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Depois de uma guerra de libertação que durou cerca de 10 anos, Moçambique tornou-se
independente em 25 de Junho de 1975.
Índice [esconder]
1 História Pré-Colonial
1.1 Primeiros habitantes de Moçambique
1.2 O Primeiro Estado do Zimbabwe
1.3 O Império dos Mwenemutapas
2 História Colonial
2.1 A chegada dos portugueses a Moçambique e o declínio do Império dos Mwenemutapas
2.2 O Império Marave
2.3 Os Prazos
2.4 Os Estados Ajaua
2.5 O Império de Gaza
2.6 Os Estados Islâmicos da Costa
2.7 As Companhias Majestáticas
2.8 A Administração Colonial Portuguesa
2.9 A Ocupação Militar de Nampula
2.10 A resistência à ocupação colonial no sul de Moçambique
2.11 Companhia do Niassa e a ocupação de Cabo Delgado e Niassa
2.12 Política colonial entre 1900 e 1930
2.13 O Estado Novo
2.14 A Guerra de Libertação
3 História Pós-Independência
3.1 As nacionalizações
3.2 As Empresas Estatais
3.3 A socialização do campo
3.4 A Guerra Civil
3.5 O PRE ou início do neoliberalismo económico
3.6 O Multipartidarismo
4 Ver também
5 Referências
[editar] História Pré-Colonial
Nos séculos I a IV, a região começou a ser invadida pelos Bantu (ver expansão bantu), que eram
agricultores e já conheciam a metalurgia do ferro. A base da economia dos Bantu era a
agricultura, principalmente de cereais locais, como a mapira (sorgo) e a mexoeira; a olaria,
tecelagem e metalurgia encontravam-se também desenvolvidas, mas naquela época a
manufactura destinava-se a suprir as necessidades familiares e o comércio era efectuado por
troca directa. Por essa razão, a estrutura social era bastante simples - baseada na "família
alargada" (ou linhagem) à qual era reconhecido um chefe. Os nomes destas linhagens nas
línguas locais são, entre outros: em eMakua, o Nlocko, em ciYao, Liwele, em ciChewa, Pfuko e
em chiTsonga, Ndangu.
Apesar da sociedade moçambicana se ter tornado muito mais complexa, muitas das regras
tradicionais de organização ainda se encontram baseadas na "linhagem".
Entre os séculos IX e XIII começaram a fixar-se na costa oriental de África populações oriundas
da região do Golfo Pérsico, que era naquele tempo um importante centro comercial. Estes povos
fundaram entrepostos na costa africana e muitos geógrafos daquela época referiram-se a um
activo comércio com as "terras de Sofala", incluindo a troca de tecidos da Índia por ferro, ouro e
outros metais.
De facto, o ferro era tão importante que se pensa que as "aspas" de ferro – em forma de X, com
cerca de 30 cm de comprimento, que formam abundantes achados arqueológicos nesta região –
eram utilizadas como moeda. Mais tarde, aparentemente esta "moeda" foi substituída por outra:
tubos de penas de aves cheias de ouro em pó – os meticais cujo nome deu origem à actual
moeda de Moçambique.
O que parece ter sido a capital deste estado - o actual monumento do Grande Zimbabwe - cobria
uma superfície considerável (incluindo não só a área dentro dos amuralhados, mas também uma
grande "cidade" de caniço, à volta daqueles), levando a pensar que tinha uma população de
várias centenas, talvez milhares de habitantes, e uma grande actividade comercial.
Em Moçambique conhecem-se também ruínas de madzimbabwe, a mais importante das quais
chamada Manyikeni, a cerca de 50 km de Vilankulo, na província de Inhambane, e a cerca de
450 km do Grande Zimbabwe.
Para além da grande fertilidade da região onde este estado se estabeleceu, o apogeu do
primeiro estado do Zimbabwe deve estar ligado à mineração e metalurgia do ouro, muito
procurado pelos mercadores originários da zona do Golfo Pérsico que já demandavam as "terras
de Sofala", pelo menos desde o século XII.
