos os mecanismos de trans porte realizados pela atividade eilica e suas feigdes erosivas € deposicionais. Sio descritos também os principais re gistros secimentares produzidos por essa atividade © sua importineia no contexto historieo terrestre 12.1 Os Mecanismos de Transporte Sedimentagao 12.1.1 O movimento das massas de ar (© movimento das massas de ar que funciona como mecanismo de redistribui¢io da energia solar na at mosfera representa a fonte da maior ou menor capacidade para deslocar particulas. Quanto maior for a velocidade da massa de at, maior capacidade de trans porte ela possuira (Tabela 12.1). Por outro lado, antepatos naturais € artificiais como florestas, eleva des ¢ edificagdes podem reduzir a velocidade dessas massas, diminuindo, portanto, sua capacidade de trans portar particulas. Por exemplo, a Cadeia Andina, com altitude média de 4.000 m e quase 8.000 km de exten so, € um anteparo natural importante, interferindo com as massas de ar frio provenientes da Antirtica. Dependendo da direcio do movimento da massa de ar ¢ de sua interagao com a Cadeia Andina, essas mas sas sio conduzidas para 0 Oceano Pacifico ou Oceano wa América dda Sul Atlintien on para o inn Tabela 12.2 Classificacdo Beaufort dos tipos de vento baseada em sua velocidade de deslocamento. Vento 1, Colmeria 15 2. Aragem leve 15061 3. Briso leve 61011, 4. Vento suave 1110172 5. Verto moderado 17,2.024,1 6 .Vento médio 24,10 31,6 7.Nento forte 31,6385 8. Vento fortissimo 38,5 0464 9. Ventania forte 46,40 55,4 10. Ventana fortissima 554.0648 11. Furecto 64,8 (elguns com mois de 150 km/h) Coe PM red ee \ proximidade do vento 4 superficie terrestre também influi em sua velocidade devido ao atrito cla massa do ar com os obsticulos presentes (vege tacio, construgées, relevo acidentado, etc.). Assim, a velocidade do vento aumenta com 0 afas da superficie, porém a partir de determinada alti tude, que depende das condigdes locais, ela nao mais, amento se modifica significativamente, A Fig, 12.3 exibe a variagao da velocidade das massas de ar com a al- titude © a Tabela 12.2 a classificagio de ventos de acordo com sua velocidad 40 20 3 2 3 3 to an) ° 5 1001520 Distancia de solo (m) Fig. 12.3. Voriag distancia do solo. do velocidade do vento em fungdo do As massas de ar deslocam-se segundo dois tipos principais de fluso: fluxo turbulento © fluxo laminar (Fig. 12.4), Distante da superficie terrestre ou de barreiras, mais laminar € @ movimento da massa de ar. O fluxo do ar seri predominantemen: te turbulento quanto mais proximo da superficie ou de barreiras. No entanto, a atividade geoldgiea mais comum dos ventos resulta quase sempre des se fluxo turbulento. 12.1.2. O movimento das particulas ‘Transporte de poeira Particul mm de diimetto sio menores que 0 consideradas pocira, compreendendo as fragdes de arcia muito fina, site ¢ argila de Wentworth (Caps. 9 ¢ 14), Sao as menores rages trabalhadas pelos agentes de transporte mecinico em geral e representam o maior volume de material trans sseala granulométrica portado e depositado pelos processos edlicos. Quando removidas de seu local de origem, essas particulas podem permanecer em suspensio em fungi do fl Fig. 12.4 Deslocamento das mostas de or por fluxo turbu: lento (acimo} e por fluxe laminar [abeixo) x0 turbulento € da velocidade da massa de ar por lon gos periodos de tempo e assim serem tranyportadas por grandes distincias. Nessa situagio diz-se que as pparticulas estio em suspensio edlica (Fig, 12.5). Par ticulas ¢ obsticulos maiores apresentam resistencia vento, gerando intensa turbuléncia em seu entorno € promovendo a deposigio das particulas em suspensio pouco apos o obstaculo, Fig, 12.5 Deslocamento de poriculas de poeira por suspensio, Py ee eat ee | ‘Transporte de arcia As particulas maiores que a poeira — areia fina a ‘muito grossa (didimetros entre (),125mm e 2mm) — sofrem transporte mais limitado. Para uma me: velocidade de vento, quanto maior a particula, menor seri o seu deslocamento. A colisio de particulas em