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L2 LINK SEGUNDA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 2009

O ESTADO DE S.PAULO

■■■ Mas talvez não seja o Kindle; a tela dele é ótima, mas o aparelho tem lá seus defeitos; o principal deles é o preço alto

Você vai querer comprar um e-reader


Chegou!
E-READERS
:FILIPE SERRANO
:JOCELYN AURICCHIO Nenhum e-reader como o
Kindle está a venda no Brasil
por enquanto, há apenas
“A questão é simples: é sur- projetos ainda não concluídos.
preendente ou não?” A dúvi- Mas concorrentes já preparam
da surgiu entre a equipe do novos equipamentos, com até
Link, que desacreditava ao ● MARCADOR – Dobrinha mais recursos e conteúdo que
ver o Kindle assim que o apa- virtual marca a página; e o o Kindle, para não perder o
relho aportou na redação. Se teclado permite anotações bonde do mercado de livros
o grau de surpresa depende digitais criado pela Amazon.
de cada um, o furor causado
peloaparelhoé incontestável.
OKindle–naverdadeomo-
delo é chamado de Kindle 2,
porque já havia um anterior –
foilançadopelaAmazonnoiní-
cio de 2009 e agora é vendido
em100países,incluindooBra-
sil. Ele tem jeito, na verdade,
deserumdosprimeirosmode-
los de um novo tipo de equipa- BARNES & NOBLE | NOOK
mento que ainda virá a ser po- ● RELÓGIO – Ao apertar menu,
pular, o leitor eletrônico de li- a barra superior exibe espaço
vros digitais (e-reader). em memória, hora e sinal 3G Aliado à tradicional livraria, o
Ainda há muitas falhas. A Nook deverá ser um dos
primeira reação é tocar na te- principais concorrentes. Uma
la, mas ele não aceita coman- das suas telas é colorida, tem
dos de toque. É preciso usar conexão Wi-Fi e 3G
um botão direcional, como o
de um celular, pouco intuiti-
vo. O tempo de resposta é len-
to para os padrões de hoje, o
que irrita. Ele também não é
colorido – e isso não é real-
mente um problema. Ainda
que apenas em preto e bran-
co, a reprodução de imagens ● CAPA – O Kindle conta com
é incrivelmente boa, pouco vários modelos de capa, que
melhor até que uma foto mo- custam, em média, US$ 30
nocromáticadejornaleseme- SONY | READER DAILY EDITION
lhante a um desenho a lápis.
A tela é seu grande trunfo.
Mesmo sob o sol que fez em A Sony foi uma das primeiras
São Paulo na sexta, foi possí- a lançar um e-reader. A tela do
vel ler textos na tela como se último modelo, que ainda será
fosse um livro comum. Mas, lançado e acessará o Google
do mesmo jeito, é preciso que Books, vira na horizontal
haja luz no ambiente porque
o Kindle usa uma tecnologia
que, diferente das telas LCD,
não emite luz, o que cansa os
olhos. Circuitos elétricos al- ● TAMANHOS – É possível
ternam o pigmento de peque- escolher o tamanho da fonte
nos pontos na tela entre pre- do livro usando o botão Aa
to e branco e formam os tex-
tos e as imagens. É por isso
quedáatéparatirarumafoto-
cópia do Kindle (veja ao lado).
Outro problema é a falta SAMSUNG | SNE-50K
de conexão Wi-Fi. Todos os
livros são baixados pela rede
de celular, que nem sempre é Com tela de 5 polegadas, tem
quase a metade do peso do
Kindle (184g) e tela sensível
Crescimento: ao toque. Mas por enquanto é
vendido apenas na Coréia
48% dos livros ● CARREGADOR – Pequeno, ● IMAGENS – Além de textos, o ● ORGANIZADO – Um menu na ● NAVEGAÇÃO – Além dos
vendidos na loja tem entrada USB e vem com Kindle exibe fotos, gravuras e parte superior da tela permite botões para virar páginas, um
cabo USB micro comum capas em preto e branco navegar pelo conteúdo do aparelho direcional controla o cursor
virtual são digitais
rápida o suficiente. Também
dá para fazer buscas na Wiki-
pedia.NosEUA,épossívelna-
vegarnainternet,masnoBra-
sil esse recurso é bloqueado.
Nos testes do Link, em vários
Falta de alternativa ‘Ele é bom para livros
momentos o Kindle avisava
quenãoerapossível seconec-
tar por falta de sinal.
estimula a pirataria que não quero ter’ SPRING DESIGN | ALEX

