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N Locar bens difere de prestar serviços

ão é de hoje que o setor de transporte tem se deparado com uma novidade circulando pelas ruas e
rodovias do país. São veículos de transporte coletivo – microônibus (inclua-se também as vans) e até ônibus, com
placa cinza e até vermelha, intitulados locadoras de veículos. Nada de mais se fosse realmente uma simples locação
de veículo, como ocorre com os automóveis, onde o sujeito faz a locação por período, com quilometragem livre ou
com franquia. A entrega do veículo pelo locador ao locatário para usá-lo livremente é condição indispensável para a
caracterização da locação. De posse do veículo, o locatário tem total liberdade, ou seja, vai para onde quiser, na hora
que quiser, escolhe o percurso que melhor lhe agrada, sem se preocupar com nada, afinal ele tem a posse do veículo
por aquele período previsto no contrato. Ele se auto determina em relação ao bem, sua vontade é completamente
soberana. Assim, o objeto do contrato é a coisa locada, e não o seu aproveitamento ou satisfação de utilidade. A
característica da locação é o regresso da coisa locada para o seu dono, ao passo que o serviço fica pertencendo a quem
pagou, não sendo possível sua restituição.Não há como confundir um contrato de locação de bens com outro cujo
objeto é a prestação de serviços, mesmo que este envolva o uso de bens para cumprir suas finalidades. O objeto, neste
caso, é a realização de um serviço; não a locação.
Serviço é uma obrigação de fazer, ou seja, de levar pessoas de um ponto a outro no caso de transporte e não uma
obrigação de dar um bem para outrem, como na locação.No contrato de transporte a pessoa paga para ser levada de
um ponto a outro, portanto, não basta entregar o veículo nas mãos do contratante, é preciso realizar o transporte nos
moldes do contrato.A pergunta que se faz é porque essas pessoas estariam fazendo isso. A resposta resume-se num
vasto leque de vantagens. A primeira e mais atrativa é a questão de não ter que se submeter a nenhum dos muitos
poderes concedentes, é circular livremente sem lenço e quase sem documento. Não precisar se preocupar com a
quantidade, idade ou especificações dos veículos da frota, inspeção veicular, pintura e um incontável número de
adesivos, documentos e sinalizações obrigatórias, treinamento do condutor, pagamento de taxas. Enfim, todos os
procedimentos burocráticos a que são submetidas todas as empresas de transportes. Sabemos que a ausência de
regulamentação é um sério risco, uma porta aberta para a desarticulação completa do setor o que pode causar
incontáveis prejuízos a sociedade como um todo, usuária ou não desse tipo de transporte. Há também a questão
tributária. Já decidiu o Supremo Tribunal Federal - STF (RE-AgR-446003) que sobre a locação de veículos não
incide o Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza(ISSQN), de competência do município. Também não há ICMS
e as locadoras ainda podem ser optantes pelo SIMPLES. Não é preciso criar nenhuma lei para isso, basta fiscalizar e é
isso que precisamos e esperamos dos poderes concedentes, das secretarias de fazenda e dos sindicatos profi ssionais,
para não estender a lista de entes que têm o poder para fazer alguma coisa.
Regina Rocha é assessora jurídica da Fresp e do Transfretur

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