O documento discute como o western evoluiu de um gênero que retratava historicamente a conquista do Oeste Americano para um gênero mítico através dos filmes de diretores como John Ford, Howard Hawks e Raoul Walsh. Filmes como Sete Homens e um Destino e os faroestes de Sergio Leone são citados como exemplos de como o gênero se tornou mais sobre a mitologia do que a história real do Oeste, com ícones inventados pelo cinema. A música de Ennio Morricone é destacada como elemento essencial
O documento discute como o western evoluiu de um gênero que retratava historicamente a conquista do Oeste Americano para um gênero mítico através dos filmes de diretores como John Ford, Howard Hawks e Raoul Walsh. Filmes como Sete Homens e um Destino e os faroestes de Sergio Leone são citados como exemplos de como o gênero se tornou mais sobre a mitologia do que a história real do Oeste, com ícones inventados pelo cinema. A música de Ennio Morricone é destacada como elemento essencial
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O documento discute como o western evoluiu de um gênero que retratava historicamente a conquista do Oeste Americano para um gênero mítico através dos filmes de diretores como John Ford, Howard Hawks e Raoul Walsh. Filmes como Sete Homens e um Destino e os faroestes de Sergio Leone são citados como exemplos de como o gênero se tornou mais sobre a mitologia do que a história real do Oeste, com ícones inventados pelo cinema. A música de Ennio Morricone é destacada como elemento essencial
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Um dos três gêneros básicos do cinema americano – os outros
dois são o filme de gângster e o musical – o western foi a maneira que o cinema criou para narrar a saga da conquista do Oeste americano. Já no cinema mudo foram lançadas as bases dessa narrativa e, no início dos anos 30, no cinema falado, Cimarron foi o primeiro, e por décadas o único, faroeste premiado com o Oscar de melhor filme. A abordagem, mais histórica, contava os dramas de homens destemidos e suas famílias que enfrentavam índios na conquista de novos territórios. O faroeste era, então, como um filme de época.
No final da década de 30, o cineasta John Ford fez No Tempo
das Diligências e mudou tudo. Mais do que um filme histórico, estava ali uma nova maneira do cinema ver o Oeste americano. Mais do que contar uma história, John Ford passou a criar um Oeste que só existe mesmo no cinema. E a partir daí, o próprio Ford, Howard Hawks, Raoul Walsh e George Stevens criaram a mitologia cinematográfica do western.
Três DVDs lançados este mês mostram o quanto a mitologia
do western tornou-se mais forte do que a própria tentativa de um cinema realista em retratar uma época da história. O que se vê em Três Homens em Conflito e Por Uns Dólares a Mais, de Sergio Leone, e Sete Homens e Um destino, de John Sturges, é o esplendor do mito cinematográfico do western e não o Oeste americano como ele realmente foi. Nos três filmes desfilam ícones que o próprio cinema inventou como significantes do Oeste. Sturges faz uso deles para atingir uma alta voltagem de ação; e Leone trabalha mesmo sob o paradigma da mitologia, encenando o Oeste a ponto de deixar claro que não está retratando uma época, mas sim contando uma história a partir do que o próprio cinema inventou como sendo o Oeste americano.
Sete Homens e um Destino é um dos melhores exemplos da
intensidade de expansão da mitologia do western – que influenciou o próprio cinema mundial. Numa curiosa teia de ida e volta, Sete Homens e um Destino é a versão hollywoodiana para a obra-prima Os Sete Samurais de Akira Kurosawa, que por sua vez inspirou-se nos faroestes americanos para realizar esse que é um dos grande filmes da história do cinema. Do outro lado do mundo, o mestre japonês concebeu a história de um grupo de samurais que é recrutado para defender uma aldeia de camponeses da violência de bandidos e saqueadores. O filme é uma grande aventura de ação – com os ecos narrativos do faroeste americano -, e ao mesmo tempo uma profunda discussão ética: como defesa, a violência pode, sim, ser um instrumento moralmente justificado. No filme americano, Sturges transpôs a ação para uma aldeia de peões mexicanos espoliados por um bando de bandidos impiedosos. Yul Brynner, todo de preto, lidera o grupo contratado pelos peões. E esse grupo é também um elenco de futuros astros: Steve MacQueen, Charles Bronson, James Coburn e Robert Vaughn.
No cinema do italiano Sergio Leone, o western torna-se
realmente um gênero mítico. Criador e maior representante do que a crítica mundial batizou de spaghetti-western – talvez com uma intenção pejorativa – Leone recriou o faroeste porque usou-o em sua dimensão mitológica – estética e de valores. Todos os elementos que John Ford e cia. inventaram para contar/mostrar o Oeste americano estão presentes na trilogia inicial de Leone: Por um Punhado de Dólares (1964), Por uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966), os dois últimos lançados agora em DVD. Essa trilogia, que consolidou o estrelato mundial do americano Clint Eastwood, é mais do que três bons faroestes: é a reflexão cinematográfica e referencial sobre o western americano.
Mas, claro, Leone é um grande artista e faz mais ainda: cria,
ele mesmo, uma nova sintaxe. Como um artista italiano, influenciado pela Ópera, ele dá ao faroeste uma dimensão não só épica, mas operística, encenada – onde o palco italiano clássico é a imensidão do Monument Valley dos filmes de John Ford. E para essa visão, a música de Ennio Morricone é muito mais que uma trilha sonora: é elemento essencial da narrativa, comentando a ação, delineando as personagens, enfatizando as nuances psicológicas e amarrando os elos narrativos. Aliás, como na própria Ópera. O resultado é um deslumbramento cinematográfico, onde a ação da narrativa está em simbiose perfeita com a música, algo, inclusive, que atingirá seu ponto mais alto na obra-prima Era uma vez no Oeste, onde a parceria Leone-Morricone concebe a conquista do Oeste como uma epopéia na e da América. Como se Giuseppe Verdi visitasse o cinema de John Ford.