Você está na página 1de 13

t'ublicado no D, O, E,

Em, JL/--º'.J ,(:'cL


. ,
..- /'L-- ...~~, <---

do Tribunal Pleno
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTA

PROCESSO TC N.o 02563/07

Objeto: Prestação de Contas Anuais


Relator: Auditor Renato Sérgio Santiago Melo
Responsável: Bartos Batista Bernardes
Interessado: José Alberto Soares Barbosa

EMENTA: PODER EXECUTIVO MUNICIPAL - ADMINISTRAÇÃO


INDIRETA - PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAIS - INSTITUTO DE
PREVIDÊNCIA - PRESIDENTE - ORDENADOR DE DESPESAS -
CONTAS DE GESTÃO - APRECIAÇÃO DA MATÉRIA PARA FINS DE
JULGAMENTO - ATRIBUIÇÃO DEFINIDA NO ART. 71, INCISO 11, DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA PARAÍBA, E NO ART. 10, INCISO I,
DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N.o 18/93 - Contratação de
profissionais para serviços típicos da administração pública sem a
realização de concurso público - Ausência de retenção e
recolhimento ao INSS de contribuições previdenciárias incidentes
sobre a remuneração de prestadores de serviços - Carência de
empenhamento, pagamento e contabilização de obrigações
patronais, relativas ao pessoal contratado, devidas à Previdência
Social - Desrespeito ao regime de competência da despesa pública -
Contratação de consultoria administrativa em desacordo com o
disposto na Constituição Federal - Incorreta elaboração do Balanço
Patrimonial - Realização de despesas administrativas acima do limite
legal - Situação irregular da entidade perante o Ministério da
Previdência Social - Transgressão a dispositivos de natureza
constitucional, infraconstitucional e regulamentar - Eivas que
comprometem o equilíbrio das contas - Necessidade imperiosa de
imposição de penalidade. Irregularidade. Aplicação de multa. Fixação
de prazo para recolhimento. Envio de cópia da deliberação a
subscritor de representação. Recomendações.

Vistos, relatados e discutidos os autos da PRESTAÇÃO DE CONTAS DE GESTÃO DO


EX-ORDENADOR DE DESPESAS DO FUNDO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES
MUNICIPAIS DE BOA VISTA - FUSEM, SR. BARTOS BATISTA BERNARDE5, relativas ao
exercício financeiro de 2006, acordam, por maioria, os Conselheiros integrantes do
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA PARAÍBA, em sessão plenária realizada nesta data,
vencida a divergência do Conselheiro Fábio Túlio Filgueiras Nogueira, que votou pela
regularidade com ressalvas, na conformidade da proposta de decisão do relator a seguir,
em:

1) JULGAR IRREGULARES as referidas contas.


TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02563/07

2) APLICAR MULTA ao ex-gestor do Fundo de Previdência dos Servidores Municipais de Boa


Vista/PB - FUSEM, Sr. Bartos Batista Bernardes, no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), com
base no que dispõe o artigo 56, inciso Il, da Lei Complementar Estadual n.O 18/93.

3) FIXAR o prazo de 30 (trinta) dias para recolhimento voluntário da penalidade ao Fundo de


Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto no art. 3°, alínea "a", da
Lei Estadual n.O 7.201, de 20 de dezembro de 2002, cabendo à Procuradoria Geral do Estado
da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o término daquele período, velar
pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do Ministério Público Estadual, na
hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da Constituição do Estado da
Paraíba, e na Súmula n.o 40 do ego Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba - TJ/PB.

4) ENVIAR cópia desta decisão, para conhecimento, ao Coordenador-Geral de Auditoria,


Atuária e Investimentos, do Departamento dos Regimes de Previdência no Serviço Público,
da Secretaria de Políticas de Previdência Social, do Ministério da Previdência Social, Dr. Otoni
Gonçalves Guimarães, subscritor de representação encaminhada a esta Corte acerca de
auditoria-fiscal realizada no Regime Próprio de Previdência Social do Município de Boa
Vista/PB.

