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Por Michelson Borges em 17/02/2009 na edição 525
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× a semana em que se comemora o bicentenário de nascimento de Darwin (...), como
explicar a persistente má vontade para com suas teorias em países campeões na produção
científica [como os EUA e a Inglaterra]?× Essa é a pergunta de estranhamento que abre a
matéria ×A Darwin o que é de Darwin...×, da revista ÿ desta semana (11/02/09). a capa,
estamparam a chamada beligerante ×Uma guerra de 150 anos×, seguida do subtítulo não
menos provocativo: ×Por que Charles Darwin não conseguiu expulsar Adão e Eva dos livros
escolares×.
A impressão que se tem é a de que André Petry, em seu artigo ×embra-te de Darwin×,
na edição da semana passada (tanto aquela como esta edição de ÿ se apropriaram de
frases bíblicas nos títulos), estava preparando caminho para as 20 páginas relacionadas ao
darwinismo e ao tema derivado ± fé e ciência. Curiosamente, o assunto foi o mais
comentado da edição desta semana, com 129 e-mails. Mas somente três e-mails superficiais
foram publicados. A título de comparação, a matéria de capa sobre o ×caso Robinho× recebeu
apenas 38 mensagens, mas foram publicadas quatro reações de leitores. Embora Petry tenha
citado os adventistas e a Mackenzie, nenhum e-mail desses dois segmentos foi publicado ± e
eu sei que a redação da revista recebeu mensagens de ambos.
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A reportagem informa que John Herschel, um dos mais famosos cientistas ingleses vivos em
1859, ×não podia acreditar, sem provas científicas tangíveis, que as espécies podiam surgir
de variações ao acaso×. Assim, pressionado, Darwin admitiu que, se alguém lhe apontasse
um único ser vivo que não tivesse um ascendente, sua teoria poderia ser jogada no lixo. Por
que ÿ omite o trilobita, por exemplo, animal tremendamente complexo extinto no
Permiano médio, e que ×surge×, de repente, no registro fóssil, no Cambriano inferior, sem
qualquer tipo de ancestral? A revista desconhece o artrópode (e outros tantos exemplos de
seres vivos sem ascendência evolutiva) ou prefere jogar para baixo do tapete os dados
discrepantes? Por que não abraça o desafio de Darwin? Parece mesmo que o que importa é
salvar a teoria dos fatos...
utro enfoque da reportagem é o ensino do criacionismo nas escolas. Paraÿ , é errado
×querer impingir essa maneira [criacionista] de enxergar a natureza às crianças em idade
escolar, renegando fatos comprovados pela ciência [de novo, se emprega a palavra ×fatos×
sem dizer quais]. Essa atitude nega às crianças os fundamentos da razão, substituindo-os
pelo pensamento sobrenatural×. Só que ÿ deixa de mostrar qual é a verdadeira educação
unilateral. Quando os alunos são privados de conhecer outras formas de pensamento ou de
analisar as insuficiências epistemológicas do darwinismo, será que estão mesmo fortalecendo
os ×fundamentos da razão×? Será que as escolas adventistas, que têm mais de 130 mil
alunos matriculados em suas unidades escolares ± que vão do ensino fundamental ao nível
superior ±, seriam reconhecidas pela sua excelência educacional a tal ponto de 70% de seus
alunos não serem adventistas? Teriam essas mesmas escolas tão elevado índice de
aprovação no vestibular caso seus alunos tivessem conhecimentos deficitários em biologia?
Realmente não se espera que as escolas ensinem religião em aulas de ciência e biologia, mas
pelo menos que fosse adequadamente ensinado aos alunos o que é o método científico e que
nem todas as alegações do darwinismo passam no crivo desse método. Que se separassem
as proposições filosóficas dos dados experimentais, e que se ensinasse de uma vez por todas
a diferença entre naturalismo metodológico (uma ótima ferramenta) e naturalismo filosófico
(motivado pelo ateísmo assumido
).
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ÿ chama para o lado dos darwinistas aliados ×de peso×, como o evolucionista teísta
Francis Collins e a Igreja Católica. A idéia é a seguinte: se eles podem ser darwinistas e
acreditam em Deus, por que os demais cristãos não fazem o mesmo? ÿ teria que
enveredar pelos meandros da teologia para poder entender e explicar isso. que permite à
Igreja de Roma ×conciliar× as visões darwinista e religiosa é a adoção de uma teologia liberal
que agride o âmago da teologia bíblica, buscando uma mistura impossível.
A matéria termina com o famoso exemplo do pescoço da girafa. Darwin ×explicou× que o
bicho adquiriu o pescoção porque, em períodos de seca, os animais de pescoço mais longo
conseguiam se alimentar, o que favoreceu sua reprodução. que o texto não faz é abordar
a complexidade de órgãos como o pescoço da girafa, com suas múltiplas válvulas que
controlam perfeitamente a pressão sanguínea, coisa que Darwin não tinha como estudar a
fundo em seu tempo e que os darwinistas de hoje procuram evitar.
o afã de idolatrar Darwin, ÿ ignora figuras históricas que bem poderiam dividir os louros
com o naturalista inglês, como é o caso de Alfred Russel Wallace. Wallace pode ser
considerado co-formulador da teoria da evolução, já que, como caçador e observador atento
de animais exóticos, ele também chegou à conclusão de que havia variabilidade entre os
seres vivos e que isso poderia ser indício de ancestralidade comum. Em 1858, ele enviou
uma carta a Darwin com suas conclusões a respeito do assunto, o que fez com que o
naturalista inglês se apressasse a publicar
. Wallace não era o tipo de
fazer contenda e não se importou pelo fato de os louros terem sido todos para Darwin. Bem
mais tarde apenas, a História daria o devido (mas ainda não muito conhecido) lugar a
Wallace como dono de um
que mudou os rumos da ciência. Mas para que dizer isso e
deslustrar a festa a Darwin, não é mesmo?
Resumindo, a matéria ×darwinlátrica× de ÿ procura polarizar o assunto entre ciência e
religião, blindando assim a teoria de Darwin, protegendo-a de discussões científicas mais
aprofundadas.
Várias batalhas foram ganhas pelos jornais. essa ×guerra de 150 anos×, ÿ está
cumprindo seu papel de jornalismo engajado: mostra apenas um lado da controvérsia e
permanece firme no propósito de não dar vez às vozes discordantes.
c já perdi a conta das vezes que sugeri à ÿ uma entrevista com algum teórico
do criacionismo ou do
inteligente. Forneci até nomes: Michael Behe, Phillip Johnson,
James Gibson (GRI), Marcos Eberlin (Unicamp), Ruy Vieira (SCB), ahor eves de Souza Jr.
(Unasp) etc. Até hoje, nada. Somente ateus e darwinistas tiveram espaço nas páginas
amarelas. ão foi esse tipo de jornalismo que aprendi na UFSC.
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