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Nos últimos anos, o número de turistas que visitam áreas naturais tem
aumentado de forma surpreendente. Entretanto, essa tendência não tem sido
acompanhada pelo planejamento e administração adequados aos locais
visitados, principalmente em áreas ecológica e culturalmente frágeis.
Publicada originalmente pela The Ecotourism Society, esta obra apresenta
uma série de abordagens atuais sobre planejamento e gestão, com o objetivo
de fornecer uma visão mais abrangente possível do ecoturismo. Assim, os
autores apresentam técnicas específicas para tratar de questões
importantes:
• planejamento para o ecoturismo;
• elaboração de recomendações;
• maximização de benefícios econômicos;
• administração de visitantes;
• projetos de instalações de baixo impacto;
• aumento da participação da comunidade;
• garantia de benefícios para a comunidade e tantas outras. Os capítulos
apresentam estudos de caso e inúmeros exemplos que ilustram o atual
estágio de desenvolvimento do planejamento e gestão do ecoturismo,
oferecendo aos leitores os elementos básicos para a elaboração de projetos
ecoturísticos bem-su-cedidos, e exploram sua aplicação no contexto de
exemplos práticos extraídos de experiências em diversos países de todo o
mundo.
4° capa:
Com a iniciativa de traduzir Ecoturismo: um guia para planejamento e
gestão, editado pela The Ecotourism Society, a Editora SENAC São Paulo
procura oferecer a estudantes e profissionais da área um guia prático para a
implementação dos princípios do ecoturismo.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara
Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Bibliografia.
ISBN 85-85578-58-0
©1995 SENAC-SP
Direitos para a Língua Portuguesa reservados para o SENAC - Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial - Administração Regional no Estado
de São Paulo.
ECOTURISMO
UM GUIA PARA PLANEJAMENTO E GESTÃO
3a edição
Editores
Kreg Lindberg
(Pesquisador Associado, The Ecoturism Society)
Donald E. Hawkins
(Diretor do Instituto Internacional de Estudos sobre Turismo,
Universidade George Washington)
definindo ecoturismo
David Western
O ecoturismo explodiu no mundo das viagens e da conservação como
um tsunami, um verdadeiro maremoto; porém, suas origens são
definitivamente mais evolutivas que revolucionárias. As raízes do
ecoturismo encontram-se na natureza e no turismo ao ar livre. Os visitantes
que, há um século, chegaram em massa aos parques nacionais de
Yellowstone e Yosemite foram os primeiros ecoturistas. Os viajantes
pioneiros que se embrenharam por Serengeti há 50 anos, e os aventureiros
caminhantes do Himalaia que acamparam no Anapur-na 25 anos mais tarde
eram tão ecoturistas quanto os milhares que hoje fotografam os pingüins da
Antártida, acompanham a migração em grupo de Belize, ou dormem nas
habitações comunitárias dos nativos de Bornéu.
O século XX assistiu a uma mudança drástica e incessante nas viagens
a áreas naturais. A África é um bom exemplo. O safári de caça de 1909 de
Theodore Roosevelt para capturar as maiores cabeças e chifres que ele
pudesse encontrar, é um exemplo clássico de sua época. Por volta da metade
deste século, safáris fotográficos eram definitivamente mais populares do
que as caçadas, embora também baseados nos "Big Five" (os cinco grandes
mamíferos mais populares entre os caçadores: o leão, a zebra, o elefante, o
kudu e o rinoceronte). Por
16 ecoturismo
Héctor Ceballos-Lascuráin
Há apenas alguns anos, a palavra ecoturismo não existia e muito menos
os princípios que hoje ela representa. É verdade que viajantes naturalistas
existem há muito tempo, como Humboldt, Darwin, Bates e Wallace. Mas
suas experiências foram poucas e esporádicas, tão isoladas que não
produziram benefícios socioeconômicos significativos para os lugares
visitados, nem as atividades desenvolvidas pareciam ter a intenção de ser
um meio para a conservação de áreas naturais, de culturas nativas ou de
espécies em perigo de extinção.