5) FAZER recomendações no sentido de que o atual Presidente do Fundo de Previdência dos


Servidores Municipais de Boa Vista/PB - FUSEM, Sr. Linaldo Albuquerque Leite, não repita as
irregularidades apontadas no relatório da unidade técnica deste Tribunal e observe, sempre,
os preceitos constitucionais, legais e regulamentares pertinentes.

Presente ao julgamento o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas


Publique-se, registre-se e intime-se.
TCE - Plenário Ministro João Agripino

Conselheiro

Presente: (k g -;. ~ ,r"'-

Represent~nte do Ministério Público Especial O-


TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 02563/07

Tratam os autos do presente processo da prestação de contas de gestão do ex-ordenador de


despesas do Fundo de Previdência dos Servidores Municipais de Boa Vista - FUSEM,
Sr. Bartos Batista Bernardes, relativas ao exercício financeiro de 2006, apresentada a este
ego Tribunal em 02 de abril de 2007, mediante o Ofício n.o 007/2007, datado de 30 de
março do mesmo ano, fi. 02.

Os peritos da Divisão de Auditoria de Atos de Pessoal e Gestão Previdenciária - DIAPG, com


base nos documentos insertos nos autos, emitiram relatório inicial de fls. 87/95,
constatando, sumariamente, que: a) as contas foram encaminhadas em conformidade com o
estabelecido nas Resoluções Normativas RN - TC - 07/97 e 07/04; b) a Lei Municipal n.O 53,
de 12 de janeiro de 1998, dispõe sobre o instituto de seguridade social e cria o Fundo
Municipal de Previdência e Assistência Social - FUSEM; e c) a Lei Municipal n.o 52, de 12 de
outubro de 1998, estabelece o plano da seguridade social e os benefícios a serem
concedidos.

No tocante aos aspectos orçamentários, contábeis, financeiros e patrimoniais, verificaram os


técnicos da DIAPG que: a) a receita orçamentária arrecadada no exercício ascendeu à
quantia de R$ 316.885,42; b) a despesa orçamentária total realizada atingiu o montante de
R$ 70.465,50; c) a receita extra-orçamentária, acumulada no exercício financeiro, alcançou a
importância de R$ 60.894,84; d) a despesa extra-orçamentária executada durante o período
somou R$ 4.117,08; e) o saldo financeiro para o exercício seguinte foi de R$ 1.225.845,32; e
f) o Balanço Patrimonial revelou um ativo financeiro no valor de R$ 1.225.845,32 e um
passivo financeiro na ordem de R$ 4.100,00.

Ao final de seu relatório, os analistas da unidade de instrução apresentaram, de forma


individualizada e resumida, as irregularidades constatadas. Sob a responsabilidade do Chefe
do Poder Executivo do Município de Boa Vista/PB à época, Sr. José Alberto Soares Barbosa,
apontaram os itens a seguir: a) não adequação da lei previdenciária municipal às exigências
impostas pela norma previdenciária nacional, notadamente no tocante às alíquotas de
contribuição, acarretando prejuízos aos cofres do FUSEM; e b) ausência de repasse ao
instituto de previdência de um total de R$ 46.712,76, referentes a contribuições
previdenciárias.

Em relação ao gestor do FUSEM em 2006, Sr. Bartos Batista Bernardes, os inspetores deste
Pretório de Contas destacaram as seguintes máculas: a) omissão quanto à fixação das
alíquotas de contribuição até dezembro de 2006, acarretando prejuízo aos cofres da
entidade; b) carência de realização de procedimento licitatório para a contratação de
prestadores de serviços; c) não cumprimento das obrigações patronais, bem como de
retenção e recolhimento de contribuições previdenciárias dos segurados ao Instituto Nacional
do Seguro Social - INSS, relativas às despesas com assessoria contábil, administrativa e
jurídica; d) contabilização de despesas nos anexos dos balancetes mensais pelo pagament , -
desrespeitando o regime de competência; e) contratação de consultoria administrativa de
forma incompatível com o estabelecido pela Constituição Federal; f) contabiliza ~ e
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02563/07

