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Comunicado 252

Técnico ISSN 0103-9458


Fevereiro, 2003
Porto Velho, RO

Resposta de Cajanus cajan à Fertilização


Fosfatada
1
Newton de Lucena Costa
2
Valdinei Tadeu Paulino
1
José Ribamar da Cruz Oliveira

Introdução mm e posto para secar ao ar.

O delineamento experimental foi em blocos


Em Rondônia, a maioria dos solos apresenta baixa
casualizados com quatro repetições. Os tratamentos
fertilidade natural, caracterizados por elevada acidez,
consistiram de cinco níveis de fósforo (0, 50, 100,
baixa capacidade de troca catiônica e altos teores de
200 e 300 kg de P2O5/ha), aplicados sob a forma de
alumínio trocável, limitando a produtividade e
superfosfato triplo, quando do plantio e
persistência das pastagens cultivadas, o que implica
uniformemente misturados com o solo. A adubação
num fraco desempenho zootécnico dos rebanhos.
de estabelecimento constou da aplicação de 30
mg/kg de K (cloreto de potássio). Cada unidade
O conhecimento dos fatores nutricionais limitantes ao
experimental constou de um vaso com capacidade
crescimento de leguminosas forrageiras é de grande 3
para 3 dm de solo seco. Dez dias após a
importância para a formação e manejo de pastagens
emergência das plantas, executou-se o desbaste,
cultivadas (Costa, 1996). Em ensaios exploratórios de
deixando-se três plantas/vaso. O controle hídrico foi
fertilidade do solo realizados na região amazônica,
realizado diariamente, mantendo-se o solo em 80%
constatou-se que o fósforo foi o nutriente mais
de sua capacidade de campo.
limitante ao crescimento de Centrosema pubescens,
Stylosanthes guianensis, Pueraria phaseoloides e
Durante o período experimental foram realizados
Desmodium ovalifolium, reduzindo significativamente
três cortes a intervalos de 35 dias e a 10 cm acima
seus rendimentos de forragem, teores e quantidades
do solo. Os parâmetros avaliados foram rendimento
absorvidas de fósforo e nitrogênio (Paulino & Costa,
de matéria seca (MS) e teores de proteína bruta
1996; Costa & Paulino, 1999;). No entanto,
(PB), fósforo, cálcio, magnésio e potássio. Foram
considerando-se o alto custo unitário dos fertilizantes
ajustadas as equações de regressão para
fosfatados, torna-se necessário assegurar sua
rendimento de MS (variável dependente) e níveis de
máxima eficiência, através da determinação das
fósforo (variável independente)(equação 1) e para
doses mais adequadas para o estabelecimento e
teor de fósforo como variável dependente dos níveis
manutenção das pastagens.
de fósforo aplicados (equação 2). Através da
equação 1 calculou-se a dose de fósforo aplicada
Neste trabalho avaliaram-se os efeitos da fertilização
de fósforo relativa a 90% do rendimento máximo de
fosfatada sobre a produção de forragem e
MS, sendo este valor substituído na equação 2 para
composição química do guandu (Cajanus cajan).
determinação do nível crítico interno de fósforo.
Material e Métodos Resultados e Discussão
O ensaio foi conduzido em casa-de-vegetação,
utilizando-se um Latossolo Amarelo, textura argilosa, A adubação fosfatada incrementou
o qual apresentava as seguintes características significativamente (P < 0,05) os rendimentos de MS
3
químicas: pH = 5,4; Al = 1,5 cmolC/dm ; Ca + Mg = da leguminosa, sendo os maiores valores obtidos
3
2,9 cmolC/dm ; P = 3,4 mg/kg e K = 82 mg/kg. O solo com a aplicação de 300 (19,25 g/vaso) ou 200 kg de
foi coletado na camada arável (0 a 20 cm), P2O5/ha (18,47 g/vaso). No entanto, a aplicação de
destorroado e passado em peneira com malha de 6 50 kg de P2O5/ha 30 já proporcionou um incremento

1
Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa Rondônia, Caixa Postal 406, CEP 78900-970, Porto Velho, Rondônia
2
Eng. Agrôn., Ph.D., Instituto de Zootecnia, Nova Odessa, São Paulo
2 Resposta de Cajanus cajan à fertilização fosfatada

