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Luciana Raunaimer
MICROCASAS:
Habitações Tecnológicas e Interinas
Presidente Prudente
2009
Como grande parte dos países passaram similarmente pela industrialização nos
séculos XVIII e XIX (figura 02) – Monet retrata parte da grande transformação que estava
ocorrendo e as grandes expectativas quanto às novas máquinas – , e com isso,
Figura 02 – La Gare Saint-Lazare. Estação de
transpuseram sua população da zona rural para zona urbana, dado a criação de postos Paris, 1877. Fonte: Monet
trabalhos em pólos comerciais e industriais, pode-se dizer que, neste momento, iniciou-se
um novo modelo de se morar que se sobrepunha ao anterior, tanto na forma, como nos
papéis de seus integrantes na sociedade, chamado de modo metropolitano de se morar 1,
onde se consolidou a família nuclear.
Nesse período de grande avanço tecnológico devido aos estudos realizados durante
as grandes guerras, muito se idealizou sobre qual seria o limiar da evolução tecnológica
com os modos de se habitar. Podemos encontrar exemplares do que se imaginou sobre
como seria a relação da cidade e os moradores, como seria a nossa rotina de vida e alta
tecnologia, estes, expressos de diversos modos, principalmente pela arte, onde a ficção
Figura 03 – Propaganda Walita anos 50.
científica teve uma parcela forte na elaboração de um imaginário comum nas pessoas Fonte: autor desconhecido. Disponível em:
<http://tyrone.mello.blog.uol.com.br/images/Propa
sobre como seria o futuro. gandas.jpg>. Acesso em 23 mar.2009.
3) PULP OU AINDA PULP FICTION OU REVISTA PULP SÃO NOMES DADOS ÀS REVISTAS FEITAS COM PAPEL DE
BAIXA QUALIDADE (A "POLPA") A PARTIR DO INÍCIO DA DÉCADA DE 1920, DEDICADAS À HISTÓRIAS DE FICÇÃO.
A evolução das tecnologias em geral nos surpreende a cada dia, esse processo tem
acontecido tão rapidamente que eletro-eletrônicos se tornam obsoletos em poucos meses,
vemos isso em vários equipamentos de comunicação, incluindo o próprio aparelho
televisivo. A nossa imaginação foi perdendo espaço para a visão, pois a realidade nos
surpreende de tal modo e com tal velocidade que, anteriormente, o que era desejável para o
futuro passa a ser “design retrô” como na figura 08. Assim, podemos compreender como a
evolução tecnológica influência o design, uma vez que quando ele se afirma pelo
desenvolvimento da técnica, se torna ultrapassado quando a própria tecnologia é superada,
Figura 08 – Televisor com design anos 50.
mas quando o design busca a nobreza estética, não deixando de lado o avanço tecnológico, Fonte: HANNspree. Disponível em:
<http://www.hannspree.com>. Acesso em: 11
ele é duradouro, marcada pelo contexto e influencias que influenciaram sua concepção. out.2008
Dentro deste contexto verificou-se que a maior parcela das edificações oferecidas
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aos universitários e jovens profissionais – (informação verbal) – seguem o modelo de
tripartição do espaço, característica das habitações burguesas européias do século XIX,
divididas em área social, área de serviço e área íntima, normalmente com dois ou três Figura 10 – Brasão de Presidente Prudente.
Fonte: Prefeitura municipal.
dormitórios. Com isso é pequena a existência de edifícios pensados para um único
morador, visto que as pessoas sem vínculos conjugais e filhos moram em coabitações,
resultado claro da adaptação dos grupos às oferta do mercado imobiliário.
5) DADO FORNECIDO PELA IMOBILIÁRIA RIO BRANCO, PRESIDENTE PRUDENTE EM NOV. DE 2008.
É claro o fato de que o modelo atual de residência não se adéqua ao novo sistema,
onde a tecnologia é protagonista necessária e está presente na maior parte dos ofícios.
Porém a questão é quanto à viabilidade de se alterá-lo. O que enfatiza o fato de estarmos
no meio de uma grande transformação, segundo Mitchell em E-topia (1944, p.117), é um
caráter interessante sobre como a sociedade reage às mudanças.
"[...] É um dos bens mais arraigados nas pessoas, já que satisfaz uma de
suas necessidades mais básicas: a de dispor de um espaço privado, de
proteção e de descanso. Precisamos que a habitação seja um refúgio
estável, seguro e tranqüilo. A habitação tem que ter uma vida longa e,
por esta razão não pode estar subordinado a modas passageiras. A
habitação tem que ser vendida e, como conseqüência, tem que ter uma
formalização aceita pelo mercado. A habitação é um bem real, imóvel e
Já a multifuncionalidade dos espaços, nada mais é que possibilitar a sobreposição Figura 15 – Sala e cozinha integrados.
de usos, onde um espaço menos compartimentado permite a realização de várias tarefas, Fonte: Cooklounge. Disponível em:
<http://www.yankodesing.com/cooklounge>.
como na figura 15. Essa atitude já é comum em nossas rotinas, pois, de modo informal, Acesso em: 15 out.2008.
espaço, compatível ao frigobar, podemos encontrar alguns dos aspectos vistos na imagem
anterior, como espaço de estocagem, preparo de alimentos e resfriamento em um único
local, extremamente compatível com a redução da metragem dos imóveis.