R$ 34.483,60 como OUTRAS RECEITAS no mês de dezembro de 2006 sem justificativa da


sua origem; g) elaboração incorreta do BALANÇO PATRIMONIAL devido à ausência de
registro da dívida respeitante à remuneração de servidores do Poder Executivo para com o
Regime Próprio de Previdência Social - RPPS, em descumprimento às orientações da
Secretaria do Tesouro Nacional - STN; h) despesas administrativas acima do limite máximo
de 2% do total gasto com remuneração, proventos e pensões dos segurados do RPPS no
ano anterior, estabelecido pela Portaria MPAS n.o 4.992/99; i) falta de plano atuarial,
descumprindo o art. 1° da Lei Nacional n.° 9.717/98; e j) situação irregular com relação a
vários critérios avaliados pelo Ministério da Previdência Social - MPS.

Processadas às devidas citações, fls. 96/103, o Prefeito Municipal de Boa Vista/PB durante o
exercício financeiro de 2006, Sr. José Alberto Soares Barbosa, o Presidente do FUSEM à
época, Sr. Bartos Batista Bernardes, bem como o Contador do citado instituto no mesmo
período, Dr. Hades Kleystson Gomes Sampaio, apresentaram defesa conjunta, fls. 104/177,
onde anexaram documentos e alegaram, em síntese, que: a) a Lei Municipal n.o 307/06
alterou as alíquotas das contribuições previdenciárias dos segurados e patronais para,
respectivamente, 11% e 13%; b) as novas alíquotas foram estabelecidas após a devida
avaliação atuarial; c) toda dívida dos servidores do Poder Executivo para com o FUSEM em
2006 foi devidamente quitada após a compensação de valores de salário-família pagos pelo
Executivo e o pagamento da quantia remanescente; d) dentre os serviços de terceiros
contratados, apenas a assessoria contábil se enquadrou como Iicitável, tendo sido
implementado, para o caso, procedimento Iicitatório; e) o gestor do FUSEM procurou a
Secretaria da Receita Federal a fim de levantar e quitar o débito existente, sendo orientado a
realizar Termo de Confissão de Dívida com Pedido de Parcelamento de Débito; f) os anexos
dos balancetes estão em conformidade com a Portaria SOF n.O 08/85; g) o ajuste firmado
para consultoria administrativa da Sra. Maria José Ribeiro Diniz, de fato, não se enquadra
com o disciplinado no art. 37, inciso IX, da Carta Magna; h) o valor contabilizado como
OUTRAS RECEITAS refere-se ao aporte financeiro realizado pelo Executivo para cobrir
parcela das despesas administrativas do FUSEM, R$ 31.678,50, e o restante, R$ 2.805,10,
corresponde a depósito equivocado de multa imposta pelo Tribunal; i) a dívida concernente à
remuneração dos servidores do Poder Executivo não foi registrada no BALANÇO
PATRIMONIAL porque, até o fechamento das contas de 2006, não se tinha conhecimento do
seu montante real; j) o valor das despesas administrativa que excedeu o limite de 2% foi
totalmente acobertado com repasse financeiro efetuado pelo Executivo; k) no início de 2006,
foi contratado o Núcleo Atuarial de Previdência - NAP para realizar avaliação atuarial do
RPPS do Município, cujo relatório conclusivo foi apresentado em 05 de maio de 2006,
conforme cópia; e I) não mais subsistem as eivas constantes no extrato obtido no sítio do
Ministério da Previdência Social - MPS na Internet, conforme Certificados de Regularidade
Previdenciária - CRPsjuntados aos autos.

Encaminhado o feito aos especialistas do Tribunal, estes, examinando a referida peça


processual de defesa, emitiram o relatório de fls. 196/200, onde consideraram elididas as
seguintes irregularidades: a) não adequação da lei previdenciária municipal ao disciplinad -
na Lei Nacional n.o 9.717/98, no tocante às alíquotas de contribuição; b) contabilização e
receita sem justificativa da sua origem; c) realização de despesas administrativas acima-és.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02563/07

limite máximo estabelecido pela Portaria MPAS n.o 4.992/99; e d) carência de plano atuarial.
Além disso, alteraram o valor do repasse de contribuições previdenciárias dos servidores do
Poder Executivo pendente de regularização de R$ 46.712,76 para R$ 7.550,34. Por fim,
mantiveram in totum o seu posicionamento exordial relativamente às demais máculas.

