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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02461/07

Objeto: Prestação de Contas Anuais


Relator: Auditor Renato Sérgio Santiago Melo
Responsável: Alternar Lacerda Cavalcante de Andrade

EMENTA: PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL - PRESTAÇÃO DE


CONTAS ANUAIS - PRESIDENTE DE CÂMARA DE VEREADORES -
ORDENADOR DE DESPESAS- APRECIAÇÃO DA MATÉRIA PARA FINS
DE JULGAMENTO - ATRIBUIÇÃO DEFINIDA NO ART. 71, INCISO II,
DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA PARAÍBA, E NO ART. 1°,
INCISO I, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N.o 18/93 -
Subsistência de máculas que, no presente caso, não comprometem
totalmente o equilíbrio das contas. Regularidade com ressalvas.
Recomendações. Representação.

Vistos, relatados e discutidos os autos da PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAIS DO


EX-PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPALDE ITATUBA/PB, relativa ao exercício financeiro de
2006, SR. AL TEMAR LACERDA CAVALCANTE DE ANDRADE, acordam, por unanimidade, os
Conselheiros integrantes do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA PARAÍBA, com a
declaração de impedimento do Conselheiro Antônio Nominando Diniz Filho, em sessão
plenária realizada nesta data, na conformidade da proposta de decisão do relator a seguir,
em:

1) JULGAR REGULARES COM RESSAL VAS as referidas contas.

2) ENVIAR recomendações no sentido de que o atual Presidente da Câmara Municipal de


Itatuba, Sr. José Nildo Mota Alexandre, não repita as irregularidades apontadas no relatório
dos peritos da unidade técnica deste Tribunal e observe, sempre, os preceitos
constitucionais, legais e regulamentares pertinentes.

3) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput,
da Constituição Federal, COMUNICAR
à Delegacia da Receita Federal do Brasil, em João Pessoa/Pô, acerca da falta de
recolhimento de parte das contribuições previdenciárias devidas pelo empregador, incidentes
sobre a folha de pagamento da Câmara Municipal de Itatuba/PB, no exercício financeiro de
2006.

Presente ao julgamento o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas


Publique-se, registre-se e intime-se.
TCE - Plenário Ministro João Agripino

João Pessoa, 22 de outubro de 2008

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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02461/07

Auditor

Presente: I~. S 'I\;~,


Represent*~o Ministério PUlJllco Especial
TRIBUNALDECONTASDO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02461/07

Cuidam os presentes autos do exame das contas do ex-Presidente da Câmara Municipal de


Itatuba/PB, relativas ao exercício financeiro de 2006, Sr. Altemar Lacerda Cavalcante de
Andrade, apresentadas a este ego Tribunal em 30 de março de 2007, mediante o Ofício
n.O 031/2007, fi. 02.

Os peritos da Divisão de Auditoria da Gestão Municipal VI - DIAGM VI, com base nos
documentos insertos nos autos, emitiram o relatório inicial de fls. 115/120, constatando,
sumariamente, que: a) as contas foram apresentadas ao TCE/PB no prazo legal; b) a Lei
Orçamentária Anual - Lei Municipal n.o 312/2005 - estimou as transferências em
R$ 276.500,00 e fixou a despesa em igual valor; c) a receita orçamentária efetivamente
transferida, durante o exercício, foi da ordem de R$ 276.499,93, correspondendo a 100,00%
da previsão originária; d) a despesa orçamentária realizada atingiu o montante de
R$ 275.361,79, representando 99,59% dos gastos fixados; e) o total da despesa do Poder
Legislativo alcançou o percentual de 7,91% do somatório da receita tributária e das
transferências efetivamente arrecadadas no exercício anterior pela Urbe - R$ 3.479.682,04;
f) os gastos com folha de pagamento da Câmara Municipal abrangeram a importância de
R$ 189.971,51 ou 68,71% dos recursos transferidos; g) a receita extra-orçamentária,
acumulada no período, compreendeu o montante de R$ 19.352,71; e h) a despesa
extra-orçamentária, executada durante o exercício, atingiu a soma de R$ 20.468,66.