A conexão é imprescindí- Assim como o Nook, o novo


velparafazercomprasviaKin- REPRODUÇÃO modelo roda sobre Android,
dle. O Link testou a compra. “O que está acontecendo de fato O escritor Rodrigo Lacerda, au- cansa. Mas acho que ele é tem tela secundária colorida e
Demorou uns minutos, mas é a mais impressionante troca tor de O Fazedor de Velhos, está bom mesmo para comprar e Wi-Fi, mas ainda busca
funcionou. O método é sim- de bens legais que já houve no contente com o Kindle que ga- ler os livros que não faço parceiros para ter conteúdo
ples. Basta navegar na pró- mundo,(sóque)àreveliadomun- nhou há dois meses. Depois de questão de ter fisicamente.
pria Amazon, escolher um li- do legal. Definir esse fato prati- registrado nos EUA, ele conse- Eles não ocupam espaço,
vro e selecionar o botão “Buy camente consumado como sim- guiuusar normalmente o apare- são bons para levar em via-
this book”. Infelizmente, você ples pirataria é uma simplifica- lho – do mesmo modelo que é gens e a versão digital poupa
sóficasabendodopreçoaoen- ção”, pondera o escritor Cristo- vendido para o Brasil. A única o tempo de entrega. Livros
trar nos detalhes de cada li- vão Tezza, autor do premiado diferença é que ele não pode de literatura, de autores que
vro. Em seguida, o cartão de livro O Filho Eterno, de 2007. comprar e baixar os livros digi- gosto, prefiro ter em papel”,
crédito que deseja usar e, ao O compartilhamento gratui- taisdiretamentepeloKindlepor- diz o escritor.
confirmar, o arquivo é baixa- todelivrosprotegidospor direi- que a conexão sem fio, pela rede “A tendência é que haja
do automaticamente. Não há to autoral na web já é uma reali- de celular, não é compatível. uma convivência. Não tenho
outra forma de pagamento. dade. A Associação Brasileira Por enquanto, ele comprou medo de que o livro vai aca-
Caso se arrependa, dá para dosDireitosReprográficos(AB- apenas um livro digital pelo si- bar. Mas é cedo para saber o IREX | DR800SG
cancelar a compra. DR) acaba de divulgar o primei- VALE TUDO? - Um livro pirata te da Amazon e transferiu-o pa- impacto do Kindle, sobretu-
Cada Kindle fica registra- robalançodeumtrabalhoinédi- ra o eletrônico. “Achei ótimo do no Brasil. Ele é muito ca-
do com uma conta da Ama- to de combate à pirataria onli- editoras não pretendem con- para ler. Ele é bem fino e leve, e ro. Vai demorar para se po- Com tela de 8’’ sensível ao
zon, mas foi possível trocar ne. Apenas em agosto e setem- centrar a sua atuação ape- a leitura é bem confortável, não pularizar.” ● F.S. toque, tem conteúdo da
de usuário sem que os livros bro, foram encontrados mais nas na repressão a pirataria. JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/AE Barnes & Noble e permite
gravados fossem apagados. de 5 mil sites que reproduziam Pensando nisso, a Camara assinar mais de 1,1 mil jornais
Isso permite a uma terceira de forma ilegal o conteúdo de Brasileira do Livro (CBL) e revistas de todo o mundo
pessoa se logar em um Kindle livros de associados da entida- crioua ComissãodoLivroDi-
de outra, baixar um livro já de. Desse total, 92,7% foram re- gital,comoobjetivo,entreou-
comprado, e deixar o arquivo tirados do ar. Ninguém duvida tros, de antecipar possíveis
para o dono original. que outros surgiram no lugar. problemas,como direitosau-
No fim, o Kindle é um óti- “É como enxugar gelo”, resume torais e remuneração da ca-
mo aparelho. O preço (R$ Sergio Machado, presidente da deia produtora.
900) ainda é salgado, mas vai editora Record. Para o coordenador do
agradar, e muito, aos leitores Mas,seaofertadelivrospira- grupo, Henrique Farinha, da
que gostam de ler em inglês, teadosé tão abundante, por que editora Gente, “não é o digi-
mesmo os amantes de livros seu consumo não é igualmente tal que incentiva a pirataria.
empapel.Afacilidadedecom- expressivo? Simples: a leitura Ela é resultado de um des-
prar livros pode fazer esse ti- de longos textos na tela do com- compassoentreoqueopúbli- EBOOK CULT | EBOOK READER
po de leitor repensar sobre a putador ainda é desconfortável codeseja e o quelhe é ofereci-
necessidade do papel. O pre- para boa parte das pessoas. En- do”. Em sintonia, o advogado
ço de cada arquivo digital tretanto, com a possível disse- da ABDR, Dalton Morato, De marca brasileira, o modelo
(US$ 12) também é caro, já minação, a médio e longo prazo, afirmaqueotrabalhodaasso- optou por usar tela LCD,
que equivale ao preço de po- de aparelhos como o Kindle, es- ciação não é de apenas com- cansativa para a leitura
cket books em inglês – sendo sa limitação seria superada. batê-la, mas também de “ofe- mesmo com retroiluminação
que o digital não tem os cus- Apesar das incertezas que a recer alternativas de cunho fraca, mas pode ser alternativa
tos materiais do papel. ● ascensão do livro digital traz, as econômico”. ● BRUNO GALO OS DOIS - Para Lacerda, e-reader vai conviver com livros de papel
SEGUNDA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 2009
O ESTADO DE S. PAULO
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SAIBA COMO

