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_ AVALIACAO PRE-ANESTESICA Ligia Andrade da Silva Telles Mathias Alvaro Anténio Guaratini 16 Curso de Educagao a Distancia em Anestesiologia © propésito principal da avaliagéo pré-operatéria é reduzir a morbimortalidade do paciente cirtir- gico’. Séo também objetivos inerentes, minimizar a ansiedade pré-operatéria, diminuir 0 custo do atendimento perioperatério e possibilitar ao paciente a recuperacao de suas fungdes em um ritmo adequado® Pasternak et al, em 2002, definiram avaliacao pré-anestésica (APA) como parte da avaliagao pré-operatéria, constando de processo de avaliacdo clinica que precede a entrega dos culdados da anestesia para a cirurgia e procedimentos nao-cirtirgicos, nos quais sao analisadas informagoes de miiltiplas origens, que podem incluir registros médicos do paciente, entrevista, exame fisico e acha- dos de testes e de avaliages médicas Os componentes da avaliagao pré-anestésica podem ser indicados para varios propésitos, in- cluindo, mas nao limitando, a descoberta ou a identificagao de doengas que podem afetar o cuidado anestésico perioperatério, a investigagao de patologias preexistentes, o planejamento da anestesia e de alternativas especificas e a investigagao da terapia médica ou alternativa, que pode afetar 0 cuidado anestésico peroperatorio’. AMBULATORIOS OU CONSULTORIOS DE AVALIAGAO PRE-ANESTESICA ‘A avaliagao pré-anestésica ideal deve ser realizada antes da internacao, em ambulatério, como uma consulta comum. Estudos tém demonstrado que a avaliagdo pré-anestésica, realizada nos consultérios, clinicas ou ambulatérios de avaliacdo pré-anestésica, promove redugao do tempo médio de permanéncia e de internagéo pré-operatéria, devido ao aumento de admissdes no mesmo dia da cirurgia e do nimero de pacientes submetidos a cirurgias em regime ambulatorial. Ocorre redugdo do numero de cirurgias suspensas ¢ do atraso do inicio das cirurgias*”. A avaliagao pré-anestésica ambulatorial, além de permitir maior tempo para a consulta, proporcio- na também melhor documentagao das informages sobre os pacientes». & importante notar que ava- liagdes inadequadas, com falta de informagées, foram identificadas como fator de eventos adversos, ‘segundo estudo australiano de incidentes anestésicos"’ (© ambulatério de avaliagao pré-anestésica é um investimento positivo para os servigos de anes- tesia e para os hospitais, porque diminui custos, melhora a eficiéncia do atendimento clinico, imple- menta protocolos, desenvolve programas educacionais e aumenta a satisfacao de pacientes, anes- tesiologistas e cirurgides*. ANSIEDADE PRE-OPERATORIA Pacientes que se submetem a cirurgia experimentam angiistia aguda no perfodo pré-operatério, prin- cipalmente pela antecipagao de danos durante a cirurgia, dor pés-operatéria, separaao da familia, incapacitagao, perda da independéncia, além de medo da cirurgia, da anestesia e da morte. A ansie- dade pré-operatéria pode ser influenciada pela presenca prévia de doengas psiquiatricas’*"* e pode determinar aumento da demanda por analgésicos para 0 controle da dor pés-operatéria, bem como elevagao do consumo de anestésicos no intra-operatério, o que pode produzir nivel baixo de satista- 40 com 0 tratamento"®". Na entrevista pré-anestésica realizada no ambulatério de avaliagéo pré-anestésica (AAPA), os pacientes indicam como maior fonte de ansiedade “o medo do desconhecido”. A atengao adequada do anestesiologista minimiza essa ansiedade, dispensando por vezes o uso de medicamentos®"*". Avaliagao pré-anestésica 17 AVALIAGAO PRE-ANESTESICA A American Society of Anaesthesiologists (ASA), em uma tentativa de otimizar 0 atendimento ao paciente a ser anestesiado, propés, em 1987, as Normas de Cuidados Anestésicos (ASA Standards for Anesthesia Care)", que incluem: reviséo do prontuario do paciente; visita pré-anestésica: historia clinica, anestesias prévias, medicamentos em uso; aspectos do exame fisico de importancia e/ou risco durante 0 ato anestésico-cirirgico; exames de laboratorio e/ou consultas especializadas. Entre 08 itens especificados, alguns merecem ateneao, porque alteracdes af resultaram em significativo aumento da qualidade no atendimento do paciente cirtirgico nos tltimos anos. téria clinica Independentemente da idade e da doenga principal, devem-se fazer perguntas sobre os diversos sis- temas e drgaos, a saber: cardiovascular, respiratério, nervoso-6sseo-muscular, digestério, endécrino, geniturinario, hematopoiético e de coagulacao. Dever, ainda, ser inquiridas informagées sobre: con- digdes da denticéo (presenga ou néo de todos os dentes e de préteses fixas ou méveis); histéria de febre alta relacionada ao ato anestésico, ou de origem inexplicada; dependéncia de drogas e alcool e uso de substdncias, tais como fitoterpicos, formulas e suplementos vitaminicos. Entre os dados a serem obtidos na histéria clinica, deve-se dar énfase a investigagao profunda sobre histéria atual ou pregressa de alergia e suspeita de hipertermia maligna. Alergia © paciente em geral sabe referir quando teve um quadro alérgico importante. Deve-se tentar ave- riguar a(s) droga(s) envolvida(s) e, na dtivida, encaminhar para um alergista ou imunologista. Nos casos em que existe a suspeita de choque anafilatico e nao ha possibilidade de levantamento dos dados, deve-se atuar como se esta fosse uma realidade e néo utilizar as mesmas drogas (quando for possivel identifica-las)". Aincidéncia de reagdes aos derivados do latex tem aumentado em todo o mundo (2,9% a 75%), tornando obrigatéria a sua investigagao de rotina na APA. O diagnéstico nem sempre é facil, pois a histéria clinica da reagao ao latex em anestesia ¢ diferente, ha uma laténcia maior para o surgimen- to dos primeiros sinais e sintomas; varios casos rotulados como “parada cardiaca stibita, de causa ignorada”, em investiga¢ao posterior, mostraram-se ser devidos a reagao aos derivados do latex. E importante, por conseguinte, sempre que houver histéria de alteragao hemodinamica e/ou pulmo- nar inexplicdvel, pensar na hipétese de reagao anafilatica ao latex, cujos principais fatores de risco para o seu desenvolvimento, entre outros, sao: histéria de mtiltiplas exposigdes aos derivados do latex, atopia e alergia a determinados alimentos (banana, kiwi, abacaxi, abacate, maracujé e frutas, secas). Exposigées multiplas aos derivados do latex so encontradas em: pacientes submetidos a miltiplas cirurgias e/ou com sondagens repetidas; profissionais/funciondrios da area da satide; trabalhadores que utilizam derivados do latex (cabeleireiras, trabalhadores da limpeza, da industria alimentar e que manipulam diretamente o latex); criangas com defeitos do tubo neural, em especial meningomielocele'*® Dos grupos de risco, as criangas com meningomielocele tém a maior incidéncia de reaco aos derivados de latex, variando de 18% a 73%, quando sao atépicas e quando foram submetidas a miil- tiplas cirurgias® Pacientes com histéria de alergia a derivados do latex (qualquer tipo de borracha) devem ser ava- liados pelo alergista ou imunologista, para confirmagao ou nao de sensibilidade. Nos casos positivos, como a reagao pode ocorrer em qualquer momento (desde a internacao até a alta, bastando 0 con-

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