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Estigmas, História e Ciência

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Recentemente vi o filme Stigmata. Bons efeitos especiais, pensei. Bom filme de


ficção. Ou não? Serão os estigmas provocados pelo Criador? Ou somente uma
manifestação patológica da mente do crente? Neste artigo pretendo mostrar
um conjunto de provas que denuncia a acção da crença humana, em
detrimento de intervenção divina. Para isso, dividirei este artigo em 5 partes
distintas: (1) pretendo relacionar o aparecimento de estigmas com a
representação de dor na arte religiosa, (2) mostrar uma correlação entre a
variação do aparecimento de estigmas e as representações artísticas a que o
crente se encontra sujeito, (3) demonstrar que existem contradições entre o
aparecimento de estigmas e as descrições bíblicas e históricas da morte de
Cristo e, finalmente (5) mostrar que não existe fundamento científico, para
provar a veracidade dos estigmas, baseado em factos supostamente científicos
como as línguas estrangeiras que essas pessoas falam.

1 – O primeiro estigmatizado chamava-se Francisco de Assis e viveu no séc.


XIII. Qual a importância do séc. XIII? Porquê só no séc. XIII? Como é que não
existem relatos de estigmatizados anteriores a essa data?

Até ao séc. XIII as representações da crucificação mostravam um Cristo


sorridente. Cristo, pregado na cruz, olhava para as pessoas e sorria. É neste
século que se dá um alteração da representação artística de Cristo na cruz.
Desaparece o olhar frontal e o sorriso amigável e surge a dor, a tristeza,
representada por uma pessoa de cabeça caída. Este é o aspecto histórico que
nos permite associar o aparecimento de estigmas com representações de dor
do Cristo crucificado. É esta coincidência que nos permite suspeitar de
qualquer espécie de intervenção divina no aparecimento dessas feridas.
Historicamente, é importante que se diga, o aparecimento de estigmas
encontra-se ligado a alterações nas representações artísticas da crucificação.
Estas alterações deveram-se ao simples facto de que as pessoas não
compreendiam o que significava um Cristo sorridente na altura da morte. Mais
facilmente aceitavam um Cristo com dor que sofria por elas e que morreu por
elas.

2 – Vários estigmatizados apresentam variações da localização dos estigmas


nos membros superiores. Alguns apresentam feridas que se abrem na palma
da mão, outros, surge, um pouco atrás do pulso, entre os tendões dos músculo
longo palmar e flexor radial do carpo. Os investigadores concluíram que os
estigmas apareciam consoante as representações artísticas das respectivas
crucificações a que ele tinha acesso. Muitas vezes eram as principais imagens
ou estátuas das suas próprias igrejas. Se esse estigmatizado via mais imagens
de Cristo pregado na cruz, pelas mãos, logo era aí que apareceriam os
estigmas. Isto indica uma clara associação mental feita pelo crente. Sabemos
hoje que o prego era colocado entre os tendões dos músculos longo palmar e
flexor radial do carpo. Doutra forma, a mão não aguentaria o peso do corpo e
rasgava fazendo o crucificado cair da cruz. Mas estas coincidências não se
ficam por aqui. Outras marcas que aparecem em corpos de pessoas muito
crentes, como as marcas de tortura da sua santa favorita, tendem a aparecer
nos mesmos sítios representados nas esculturas ou pinturas a que essa
pessoa se encontra exposta. O mais interessante é que os próprios
muçulmanos apresentam a sua própria variação de estigmas. Mas em vez das
famosas marcas da crucificação eles apresentam as marcas de guerra do
profeta Maomé.