Como funciona o Kindle


A Amazon expandiu a venda do Kindle para 100 países, incluindo o
Brasil. Assim, o aparelho que permite ler e comprar livros digitais
deve impulsionar o mercado de e-books no Brasil

Oferta de livros Jornais, revistas, blogs e Wikipedia


l A Amazon oferece mais de 360 mil livros l É possível fazer assinaturas de jornais e revistas,
em versão digital para o Kindle que custam por principalmente dos EUA e Europa, e receber o conteúdo
volta de US$ 12 cada, porém, há apenas 14 é diariamente, pela conexão sem fio ou pelo
títulos em português, quase nenhum relevante computador. O aparelho também dá acesso à
Wikipedia. No Brasil não acessa a web, nem blogs

IMAGEM DO KINDLE EM TAMANHO REAL

Dicionário Capacidade
l Inclui um dicionário em l Garante 1,4 gigabytes de espaço,
inglês (The New Oxford o suficiente para guardar
American
cerca de 1,5 mil livros
Dictionary), com
mais de 250 mil l É bastante, mas será necessário
termos, para apagar o conteúdo se
tirar dúvidas a memória estiver
enquanto lê cheia. Ele não
algum livro. Basta aceita cartões de
colocar o cursor expansão
sobre a palavra
Preço
Custa R$ 900

Formato proprietário PREV


l O Kindle não aceita nenhum arquivo que PAGE R$ 444 (US$ 259) HOME

seja diferente do formato proprietário da pelo aparelho


Amazon usado nos livros (.azw), do formato +
usado em livros digitais para celular (.mobi R$ 456 (US$ 266,32)
e .prc), do formato básico de textos (.txt) de taxa de importação
ou de áudio-livros (.aa e .aax) para o Brasil
Teclado
Com o teclado
l
l Para gravar um NEXT QUALIDADE DAS IMAGENS NEXT sob a tela, é
documento do PAGE PAGE
O KINDLE TAMBÉM REPRODUZ possível digitar
Word, em PDF IMAGENS, COMO FOTOS EM JORNAIS
anotações em
OU CAPAS DE LIVROS, EM PRETO E
ou até uma BRANCO COM ÓTIMA QUALIDADE E UM qualquer parte do
imagem em NÍVEL DE DETALHE IMPRESSIONANTE
livro ou pesquisar
JPEG, é preciso qualquer termo ou trecho nos
enviar o arquivo livros ou na internet. Também
para um e-mail regula o tamanho das letras e
personalizado da sua das margens
conta da Amazon. O
arquivo convertido é MENU
enviado para seu Kindle,
mas o processo pode
custar cerca de US$ 0,10.
Porém, existem
programas que convertem
BACK
documentos para
formatos .prc e .mobi. É
uma saída Áudio
l Toca áudio-
livros e também
Bateria reproduz
l De acordo com a Amazon, qualquer texto
a bateria aguenta até em "voz alta"
4 dias de uso constante e
com a rede 3G ligada, mas TANTO A ALIMENTAÇÃO DE ENERGIA
nos testes do Link, durou QUANTO A CONEXÃO É FEITA POR UMA
ENTRADA DE USB MICRO
apenas um dia de uso intenso

