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Aula teórica de dia 29 de Outubro de 2008

Na última aula distinguimos Contabilidade Pública de Contabilidade Nacional.


Hoje vamos continuar a análise da Contabilidade Nacional. Esta tem vindo a
merecer uma atenção crescente, por ser, por força das regras comunitárias, o modelo
dominante de apresentação das contas junto das instâncias comunitárias.
Vamos hoje ver, nomeadamente, a questão da relação do Estado português com
as instâncias comunitárias (especialmente com a Comissão Europeia e com o ECOFIN).
O primeiro aspecto dessa relação prende-se com a aplicação do 7/95 para efeitos
de elaboração das contas nacionais. De acordo com o 7/95 a sigla:
• Da Administração Central é S 1311
• Da Administração Estadual (no caso de Estado Federado) é S 1312
• Da Administração Local (inclui a Adm. Local e Regional) é S 1313
• Dos Fundos de Segurança Social é S 1314
Então, como é que depois aparece em termos de exposição na contabilidade?

Tipo de Adm. Serviços Serviços


Integrados Autónomos
S 1311 Adm. Central Estado s.s. Serviços e Fundos
Autónomos da
Adm. Central
S 1313 Adm. Regional e Órgãos e Serviços Serviços e Fundos
Local Integrados Autónomos da
Adm. Local e
Regional
S 1314 Segurança Social

Hoje em dia, a apresentação das contas dos Estados, dos respectivos fundos e
serviços e dos respectivos subsectores é importante a nível comunitário porque as
instâncias comunitárias controlam o estado da nossa situação financeira, controlam as
nossas finanças públicas.
Grande parte das limitações que temos, quer em termos de política orçamental,
quer em termos de orçamentação, advêm justamente da nossa sujeição a um conjunto de
regras do Direito Comunitário (Regulamentos Comunitários).
Os Estados apresentam as suas contas às instâncias comunitárias para que estas
façam uma supervisão multilateral da situação financeira dos Estados-membros.
Qual o objectivo deste controlo?
O objectivo principal é verificar se os Estados apresentam uma situação
financeira positiva ou nula, ou se, havendo défice orçamental, este não ultrapassa os 3%
do PIB de cada Estado.
Quando os Estados-membros apresentam as contas à Comissão Europeia
(normalmente em Fevereiro, Março), estas deveriam estar verdadeiramente encerradas.
Mas, não é isto que acontece. Os Estados apresentam contas provisórias, as quais
fornecem apenas uma indicação aproximada.
O que é que os Estados vão apresentar?
Em primeiro lugar, é de referir o objectivo desta apresentação, a qual consiste no
apuramento do saldo global das Administrações Públicas.
Como é que se chega a este saldo global da globalidade das Administrações
Públicas? Através da consolidação de contas, que é uma espécie de média final de todos
os saldos de todas as Administrações Públicas.

Põe-se então uma primeira questão: o que é o saldo global? Há diversos


conceitos de saldo global:
1º) Saldo global das Administrações Públicas na sua globalidade (vamos partir
do mesmo quadro da última aula):

Estado s.s. Fundos e ARL Fundos da Total


(Adm. Serviços Segurança
Central Autónomos Social
Directa)
1. Impostos
directos
2. Impostos
indirectos
3.Contribuições
para a
Segurança
Social
4. Outros
impostos
5. Total das
receitas
correntes
6. Consumo
intermédio
7. Despesas
com pessoal
8. Prestações
sociais
9. Juros da
dívida pública
10. Subsídios
11. Outras
despesas
correntes
12. Total das
despesas
correntes
13. Poupança
bruta (5-12)
14. Receitas de
Capital
15. Total das
receitas (5+14)
16. Formação
bruta do capital
fixo
17. Outras
despesas de
capital
18. Total das
despesas de
capital (16+17)
19. Total das
despesas
(12+18)
20. Capacidade
(+) /
Necessidade (-)
de
financiamento
(15-19)

Conceitos relevantes:
• Saldo corrente = 5 – 12
• Saldo de capital = 14 – (16 + 17)
• Saldo global = 15 – 19

O saldo global confronta todas as receitas e despesas efectivas. O que significam?


• Receitas efectivas: receitas que efectivamente aumentam o património da
tesouraria do Estado.
• Despesas efectivas: efectiva saída monetária do património da tesouraria do
Estado.

Através do 20 podemos concluir que:


• Se o total das receitas efectivas for superior às despesas efectivas o saldo é
positivo, ou seja, há uma capacidade financeira de financiamento do Estado.
• Se as receitas efectivas forem inferiores às despesas efectivas temos um
saldo negativo, um défice orçamental. Neste caso, o Estado tem de recorrer
ao crédito, surgindo uma situação de passivo financeiro. Ao recorrer ao
crédito, recorre a uma receita não efectiva, a qual, embora traduza uma
entrada de dinheiro no património da tesouraria do Estado, gera o
surgimento de um passivo financeiro de montante exactamente idêntico.

Exemplo:
20. -2,8% 1% -1% 0% -2,8%

Critério do saldo primário: saldo global – juros da dívida pública (Critério menos
exigente do que o de saldo global)

Próxima aula:
• Tirar da Internet o PEC (basta o sumário)
• Vamos entrar nos factores determinantes da orçamentação pública do século
XXI (Capítulo 2º, ponto 2)

Para terminar a aula de hoje, é de realçar a diferença entre o passado (finais da


década 80) e os modernos sistemas de orçamentação.
Em relação ao primeiro, vigora o Princípio das Finanças Activas ou Funcionais, o
qual dá uma grande dose de discricionariedade aos governos – discration.
Hoje entrámos no domínio da defesa demoliberal, caracterizada por uma
orçamentação fortemente limitada e condicionada – rules, o que tem como
consequência um forte restricionismo orçamental.

Inês Larcher

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