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1.

4 – Medidas, Observáveis e o Princípio da


Incerteza
• P. A. M. Dirac (Dirac, P. A. M. Quantum Mechanics, 4th ed., London: Oxford Univ. Press, 1958, pg 36):
– "A measurement always causes the system to jump into an eigenstate of the
dynamical variable that is being measured.“
• Como interpretar as palavras de Dirac?
– Antes de efetuar uma medida da grandeza A, o sistema está em um
estado qualquer | , para o qual podemos escrever:
a a
a
– Qdo uma medida de A é feita, um dos possíveis valores a´ de A é obtido e
isto significa que agora o sistema esta no estado |a’ . Assim:
medida de A
a
– Usando novamente o exemplo do experimento de Stern-Gerlach:
• os átomos de prata que estavam numa orientação aleatória do Spin, ao
atravessarem um arranjo de SG, imediatamente são separados em dois grupos, um
com estado |+ e outro com estado |- em relação ao campo B.

– Então executar uma medida significa mudar o estado do sistema para


um dos auto-estados da grandeza medida!!!

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• A única exceção é quando o sistema já esta em um autoestado do
operador A, ou seja, o estado já é um dos |a’ .
• Novamente o exemplo do experimento de SG pode ser usado aqui.
– Após atravessar o 1º SG, os átomos de prata ou estão no estado |+ ou no
estado |- .
– Uma segunda medida de Sz só produzirá como resultado, ou +/2 ou -/2,
dependendo de qual dos feixes é medido pelo 2º SG.
• Porem antes de executar a medida, ou seja, quando o estado do
sistema é | , nós não sabemos qual dos autovalores a´ de A será
obtido.
• Ou, dito de outra forma, qual será a probabilidade de obter um dos
autovalores a´ de A ao se executar uma medida da grandeza física A.
• No formalismo da Mecânica Quântica, postulamos que esta
probabilidade é dada por:
2
Probabilidade de obter a a
– desde que o estado | seja normalizado.

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• Se falamos de probabilidades, isso significa que não é
possível saber ao certo o que vai acontecer com uma
única medida da grandeza A.
• Ou seja, no domínio da Mecânica Quântica, as
previsões fazem sentido se tratamos de uma coleção de
medidas feitas todas em sistemas idênticos, todos no
estado inicial | .
• Este conjunto de sistemas, todos ´preparados´ da
mesma forma, é chamado de “emsemble puro”.
• Novamente o exemplo do experimento de SG é útil:
– O feixe de átomos que emergem de um dos ´canais´ de um
dispositivo de SG (bloqueando-se o feixe que emergiria do
outro ´canal´) é um exemplo de um emsemble puro já que
todos os átomos de prata estarão no estado |Sz;+ , por
exemplo.

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2
Probabilidade de obter a a
• A interpretação probabilística para módulo ao quadrado do
produto interno (que é devida originalmente a Bohr) não pode ser
provada por se tratar de um dos postulados da MQ.
• Mas podemos ver que ela é plausível:
– Se o sistema está no estado |a’ , uma nova medida de A produzirá
a’ com probabilidade 1.
– A probabilidade de obter a” qdo o estado é |a’ é zero já que os
estados |a’ e |a” são ortogonais o que significa em linguagem de
espaços vetoriais, que as possibilidades |a’ e |a” são mutuamente
excludentes, ou, são linearmente independentes.
– A probabilidade de um valor ser obtido deve ser um número
positivo, o que é satisfeito já que:
• | a’ | |2 0.

– A probabilidade de se obter qualquer autovalor de A qdo se mede A


deve ser 1, o que é satisfeita pela relação:
2
a 1
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• O valor esperado para uma determinada grandeza
física em um estado qualquer | é postulado
como sendo:
A A
• Novamente, a expressão acima é um postulado
da MQ, mas podemos ver que ela esta de acordo
com a nossa noção de média estatística:
– Substituindo a expansão de | na base {|a’ }:
a a A A
a

A A a a A a a a a a
a a a
2
A a a
a
Possível valor Probabilidade de,
para a grandeza A ao medir A, obter a’

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• É importante não confundir os conceitos de valor
esperado com autovalores de uma grandeza física.
– O valor esperado pode ser um número real qualquer e
só depende do estado | no qual se encontra o
sistema.
– Os autovalores, por outro lado, tem valores bem
definidos.
• Novamente, usando o exemplo do experimento de
SG:
– O valor esperado para Sz do feixe de átomos de prata
que emergem do forno pode assumir qquer valor real
entre +/2 e -/2.
– Já os autovalores de Sz só podem assumir dois
valores, +/2 ou -/2.