l Se desligada, o Kindle
segura até 2
semanas sem
precisar ser
recarregado.
Demora até 4 Sem fio Pelo PC
horas para l O Kindle não acessa redes Wi-Fi Outra opção é
l
carregar a bateria (sem fio). Por isso o download dos comprar o livro
completamente livros é feito pela rede de celular pelo computador
3G. Como nos EUA, não haverá e transferir o
custo adicional para baixar os livros arquivo do sita da
Amazon para o
NOS LOCAIS ONDE NÃO HÁ COBERTURA 3G, ELE Kindle usando um
TAMBÉM FUNCIONA PELA REDE DE CELULAR cabo USB
COMUM, PORÉM, A CONEXÃO É MAIS LENTA
Outras possibilidades

Aplicativo iPhone Aplicativo PC


03:15 AM

l Quem tem um celular da Apple, pode para comprar e ler livros na tela do iPhone. l A Amazon lançará em breve um software computador, sem precisar adiquirir o Kindle.
usar um aplicativo do Kindle no telefone Uma alternativa para não comprar o Kindle para comprar e ler livros digitais na tela do Também será uma alternativa
INFOGRÁFICO: RUBENS PAIVA E FARRELL/AE
%HermesFileInfo:L-4:20091102:

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O ESTADO DE S.PAULO

■■■ Mercado editorial acredita que o ■■■ MinistériodaJustiçaabreconsulta públicaparadefinirosdireitosdoe-cidadão


e-book ultrapassará o livro até 2018

Brasil quer discutir lei sobre


internet com os internautas
FABIO MOTTA/AE
disponibilizar as informações do marco, porém, surgiu após a
Brasil legal na internet? De que maneira? visita do presidente Lula ao Fó-
Como o governo pode ajudar a rum Internacional do Software
:TATIANA DE MELLO DIAS universalizar a banda larga? Livre, em junho desse ano.
RIO DE JANEIRO Essasquestões– e muitas ou- O marco regulatório não es-
JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/AE tras – ainda não têm respostas. pecificará nenhum crime na in-
“Estamos buscando contribui- ternet.Não serão abordadoste-
A ideia é ótima – resta saber co- ções qualificadas”, disse Ronal- mas como pirataria, fraudes e
mo será colocada em prática. O do Lemos, responsável na FGV espalhar o vírus – esses são te-
Brasilinaugurounasemanapas- pelo projeto. Ele explica que o mas para uma próxima legisla-
sada o que se pode chamar de próprio Ministério da Justiça ção, que será aplicada – mas
NOVA VELHA MÍDIA – primeira consulta pública cola- moderará a discussão. Podem sem abusos, porque os direitos
Mesmo eletrônico, borativa do mundo. A sociedade participarpessoasfísicasouins- de liberdade dos internautas,
Kindle simula papel participará, pela primeira vez, tituições, que terão peso igual. se tudo correr como esperado,
da elaboração de um projeto de “Ganha o debate quem melhor estarão garantidos pelo marco.
lei – de uma forma muito mais expor sua opinião”, diz. O texto- “Queremos evitar que a dis-

500 anos clara, simples e acessível do que


asconsultaspúblicasquesãofei-
tashoje,porexemplo, na Anatel.
O tema em discussão é justa-
mente de interesse dos inter-
base ficará em discussão por 45
dias.Depois, seráelaborado um
projeto de lei, que ficará nova-
mente em discussão por 45
dias, até que o texto final seja
MOUSE NA CABEÇA - Genro, no Rio