Tudo isso nos levar a entender melhor as necessidades atuais e, por sua vez,
conseguir propor novos ambientes adaptados à demanda. Entretanto, ainda restam
pequenos compartimentos extremamente específicos de higiene e preparo de alimentos,
como o banheiro e área de limpeza e a cozinha necessita utilizar a tecnologia para
solucionar questões de flexibilidade, criando ambientes mais inteligentes com maior
aproveitamento de área em um menor espaço construído, o que representa também
barateamento da unidade, e redução de desperdício tanto de consumo para construção
quanto do doméstico. Figura 17 – Combinação de micro cozinha.
Fonte: Electrolux
Diversas aplicações dos conceitos discutidos nesse período podem ser apreciadas
até hoje, entre os arquitetos temos exemplos de habitações desenvolvidas para famílias
nucleares – que no Brasil deram origem às habitações sociais – e habitações que
consideraram outros agrupamentos, como por exemplo, a casa de veraneio para uma única
pessoa, de Le Corbusier. A aplicação do espaço mínimo somado ao do modulor traz
tamanha compactação à residência que o permitiu chegar nas dimensões de 3,35m x 3,35m
x 2,50m (figura 18). O minimalismo da construção e os detalhes no mobiliário, como o
Figura 19 – Interior da Cabana. Fonte:
espelho que esconde uma janela, armários sob a cama e ao longo das paredes, mesa e 3.bpDisponível em: <http://3.bp.blogspot.com >
Acesso em: 28mai.2009.
bancos que se encaixam, acabamento em madeira, tratamento de cores no teto e pinturas
Os estudantes e jovens profissionais também são foco de estudos para o Figura 21– Interior da capsula. Fonte: Shuand.
Disponível em: <www.shuandjoe.com > Acesso
desenvolvimento de MicroCasas, eles residem em uma cidade e se mudam para outra, em em: 15abr.2009.
Por conta disso, já é comercializado na Europa a Micro Compact Home (M-Ch), Figura 22 – M-ch – Módulo. Fonte: Micro
figura 22, desenvolvido pelo escritório britânico Horden Cherry associado a professores Compact Home. Disponível em:
<http://www.microcompacthome.com>. Acesso
da Universidade de Munique. Os principais interessados na aquisição dessa casa, hoje, são em 25 set.2008.
os estudantes, que, por conta da idade, possuem poucos bens materiais, permitindo que se
adaptem em espaços pequenos, mesmo porque estão abertos a modos diferentes de se
morar. O M-Ch pode conectar-se às bases dispostas em diversas universidades pela
Europa. Vemos que o interno do módulo é altamente tecnológico e ao mesmo tempo,
simples (figura 23). Inspirado no “Homem Vitruviano” de da Vinci, e dimensões de
2,60m x 2,60m x 2,60m, o módulo respeita as proporções e articulações do corpo
humano, permitindo a sobreposição do mobiliário, onde, por exemplo, a mesa que
acomoda duas pessoas vira cama de solteiro. Esse projeto está em constante evolução,
tendo como meta atual torná-lo autosuficiente energeticamente, além de possibilitar sua
verticalização das unidades em uma estrutura receptora.
Figura 23– Multifunções. Fonte: Micro Compact
Além desses projetos, outros foram usados como referência projetual para o Home. Disponível em:
<http://www.microcompacthome.com>. Acesso
desenvolvimento da MicroCasa, eles seguem a seguir, com as imagens e fichas técnicas. em 25 set.2008
1) Trabalho;
2) Preparo de alimentos;
4) Repouso;
5) Higiene e limpeza;
outros sítios. O número de unidades por edifício é relativo, pois se trata de uma arquitetura
efêmera ou futurista, e poderá ser ampliando ou reduzida conforme a demanda, assim não
deixando espaços ociosos. Lembrando que pode ser tratar de uma estrutura em aço, será
dimensionada para comportar sempre o número máximo de MicroCasas.
Figura 46 - Estudo 05 – Circulação entre MicroCasas. Fonte: Autora Outro ponto é que por depender de uma
estrutura para o abastecimento e
esgotamento a Microcasa modo criará
uma demanda e, por conseguinte, uma
rede de locais onde o serviço de
infraestrutura será disponibilizado, assim
permitindo a migração para outras
cidades.
Outro ponto interessante desse agrupamento está na disposição dos módulos nesse
formato de teia, pois cria entre seus blocos alguns nichos, onde se pretende que os
usuários da edificação venham a se relacionar e conviver. Sua composição em andares,
permitindo assim não somente a utilização dos módulos como do edifício e de sua base
topográfica por completo.
Uma das vantagens desse sistema hexagonal proposto é que, no caso de topografias
acidentadas, pode-se suprimir o uso de uma ou mais arestas, retirando-se módulos ou
passarelas para melhor se adequar os agravantes topográficos.
Figura 56- MicroCasa. Fonte: Autora
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