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, ao se pronunciar sobre a matéria,


fls. 202/207, pugnou pela: a) irregularidade das contas do Sr. Bartos Batista Bernardes, na
qualidade de Presidente do Fundo de Previdência dos Servidores Municipais de Boa
Vista/PB - FUSEM, relativamente ao exercício de 2006; b) aplicação de multa ao mesmo
gestor pelo não cumprimento da legislação previdenciária, com fundamento no art. 71,
inciso VIII, da Constituição Federal, e no art. 56, inciso Il, da Lei Complementar Estadual
n.O 18/93; e c) assinação de prazo ao Poder Executivo e à gestão do FUSEM para que
comprovem o cumprimento dos requisitos constitucionais e legais de funcionamento do
referido sistema previdenciário ou procedam à sua extinção, sob pena de multa e glosa das
despesas administrativas, após esgotado o prazo.

Solicitação de pauta, conforme fls. 208/210 dos autos.

É o relatório.

Após minuciosa análise do conjunto probatório encartado aos autos, constata-se que as
contas de gestão apresentadas pelo ex-Presidente do Fundo de Previdência dos Servidores
Municipais de Boa Vista/PB - FUSEM, relativas ao exercício financeiro de 2006, revelam
diversas irregularidades remanescentes. Entrementes, não obstante o entendimento dos
peritos deste Sinédrio de Contas, impende comentar ab initio que o item respeitante à
ausência de repasse ao fundo de contribuições previdenciárias patronais incidentes sobre a
remuneração dos servidores efetivos do Poder Executivo, no valor remanescente de
R$ 7.550,34, foi devidamente sanado.

Cumpre informar que a dívida do Executivo correspondente à competência de 2006 era de


R$ 78.758,40 e foi totalmente quitada mediante a compensação de valores respeitantes a
salários-família suportados pelo Município no período de 1998 a 2006, R$ 71.208,06, e o
depósito de R$ 7.550,34 feito na conta da entidade previdenciária local em 31 de julho de
2007, consoante documentação inserta nos autos do Processo TC n.o 02546/07, relativo à
prestação de contas da Comuna de 2006. Ou seja, ao contrário do que afirmou a unidade
técnica, fi. 197, inexiste débito do Poder Executivo, referente à competência de 2006,
pendentes de repasse ao Regime Próprio de Previdência Social - RPPS. Sendo assim, não
restaram máculas sob a responsabilidade do Prefeito Municipal de Boa Vista/PB no período
sub studto, Sr. José Alberto Soares Barbosa.

Em seguida, os técnicos do Tribunal apontaram como despesas não licitadas a importância


de R$ 45.900,00, fls. 89/90, que diz respeito a contratações de assessoria administrativ ,
jurídica e contábil. Todavia, em que pesem o posicionamento dos analistas da Corte
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02563/07

últimas decisões deste Pretório acerca da admissibilidade da utilização de procedimento de


inexigibilidade de licitação para a contratação dos referidos serviços, guardo reservas em
relação a esse entendimento por considerar que tais despesas não se coadunam com aquela
hipótese, tendo em vista não se tratar de atividades extraordinárias que necessitam de
profissionais altamente habilitados na respectiva área, sendo, portanto, atividades rotineiras
a serem desempenhadas por servidores da própria entidade.