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• O processo de medida de uma grandeza física na MQ pode ainda ser
melhor entendido se introduzirmos o conceito de filtração ou de
medida seletiva.
– Usando o exemplo do experimento de SG, podemos dizer que após o
feixe atravessar o 1º aparato de SG e de bloquearmos um dos feixes
emergentes, nós ´filtramos´ o feixe para selecionar somente os átomos
com Sz=+/2, por exemplo.
• Generalizando esta idéia, podemos imaginar um experimento no qual
um ´emsemble puro´ de sistemas com estado | é filtrado de forma a
escolher apenas os estados |a’ com autovalor a’ da grandeza física
A e descartar todos os outros possíveis estados.
• Este processo de filtração dos estados ou de medida seletiva da
grandeza A pode ser representado matematicamente por:

a a a
• Que significa projetar o estado | no estado |a’ .

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Sistema de spin ½ (de novo!)
• Vamos usar o exemplo da experiência de SG para ilustrar
algumas das ferramentas do formalismo da MQ e mostrar
como que estas ferramentas já conseguem nos auxiliar na
interpretação dos dados do experimento.
• Vamos usar o exemplo com 2 SG´s de forma que o 1º filtra o
estado |Sx;+ e o segundo esta orientado na direção de Sz.
• O resultado da experiência diz que o feixe filtrado
|Sx;+ produz na saída 50% para cada um dos
estados |Sz;+ =|+ e |Sz;- =|- .
• Em outras palavras, a probabilidade do
autoestado |+ de ser obtido qdo medimos Sz é ½.
Idem para o estado |- .
• Podemos escrever então:
2 1 1
Sx ; Sx ;
2 2
2
2011-1 MEGV – TQIde
Probabilidade – NPGFI
obter a a 59
• Usando o fato de que os autovetores de Sz formam uma base
no espaço, podemos expandir o estado filtrado |Sx;+ nesta
base.
Sx ; c c
c Sx ; e c Sx ;

• Sem perda de generalidade, podemos considerar então que a


diferença entre os dois coeficientes da expansão é apenas
uma fase, já que eles tem módulos iguais.
1 1
c e c ei 1 Exercício: Mostrar que o
estado |Sx;+ escrito
2 2 desta forma satisfaz as
1 1 condições:
Sx ; ei 1 | +|Sx;+ |=| -|Sx;+ |=1/√2
2 2
• Usamos a convenção de que o coeficiente de |+ é positivo.
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• O estado |Sx;- também pode escrito na mesma base.
• Usando o fato que |Sx;- deve ser ortogonal a |Sx;+ , podemos escrever
(exercício – Provar!):
1 1
Sx ; ei 1
2 2
• Nesta expressão usamos novamente a convenção de que o coeficiente de
|+ é positivo.
• Com estas informação, podemos escrever então o operador Sx:
A a a a Sx Sx ; Sx ; Sx ; Sx ;
a 2
1 1 1 1 1 1 1 1
Sx ei 1 e i 1
ei 1 e i 1

2 2 2 2 2 2 2 2 2
1 1 i 1 i1 1 1 1 i 1 i1 1
Sx e 1
e e 1
e
2 2 2 2 2 2 2 2 2

i
Sx e 1
ei 1
2
• Que é um operador Hermiteano (Exercício - provar!)

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• Repetindo os mesmos passos para o
operador Sy, obteremos (exercício!!!):
1 1 i
Sy ; e 2

2 2
i i
Sy e 2
e 2

2
• O que era esperado já que o sistema deve
ser invariante por uma rotação dos eixos.
• Será que existe uma forma de determinar
as duas fases 1 e 2?

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• Tem sim! Basta usarmos novamente os nossos
arranjos de SG numa configuração um pouco
diferente.
• Vamos supor que tenhamos um conjunto de
átomos com orientação aleatória do spin e que
inicialmente façamos uma filtragem dos estados
na direção de Sx.
• Em seguida, instalamos outro SG na direção y.
• O feixe que emerge o 1º SG tem igual
probabilidade para Sx= /2.
• Independente de qual dos feixes seja filtrado no 1º
SG, no 2º SG teremos igual probabilidade para
Sy= /2.