deslocamento com grios na superficie promove o seu deslocamento muitas vezes por meio de pequenos saltos. O movimento da areia por esse processo de- nomina-se saltagao (Fig. 126). As particulas edlicas do tamanho de areia sio par- ticularmente importantes, pois constituem diferentes feigdes morfoldgicas, das quais as dunas so, sem di- Vida, as mais importantes acumulagdes de areia em fieas desétticas © mesmo em muitas areas litorineas, A agao eélica também condiciona a organizagio dos iris de areia, produzindo estruturas sedimentares co- nhecidas como mareas onduladas e estratificagao cruzada. Feigdes como dunas € certos tipos de mar. s onduladas ¢ de estratificagio cruzada, quando presery, déneias int los no registro geol6gico, representam evi iveis de atividade edtica no passado, permitindo muitas vezes a reconstituigio do ceniio paleoambiental ¢ paleogeogrifico do local ‘Transporte de particulas maiores Como indica a Fig. 12.6, a colisio de particulas em deslocamento, além de causar fragmentagio e despas- te, pode induzir o movimento de particulas encontradas ‘na superficie do solo, Particulas de diametro superior 0,5 mm (aseia gros: seixos) comumente se deslocam por esse processo, chamado atrasto. Transporte por arrasto é pouco sig , areia muito grossa, grinulos € nificativo e bem mais restrito do que o ansporte de pocita e de areias menores por saltaci devido ao peso das particulas maiores © a0 atrto en- © Suspensio tre clas e 0 substrato (Fig. 127) 12.2. Registros Produzidos pelo Vento A acio do vento fica registrada tanto nas form hados pela evo como nos fragmentos trab: célica, seja de forma destrutiva (erosio) ou de forma construtiva (sedimentacio). 12.2.1 Registros erosivos Deflagio e abrasao esilic: erosivos da atividade e6lica. Na deflagio, a remogio de areia ¢ poeira da superficie pode produzir depres sbes no deserto chamadas bacias de deflag2o, podendo chegar a niveis mais baixos do que o nivel do mar. Deflagio também pode produzir os chamados pavimen- 108 desérticos, caracterizados por extensas superficies exibindo cascalho ou 0 substraty rochoso, expostas pela remogio dos sedimentos finos. (Fig, 12.8). Se o nivel topogritico no deserto € rebaixado por esse me até atingir a zona subsaturada ou saturada em dua, po dem formar se os oasis (Fig, 12.9 » 08 dois processos Por causa dos constantes impactos de diferentes particulas em movimento (areia fina, m ‘mo grossa) entre si ¢ com materiais estacionados, geralmente maiores (seixos, blocos, etc), ocorte inten: So processo de desgaste e polimento de todos esses materiais, denominado abrasio edliea. [2 importante ressaltar que 0 vento isoladamente no produz qual quer efeito abrasive sobre materiais rochosos. Apenas 12.6 Impacto de grdos cousande deslacamenta de par: ticulas de areie por sltacéo Fig. 12.7 Deslocamento de pariculas por sakacéo e por Capituto 12 * Processos Eéucos +253 quando transporta areia e poeira é que exerce papel erosivo, A abeasio produ: zida pelo vento assemelha-se ao processo de “Jateamento ¢ polimento com areia”, utilizado na industria para limpar, polir ou decorar diversos obje- tos. Por isso, as superficies dos get tendem a adquirir brilho fosco, uma feicio crosiva especifica do vento, bem distinto do aspecto brilhante que resul ta do polimento de materiais em ambiente aquitico. De modo anélogo sio formados por abrasio os ventifactos, os yardangs ¢ as super Povimento desérlco nto Deserto de Alocoma, Cordilheira dos ficies polidas. Fig. 128 10 desée Andes. Foto: C. C. G. Testinari Os ventifactos sao seixos que apre- sentam duas ou mais faces planas desenvolvidas pela agio da abrasio eslica, O vento carregado de particulas erode uma face do seixo (Fig, 12.10a), forman do uma superficie plana e polida voltada para o vento (Fig, 12.10b). A turbulén- cia gerada do lado oposto da face polida remove parte da areia, tornando 0 sei- xo instével (Fig, 12.10b). Com isso, 0 scixo se inclina, expondo nova face & abrasio eélica (Figs. 12.10c e d). Os ventifactos so tipicos