Quanto aos subsídios dos Vereadores, verificaram os técnicos da DIAGM VI que:


a) os Membros do Poder Legislativo da Comuna receberam subsídios de acordo com o
disciplinado no art. 29, inciso VI, da Lei Maior; b) os estipêndios dos Edis estiveram dentro
dos limites instituídos na Lei Municipal n.o 02/2004, quais sejam, R$ 1.540,00 para o Chefe
do Legislativo e R$ 3.080,00 para os demais Vereadores; e c) os vencimentos totais
recebidos no exercício pelos referidos agentes políticos, inclusive os do Presidente da
Câmara, alcançaram o montante de R$ 121.000,00, correspondendo a 2,39% da receita
orçamentária efetivamente arrecadada no exercício pelo Município - R$ 5.051.181,75.

No tocante aos aspectos relacionados à gestão fiscal, destacaram os analistas da unidade de


instrução que: a) a despesa total com pessoal do Poder Legislativo alcançou a soma de
R$ 221.748,29 ou 3,79% da Receita Corrente Líquida - RCLda Comuna - R$ 5.845.149,45;
e b) os Relatórios de Gestão Fiscal- RGFsdos dois semestres do período foram enviados ao
Tribunal dentro do prazo, com a comprovação das suas publicações. .'

financeira para saldar compromissos de curto prazo, no valor de R$ 15.013,76;\ . ~~


b) incompatibilidade de informações entre o RGF do segundo semestre do exercício e a ....~
prestação de contas; c) despesas não licitadas, no montante de R$ 26.400,00; d) não \'-
pagamento da importância R$ 8.117,24, referente às obrigações patronais devidas ~
Instituto Nacional do Seguro Social - INSS; e e) excesso de pagamentos efetuados ela )
tesouraria. )//'- _._
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TRIBUNALDE CONTASDO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02461/07

Processadasas devidas citações, fls. 122/127, a responsável técnica pela contabilidade da


Câmara Municipal de Itatuba/PB, durante o exercício financeiro de 2006, Ora. Maria Silvone
Alexandre Pereira Alves, deixou o prazo transcorrer sem qualquer manifestação acerca das
falhas contábeis detectadas no relatório inicial.

Já o ex-Presidente do Poder Legislativo da Comuna, Sr. Altemar Lacerda Cavalcante de


Andrade, apresentou contestação, fls. 129/642, na qual juntou documentos e argumentou,
em síntese, que: a) em 2006, todas as despesas empenhadas e consignadas foram pagas,
sendo o valor de R$ 15.036,60 proveniente de exercícios anteriores; b) o montante da
despesa com pessoal registrado no RGF- 2° semestre, R$ 224.165,81, é o mesmo que foi
informado na PCA; c) as contratações do advogado e da contadora se deram com base no
que dispõe o art. 25, inciso Il, c/c o art. 13, inciso V, da Lei Nacional n.o 8.666/93; d) foi
realizado o Convite n.° 001/2006 para a locação de veículo, que, por uma falha formal,
deixou de ser informado no SAGRES; e) os vencimentos e vantagens fixas em 2006
somaram R$ 185.111,51, cuja contribuição previdenciária a cargo do empregador foi de
R$ 38.873,42, sendo recolhido, a título de obrigações patronais, o montante de
R$ 31.776,78, e a título de salário família, R$ 3.723,52, restando a recolher em janeiro de
2007 a importância de R$ 3.373,12; e f) no Município de Itatuba/PB não existe agência
bancária e, por esta razão, o pagamento dos vencimentos dos servidores da Câmara
Municipal foi feito pela tesouraria.

Encaminhadosos autos à unidade técnica, esta, examinando a referida peça processual de


defesa, emitiu o relatório de fls. 645/647, onde considerou elididas as eivas concernentes à
insuficiência financeira para saldar compromissos de curto prazo e à incompatibilidade de
informações entre o RGF - 2° semestre do exercício e a PCA. Em seguida, diminuiu o
montante não pago das obrigações patronais devidas ao INSS de R$ 8.117,24 para
R$ 4.393,72. Por fim, manteve in totum o seu posicionamento exordial relativamente às
demais máculas.

