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CULTURA, ETNOCENTRISMO E

RELATIVISMO
Franz Boas (1858- 1942) inaugurou o
que mais tarde ficaria conhecido
como relativismo cultural: uma
tomada de posição perante a
diferença cultural, segundo a qual
cada cultura deve ser avaliada
apenas em seus próprios termos.
Relativismo cultural, portanto, é uma
forma de encarar a diversidade sem
impor valores e normas alheias.
Podemos considerar o relativismo
uma inversão do evolucionismo: se
este escalona as diferenças das
sociedades ocidentais, o relativismo
evita qualquer tipo de escala,
analisando as diferenças segundo os
termos da própria sociedade da qual
fazem parte.
Tendência inversa ao relativismo
cultural é o etnocentrismo. Somos
etnocêntricos quando julgamos
outras culturas segundo nossos
próprios parâmetros culturais. O
etnocentrismo é o mecanismo
principal das classificações
evolucionistas, enquanto o
relativismo cultural é o motor de um
pensamento não preconceituoso e
preocupado em romper com as
classificações hierárquicas. O
conceito antropológico de cultura não
pode existir sem o relativismo cultural
e a crítica ao etnocentrismo.

PADRÕES CULTURAIS

Desde o século XIX, estudiosos começaram a perceber que diferentes culturas produziam realidades
diferentes, e essas realidades, por sua vez, davam origem a comportamentos e práticas regulares que se
repetiam no tempo e no espaço. Esses comportamentos e práticas regulares foram denominados padrões
culturais. A partir dos estudos de Franz Boas, em que o conceito de cultura ganhou conotação moderna
como força unificadora de um povo, que dá sentido e condessa tudo o que acontece, os padrões culturais
adquiriram grande centralidade.
Desde o começo do século XX, especialmente com o trabalho de duas alunas de Boas – Margaret Mead
(1901-1978) e Ruth Benedict (1887-1947) – o conceito de padrão cultural ganhou bastante destaque.
Essas antropólogas observaram que, além de expressar comportamentos regulares, os padrões culturais
produziam indivíduos com inclinações semelhantes.

Para essas antropólogas norte-americanas, a relação entre as personalidades individuais e os padrões


culturais era muito significativa. Como se a cultura, de certa forma, moldasse as personalidades individuais
em tipos-padrão. Isso significa dizer que certa cultura tenderia a produzir indivíduos mais violentos,
enquanto outra tenderia a produzir sujeitos mais contemplativos. Assim, cada cultura modelaria uma
personalidade-padrão que, embora sujeita a variações, seria predominante sobre as demais. Ou seja, a
força da cultura, ao integrar um conjunto de pessoas produzindo padrões de comportamento, levaria à
produção de um “modo de ser” característico de uma sociedade.

Para Mead e Benedict, e também para Franz Boas e outros antropólogos norte-americanos, a cultura
podia ser comparada a uma lente que filtra tudo o que vemos, percebemos e sentimos. Não há como
perceber o mundo a não ser através do filtro de alguma cultura. Um dos elementos centrais desse
processo de “percepção do mundo” é a linguagem, um mecanismo de transmissão de valores, ideias e
formas de refletir sobre a realidade. Para esses autores, não haveria possibilidade de perceber o mundo
fora do mecanismo de transmissão cultural representado pela linguagem.
Esse movimento intelectual levou ao questionamento de noções que pareciam naturais aos norte-
americanos. É o que chamamos hoje de desnaturalização: aquilo que parece natural e “normal” é apenas
uma entre milhares de formas possíveis. O fato de determinadas práticas prevalecerem não é de modo
algum “natural” — nada mais é do que a força do costume.

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