de desertos como Atacama, Taklimakan (China), Sara e Antartica (Fig, 12.11), Fig. 12.9 isis no deserto de Atacoma, Cordilheita dos Andes. Foto: C. C. G. Tassinar Fig.12.10 topos de formagéo de um ventfacto, 254 DectFRANDO A TERRA A acio erosiva do vento produz outras formas de registro como os yardangs que se assemelham a cas cos de barcos virados, formados pela acio abrasiva csliea sobre materiais relativamente frigeis como se dimemtos € rochas sedimentares pouco consolidados. Representam formas de abrasto importantes em di feremtes areas desérticas tais como a Bacia do Lut no sudoeste do Ira, Taklimakan na China e Atacama no Chile, Tais formas de absrasio edlica encontram-se res tritas yeralmente 4 poredo mais arida dos desertos onde ha pouca vegetacio ¢ o solo é praticamente inexistente No Brasil, embora os ventifactos sejam raros, ou- tras formas erosivas sio encontradas, muitas delas conjugadas a tividade pluvial. Quando assim ocor Fig.12.11 Vantifacto proveniente do Dry Valleys, Antértica, coletado por A. C. Rocha Campos. Foto: C. Juliani rem, as agdes erosivas edlica € pluvial podem produ. zir formas especificas no relevo como, por exemplo, Subgrupo Itararé em Vila Velha, Parand. Ali, as chuvas tendem a erodir, preferencialmente, as porgies angilosas desses arenitos, tornando o conjun to muito mais fridvel e susectivel & abrasio pelo vento, gerando formas variadas, similares a cilices, tartaru gas, garrafas etc. Pig, 12.12 Em outro exemplo, no Parque de Sete Cidades, Piaui, a composigio da rocha ¢ as condigdes elimati cas também sao fatores importantes na singular fol das rochas areniticas desse local (Fig, 12.13) Neste caso, as tochas exibem maior resisté erosiva por haver cimentacio mais resistente (sfliea Assim sendo, a acio erosiva pluvial e eélica é menos efetiva do que em Vila Velha. 12.2.2, Registros deposicionais O transporte € a posterior deposigio de particulas pelo vento formam repistros g sl6gicos peculiares que sio testemunhos desse tipo de atividade no. passado. Os principais registros edlicos deste tipo so as dunas, os mares de areia ¢ os depésitos de loess. Dunas Dentre as diversas formas de deposigiio de sedimen tos edlicos amais destacam-se as dunas, Associam-se a elas feigies sedimentares tais como estratificagio cru zada (Fig, 12.14) ¢ marcas onduladas que, no entanto, nto sio exclusivas de construcdes sedimentares eclicas Existem duas principais classificacdes para dunas: uma considerando seu aspecto como parte do relevo morfologia) ¢ a outra considerando a forma pela qual 8 geios de arcia se dispdem em seu interior (estrutu A classificacio baseada na estrutura interna das dunas Jeva em consideragio a sua dinimica de formagio, sen do reconhecidos dois tipos: as du migratorias, estacionarias © as Fig. 12.12 Arenitos do ugagao da acéo edlica e pluvial em Vilo Ve 2, Parand, Foto: Faustino Penalva Caprituto 12 * Processos Eéuicos 255 Fig. 12.13 Feicaes de erosao edlica e pluvial em arenite no Porque de Sete Cidades (P). Foto: | D. Wahnried. Dunas estaciondrias (ou estat ) Na construgio da dui os geios de arcia (geral- mente quartz) vio se agrupando de acordo com © sentido preferencial do vento, formando acumulagdes, xgeralmente assimétrieas, que podem atingir varias cen: tenas de metros de altura € muitos quilémetros de comprimento, A parte da duna que recebe o vento (barlavento) possui inclinagio baixa, de 5. 15° nor malmente, enquanto a outra face (sotavento), protegida do vento, é bem mais ingreme, com inclina- ho de 20 a 35 ig, 12.15). Essa assimetria resulta da atuacio da gravidade sobre a pilha erescente de arci solta, Quando os flancos da pilla excedem um deter minado fingulo (entre 20 ¢ 35°, dependendo do geau s particulas) a forca da gravidade supera o iingulo de atrito entre os grios e, em vez de se acumularem no flanco da duna, os grios rolam de- lve abaixo ¢ o flanco tende a desmoronar, até atingir um perfil estivel. O angulo maximo do flanco de uma pitha de material solto estavel se chama fingulo de te