Cerca de 1450, o Grande Zimbabwe foi abandonado, não se conhecendo as razões desse
abandono mas, pela mesma altura, verificou-se uma grande invasão de povos também de língua
chiShona que deu origem ao Império dos Mwenemutapas. Estes invasores submeteram os
povos duma região que se estendeu até ao Oceano Índico, desde o rio Zambeze até à actual
cidade de Inhambane, pelo que não é claro o abandono do Grande Zimbabwe.
No século XVI, o Império dos Mwenemutapas tinha estendido o seu domínio a uma região
limitada pelo rio Zambeze, a norte, o Oceano Índico, a leste, o rio Limpopo a sul e chegando a
sua influência quase ao deserto do Kalahari a sudoeste. Porém, esta última região poderia estar
sobre a alçada de outros estados, como os reinos de Butua e Venda, que terão estabelecido
com os Mwenemutapas relações de boa vizinhança.
Para além desta ser uma região fértil e não estar afectada pela mosca tsé-tsé, permitindo a
criação de gado, o que contribuiu para a estabilidade e crescimento das populações, as minas
de ouro estavam principalmente localizadas no interior. Por essa razão, o domínio das rotas
comerciais que constituíam o Zambeze, por um lado, e de Sofala, mais a sul, conferiu aos
Mwenemutapas - era a aristocracia que controlava o comércio - uma grande riqueza.
Foi o ouro que determinou a fixação na costa do Oceano Índico, primeiro dos mercadores e
colonos árabes oriundos da região do Golfo Pérsico, ainda no século XII, e depois dos
portugueses, no dealbar do século XVI.
Proposta (não oficial) de bandeira para Moçambique enquanto colóniaQuando Vasco da Gama
chegou pela primeira vez a Moçambique, em 1497, já existiam entrepostos comerciais árabes e
uma grande parte da população tinha aderido ao Islão. Os mercadores portugueses, apoiados
por exércitos privados, foram-se infiltrando no império dos Mwenemutapas, umas vezes firmando
acordos, noutras forçando-os. Em 1530 foi fundada a povoação portuguesa de Sena, em 1537,
de Tete, no rio Zambeze, e em 1544 de Quelimane, na costa do Oceano Índico, assenhorando-
se da rota entre as minas e o oceano. Em 1607 obtiveram do rei a concessão de todas as minas
de ouro do seu território. Em 1627, o Mwenemutapa Capranzina, hostil aos portugueses, foi
deposto e substituído pelo seu tio Mavura; os portugueses baptizaram-no e este declarou-se
vassalo de Portugal.
Os Mwenemutapas reinaram até finais do século XVII, altura em que foram substituídos pela
dinastia dos Changamiras, outro grupo Shona que dominava o reino Butua, contribuindo assim
para a extensão territorial do império. As relações dos Changamiras com os portugueses tiveram
altos e baixos mas, em 1693, houve um levantamento armado em que os soldados portugueses
que residiam na capital foram escorraçados, várias igrejas destruídas e os portugueses
impedidos, durante algum tempo, de ter acesso ao ouro e ao comércio com os reinos indígenas.
A origem do nome é desconhecida, mas aparece em textos antigos (séculos XVII e XVIII) e
ainda hoje está associada ao de um distrito da província de Tete, a Marávia. O nome foi utilizado
com referência à fixação nesta região, entre 1200 e 1400, de um povo, cujo clã dominante,
denominado Phiri, se tornou, por alianças com as linhagens dominantes locais, o clã dominante.
Mais recentemente, Rita Ferreira utilizou esta designação para o conjunto de tribos ali existente.
Uma característica importante é que todos os povos da região, embora apresentem hoje uma
grande diversidade de línguas (do grupo de Bantu sul-central, das famílias ciNyanja, ciYao e
eMakuwa) tem como forma de organização da sociedade a matrilineariedade, ou seja, a
transmissão dos poderes "mágicos" e da propriedade – do próprio "poder" – é feita por
casamento com a mulher da linhagem que o detém.
