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PARA AS MULHERES
Um caminho em construção
USP UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Reitor: Prof. Dr. Adolpho José Melfi
Vice-Reitor: Prof. Dr. Hélio Nogueira da Cruz
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IGUALDADE DE OPORTUNIDADES
PARA AS MULHERES
Um caminho em construção
2002
272p.
ISBN 85-7506-056-2
CDD 301.412
HUMANITAS FFLCH/USP
e-mail: editflch@edu.usp. br
Telefax.: 3091-4593
Editor Responsável
Prof. Dr. Milton Meira do Nascimento
Coordenação Editorial
Mª. Helena G. Rodrigues MTb n. 28.840
Projeto de Capa
Clarissa Tossin
Revisão de Originais
Edison Luís dos Santos
Revisão de Provas
Lilian Abigail Melo de Aquino
Igualdade de oportunidades para as mulheres 5
Sumário
Introdução
IGUALDADE DE OPORTUNIDADES PARA AS MULHERES
Construindo o caminho ......................................................................... 9
Eva Alterman Blay
Qualidade de Vida: uma construção a partir da vivência das mulheres ... 191
Cecília Carmen Casemiro
Introdução
Igualdade de oportunidades para as mulheres 9
1
O ESTADO DE S. PAULO, 4.2.2001, primeira página.
10 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Da diferença à desigualdade
Atributos ligados à maternidade foram, por longo tempo, e con-
tinuam sendo, usados para inferiorizar as mulheres nas sociedades
capitalistas e socialistas, antes ou pós globalização. Fatores biológicos
como menstruação, gravidez, aleitamento, constituem álibis para im-
por uma divisão social do trabalho desqualificadora para as mulhe-
res. Assim o mercado de trabalho pretere a mulher para cargos mais
bem remunerados sob a alegação de que ela tem responsabilidades
familiares a cumprir ou que ela é mais frágil. Mesmo em socieda-
des socialistas estes fatores têm sido usados para discriminar a mu-
lher no trabalho e na estrutura de poder político (HAVELKOVA,1999).
Na escolarização e nas carreiras profissionais reproduz-se a mesma
desqualificação: a menina é induzida a determinadas escolhas de ati-
vidade como a docência, enfermagem, pediatria, dermatologia, quí-
mica (BLAY, 1985) sob o pretexto de compatibilizar a vida profissio-
nal com as tarefas domésticas e familiares, atribuídas só a elas. Não
por acaso quando uma mulher ocupa uma posição profissional fora
do esquadro pré-traçado, logo é apresentada como um exemplo de
que agora as mulheres são iguais aos homens. Na verdade ela é a
exceção que confirma a regra.
No Brasil, durante várias décadas do século XIX, estas ques-
tões foram discutidas. A primeira vaga do movimento feminista bra-
sileiro avançou na crítica à sujeição e exclusão da mulher e ocupou
consistentemente a imprensa escrita da época como bem mostrou
Maria Thereza Caiuby Crescenti (1989). Mulheres escreviam sobre
política, atuavam nos movimentos libertários contra a escravidão,
pela República e pela abolição dos costumes restritivos. Nisia Flores-
ta, para citar apenas uma delas, traduziu Wollstonecraft, escritora
inglesa do século XVIII e símbolo de uma visão crítica feminista. Nisia
era professora, escritora e viajante. Inovou fundando escola para
meninas onde a cultura substituía as limitações do tradicional ensino
de prendas domésticas. Ela própria libertou-se de casamento por con-
veniência, elegeu uma união por amor, dedicou-se ao trabalho remu-
nerado e buscou conhecer outras realidades. Viajante, no sentido
estrito deste termo, Nisia esteve na França, na Itália e na Alemanha
onde presenciou inúmeras revoluções políticas sobre as quais escre-
veu vários livros (DUARTE, C. 1991) publicados na Europa.
Igualdade de oportunidades para as mulheres 11
2
Prestes deu esta resposta quando lhe perguntei sobre seu apoio a Getúlio.
Este contato se deu no Teatro Ruth Escobar quando ele retornou ao Bra-
sil.
Igualdade de oportunidades para as mulheres 13
Mudando paradigmas
Se meninas e rapazes freqüentam a escola, se em alguns níveis
elas são mais numerosas que eles, como entender a segmentação de
gênero nas carreiras, os guetos femininos e masculinos? Se elas en-
tram em novas atividades profissionais, porque se reproduz a mesma
divisão sexual e hierarquização salarial nas novas carreiras?
É necessário um novo olhar sobre as trajetórias, descobrir os
obstáculos e construir estratégias para superar as velhas e novas for-
mas de desigualdade de gênero.
Estudos realizados pela Comunidade Européia mostraram que,
no quesito gênero, alguns países que a compõem eram mais igualitá-
Igualdade de oportunidades para as mulheres 15
3
Sendo um curso à distância, alunas/os deveriam se preparar para cerca de
200 horas de atividades acadêmicas nas quais estavam incluídas leituras,
elaboração de um memorial e um projeto prático de ação positiva na área
de igualdade de oportunidades para as mulheres.
18 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Avaliação
Aspecto fundamental: cada estudante deveria propor, para o
final do curso, um documento contendo um projeto de AÇÃO PO-
SITIVA PARA AS MULHERES.
Os trabalhos foram avaliados no Brasil e na Espanha.
Os documentos, a reflexão
Nos capítulos seguintes veremos os trabalhos que abordaram
diferentes problemas. A violência contra a mulher foi tratada de vá-
rias maneiras. Elisabete Massuno, num trabalho pioneiro, focalizou
as Delegacias de Defesa da Mulher (DDM). Fez um utilíssimo diag-
nóstico, avaliação e concluiu com propostas concretas que permitem
aperfeiçoar as DDM. Vera Lúcia Vaccari tratou a violência do ângu-
lo da sexualidade, problema tão distorcido em nossa sociedade. É voz
corrente que todos desejam que meninos e meninas tenham alguma
formação, alerta-se e cria-se até um certo pânico em torno da cha-
mada gravidez precoce. Mas, mostra ela, efetivamente ninguém as-
sume o ensino nem confia em delegá-lo. Vera Lúcia Vaccari propõe
como solucionar esta contradição.4 O mesmo tema foi retomado por
Fernanda Lopes que nos trouxe sua experiência de pessoa compro-
metida contra preconceitos de cor. Dora Mariela Salcedo Barrientos
aborda o tema da sexualidade de um ângulo fundamental para se
entender porque muitas mulheres não se submetem ao exame gine-
cológico. O agressivo primeiro exame ginecológico, totalmente des-
provido de compreensão do significado que tem para uma adolescen-
te ou para uma mulher expor sua intimidade, afasta definitivamente
mulheres de exames futuros vitais para a prevenção de inúmeros trans-
tornos em sua saúde.
4
Aproveito a oportunidade para agradecer à Vera Vaccari o apoio à revisão dos
textos.
Igualdade de oportunidades para as mulheres 19
Referências bibliográficas
ALVES, Branca Moreira (1980) Ideologia e feminismo: a luta da mu-
lher pelo voto no Brasil. Petrópolis: Vozes.
BLAY, Eva Alterman (1988) A participação das mulheres na redemo-
cratização. In: FLEISCHER, David (Org.) Da distenção à abertura.
As eleições de 1982. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
____. (1978) Trabalho domesticado. A mulher na indústria paulista.
São Paulo: Ática, Coleção Ensaios, n. 35.
CRESCENTI, Maria Thereza C. (1989) Mulheres de ontem? São Paulo.
T. A. Queiroz.
DUARTE, Constancia Lima (1995) Nísia Floresta. Vida e obra. UFRN
Editora Universitária: Natal-RN.
HAVELKOVÁ, Hana (1999:69-84) Women in and after a classless
society. In: Zmroczek Christine e Mahony, Pat. Women and So-
cial Class-International Feminist Perspectives. UK. UCL Press.
NAZARIO, Diva Nolf (1923) Voto feminino e feminismo: um ano de
feminismo entre nós. São Paulo.
cAPÍTULO 1
Superar a violência
Delegacia de defesa da mulher: uma resposta à violência de gênero 25
Elizabete Massuno
Introdução
Observa-se, por meio das notícias veiculadas pelos órgãos de
imprensa, que o índice de violência tem aumentado no estado de São
Paulo, nos últimos anos.2
Nesse contexto, fazemos uma indagação específica: estatisti-
camente, nesse mesmo estado, em quanto aumentou a violência con-
tra a mulher?
A partir do pressuposto de que, igualmente, têm aumentado
os registros de ocorrências nas Delegacias de Polícia de Defesa da
Mulher (DDM), questiona-se: como essas delegacias estão estrutu-
radas para atender as vítimas?
1
LISPECTOR, Clarice. 1998. A hora da Estrela. Rio de Janeiro. Rocco.
2
O ESTADO DE S. PAULO. Violência explode na Grande São Paulo. 23.4.1995,
p. C1; JORNAL DA TARDE. Editorial: A bolsa ou a vida. 1.11.1996, p. 4 A.;
FOLHA DE S. PAULO. Violência juvenil cresce na classe média. 17.3.1997, p.
3-11. REVISTA ÉPOCA. A violência em São Paulo. Com 10,5 milhões de
habitantes, a maior cidade do país tem índices assustadores de criminali-
dade. 27.5.1999, p. 24. JORNAL DA TARDE. Violência explode em todo o
Estado. 31.7.1999, p. 13 A.
26 Igualdade de oportunidades para as mulheres
1. Antecedentes históricos
O ano de 1975 foi, sem dúvida, um marco histórico para o
movimento de mulheres no Brasil. Época de regime político de exce-
ção em quase toda a América Latina, naquele ano a Organização das
Nações Unidas (ONU) promoveu a Conferência Mundial do Ano
Internacional da Mulher, na Cidade do México.
Mulheres de vários países ali reuniram-se para discutir a situa-
ção da condição feminina. Foi instituída, então, a Década da Mulher
(1975-1985), a fim de amenizar a grave desigualdade com que as
sociedades tratavam homens e mulheres.
O Brasil, como signatário da Convenção para Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, da ONU, com-
prometeu-se na ocasião a lutar para extinguir as discriminações que
afetavam a mulher. A começar pelo estado de São Paulo, em 1983,
no governo Franco Montoro, criou-se o Conselho Estadual da Con-
dição Feminina, órgão estadual criado com o objetivo de traçar uma
política de ação global dentro da máquina administrativa do Estado,
objetivando às necessidades específicas da mulher na área da saúde,
violência, creches e trabalho.3
Na gestão da primeira presidenta do Conselho, Dra. Eva
Alterman Blay, tomou-se a iniciativa de produzir um verdadeiro diag-
nóstico da situação da mulher no estado de São Paulo.
3
MORAIS, Maria Lygia Quartim de (1985). Mulheres em movimento. São
Paulo, Editora Nobel/Conselho Estadual da Condição Feminina, p. 28-9.
Delegacia de defesa da mulher: uma resposta à violência de gênero 27
Quadro I
Delegados/as de polícia São Paulo Fevereiro de 1999
Quadro II
Investigador de polícia São Paulo Abril de 1999
CLASSE TOTAL HOMEM MULHER % DE MULHER
ESPECIAL 768 734 34 4,4
PRIMEIRA 1318 1176 142 10,8
SEGUNDA 1734 1583 151 8,7
TERCEIRA 2882 2640 242 8,4
QUARTA 1826 595 182 10,0
QUINTA 1204 1054 150 12,5
TOTAL 9732 8831 901 9,3
Fonte: Departamento de Administração da Delegacia Geral
Quadro III
Escrivão/ãs de polícia São Paulo Dezembro de 1998
CLASSE TOTAL HOMEM MULHER & DE MULHER
ESPECIAL 471 330 141 % 29,9
PRIMEIRA 1031 628 403 39,1
SEGUNDA 1236 641 595 48,1
TERCEIRA 2166 1140 1026 47,4
QUARTA 1286 595 771 60,0
QUINTA 1189 788 401 33,7
TOTAL 7379 4042 3337 45,2
Fonte: Departamento de Administração da Delegacia Geral
Quadro IV
Quadro comparativo dos cargos por sexo Abril de 1999
CARGO TOTAL HOMEM MULHER & DE MULHER
DELEGADO 3102 2714 388
% 12,5
ESCRIVÃO 7339 4002 3337 45,5
INVESTIGADOR 9732 8831 901 9,3
TOTAL 20173 15547 4626 22,9
Fonte: Departamento de Administração da Delegacia Geral
Delegacia de defesa da mulher: uma resposta à violência de gênero 31
3. Atribuições da DDM
Durante o governo Franco Montoro, foi publicado o decreto
estadual n. 23.769, de 6.8.1985, criando, na Secretaria da Segurança
Pública, cujo Secretário era o Dr. Michel Temer, a Delegacia de Po-
lícia de Defesa da Mulher (DDM).5
Essa norma atribui à DDM a investigação e apuração dos deli-
tos contra pessoa do sexo feminino, previstos na parte especial, título
I, capítulos II e VI, seção I, e título VI do Código Penal Brasileiro,
delitos esses de autoria conhecida, incerta ou não sabida (quadro V).