Foi somente com o advento da viagem aérea a jato, com a enorme
popularidade dos documentários televisivos sobre a natureza e sobre
viagens, e com o interesse crescente em questões ligadas à conservação e ao
meio ambiente, que o ecoturismo passou a ser verdadeiramente um
fenômeno característico do final do século XX e, tudo leva a crer, do século
XXI.
O turismo, de modo geral, já é a indústria civil mais importante do
mundo. De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (World
Travei and Tourism Council-WTTC), o turismo é hoje a maior indústria do
planeta, e, para 1993, a expectativa era de que gerasse, em nível mundial,
mais de 3,5 trilhões, o equivalente a 6% do produto nacional bruto mundial.
A indústria do turismo é maior do que a do
26 ecoturismo
referências bibliográficas
World Tourism Organization. 1991. Yearbook of Tourism Statistics. Madrid,
Spain.
World Travei and Tourism Council. 1992. The WTTC Report: Travei and
Tourism in the World Economy. Brussels, Belgium.
1
Elizabeth Boo
O ecoturismo é hoje alvo da atenção de um grande número de pessoas.
Administradores de áreas protegidas estão procurando levar um número
cada vez maior de visitantes a parques e reservas. Comunidades próximas às
áreas protegidas estão usufruindo de novas oportunidades de emprego em
virtude do turismo. Especialistas em desenvolvimento rural estão
pesquisando o potencial econômico do ecoturismo, e governos estão
considerando esse potencial como fonte de entrada de divisas. Escritórios de
turismo estão começando a criar políticas para o ecoturismo; agências de
financiamento do setor privado estão avaliando a viabilidade financeira de
investimentos. Com os novos roteiros na natureza, conhecidos como
ecoturismo, a indústria do turismo está em plena expansão. Jornalistas
especializados estão tentando captar o que há de mais atual nesse conceito
inovador; vídeos sobre ecoturismo proliferam. E, é claro, os turistas - a
grande força por detrás de todo esse entusiasmo - estão se tornando cada vez
mais aventureiros, mais ligados à natureza e mais participativos quando
viajam. Como nunca antes, turistas visitam parques e reservas no mundo
todo e estão encarando essa experiência como uma forma de conhecer e
apreciar o meio ambiente natural.
34 ecoturismo
estratégia
Essas três fases, que serão descritas brevemente nas seções seguintes,
constituem o processo de criação de uma estratégia ecotu-rística para uma
área protegida. Quando a estratégia estiver pronta, suas atividades precisam
ser postas em prática, o que muitas vezes requer bastante trabalho.
Por que o parque foi criado? Pode haver várias respostas para esta questão.
Se esse for o caso, anote e forneça dados.
Quantas pessoas visitam o parque por ano? (Faça uma estimativa, se não
houver registros; indique se o valor foi estimado.)
Com base em dados concretos, que volume de visitas pode ser esperado
para o futuro?
Metodologia
Uma vez que desenvolver o plano turístico ideal para uma área envolve
muitas questões, diferentes grupos devem participar da discussão. Deveria
haver representantes do parque, das comunidades vizinhas, da indústria do
turismo, do Ministério do Meio Ambiente ou dos Recursos Naturais, da
Secretaria de Turismo e dos grupos em prol da conservação. Um mediador
pode ser útil nesses encontros. 3 workshop (ou série de workshops) tem
quatro objetivos:
reunir representantes de vários setores em torno de metas que promovam
o desenvolvimento da indústria do turismo no parque;
Uma vez que o grupo determina uma estratégia, é preciso que alguém
seja indicado para registrar, publicar e divulgar as informações. Dessa
maneira, a estratégia ecoturística pode chegar ao conhecimento de fontes
potenciais de recursos financeiros, de doadores, de investidores, ou de
outros, que possam oferecer assistência técnica para a administração do
parque a fim de viabilizar a estratégia.