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• A exemplo do que fizemos para o caso anterior,
podemos escrever as probabilidades da seguinte
forma:

1
Sy ; Sx ; Sy ; Sx ;
2
1 1 1 1
Sx ; ei 1 Sy ; ei 2

2 2 2 2

1 1 i
1 e 1 2

2 2

• Esta relação só é satisfeita se ( 1- 2)= /2


(Exercício: Provar !)
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1 1 1 1
Sx ; ei 1 Sy ; ei 2

2 2 2 2
• O que definirá as componentes ou os elementos de
matriz dos estados |Sx; e |Sy; na base | formada
pelos autovetores de Sz é a escolha que fizermos das
fases 1 e 2.
• Como obrigatoriamente ( 1- 2)= /2, uma das matrizes
terá necessariamente uma componente imaginária.
• Uma das escolhas possíveis é 1=0 e 2= /2 (no
capítulo 3 veremos o motivo!).
• Assim:
1 1 1 1 1
Sx ; Sx ;
2 2 0 2 1
1 i 0 1 1
Sy ; Sy ;
2 2 1 2 i
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• Podemos agora reescrever os
operadores:
i
Sx e 1
ei 1 Sx
2 2
i
Sy e 2
ei 2
Sy i i
2 2
• E comparando com:
S e S
• Obtemos:
S S x iS y

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• Define-se o comutador de dois operadores [A,B] e o
anticomutador de dois operadores {A,B} por :
A,B = AB BA A,B = AB BA
• Exercício: Provar que os operadores Sx, Sy e Sz
satisfazem:
1. as relações de comutação:
Si ,S j i ijk Sk
1, se i, j e k forem permutações cíclicas de x, y e z
ijk 0, se quaisquer dois índices forem iguais
1, se i, j e k não forem permutações cíclicas de x, y e z,

2. as relação de anticomutação:
1 2
Si ,S j ij
2

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• Definindo o operador:
S2 S2x S2y S2z
• Usando as relações de anticomutação vemos que (Exercício!):

1 2 2 2 2 2 3 2
Si ,S j ij S S x S y S z
2 4
• Que é o operador identidade multiplicado pela constante 32/2.
• Usando as relações de comutação vem (exercício – Provar!):

Si ,S j i ijk Sk S2 ,Si 0
• Veremos no Capítulo 3 que a 1ª propriedade é característica de
sistemas de Spin ½ já a segunda é uma propriedade geral de
momentos angulares.

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Grandezas Físicas Compatíveis

• Definimos que duas grandezas físicas


são compatíveis quando o comutador
dos operadores que representam as duas
grandezas é zero:
A,B = 0

• E dizemos que elas são incompatíveis


se:
A,B 0

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• Voltando ao exemplo dos operadores Spin do
sistema de spin ½:
– Os operadores S2 e Si são compatíveis.
– Já os operadores Si e Sj (i≠j) são incompatíveis.
• Quais são as conseqüências desta definição?
• Consideraremos primeiro o caso de duas
grandezas que são compatíveis representadas
pelos operadores A e B.
• Existe relação entre os autoestados destes dois
operadores?
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• Antes de continuar vamos primeiro definir o
que chamamos de degenerescência:
– Um determinado autovalor é degenerado se
para este autovalor existir mais de um autovetor
correspondente.
– O que equivale a dizer que para um dado
autovalor a’ da grandeza física A, existe mais
de um |a’ que satisfaz a equação de
autovalores.
– Podemos usar um segundo índice para
classificar os |a’ ´s, por exemplo, |a’, i .