Por outro lado, a fim de normatizar o funcionamento da Dele-
gacia de Polícia de Defesa da Mulher, foi baixada a portaria DGP 12,
de 7.8.1985.6 Presentes todos os pressupostos legais, no dia seguinte
(8.8. 1985) inaugurou-se a DDM.
Com o passar dos anos, publicou-se o decreto estadual 29.981,
de 1.6.1989,7 que deu nova redação ao decreto anterior, incluindo o
capítulo V e o artigo 244, todos da parte especial do Código Penal,
ampliando as atribuições da DDM (quadro VI).
No governo Mário Covas foi promulgado o decreto estadual
40.693, de 1.3.1996, dando nova redação ao artigo 1º do decreto es-
tadual 29.981, de 1.6.1989, aumentando, deste modo, as atribuições
da DDM.
O artigo 1º do decreto estadual 40.693, de 1.3.1996, dispõe que:
5
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Seção Secretaria de Estado do
Governo. São Paulo, 7.8.1985.
6
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Decreto Estadual 23.769 de
6.8.1985. DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. São Paulo, 2.3.1996.
Seção Leis.
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Decreto Estadual 40.693 de
1.3.1996. Imprensa.
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Seção Secretaria de Estado do
Governo e Gestão Estratégica. São Paulo, 13.8.1997.
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Seção Secretaria de Estado do
Governo. São Paulo, 7.8.1985.
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Decreto Estadual 40.693 de
1.3.1996. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. São Paulo, 2.3.1996.
Seção Leis.
7
COLETÂNEA DE LEGISLAÇÃO. Legislação Estadual. São Paulo, Janeiro ju-
nho de 1989, p. 538.
32 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Quadro V
Atribuições da DDM previstas no Código Penal de 1985 a 1989
Quadro VI
Atribuições da DDM previstas no Código Penal de 1989 a 1996
Quadro VII
Atribuições da DDM previstas no Código Penal e no Estatuto da
Criança e do Adolescente de 1996 a 1997
Quadro VIII
Atribuições da DDM previstas no Código Penal, no Estatuto da
Criança e do Adolescente e no Código de Processo Civil
a partir de 1997
Tipo de Crime Artigo Lei
Homicídio* 121 CP
Induzimento, instigação, auxílio a suicídio* 122 CP
Infanticídio* 123 CP
Aborto provocado pela gestante ou c/consentimento* 124 CP
Aborto provocado por terceiro* 125/126 CP
Lesão corporal 129 CP
Perigo de contágio venéreo* 130 CP
Perigo de contágio moléstia grave* 131 CP
Perigo para a vida ou saúde de outrem* 132 CP
Abandono de incapaz* 133 CP
Exposição ou abandono de recém-nascido* 134 CP
Omissão de socorro* 135 CP
Maus-tratos* 136 CP
Calúnia** 138 CP
Difamação** 139 CP
Injúria** 140 CP
Constrangimento ilegal* 146 CP
Ameaça 147 CP
Seqüestro e cárcere privado 148 CP
Redução a condição análoga à de escravo 149 CP
Violação de domicílio* 150 CP
Dano* 163 CP
Abuso de incapazes* 173 CP
Estupro 213 CP
Atentado violento ao pudor 214 CP
Posse sexual mediante fraude 215 CP
Atentado ao pudor mediante fraude 216 CP
Sedução 217 CP
Corrupção de menores 218 CP
Rapto violento ou mediante fraude 219 CP
Rapto consensual 220 CP
Concurso de rapto e outro crime 222 CP
Delegacia de defesa da mulher: uma resposta à violência de gênero 39
Obs.:
1. O crime assinalado com * foi introduzido pelo Decreto 42.082, de 12.8.1997,
ampliando as atribuições anteriores da DDM.
2. A sigla CPC significa Código de Processo Civil.
40 Igualdade de oportunidades para as mulheres
4. Registro de ocorrências
Analisando as estatísticas referentes às ocorrências registradas
nas DDM, do período de 1990 a 1998, verifica-se que a cada ano há
aumento significativo do número de denúncias consignadas nos apon-
tamentos dessas delegacias especializadas.
Foram detectados cinqüenta mil, oitocentos e trinta e quatro
(50.834) registros de ocorrências no ano de 1990 e duzentos e trinta
e nove mil, quinhentos e trinta (239.530) no ano de 1998.
É de se ressaltar, ainda, que 11% das ocorrências anotadas no
estado de São Paulo em 1997 e 1998 provêm das DDM.
Ademais, as sete maiores incidências na natureza das causas
apontadas nas DDM até 1996, em ordem decrescente, dizem respei-
to a lesão corporal, ameaça, desentendimento, crimes contra a honra
(injúria, difamação, calúnia), estupro, abandono material e atentado
violento ao pudor.
Por outro lado, nos anos seguintes, observa-se uma mudança
no quadro estatístico, o qual mostra que as sete maiores incidências,
na natureza das causas registradas na delegacia especializada, dizem
respeito a desentendimento, lesão corporal, ameaça, crimes contra a
honra (injúria, difamação e calúnia), vias de fato, maus-tratos, cri-
mes contra a família (abandono material, abandono intelectual e
entrega de filho menor a pessoa inidônea), estupro.
Entretanto, como os termos utilizados na natureza das causas
inscritas são expressões jurídicas, necessário se faz, aqui, defini-las,
para ficar mais claro (quadro IX).
Delegacia de defesa da mulher: uma resposta à violência de gênero 41
9
CARLOTA, Celi Paulino (1999). Em Defesa da Mulher. In: Revista Metró-
pole Policial. São Paulo, Ano VIII n. XXXIX mar/abr/1999, p. 27.
Delegacia de defesa da mulher: uma resposta à violência de gênero 43
10
FOLHA DE S. PAULO. Delegacia da Mulher vai atender assassinato cometido
por parente. São Paulo, Caderno especial A-1, 2.3.1996.
44 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Quadro X
Diagnóstico: panorama geral
Nº DE DDMs Problemas detectados
Nº DE DDMs Problemas detectados
68 Faltam recursos materiais
68 Faltam recursos materiais
73 Faltam recursos humanos
73 Faltam recursos humanos
13 Não foi constatado nenhum problema
13 Não foi constatado nenhum problema
6. Ações sugeridas
A título de informação, antes de adentrar ao assunto propria-
mente dito, deve-se esclarecer que ...por gênero entendemos as di-
ferenças sociais entre homens e mulheres que são adquiridas, são
mutáveis ao longo do tempo e apresentam grandes variações entre e
intra culturais. Por sexo entendemos as diferenças determinadas bio-
logicamente entre homens e mulheres que são universais. Exemplo:
se apenas as mulheres podem dar à luz (característica biologicamente
determinada), a biologia não determina quem se encarregará da edu-
cação dos filhos (comportamento influenciado pelo gêne-
ro)...12Ainda, é necessário elucidar que ...eqüidade de gênero refe-
re-se à igualdade de oportunidades, ao respeito pelas diferenças
existentes entre homens e mulheres e às transformações das relações
de poder que se dão na sociedade em nível econômico, social, políti-
co e cultural, assim como à mudança das relações de dominação na
família, na comunidade e na sociedade em geral. 13
11
JORNAL DOS DELEGADOS. Estado deixa Polícia sem materiais para trabalhar.
Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo. São Paulo,
1999, p. 13.
12
UNIÃO EUROPÉIA. Guia de Avaliação do Impacto em Função do Gênero.
Comissão de comunicação. COM (96) 67 final de 21.2.1996: Incorporar
a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres no conjunto das
políticas e das ações comunitárias, p. 3
13
NEMGE (1996). Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância
e na Adolescência. Guia Prático para Educadores e Educadoras. Universi-
dade de São Paulo. NEMGE/CECAE. São Paulo, p. 2.
46 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Quadro XI
Estrutura proposta para a DDM
Equipe de plantão
(delegada de polícia, escrivã
e investigadora de polícia, agente de
telecomunicações, agente policial e
carcereira).
assistente social e
psicóloga.
DDM-INTERIOR
COORDENADORIA DAS DDM-CAPITAL
E DA GRANDE SÃO PAULO
DDM-CAPITAL E
GRANDE SÃO PAULO
Quadro XIII
Abuso em família
Abuso em família
Físico/Sexual
Episódios de desaparecimento
de crianças
Maturação para tornar-se
um agressor/explorador
Exploração
de crianças
Quadro XIV
Cursos para Formação de Delegados de Polícia da
Academia de Polícia do Estado de São Paulo
Departamentos Disciplinas
Medicina Legal Medicina Legal
Criminologia Criança e do Adolescente
Criminologia
Criminalística Papiloscopia
Criminalística
Administração Policial Direitos Humanos
Relações Públicas
Condicionamento Físico
Defesa Pessoal
Sistemas de Administração
Chefia e Liderança
Armamento e Tiro
Ética Policial
Polícia Administrativa Polícia Comunitária
Policiamento Preventivo Especializado
Processamento de Dados
Telecomunicações
Noções de Polícia Administrativa
Legislação de Trânsito
Procedimento Disciplinar
Organização Policial
Polícia Judiciária Inquérito Policial
Investigação Policial
Polícia Judiciária
Problemas Policiais
Direito Constitucional Aplicado
16
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Resumo do Relatório sobre a CPI da Violência
contra a Mulher. Brasília. Sub-item: Providências policiais, do Ministério
Público ou do Poder Judiciário. Conselho da Condição Feminina. São Paulo,
1992.
17
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Op. cit. Sub-item: Providências do Poder Exe-
cutivo.
52 Igualdade de oportunidades para as mulheres
19
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Op. cit. Sub-item: Providências do Poder Execu-
tivo.
54 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Considerações finais
Sumariando o que foi apresentado na introdução do presente
trabalho, vale comentar o trecho extraído da obra da escritora Clarice
Lispector. Aquela violência ainda permeia as relações interpessoais e
é intolerável e precisa ser denunciada e combatida.
Em diversos locais, considera-se normal que o homem agrida
verbal ou fisicamente a mulher, pois se acredita que ele tem direi-
tos sobre ela. Qualquer tipo de violência é inadmissível em qualquer
meio, tornando-se, ainda mais grave quando verificada no ambiente
familiar, pois isto cria um ciclo de violência que se perpetua de gera-
ção em geração.
Mulheres e homens não são idênticos fisicamente. Porém, seus
direitos são iguais perante a Constituição Federal, embora, infeliz-
mente, isso ainda não seja uma realidade.
Por tudo isso, a DDM tem atuado em face a esse tipo de vio-
lência, com o intuito de coibi-la.
20
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Op. cit. Sub-item: Providências do Poder Execu-
tivo.
Delegacia de defesa da mulher: uma resposta à violência de gênero 55
I. Análise da situação
Como membro do Instituto Paulista de Sexualidade e do
CEPCoS (Centro de Estudos e Pesquisas em Comportamento e Se-
xualidade), uma ONG sem fins lucrativos que reúne profissionais de
diferentes áreas que têm a sexualidade como tema principal de estu-
do, há anos venho dando cursos e seminários e respondendo a cartas
e mensagens eletrônicas de pessoas interessadas, além de oferecer
consultoria a jornais, revistas e sites na internet sobre sexualidade. O
Instituto e o CEPCoS oferecem palestras abertas à comunidade, cur-
sos e oficinas para adolescentes e adultos, além de curso para educa-
dores e educadoras.
Os temas levantados pelas pessoas que escrevem ou que parti-
cipam de palestras, cursos e oficinas, repetem-se com alguma regula-
ridade. Dos homens, tanto adultos quanto adolescentes, chegam per-
guntas sobre tamanho do pênis, ejaculação precoce, disfunção erétil,
como descobrir se uma mulher é virgem, como levar uma mulher à
loucura pela manipulação do ponto G; das mulheres, tanto adoles-
centes quanto adultas, vêm perguntas sobre gravidez, falta de orgas-
mo, medo da relação sexual, falta de desejo, dor na primeira vez...
Um dado interessante é que adultos/adultas e adolescentes
apresentam os mesmos tipos de dúvidas.
Parece que há uma grande dificuldade das pessoas em dialo-
gar, trocar dúvidas e certezas, pesquisar junto. Homens precisam sa-
ber tudo e definir a sexualidade feminina (acho que não tenho or-
58 Igualdade de oportunidades para as mulheres
gasmo, embora meu namorado diga que eu tenho sempre vários or-
gasmos em cada relação; quero saber onde fica o ponto G e como
estimulá-lo para levar minha namorada à loucura); outras vezes,
precisam saber para controlar (como saber se uma mulher é mesmo
virgem). Mulheres precisam desenvolver a capacidade de ter orgas-
mos para segurar o namorado, pois ele disse que vai me deixar se eu
não conseguir.