A estratégia ecoturística preencherá uma outra função: tornar-se-á o
plano ecoturístico oficial da área. Todo incremento ou atividade turística
deverá seguir as diretrizes estabelecidas no plano. Quaisquer alterações no
documento devem ser aprovadas pela comissão ecoturística do parque. A
estratégia deve ser incorporada ao plano geral de administração da área
protegida.
Dada a importância desse documento, é fundamental que ele seja
redigido com rigor profissional, imediatamente após o trabalho do
workshop. Por essa razão, é aconselhável contratar um consultor para essa
fase, de preferência o mesmo profissional das etapas anteriores.
56 ecoturismo
metodologia
A metodologia para o documento da estratégia envolve a elaboração, a
publicação e a distribuição.
Em primeiro lugar, nomeie alguém que assuma a coordenação da
terceira fase (um responsável, um consultor profissional). O responsável
freqüentará o workshop e registrará os resultados. No final do workshop, o
responsável fará uma breve apresentação dos resultados para os
participantes, para garantir que o relatório reflita os interesses do grupo. O
responsável, então, redigirá o relatório da terceira fase e o encaminhará para
que seja examinado pela comissão ecoturística.
Após tomar conhecimento dos comentários críticos dos reviso-res,
incorpore as últimas alterações da comissão ecoturística e procure uma
gráfica. Em seguida, escolha o layout da publicação. Esse processo requer a
identificação do público-alvo. Uma vez que este foi definido, especifique o
número de cópias necessárias. Finalmente, se for preciso, procure fundos
para a publicação.
Determine o melhor método de distribuição e então, se necessário,
procure verbas. Finalmente, faça circular o relatório junto a todas as partes
envolvidas e a possíveis doadores e assessores técnicos. Divulgue o
relatório conforme o necessário.
conclusão
Os parques estão cada vez mais interessados no ecoturismo. Não só
estão recebendo um número maior de visitantes a cada ano, como também
seus administradores estão começando a ver o turismo como uma nova
fonte de renda e emprego. Mas, para incorporar o ecoturismo e manter o
equilíbrio entre custos e benefícios, os parques precisam estar preparados.
As diretrizes apresentadas visam a ajudar os administradores de parques no
processo de planejamento. Elas podem
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 57
ser úteis como pontos de reflexão para administradores que lidam com o
ecoturismo e desejam saber mais sobre ele. Ou podem também ser utilizadas
como um guia para o processo formal de planejamento, envolvendo muitas
pessoas interessadas em ecoturismo na área e resultando numa estratégia
ecoturística oficial para o parque.
É importante salientar que o processo aqui descrito serve apenas como
referência para o planejamento. Ele deve ser utilizado como um ponto de
partida e modificado, conforme necessário, para adaptar-se a determinadas
situações. O processo integral de desenvolvimento de uma estratégia
ecoturística deverá ser individualizado tendo em vista as especificidades de
cada parque. Portanto, este documento não é uma receita oficial, mas um
conjunto de sugestões para a elaboração do plano. O ingrediente principal é
a criatividade dos planejadores. Outro elemento crucial para tornar esse
processo viável são recursos financeiros adequados. Como já foi
mencionado, a maioria dos parques está sofrendo grandes cortes no
orçamento. Para criar e implementar um plano ecoturístico é preciso haver
fundos disponíveis para todas essas atividades. Estamos confiantes de que
os governos, os conservacionistas e a indústria do turismo reconhecerão a
importância dos planos ecoturísticos e apoiarão seu desenvolvimento.
O propósito desse exercício de planejamento é garantir que as áreas
protegidas ocupem uma posição de autoridade em relação ao crescimento
ecoturístico. A indústria do ecoturismo só terá sucesso se os recursos
naturais forem protegidos. E eles só serão bem protegidos se houver uma
estratégia correta de gestão, e se os administradores de parques e as
comunidades locais assumirem o papel de liderança no processo.