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, ao se pronunciar sobre a matéria, emitiu o


parecer de fls. 648/651, opinando pela: a) regularidade com ressalvas das contas em
apreço; b) aplicação de multa ao gestor, Sr. Altemar Lacerda Cavalcante de Andrade, com
fulcro no art. 56, inciso lI, da Lei Orgânica desta Corte, face à transgressão a normas legais,
conforme apontado; e c) recomendação à Câmara Municipal de Itatuba/PB, no sentido de
guardar estrita observância aos termos da Lei de Responsabilidade Fiscal e aos princípios
que regem a Administração Pública consubstanciados na Constituição Federal, bem como (')
que se proceda à regularização da situação inerente aos pagamentos efetuados pel
tesouraria. "

_ ..•..•....•..
para a sessãodo dia 15 de outubro do corrente, conforme fls. 652/653, \ ~~
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Da análise efetuada pelos peritos deste Sinédrio de Contas, constata-se que as contas
apresentadas pelo ex-Presidente da Câmara Municipal de Itatuba/Pê, Sr. Alternar Lacerda
Cavalcante de Andrade, relativas ao exercício financeiro de 2006, revelam três
irregularidades remanescentes. Com efeito, os técnicos da unidade de instrução assinalaram
como despesa não licitada gastos com serviços contábeis e advocatícios, nos valores de
R$ 8.400,00 e R$ 9.000,00, respectivamente, e com locação de veículos, na quantia de
R$ 9.000,00, perfazendo um montante de R$ 26.400,00, fl. 115.

No que tange às contratações de advogado e contador, a defesa apresentada, fls. 130/133,


assevera que o ex-gestor fundamentou sua conduta com base no disposto no art. 25,
inciso 11, c/c o art. 13, inciso V, da respeitada Lei de Licitações e Contratos
Administrativos - Lei Nacional n.o 8.666/93 -, respectivamente, in verbis.

Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição,


em especial:

I - (omissis)

II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta


Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória
especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e
divulgação;

Art. 13. Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicos profissionais
especializados os trabalhos relativos a:

I- (omissis)

...
( )

v - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas; (grifamos)

Contudo, cabe destacar ab initio que não houve comprovação da efetiva realização de
procedimentos de inexigibilidade de licitação pelo Poder Legislativo de Itatuba/Pê em 2006 e (' '.\
inexiste qualquer informação a respeito no Sistema de Acompanhamento da Gestão dOS~ l
Recursos da Sociedade - SAGRES. ! ~

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Ademais, em que pese as recentes decisões deste Pretório de Contas acerca da ' ,\~
admissibilidade da utilização do supracitado procedimento para a contratação dos referido~_ \ )
serviços, guardo reservas em relação a esse entendimento por considerar que tais desp ás"· \
não se coadunam com aquela hipótese, tendo em vista não se tratar de ativi ades ).,
extraordinárias que necessitam de profissionais altamente habilitados nas suas resp tivas ......-- I

áreas, sendo, portanto, atividades rotineiras da Casa Legislativa. :I~


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Neste sentido, é importante mencionar o posicionamento, acerca da singularidade dos


serviços técnicos, exarado pelo eminente doutrinador Marçal Justen Filho, que, em sua obra
intitulada Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 5 ed., São Paulo:
Dialética, 1998, p. 262, assim se manifesta, verbatim:

Como já observado, a natureza singular não é propriamente do serviço, mas


do interesse público a ser satisfeito. A peculiaridade do serviço público é
refletida na natureza da atividade a ser executada pelo particular. Surge,
desse modo, a singularidade.

Com o intuito unicamente de exemplificar o entendimento das diversas Cortes de Contas


tupiniquins a respeito do assunto, transcreve-se decisão prolatada pelo egrégio Tribunal de
Contas do Estado do Rio de Janeiro - TCEjRJ, verbo ad verbum:

Contrato. Inexigibilidade de Licitação. Nulidade do Contrato e Multa. .É


indispensável que os serviços técnicos sejam de natureza singular, assim
não é bastante que o profissional tenha notória especialização. Existindo
dois ou mais competidores aptos a oferecer os serviços necessários, a
Administração terá de submeter-se à licitação. (TCE/RJ, Cons. Humberto
Braga, RTCE/RJn.o 29, jul./set./1995, p. 151) (nosso grifo)

Além do mais, como a propna norma preconiza, deve ficar evidenciada a notória
especialização do profissional prestador dos serviços para se configurar a hipótese de
inexigibilidade de licitação. Nos autos, nada existe que suscite a manifesta especialização dos
profissionais contratados pelo Poder Legislativo de ItatubajPB, Dr. Antônio Santiago da Silva
e Ora. Maria Silvone Alexandre Pereira Alves. Assim, reproduzimos entendimento do Tribunal
de Contas do Estado de São Paulo - TCEjSP, ipsis /itteris.