Pelos exemplos acima e muitos outros (a insistência do ho-
mem em fazer sexo anal, quando a mulher rejeita; o número de rela-
ções; o uso da camisinha é possível perceber que há uma nítida
separação entre homens e mulheres no que se refere à vivência da
sexualidade.
Muitas vezes, essa vivência baseia-se até mesmo num tipo de
violência, pois a mulher sente que precisa dar prazer ao homem. Sexo
então deixa de ser uma possibilidade de prazer para transformar-se
numa obrigação, desagradável como tantas outras na vida cotidiana.
Essa violência nas relações cotidianas, que embaça até mesmo
a relação a dois ou talvez seja mais nitidamente percebida na rela-
ção a dois pode ser superada na construção de novas relações so-
ciais.
Violência cotidiana
Estamos acostumados com a idéia de que vivemos numa so-
ciedade violenta. Diariamente, a mídia paulistana lança sobre a po-
pulação toneladas de notícias sobre roubos, assassinatos, assaltos, es-
pancamentos, estupros, atentados, ocorridos em todos os lugares do
globo, mas especialmente na cidade de São Paulo e seus arredores.
Aquela que chega a jornais, revistas, rádio e televisão, porém,
é a face mais visível da violência. A face menos visível muitas vezes
continua a ser escondida nas páginas internas dos jornais. São dados
sobre o aumento da desigualdade de renda no país, o trabalho e a
prostituição infantis, a diferença salarial entre homens e mulheres e
entre pessoas brancas e negras.
A violência nem sempre é reconhecida por fazer parte do modo
de viver da sociedade. Esconde-se naquilo que se chama senso co-
Projeto Cidadania e Gênero: superando a violência contra a mulher 59
Machismo e sexualidade
Chaui (1991: 22) lembra que nenhuma cultura lida com o
sexo como um fato natural bruto, mas já o vive e compreende simbo-
licamente, dando-lhe sentidos, valores, criando normas, interditos e
permissões. Em outras palavras, há diferentes representações sociais
para o sexo. Como o sexual articula-se com os demais fatores
62 Igualdade de oportunidades para as mulheres
1
Não se pretende entrar aqui na discussão entre orientação e educação se-
xual, mais restrita a meios educacionais. Programas chamados de orienta-
ção e de educação sexual têm em geral objetivos semelhantes.
70 Igualdade de oportunidades para as mulheres
2
Uma crítica aos Parâmetros é que, embora tenham uma visão biopsicossocial
abrangente, propondo a orientação sexual da perspectiva da construção
da igualdade de gêneros, foi feito de cima para baixo, sem a participação
ativa da comunidade não-universitária.
72 Igualdade de oportunidades para as mulheres
1. Projeto coletivo
O projeto será realizado pelo CEPCoS (Centro de Estudos e
Pesquisas em Comportamento e Sexualidade), em conjunto com es-
cola estadual e comunidade numa área periférica da cidade de São
Paulo.*
2. Objetivos
• Objetivo geral:
Favorecer a construção de uma noção de cidadania baseada
em relações igualitárias de gênero.
• Objetivos específicos:
*
Nota da organizadora: este projeto é apresentado a título de exemplo.
74 Igualdade de oportunidades para as mulheres
3. Metodologia
Na perspectiva de que a ação conjunta da família, da escola e
da comunidade é fundamental para o sucesso de qualquer atividade
transformadora, o projeto buscará parcerias com escolas e institui-
ções locais, garantindo a participação de pessoas adolescentes e adultas
(incluindo jovens e idosas).
Da mesma forma serão feitos esforços para obter equilíbrio na
participação de mulheres e de homens, bem como para facilitar a
troca inter-faixas etárias de experiências e de expectativas com rela-
ção à vida.
O projeto será realizado em três etapas:
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Desporto, Secretaria do Ensino Fundamental/SEF, versão agosto.
Projeto Cidadania e Gênero: superando a violência contra a mulher 77
Introdução
São inquestionáveis as vantagens do leite humano para a crian-
ça até o sexto mês de vida. A superioridade dele está diretamente
relacionada à sua digestibilidade, à sua composição química balan-
ceada, à ausência de fenômenos alergênicos e à sua ação antiinfec-
ciosa. A amamentação materna é valorizada ainda como importante
fator na promoção da interação mãe e filho, o que é recomendável
para um bom desenvolvimento psicoemocional e social da criança.
Assim, o aleitamento materno vem sendo francamente insti-
tuído, ao longo dos tempos, em países periféricos, como estratégia
simplificada para reduzir a morbi-mortalidade infantil, em nível de
atenção primária.
Acrescido a estas vantagens, o aspecto econômico da ama-
mentação materna tem sido amplamente debatido, principalmente
num país como o nosso. O Brasil atinge perdas anuais superiores a 2
centenas de milhões de litros de leite humano, passíveis de serem
produzidos, em decorrência do desmame precoce. Tal fato, além de
representar uma perda significativa para os núcleos familiares, repre-
senta um importante acréscimo ao orçamento dos organismos gover-
namentais, particularmente ao setor de saúde.
Em síntese, instituíram-se relações de poder para a mulher,
sobre as condições de vida de seu filho e de economia da nação. Joga-
se sobre a mulher toda a responsabilidade de solução de problemas
82 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Considerações finais
Consideramos que as ações propostas não sejam pontuais. In-
corporadas às estruturas existentes, esperamos que possam ganhar a
magnitude de se tornarem sistemáticas e processuais, o que possibili-
ta a transformação social, em busca da igualdade de oportunidades
para as mulheres.
Referências bibliográficas
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Olímpio.
Aleitamento materno e mulher: uma proposta de ação na construção... 99
Anexo I
Anexo II
PROGRAMA
CONTEÚDO ESTRATÉGIA
Anexo III
Programa
1 Encontro
Conteúdo: trabalhar a historicidade e cotidianeidade dos su-
jeitos.
Estratégia: técnica da Linha da Vida sobre Identidade Femini-
na, grupo de autoconsciência que parte da experiência vital de cada
mulher, permite que as mesmas descubram que uma infinidade de
problemas que, até o momento, haviam acreditado ser individuais
são, na realidade, problemas coletivos (Lima, 1988).
2 Encontro
Conteúdo: papel materno a construção histórico-social da
mulher para amamentação.
Estratégia: apresentação de fotografias de mulheres amamen-
tando em diferentes contextos sociais e históricos, estabelecer rela-
ções destas mulheres com suas realidades específicas.
3 Encontro
Conteúdo: desenvolvimento da auto-estima.
Estratégia: construção da identidade passando por mediações
particulares e singulares como história do nome, suas trajetórias, seus
pontos de vista, mobilização de laços familiares e outros meios
Aleitamento materno e mulher: uma proposta de ação na construção... 105
4 Encontro
Conteúdo: informações sobre aleitamento materno, procedi-
mentos, autocuidado com a mama puerperal.
Estratégia: técnica de tempestade de idéias universo de sig-
nificados do grupo acerca do aleitamento materno. Utilização da
cartilha: como cuidar dos peitos (NALMA).
5 Encontro
Conteúdo: condições sociais para o exercício da amamenta-
ção (lei de proteção à maternidade, relações familiares e trabalho).
Estratégia: desenvolvimento da autonomia dos sujeitos impli-
ca a apropriação, pela consciência, pelo descobrimento e uso da pró-
pria força no contexto em que as necessidades e as possibilidades se
inscrevem. Estabelecer possibilidades de articulação sociais.
Revelando o oculto cuidar de pessoas idosas: uma proposta para a... 107
1. Introdução
2. Delineando a proposta
O contexto descrito e a realização do Curso de Formacão de
Agentes para a Igualdade de Oportunidades para as Mulheres levou-
me a refletir sobre as características que deveria ter um programa para
cuidadores(as) familiares de idosos(as) dependentes na área da Clínica
Médica de um hospital universitário da cidade de São Paulo, sabendo
que essa atividade é tipicamente realizada por mulheres. A proposta
consta de duas partes ligadas entre si (Figura 1). A primeira parte trata
do planejamento de um programa de cuidadores(as) denominado Cui-
dando-me para poder cuidar, a ser realizado antes e depois da alta
Revelando o oculto cuidar de pessoas idosas: uma proposta para a... 113
Sistematização da
Programa para
informação
cuidadores encontrada durante o
programa
“Cuidando-me para
poder cuidar” Análise desta
informação
Suporte efetivo
para as mulheres Divulgação no meio
acadêmico, Elaboração de novas
institucional e estratégias
político
Objetivo geral
Oferecer subsídios ao(à) cuidador(a) familiar do idoso depen-
dente para cuidar de si mesmo e de seu familiar.
Objetivos específicos
n Antes da alta hospitalar
Promover espaços grupais nos quais os(as) cuidadores(as) dos
idosos reflitam sobre o papel que assumem, trocando experiências,
angústias e dúvidas sobre ele.
Orientar e treinar os(as) cuidadores(as) sobre formas de aten-
der as próprias necessidades e aquelas da pessoa idosa.
Revelando o oculto cuidar de pessoas idosas: uma proposta para a... 115
Estratégias
n Antes da alta hospitalar
Realizar duas reuniões, durante a semana, com 50 minutos de
duração cada, com os(as) cuidadores(as) das pessoas idosas que têm
alta programada.
Na primeira reunião, pretende-se estabelecer um vínculo com
os cuidadores(as). Explica-se o objetivo do trabalho e, por meio de
dinâmicas de grupo, abrem-se espaços para favorecer a verbalização
de sentimentos e expectativas. Ao fim da reunião, as cuidadoras po-
derão perceber nosso interesse real por elas e seu familiar.
Na segunda reunião começam as orientações sobre cuidados
físicos e estratégias para promover o bem-estar psicológico e social do
idoso e da cuidadora. (O treinamento específico, como manipulação
de sondas e traqueostomia, entre outros, será realizado pelas enfer-
meiras do serviço de forma individual, em outros momentos). Faz-se
o convite para participação no grupo de ajuda mútua.
A responsabilidade do programa
Esta proposta inicialmente será desenvolvida por uma enfer-
meira com conhecimentos da área gerontológica. O programa pode
ser executado por uma equipe multidisciplinar: enfermeiras, médi-
cos, nutricionistas, terapeutas, assistentes sociais treinados para o tra-
balho gerontológico.
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118 Igualdade de oportunidades para as mulheres
3 CAPÍTULO
A igualdade na diferença
Igualdade na diferença: superando as falsas barreiras à sexualidade... 121
I. Introdução
O Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero
NEMGE, da Universidade de São Paulo, em sua programação, aca-
ba de desenvolver o Curso de Formação de Agentes para Promo-
ver a Igualdade de Oportunidades Para Mulher.
Coube-nos o desenvolvimento do tema presente, de forma su-
cinta, mas, no entanto, com forte intenção de que os resultados de
nossa explanação sejam objetivos e eficazes, concluindo com a apre-
sentação de algumas propostas de orientação, encaminhamento e in-
clusão de pessoas-alvo, e em paralelo com a apresentação de um Pro-
jeto de Lei sobre este assunto, que julgamos da maior importância.
Nele, vamos tentar obter mais uma conquista para a mulher
portadora de deficiência, criando serviços novos incorporados aos já
existentes, no intuito de libertar um pouco mais, no aspecto da se-
xualidade, a mulher portadora de deficiência, quebrando outras bar-
reiras e conscientizando-a para a igualdade, dentro das diferenças
que a ela são impostas, por sua própria condição física, sensorial ou
mental.
Uma mulher pode ser alta ou baixa, gorda ou magra, com mais
ou menos escolaridade, branca, negra, amarela ou mulata; pode ser
solteira, casada ou separada; pode ser mãe, pode ser o que ela desejar.
A única coisa que ela não pode é perder a sua condição de mulher,
por qualquer diferença que ela venha a ter.
122 Igualdade de oportunidades para as mulheres
IV. Diagnósticos
Com estes indicadores, é preciso agora pensar as conseqüências,
e seqüelas que acometem individualmente cada uma dessas mulheres,
desde sua primeira fase de vida; passando pela infância; chegando à
adolescência e atingindo, apesar de todas as dificuldades, a maternida-
de; e com sorte, acompanhamento e políticas públicas garantidas à sua
maturidade plena, ou seja, na condição de pessoa idosa.
Com estas rápidas considerações, vamos encontrar todo tipo
de seqüelas ou diferenças, tais como: mulheres amputadas, parcial ou
totalmente, de diversos membros ou de todos; mulheres com polio-
mielite; mulheres paraplégicas, tetraplégicas, hemiplégicas; mulhe-
res com paralisia cerebral, com deficiência auditiva; deficiência vi-
sual ou com visão sub normal; com comprometimento mental;
queimadas; ostomizadas; hansenianas; enfim, um número muito gran-
de das diversas deficiências existentes.
É rápida e lógica uma das primeiras conclusões a que se pode
pretender chegar, de que todas estas mulheres, cada uma na sua es-
pecificidade, fazem uso de algum material ou equipamento, para sua
manutenção e apoio às suas necessidades. São órteses, próteses, ca-
deiras de rodas, muletas, bengalas, bolsas coletoras, fraldas, e ainda
tantos outros para amenizar e tentar proporcionar uma vida mais fá-
cil e possível a todas elas que têm direito a esta vida.
