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Aula Inaugural

Município de Esteio

Professoras(es) da modalidade EJA

         Cumprindo um protocolo de apresentação, a professora Aline Lemos da Cunha chama a


atenção sobre a “turma do fundão” que tanto se vê nas escolas e que, por ironia, se repetia no
dia do encontro, fazendo @s professoras(es) pensarem sobre como se portam quando estão na
condição de alunos. Fala um pouco sobre suas vivências, principalmente o fato de ser mulher,
filha de mãe branca e pai negro, o que gerava um conflito quanto ao seu pertencimento étnico
pela exigência familiar de que optasse por um deles (afinal, era negra ou branca?), buscando
assim apresentar-se aos presentes.

Qual a relação de Einstein, Freud e Freire comigo? Com essa provocação a professora Aline
iniciou de fato a palestra da aula inaugural no município de Esteio, realizada na noite do dia
23 de fevereiro no Salão Nobre da Prefeitura.

       O título provocativo escolhido pela palestrante justamente faz alusão à primeira lição que
um educador(a) de Jovens e Adultos precisa conhecer.  Aline ressaltou que o indivíduo
precisa ser instigado a aprender, caso isso não aconteça, dificilmente @ professor(a) terá o
retorno esperado, ou seja, o interesse manifesto dos estudantes. Não basta @ professor(a) ter
uma boa retórica, ser bem formado, se acaba por trazer conteúdos massificados não incitando
o pensar d@s educand@s. Estaria tratando do mesmo assunto se colocasse como título a
afirmação: “Palestra sobre Educação Popular”, porém o título é uma estratégia para atrair a
curiosidade e fazer o público pensar o que seria tratado e não simplesmente, de antemão, já o
terem afirmado.

      Com o título “Qual a relação de Einsten, Freud e Freire comigo?” a professora Aline
destacou que podem existir vários tipos de relações entre os indivíduos. A platéia de
professores(as) destaca algumas destas relações e depois desta breve conversa, Aline destaca
o nome do município – Esteio – lembrando o porquê da cidade ter este nome,  relacionando os
termos, amparo e sustentáculo, e o que isso também pode ter a ver com Educação Popular.

       A aula inaugural segue com a professora apresentando resumidamente os três autores e


estabelecendo as relações das características de suas vidas para que @s educadores(as)
pensassem e percebessem características de suas vivências que poderiam ter proximidade com
as vivências dos mesmos.

Iniciando pela teoria Freudiana, faz alguns destaques sobre as estruturas psíquicas (ID,
Ego e Superego), neste momento se destaca a participação de uma colega psicóloga presente
no público, que alertou sobre a troca das definições de “ego” e “superego” cometidas em um
“ato falho” da palestrante, talvez. Continuando, faz a crítica em relação ao paciente neurótico
de Freud, a mulher, e como isso repercute na sociedade e questionando porque se fala de um
complexo de castração na mulher e não de uma possível “sobra” no homem. Em sua fala,
Aline aproxima alguns dos principais mecanismos de defesa apresentados por Freud
(repressão, sublimação, racionalização e regressão) a algumas vivências possíveis nas turmas
de EJA. Na Educação de Jovens e Adultos, por exemplo, aparece certa “regressão”, onde os
educandos “desejam”, atividades da infância como colar bolinhas de papel, algodão nos
coelhos na época de Páscoa etc., sendo assim, @ educador(a) precisa problematizar o lugar da
escola para o adulto e que, para pertencer a ela, o adulto não precisa “voltar a ser criança” .
Ainda na EJA há alguns alunos(as) que se colocam como culpados do não aprender
caracterizando assim um instinto de flagelo. O último destaque é sobre o Método Psicanalítico
que é: “movimento de fala sobre suas questões a fim de debatê-las, buscando possíveis
alternativas”.

Em relação à teoria Freireana Aline destaca, entre outros, que somos seres
condicionados e não determinados, ou seja, hoje estamos em determinada condição que pode
ser mudada; que a leitura do mundo precede a leitura da palavra, logo o educador deve
valorizar o educando com o que ele já constitui em seu pensar e suas vivências para partindo
disso levá-lo ao universo da palavra escrita. Freire também fala que ensinar e aprender são
características ontologicamente humanas, chamando a atenção para isso, ela caracteriza que
neste ponto está o “problema” d@ pedagogo(a) que pensa que “se ensinar o outro vai
necessariamente aprender”, porém é necessário saber que ensinar não é transferir
conhecimento e que é preciso criar possibilidades para a produção e construção do mesmo,
incitando a curiosidade para mover os seres humanos ao aprendizado. Não sendo encarada
desta forma, que relação se estabelece na escola se @ professor(a) se sente frustrado porque
ensina e o outro não aprende e o outro se sente frustrado porque não consegue aprender? A
característica ontológica a qual Freire se refere é a capacidade humana de reflexão sobre o
ensinar e aprender, logo se ensina porque se aprende. Sendo assim, @ educador(a)
revolucionário(a), por fim, se percebe ensinante e aprendente.  

Deixando a teoria Einsteiniana por último, já adianta que nenhum dos três teóricos
acreditou na situação que estava, mas sim que tudo poderia mudar. A palestrante sugeriu um
pensar sobre a Educação de Jovens e Adultos pela perspectiva revolucionária, discutindo o
que chama “complexo da castração docente”, nos faltando sempre alguma coisa. Alguns
optam pelas reclamações eternas e não pela luta pela transformação. Completa dizendo que
“há que se pensar em reação” trazendo a frase de Einstein: “O mundo não está ameaçado
pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade.”

Como uma dica para o próximo encontro, para instigar a curiosidade da platéia de
professores, já citado como primeira lição no início da palestra, Aline Lemos da Cunha
termina dizendo que “No mínimo três mulheres contribuíram significativamente com as
teorias, mas elas não foram reconhecidas”...

Elaine Luiza F. Montemezzo

Bolsista de Iniciação Científica

Estudante de Pedagogia - UFRGS

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