Os Phiri terão utilizado esse poder para expandir a sua dominação e, mais tarde, os prazeiros
portugueses fizeram o mesmo.
[editar] Os Prazos
Ver artigo principal: Prazos da Coroa
Por volta de 1600, Portugal começou a enviar para Moçambique colonos, muitos de origem
indiana, que queriam fixar-se naquele território. Esses colonos, muitas vezes casavam com as
filhas de chefes locais e estabeleciam linhagens que, entre o comércio e a agricultura, podiam
tornar-se poderosas.
Em meados do século XVII, o governo português decide que as terras ocupadas por
portugueses em Moçambique pertenciam à coroa e estes passavam a ter o dever de arrendá-las
a prazos que eram definidos por 3 gerações e transmitidos por via feminina. Esta entativa de
assegurar a soberania na colónia recente, não foi muito exitosa porque, de facto, os "muzungos"
e as "donas" já tinham bastante poder, mesmo militar, com os seus exércitos de “xicundas”, e
muitas vezes se opunham à administração colonial, que era obrigada a responder igualmente
pela força das armas.
Não só estes senhores feudais não pagavam renda ao Estado português, como organizaram um
sistema de cobrar o “mussoco” (um imposto individual em espécie, devido por todos os homens
válidos, maiores de 16 anos) aos camponeses que cultivavam nas suas terras. Além disso,
mineravam ouro, marfim e escravos, que comerciavam em troca de panos e missangas que
recebiam da Índia e de Lisboa. Até 1850, Cuba foi o principal destino dos escravos provenientes
da Zambézia.
Em 1870, era apenas em Quelimane (sem conseguir penetrar no “Estado da Maganja da Costa”)
onde Portugal exercia alguma autoridade, cobrando o “mussoco”, instituído e cobrado pelos
prazeiros. Isto, apesar de, em 1854, o governo português ter “extinguido” os Prazos (pela
segunda vez, a primeira tinha sido em 1832). Outros decretos do mesmo ano extinguiam a
escravatura (oficialmente, uma vez que os “libertos” eram levados à força para as ilhas francesas
do Oceano Índico (Maurícia]] ou “ilha Bourbon” e Reunião ou “ilha de Fança”, com o estatuto de
“contratados”) e o imposto individual, substituindo-o pelo imposto de palhota, uma espécie de
contribuição predial.
Mas a agricultura familar não produzia as quantidades desejadas, era necessário organizar
plantações. É nessa altura que o governador da “província ultramarina”, Augusto de Castilho,
cuja administração estava desejosa de ter uma base tributária para manter a ocupação do
território, emite em 1886 uma “portaria provincial” regulando a cobrança do “mussoco” nos
Prazos (que tinham sindo “extintos” pela terceira vez seis anos antes), que incluía a
obrigatoriedade dos homens válidos pagarem aquele imposto, se não em produtos, então em
trabalho; é dessa forma que começam a organizar-se as grandes plantações de coqueiros e,
mais tarde, de sisal e cana sacarina.
Em 1890, o futuro “Comissário Régio” António Enes decreta, numa revisão do Código de
Trabalho Rural de 1875 (que estabelecia apenas a obrigação “moral” dos colonos [leia-se
camponeses indígenas] de produzirem bens para comercialização), que o camponês já não tem
a opção de pagar o “mussoco” em géneros: “...O arrendatário [dos Prazos] fica obrigado a cobrar
dos colonos em trabalho rural, pelo menos metade da capitação de 800 réis, pagando esse
trabalho aos adultos na razão de 400 réis por semana e aos menores na de 200 réis."
Esse decreto impunha ainda aos prazeiros a ocupação efectiva das terras arrendadas e o
pagamento à autoridade colonial da respectiva renda. Mas os prazeiros não tinham conseguido
converter a sua actividade de simples fornecedores de escravos ou de pequenas quantidades de
produtos na de organização das plantações, não só por falta de preparação (ou de vocação),
mas também por falta de capital. O resultado foi terem sido obrigados a subarrendar ou vender
os seus prazos, terminando assim a fase feudal desta porção de Moçambique.