de 33%, em relação ao tratamento testemunha Referências Bibliográficas


(Tabela 1). Os rendimentos de forragem ajustaram-
se ao modelo quadrático de regressão (y = 9,69 + COSTA, N. de L. Adubação fosfatada na
2 2
0,079 P – 0,000159 P ; R = 0,97). A dose de recuperação de pastagens degradadas da região
máxima eficiência técnica foi estimada em 248 kg de amazônica. Lavoura Arrozeira, v.49, n.425, p.16-
P2O5/ha, a qual foi superior às relatadas por 19, 1996.
PAULINO e COSTA (1996) para Pueraria
phaseoloides (67 kg de P2O5/ha), Desmodium COSTA, N. de L.; GONÇALVES, C.A.; OLIVEIRA,
ovalifolium (61 kg de P2O5/ha) e Centrosema J.R. da C. Nutrientes limitantes ao crescimento
acutifolium (63 kg de P2O5/ha). A eficiência de de Brachiaria humidicola consorciada com
utilização de fósforo foi inversamente proporcional às leguminosas em Porto Velho-RO. Porto Velho:
doses aplicadas (Tabela 1). Resultados semelhantes Embrapa Rondônia, 1988. 4p. (Embrapa Rondônia.
foram obtidos por Paulino & Costa (1996) e Costa & Comunicado Técnico, 70)
e Paulino (1999) para diversas leguminosas
forrageiras tropicais fertilizadas com diferentes níveis COSTA, N. de L.; PAULINO, V.T. Response of
de fósforo. Acacia angustissima to levels and sources of
phosphate fertilization. Forest, Farm, and
Os teores de cálcio, magnésio e potássio não foram Community Tree Research Reports, v.4, n.1, p.54-
afetados (P > 0,05) pela adubação fosfatada. No 56, 1999.
entanto, considerando-se que não houve diluição
com o aumento dos rendimentos de MS, observa-se COSTA, N. de L.; PAULINO, V.T.; VEASEY, E.A.
um efeito positivo da adubação fosfatada na Phosphorus fertilization affects Cajanus cajan
manutenção dos teores destes nutrientes. Os teores growth, mineral composition, and nodulation.
de PB foram significativamente (P < 0,05) reduzidos Nitrogen Fixing Tree Research Reports, v.11,
com a aplicação de níveis crescentes de P, sendo o p.127-128, 1992.
maior teor verificado na ausência da adubação
fosfatada (19,7%). Os teores de fósforo ajustaram-se LEÔNIDAS, F. das C.; COSTA, N. de L.;
a uma curva quadrática, (Y = 0,20 + 0,0016 P – TOWNSEND, C.R. Resposta de Arachis pintoi à
2 2
0,0000031 P ; R = 98), como conseqüência do fertilização fosfatada. Porto Velho: Embrapa
efeito de diluição de sua concentração, em função do Rondônia, 1996. 4p. (Embrapa Rondônia.
maior acúmulo de MS. O maior teor foi obtido com a Comunicado Técnico, 118).
aplicação de 258 kg de P2O5/ha (Tabela 1). Em
geral, os percentuais registrados neste trabalho são PAULINO, V.T.; COSTA, N. de L. Níveis críticos
semelhantes ou superiores aos reportados por Costa internos de fósforo em leguminosas forrageiras
et al. (1992) e Paulino & Costa (1996) para diversas tropicais. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE
leguminosas forrageiras tropicais, cultivadas em FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE
diferentes localidades da região amazônica. PLANTAS, 22., 1996, Manaus. Anais... Manaus:
SBCS, 1996. p.492-493.
O nível crítico interno de fósforo, determinado
através da equação que relacionou a dose de fósforo
necessária para a obtenção de 90% do rendimento
máximo de MS, foi estimado em 0,431%, o qual
correspondeu à aplicação de 236 kg de P2O5/ha.
Este valor é superior aos reportados por Paulino &
Costa (1996) para P. phaseoloides (0,171%) e por
Leônidas et al. (1996) para Arachis pintoi cv. Amarillo
(0,200%).

Conclusões

1 – A adubação fosfatada incrementou


significativamente os rendimentos de MS e teores de
fósforo, contudo não afetou os de cálcio, magnésio e
potássio;

2 – A dose de máxima eficiência técnica foi estimada


em 248 kg de P2O5/ha e o nível crítico interno de
fósforo relacionado com 90% do rendimento máximo
de MS de 0,431%;

3 – A eficiência de utilização de fósforo foi


inversamente proporcional às doses aplicadas.
Resposta de Cajanus cajan à fertilização fosfatada 3

Tabela 1. Rendimento de matéria seca (MS), eficiência de utilização de fósforo (EUP), teores de proteína
bruta (PB), fósforo, cálcio, magnésio e potássio de Cajanus cajan, em função da adubação fosfatada.

Níveis de P2O5 MS EUP* PB Fósforo Cálcio Magnésio Potássio


kg/ha (g/vaso) ------------------------------------------ % -----------------------------------------

0 9,66 d 0,49 a 19,7 a 0,21 d 0,52 a 0,37 a 1,78 a


50 12,80 c 0,27 b 18,7 b 0,37 c 0,67 a 0,39 a 1,71 a
100 16,90 b 0,21 c 18,2 b 0,46 b 0,69 a 0,38 a 1,69 a
200 18,47 a 0,22 c 18,0 b 0,48 b 0,73 a 0,42 a 1,60 a
300 19,25 a 0,16 d 17,9 a 0,61 a 0,77 a 0,40 a 1,62 a

- Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si (P > 0,05) pelo teste de Tukey
* EUP = g MS/mg P

Comunicado Exemplares desta edição podem ser Comitê de Presidente: Newton de Lucena
adquiridos na: Costa
Técnico, 252 Publicações Secretária: Marly Medeiros
Normalização: Alexandre Marinho
Embrapa Rondônia Membros: Claudio R. Townsend,
Endereço: BR 364, km 5,5 Marilia Locatelli, Maria Geralda de
Caixa Postal 406, CEP 78900-970 Souza, José Nilton M. Costa, Júlio
Porto Velho, RO César F. Santos, Vanda Gorete
Fone: (69) 222-0014 Rodrigues,
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
Fax: (69) 222-0409
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO E-mail: sac@cpafro.embrapa.br Supervisor Editorial: Newton de
Lucena Costa
Expediente Revisão de texto: Ademilde
Andrade Costa
1ª Edição Editoração Eletrônica: Marly
1ª Impressão 2003 Medeiros
Tiragem 100 exemplares

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