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• Então precisamos rever alguns dos nossos
teoremas e definições
• Primeiro, o conceito de dimensão do espaço
baseado nos autovalores de uma observável deve
ser mudado para considerar o número de
autovetores da grandeza, independente do
número de autovalores.
– Faz sentido esta adaptação já que a idéia física
associada com a noção de dimensão do espaço na
MQ esta relacionada com os ´estados possíveis para
um sistema representado pela grandeza física A´.
• A prova do teorema da ortogonalidade precisa ser
refeita porque não consideramos o caso de
possível degenerescências nos autovalores.
– Voltando ao slide 29 ...
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• Teorema: “Os autovalores de um operador Hermiteano são reais e os
autovetores correspondentes a autovalores diferentes são ortogonais.”
• Hipóteses: A a a a e A A†

• Tese: a e a a 0 para a a

• Prova: Aa a a Multiplicando a 1a a esquerda por a e a 2a a direta por a :


a A† a a Subtraindo a 1a da 2a e usando o fato que A é hermiteano:

a a a a 0
1º caso: a’ = a”.
•O 2º termo é claramente diferente de zero (já que a’|a’ é a norma do ket
|a’ que é definida como 0).
•Então para que a igualdade seja obedecida:
•a’ = a”* = a”
•Portanto, os autovalores são reais !
2º caso: a’ ≠ a”.
•O 1º termo agora é necessariamente diferente de zero, já que a”=a”*,
conforme resultado anterior.
•Então para que a igualdade seja satisfeita, necessariamente: a a 0

O que prova o teorema!

2011-1O que precisa ser alterado se– TQI


MEGV A tiver espectro degenerado?
– NPGFI 73
• 2º caso: a’ ≠ a” → OK!
• 1º caso: a’ = a”.
• O 2º termo é claramente diferente de zero (já que
a’|a’ é a norma do ket |a’ que é definida como
0).
• Então para que a igualdade seja obedecida:
• a’ = a”* = a”
• Portanto, os autovalores são reais !

•O 2º termo é diferente de zero para qualquer a’ já que a’,i|a’,j é um


número que pode ser diferente de zero.
•O caso i=j representa a norma do autovetor |a’,i !
•Mas e se i≠j?
•Para efeito do teorema, não faz diferença já que o caso i=j é o
suficiente para justificar o restante do raciocínio o que garante a prova
do teorema.

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• Mas ....
• Lembrem que usamos este teorema para dizer que os
autovetores de A formavam uma base ortonormalizada no
espaço, ou seja:
a a aa

• Temos que reescrever esta relação assim:


a , j a ,i ?
• Se a’ ≠ a” → Usamos o teorema e OK!
• Mas e se a’ = a” ? Temos que ter uma condição extra para
poder escrever:
a , j a ,i aa ij
• Só assim a nossa base ´volta´ a ser ortonormalizada!
• Felizmente é possível sempre pegar o conjunto de
autovetores correspondentes a um mesmo autovalor e
ortonormalizá-los!

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• Exemplo:
– Suponha que para um determinado autovalor a’,
tenhamos 2 autovetores |a’1 e |a’2 já normalizados.
– Vamos reescrever os dois autovetores da seguinte forma:
a ,I a ,1 e a , II a ,1 a ,2
– E vamos impor que: a , I a , II 0
• Com a constante de normalização.
– Então:
a , I a , II 0 a ,1 a ,1 a ,2
0 a ,1 a ,1 a ,1 a , 2
1
0 1 a ,1 a , 2
a ,1 a , 2
– Fazendo agora:
a , II a , II 1
– Determinamos o e o novo conjunto de autovetores
agora é ortonormalizado!

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• Recuperamos a nossa base ortonormalizada
mesmo no caso do espectro ser degenerado!

• Voltando a pergunta feita no slide:


– Consideraremos primeiro o caso de duas
grandezas que são compatíveis representadas
pelos operadores A e B, ou seja, [A,B]=0.
– Existe relação entre os autoestados destes dois
operadores?

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• Teorema: Considere duas grandezas físicas compatíveis A e B e suponha que
o espectro de autovalores do operador A é não degenerado. Então a matriz
que representa B na base de A é uma matriz diagonal.

– Hipóteses:

A,B = 0 Aa a a , a a aa , espectro não degenerado


– Tese:
a Ba aa a Ba
– Prova:

Calculando os elementos de matriz de A, B : Como o operador A, B deve ser


representado por uma matriz nula temos:
a A, B a a AB BA a
0 a a a Ba
a AB a a BA a
A matriz do operador B que representa
a A Ba a B A a uma grandeza física não pode ser nula. Então
a equação acima só admite solução se:
a aBa a Ba a
i-) a a 0 a a e a Ba
a A, B a a a a Ba
ii-) a a e a B a =0
Mas A,B 0, então A,B 0 0 O que prova o Teorema !!!