Gungunhana, o último imperador de GazaO Estado de Gaza foi fundado por Sochangane
(também conhecido por Manicusse, 1821-1858) como resultado do Mfecane, um grande conflito
despoletado entre os Zulu por consequência do assassinato de Chaca (ou Shaka) em 1828, que
culminou com a invasão de grandes áreas da África Austral por exércitos Nguni. O Império de
Gaza, no seu apogeu, abrangia toda a área costeira entre os rios Zambeze e Maputo e tinha a
sua capital em Manjacaze, na actual província moçambicana de Gaza.
O rei de Gaza dominou os reis Tonga (possivelmente o mesmo que Tsonga, da língua
chiTsonga, a língua actualmente dominante na região sul de Moçambique) através dos membros
da sua linhagem, os Nguni, comerciando marfim, que recebia como tributo, com os portugueses,
estabelecidos na costa (principalmente em Lourenço Marques e Inhambane).
Com a sua morte, sucedeu-lhe o seu filho Mawewe que decidiu, em 1859, atacar os seus irmãos
para ganhar mais poder. Apenas um irmão, Mzila (ou Muzila) conseguiu fugir para o Transvaal,
onde organizou um exército para atacar o seu irmão. A guerra durou até 1864 e, entretanto, a
capital do reino mudou-se do vale do rio Limpopo para Mossurize, a norte do rio Save, na actual
província moçambicana de Manica.
Foi em Mossurize que, em 1884, ascendeu ao trono Nguni, Gungunhana, filho de Muzila.
Gungunhana regressa a Manjacaze em 1889, aparentemente pressionado pelos exploradores de
ouro de Manica e falta de apoios locais. Em Gaza, Gungunhana prosseguiu a política de seu pai
de assimilação dos reinos locais, os “Tonga” e de resistência à dominação portuguesa, mas essa
resistência não durou mais de seis anos. Gungunhana foi preso e Gaza finalmente submetida à
administração colonial.
Como Portugal tinha sido obrigado a ilegalizar o comércio de escravos em 1842, apesar de
fechar os olhos ao comércio clandestino, e não tinha condições para administrar todo o território,
deu a estas companhias poderes para instituir e cobrar impostos. Foi nessa altura que foi
introduzido o “imposto de palhota”, ou seja, a obrigatoriedade de cada família pagar um imposto
em dinheiro; como a população nativa não estava habituada às trocas por dinheiro (para além de
produzir para a própria sobrevivência), eram obrigados a trabalhar sob prisão – o trabalho
forçado, chamado em Moçambique “chibalo”; mais tarde, as famílias nativas foram obrigadas a
cultivar produtos de rendimento, como algodão ou tabaco, que eram comercializados por
aquelas companhias.
Só depois da visita do “Emissário Régio”, António Enes, em 1895 e dos acordos com o Transvaal
para a edificação da linha férrea, decidiu o governo colonial mudar a capital da “província” para
Lourenço Marques e, com a debandada das companhias majestáticas, organizar uma
administração efectiva de Moçambique. Essa administração, que foi encetada no então distrito
de Lourenço Marques (que incluía as actuais províncias de Maputo e Gaza), tinha a forma de
“circunscrições indígenas”, cujos administradores tinham igualmente as funções de juízes. Eram
coadjuvados pelos régulos, nas “regedorias” em que as circunscrições se dividiam, que eram
membros da aristrocracia africana (portanto, aceites pelas populações) que aceitavam colaborar
com o governo colonial; as suas principais funções eram cobrar o “imposto de palhota” e
organizar a mão-de-obra para as minas do Rand e para as necessidades da administração.
