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1. Introdução
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Mestrando em Direito Processual Civil pela Universidade Federal do Espírito Santo. Advogado da Petrobras.
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2. Desenvolvimento
Nota-se que o cogitado dispositivo legal prevê como parte legítima para propositura
da “oposição” os terceiros interessados que se considerem prejudicados pela
implementação de medida executiva solicitada.
Artigo 7º
Serão também regidas pelas leis e julgadas pelos Juízes ou
Tribunais do Estado requerido:
(...)
c) as questões relativas a domínio e demais direitos reais.
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É preciso alertar que a expressão “domínio” no texto do Protocolo tem sentido idêntico ao de propriedade.
Chega-se a tal conclusão porque, ao se utilizar o legislador comum da expressão “demais direitos reais” revela
sua intenção normativa e gramatical de demonstrar que a expressão anterior (“domínio”) também é um direito
real. Assim, diante do princípio da taxatividade dos direito reais, não pode ser outra a conclusão senão aquela
que conclui pela falta de precisão técnica do legislador comum, vez que toma como sinônimos institutos
juridicamente distintos, quais sejam propriedade e domínio. De qualquer modo, para efeito de interpretação do
Tratado deve a expressão “domínio” ser compreendida como sinônima de “propriedade”.
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Mais recentemente, de forma também sucinta, Fredie Didier Jr sustenta que “o texto
é amplo, não se restringindo às ações reais, mas, também, às obrigacionais
fundadas em direito real, como a locação”4.
Assim, ante a amplitude do texto do art. 89, I do CPC que traz hipótese de
competência internacional exclusiva e a expressividade do artigo 9º c/c com a alínea
‘c’ do artigo 7º do Protocolo de Medidas Cautelares é de se questionar se demandas
possessórias relativas a imóveis, especialmente as encartadas em embargos de
terceiro opostos contra atos constritivos provenientes daquele Protocolo do
Mercosul, teriam sua competência de julgamento alterada ou afetada pelas regras
em confronto.
Em palavras mais precisas, sendo certo que o art. 9º c/c alínea ‘c’ do art. 7º ambos
do Protocolo prevê como autoridade jurisdicional competente para julgamento de
“oposição” proposta por terceiro interessado, em todas as questões que não aquelas
relativas a domínio e demais direitos reais, aquela constituída no Estado requerente;
e se é verdade que o instituto da posse não se enquadra em nenhuma das figuras
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ALVIM, Arruda. Competência Internacional. Revista de Processo – REPRO, Rio de Janeiro, v. 2, nº 7/8, p. 32,
jul/dez. 1977.
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DIDIER Jr., Fredie. Curso de Direito Processual Civil (v. 1) – Teoria Geral do Processo e Processo de
Conhecimento. 9. ed. Salvador: Editora JUS PODIVM, 2008. p. 114.
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Assim, tem-se que o art. 1049 do CC/73 - para definir o juízo competente para
julgamento de embargos de terceiro - parte da premissa lógico-jurídica de que a
execução fundada em título judicial processa-se perante o juízo que decidiu a causa
no primeiro grau de jurisdição (art. 575, II do CPC), sendo também este, por regra,
portanto, quem pratica os atos constritivos sobre os bens que se sujeitarão à
execução:
Art. 1.049. Os embargos serão distribuídos por dependência e
correrão em autos distintos perante o mesmo juiz que ordenou a
apreensão.
Entretanto, não raras são as hipóteses em que o devedor executado não possui
bens passíveis de expropriação no foro da execução, mostrando-se necessário o
desmembramento da fase executiva, que passará a ser realizada por carta pelo
juízo competente da situação dos bens que serão expropriados ou constritos. É o
que determina o art. 658 do CPC:
Art. 658. Se o devedor não tiver bens no foro da causa, far-se-á a
execução por carta, penhorando-se, avaliando-se e alienando-se os
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A despeito da discussão doutrinária relativa à natureza jurídica da posse - podendo ser esta considerada direito
real , direito subjetivo ou situação fática juridicamente tutelada – tem-se por predominante na doutrina e
jurisprudência a compreensão de que a posse caracteriza especial situação de fato a qual se confere proteção
jurídica.
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O art. 1049 do CPC parece ser claro ao atribuir a competência de julgamento ao juiz
que ordenou o ato de constrição, mas tal conclusão esbarra na ratio essendi da
norma contida naquele dispositivo que pressupõe execuções tramitando no mesmo
juízo cujo título judicial está sendo executado.
Estaria o Brasil então, por intermédio do cogitado Protocolo, reduzindo sua jurisdição
sobre ações relativas a bens imóveis situados no Brasil.
Ademais, dada a jurisprudência consolidada no STJ, tendo sido o bem imóvel, por
exemplo, indicado à penhora por autoridade judiciária de país do Mercosul a
competência de julgamento, mais uma vez, recairia sobre o Estado-requerente.
Entretanto, há que se propor uma nova visão sobre esse prisma hermenêutico,
sobretudo porque a se admitir a redução do espectro da jurisdição exclusiva
brasileira - ante a influência redutora do art. 9º do Protocolo de Medidas Cautelares
na abrangência normativa do art. 89, I do CPC – deve-se fazê-lo desde que o
produto interpretativo daí resultante esteja em consonância com os valores
constitucionais que devem orientar a interpretação e aplicação do processo civil.
3. Conclusão
contraditório não se implementa, pura e simplesmente, com a ouvida, com a participação; exige-se a
participação com a possibilidade, conferida à parte, de influenciar no conteúdo da decisão” (DIDIER Jr.,
Fredie. Curso de Direito Processual Civil (v. 1) – Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimento. 9. ed.
Salvador: Editora JUS PODIVM, 2008. p. 46)
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Tendo em vista que o processamento das medidas executivas admitidas no Protocolo de Medidas Cautelares do
Mercosul se dá por meio de carta rogatória, necessariamente então, após a concessão do exequatur daquela carta
pelo Superior Tribunal de Justiça – STJ (art. 105, I, ‘i’ da CF/88) será a Justiça Federal o ramo judiciário
internamente competente para a execução da carta rogatória (art. 109, X da CF/88) determinando, pois, a
efetivação das medidas executivas requeridas por Estado-membro do Mercosul requerente.
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Por sua vez, pontuou-se que quando a contrição judicial incidir sobre imóvel e
decorrer de indicação do juízo deprecante ou, como no caso, de Estado-requerente,
a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) adotou o entendimento
consubstanciado na Súmula 33 do extinto Tribunal Federal de Recursos (TFR) de
que a competência para julgamento de eventuais embargos de terceiro seria do
juízo deprecante, o que, adaptando-se, seria do Poder Judiciário do Estado-
requerente.
4. Referências Bibliográficas
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito processual civil. 16. ed. rev. e atual.
Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2008. v.2.
DIDIER Jr., Fredie. Curso de Direito Processual Civil (v. 1) – Teoria Geral do
Processo e Processo de Conhecimento. 9. ed. Salvador: Editora JUS PODIVM,
2008.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos Reais. 3. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2007. v. 1.
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GOMES, Orlando. Diretos Reais. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos especiais. 28. ed. São Paulo: Atlas,
2007.