pouso, Uma vez que dificilmente 0 flanco barlavento Fig. 12.14 Estrotficacdo cruzoda em dunes do litoral de Natal [RN). Foto: J. B. Sigolo, suipera esse fingul, ustamente por causa do seu constan: te retrabalhamento pelo vento, esse fendmeno ¢ praticamente restrito a0 flanco sotavento, dai a razio de sua inclinagio maior, prosima ao angulo de repouso. Nas dunas estacionérias a arcia deposita-se em ca madas que acompanham o perfil da duna, Deste modo, sucessivas camadas vio se depositando sobre 11 superficie do terreno com o soprar do vento carte gado de particulas, partindo de barlavento em diecio a.sotavento, eriando uma estrutura interna estratificada, Embora a sotavento da duna ocorra forte turbuléncia getada pela passagem do vento, os gros de arcia per manecem agregados aos estratos em formacia, o que tende a impedir o movimento da duna, Pstas dunas fica imaveis por diversos fatores, tais como aumen to de umidade, que aglutina os grios pela tensio superficial da agua, obsticulos internos (blocos de ro cha, troneos, etc.) ou desenvolvimento de vegetacio, associada & duna. BARLAVENO Fig. 12.15 Forme: 518) sao estruture inteme de wmo dona esiacionario (os én: 1s do barloventoe sotavento foram exe: gerados) pS) ae ee 2 Y Dunas migratorias A semelhanga das dunas es- tacionarias, 0 transporte dos ros nas dunas migratorias se gue inicialmente o angulo do barlavento, depositando-se, em seguida, no sotavento, onde ha forte turbuléncia (Fig. 12.16). Desta forma os geios na base = do barlavento migram pelo -7~ perfil da duna até o sotavento, Fig. 12.16 Formacao e estruture intesna de uma duna migratéria (os éngulos do bara Tsto gern uma estrutura interna _vervoe sotovento foram exagerados), de leitos com mergulho proxi mo da inclinagao do sotavento, Esse deslocamento continuo causa a migragio de todo o corpo da duna, A migracio de dunas ocasiona problemas de soterramento € de assoreamento nas zonas litorineas do Brasil, exigindo dragagem continua para minimizar © tisco a0 trafego de navios, como ocorre no porto de Natal, Rio Grande do Norte, ¢ na Lagoa dos Pa- tos, Rio Grande do Sul. Em Laguna, Santa Catarina, por excmplo, dunas migeatérias, algumas com de: nas dle metros de altura, invadiram e soterraram virias casas de verancio (Fig, 12.17). Kim eidades como For: taleza, Recife, Maceié e outeas da costa do Nordeste, sio comuns problemas similares, em decorréncia dos ventos perpendiculares 4 linha de costa. Ventos domi: nantes vindos de sudeste formam, desse modo, enormes campos de dunas migratérias que se deslo- cam ao longo da costa até encontrarem obsticulos como casat, fazendas, rodovias, ferrovias, lagos, ete. (Fig, 12.18). Esse fendmeno pode também desviar 0 curso natural de rios proximos a costa. Diferentes tée- tentativa de imobilizar dunas nicas sto utilizadas n Se ee, ae ee Fig. 12.17 Invosto de casas por dunas migratérias ne re gido de Laguna (SC). Foto: 8 C. F. Giannini ‘© momento tem sido. migeatérias. A mais eficiente a © plantio de vegetacdo psamofitica (que se desenvol ve bem no solo arenoso) ou de certas gramineas na base da duna, a barlavento. Com isso 0 deslocamen: to dos grios € impedido © a duna torna-se cestacionaria (Fig, 12.19), A classificagiio de dunas baseada em sua morfologia inclui grande variedade de termos deseritivos refletin- do a diversidade de formas identificadas nos desertos © em regides costeiras, cada qual com estrutura interna © externa proprias, sujcitas a modificagio pela acio dos ventos. ‘Trés parimetros determinam a morfologia dle uma duna: a) a velocidade € variagaio do rumo do vento predominante; b) as caracteristicas da superficie per corrida pelas atcias transportadas pelo vento &, ¢) a quantidade de areia disponivel para a formacio das dunas. As formas de dunas mais comuns sio dunas transversais, barcanas, parabolicas, estrela ¢ longi- tudinais, Dunas transversais ‘A formagio deste tipo de duna é condicionada por ventos freqiientes € de direcio constante, bem como pelo suprimento continuo ¢ abundante de