As mulheres possuem um aspecto marcante, e discutível, que
as diferencia, em alguns aspectos, da maioria dos homens: além da
sensibilidade, emotividade e algumas fragilidades, elas primam pela
beleza, por vaidades físicas que deveriam, na verdade, valer para os
homens.
Igualdade na diferença: superando as falsas barreiras à sexualidade... 127
se esquiar na neve sem pernas. Pintar quadros sem mãos e até pés.
Gerenciam-se empresas de todo porte, com a cabeça. Para amar não
é preciso todo o corpo. Enfim, traçar um paralelo entre condição físi-
ca, sensorial e mental, com capacidade e competência de uma pes-
soa, é uma análise perigosa com grandes probabilidades de erro por
parte de quem a fizer se não for feito um paralelo com a finalidade
desejada. O para o que é importante e, para a vida, para viver, tudo
sempre é possível.
Uma pessoa tetraplégica, com quase nenhuma motricidade,
pode ser mais ágil do que mesmo alguém normal, dependendo para
que atividade ela estiver se especializando. Isto não é força de ex-
pressão e nem figurativo, mas sim, constatado na prática do dia-a-
dia, por quem convive com essa realidade.
Capacidade não está em pernas, braços, olhos, ouvidos, mas
na força e ideal que a pessoa se propõe a desenvolver com apoio e
orientação externa.
Não se pode e nem se quer camuflar as diferenças e dificuldades
que cada tipo de deficiência traz; no banho; no trocar de roupas; nos
cuidados pessoais em geral; na arrumação da casa; na disposição dos
móveis e ambientes no local de trabalho e moradia; no transporte, seja
público ou particular; no esporte; no lazer; no sexo; numa gravidez;
num parto; enfim, em qualquer situação comum vivida por uma pes-
soa, que tenha uma deficiência. Mas também, é preciso valorizar a ca-
pacidade que cada pessoa deficiente tem e pode desenvolver.
Com isto, além de ser feita a promoção humana, organiza-se
melhor a sociedade, onera-se menos a família e o poder público, e no
limite, garante-se mais independência a quem precisa de mais apoio.
É bom para todos.
Discorrer sobre este tema, mais do que um estudo aprofunda-
do e necessário, é um misto de emoção e desejo de se encontrar alter-
nativas para proporcionar a milhares de mulheres o direito de ser
mulher.
É importante ter em mente que o preconceito e a discrimina-
ção são comportamentos não parciais. Aquele que discrimina um,
discrimina todos.
O conceito de inclusão é holístico e, como visão global e por
inteiro, só pode ser absorvido e trabalhado em conjunto, porque se
Igualdade na diferença: superando as falsas barreiras à sexualidade... 129
V. Constatação do problema
À toda causa corresponde um efeito, à toda ação, uma reação,
à todo problema, pelo menos em tese, uma solução. Mas aqui não
podemos falar somente em hipótese. Temos que, além de detectar o
problema, esforçarmo-nos e forçarmos a sociedade como um todo, as
instituições mais diversas e os organismos públicos, a encontrar uma
solução, até porque ela existe.
Quando falamos de sexualidade é bom frisar que isto vai desde
o passeio na praça, a paquera no baile, a conquista no barzinho, o
desfile na praia, até a prática do sexo, nos seus limites e criatividade.
Muito diferente da definição de sexualidade de décadas passadas que
caracterizava partes do corpo humano.
Quando deparamos com uma mulher portadora de deficiên-
cia, a primeira coisa que normalmente vem à mente são suas limita-
ções, sofrimentos e a tristeza que tudo isto pode estar lhe causando.
Grande engano, grande equívoco, pois limitação física, sensorial ou
mental, não é sinônimo de desalento ou derrota. É preciso enxergar
esta questão dentro de uma análise de limitação do ser humano, que
foi constituído de carne, osso, músculos e nervos e tudo isto passível
de machucaduras, transformações e limitações.
Uma vez a mulher vista desta forma, ela poderá ser, além de
respeitada, considerada como mulher em todos seus aspectos.
Este tema, ainda envolto em preconceito, precisa ser desmisti-
ficado.
A paralisia nas pernas de uma mulher não é empecilho para a
prática do sexo. Se ela, através de movimentos voluntários, não con-
segue abrir suas pernas, ela, com suas próprias mãos, ou o seu parcei-
ro faz isto. Se sua sensibilidade é comprometida, acham-se formas e
partes do corpo, onde ela possa sentir prazer. Isto não é privilégio de
130 Igualdade de oportunidades para as mulheres
1) Ao MEC
Que dentro das disciplinas já existentes no currículo universi-
tário, sejam destinados alguns tópicos específicos que abordem a se-
xualidade das PPD, nos cursos de Psicologia, Medicina e Enferma-
gem, esclarecendo as possibilidades das mulheres PPD viverem sua
sexualidade, com orientação e discussão, quebrando assim o precon-
ceito e o tabu, ensinando-as como agir em cada situação.
3) Às Organizações Não-Governamentais
Nesta busca de alternativas para atender, num novo conceito,
um segmento significativo da sociedade, temos que incorporar a ação
que vem do 3.º setor.
134 Igualdade de oportunidades para as mulheres
VII. Conclusão
Não é preciso esforçar-se muito para ouvir que o novo milênio
já chegou, mas é preciso, a cada instante, lembrar que temos a obri-
gação de encontrar caminhos e alternativas para entrar no III Milê-
Igualdade na diferença: superando as falsas barreiras à sexualidade... 135
Fernanda Lopes
1. Introdução
A proposta de construir, com meninos e meninas em situação
de rua, os conceitos de identidade e sexualidade cidadãs, valorizando
a importância da promoção de estilos de vida associados à saúde,
auto-estima e relações saudáveis com outros sujeitos e com o meio,
surge frente às inúmeras dificuldades que permeiam discussões sobre
saúde e sexualidade, principalmente no início da vida sexual, seja no
espaço familiar (onde reina o silêncio/ignorância) ou no espaço esco-
lar (onde o assunto é abordado de forma superficial e/ou de acordo
com princípios morais/religiosos castradores) e frente à reflexões so-
bre a necessidade imediata da elaboração de estratégias de sobrevi-
vência para estes sujeitos, uma vez que, além do alto índice de meni-
nos e meninas com sintomas de DST e de meninas grávidas, têm sido
comuns os abortos provocados seguidos ou não de morte.
2. Diagnóstico da problemática
Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1975) tenha
referido a adolescência como a etapa da vida, situada entre os 10 e 20
anos, na qual ocorrem as transformações biopsicossociais e econômi-
cas que levam o indivíduo do estado infantil ao adulto, a amplitude
das características econômicas, culturais e históricas e as diversas in-
terpretações dos critérios biológicos, psíquicos e sociais que permei-
am a organização e as relações humanas impossibilitam a adoção de
um conceito padronizado de adolescência.
138 Igualdade de oportunidades para as mulheres
3. Projeto de intervenção
3.1. Sujeitos
Meninos e meninas, com idade variando entre 10 e 15 anos,
que moram em área livre (favela) e vivem em situação de rua no
Jardim Piratininga, bairro localizado no município de Osasco (região
Metropolitana de São Paulo).
3.2. Idéia-ação
É objetivo geral da proposta de trabalho capacitar meninos e
meninos de área livre e em situação de rua para atuação enquanto
agentes multiplicadores(as) de informações sobre cidadania, sexuali-
dade e prevenção de DST-HIV/AIDS. Para que este objetivo seja
alcançado pretende-se:
1. instrumentalizá-los para a percepção de situações de risco para
infecções por agentes de transmissão sexual;
2. discutir prevenção de DST/AIDS e uso abusivo de drogas partindo
do pressuposto que prevenção é ação-cidadã;
3. estabelecer a importância da construção de uma identidade social,
racial/étnica e de gênero, do autoconhecimento e da auto-estima para
a prática saudável da sexualidade;
4. discutir questões referentes à contracepção, aborto e concepção;
5. discutir questões referentes à maternidade e paternidade precoces;
6. estabelecer novos parâmetros de qualidade de vida, levando em con-
sideração a realidade do meio em que estes sujeitos estão inseridos;
7. estabelecer estratégias para o exercício de cidadania e construção
de um espaço de convivência saudável e com igualdade de opor-
tunidades;
8. promover conversas periódicas com pais-mães e/ou responsáveis
pelos(as) participantes do projeto;
142 Igualdade de oportunidades para as mulheres
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146 Igualdade de oportunidades para as mulheres
1
Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC)
150 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Os exames de prevenção
As ações de controle do câncer cérvico-uterino envolvem ati-
vidades preventivas e curativas, a seguir discriminadas: consulta clí-
nico-ginecológica, coleta de material para esfregaço cérvico-vaginal,
teste de Schiller, colposcopia, citopatologia, histopatologia, tratamen-
to dos processos inflamatórios e neoplasias intra-epiteliais, encami-
nhamento para clínica especializada dos casos indicados para com-
plementação diagnóstica e/ou tratamento, controle dos casos
negativos e acompanhamento dos casos tratados (BRASIL, 1994).
Pesquisas realizadas em 1989 evidenciam que o controle das
principais neoplasias ginecológicas depende de 3 fatores: a) da possi-
bilidade das mulheres utilizarem os recursos existentes de saúde; b)
da existência de atividades voltadas para a prevenção das neoplasias;
c) da relação estabelecida entre os profissionais e as usuárias para a
152 Igualdade de oportunidades para as mulheres
2
O nome foi atribuído em honra a George N. Papanicolaou que, no ano de
1917, descobriu a possibilidade de diagnosticar transformações malignas atra-
vés do estudo das células das mucosas do trato genital feminino (MEDINA, 1997).
O exame ginecológico: caminhando para uma vida com menor desigualdade 153
3
A categoria gênero pressupõe a compreensão das relações que se estabele-
cem entre os sexos na sociedade, diferenciando o sexo biológico do sexo
social. Enquanto o primeiro refere-se às diferenças anátomo-fisiológicas,
154 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Proposta de intervenção
1. Objetivos
• Caracterizar os(as) profissionais de saúde em estudo, de acordo
com a idade, estado civil, filhos, escola em que se formou, tempo de
formação, cursos de especialização, tempo de trabalho, função que
exerce;
• Levantar a percepção dos(as) profissionais de saúde acerca
dos procedimentos desenvolvidos no serviço;
• Identificar as representações e as contradições explicitadas,
acerca do primeiro exame ginecológico de prevenção de câncer de
colo uterino e de mama realizado pelas usuárias do serviço;
• Interpretar tais representações sociais acerca do exame gine-
cológico, a partir das reflexões obtidas com as usuárias, privilegiando
a categoria gênero;
• Construir, em conjunto com os profissionais de saúde, uma
estratégia educativa de cunho crítico para a transformação da aten-
ção ginecológica no processo saúde-doença das mulheres;
• Avaliar o impacto da intervenção executada tendo por base
as questões identificadas.
2. Caminho metodológico
2.1. O método
A presente proposta de intervenção utilizará a categoria gêne-
ro como foco analítico central, o qual perpassará todas nossas ações.
Um aporte interessante que ajuda a refletir na transformação
da atenção ginecológica no processo saúde-doença baseia-se num
quadro construído por Egry (1994), a partir das considerações de
Breilh (1990) e adaptado por Fonseca (1996), que mostra as diferen-
ças entre a saúde pública e a saúde coletiva com respeito à saúde da
mulher, onde são abordados diversos elementos, a partir de uma vi-
são da Saúde Coletiva (Quadro 1):
Quadro 1
Diferenças entre a saúde pública e a saúde coletiva
na abordagem da saúde da mulher
ELEMENTOS VISÃO DA SAÚDE PÚBLICA VISÃO DA SAÚDE COLETIVA
• Conceito de saúde-doen- • Empírico, reduzida ao plano fenomênico e indivi- • Determinado historicamente pelo processo
dualizado da causação biológica. coletivo de produção dos fenômenos sociais.
Igualdade de oportunidades para as mulheres
ça.
• Conceito de saúde-doen- • Agravos relacionados à especificidade biológica da • Perfis de saúde-doença determinados historica-
ça da mulher. população feminina (relação causa-efeito). Priori- mente na situação social da mulher compreen-
zação da problemática relacionada à função repro- dida segundo classe social, gênero, raça/etnia,
dutiva da mulher. geração.
• Saúde materna, saúde reprodutiva. • Saúde da mulher.
• Conceito de saúde-doen- • Método empírico-analítico baseado no funcional • Método dialético embasado na filosofia da pra-
ça. positivismo (estrutural funcionalista, Popperiano ou xis.