2
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas
para áreas naturais e comunidades vizinhas
tipos de diretrizes
Reúna todas as partes interessadas. Forme uma comissão, que pode ser
constituída por moradores, gestores de recursos, guias, operadores
comerciais, proprietários de pousadas, funcionários ligados ao parque e
vendedores locais.
implementando as diretrizes
distribuição
avaliação
Pouco tem sido feito para avaliar a eficácia das diretrizes. Entretanto, é
possível pedir aos viajantes que já estão retornando, que preencham um
questionário no qual comentem até que ponto sua viagem transcorreu de
acordo com as diretrizes divulgadas.
Se os objetivos das diretrizes foram cuidadosamente definidos e
referem-se a espécies e locais específicos, a eficácia das orientações pode
ser determinada, avaliando-se o nível relevante de impacto do turismo sobre
a espécie ou área selvagem em questão. No caso das diretrizes da
Associação Salve o Manati, da Flórida, as organizações responsáveis pelas
diretrizes registraram que a mortalidade e os danos causados aos manatis
diminuíram significativamente, desde que as
74 ecoturismo
assistência técnica
Wildland Adventures tem diretrizes para empresas que podem ser úteis
para outros operadores de viagem. Além disso, Kurt Kutay, dono da
Wildland Adventures, está envolvido na preparação de diretrizes para
indústrias (operadores de turismo de natureza na América do Norte), em
nome da The Ecotourism Society.
U.S. Forest Service (Serviço Florestal dos EUA) tem o programa "Não
Deixe Vestígios". Ele está preparado para fornecer materiais e responder a
perguntas sobre a experiência de campings e caminhadas de mínimo
impacto, no Sistema Florestal Nacional dos EUA. Além de diretrizes
escritas, seu programa oferece treinamento para diversas áreas.
diretrizes existentes
diretrizes recomendadas
conclusão
Especialistas
Plant Conservation Guidelines: Scientists and Teachers/Diretrizes para a
Conservação de Plantas: Cientistas e Professores: Plant Conservation
Committee, World Wildlife Fund.
Ethics for Traveling Outdoorsmen (researchers) /Ética dos Viajantes
Aventureiros (pesquisadores) e Ethics for Traveling Outdoorsmen (hunters
and fisher-men)IÉtica dos Viajantes Aventureiros (caçadores e
pescadores): ambos obtidos por intermédio de Bruce Bandurski, Outdoor
Ethics Guild.
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 85
Empreendedores e Arquitetos
Guidelines for Maya Participation in Ecotourism Planning and Develop-
mentlDiretrizes para a Participação dos Maias no Planejamento e
Desenvolvimento do Ecoturismo: Betty B. Faust, Southern Oregon State
College. Framework for Responsible Design for Ecotourism
Facilities/Diretrizes para o Projeto Responsável de Instalações
Ecoturísticas: David L. Andersen, The Andersen Group Architects, Ltd.
Suggestions for Ecotourism Facilities and Small Development Checklistl
Sugestões para Instalações Ecoturísticas e Lista de Verificação para
Desenvolvimentos de Pequena Escala: Ecotourism Group of San Ignacio,
Cayo District, Belize. Guidelines on Design and Construction for
Sustainable ResoxtDevelopment/Di-retrizes sobre Projeto e Construção do
Resort Objetivando o Desenvolvimento Sustentável: U.S. National Park
Service.
Guidelines for Ecotourism Facilities/Diretrizes para Instalações
Ecoturísticas: Stanley Selengut, Maho Bay Camps, Inc.
Impacto Social
Prepare sua viagem com bastante antecedência. Descubra o máximo que
puder sobre as pessoas e o local que você vai visitar. Peça a sua agência de
turismo ou operador turístico que lhe forneça informação detalhada sobre o
país de destino. Essa informação deve estar disponível quando você
comprar a viagem. Vá à biblioteca para obter maiores dados.