Contratação de serviços técnicos profissionais especializados. Notória


especialização. Inexigibilidade de licitação. Singularidade. O Decreto-lei n.o
2.300/96 já contemplava a espécie como de inexigibilidade de licitação,
desde que evidenciada a natureza singular dos serviços. Tem naturez
singular esses serviços, quando. por conta de suas característica
particulares, demandem para a respectiva execução, não apenas habilitação
legal e conhecimentos especializados. mas também. ciência. criatividade e
engenho peculiares, qualidades pessoais insuscetíveis de submissão a
julgamento objetivo e por isso mesmo inviabilizadoras de qualquer
competição. (TCE/SP, TC - 133.537/026/89, Cons. Cláudio Ferr de 'h.. .t
Alvarenga, 29 novo1995) (grifos inexistentes no original).

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Por sua vez, o colendo Tribunal de Contas da União - TCU estabilizou seu posicionamento
acerca da matéria em análise através da, sempre atual, Súmula n.o 39, de 28 de dezembro
de 1973, verbum pro verbo:

A dispensa de licitação para a contratação de serviços com profissionais ou


firmas de notória especialização, de acordo com alínea "d" do art. 126, § 2°,
do Decreto-lei 200, de 25/02/67, só tem lugar quando se trate de serviço
inédito ou incomum, capaz de exigir, na seleção do executor de confiança,
um grau de subjetividade, insuscetível de ser medido pelos critérios
objetivos de qualificação inerentes ao processo de licitação. (grifo nosso)

Caminhando na esteira do raciocínio implementado pelo respeitável TCU, manifestou-se o


Tribunal de Contas do Estado do Paraná - TCE/PR, senão vejamos:

Licitação. Obrigatoriedade. Advogado. Contratação direta de advogado. com


base no art. 25. lI, da LF 8.666/93. Impossibilidade, tendo em vista que a
notória especialização só tem lugar quando se trata de serviço inédito ou
incomum. (TCE/PR, TC - 50.210/94, ReI. Cons. João Feder, RTCE, n.o 113,
jan/rnar 1995, p. 130) (grifos ausentes no texto de origem)

No âmbito judicial, observa-se que Superior Tribunal de Justiça - STJ tem se posicionado
pela necessidade da efetiva comprovação da inviabilidade de competição para a
implementação do procedimento de inexigibilidade de licitação, consoante se verifica do
extrato de ementa transcrito a seguir, in verbis:

CRIMINAL. RESP. CRIME COMETIDO POR PREFEITO. COMPETÊNCIA


ORIGINÁRIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REJEIÇÃO DA DENÚNICA.
CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO E DE EMPRESA DE AUDITORIA PELO
MUNICÍPIO. INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. INVIABILIDADE DE
COMPmÇÃO NÃO DEMONSTRADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
I - A inviabilidade de competição. da qual decorre a inexigibilidade de
licitação. deve ficar adequadamente demonstrada. o que não ocorreu i .
casu. (...) (STJ - 5a Turma - RESP nO 704.10S/MG, ReI. Ministro Gilson
Dipp, Diário da Justiça, 16 maio 2005, p. 402) (grifamos)

In casu, o ex-Presidente da Câmara Municipal de Itatuba/PB, Sr. Altemar Lacerda Cavalcante


de Andrade, deveria ter realizado o devido concurso público para a contratação dos
profissionais das áreas contábil e jurídica. Neste sentido, cabe destacar que a ausência o <.

certame público para seleção de servidores afronta os princípios constitucionai da


impessoalidade, da moralidade administrativa e da necessidade de concurso
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devidamente estabelecidos na cabeça e no inciso II, do art. 37/ da Constituição Federal,


verbatim:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderesda


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade,moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:

I -(omissis)

