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Ento eu o olhei, e sorri.

No sei se ele me sorriu de volta, porque tinha uma lgrima que insistia em bloquear minha viso. A lgrima escorreu. E ento eu disse adeus. Mas ele j estava se virando para ir. E ele se virou. E se virando, foi embora. Fiquei por um instante ali parada, s parada olhando o seu vulto ir sumindo, ir diminuindo. Fiquei ali s, parada. Olhando. Como se ao olhar pudesse segurar, prender, fazer voltar. Mas olhares no tem esse poder. Olhares no prendem, no seguram, no dizem nada. Olhares apenas olham. E olhar no quer dizer nada. Ento, depois de uma eternidade que se passou em frao de segundos, eu tambm me virei. Mas no fui embora. Eu nunca fui muito boa nessa coisa de ir embora. Sempre escolho ficar. Mesmo a casa vazia, o dia chuvoso, a noite sombria... Eu sempre escolho ficar. E, ficando, escolho esperar. Esperar o choro cessar. O fogo apagar. A msica terminar de tocar. A dana acabar. Algum me expulsar. Nunca fui muito boa nessa coisa de ir embora. Foi assim que nos despedimos. Uma despedida sem graa. Nada merecedora de um filme ou um livro. Apenas uma despedida. Ele no olhou pra trs. Eu no gritei pedindo para ele voltar. No houve msica. No houve platia. Nem cortina a se fechar. No houve letreiro de crditos a subir, como no fim de um filme. No houve nada. Somente a silhueta desaparecendo na rua deserta, numa tarde fria de outono. Estava nublado. Disso bem me lembro. Nublado, frio, chuviscando. O vento era terrivelmente decepcionante naquele dia. Nem para ventar o vento serviu naquele dia. Ventar e bagunar os meus cabelos. Jog-los por todo o meu rosto molhado por aquela lgrima que se mostrou bem mais comprida do que eu imaginava.

No. O vento no fez nada. Escolheu ignorar-me. Escolheu ignorar minha dor, bem como minha existncia naquele momento to simples, to natural, to humano. No, no... O vento? No fez nada. Eu seria capaz descrever em detalhes cada pensamento que me passou na cabea naquele instante eterno. Mas escolho por no faz-lo. Eu escolhi ficar e esperar. E ficando, esperei. E esperando, no sei. No sei mais o que houve depois daquilo. No sou capaz de dizer o que houve depois. E depois? Depois?

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