Com a abolição da escravatura por decreto régio, em 1875, e o seu declínio real, uns dez anos
depois, o governo colonial viu-se obrigado a transformar Moçambique de uma colónia para
extracção de recursos naturais, num território que devia produzir bens para seu consumo e para
exportação para a “metrópole”. Essa foi a motivação principal para o estabelecimento duma
administração efectiva, embora também pesassem as pressões internacionais decorrrentes da
Conferência de Berlim e das pretensões territoriais dos britânicos e holandeses.
No ano seguinte, foi nomeado um Comissário-Residente para Gaza, que foi “promovido” a
Intendente Geral em 1889, com a transferência de Gungunhana de Mossurize para Manjacaze;
em 1888, foi estabelecido um posto militar perto de Marracuene e, em 1890, foi nomeado um um
Comissário-Residente para Lourenço Marques. Entretanto, em 1888, as autoridades coloniais
reavivaram os “Termos de Vassalagem” com os reinos da região.
Mas estas medidas não foram suficientes, nem para cobrar o “imposto de palhota” (contribuição
por família, expresso nos “Termos de Vassalagem”, fixado naquela altura em 340 réis), nem para
assegurar o recrutamento de mão-de-obra, uma vez que o trabalho nas minas sul-africanas
rendia seis vezes mais do que os concessionários do caminho-de-ferro pagavam. Em 1992, o
governo de Lisboa enviou a Moçambique António Enes como Comissário Régio, para avaliar as
condições económicas da Província e, no mesmo ano, os portugueses conseguiram realizar uma
cobrança maciça do imposto, ameaçando os indígenas de verem as suas palhotas queimadas,
se não pagassem.
Em 1891, Gungunhana assinou com Cecil Rhodes um acordo relativo a direitos sobre a
exploração de minério nas suas terras, a favor da Companhia Britânica Sul-Africana, a troco dum
pagamento anual de cerca de 500 libras. Tornava-se claro para os portugueses que só uma
acção militar poderia forçar o estabelecimento da autoridade colonial na região. Esta acção,
conhecida na altura como “Campanha de Pacificação”, foi despoletada pela recusa de Mahazula
Magaia, um chefe tradicional da região de Marracuene, em aceitar a decisão do Comissário
Residente sobre uma disputa de terras. A questão chegou a vias de facto, quando a guarnição
militar portuguesa foi forçada a fugir para Lourenço Marques, perseguida pelos exércitos de
Magaia, Zihlahla e Moamba, que cercaram a cidade entre Outubro e Novembro de 1894.
António Enes organizou as suas tropas e, no dia 2 de Fevereiro de 1895, perseguiu e derrotou
(embora com dificuldade e pesadas baixas) os atacantes em Marracuene. Este dia continua a
ser celebrado naquela vila com uma cerimónia chamada “Gwaza Muthine”. Os chefes rebeldes
refugiaram-se em Gaza, sob a protecção de Gungunhana. Depois de várias tentativas de
negociações com o rei de Gaza, pedindo a extradição daqueles chefes, os portugueses
resolveram atacar de novo. A 8 de Setembro, travou-se a batalha de Magul, onde se encontrava
Zihlahla e, a 7 de Novembro, uma outra coluna proveniente de Inhambane defrontou-se com o
exército de Gungunhana em Coelela, perto da sua capital. Em Dezembro, Mouzinho de
Albuquerque cercou Chaimite e prendeu o imperador, que ali se tinha refugiado, mandando-o
depois para os Açores, onde veio a morrer.
O exército de Gungunhana continuou a resistir à autoridade colonial, sob a liderança de
Maguiguane Cossa, que só foi derrotado a 21 de Julho de 1897, em Macontene (a 10 km do
Chibuto). Com esta vitória, a autoridade colonial foi finalmente estabelecida no sul de
Moçambique.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o território da Companhia foi palco de várias operações de
resistência por parte dos chefes locais e invadido pelos alemães (ver Triângulo de Quionga).
Para resistir a essa invasão, foi aberta uma estrada de mais de 300 km, entre Mocímboa do
Rovuma e Porto Amélia (actual Pemba), o que significou a ocupação efectiva do planalto de
Mueda; no entanto, só em 1920 a Companhia conseguiu assegurar essa ocupação, depois de
várias operações militares contra os macondes, fortemente armados. Como se verá mais tarde,
esta tribo foi um dos primeiros e principais suportes da Luta Armada de Libertação Nacional.