Não crie barreiras. Não se limite a seu grupo. Relacione-se com outras
pessoas. Use o transporte e o serviço locais. Seja receptivo, faça perguntas e
procure comunicar-se na língua nativa. Observe, escute e aprenda com os
outros. Aceite as diferenças, siga os costumes locais. A cultura, os
costumes, as crenças religiosas, o estilo de vida e as manifestações artísticas
são diferentes de seu país natal. Aceite-as, respeite-as e compreenda-as.
Procure não ofender seus anfitriões. Seja culturalmente sensível,
principalmente ao tirar fotografias, pechinchar e escolher seu vestuário.
Peça permissão antes de tirar fotos. Lembre-se: o negócio só é bom quando
é bom para as duas partes.
Deixe apenas suas pegadas; reúna, recolha, leve consigo. Não deixe nada
atrás de si: papéis velhos, lixo, sobras, resíduos, material descartável, restos
de comida ou mesmo pontas de cigarro. Deixe o local tão limpo quanto
estava antes do
88 ecoturismo
permaneça a uma distância de, pelo menos, 270 metros. Em uma aeronave,
fique a pelo menos 300 metros.
Ursos: o mais longe possível. Evite aproximar-se deles; mantenha grande
distância. Observe com binóculos de grande alcance ou instrumentos óticos
semelhantes.
Impacto Econômico
Ao escolher um operador turístico, procure saber: O que ele faz com os
lucros? Ele contrata guias locais e usa serviços e provisões locais?
Quando estiver viajando, gaste dinheiro em empreendimentos locais.
Compre artesanato tradicional e itens manufaturados com recursos
renováveis. Não prive as pessoas de suprimentos raros e difíceis de obter.
Não incentive o comércio ilegal comprando produtos feitos com espécies
em risco de extinção. Faça compras, mas evite pechinchar com artesãos a
ponto de tornar seu lucro apenas irrisório.
agradecimentos
As organizações listadas abaixo forneceram informação para este
estudo.
George N. Wallace
cativos e outros). Por outro lado, a tendência dos últimos anos tem sido a de
reduzir a presença dos funcionários do parque, cujo número, conforme o
visitante pode constatar, é cada vez menor. Embora o patrulhamento fosse
comum na década de 70, alguns guias e capitães de embarcações
comentaram que durante cinco anos - de 1986 a 1991 - não viram um só
guarda-florestal patrulhando as áreas mais afastadas do parque. As
prioridades mudaram, e o parque não dispõe de funcionários, barcos ou
combustível para fazer as patrulhas. Além da função de receber as taxas nos
aeroportos e de fornecer assistência à Estação de Pesquisa Charles Darwin
em seu centro de visitantes e em suas unidades de reprodução de cágados e
iguanas, os guardas-flores-tais têm um papel muito reduzido no contato com
os visitantes ou nas atividades de administração do visitante no próprio
parque.
Nas ilhas de Santa Cruz, São Cristóvão, Fernandina e Isabela, onde há
potencial para uma série de atividades terrestres, típicas de outros parques
nacionais, poucas áreas de visitação estão sob responsabilidade direta da
Administração do Parque. Áreas de visitação referem-se aqui aos centros de
visitantes administrados pelo parque, às áreas de acampamento, de
piquenique ou de caminhadas, aos centros educacionais ou interpretativos, e
às trilhas em uso. Além disso, quando estão patrulhando o parque, os
guardas-florestais têm mostrado uma evidente falta de interação com os
visitantes. A Estação de Pesquisa Charles Darwin possui um centro de
visitação e atividades interpretativas fora do parque, que os funcionários do
parque freqüentam com certa regularidade.