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação


prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com
a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em
lei, ressalvadasas nomeações para cargo em comissão declarado em lei de
livre nomeação e exoneração; (grifos inexistentes no original)

Abordando o tema em disceptação, o insigne Procurador do Ministério Público de Contas,


Dr. Marcílio Toscano Franca Filho, nos autos do Processo TC n.o 02791/03/ epilogou de
forma bastante clara uma das facetas dessa espécie de procedimento adotado por grande
parte dos gestores municipais, verbatim:

Não bastassem tais argumentos, o expediente reiterado de certos


advogados e contadores perceberem verdadeiros "salários" mensais da
Administração Pública,travestidos em "contratos por notória especialização",
em razão de serviços jurídicos e contábeis genéricos, constitui burla ao
imperativo constitucional do concurso público. Muito fácil ser profissional
"liberal" às custas do erário público. Não descabe lembrar que o concurso
público constitui meritório instrumento de índole democrática que visa
apurar aptidões na seleção de candidatos a cargos públicos, garantindo
impessoalidade e competência. JOÃO MONTEIRO lembrara, em outras
palavras, que só menosprezamos concursos aqueles que lhes não sentiram
as glórias ou não lhes absorveram as dificuldades. (nossos grifos)

Comungando com o supracitado entendimento, reportamo-nos, desta feita, à jurisprudên 'a


do respeitável Supremo Tribunal Federal - STF, verbo ad verbum:

v
AÇÃO POPULAR- PROCEDÊNCIA - PRESSUPOSTOS. Na maioria das vezes,
a lesividade ao erário público decorre da própria ilegalidade do ato ./
praticado. Assim o é quando dá-se a contratação, por município, de serviços
que poderiam ser prestados por servidores, sem a feitura de licitação e s
que o ato tenha sido precedido da necessária justificativa. (STF
Turma - REnO160.381jSP, ReI. Ministro Marco Aurélio, Diário da Jus/~ia, 12
ago. 1994, p. 20.052) .
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Em relação à despesa com locação de veículos, na soma de R$ 9.000,00, a defesa alegou


que fora realizado o Convite n.o 01/2006, fi. 133. Entretanto, como bem observaram os
analistas desta Corte, fi. 646, a documentação apresentada pelo postulante, fi. 642, está
incompleta, pois consta apenas o termo de homologação. Importa notar que o suposto
certame também não foi registrado no SAGRES. Portanto, não há como prosperar a alegação
de que houve licitação prévia para a referida despesa.

Sendo assim, cabe destacar que a licitação é o meio formalmente vinculado que proporciona
à Administração Pública melhores vantagens nos contratos e oferece aos administrados a
oportunidade de participar dos negócios públicos. Quando não realizada, representa séria
ameaça aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência, bem como da própria probidade administrativa.

Nesse diapasão, traz-se à baila pronunciamento da ilustre representante do Ministério


Público junto ao Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, Dra. Sheyla Barreto Braga de
Queiroz, nos autos do Processo TC n.O 04981/00, ipsis /itteris.

A licitação é, antes de tudo, um escudo da moralidade e da ética


administrativa, pois, como certame promovido pelas entidades
governamentais a fim de escolher a proposta mais vantajosa às
conveniências públicas, procura proteger o Tesouro, evitando
favorecimentos condenáveis, combatendo o jogo de interesses escusos,
impedindo o enriquecimento ilícito custeado com o dinheiro do erário,
repelindo a promiscuidade administrativa e racionalizando os gastos e
investimentos dos recursos do Poder Público.

Com efeito, deve ser enfatizado que a não realização do mencionado procedimento Iicitatório
exigível vai, desde a origem, de encontro ao preconizado na Constituição da República
Federativa do Brasil, especialmente o disciplinado no art. 37, inciso XXI, verbum pro verbo:

Art. 37. (omissis) )


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XXI - ressalvados os casos especificados na legislação. as obras, serviços,\ ~
compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação' I '.

pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com


cláusulas que estabeleçam obrigação de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá
exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garan a do
cumprimento das obrigações. (grifo ausente no texto de origem)
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Entretanto, impende salientar que as despesas sem licitação remanescentes, R$ 9.000,00,


representam, no caso em tela, apenas 3,27% do total da despesa orçamentária realizada
pelo Poder Legislativo em 2006, R$ 275.361,79, percentual ínfimo que merece ponderações.