In casu, o gestor deveria ter realizado concurso público para a contratação dos profissionais.
Neste sentido, cabe destacar que a ausência do certame público para seleção de servidores
afronta os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade administrativa e da
necessidade de concurso público, devidamente estabelecidos no caput e no inciso Il, do
art. 37, da Constituição Federal, in verbis:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:

I -(omissis)

11 - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação


prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com
a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em corníssão'dedarado em lei de livre
nomeação e exoneração; (destaques inexistente no texto de origem)

Abordando o tema em disceptação, o insigne Procurador do Ministério Público de Contas,


Dr. Marcílio Toscano Franca Filho, nos autos do Processo TC n.o 02791/03, epilogou de
forma bastante clara uma das facetas dessa espécie de procedimento adotado por grande
parte dos gestores municipais, verbatim:

Não bastassem tais argumentos, o expediente reiterado de certos


advogados e contadores perceberem verdadeiros "salários" mensais da
Administração Pública, travestidos em "contratos por notória especialização",
em razão de serviços jurídicos e contábeis genéricos, constitui burla ao
imperativo constitucional do concurso público. Muito fácil ser profissional
"liberal" às custas do erário público. Não descabe lembrar que o concurso
público constitui meritório instrumento de índole democrática que visa
apurar aptidões na seleção de candidatos a cargos públicos, garantindo
impessoalidade e competência. JOÃO MONTEIRO lembrara, em outras
palavras, que só menosprezam os concursos aqueles Que lhes não sentiram
as glórias ou não lhes absorveram as dificuldades. (grifos nossos) /--r .
(Ç .\\.. '1::~
@

<:
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02563/07

Comungando com o supracitado entendimento, reportamo-nos, desta feita, à jurisprudência


do respeitável Supremo Tribunal Federal- STF, verbo ad verbum:

AÇÃO POPULAR - PROCEDÊNCIA - PRESSUPOSTOS. Na maioria das vezes,


a lesividade ao erário público decorre da própria ilegalidade do ato
praticado. Assim o é quando dá-se a contratação, por município, de serviços
que poderiam ser prestados por servidores, sem a feitura de licitação e sem
que o ato tenha sido precedido da necessária justificativa. (STF - 2a
Turma - RE nO 160.381jSP, Rei. Ministro Marco Aurélio, Diário da Justiça, 12
ago. 1994, p. 20.052)

Ainda no que concerne às despesas com assessoria técnica, os inspetores do Tribunal


evidenciaram a falta de documentos que comprovem o efetivo pagamento das contribuições
previdenciárias devidas, por empregado e empregador, ao Instituto Nacional do Seguro
Social - INSS. Isto é, se os prestadores de serviços não ocupavam cargos efetivos vinculados
ao RPPS, deveriam necessariamente contribuir para o Regime Geral de Previdência
Social - RGPS. Por conseguinte, a citada eiva representa séria ameaça ao equilíbrio
financeiro e atuarial que deve perdurar nos sistemas previdenciários, com vistas a
resguardar o direito dos segurados em receber seus benefícios no futuro, tudo em ardente
desrespeito ao disposto no art. 195, inciso I, alínea "a", e inciso 11, da Carta Constitucional,
ipsis littens:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da


lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou


creditados. a Qualquer título. à pessoa física Que lhe preste serviços, mesmo
sem vínculo empregatício;

...
( )

11 - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não


incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime
geral de previdência social de que trata o art. 201; (grifamos)

Da mesma forma, caberia ao empregador, no caso o Fundo de Previdência dos Servidor


Municipais de Boa Vista - FUSEM, realizar o pagamento ao INSS dos encargos patron is
incidentes sobre a remuneração despendida com os contratados, de acordo com o g I o
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02563/07

nos artigos 15, inciso I, e 22, incisos I e 11, alínea "a", da Lei de Custeio da Previdência
Social (Lei Nacional n.o 8.212/91), verbis.

Art. 15. Considera-se:

I - empresa - a firma individual ou sociedade que assume o risco de


atividade econômica urbana ou rural, com fins lucrativos ou não, bem como
os órgãos e entidades da administração pública direta, indireta e
fundacional;

( ...)

Art. 22. A contribuicão a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social,


além do disposto no art. 23, é de:

I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou


creditas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e
trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o
trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos
habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de
reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo
tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da
lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou
sentença normativa.