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• Qual a interpretação física deste teorema?
– Ambos operadores A e B são representados por
matrizes diagonais na mesma base.
– Se usamos a expressão: X a a Xa a
a a

– Podemos escrever para B na base de A:


B a a Ba a a aa a B a a
a a a a

B a a Ba a
a
– Fazendo este operador agir no ket |a’ :
Ba a a Ba a a
a

Ba a a Ba a a a a Ba aa
a a

Ba a Ba a
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Ba a Ba a
(Operador) (ket |a’ ) = (número) (ket |a’ )

• Os kets {|a’ } são também autovetores de B com


autovalores b = a’|B|a’ (elementos da diagonal da
matriz de B na base {|a’ }).
• Então os kets {|a’ } são autovetores simultâneos de A
e B!
• Portanto grandezas físicas compatíveis (os
operadores comutam!) possuem autovetores
simultâneos, se os espectros forem não degenerados.
– Podemos representar estes kets por {|a’,b’ }
• O que muda se o espectro de A for degenerado?

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• “Teorema”?:Considere duas grandezas físicas compatíveis A e B e suponha
que o espectro de autovalores do operador A é não degenerado. Então a
matriz que representa B na base de A é uma matriz diagonal.

– Hipóteses:
A,B = 0 A a ,i a a ,i , a ,i a , j aa ij

– Tese: a , j B a ,i a ,i B a ,i
aa ij

– Prova:

Calculando os elementos de matriz de A, B : Como o operador A, B deve ser


representado por uma matriz nula temos:
a , j A, B a , i a , j AB BA a , i
0 a a a , j B a ,i
a , j AB a , i a , j BA a , i
A matriz do operador B que representa
a , j A B a ,i a , j B A a ,i uma grandeza física não pode ser nula. Então
a equação acima só admite solução se:
a , j a B a ,i a , j Ba a , i i-) a a 0 a a e a , j B a ,i
a A, B a a a a , j B a ,i ii-) a a e a , j B a , i =0

Mas A,B 0, então A,B 0 0 O que NÂO prova o Teorema !!!


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• Precisa então uma condição adicional além de:
i-) a a 0 a a e a , j B a ,i 0
ii-) a a e a , j B a , i =0 ? iii-) Se i j a , j B a , i =0

• Mas e se os estados com mesmo autovalor a’


puderem ser ´escolhidos´ de forma que a matriz
que representa o operador B for diagonal?
– Então teríamos:
a , j B a ,i aa ij a ,i B a ,i
• Ou seja, podemos, em tese, diagonalizar a matriz
de que representa o operador B escolhendo
combinações lineares dos autovetores {|a’,i }
formando um novo conjunto {|a’,b’ } de forma que
os dois operadores A e B sejam representados
por matrizes diagonais.
• Veremos isso na parte de diagonalização das
matrizes.
2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 82
• O conjunto dos kets {|a’,b’ } obedecerá então as seguintes equações de
autovalores:
A a ,b a a ,b B a ,b b a ,b
• Este teorema pode ser generalizado para qualquer número de
grandezas físicas compatíveis entre si.
– Suponha as grandezas físicas A, B, C, ... compatíveis entre si:

A,B = A,C = B,C = B, D = C, D =0


– Então os operadores que representam estas grandezas terão autovetores
simultâneos |a’,b’, c’,... .
• Conseqüência 1: O teorema nos permite interpretar a degenerescência.
– A degenerescência existente no espectro de autovalores da grandeza A
pode ser interpretada como uma manifestação da existência de uma outra
grandeza física B compatível com a grandeza A.
– Haverá um conjunto de autovetores simultâneos de A e B e os autovalores
do operador B podem então ser usados para ordenar ou indexar os
autovetores degenerados de A (e vice-versa!).

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• Suponha agora que tenhamos encontrado o número máximo permitido
de grandezas físicas compatíveis A, B, C, ...
• Em outras palavras, não é possível encontrar nenhuma outra grandeza
física compatível sem que se viole:
A,B = A,C = B,C = B, D = C, D = 0
• Os autovalores de cada um dos operadores A, B, C, ... pode ser
degenerado, mas se especificarmos um conjunto de autovalores (a’,b’,
c’,... ), o autovetor simultâneo |a’,b’, c’,... será único para o conjunto
(a’,b’, c’,... ).
– A `prova´ desta afirmação é feita por redução ao absurdo.
– Suponha que exista mais de um ket |a’,b’, c’,... para um determinado
conjunto (a’,b’, c’,... ).
– Então precisaremos de um índice adicional para especificar os diferentes
kets : |a’,b’, c’,..., .
– Mas isso significaria então que o espectro de autovalores do conjunto de
operadores A, B, C, ... é degenerado.
– Então deve haver um outro operador que é compatível com A, B, C, ... E
que pode ser usado para indexar os diferentes autovetores degenerados.
– Mas isso viola a hipótese inicial !