Igualmente inserida no grupo das irregularidades constatadas na instrução do feito, tem-se a


falta de empenhamento, pagamento e contabilização das contribuições previdenciárias
patronais devidas pelo Poder Legislativo ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, no
valor já retificado de R$ 4.393,72, fl, 643. A citada eíva representa ameaça ao equilíbrio
financeiro e atuarial que deve perdurar nos sistemas previdenciários, com vistas a
resguardar o direito dos segurados em receber seus benefícios no futuro, desrespeitando o
disposto no art. 195, inciso I, alínea "a", da Carta Constitucional, c/c o art. 22, incisos I e II,
alínea "a", da Lei Nacional n.o 8.212/91 (Lei de Custeio da Previdência Social),
respectivamente, senão vejamos:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da


lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou


creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviços, mesmo
sem vínculo empregatício;

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social,


além do disposto no art. 23, é de:

I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou


creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e
trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o
trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos
habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de
reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo
tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos d
lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou
sentença normativa.

II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da


Lei n.o 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do
grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos
ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou credltadesr'<
no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulso :
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a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o


risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; (grifos nossos)

No entanto, importa notar que o gestor deixou de recolher ao INSS o valor de R$ 4.393,72,
que representa apenas 11,01% do montante efetivamente devido em 2006, R$ 39.894,01, o
que, por si só, não é suficiente para macular as contas sub judice. Ainda assim, cabe
representação à Delegacia da Receita Federal do Brasil, em João Pessoa/PB, a quem
compete a fiscalização dos citados pagamentos.

Ao final, os inspetores deste Pretório de Contas assinalaram um excesso de pagamentos


efetuados pela tesouraria da Câmara Municipal de Itatuba/PB, na soma de R$ 55.651,14,
correspondente a 20,21% da despesa total do Poder Legislativo no período, R$ 275,361,79.
Embora o Município não possua agência bancária, os especialistas do Tribunal destacaram
que esta prática coloca em risco a segurança dos próprios servidores municipais, fls. 119 e
646/647. Logo, considera-se oportuna uma recomendação ao atual Presidente do Poder
Legislativo da Urbe, Sr. José Nildo Mota Alexandre, no sentido de implementar mecanismos
mais seguros para o pagamento da folha de pessoal da Edilidade.

Logo, diante do exposto e comungando com o entendimento do Ministério Público Especial,


fls. 648/651, verifica-se que as impropriedades remanescentes nos autos comprometem
apenas parcialmente regularidade das contas sub examine, seja pela ausência de danos
mensuráveis, seja por não revelarem atos graves de improbidade administrativa ou mesmo
por não induzirem ao entendimento de malversação de recursos. Na verdade, as incorreções
observadas caracterizam, em sua maioria, falhas de natureza formal, sem evidenciar dolo ou
má-fé do administrador, o que enseja, além do envio de recomendações, o julgamento
regular com ressalvas, nos termos do art. 16, inciso II, da Lei Complementar Estadual
n.o 18/93, in verbis.

Art. 16. As contas serão julgadas:

1-(...)

II - regulares com ressalva, quando evidenciarem impropriedade ou


qualquer outra falta de natureza formal de que não resulte dano ao Erário;

Ex positis, proponho que o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba:

1) JULGUE REGULARES COM RESSALVAS as referidas contas.


l

2) ENVIE recomendações no sentido de que o atual Presidente da Câmara Municipa-~


Itatuba, Sr. José Nildo Mota Alexandre, não repita as irregularidades apontadas no re tório)
dos peritos da unidade técnica deste Tribunal e observe, sempre, os eitos 0,..
constitucionais, legais e regulamentares pertinentes. / .~'
::ser '
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PROCESSOTC N.o 02461/07

3) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal,
COMUNIQUE à Delegacia da Receita Federal do Brasil, em João Pessoa/PB,acerca da falta
de recolhimento de parte das contribuições previdenciárias devidas pelo empregador,
incidentes sobr ~ de pagamento da Câmara Municipal de Itatuba/PB, no exercício
financeiro de OO~. A
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