• Conceito de saúde-doen- fenomenológico). • Epistemologia feminista: utiliza gênero, ra-
ça da mulher. • Fundado nos mesmos pressupostos anteriores ça/etnia, idade como categorias analítico-inter-
capazes de analisar a função reprodutiva da mu- pretativas dos perfis de saúde-doença da
lher. Usa sexo, raça, etnia, idade como variáveis. mulher.
• Demandas originárias das lutas populares,
• Sob a ótica do Estado e de seus interesses na crítica e renovação do “que fazer” estatal.
• Centralização da ação. sociedade capitalista.
• Demandas dos movimentos de mulheres, de
• Centralização da ação • Responde aos interesses capitalistas do papel da gerações, raciais.
na saúde da mulher. mulher de reprodução e manutenção da força de
trabalho. • Subjaz à noção de cidadania e de direito à
saúde.
• Mudanças radicais, consideradas a dialética
• das possibilidades e necessidades, resultantes
Amplitude e dinâmica • Melhorias graduais e localizadas, dentro das pos- do embate entre o Estado e a Sociedade.
das ações. sibilidades limitadas e definidas pelo Estado.
• Amplitude e dinâmica • Melhorias nos perfis de saúde reprodutiva, dentro • Mudanças na situação social das mulheres,
dentro das possibilidades e necessidades re-
das ações de saúde das possibilidades definidas pelos organismos in- sultantes do embate entre o Estado e os movi-
da mulher. ternacionais e pelo Estado. mentos sociais de mulheres, negros, idosos,
jovens.
158
Construído por EGRY (1994) a partir das considerações de BREILH (1990) e adaptado por FONSECA, R. M.G. S. da (1996)
O exame ginecológico: caminhando para uma vida com menor desigualdade 159
4
A intervenção será realizada com os profissionais que atuam no serviço
ambulatorial do HU-USP, realizando a consulta ginecológica que inclui o
exame de prevenção de câncer de colo uterino (exame Papanicolaou) e de
mama. São 5 enfermeiras, 30 médicos obstetras (dos quais 15 são mulhe-
res) e 10 médicos ginecologistas (dos quais 4 são mulheres). Será captada a
visão de mundo desses profissionais que, como parte integrante da socie-
dade, são reprodutores e transmissores do conhecimento.
160 Igualdade de oportunidades para as mulheres
5
Mediante os programas dos software DBASEIII-Plus e EPI-INFO 6, sendo
apresentados de forma descritiva segundo a freqüência absoluta.
162 Igualdade de oportunidades para as mulheres
6
Explica que a sintaxe discursiva compreende os processos de estruturação
do discurso que estão expressos no mecanismo do discurso direto, indireto
e indireto livre. A semântica discursiva é abordada pelo autor como o campo
das determinações inconscientes, e constitui a maneira de ver e pensar o
mundo numa dada formação social, caracterizando como campo da deter-
minação ideológica. Segundo esta orientação, os discursos dos atores/fa-
lantes sofrerão uma análise e interpretação para a apreensão dos conteú-
dos-chave contidos.
O exame ginecológico: caminhando para uma vida com menor desigualdade 163
Referências bibliográficas
ALMEIDA, A. M. de. (1991) Câncer de mama: análise de fatores de
risco sob a perspectiva da teoria de Kurt Lewin. Dissertação de
Mestrado, 61p. Rio de Janeiro: Escola de Enfermagem Anna Nery,
Universidade Federal de Rio de Janeiro.
164 Igualdade de oportunidades para as mulheres
C irú rg ica 2362 2729 2904 2725 3080 2572 2974 3185 2829 3328 3265 2510 2724 2853 3473
G in e co lo g ia 534 714 576 384 612 398 629 635 535 643 603 459 481 395 589
O b ste trícia 264 238 220 255 273 187 234 239 208 219 226 177 295 222 244
Fonte: Relatório mensal unificado Atendimentos realizados e estatística administrativa segundo clínica do HU-USP
DIAS ÚTEIS 20d 18d 21d 21d 22d 18d 23d 22d 21d 23d 20d 17d 22d 17d 20d
cons. enferm.
colposcopia 33 46 53 35 56 31 57 45 41 36 24 29 46 48 20 42 26 35
proced.médico
biópsia 05 06 03 01 45 02 06 09 04 04 05 09 09 06 09 03 13 06
proced.médico
Fonte: Relatório mensal unificado Atendimentos de obstetrícia realizados e estatística administrativa do HU-USP
O exame ginecológico: caminhando para uma vida com menor desigualdade 169
CLÍNICA JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN
170
citologia de -- -- -- -- -- -- -- -- 14 10 03 04 02 02 0 0 02 0
mama
Fonte: Relatório mensal unificado Atendimentos de Ginecologia (Consulta de Enfermagem) realizados e estatística administrativa do HU-USP
CLÍNICA JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN
citologia/ 215 279 224 136 235 168 279 261 205 237 217 136 159 144 210 148 158 193
colposcopia
biópsia 49 45 43 36 76 44 42 45 29 35 38 40 24 19 25 39 32 45
Tabela 1
10 - 15 10 03 01 06 05 15 11 51 1,05
15 - 20 38 46 57 45 47 79 38 350 7,21
20 - 30 221 172 159 182 165 251 142 1292 26,62
30 - 40 183 180 150 170 183 206 153 1225 25,24
Tabela 2
10 - 15 02 03 03 05 09 06 04 32 2,01
15 - 20 31 22 35 38 36 43 39 244 15,33
30 - 40 68 53 58 59 49 79 57 423 26,58
40 - 50 6 5 5 6 4 6 5 37 2,32
50 - 60 0 0 0 0 0 0 0 0 0
> 60 0 0 0 0 0 0 0 0 0
TOTAL 245 211 231 222 190 271 221 1591 100%
4 CAPÍTULO
Construir uma sociedade
sustentável
Gênero e meio ambiente: construindo a Agenda 21 de ação das mulheres... 175
4. População-alvo
O projeto realizar-se-á no município de Espírito Santo do Tur-
vo, localizado a 353 km da capital do estado de São Paulo, na zona
administrativa de Santa Cruz do Rio Pardo. Sua população, segundo
o censo de 1996, é de 3.108 habitantes, sendo 1600 do sexo masculi-
no e 1508 do sexo feminino, dos quais 2.681 habitantes estão na
zona urbana e 427 na zona rural.
186 Igualdade de oportunidades para as mulheres
5. Objetivos
O objetivo geral deste projeto é fortalecer a participação das
mulheres de Espírito Santo do Turvo nas diversas instâncias políticas
e administrativas da cidade, por meio da implementação da Agenda
21 de Ação das Mulheres.
6. Metodologia
Pensar a cidade ao feminino é sem dúvida nenhuma um novo
exercício de reflexão para todo o movimento de mulheres,
Gênero e meio ambiente: construindo a Agenda 21 de ação das mulheres... 187
7. Referências bibliográficas
ADORNO, R. C. F.; CASTRO, A. L. (1994) O exercício da sensibilida-
de: pesquisa qualitativa e a saúde como qualidade. Saúde e So-
ciedade, v. 3, n. 2, FSP/USP, Associação Paulista de Saúde Pú-
blica.
ARRUDA, A. M. S. (1995) Uma contribuição às novas sensibilidades
com relação ao meio ambiente: representações sociais de grupos
ecologistas e ecofeministas cariocas. Tese de Doutorado em Psi-
cologia Social Instituto de Psicologia USP.
BARBIERI, T. (1997) Certezas y malos entendidos sobre la categoria
gênero. In: Estudios Básicos de Derechos Humanos IV, IIDH
ASDI y Comision de la Unión Europea, San Jose, Costa Rica.
188 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Introdução
Este trabalho teve seu início com o projeto Escola, Saúde e
Meio Ambiente, cujo objetivo era integrar a Secretaria da Saúde e da
Educação para desenvolverem um trabalho ligado ao meio ambiente,
na região do bairro do São João, no município de Mauá, área da Gran-
de São Paulo (SP).
Foi extremamente difícil encontrar escolas interessadas em es-
tabelecer uma parceria. Finalmente, depois de mais de três meses, quan-
do eu quase desistia, a escola municipal de ensino básico Cora Coralina
aceitou realizar o primeiro projeto que está em andamento.
Neste momento, senti que esta foi minha primeira lição enquanto
educadora ambiental; por mais que eu possa acreditar que sejam inte-
ressantes, realizar trabalhos nesta área, preciso aprender a recuar, a
transformar, a esperar o tempo do outro.
Passei então a realizar o projeto atual Qualidade de vida: uma
construção a partir da vivência das mulheres, que também ensinou-
me muito na medida em que o primeiro nome que escolhi foi: A mu-
lher e o lixo e, por intermédio do curso de Formação de agentes para
promover a igualdade das mulheres, do NEMGE, percebi que estava
considerando as mulheres como as responsáveis pela grande quantida-
de de lixo no bairro e que eu não as via como aquelas capazes de sensi-
bilizarem-se e sensibilizar para o cuidar do local onde vivem.
Tive um crescimento pessoal, na medida em que passei a perce-
ber o cuidado que tenho comigo e como cuido das pessoas que estão ao
meu redor, a importância desse cuidar, e que eu também posso, ao
estar sensibilizada, sensibilizar.
192 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Foi difícil passar para o papel aquilo que percebia das relações
existentes entre: população x bairro; casa x rua; privado x público; e
fazer as relações destes com a teoria.
Aprendi, enquanto educadora ambiental, a assumir e aceitar
as minhas limitações, e não me frustar por isso, mas sim buscar ma-
neiras de superar esta dificuldade de escrever e também aceitar as
limitações, sejam quais forem, daqueles com quem vou trabalhar.
A devolutiva dos resultados obtidos com a pesquisa ainda não
foi realizada, mas estou satisfeita com os resultados que obtive, pois
para o problema que levantei sobre se eram capazes de sensibiliza-
rem-se para sensibilizar, consegui resposta: sim, são, na medida em
que demonstram uma grande preocupação com o cuidar da casa e
seu entorno.
Acredito que apesar de toda a opressão em que vivem, seja na
casa ou na rua, proporcionada pela realidade socioeconômica, pode-
rão, com a devolutiva da pesquisa, criar um plano de ação que traga
a qualidade de vida para a região.
I. O problema
Pretendo com este trabalho verificar como as mulheres
usuárias da Unidade Básica de Saúde do bairro São João, no muni-
cípio de Mauá (SP), podem ser sensibilizadas, a fim de sensibiliza-
rem a comunidade para que haja um cuidado maior com o local
onde vivem.
Este trabalho surgiu a partir de minha atuação como assistente
social em uma Unidade Básica de Saúde no bairro do São João, do
citado município.
A cidade de Mauá é dividida em regiões e o bairro São João
está localizado na região de número 12, que tem as seguintes caracte-
rísticas: pouco verde, rio e córrego poluídos. Isso foi conseqüência da
necessidade de adaptação do bairro à vida de 21.955 habitantes. No
bairro existem bens como comércio, indústrias e várias instituições
que, se por um lado trouxeram melhorias e desenvolvimento, por
outro trouxeram poluição, necessidade de canalização dos córregos,
interferência nas condições do meio ambiente e na qualidade de vida
Qualidade de vida: uma construção a partir da vivência das mulheres 193
II. Diagnóstico
Realizei uma pesquisa com quinze mulheres, freqüentadoras
da Unidade Básica de Saúde do São João, que buscavam atendimen-
to e orientação no serviço social.
São mulheres em sua maioria jovens, casadas, que estão en-
volvidas com o cotidiano da casa, caracterizado por: a) limpeza dos
móveis, roupas; b) preparo dos alimentos; c) compra dos materiais
Qualidade de vida: uma construção a partir da vivência das mulheres 195
III. Resultados
Entrevistei mulheres que pertencem à faixa etária de 26 a 78
anos; 40% possui entre os 21 e 29 anos.
Quanto ao nascimento, 53% provém dos estados de São Paulo,
Minas Gerais e Espírito Santo.
O nível de escolaridade divide-se: 40% cursou de 1ª a 4ª série,
e 46% de 5ª à 8ª série.
Para que os dados colhidos fossem melhor percebidos, dividi-
os entre: casa, rua e bairro.
196 Igualdade de oportunidades para as mulheres
dios ...muita gente não liga para limpar jogando lixo no meio da
rua...
O cuidar está dentro da casa e não no meio da rua ...da frente
da minha casa eu cuido...
O relacionamento com os vizinhos se limita a cumprimentos,
fato este relacionado à questão do medo de que possam haver fuxicos
e diz que me disse!, ...evito fuxico. ...Só me relaciono quando
posso pois trabalho!.... Explicam esta falta de sociabilidade de vizi-
nhança pelo pouco tempo que têm devido ao trabalho fora de casa.
No bairro não existem praças ou festas características, reve-
lando ausência de uma cultura específica à região; às vezes algumas
festas de aniversário. ...às vezes um aniversário murcho...
Conseguem perceber que a falta de lazer está relacionada à
realidade socioeconômica ...não tem nada, é vila de pobre, pessoa
que luta com a vida...; há aparentemente uma acomodação com
esta ausência.