Devido ao aumento de licenças concedidas, as atividades dos
operadores comerciais são tão numerosas e geraram uma tal rede de
serviços de apoio nas cidades portuárias que o setor privado, embora
dependa do parque para existir, tem hoje vida própria. As atividades
turísticas estão em descompasso com a capacidade de gerenciamento do
parque e da reserva marinha. O rápido crescimento, a diversidade, os
recursos financeiros, a presença marcante e a força política do setor privado
são fatores que fazem com que os administradores do parque
104 ecoturismo
ça nas motivações, uma vez que alguns equatorianos vão a Galápagos com a
expectativa de desfrutar típicas férias à beira-mar e não estão interessados
em ecoturismo ou turismo voltado à natureza. Para os que estão interessados
na natureza, as excursões diárias são geralmente as mais escolhidas, porém,
por serem mais econômicas, oferecem oportunidades muito menores de
compreender os ecossistemas, a fauna e flora do parque, do que as excursões
mais caras. A Administração colabora muito pouco para - e tem pouco
controle sobre - a imagem do parque que é veiculada no continente e que é
responsável pela expectativa dos visitantes. Embora haja um estudo em
andamento para avaliar as motivações, expectativas e preferências dos
visitantes de Galápagos (Wallace e Wurz, 1992), acredita-se que os turistas
estrangeiros, que têm à sua disposição praias em muitos lugares, vão a
Galápagos principalmente para fazer turismo de natureza, ao passo que os
equatorianos podem viajar por uma série de outros motivos.
permissões
gulares, como a proporcionada por alguns dos barcos menores que visitam
locais distantes e menos freqüentados. Os centros de visitantes e os locais
interpretativos desenvolvidos pelo parque e a mão-de-obra contratada por
ele também são meios importantes para o fornecimento de oportunidades
não-comerciais. Alguns exemplos importantes de meios para equilibrar as
ofertas públicas e comerciais são: trilhas naturais guiadas por guardas-
florestais, por voluntários ou trilhas autoguiadas; áreas destinadas a
palestras para grupos de escolares, moradores da região ou visitantes; e
áreas de piquenique localizadas e projetadas para uso da população local.
Deve ser observado que, quando o parque identifica locais novos e
alternativos para sua administração, os roteiros comerciais podem também
utilizar essas áreas, contanto que os grupos trazidos sejam de tamanho
apropriado e estejam interessados em utilizar técnicas de baixo impacto. As
áreas-piloto, que oferecem oportunidades restritas de acampamento e
caminhada, podem ser utilizadas por indivíduos sem guias, por pequenos
grupos que tenham recebido orientação dos funcionários do parque, ou
ainda por visitantes menos experientes acompanhados por um guia. Uma
praia recreativa tornou-se muito popular entre os visitantes domésticos e os
habitantes da ilha que procuram opções de recreação que não envolvam
viagens mais longas parque adentro. O desenvolvimento cuidadoso desse
tipo de área, criada e consolidada próximo às comunidades da ilha, é um
meio de fazer com que os habitantes prestem maior atenção em outras
atrações que o parque tem a oferecer, alertando-os para a existência de áreas
internas ao parque onde podem sentir-se à vontade, apesar de não serem
turistas. As áreas recreativas de uso intensivo também propiciam uma
oportunidade para que os habitantes do local misturem-se aos visitantes
estrangeiros e aos roteiros guiados, em um contexto de lazer não-comercial.
Além disso, o Parque Nacional de Galápagos em breve estimulará os
proprietários de terras privadas a desenvolverem locais recreativos onde os
visitantes, acompanhados ou não por guias, chegarão por conta própria.
Esses locais serão incluídos como parte de uma
118 ecoturismo
tipos de zoneamento
trilhas
setor público, visto que há uma considerável pressão econômica para que os
melhores se transfiram para o setor privado e tornem-se guias.
O sistema de guias em Galápagos já possui muitos aspectos positivos e
ajuda a evitar muitos impactos, especialmente sobre a vida selvagem, os
solos e a vegetação próximos aos locais das atrações. Contudo, um fator
imediatamente visível ao observador externo familiarizado com a
interpretação é que os guias tendem a dar ênfase a aspectos restritos de
interpretação e a discorrer abundantemente sobre espécies de aves, répteis e
plantas. É possível que o interesse dos visitantes pelas espécies tenha, com o
passar do tempo, modelado as atitudes dos guias. Pode ser também que essa
atitude resulte dos currículos escolares, que ainda estão centrados em
taxonomias, ou talvez do treinamento de guias, que enfatiza a informação
mas passa superficialmente por demonstrações práticas e exercícios que
abarcam temas menos óbvios dentro das rotinas interpretativas.