“AI-5digital”,oCongressoreali-
zou uma série de discussões so-
cussão sobre esses pontos fique
reaparecendo. Hoje cada proje-
to de lei tenta dar uma solução
própria. O que a gente quer é
discutir isso de uma vez por to-

depois, livro
nautas: o Marco Civil da Inter- aprovado colaborativamente. bre o tema. Em julho, o próprio das,daformamais abertapossí-
net, a primeira legislação brasi- Hoje, segundo Lemos, há 43 deputadoSemeghinihaviasina- vel, e as soluções têm que ser
leira que definirá os direitos e projetos de lei que legislam so- lizado a possibilidade de criar discutidasemcimadesseproje-
deveres de sociedade, empre- bre um ou outro tema, mas não uma nova legislação. O projeto to”, diz Lemos. ●
sas e governos na internet. “Es- há um marco organizado como

pode mudar
tamosutilizandoumametodolo- esse. “O vazio deixado pela falta
gia de consulta para que seja desse marco abre espaço pra
um marco da liberdade de ex- propostas de regulação que não
pressão e da democracia. Isso são boas”, explica Alfredo Ma-
significa ampliar o potencial de nevy, secretário executivo do
debateatravésdainternet”,dis- Ministério da Cultura.
se o ministro da Justiça, Tarso A abertura para a discussão
E as editoras? Google Books Genro, durante o lançamento veio justamente do movimento
da consulta pública na quinta- contrário proposto pelo projeto
: BRUNO GALO pode incluir feira, 29, no Rio de Janeiro. de lei 84/1999 (mais conhecido
: FILIPE SERRANO obras brasileiras comoLei Azeredo), quetipifica-
va os crimes na internet. “Uma
●● ● Apesar de o acordo entre Na ordem: proposta das grandes críticas era a de
Enfim, o Kindle chegou ao Bra- Google, autores e editoras nos que o Brasil teria uma lei penal
sil.Ecomoseunomepareceinsi- EUA também valer para livros
definirá primeiro os (a Lei Azeredo) antes dos usuá-
nua (algo como “por fogo”, em brasileiros, as editoras do Bra- direitos de cada um; rios de internet terem seus di-
inglês), ele de fato acendeu as
discussões em torno do futuro
sil consultadas pelo Link não depois, os deveres reitos assegurados”, disse ao
Link Pedro Abramovay, secre-
parecem estar preocupadas
dos livros na era digital por aqui com a digitalização das obras tário de Assuntos Legislativos
– e, a bem da verdade, em todo o pelo gigante da internet. O público opinará mediante do Ministério da Justiça.
mundo. Ninguém discute que o O acordo – cuja validade judi- cadastro no site Culturadigital. Foi ele quem puxou a discus-
e-bookveioparaficar,noentan- cial está marcada para ser defi- br. O texto-base foi elaborado são e articulou os responsáveis
to,essa éumafrágil certezacer- nida na próxima quarta-feira, pelo Ministério da Justiça em pelaelaboraçãodoprojeto:Cen-
cada por um mar de dúvidas. dia 11 – estabelece que o Goo- parceria com o Centro de Tec- tro de Tecnologia e Sociedade
A primeira não é nem de lon- gle pode digitalizar e catalogar nologia e Sociedade da Funda- daFGV-Rio(queajudouaelabo-
ge a mais importante: quando a na internet qualquer livro publi- ção Getúlio Vargas (FGV) do rar o texto-base), Ministério da
versão eletrônica vai suplantar cado no território norte-ameri- Rio.Sãotrês eixosdediscussão: Cultura (que colaborará com a
o bom e velho livro de papel? cano, mesmo que seja de outro direitos individuais e coletivos, consulta pública, hospedada no
Umapesquisarealizada pelaor- país. O Google também poderá responsabilidade dos atores e Culturadigital.br) e deputados
ganização da 61ª Feira do Livro utilizar livros de países com os diretrizes governamentais. federais, como Júlio Semeghini
deFrankfurt,amaior emais im- quais os EUA têm acordos de Entre os assuntos a serem (PSDB-SP) e Paulo Texeira
portantedosetor nomundo, en- direitos autoriais, o que inclui o discutidos estão vários temas (PT-SP), que encabeçam a dis-
trejornalistas,escritores,edito- Brasil. Ou seja, se houver al- delicados que hoje ainda não cussão na Câmara. “Eu não te-
res e livreiros, revelou que 50% gum livro de editoras brasilei- têm regras claras. Os provedo- nho queme identificar parasair