11 - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei


n.o 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau
de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do
trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer
do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos:

a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o


risco de acidente do trabalho seja considerado leve; (nossos grifos)

Em todo caso, é importante frisar que as situações ora descritas, que dizem respeito às
contribuições previdenciárias, devidas por empregado e empregador, e sem comprovação de
seu recolhimento ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, podem ser enquadradas
como atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração
pública, conforme estabelece o art. 11, inciso I, da lei que dispõe sobre as sanções aplicáveis
aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo,
emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional - Lei Nacional
n.O 8.429, de 02 de junho de 1992 -, senão vejamos:
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02563/07

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os


princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às
instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso


daquele previsto, na regra de competência; (grifos ausentes no original)

No que tange à contabilização dos gastos do FUSEM, observaram os especialistas deste


Sinédrio de Contas, mediante análise dos balancetes mensais enviados, que as despesas
foram contabilizadas no Anexo 2 pelo pagamento e não pelo montante empenhado, fi. 93,
em desrespeito ao regime de competência previsto não somente no art. 35, inciso Il, da lei
que estatuiu normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos
e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal - Lei Nacional
n.o 4.320, de 17 de março de 1964 -, mas também no art. 50, inciso Il, da reverenciada Lei
Complementar n.o 101, de 04 de maio de 2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal -
respectivamente, verbum pro verbo:

Art. 35. Pertencemao exercício financeiro:

I - (omissis);

11 - as despesasnele legalmente empenhadas.

Art. 50. Além de obedecer às demais normas de contabilidade pública, a


escrituração das contas públicas observará as seguintes:

I - (omissis)

11 - a despesa e a assunção de compromisso serão registradas segundo o


regime de competência, apurando-se, em caráter complementar, o resultado
dos fluxos financeiros pelo regime de caixa; (grifamos)

Ademais, é preciso comentar que, por ocasião da análise da defesa, os peritos da unidade de
instrução identificaram diversas inconsistências entre valores registrados mensalmente no
referido Anexo 2 (pelo pagamento) e aqueles constantes na relação de empenhos do mesmo
mês, fi. 198, agravando a mácula inserida na inicial.

Ainda em relação aos registros contábeis, os técnicos do Tribunal assinalaram a ausência de


contabilização da dívida do Município, correspondente à remuneração dos servidores do
Poder Executivo, para com o Fundo de Previdência Social da Comuna no BALANÇO
PATRIMONIAL que compõe a prestação de contas sub examine, fls. 91/94. Ou seja, 0 -
profissional de contabilidade não registrou as informações contábeis na forma prevista n
artigos 83 a 106 da Lei Nacional n.o 4.320/64. Outrossim, o balanço em questã
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02563/07

elaborado sem observar todos os princípios fundamentais da contabilidade previstos nos


artigos 20 e 30 da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade n.o 750, de 29 de
dezembro de 1993, devidamente publicada no Diário Oficial da União - DOU, datado de 31
de dezembro do mesmo ano, in verbis.

Art. 20 - Os Princípios Fundamentais de Contabilidade representam a


essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade,
consoante o entendimento predominante nos universos científico e
profissional de nosso País.Concernem, pois, à Contabilidade no seu sentido
mais amplo de ciência social, cujo objeto é o Patrimônio das Entidades.

Art. 30 - São PrincípiosFundamentaisde Contabilidade:

I) o da ENTIDADE;
11)o da CONTINUIDADE;
11I)o da OPORTUNIDADE;
IV) o do REGISTROPELOVALORORIGINAL;
V) o da ATUALIZAÇÃOMONETÁRIA;
VI) o da COMPETÊNCIA;e
VII) o da PRUDÊNCIA.

Pode-se concluir, então, que tais incorreções e omissões, além de prejudicarem a análise dos
inspetores deste Pretório de Contas, comprometem sobremaneira a confiabilidade dos
registros contábeis da entidade previdenciária do Município de Boa Vlsta/Pê, pois resultam
na imperfeição dos demonstrativos que compõem os balancetes mensais, instrumentos
utilizados para o acompanhamento da gestão, bem como a prestação de contas sub judice.