3 – Os estigmas aparecem nos pés e é comum vermos Cristo representado na


cruz com os pés pregados. No entanto, isto não condiz com o método romano
da crucificação e existem provas bíblicas que contradizem estas
representações. Façamos uma pergunta a nós mesmos? Como morriam os
crucificados? Pela falta de alimentação? Pela falta de água? Sabe-se que
alguns crucificados demoravam dois dias ou mais a morrer. O processo
fisiológico que os conduz à morte é simples: com o corpo pendurado o sangue
tende a fluir, e acumular-se, para os membros inferiores, diminuindo a irrigação
cerebral e cardíaca. A seguir à perda de consciência dá-se um colapso
cardíaco. O crucificado morre de falência cardíaca!
Nas cruzes existia sempre um pequeno apoio para os pés e, de cada vez, que
o crucificado sentia tonturas, ou alterações do ritmo cardíaco, colocava os pés
nesse apoio e restabelecia a circulação sanguínea. Por essa razão se partiam
as pernas aos crucificados: para morrerem mais depressa! No evangelho de
São João 19, 32.33, é-nos dito:

32 Vieram pois os soldados, e quebraram as pernas ao primeiro, e ao


outro, que com elle fôra crucificado.
33 Tendo vindo depois a Jesus, como viram que estava já morto, não
lhe quebraram as pernas.

Portanto, temos evidências históricas e bíblicas de que Cristo pode não ter sido
pregado na Cruz pelos pés. No entanto os romanos não tinham uma única
forma de crucificar pelo que enganos podem ser criados. Não existe nenhuma
comprovação histórica que coloque os pregos nos pés de Cristo. Os estigmas
continuam a aparecer nos pés tal como nos é artisticamente demonstrado.

4 – Os estigmas só aparecem em crentes. Este facto indicia mais um problema


mental do que uma intervenção divina. Neste caso temos de nos perguntar:
porquê só nos crentes? Serão os melhores para entender Deus? Ou terá Deus
uma predilecção pelos mesmos? Associado a tudo o que lemos esta é mais
uma prova de que os estigmas não são mais do que uma manifestação física
de uma patologia psíquica por parte de alguns crentes.

5 – Os estigmatizados falam línguas que não poderiam saber de outro jeito!


Este é o argumento mais falacioso que existe. Como é que podemos dar
certezas de que uma pessoa nunca ouviu falar uma determinada língua? As
pessoas que afirmam tais coisas devem estar em condições de nos dizer quais
foram todas as pessoas com que o estigmatizado comunicou ao longo de toda
a sua vida! Quais os programas de televisão que viu aos seis anos de idade?
Quais as línguas que ouviu aos oito anos de idade? Ninguém, mas ninguém
pode dar certezas que tal pessoa nunca ouviu, ou não tinha hipótese de falar,
um determinado idioma! Portanto, este argumento não serve de defesa (pelo
menos se queremos manter uma defesa lógica e credível) para a validação dos
estigmas (já agora nem para a validação das possessões demoníacas).

Pretendo ainda apresentar uma hipótese para o aparecimento de estigmas. A


psiquiatria sabe, actualmente, que existe uma patologia conhecida como
púrpura psicogénica. Nestes casos, os pacientes, tendem a apresentar nódoas
negras pelo corpo sem sofrerem qualquer tipo de toque. Outro aspecto que
gostaria de referir consiste em saber quais as necessidades humanas dos
estigmatizados: são pessoas que necessitam de muita atenção? São pessoas
que pensam que se encontram à margem da sociedade? Uma parte da minha
tese consiste em defender que os estigmas são uma forma do crente em
chamar a atenção da comunidade para si mesmo e para se sentirem mais
perto de Deus! Na realidade, ouso sugerir, que os estigmas são uma
manifestação patológica, uma tentativa do crente em tornar-se Deus, em sentir
o que Deus sentiu na cruz.

A minha hipótese é a de que os estigmatizados são pessoas com distúrbios


psíquicos: prováveis associações entre patologias tipo púrpura psicogénica e
necessidade extrema de atenção, ou mesmo desejo sádico de sofrerem os
tormentos de Cristo! Estas hipóteses deixo-as aos psiquiatras para análise.

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