areia para sua construcdo. AAs regides litorineas constituem ambiente propicio para a formagio das dunas trans- versais, com ventos adequados aliando velocidade constante ¢ abundancia de grios de arcia. A denomi nagio de transversal provém da sua orientacio perpendicular ao sentido preferencial do vento, Em desertos, © conjunto destas dunas costumam formar os chamados mares de arcia, caracterizados por coli nas sinuosas, grossciramente paralelas entre si, Capituto 12 * Processos Eoucos 257 a Fig. 12.18 Lago entre dunos no campo de dunas de Noto! (RN) (direcdo preterencial do vento da esquerda pare a drei), Foto: 1.8. Sigolo. lembrando @ morfologia revolta do oceano durante uma tempestade (Fig, 12.20). Nas ire apresentar peg tnhecidos ao norte do Espirito Santo, no sul do Estado da Bahia © ao longo de toda a costa do Nordeste os campos de dunas podem nos lagos de agua doce, bastante co- \S costein Dunas transversais so também encontradas em am bientes fluviais como na IIha do Caju, no delta do rio Parnaiba, Maranbio (Fig, 12.21), Fig. 12.20 Campo de dunas transversais (direcdo prelerencial do vento da dire para a esquerdo). Iho do Cajy, delta do rio Parnaiba (MA). Foto: R. Linsker Fig. 12.19 Método de contengio de duna migratoria com uilizagdo de plano de vegetaco aproprioda pora conter a mmigracéo dos gréos (direcéo preferencial do vento da esquver do pare « diriia). Restingo da Lagoa dos Patos (RS). Foto: Zig Koch. Muitos campos de dunas desse tipo também exi bem marcas onduladas abundantes (Fig. 12.21), produzidas pelo deslocamento dos grios de rasto c saltago. Por causa de a prin: cipalmente por assimettia, essa feigao permite determinar © sentido, do vento predominante que a formou (do barlavento, para o sotavento), ‘Dunas barcanas Desenvolvem-se em ambientes de ventos mode: rados ¢ fornecimento de arcia limitado. Como resultado, este tipo de duna assume forma de meia lua ou lua crescente com suas extremidades voltadas: ‘no mesmo sentido do vento. (Fig, 12. aio formam campos continuos € tendem a ser pe- Fig. 12.21 Pequeno lago represado por duna transversol exibindo mar cas onduladas (direcéo preferencial do vento do dire para a esquerda} Campo de dunas dos Lengéis Maranhenses (MA). Foto: |. D. Wohnfried. ri ee Sate eee ae Fig. 12.22 Duna borcane no lado direito do campo de dunas associada @ cadeias bercandides (diregdo preferencial do vento da quenas, no superando 50 m de altura ¢ 350 m de largura. No Brasil, estas formas si relativamente ra (0 limita o as, Porém no litoral, onde a vegetac fornecimento de areia, formam-se cadeias de dunas similares as bareanas, que recebem o nome de cadei- as barcandides. Estas diferem das barcanas por ocorrerem unidas, tais como os exemplos no litoral atarina, ilustrados na Fig, 12.23 de Laguna, Santa bei d Fig.12.23 Codeias barcandides em Laguna (SC). Foto: PC. F.Gieninni Fig. 12.24 a} Dunas parabélicas, formadas pela destrvicdo de uma duna transver. sal; b) Dunas estrelo diteita para.a esquerde). ihe do Cajy, delie do Pamaibe (MA. Foto:R. Linsker Dunas parabélicas Embora semelhantes is dunas barcanas, as dunas pa rabiilicas diferem dessas pela curvatura das extremicades, ‘que & mais fechada, assemelhando-se letra U com suas cextremidades voltadas no sentido contririo do vento (Fig, 12.242). Formam-se em negides de ventos fortes © cons tantes com suprimento de areia superior ao das areas de barcanas, S40 pouco comuns na América do Sul, imitan do-se as zonas litorineas, Nestas regides, a vegetacio costeira € importante no controle ¢ evolucio da constr cio deste tipo de duna, por ser o parimetro que limita 0 fornecimento de areia. Dunas estrela Esstas dunas sio tipicas dos desertos da Aribia Saudita Nio sio conhecidas na América do Sul, Sua formacio esta dire € de parte dos desertos do Norte da Afri tamente relacionada A existéncia de areia abondante e a ventos de intensidade e velocidade constantes, mas com freqiientes variagdes na sua direcio (pelo menos trés di regies). O resultado & uma duna eujas eristas