Existem instituições públicas como escolas municipais, esta-
duais, creches, mas a maioria das entrevistadas desconhece o nome
da instituição.
Muitas moram perto do rio ou de córrego, vendo neles uma
possibilidade de depósito de lixo, ou esgoto.
Uma moradora, que reside no local há trinta anos, compara o
rio de ontem com o rio de hoje. ...Antigamente, ele era maravilho-
so! Era cristalino, dava para beber água e lavar a louça, hoje é córrego
podre, até cheira mal...
Devido a grande urbanização da região existem poucas árvo-
res e matas.
As mulheres mais velhas consideram a mata bonita e impor-
tante. ...tem uma chácara que é puro mato, que é de uma firma, que
é cercado pro povo não invadir, eu acho bonito!
As mulheres mais jovens associam a existência da mata à vio-
lência, não a consideram importante e acreditam que quando ela di-
minui é o sinal da chegada do progresso no bairro. ...tem matinha
que já foi mato mesmo e agora está aberto, diminuiu o mato, ficou
melhor..., ...no fundo de casa tem uma mata e apareceu um homem
morto estes dias...
198 Igualdade de oportunidades para as mulheres
2
Espécie de supermercado popular.
3
Carrocinha são veículos da Prefeitura para apreensão de cachorros sem
dono.
200 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Conclusão
A melhoria da qualidade de vida resulta do desenvolvimento
sustentável articulado entre o ser humano e o meio onde ele vive.
Isso se dá por intermédio de uma integração dos espaços públi-
cos e privados.
Hoje a realidade é de uma agonia planetária, como diz Morin
(1993).
Os problemas são tantos: violência, desemprego, fome, doen-
ças, que atingem ambos os espaços (público x privado), e se torna
difícil pensar se haverá alguma qualidade de vida futuramente.
Mas, de acordo com Guatarri (1995), a integração do meio
ambiente, das relações sociais e da subjetividade humana podem res-
gatar e transformar essa agonia.
As mulheres, por estarem sensibilizadas com o cuidar da casa,
têm tido essa responsabilidade pelo cuidar, entronizada, e podem levá-
la para a rua e para as relações que se estabelecem com o meio am-
biente. Mas estas ações devem ser compartilhadas por homens e
mulheres, jovens sem discriminação de gênero.
Após a análise dos dados, propus uma reunião com as entre-
vistadas. Este se tornou o primeiro momento de sensibilização. Pro-
202 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Referências bibliográficas
GUATARRI, F. (1995) As três ecologias. 5. ed. Trad. Maria Cristina F.
Bittencourt. Campinas: Papiras.
IGUALDADE. (1992) Revista da Procuradoria Geral do Estado de São
Paulo, 41 (supl.), junho.
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reforma urbana. 2. ed. Rio de Janeiro: BCD, União de Editoras S.
A., p. 169-88.
MATTA, R. da (1985) A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e
morte no Brasil. São Paulo: Brasiliense.
MORIN, E.; KERN. A. (1993) A agonia planetária. Terra Pátria. Co-
leção Epistemologia e Sociedade. Portugal: Instituto Pigot.
PHILIPPI Jr. (1982) Saneamento do meio. São Paulo: Fundacentro, p.
3-4. Introdução.
PINTO, C. R. J. (1992) Movimentos sociais: espaços privilegiados da
mulher enquanto sujeito político. In: COSTA, A. O. et BRUSCHINI,
(Org.) Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa os Tempos.
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tivas para velhos temas. In: RIBEIRO, L. C. de Q. e SANTOS Jr., O.
A. Globalização, fragmentação e reforma urbana. 2. ed. Rio de
Janeiro: BCD, União de Editoras S. A., p. 351-72.
VIEZZER, M. et al. (1990) Col. Relações de Gênero na Educação Am-
biental. In: TRAJBER, Raquel (Org.). Avaliando a educação am-
biental no Brasil. 2. ed. São Paulo: Gaia, p. 138-52.
Qualidade de vida: uma construção a partir da vivência das mulheres 203
5 CAPÍTULO
Para enfrentar doenças
sexualmente transmissíveis
Aids e gênero: treinamento para formação de agentes multiplicadores... 205
Apresentação
O presente trabalho relata uma ação positiva resultante do
Curso de Formação de Agentes de Igualdade de Oportunidades para
as Mulheres, da Universidade de São Paulo.
Trabalhamos no Ambulatório de Infectologia e Centro de
Orientação e Apoio Sorológico COAS, do Programa de DST/AIDS,
no município de Mauá, área da região metropolitana do estado de
São Paulo.
Optamos por fazer um trabalho em conjunto porque entende-
mos que nossas formações profissionais, embora distintas, são com-
plementares na abordagem das questões de gênero. Além disso, a
eleição do tema foi condicionada pela área onde atuamos e, devido
às complexidades existentes, um trabalho em parceria otimizaria os
resultados.
A princípio pensávamos trabalhar as questões de gênero com
as mulheres já infectadas pelo HIV, matriculadas no Ambulatório
de Infectologia. Identificávamos duas áreas de intervenção: a pri-
meira, a precária situação econômica dessas mulheres. A segunda,
o fato de que, após um período traumático de diagnóstico e início
de tratamento, algumas mulheres começavam a refazer a vida afeti-
va elegendo, contudo, homens com perfil semelhante aos parceiros
anteriores com os quais mantinham relações que resultaram na in-
fecção pelo vírus da AIDS.
206 Igualdade de oportunidades para as mulheres
A feminização da AIDS
...Estar excluído(a) da sociedade não é estar fora da sociedade,
é muito mais grave do que isto. Significa estar dentro da sociedade
destituído(a) do bem social, sem acesso à riqueza e à proteção comuns
Aids e gênero: treinamento para formação de agentes multiplicadores... 207
1
ÁVILA, Maria Betânia. Direitos reprodutivos, exclusão social e AIDS. In:
I Seminário direitos reprodutivos, exclusão social e AIDS. São Paulo,
janeiro de 1998.
208 Igualdade de oportunidades para as mulheres
sexuais, não para a mulher casada, não para a esposa, não para aque-
la que estava em casa. Mas sim para os outros na rua. E é ao contrá-
rio, a AIDS também acontece para a gente que é dona de casa. Como
aconteceu comigo.
O pequeno condon de látex desencadeia inúmeras reações,
sensações, sentimentos, subjacentes não só no momento do sexo, mas
também em outros momentos e situações de vida. O passar dos anos
e os trabalhos de educação em saúde tornaram os preservativos um
elemento natural na cultura dos mais diversos povos. A discussão
dos usos dos preservativos é importante, na medida em que a via de
infecção das mulheres pelo vírus da AIDS é a sexual, o que remete
diretamente para as questões de gênero que perpassam a relação se-
xual.
2
O Plano Diretor é um plano de desenvolvimento, previsto pela Constitui-
ção Federal, obrigatório para todas as cidades com mais de 20.000 habi-
tantes. É o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão
urbana.
210 Igualdade de oportunidades para as mulheres
• PROGRAMA DE DST/AIDS
Está inserido na Secretaria de Saúde do município e tem como
objetivo o controle e prevenção das DST/AIDS. Suas principais ações
são realizadas no COAS (Centro de Orientação e Apoio Sorológico)
e no Ambulatório de Infectologia, com o apoio das Unidades Básicas
de Saúde UBS e do Hospital de Clínicas do município.
O Ambulatório de Infectologia atende pacientes com procura
espontânea ou encaminhados por banco de sangue, pronto-socorro,
UBS, hospitais e outros serviços de infectologia, que já tenham um
diagnóstico confirmado ou necessitando de confirmação. Embora
atenda às várias doenças infecto-contagiosas e às DSTs, a maior de-
manda do Ambulatório é constituída por casos de HIV/AIDS.
O COAS Beija Flor oferece à comunidade em geral acon-
selhamento sobre DST/AIDS, estimulando práticas preventivas no
uso de drogas e sexo seguro. Oferece diagnóstico sorológico para HIV
e sífilis, de forma segura, anônima e voluntária. O COAS é mantido
por uma parceria entre o Ministério da Saúde, a Secretaria Estadual
de Saúde e a Prefeitura de Mauá.
3
BARBOSA, Regina Maria. Sexo e prazer sem medo (1994).
4
IEHMANN, Carolyn. Mulher, corpo, mente e alma: um programa de saúde
mental para mulher, por mulheres (s. d.).
218 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Atividade Número
Monitora de atividade co- 19
munitária
Liderança comunitária 06
Outro 02
Não respondeu 04
Total 31
Idade Número
20 II 29 02
30 II 39 05
40 II 49 14
50 II 59 05
60 II 69 03
Não respondeu 02
Total 31
3.3.2. Grau de absorção de informação
3.3.2.1. O que é AIDS e quais são suas formas de transmissão.
! 18 participantes mencionaram que a AIDS é uma doença ou
síndrome transmitida por um vírus, sem cura e com tratamento.
! 12 participantes não definiram AIDS, mas souberam citar as for-
mas de infecção.
! 1 participante não definiu AIDS, nem citou as formas de trans-
missão, mas respondeu que é uma doença transmitida quando
não se usa camisinha.
! 30 participantes citaram as formas de infecção, sendo a sexual e
o sangue contaminado as mais lembradas. Nenhuma delas citou
a transmissão vertical.
220 Igualdade de oportunidades para as mulheres
5. Considerações finais
Quando iniciamos o curso de Formação de Agentes de Igual-
dade de Oportunidades, buscávamos apenas ampliar nossos recur-
sos profissionais para trabalhar de uma maneira mais eficiente com as
Aids e gênero: treinamento para formação de agentes multiplicadores... 225
Referências bibliográficas
AYRES, José R. de C. M. (1997) Vulnerabilidade e AIDS: para uma
resposta social à epidemia. In: Boletim Epidemiológico do Pro-
grama de DST/AIDS da Secretaria de Saúde do Estado de São
Paulo. Ano XV, n. 3, dez./97, p. 2-4
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36.
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liberdade e da igualdade. São Paulo: Centro de Estudos, p. 371-
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Setecidades, p. 5.
LEITE, José Antonio (1993) Mulheres agredidas fazem peça de pro-
testo. In: Diário do Grande ABC, Caderno B, Cidades 3.
Aids e gênero: treinamento para formação de agentes multiplicadores... 227
Anexo
Em reunião realizada com a equipe da Coordena-
doria da Mulher, foi possível conhecer a história dos mo-
vimentos de mulheres da cidade ao longo dos anos e o
trabalho realizado por aquela Coordenadoria; tendo sido
propostos três grupos para se desenvolver um trabalho:
1) MOVA Movimento de Alfabetização, com-
posto de 50 a 60 pessoas de ambos os sexos. A experiên-
cia poderia ser repassada aos outros grupos do MOVA
distribuídos pela cidade no horário noturno.
2) Mães de creche. Por meio de acordo a ser fir-
mado junto a Secretaria Municipal de Educação, seria
solicitado um dia para promover a reunião com as mães.
3) Oficina para Monitoras, Lideranças dos Movi-
mentos de Mulheres e Membros da Coordenadoria da
Mulher. Prevista a presença de aproximadamente 30 mu-
lheres nas oficinas entre monitoras e lideranças.
Junto com a coordenadora do Programa Munici-
pal de DST/AIDS foram analisados os prós e os contras
de cada grupo.
1) MOVA
Pró: grupo misto.
Contra: atuação em apenas um MOVA em ho-
rário noturno, atingindo poucas pessoas.
2) Mães de creche
Pró: reafirmar o elo entre as Secretarias de Edu-
cação, Família e Saúde. Atingir as mães no horário de
aula dos filhos.
Aids e gênero: treinamento para formação de agentes multiplicadores... 229
• 1º Encontro
A. Apresentação das profissionais e da proposta de treinamento, res-
saltando os números que mostram o aumento da epidemia entre as
mulheres, sobretudo em Mauá, por meio de transparências apresen-
tadas em retroprojetor.
B. Apresentação das participantes. Cada uma receberá um crachá
onde deverá escrever seu nome.
C. Construção das regras do grupo: o grupo será convidado a listar as
regras que nortearão os trabalhos, cuidando-se que apareçam:
Não julgar;
Não censurar os próprios pensamentos;
Respeitar as diferenças;
Ninguém é obrigado a falar.
O cartaz ficará afixado em local visível durante os encontros.
D. Iniciando a discussão sobre Mulher e DST/AIDS. Em 5 subgrupos,
as mulheres discutem o tema O que as pessoas pensam sobre DST/
AIDS e apresentam o resultado das discussões com o seguinte mate-
rial:
Grupos de 1 a 3 cartolina, canetas hidrográficas, lápis de
colorir, revistas para recortar, tesoura e cola.
Grupo 4 cartolina e um pincel atômico.
Grupo 5 recebe apenas instruções verbais e será o último a
expor seu trabalho.
Pretende-se motivar o grupo a analisar o processo de trabalho dos
grupos com paralelo para a situação de desigualdade e exclusão em
que vive parte da população feminina.
