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FRAUDES E ABUSOS NA
FUNDAÇÃO OU ADMINISTRAÇÃO
DE SOCIEDADE POR AÇÕES
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A Lei nº 1.521/51 – que trata dos crimes contra a economia popular – incidirá
apenas quando o crime atingir um número indeterminado de pessoas, causando, portanto,
lesão ou a exposição a perigo de lesão da própria economia popular, que passa a ser o bem
jurídico protegido.
Os tipos do Código Penal, adiante comentados, incidem sobre fatos que dizem
respeito a um número determinado e menor de pessoas, geralmente os acionistas e a
própria sociedade por ações ou um grupo de seus acionistas.
O bem jurídico protegido é o patrimônio das pessoas, que pode ser lesionado pelas
condutas tipificadas. Particularmente, protege o patrimônio dos titulares de ações de
sociedades anônimas e dos investidores.
As sociedades por ações são regidas pela Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976.
No caput do art. 177 está descrito o tipo: “Promover a fundação de sociedade por
ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembléia, afirmação
falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela
relativo.”
A conduta pode ser negativa, quando o sujeito ativo omite-se no dever de informar
os interessados sobre fato relevante acerca da sociedade. Todas as informações
importantes devem ser levadas ao conhecimento dos possíveis subscritores de ações,
inclusive as relativas aos nomes dos fundadores.
Deve o agente agir dolosamente, consciente de que faz afirmação falsa ou omite
informação relevante e com a vontade livre de agir para conseguir a constituição da
sociedade.
Crime próprio – são sujeitos ativos o diretor, o gerente ou fiscal de sociedade por
ações. Os membros do conselho de administração da companhia, embora tenham poder de
gestão, não estão incluídos na disposição típica; daí que só poderão ser incriminados se
tiverem, de qualquer modo, concorrido para o crime.
Por força do que dispõem os incisos VIII e IX do mesmo art. 177, também o
liquidante da sociedade e o representante de sociedade anônima estrangeira podem
cometer esse crime. Sujeito passivo é qualquer pessoa, física ou jurídica.
A conduta deve ser dolosa, consciente o agente da inveracidade das afirmações que
faz ou da relevância do fato que oculta dos interessados.
O tipo do art. 177, § 1º, II: “O diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por
qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da sociedade.”
Podem ser sujeitos ativos o diretor, o gerente ou fiscal de sociedade por ações e, por
força do que dispõem os incisos VIII e IX do mesmo artigo, também o liquidante da
companhia e o representante de sociedade anônima estrangeira. Qualquer pessoa pode ser
sujeito passivo, especialmente o acionista da sociedade.
A conduta típica é promover falsa cotação de ações ou títulos; daí por que só incide
o preceito se a companhia tiver suas ações cotadas no mercado. Os títulos a que a norma se
refere são os debêntures, os bônus de subscrição etc.
Deve o agente fazê-lo por meio de qualquer artifício, vale dizer, de qualquer
operação fraudulenta, da manipulação de informações inverídicas ou da ocultação de fatos
relevantes, promovendo, assim, a adulteração do valor real das ações ou títulos.
São sujeitos ativos o diretor e o gerente da sociedade por ações e, por força do que
dispõe o inciso VIII do mesmo artigo, também o liquidante da companhia. Sujeitos
passivos são os acionistas e a própria companhia.
As condutas típicas são tomar empréstimo ou usar, tendo como objetos os bens ou
haveres sociais.
Empréstimo é o contrato através do qual alguém entrega uma coisa a outrem, que
deve, ao depois, devolvê-la. Bens da companhia são as coisas móveis ou imóveis. Haveres
são os créditos.
A conduta deve ser dolosa, e o sujeito passivo deve ter consciência da conduta e
também da ausência da autorização da assembléia, havendo erro de tipo, que exclui a
tipicidade, se o agente imagina estar autorizado ao empréstimo ou ao uso. Exige-se o fim
de obtenção de proveito, próprio ou para terceiro.
É que a Lei nº 6.404/76 proíbe, no art. 30, que a companhia negocie com as
próprias ações. Assim, se o diretor ou gerente, em nome da sociedade, compra ou vende
ações, incorre no tipo. Não haverá fato típico quando houver permissão legal, o que se dá
nos casos previstos no § 1º do art. 30 da lei societária:
Este tipo está no art. 177, § 1º, V: “O diretor ou o gerente que, como garantia de
crédito social, aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade.”
A conduta típica é distribuir lucros ou dividendos fictícios, irreais. Tal se dará quando
não houver balanço ou quando o balanço tiver sido falsificado e também quando a
distribuição se faz em desacordo com o balanço verdadeiro. O balanço, sabe-se, retrata a real
Fraudes e Abusos na Fundação ou Administração de Sociedade por Ações - 9
Outro tipo se encontra no § 1º, VII, do art. 177: “O diretor, o gerente ou o fiscal que,
por interposta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou
parecer.”
O crime é doloso, pois o agente atua com consciência e vontade livre de obter a
aprovação fraudulenta do documento.
10 – Direito Penal II – Ney Moura Teles
A conduta típica é negociar. Significa dizer que o agente disponibiliza seu voto,
fazendo dele mercadoria. Troca o conteúdo do voto a ser dado nas deliberações da
assembléia geral. Não se confunde com o acordo de acionistas, permitido pela lei
societária. Aqui se trata de conduta que busca a obtenção de vantagem para o agente ou
para qualquer outra pessoa.
Deve ser vantagem ilícita, econômica ou até mesmo moral, mas em detrimento da
sociedade ou de outros acionistas, o que não se confunde com acordo legítimo celebrado
entre acionistas acerca de diretrizes da vida da companhia.
A conduta é dolosa, devendo o agente agir com o fim de obter vantagem ilícita, para
si ou para outrem.
Consuma-se quando o acionista negocia seu voto, ainda que não venha dá-lo
conforme o negócio e independentemente da obtenção do resultado, sendo possível a
tentativa.
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