Igualmente inserida no grupo das máculas constatadas na instrução processual, encontra-se


a contratação, por prazo determinado de 04 (quatro) meses, de consultoria administrativa a
Sra. Maria José Ribeiro Diniz, que permaneceu na relação de empenhos do FUSEM durante
os meses subsequentes ao término do ajuste. Os analistas desta Corte frisaram que tal
modalidade de admissão de servidores só é aceita na Administração Pública para atender
necessidade de excepcional interesse público, conforme estatui a Carta Magna em seu
art. 37, inciso IX, in verbis.

Art. 37. (omissis)

IX - a lei estabeleceráos casos de contratação por tempo determinado para


atender a necessidadetemporária de excepcional interesse público;

Por sua vez, como já dito, a ausência de concurso público para o ingresso de servidor
afronta os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade administrativa
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02563/07

necessidade de certame público, devidamente estabelecidos no art. 37, caput e inciso 11, da
Lei Maior. Com efeito, a aceitação de servidor com inobservância das normas legais
pertinentes dá margem à ação popular, nos termos do artigo 4°, inciso I, da Lei n.o 4.717,
de 29 de junho de 1965. Registre-se, também, que a contratação em tela enseja ato de
improbidade administrativa, segundo dispõe o referido art. 11, inciso I, da lei que trata das
sanções aplicáveis aos agentes públicos - Lei Nacional n.° 8.429/92.

No tocante às despesas administrativas realizadas pelo FUSEM durante o exercício financeiro


de 2006, é necessário realçar que estas, na importância de R$ 54.515,50, corresponderam a
4,80% do valor total das remunerações, proventos e pensões dos segurados vinculados ao
RPPS,relativos ao ano anterior, R$ 1.133.976,88, superando, assim, o limite legal de 2%, de
acordo com o que preceituam o art. 6°, inciso VIII, e art. 9°, inciso 11, da lei que dispõe
sobre as regras gerais para a organização e o funcionamento dos regimes próprios de
previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos militares dos Estados e do Distrito Federal - Lei Nacional n.o 9.717, de 27 de
novembro de 1998 -, bem como no art. 17, inciso VIII e § 3°, da Portaria MPAS n.O 4.992,
de 05 de fevereiro de 1999, respectivamente, verbatim:

Art. 6° Fica facultada à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos


Municípios. a constituição de fundos integrados de bens, direitos e ativos,
com finalidade previdenciária, desde que observados os critérios de que
trata o artigo 10 e, adicionalmente, os seguintes preceitos:

I - (omissis)

( ...)
VIII - estabelecimento de limites para a taxa de administração, conforme
parâmetros gerais;

( ) ...
Art. 90 Compete à União, por intermédio do Ministério da Previdência e
AssistênciaSocial:

1-( ...)

II - o estabelecimento e a publicação dos parâmetros e das diretrizes gerais


previstos nesta Lei.

Art. 17. Fica facultada à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, a constituição de fundos integrados de bens, direitos e ativos,
com finalidade previdenciária, desde que observados os critérios de "'
trata o artigo 20 desta Portaria e, adicionalmente, os seguintes preceitos' <, ~.

(...) , 0~
n,"!'
,~
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02563/07

VIII - estabelecimento de limites para a taxa de administração, conforme


estabelecido no § 30 deste artigo;

...
( )

§ 30 A taxa de administração prevista no inciso VIII deste artigo será de até


dois pontos percentuais do valor total das remunerações. proventos e
pensões dos segurados vinculados ao regime próprio de previdência social,
relativo ao exercício financeiro anterior, observando-se que: (grifamos)

Portanto, em dissonância com o posicionamento dos especialistas da Divisão de Auditoria de


Atos de Pessoal e Gestão Previdenciária - DIAPG, fi. 199, a irregularidade persiste, ainda que
esteja comprovado nos autos pelo interessado que o valor excedente, na soma de
R$ 31.835,96, tenha sido quase que totalmente coberto com o aporte financeiro repassado
pelo Poder Executivo da Urbe dentro do exercício financeiro de 2006, no montante de
R$ 31.678,00, fls. 150/152. Na realidade, a configuração da eiva independente de quem
arcou com os dispêndios, que ficaram, de fato, acima do limite legal estabelecido.