E. Avaliação do dia.
• 2º Encontro
A. Retomar a avaliação do dia anterior.
B. Conhecendo as DST:
Aids e gênero: treinamento para formação de agentes multiplicadores... 231
C. Avaliação do dia:
3º Encontro
A. Retomar a avaliação do dia.
B. Conhecendo o HIV e a AIDS: divididas em 3 subgrupos, segundo
o tipo de flores desenhadas nos crachás, as participantes deverão cum-
prir as seguintes tarefas:
Grupo 1: definir AIDS e as formas de transmissão. Este grupo
receberá material informativo e a prancha II para visualizar o
processo de infecção e explicá-lo para o grupo maior. Se possí-
vel, haverá cópias da prancha II para todas as participantes.
C Avaliação do dia
4º Encontro
A. Retomar a avaliação do dia anterior.
B. O papel do agente multiplicador: divididas em 5 subgrupos, segun-
do os números dos crachás, as participantes receberão as pranchas 7 e
8 (1 por grupo) e deverão criar uma estória que conte a rede de trans-
missão do HIV ou de uma DST. Quando os grupos terminarem, solici-
tar que apontem quem, naquela rede, poderia ter impedido a transmis-
são. Cada grupo apresentará o resultado de seu trabalho. As
coordenadoras e as demais participantes apontarão as falhas quanto a
transmissão, preconceitos quanto aos grupos ou pessoas; também será
discutida a ação do agente multiplicador como fator importante na
prevenção das doenças.
C. Divididas em subgrupos por afinidades, de 4 pessoas, as participan-
tes deverão discutir o seguinte tema: Como eu vejo o papel do monitor
na prevenção de DST/AIDS na minha região? No meu trabalho junto
à população, quais facilidades e quais dificuldades eu teria para realizar
estas orientações? Após a apresentação dos grupos, discutir a propos-
ta de continuidade dos trabalhos, através da assessoria para aquelas
que quiserem realizar oficinas nos grupos dos quais são monitoras.
D. Avaliação do treinamento
A
Secretaria da Criança, Família e Bem-estar Social e a Secretaria de Saúde
de Mauá
Através da Coordenadoria da Mulher e do Programa de DST/AIDS
Você sabia?
Maiores informações:
Coordenadoria da Mulher de Mauá
Fone: 450-l999 PARTICIPE
Comunicação social: um espaço mulher no rádio 235
6 CAPÍTULO
Gênero, mídia e política
Comunicação social: um espaço mulher no rádio 237
COMUNICAÇÃO SOCIAL:
UM ESPAÇO MULHER NO RÁDIO
1. Introdução
O rádio surgiu da necessidade de se emitir mensagens seguras e
rápidas entre duas pessoas em pontos distantes. Mais tarde, foi inven-
tado o aparelho de transmissão de programação variada que, até hoje,
apesar do advento da televisão e da internet, atinge milhões de pessoas
em todo o mundo.
Um aparelho de rádio é fácil de ser transportado, o que possibi-
lita que ele seja levado a toda parte e esteja presente no cotidiano de
milhões de pessoas em todo o Brasil. Em casa, donas de casa e adoles-
centes ouvem os mais diferentes programas, sem interromper suas ati-
vidades diárias. Na rua, nas horas de congestionamento, é ele o veículo
de comunicação de todas as horas.
Há programas dos mais diferentes tipos: musicais, informativos
sobre temas de cultura, fofocas sobre a vida de artistas, noticiários,
transmissão de notícias de parentes distantes...
A linguagem utilizada pelas emissoras de rádio é a coloquial,
pois é um meio de comunicação que conta apenas com a audição. Isto
significa que o som deve suprir a falta de imagem. Daí a importância de
que a linguagem seja ao mesmo tempo nítida e rica em informações.
O rádio dá oportunidade do indivíduo exercer outra atividade
ao mesmo tempo em que está ouvindo. Por exemplo, pode trabalhar,
fazer exercícios, arrumar a casa enquanto está ouvindo o rádio.
Outro fator importante é a rapidez com que a informação é trans-
mitida.
Das rádios existentes atualmente, em torno de cinqüenta no
estado de São Paulo, nenhuma contém programas voltados exclusiva-
238 Igualdade de oportunidades para as mulheres
2. Proposta
Com base nisso, surgiu a idéia do ESPAÇO MULHER, que
consiste em programa voltado para a mulher, trazendo assuntos do
seu interesse, abordando temas atuais e polêmicos que ao mesmo tem-
po atuem como esclarecedores dos direitos da mulher enquanto di-
reitos humanos.
O ESPAÇO MULHER será veiculado primeiramente em rá-
dios comunitárias, antes de se tentar atingir as emissoras comerciais.
Não queremos atingir apenas o grupo formador de opinião,
mas a população feminina como um todo, dando oportunidade à po-
pulação feminina de expor seus pontos de vista, esclarecendo suas
dúvidas, por meio de cartas, telefonemas, fax, e-mails enviados para
o programa. As respostas serão respondidas diariamente por especia-
listas convidados(as) dentro do ESPAÇO MULHER.
Pretende-se abordar temas variados como saúde; direitos hu-
manos, civis, políticos etc.; sexualidade; meio ambiente; mercado de
trabalho; acesso à educação entre outros.
Além disso, o programa também terá uma parte cultural, com
poemas, contos, resenhas de livros, novelas, sempre ligados ao temas
debatidos, fazendo com que a ouvinte reflita sobre o assunto, relacio-
nando-o ao seu cotidiano, criando relações proveitosas com histórias
reais.
Essa parte cultural também estará aberta a receber contribui-
ções das ouvintes, a serem utilizadas de acordo com o tema do pro-
grama.
O programa estará voltado para mulheres de diferentes faixas
etárias, considerando suas especificidades e propondo um diálogo entre
elas. Como educar meninas e meninos de forma mais igualitária pos-
sível? Quais os problemas da mulher adolescente? E da mulher adul-
ta e da idosa?
Comunicação social: um espaço mulher no rádio 239
Fechamento: vinheta
(Duração 10 segundos)
Conselho estadual da condição feminina CECF: possibilidade de... 241
1. Introdução
O CECF representa um marco na história dos movimentos fe-
mininos-feministas, tendo sido o primeiro a se organizar no Brasil e
servindo de ponto de referência para a criação de outros importantes
órgãos congêneres, a exemplo do Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher, sediado em Brasília.
Historicamente, uma das funções do CECF tem sido a de for-
mular políticas públicas voltadas para as mulheres.
Neste sentido, em relação às mulheres, vários Conselhos Esta-
duais e Municipais têm sido formados, com a finalidade de conhecer
as condições de vida das mulheres e intervir para modificá-las.
O estudo da determinação social da condição feminina neces-
sariamente tem de passar pela compreensão da importância da mu-
lher na sociedade. Essa compreensão, nos últimos anos, vem sendo
embasada pelas relações sociais de gênero, compreendido como sexo
socialmente construído. Assim, nessa concepção, as condições da vida
da mulher seriam determinadas, entre outros fatores, pela sua rela-
ção social com o homem, historicamente desenvolvida numa condi-
ção de subalternidade social explicada pelas mais diversas formas,
inclusive pela divisão social do trabalho. Essa divisão subjugou a
mulher, determinando-lhe as tarefas de âmbito doméstico, restrin-
gindo em muito o espaço público que lhe é destinado.
No Brasil, a mulher tem desempenhado estes papéis em uma
condição de dupla subalternidade social e de gênero , dado que a
242 Igualdade de oportunidades para as mulheres
2. Justificativa
O movimento de mulheres ressurgiu no Brasil em meados da
década de 1970, no bojo das lutas empreendidas pela sociedade civil
pela democracia e pelo fim da ditadura militar.
Nasceu marcado pelo engajamento nas questões políticas e so-
ciais do país, mobilizando-se em campanhas pela anistia aos presos
políticos, contra a tortura, contra a carestia, por mais creches, entre
outros.
O pensamento feminista introduz-se no Brasil a partir do con-
tato de mulheres exiladas com os movimentos feministas da Europa e
dos EUA, trazendo para o Brasil a crítica à desigualdade de gênero.
Temas como sexualidade e violência doméstica foram introduzidos
na pauta das questões político-sociais.
As contradições de gênero apontadas pelas feministas foram
apropriadas e recriadas pelas mulheres das classes populares, produ-
zindo, cada vez mais, o entrelaçamento entre questões de gênero e
outros problemas gerais.
Conselho estadual da condição feminina CECF: possibilidade de... 243
3. Objetivos
4. Público-alvo
• Coordenadores(as) de planejamento das Secretarias envolvidas.
5. Metodologia
Será elaborado um questionário, a ser respondido pelos(as)
Coordenadores(as), no qual se buscará saber se o planejamento le-
vou em consideração a perspectiva de gênero.
Com base no resultado dos questionários, serão analisados os
programas e projetos das Secretarias envolvidas, de forma a levantar
até que ponto levam ou levaram em consideração a perspectiva de
gênero.
A partir dessa análise, serão realizados 3 oficinas com os(as)
planejadores(as), a fim de discutir a introdução da perspectiva de
gênero no planejamento e seu impacto na população.
As oficinas serão formadas por 3 módulos:
I. Módulo Conceitual
II. Módulo Intervenção
III. Módulo Proposição
No primeiro módulo as atividades privilegiarão o conhecimento
entre beneficiários(as) e técnicos(as). Este módulo I buscará com-
preender a visão dos(as) planejadores(as) no que se refere a seus va-
lores culturais sobre a relação entre mulheres e homens na socie-
dade.
O módulo II será interveniente. A partir de temas e de propos-
tas nos programas das Secretarias e da visão exposta no módulo ante-
rior, buscará transmitir aos(às) técnicos(as) a visão de gênero e sua
aplicação no planejamento.
O módulo III é propositivo e objetiva de maneira mais direta a
capacitação dos(as) técnicos(as) para o exercício da função de
multiplicadores(as) de informação sobre a perspectiva de gênero nas
políticas públicas.
Os módulos serão desenvolvidos por meio de atividades estru-
turadas em informação formação, que pretendem não só informar,
mas também criar vínculos que garantam a comunicação permanen-
te entre os(as) técnicos(as) e o CECF na elaboração de políticas pú-
246 Igualdade de oportunidades para as mulheres
O problema
Participação da mulher no processo de elaboração do Progra-
ma Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, na cidade de Marília
SP, iniciativa do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania de
Marília (NUDHUC), ligado à Universidade Estadual Paulista
campus de Marília.
Introdução
O Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania de Marília1 foi
formado em novembro de 1996, a partir das discussões que ocorre-
ram durante a VI Jornada Pedagógica da Unesp de Marília Educa-
1
Os objetivos do NUDHUC são: zelar pelas garantias dos Direitos Humanos
e da Cidadania, denunciando e repudiando, por todos os meios permitidos
por lei, toda e qualquer infrigência ao conteúdo da Declaração Universal
dos Direitos do Homem; opinar e, quando solicitado, orientar as ações dos
Poderes Públicos ou entidades privadas que envolvam questões ligadas aos
direitos da cidadania, em sentido amplo; acionar os Poderes Públicos no
sentido de garantir o exercício pleno e livre dos Direitos Humanos e Cidada-
nia, quando tomar conhecimento de alguma violação por parte dos agentes
públicos; promover, de todas as formas, a defesa dos Direitos Humanos, da
cidadania, da participação popular democrática, do Estado de Direito e das
Instituições Democráticas. Estruturado como fórum permanente de deba-
tes, o espírito norteador do NUDHUC ressalta a ação e a reflexão, e, media-
do pelo trabalho coletivo, tem como perspectiva a idéia de que a cidadania
ativa requer estudo e transformação da realidade local.
248 Igualdade de oportunidades para as mulheres
2
Apenas a partir de 1996, com a criação do Núcleo de Direitos Humanos e
Cidadania de Marília, ligado à Unesp-Campus de Marília-SP, a questão de
gênero volta a ser contemplada. Em 1997, foi criado o Núcleo de Pesquisa:
Educação e Questões de Gênero, também na mesma Universidade.
3
Tese de mestrado, defendida em 1997, na Unesp-Campus de Marília. Tí-
tulo: Cidadania da Mulher Professora.
Participação política da mulher: uma proposta de (re)construção... 249
4
Prefeito atual em segundo mandato, reeleito nas eleições municipais de
1996.
5
Conforme entrevista com as participantes e fundadoras do Conselho da
Condição Feminina de Marília. Este fato é explicado por vários autores
que estudaram as dificuldades para que o processo de democratização se
efetive em todas as instâncias da sociedade, entre eles Blay (1991), Pinto
(1992), Pitanguy (1999), Linhares (1999), especificamente com relação
ao movimento feminista. Ainda, Dagnino (1994), Kowarick (1991),
Jaguaribe (1969), Bobbio (s.d.), Boaventura (1997), entre outros, com re-
lação à democracia em geral.