A ênfase nas espécies tem contribuído para a idéia, comum entre os
concessionários, de que os melhores locais são aqueles com o maior número
de espécies e de animais, e de que há menos a fazer em outros locais. Isso
significa que os locais ricos em fauna são visitados com freqüência e tendem
a ser mais congestionados, algo que deve ser superado quando um novo
esquema de zoneamento for desenvolvido. As Ilhas Galápagos possuem
muitos outros temas interpretativos - vulcanis-mo, geomorfologia, correntes
oceânicas, climatologia (El Nino), ecossistemas, teoria da evolução,
vulnerabilidade dos organismos endêmicos à invasão de espécies exógenas,
gigantismo, um céu noturno incrível, história cultural, importância para a
ciência - que, se desenvolvidos e utilizados, poderiam transformar muitos
locais em atrações interessantes e estimulantes. Em outras palavras, o
treinamento e a seleção de bons guias e o material interpretativo podem
efetivamente ampliar o número de locais considerados desejáveis pelo
visitante e, por conseguinte, diminuir a pressão nos locais excessivamente
freqüentados - outra lição que poderia ser aplicada a muitas áreas (ver
Parque Nacional de Galápagos, Manual dos Guias para os Locais de
Visitação, 1980).
134 ecoturismo
conclusão
parte das operações ecoturísticas nas ilhas só poderá obter ganhos com o
decorrer do tempo, promovendo um desenvolvimento lento e ajudando a
fortalecer a capacidade administrativa do Parque de Galápagos, que será a
base sobre a qual o próprio turismo se apoiará. Por outro lado, os
funcionários do parque devem estar cientes de que a administração não pode
ter sucesso sem a participação e sem o senso de propriedade e de
compromisso partilhado pelos operadores turísticos, pelas organizações
não-governamentais e por outras instituições que operam dentro e nas
proximidades das comunidades do parque.
Esperamos que essa mensagem seja relevante para o relacionamento
entre operadores turísticos e administradores de áreas protegidas em muitos
lugares. O mesmo desequilíbrio existe em vários locais onde o autor deste
artigo já trabalhou. As Ilhas Galápagos já estão à frente de muitas áreas. A
Amazônia, a exemplo de Galápagos, poderia se beneficiar de um ecoturismo
baseado em rios e barcos e de uma estratégia administrativa semelhante, que
poderia levar os visitantes às áreas realmente protegidas e criar uma base
econômica, tanto para os parques quanto para a população local.
Atualmente, muitos roteiros na Amazônia chegam apenas a pousadas na
selva, em trechos de floresta secundária e em terras privadas, e, portanto,
não promovem a proteção a longo prazo de vastos ecossistemas virgens,
que, dessa forma, continuarão vulneráveis às forças econômicas extrativas.
Aqueles que analisam o estudo de caso apresentado neste capítulo deveriam
reconhecer que se trata de uma explanação relativamente simples, feita por
um observador externo, de uma situação dinâmica e complexa. Na época em
que este trabalho for publicado, as coisas terão mudado por lá - velhos
problemas estarão próximos de suas soluções e novos estarão surgindo.
Gostaria de encerrar este capítulo com uma história pessoal. Certo dia,
enquanto trabalhávamos em Galápagos, retornávamos de Fernandina, a
meio caminho de Santa Cruz. Eu estava doente, com disenteria. O capitão
do barco da Administração do Parque convidou-me a sair de minha cabine
para ver quinze ou vinte golfinhos que
a administração do visitante 139
referências bibliográficas
agradecimentos
FATORES INTERNACIONAIS
Renda. Turistas mais abastados geralmente viajam com maior
freqüência e pagam preços mais altos.