Quanto à situação do Fundo Previdenciário Municipal perante o Ministério da Previdência


Social - MPS, impende comentar que, segundo extrato de regularidade disponível no sítio do
MPS na Internet, o FUSEM apresentava-se irregular, em 2006, no que respeita a diversos
aspectos, impedindo a emissão do Certificado de Regularidade Previdenciária - CRP. Por
ocasião da defesa, o postulante comprovou que a posição do fundo fora regularizada,
conforme CRP emitido em 30 de novembro de 2007 com vigência até 28 de fevereiro de
2008, renovado em 05 de março de 2008, fls. 175/177. Todavia, ainda que os certificados
trazidos pelo defendente tendam a diminuir a intensidade da irregularidade apontada, esta
permanece haja vista que no período em análise a situação do FUSEM contrariava alguns
critérios e exigências legais estabelecidos na Lei Nacional n.o 9.717/98 e na Portaria MPAS
n.o 4.992/99, fls. 75/76.

Nesse contexto, ante as diversas transgressões a disposições normativas do direito objetivo


pátrio, decorrentes da conduta implementada pelo gestor do Fundo Previdência dos
Servidores Municipais de Boa Vista/PB - FUSEM, durante o exercício financeiro de 2006,
Sr. Bartos Batista Bernardes, resta configurada a necessidade imperiosa de aplicação de
multa de até R$ 2.805,10 - valor atualizado pela Portaria n.? 039/06 do TCE/PB -, prevista
no art. 56, inciso 11, da Lei Orgânica do TCE/PB - Lei Complementar Estadual n.O 18, de 13
de julho de 1993, verbo ad verbum:

Art. 56 - O Tribunal pode também aplicar multa de até Cr$ 50.000.000,00


(cinqüenta milhões de cruzeiros) aos responsáveis por:

I- (omissis)
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 02563/07

11 - infração grave a norma legal ou regulamentar de natureza contábil,


financeira, orçamentária, operacional e patrimonial;

Ex positis, proponho que o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba:

1) JULGUE IRREGULARES as referidas contas.

2) APLIQUE MUL TA ao ex-gestor do Fundo de Previdência dos Servidores Municipais de Boa


Vista/PB - FUSEM, Sr. Bartos Batista Bernardes, no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), com
base no que dispõe o artigo 56, inciso II, da Lei Complementar Estadual n.o 18/93.

3) FIXE o prazo de 30 (trinta) dias para recolhimento voluntário da penalidade ao Fundo de


Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto no art. 30, alínea "a", da
Lei Estadual n.O 7.201, de 20 de dezembro de 2002, cabendo à Procuradoria Geral do Estado
da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o término daquele período, velar
pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do Ministério Público Estadual, na
hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da Constituição do Estado da
Paraíba, e na Súmula n.o 40 do ego Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba - TJ/PB.

4) ENVIE cópia desta decisão, para conhecimento, ao Coordenador-Geral de Auditoria,


Atuária e Investimentos, do Departamento dos Regimes de Previdência no Serviço Público,
da Secretaria de Políticas de Previdência Social, do Ministério da Previdência Social, Dr. Otoni
Gonçalves Guimarães, subscritor de representação encaminhada a esta Corte acerca de
auditoria-fiscal realizada no Regime Próprio de Previdência Social do Município de Boa
Vista/PB.

5) FAÇA recomendações no sentido de que o atual Presidente do Fundo de Previdência dos


Servidores Municipais de Boa Vista/PB - FUSEM, Sr. Linaldo Albuquerque Leite, não repita as
irregularidades apontadas no relatório da unidade técnica deste Tribunal e observe, sempre,
os preceitos co~tucionais, legais e regulamentares pertinentes.

É a propost ~ /,.
') '.0

" _.\j.\X'
(1
,~

Você também pode gostar