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Crítica - Do Ensaio À Cegueira
Crítica - Do Ensaio À Cegueira
difcil no gostar de um homem que no apenas nota as cores, mas fala delas Markus Zusak Se tivesse que elogiar Jos Saramago, diria que um dominador profuso das artes letradas, mestre da conjetura ousada e crua. Ele talvez risse de minha tentativa e eu, no entanto, ficaria feliz como um amigo sincero. que depois de passar por vrios exemplares da obra de um autor a gente acaba se tornando um pouco ntimo. Mas no pense que me prostituo. Para ganhar minha afeio, o autor precisa algo de genial: tcnica, inteligncia, criatividade ou todas as anteriores. Em Ensaio Sobre a Cegueira, Saramago prova ser dotado de ao menos duas. A coisa toda parece uma verso literria sofisticada da brincadeira E Se Eu Fosse Cego?, em que voc fecha os olhos e tenta se movimentar em algum ambiente, mas com um qu de perverso. A problemtica saramaguiana geralmente mais extremista. E se os polticos nos abandonassem? E se ningum morresse? E se Jesus fosse um mortal? Treva branca O disco amarelo iluminou-se. Logo na primeira frase de seu Ensaio, Saramago fala de luz e cor, e constri uma cena em que a viso indispensvel. Um homem est ao volante, esperando que o semforo fique verde. Nesse exato momento, como se uma luz fosse acesa, ele acometido de uma cegueira branca, leitosa, completa. Desesperado, recebe ajuda para chegar sua casa. Visita o mdico, que tambm nunca ouviu falar de uma cegueira branca. Logo surgem mais pessoas reclamando da perda sbita da viso. O que parece ser uma epidemia alarma as autoridades, que decidem isolar os novos cegos em um hospcio desativado. O surto, no entanto,
Uma coisa que no tem nome, essa coisa o que somos A privao de um dos sentidos tende a potencializar os demais. Nesse Ensaio, ento, roubam-nos os cinco, maximizando-os um a um, e obrigando o leitor a passar por evolues de gosto, cheiro, tato, olfato e viso.
Ao mergulhar no entrecho, no h como deixar de imaginar nosso mundo cego. No h como deixar de pensar o que eu faria?. E no h como manter-se impassvel diante do caos primitivo que instaurado na histria. A adaptao cinematogrfica dirigida por Fernando Meirelles e que abriu o
Festival de Cannes em 2008 , por sorte no tenta explicar de onde veio ou para
aonde vai a cegueira em massa vislumbrada pelo autor. Ensaio Sobre a Cegueira nasceu para ser um fascinante panorama fantasioso sobre as relaes sociais, a (falta de) lucidez e a fragilidade humana.