deles acredita que será em ras entre os títulos digitaliza- res podem armazenar os logs de casa. Isso também não faz
2018. Não é de se surpreender dos, ele poderá ser incluído nas (dados de navegação de usuá- sentido na internet”, diz o depu-
essa divisão. buscas do Google Books. rios)? Como? Por quanto tem- tado Teixeira.
O que se avizinha é a maior “Fora dos EUA, só estamos po?Ousuáriotemdireitoaaces- Após o movimento de oposi-
mudança pela qual o mercado digitalizando livros de domínio sar a web anonimamente? O po- ção à Lei Azeredo – que chegou
editorial – afinal, leitores de li- público ou títulos de editoras der público tem a obrigação de a classificar o projeto como
vro eletrônico, como o Kindle, com que temos acordos. Não
servem para ler jornais e revis- acredito que vai haver outro
tas também – jamais enfrentou. acordo geral como nos EUA em
Nos cerca de 100 anos da músi- outro país”, disse Rodrigo
ca como produto, a partir da in- Velloso, diretor de novos negó-
venção do fonógrafo, ela evo- cios do Google Brasil, respon-
luiu e se espalhou por diversos sável pelo Google Books.
formatos(cilindros de cera, dis- A decisão sobre a validade do
cos de goma-laca, de vinil, fita acordo esbarra sempre na
cassete, CD e finalmente MP3) questão dos livros que estão
emídias(rádio, walkman,inter- fora de catálogo, ou seja, que
net, iPod). O livro, por sua vez, estão esgotados e não têm pre-
em mais de 500 anos de história visão de publicação. ● F.S. e B.G.
quase não mudou. A mais rele-
vante dessas sutis mudanças
foi o surgimento do livro de bol- elas afirmam que sua função
so no início do século passado. independe do suporte. “So-
Quer dizer, mudou, mas conti- mos editores de conteúdo”,
nuou igual. costumam repetir, além de
Ahistória dolivrosemprees- concordar com o fato de que
teve ligada ao seu suporte – os livros técnicos e de refe-
uma tecnologia difícil de ser su- rência devem ser os primei-
perada. É relativamente bara- ros a migrar para o suporte
to, pode ser levado a qualquer eletrônico.
lugar, não usa bateria e seu uso Apesar de todo o burburi-
é extremamente simples, não nho em torno do assunto, es-
requer prática, tampouco habi- sa transição está dando ape-
lidade. nas os seus primeiros pas-
Jáhouveleitoresdelivrosele- sos.Mesmonos EstadosUni-
trônicos antes do Kindle, mas dos, o processo de massifica-
foi apenas com ele (e alguns ou- ção dos leitores eletrônicos
tros bons modelos que surgi- parece distante. Suas ven-
ramnosúltimos anos,aindainé- das, no entanto, crescem: 3
ditos por aqui) que começou a milhões de aparelhos devem
fazeralgumsentido pensar que, ser comercializados, neste
um dia, o livro de papel não será ano, apenas nos EUA. E as
oprincipalsuporteparaalitera- previsões para os próximos
tura. “Esse é um processo sem anossãoextremamentefavo-
volta”, afirma Sérgio Machado, ráveis também.
presidente da editora Record. Paralelamente,tem seob-
Entreas editorasouvidaspe- servado nos últimos anos al-
lo Link é unânime a opinião de gumasexperiências quebus-
que o e-book veio para ficar. A cam oferecer, algo além do
forma e a velocidade como cada livro de papel (envolvendo a
uma delas pretendem se adap- internet e vídeos, por exem-
tar, no entanto, é bem diferen- plo) para contar uma histó-
te. A Ediouro planeja, já para as ria. O curioso é que o Kindle,
próximassemanas,olançamen- apesardetodooverniztecno-
to do aguardado novo livro de lógico que o cerca, busca ser
Rubem Fonseca, pelo selo Agir, o mais fiel possível ao bom e
para Kindle e iPhone. Já a Com- velho livro de papel. Quer di-
panhia das Letras, Cosac Naify, zer, ainda que o suporte seja
PlanetaeaprópriaRecord,con- trocado, no fundo, os livros
firmam as negociações com a continuam exatamente os
Amazon, dona do Kindle, mas mesmos. Afinal, por enquan-
nenhum lançamento no forma- to,umbomlivroaindaéaque-
to, pelo menos por enquanto. le em que a história se com-
Em uníssono, por sua vez, pleta na sua cabeça. ●

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