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• O conjunto {|a’,b’, c’,... } forma uma base no
espaço vetorial e a condição de
ortonormalização deve ser escrita como:
a ,b ,c , a ,b ,c , aa bb cc

Ou resumidamente:
a ,b ,c , K K K KK

• O símbolo K’ é usado para representar o


conjunto de índices necessários para
especificar completamente o estado.
• A relação de completeza fica então:
a ,b ,c , a ,b ,c , K K 1
a b c K
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• Considere agora o caso no qual tenhamos apenas duas
grandezas físicas compatíveis A e B.
– Dito em outras palavras, o número máximo de grandezas
físicas que eu preciso para especificar completamente o
estado é 2.
• Qual é o efeito de executarmos medidas sucessivas das
grandezas A e B em um estado genérico | ?
– Começando com uma medida de A no estado | :
• Medir A significa projetar o estado | num estado com autovalor
a”, ou seja, | → |a”,b’ .
– Se em seguida medirmos B o que acontece?
• Se o espectro de A é não degenerado, necessariamente o valor
obtido para B será b”, dado por b”= a”|B|a” .
• Mas se o espectro de A for degenerado, ou seja, para o autovalor
a” temos, por exemplo, 3 estados: |a’,b’ , |a’,b” e |a’,b’” .
• A medida de B pode dar qualquer um dos três autovalores de B,
b’, b” ou b’”.
2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 86
• Esquematicamente:
– Espectro de A não degenerado:
Medida Medida
| |a”,b” de B
|a”,b”
de A

a” b”= a”|B|a”

– Espectro de A degenerado:
|a”,b’
Medida ou
Medida
| ? de B |a”,b”
de A
ou
|a”,b”’
a” b’ ou b” ou b”’

2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 87


• Quem deve ser o estado intermediário
no caso do espectro degenerado?
– Tem que ser um estado com valor bem
definido de A, ou seja, o sistema tem que
estar num autovetor de A:
• |a’,?
– Mas B não é bem definido. Qualquer um dos
3 autovalores possíveis de B pode ser obtido.
– Então a melhor forma de representar o
estado intermediário é:
a ,? cai a , b(i )
i

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• Considerando agora um 3ª medida de A:
– Espectro de A não degenerado:
Medida Medida Medida
| |a”,b” |a”,b” |a”,b”
de A de B de A

a” b”= a”|B|a” a”

– Espectro de A degenerado:
a ,? Medida Medida
Medida |a”,b” |a”,b”
| de A
i
c a ,b
a
(i )
de B de A
i

a” Suponha b” a”

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• Conclusão:
– Estado final após a 3ª medida é o mesmo!

– Medida de B não interfere no resultado da


medida de A independente do operador A ter
ou não degenerescência.

• Este é o verdadeiro significado de


Grandezas Compatíveis!

2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 90


Grandezas Físicas Incompatíveis
• Começaremos mostrando que grandezas físicas incompatíveis não
possuem um conjunto completo de autovetores simultâneos.
– Usando novamente redução ao absurdo.
– Suponha que duas grandezas físicas incompatíveis A e B tenham autovetores
simultâneos:

A a ,b a a ,b B a ,b b a ,b
– Multiplicando à esquerda a 1ª por B e n 2ª por A :
BA a , b a B a ,b AB a , b b A a ,b
BA a , b a b a ,b AB a , b b a a ,b
– Então:
BA a , b AB a , b 0 B, A a , b 0
Como esta relação tem que valer para qualquer par a , b B, A 0
– O que contradiz a hipótese inicial de que as grandezas A e B são incompatíveis!