lembram os raios de uma estrela (Fig, 12.240). Dunas longitudinais Também siio conhecidas como du nas do tipo seif, do arabe, descritas originalmente no deserto da Aribia (Fig, 12.25). Formam-se em regides com abundante fornecimento de area e ven tos fortes ¢ de sentido constante no ambiente des rico ou em campos de unas litoriness, Podem atingir dezenas de quilémetros de comprimento e mais Capituco 12 * ProcessosEoucos 259 Fig. 12.25 Dunas longitudinois na tha do Caju, delta do Paraiba (MA). Observar as zonas de desmoronamento associ das a marcas onduladas. Foto: R. Linsker de 200 m de altura, Him muitos easos esse tipo de duna s morfoligicas similares a “condées de arcia”. Contudo, em menor escals, corddes semelhantes, produz fei podem também formar-se pela atividade Aaval Mares de areia Este termo é empregado em des os para grandes fireas cobertas de areia, a exemplo da Arabia Saudita, com cerca de 1,004,000 kry’ da superficie atualmente coberta por arcia, Giganteseas ‘ireas com dunas tam- bém ocorrem na Austrilia e Asia, As extensas coberturas de arcia no Norte da Africa sio conhecidas como engs. 12.3 Depésitos Eélicos Importantes na Hist6ria Geolégica do Planeta Loess Um dos mais importantes exemplos de sedimenta- elo célica no registro geol6gico consiste de sedimentos muito finos (silte © argila), homogéneos € friéveis, ‘comumente amarelados, denominados Joess, do alemio. Depéisitos de loess foram descritos pela primeira vez no nordeste da China, onde atingem mais de 150m de es pessura, embort em média apresentem espessuras em toro de 30 m. © loess é constituido de diversos mine- ais (quartzo, feldspato, anfib6lio, mica, argila € alguns carbonatos) ¢ fragmentos de rocha pouco alterade Ocorréncias muito exp vas de loess afloram na Suropae E.ULA, Mongélia central, China, Parte importante desses sedimentos ¢ originada pela » erosiva glacial (Cap. 11) que produz sedimentos muito finos posteriormente transportados pelo vento © depositados sobre vastas gides. 12.4 Caracteristicas Mineralégicas e Fisicas dos Sedimentos Eélicos Os sedimentos associados as atividdades edlicas com: pOcm-se quase que exclusivamente de pequenos grios de quartzo, sendo, portanto, monominerilicos, Fsta ex racteristica esti ligada A abundiineia des rochas comuns da crosta continental (Cap. 2) © a sua alteragio intempérica (Cap. 8). Hi casos importantes, evidentemente, dat avorréncia de ou: ‘mineral nas grande resist t2os mineras em depositos edlicos, como nos depésitos de loess, ji comentados [As caracteristicas ipicas de sedimentos edlicos si facilmente observadas com uma Iupa de mio, Os im- pactos constantes entre 0 gros no ambiente atmostérico prodazem brilho fosco da superficie, morfologia arre dondada e alta esferieidade dos gros. O aspecto fosco das particulas decorre da difusio da luz causada pelas mintisculas marcas de impacto deisadas nas superficies dos gtiios ¢ difere do aspecto brilhante provocado pelo desgaste durante 0 transporte em ambiente aquitico vis to que a dgua, por ser muito mais densa que o ar, amortece a forea dos choques entre 08 grios. Os mesmos impactos que provocam o polimento fosco das superficies também quebram os gaiios € suas iredondando as particulas, No caso do quartzo, mineral dominante nos sedimentos arestas, diminuindo eélicos, este processo aproxima os grios da forma esfé rica, jd que este mineral nio possui clivagem €, portanto, rio apresenta planos preferenciais de quebya Alem disso, depdsitos de origem eélica exibem ele- vada sele¢io geanulométrica como outra earacteristica peculiar. Pequenas variagdes na velocidade do vento au ‘mentam ou diminuem sua capacidade de transporte, restringindo © tamanho dos grios de forma mais efici- ente que 0 meio aqqustico, no qual a maior viscosidade da gua atenua as conseqiiéncias das variagdes de velocidad. 