Para além disso e, na impossibilidade de impedir a migração de trabalhadores para as minas sul-
africanas, firmou um acordo, primeiro com a República Sul-Africana e, quando esta foi submetida
pelos britânicos, com a respectiva autoridade, regulamentando o trabalho migratório e
assegurando o tráfico através do porto de Lourenço Marques. No primeiro acordo, o governo da
Província recebia uma taxa por cada trabalhador recrutado; mais tarde, o acordo incluía a
retenção de metade do salário dos mineiros, que era pago à colónia em ouro, sendo o montante
respectivo entregue aos mineiros no seu regresso, em moeda local.
Na década de 1950, o governo colonial lançou os Planos de Fomento para as colónias, incluindo
o financiamento à construção de infraestruturas (principalmente as que estavam relacionadas
com o comércio regional, como os portos e caminhos de ferro) e à fixação de colonos. O I Plano
de Fomento, relativo aos anos 1953-1958, previa um investimento em Moçambique de 1.848.500
contos, com 63% destinados às infraestruturas e 34% ao “aproveitamento de recursos e
povoamento”. Ao abrigo deste investimento, em 1960 já tinham sido instaladas no colonato do
Limpopo 1400 famílias.
O primeiro presidente da FRELIMO foi o Dr. Eduardo Chivambo Mondlane, um antropólogo que
trabalhava na ONU e que já tinha tido contactos com um governante português, Adriano Moreira.
Nesta altura, ainda se pensava que seria possível conseguir a independência das colónias
portuguesas sem recorrer à luta armada.
A guerra de libertação, uma luta de guerrilha, expandiu-se para as províncias de Niassa e Tete e
durou cerca de 10 anos. Durante esse período, foram organizadas várias áreas onde a
administração colonial já não tinha controlo – as Zonas Libertadas – e onde a FRELIMO instituiu
um sistema de governo baseado na sua necessidade em ter bases seguras, abastecimento em
víveres e vias de comunicação com as suas bases recuadas na Tanzânia e com as frentes de
combate.
[editar] As nacionalizações
O mandato deste primeiro governo de Moçambique independente era o de restituir ao povo
moçambicano os direitos que lhe tinham sido negados pelas autoridades coloniais.
Estas nacionalizações foram a causa próxima para uma vaga de abandono do país de muitos
indivíduos que eram proprietários daqueles serviços sociais ou simplesmente se encontravam
habituados aos serviços de determinados especialistas ou ao atendimento exclusivo; como
esses indivíduos, na maioria portugueses, eram muitas vezes igualmente proprietários de
fábricas, barcos de pesca ou outros meios de produção, o governo viu-se obrigado a assumir a
gestão dessas unidades de produção. Numa primeira fase, organizou-se, para as unidades mais
pequenas, um sistema de auto-gestão em que comités de trabalhadores, normalmente
organizados pelas células da FRELIMO, também chamadas Grupos Dinamizadores, assumiam a
gestão de facto.
O novo governo de Moçambique decidiu que o desenvolvimento agrícola deveria ter como base
as cooperativas agrícolas - às quais o governo deveria assegurar o aprovisionamento em
sementes e outros insumos e, ao mesmo tempo, a compra da produção de rendimento - com os
camponeses organizados em aldeias comunais, que eram agregados populacionais, onde o
governo iria apoiar na construção de infraestruturas sociais, como escolas, centros de saúde e
rede viária, mas tendo como base o poder económico das cooperativas e a mão de obra rural.
A organização das cooperativas e mesmo das aldeias comunais não foi difícil, dado o clima de
euforia e de organização que se vivia naqueles primeiros anos da independência, mas a acção
do estado em termos de aprovisionamento e de compra da produção, e mesmo da organização
das infraestruturas sociais, não conseguiu acompanhar o esforço dos camponeses.