2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 91


• Então grandezas incompatíveis não tem um
conjunto completo de autovetores simultâneos.
• Mas o que é provado é que [A,B]≠0 para qualquer
par (a’,b’).
• Pode ser que exista, no entanto, um subconjunto de
(a’,b’), um subespaço dos kets {|a’,b’ } , para o qual
A e B possam ter valores bem definidos.
• Veremos que isso acontece, por exemplo, com o
momento angular orbital nos átomos hidrogenóides:
– Estados s, com =0 e m=0, são autovetores de Lx, Ly e
Lz, apesar dos demais estados com ≠0 não serem.
– No entanto, os operadores Lx, Ly e Lz, não comutam!

2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 92


• Consideraremos agora as implicações da
incompatibilidade entre 3 grandezas físicas A, B e
C num processo seqüencial de medidas (filtração)
esquematizada da seguinte forma:

• Queremos saber agora qual é a probabilidade de


obter um certo autovalor c’ da grandeza C no
feixe que emerge do primeiro estágio de medida
da grandeza A, ou seja, o feixe filtrado no estado
|a’ devidamente normalizado.
2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 93
• Como probabilidades são multiplicativas, podemos dizer que
a probabilidade de se obter o estado | c’ é:
2 2
Pa b c
b a c b

• Mas esta expressão vale para um determinado estado filtrado


|b’ pela medida de B.
• Mas qual seria a probabilidade então total antes de filtrar o
estado |a’ via medida de B (antes de executar a medida)?
• Resposta: temos que somar sobre todos os estados
possíveis |b’ :
2 2
P b a c b a b b a c b b c
b b

2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 94


• Considere agora que removemos a etapa de medida de B.

• A probabilidade agora deve ser:


2
Pa c
c a a c c a
Pa c
a b b c c b b a
b b

• Que é diferente da probabilidade do caso anterior.


• Podemos mostrar (exercício!) que para que as duas probabilidades
sejam iguais é suficiente que ou [A,B]=0 ou [B,C]=0, na ausência de
degenerescência.
• O que significa que esta propriedade é característica de grandezas
físicas incompatíveis.

2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 95


Princípio da Incerteza

• Dado uma grandeza física A, definiremos o operador:


A A A
• O valor esperado de ( A)2 é chamado de dispersão e
é dado por:
2 2 2 2
A A A A 2 2A A A A2 2 A A A
2 2
A A2 A

– Desvio quadrático médio ou variância.


– Caracteriza a dispersão em torno do valor esperado.
– Se o estado no qual se esta calculando as médias for um
autovetor de A, então ( A)2 =0

2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 96


• Teorema: Para duas observáveis
quaisquer A e B vale a seguinte relação:
2 2 1 2
A B A, B
4
• Para provar este teorema, precisamos
antes provar três lemas (Exercícios!)
2
– Lema 1:
– Lema 2: O valor esperado de um operador
hermiteano é real.
– Lema 3: O valor esperado de um operador
anti-hermiteano, definido por C=(-C†), é
puramente imaginário.

2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 97


• Usando o lema1, fazemos:
2

Α e B
† † † 2
Α Α B B Α B
† †
Como: Α Α e B B
2
Α Α B B Α B
2 2 2
Α B Α B

• O termo da direita pode ser escrito como:


1 1
Α B Α, B Α, B
2 2
2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 98
• Analisando cada termo:

Α, B Α A , B B Α, B

Α, B Α A , B B Α, B
• Podemos mostrar que o comutador de A com B é um
operador anti-hermiteano:
† † † †
Α, B AB BA AB BA BA AB Α, B

• Similarmente, podemos mostrar que o anti-comutador


de A com B é um operador hermiteano.
• Usando então os lemas 2 e 3 teremos:
Α, B Α, B número puramente imaginário
Α, B número puramente real
2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 99
• Então: 1 1
Α B Α, B Α, B
2 2
2 1 2 1 2
Α B Α, B Α, B
4 4
• Substituindo:
2 2 2
Α B Α B
2 2 1 2 1 2
Α B Α, B Α, B
4 4

• Então se desconsiderarmos o último termo que é


positivo, o lado direito da inequação só pode ficar
menor o que significa que a desigualdade só fica
mais forte, e isso prova o teorema!
2011-1 MEGV – TQI – NPGFI 100
2 2 1 2
Α B Α, B
4
• Esta relação é conhecida como a relação
de Incerteza de Heisenberg.

• Ela também pode ser escrita como:


2 2 1
Α B Α, B
2

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