252 Igualdade de oportunidades para as mulheres
6
Lei 9.100/95 Parágrafo 3 do Artigo 11: obriga os partidos políticos a
inscreverem 20% de mulheres em suas chapas proporcionais. O objetivo
da lei é aumentar a participação política das mulheres na sociedade (Fon-
te: Mulheres sem medo do poder: chegou a nossa vez. Cartilha para as
mulheres candidatas a vereadoras 1996).
7
De acordo com o depoimento da ex-candidata, naquela eleição alguns
candidatos de outros partidos conseguiram se eleger com apenas 320 votos
aproximadamente.
Participação política da mulher: uma proposta de (re)construção... 253
8
Em 9.10.1997, é realizado em Marília o 1º Encontro do Conselho Estadual
da Condição Feminina com o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher
de Marília e, em 15.12.1998, o 1º Seminário dos Conselhos Estaduais de
Cidadania, em São Paulo.
9
Neste projeto, do Conselho Estadual da Condição Feminina, foi enviado às
Delegacias de Defesa da Mulher material pedagógico referente a uma edu-
cação não-sexista, mas, este, no município, até o momento não foi desenvol-
vido. Com a adoção dos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1997, abor-
dada como Tema Transversal, a questão de gênero passa a ser colocada na
254 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Justificativa
Pelos motivos arrolados de forma resumida acima, pretendeu-
se observar se a criação de um espaço público não-governamental
que discutisse os problemas gerais do município, entre eles a questão
de gênero, seria um fato novo positivo no âmbito local.
A década da mulher, declarada pela Organização das Nações
Unidas, para os anos 70/80, possibilitou um amplo debate e uma cam-
panha política efetiva das feministas, imprescindíveis à cidadania da
mulher.
Ao questionar as decisões do poder, os movimentos de mulhe-
res saíram do âmbito doméstico e passaram a lutar por uma nova
ordem de prioridades nos investimentos públicos. Do espaço domés-
tico, as mulheres passaram a agir contra as decisões do Poder. Por-
tanto, sua ação orientou-se para a construção de um novo espaço
público do qual elas também fizessem parte. Questionaram as omis-
sões dos sindicatos, das associações de classe, a discriminação difun-
dida pela imprensa e ensino, buscando alterações profundas dentro
da estrutura sindical, da organização político-partidária e das pró-
prias leis que regem os direitos civis (BLAY, 1992).
Conforme anteriormente colocado, no Estado de São Paulo, o
movimento feminista estabeleceu uma interlocução positiva com o
Governo Montoro, do PMDB, processo este que levou à institucio-
nalização do movimento, não sem resistência de seus setores mais
radicais, que não viam com bons olhos essa ligação com o Estado.
10
É preciso considerar o que Nicolau (1996) apregoa: (...) a segunda expe-
riência de democracia competitiva o período pós-1985 foi pouquíssimo
examinada (...) (Introdução do livro: Multipartidarismo e democracia). O
autor se refere a partidos políticos, mas, a nosso ver, observa-se essa lacuna
também quanto aos movimentos sociais, os Conselhos de Direitos etc.
11
Cardoso (1994) chama a primeira fase dos movimentos sociais no Brasil
(década de 70 e início da década de 80) de a emergência heróica dos
movimentos. Na segunda fase, houve a institucionalização da participa-
ção dos movimentos e a relação desses movimentos com o Estado (nos
primeiros anos da década de 80). (CARDOSO, 1994, p. 81. In: DAGNINO,
1994).
256 Igualdade de oportunidades para as mulheres
sos dos movimentos que, aos olhos de um Estado dirigido por forças
conservadoras, ameaçavam a paz social. Criavam espaços de po-
der, transformando as relações cotidianas, colocando-se de forma nova
em relação aos partidos políticos e ao próprio Estado, que, por ser
conservador, resistia a estas demandas sem, no entanto, poder igno-
rá-las (PINTO, 1992).
A afirmação da autora tem similaridade com as dificuldades
impostas ao Conselho da Condição Feminina no município estuda-
do, conforme anteriormente colocado. Tais dificuldades perduram
até a atualidade em alguns casos, podendo-se perguntar qual a cida-
dania concedida12 às mulheres.
Astelarra (1994) argumenta que: (...) Por un lado, la demo-
cracia parece consolidarse (...). Por outro, sin embargo, esta
consolidación aparece acompañada por una crisis de la política en su
dimensión de creadora de proyetos coletivos que motiven y movilicen
a la población. Esta crisis se há traducido en un desinterés por la
política, en un alejamiento de la ciudadanía de las organizaciones
políticas y en una extrema burocratización de las instituciones del
Estado que aparecen como lejanas y poco vinculadas a los problemas
cotidianos (1994, p. 9).13
12
Sales analisa as raízes da desigualdade social da política brasileira, traçan-
do um retrato da construção da nossa cidadania, tratada como cidadania
concedida. Aborda as raízes dessa cultura da dádiva, expressão política de
nossa desigualdade social, mediante a relação de mando/subserviência cuja
manifestação primeira se deu no âmbito do grande domínio territorial que
configurou a sociedade brasileira nos primeiros séculos de sua formação. A
dádiva vem substituir os direitos básicos de cidadania, estes não nos foram
outorgados pelo liberalismo que aqui aportou na passagem do século (SALES,
1994).
13
A partir de 80, não só a América Latina ansiava pela volta à democracia,
mas também países da África, temos como marco as mudanças no Leste
Europeu (queda do muro de Berlim, União Soviética), a queda das ditadu-
ras militares chilena, peruana, argentina e brasileira, inclusive reaparecem
os movimentos sociais de várias formas, reivindicando identidades sociais
nos Estados autoritários. Conforme Brito (1995), a presença feminina nos
processos de mudança sociopolítica em países como Argentina, Uruguai,
Chile, Peru, Bolívia, Nicarágua, e outros foi significativa.
Participação política da mulher: uma proposta de (re)construção... 257
16
Boaventura propõe como forma de participação civil no governo local, in-
clusive o orçamento participativo. Segundo o autor, é necessário: (...) que
se altere radicalmente a lógica da fiscalidade. A nova articulação entre a
política da igualdade e a política da identidade exige que a solidariedade
fiscal seja mais concreta e individualizada. Fixados os níveis gerais de tribu-
tação, em nível nacional, e por mecanismos que representem democracia
representativa e a democracia participativa, o elenco dos objetivos financiáveis
pela despesa pública, aos cidadãos e às famílias deve ser dada a opção de, por
meio de referendo, decidir onde e em que proporção devem ser gastos os
seus impostos (BOAVENTURA, 1995, p. 51).
Participação política da mulher: uma proposta de (re)construção... 259
17
Segundo Kowarick (1999), na atualidade vive-se as conseqüências de um
processo iniciado na década de 70, que é a crise da sociedade salarial, que
traz: aumento do desemprego, precarização do trabalho, desmonte do Esta-
do de Bem-Estar Social (na Inglaterra), perda de poder de força das organi-
zações (sindicatos), desraizamento social (entra em crise uma sociabilidade
básica entre família, vizinhos, parentes, entre comunidade de bairros etc.),
apresentando efeitos no relacionamento das pessoas, violência de rua etc.,
agravando o processo de exclusão social. No Brasil, o fenômeno é de outra
natureza, se nos outros países há proteção social, aqui nunca houve, tornan-
do-se mais grave e com maiores conseqüências (anotações pessoais durante
o curso: Democracia, Política e Sociedade: Teoria e Realidade).
18
No momento, é possível um movimento maior pela facilidade de comunica-
ção global, como a Marcha Mundial de Mulheres 2000, contra a violência
e a pobreza, iniciado no Canadá, que estendeu-se como proposta do movi-
mento feminista mundial iniciado no dia 8 de março, estendendo as ativida-
des até outubro de 2000. Hoje, são 4.500 grupos de 155 países trabalhando,
em nível local e nacional, a fim de coletar assinaturas para o abaixo-assinado
da marcha e em campanha de sensibilização de mulheres e homens sobre as
reivindicações nacionais e mundiais (Folha Feminista, 2000).
260 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Objetivos
• Criar um espaço público de reflexão sobre Direitos Humanos e
Cidadania no qual a questão de gênero seja contemplada;
• Estimular a participação política da mulher no município;
• Criar um espaço público de discussão acerca de gênero, inserin-
do-o no debate sobre os problemas gerais que afetam o município;
• Articular setores fundamentais como: Conselhos, Secretarias, Co-
munidades de Bairro, Escolas, Partidos Políticos, Câmara Muni-
cipal entre outros, enfatizando a necessidade da participação da
sociedade civil e do debate acerca de gênero;
• Discutir as questões essenciais que devem ser contempladas no
Programa Municipal de Direitos Humanos e Cidadania quando
de sua elaboração, resultado de propostas concretas encaminha-
das pelos vários segmentos envolvidos no processo.
Metodologia
A subcomissão encarregada da temática Minorias e Discrimi-
nações,19 estabeleceu, a partir de 24.3.1999, uma metodologia de
Pesquisa Participante,20 com o objetivo de garantir o conhecimento e
19
Foram estabelecidas nove áreas temáticas prioritárias para reflexão e elabo-
ração de propostas para o Programa Municipal de Direitos Humanos e Cida-
dania: Educação; Segurança Pública; Justiça e Sistema Prisional; Meio Am-
biente; Saúde; Comunicação e Cultura; Criança e Adolescente; Minorias e
Discriminação; Emprego e Geração de Renda; Infra-estrutura Urbana.
20
Segundo Hall (1981), apud Demo (p. 121), a PP é descrita de modo mais
comum como uma atividade integrada que combina investigação social,
trabalho educacional e ação, procurando combinar o problema da parti-
cipação com o da pesquisa, acentuando (...) o compromisso político mais
do que o compromisso com a pesquisa. Mas existe consciência da realida-
de, o que pode ser visto, por exemplo, na idéia de transferir poder ao povo
através do processo de conhecimento. (...)Ao mesmo tempo, a PP signifi-
ca a repulsa contra a manipulação das comunidades, buscando produzir o
saber através da análise coletiva (...). Assim, criar saber popular é um dos
objetivos da PP, porque acredita-se que o domínio do saber é uma fonte de
poder, o que colaboraria no projeto de transformação social (DEMO,
p. 122, In: BRANDÃO, C. R. (Org.). Repensando a pesquisa participante).
Participação política da mulher: uma proposta de (re)construção... 261
Desenvolvimento do projeto
A primeira atividade foi uma reunião para definição coletiva
da metodologia de trabalho e cronograma das atividades a serem de-
senvolvidas no decorrer do processo. A partir deste momento, ocor-
reram:
• Reuniões periódicas semanais da subcomissão encarregada de coor-
denar os trabalhos referentes às Minorias Sociais para estudo e
encaminhamento do processo.
• Reuniões mensais com os segmentos envolvidos, com os seguintes
objetivos:
• Levantar as ações desenvolvidas no município de Marília pelos
segmentos e pela subcomissão por meio de contatos telefônicos,
entrevistas, visitas, participação em reuniões dos grupos.
• Estudo e sintetização do material referente às propostas e ações
encaminhadas pelos grupos após reflexão entre seus pares.
262 Igualdade de oportunidades para as mulheres
Considerações finais
Conforme anteriormente afirmado, a idéia de sociedade e de
coletividade se dá no espaço público em que o exercício da cidadania
acontece. A concepção de política deve referir-se hoje a atores de-
mandando direitos; e os direitos só serão garantidos se houver
mobilização e articulação dos sujeitos, cidadãos e cidadãs, no espaço
público.
Com as mudanças em curso na sociedade globalizada, viven-
ciamos a exclusão de direitos básicos de amplos setores da sociedade,
nos quais se incluem todos (homens, mulheres, negros, idosos etc.),
o que demanda uma administração pública voltada para o social em
todos os níveis, nacional, estadual e municipal.
Conforme Haggard (1995),21 os atores políticos (presidentes,
seus ministros, parlamentares, governadores, prefeitos e vereadores),
e suas bases, representam os principais canais por meio dos quais as
pressões dos grupos de interesse transformam-se em políticas e em
reforma institucional. Para ele, na atualidade, reforma do Estado não
é apenas uma questão de eficiência, mas também de participação
democrática.
Relembrando Astelarra (1994), a consolidação democrática
aparece acompanhada por uma crise da política em sua dimensão de
criadora de projetos coletivos que motivem e mobilizem as pessoas.
Essa crise gerou um desinteresse pela política e pela cidadania, que
parecem desvinculadas dos problemas do cotidiano.
Todos esses fatores discutidos, presentes não só no âmbito mu-
nicipal, contribuíram para a desmobilização do movimento feminista
no município estudado logo após sua institucionalização, o que moti-
266 Igualdade de oportunidades para as mulheres
ria mulheres, é coordenado por mulheres. Isso revela que a ação foi
positiva tanto do ponto de vista da participação política quanto do
envolvimento e sensibilização de diferentes instituições coordenadas
por mulheres e para mulheres.
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Ficha técnica