12.5 Registros Sedimentares Eélicos Antigos Feigdes caracteristens da aio eslea poclem set recone cidas cm sedimentos antigos € rochas sedimentares, permitindo a reconstiuigao de diferentes palcoambientes ilicos Por exemplo, a identificacio em sedimentos antigos dle eseruturas interas ¢ extemas tipicas das dunas atuais, tas como estratficagées cruzadas, marcas onduladas, barlaven- to € soravento, permite © reconhecimento dle uma duna féssil. Através da analse da orientagio dhs faces barlavento e pl eee ny sotavemto em dunas fisseis, € possivel identifiear 6 sentide preferencial do vento 1a época de sua formagia Registros eilcos si reconheciveis na hiswira peollgh ca de muitas regides do Brasil. No interior do Estado do Rio Grande do Sul, espessas camadas de arenitos, ampla- "mente expostas em corres das odovias, so testemunhos Leituras recomendadas CARON, }. M., GAUTHIER, A, SCHAAR, A, ULYSSE, J.& WOZNIAK, |. Conprentie dt Ensign La Planck Tere. Pasis: Ophrys, 1989. CORDANI, U. G. & SIGOLO, J. B. Composicao, de ambientes desértieos diversos durante boa parte da era perten- centes 20 mesmo ambiente que dominou a regio da Bacia ‘struturainternae geologia de Marte: In: Massambani, (0. & Mantovani, M. (eds), Mare Nas Desobertas, ‘So Paulo: LA.G., 1997, HAMBLIN, K.. The Earth Dynamic Syston: A Texthok in Physical Geolag. New York: MacMillan, 1989, ui, Paraguai ¢ Argentina, PRESS, F & SIEVER RU ithe Et, New Yorks WH, Freeman, 1996, SKINNER, B }. & PORTER, S. C.. Te Dynamic Earth Now Yorks Wiley & Sons , 1995. Mesozéica (Figura 12.26). Registros semelhantes do Parant so observados em virias formacdes geoligh cas de outros Estados brisieiros (Sao Paulo, Santa Catarina, Paransi, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Mato Gros. so), estendendo-se para o Uru Fig.12.26 Duno foil na Formacéo Camaqué. Perl na esta da Santana da Boa Visto: Cacapava do Sul (RS), Foto: R. Machado. 12.1 Desertificagao Embora 0 nome seja sugestivo, o termo desertificagio no retrata de forma especifica os eventos dinimicos dos desertos da superficie da ‘Terta, Sabe-se que a formagio dos desertos atuais envolveu miiplos fatores peol6gicos € climaticos atuando durante longos perfodos de tempo. Neste processo, continentes migraram para regides de clima seco, comuns em zonss de baixa latitude e de alta pressio atmosférica. Fste deslocamento continental expos rochas € outros materiais superficiais a condicdes especiais de clima, dominadas pelos processos edlicos. Durante sa ‘evolugio, uma Area desértica expande-se ou retrai-se quase exclusivamente em fungio de flutuagdes climiticas ciclicas, De modo geral, as éreas desérticas naturais (sem influéncia direta da atividade humana) fazem divisa com regides de maior umidade c, conseqiientemente, de maior desenvolvimento da vegetagio que inibe a expansio do deserto, Atualmente, quase sempre as margens das Areas desérticas desenvolve-se atividade humana, a qual pode acelerara expansio da area desértica, ou seja a desertficacao, Fim regides nao desérticas, especialmente nos ecossisternas mais delicados frigeis, a atividade humana pode aumentar a aridez local e levar, eventualmente, 4 desertifieagio regional. Isto aconteceu nos EUA na década de 1930 como resultado de priticas agricolas ecologicamente agressivas que deixaram solo exposto 4 dissecacZo. Milhdes de toneladas de solos férteis foram erodidas pelo vento redistribuidas pelo centro-oeste norte-americano em terriveis tempestades de poeira earcia, No Brasil, odesmatamento desordenado, a queima constante da madeira ¢ mesmo as inadequadas priticas agropecuarias nas zonas de fronteiras agricolas, como na Amazonia meridional, expoem o solo € seus constituintes, como a matéria orginica, & ripida degradagio fi cxistente, Este fendmeno também tem recebido o nome de desertificagao porque desequilibra o delicado balango entre nutrientes, umidade ¢ solos existentes nessas regides, provocando modificagdes ecoldgicas imeparivels que culminam em mudancas cliniticas, passando de semi-timido para érido com incrivel velocidade. © quimica, reduzindo as condigées de plantio ¢ criando situagdes de estresse no ecossistema

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