Então, no início dos anos 80 – quando o Presidente Samora "decretou" a década de 1981-1990
como a "década da vitória sobre o subdesenvolvimento" – o estado mudou a sua estratégia para
a organização de grandes empresas estatais no campo, essa organização tomava a forma de
machambas estatais. Pretendia-se com essa estratégia que os camponeses continuassem a
produzir a sua base alimentar (dentro da forma de organização dos Bantu é a Mulher que
assegura a alimentação da família), enquanto as terras dos antigos colonatos passsavam a ser
geridas centralmente e a sua produção assegurada com base na mão-de-obra local.
Pouco tempo depois, para além de intensificarem os ataques contra estradas, pontes e colunas
de abastecimento dentro de Moçambique, os rodesianos ofereceram aos dissidentes
moçambicanos espaço para formarem um movimento de resistência – a "REsistência NAcional
MOçambicana" ou RENAMO – e criarem uma estação de rádio usada para propaganda
antigovernamental.
Até 1980, data da independência do Zimbabwe, a RENAMO continuou os seus ataques a aldeias
e infraestruturas sociais em Moçambique, semeando minas terrestres em várias estradas,
principalmente nas regiões mais próximas das fronteiras com a Rodésia. Estas acções tiveram
um enorme papel desestabilizador da economia, uma vez que não só obrigaram o governo a
concentrar importances recursos numa máquina de guerra, mas principalmente porque levaram
ao êxodo de muitos milhares de pessoas do campo para as cidades e para os países vizinhos,
diminuindo assim a produção agrícola.
Com a independência do Zimbabwe, a RENAMO foi obrigada a mudar a sua base de apoio para
a África do Sul, o que conseguiu com muito sucesso, tendo tido amplo apoio das forças armadas
sul-africanas. Para além disso, estas forças ralizaram vários "raids" terrestres e aéreos contra
Maputo, alegadamente para destruirem "bases" do ANC. No entanto, o governo de Moçambique,
que já tinha secretamente encetado negociações com o governo sul-africano e com a própria
RENAMO, assinou em 1983 um acordo de "boa vizinhança" com aquele governo, que ficou
conhecido como o Acordo de Nkomati, segundo o qual o governo sul-africano se comprometia a
abandonar o apoio militar à RENAMO, enquanto que o governo moçambicano se comprometia a
deixar de apoiar os militantes do ANC que se encontravam em Moçambique.
O governo de Moçambique viu-se então obrigado a assinar acordos com o Banco Mundial e FMI
e lançar, em 1987, um “Progama de Reestruturação Económica”, mais conhecido pela sigla
PRE, que deveria modificar a política económica de Moçambique e relançar a economia. A
primeira medida que o governo tomou foi a desvalorização do Metical que, em cerca de dois
anos atingiu mais de 1000%. Ao mesmo tempo, desindexou os preços dos bens de consumo,
com excepção dos combustíveis (continuam até hoje, 2007, a ser indexados pelo governo) e do
pescado, considerados produtos estratégicos de consumo e exportação (o camarão).
[editar] O Multipartidarismo
A Constituição de 1990 introduziu no sistema político moçambicano a possibilidade da
organização de partidos políticos que poderiam passar a participar na governação do País.
Referências
1.? Department of Arts of Africa, Oceania, and the Americas. "Great Zimbabwe (11th–15th
century)". In Heilbrunn Timeline of Art History. New York: The Metropolitan Museum of Art,
2000–. (October 2001) (em inglês)
UEM, Departamento de História, 1982. História de Moçambique Volume 1: Primeiras Sociedades
Sedentárias e Impacto dos Mercadores. Cadernos TEMPO. Maputo.
UEM, Departamento de História, 1983. História de Moçambique Volume 2: Agressão Imperialista
(1886-1930). Cadernos TEMPO. Maputo.
Hedges, D. 1999. História de Moçambique. Vol. 2: Moçambique no auge do colonialismo, 1930-
1961. Livraria Universitária, Maputo.
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