População. O número total maior de turistas geralmente significa
maior demanda por locais específicos.
Predileções. A demanda por férias ecoturísticas depende do nível
de consciência e de preocupação acerca da conservação
ambiental.
*Imagem do Local de Destino. As atrações com fortes imagens
positivas nos países de origem seduzirão um número maior de
turistas. Costa Rica e Belize possuem excelente reputação dentro
do mercado turístico dos Estados Unidos. Animais típicos como
gorilas e carnívoros de grande porte irão gerar alta demanda.
Atrações Competitivas. Quanto mais inusitada uma atração, maior
a possibilidade da cobrança de taxas mais elevadas. Os gorilas de
Ruanda, o Monte Everest, no Nepal, e Galápagos, no Equador,
são atrações ímpares e caras.
Custo da Viagem (tempo e dinheiro) ao País de Destino. Quanto
mais baixo o custo da viagem do país de origem ao país de
destino, maior será a demanda.
FATORES LOCAIS/NACIONAIS
*Qualidade da Atração. Locais que incluem atrações
convidativas, variadas e fáceis de observar serão relativamente
populares (esse fator reflete essencialmente como "a imagem de
destino" é, de fato, vivenciada).
*Qualidade da Experiência Geral do Passeio. Passeios que
proporcionam experiências de qualidade mais elevada poderão
cobrar taxas mais altas. A qualidade baseia-se em fatores como:
limpeza e conforto do alojamento, confiabilidade e sabor da
comida, cordialidade e instrução dos guias e demais
funcionários, lotação adequada dos locais, etc.
Estabilidade Política e Econômica. Os turistas preferem viajar
para nações estáveis. O turismo na Guatemala, Sri Lanka, Peru,
Ruanda e Nepal sofreu uma queda durante os períodos de
instabilidade.
*Atrações Complementares. Haverá maior demanda por locais
com atrações populares próximas. A demanda por parques do
Equador e do Peru é suplementada pela possibilidade de viajar
para Machu Picchu nas mesmas férias. *Custo da Viagem
(tempo e dinheiro) desde a Entrada no País até a Atração. As
atrações que têm acesso mais fácil às principais cidades e
circuitos turísticos existentes receberão maior demanda.
*Esses fatores podem ser alterados por meio de gestão e
planejamento minuciosos.
ANO 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
CUSTOS DO PROJETO
Capital, Manutenção, 46.000 717.760 142.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000
Programação
Pessoal Adicional 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200
Total de Custos 46.000 772.960 197.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200
RECEITA ADICIONAL
RESULTANTE DO
PROJETO
Aumento de Preços 0 155.520 163.296 171.461 180.034 189.036 198.487 200.000 200.000 200.000 200.000 200.000 200.000
Receita gerada por 0 48.878 53.766 59.142 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000
Concessões
Total da Receita Adicional 0 222.912 256.868 294.801 289.949 276.447 262.268 260.000 260.000 260.000 260.000 260.000 260.000
RECEITA LÍQUIDA DO -46.000 -550.048 59.668 174.601 169.749 156.247 142.068 139.800 139.800 139.800 139.800 139.800 139.800
PROJETO (receita
adicional menos custos)
** O número anual de visitantes limita-se a 100.000, de forma que o item Aumento do Número de Visitas desaparece 1998, ano em que se espera que a em visitação atinja 100.000 pessoas mesmo sem o
projeto.
que eles estariam dispostos a pagar ingressos mais altos por uma atração
mais bem preparada para recebê-los.
Uma vez que os custos e as receitas associados ao projeto foram
estimados, os autores utilizaram uma análise financeira para prever se o
projeto seria viável. As técnicas de análise financeira serão apenas
exploradas de forma sucinta neste capítulo; para obter maiores informações,
os leitores interessados no assunto deverão consultar Brealey e Myers
(1988) ou referências similares. Análises financeiras baseiam-se no simples
conceito de que os projetos somente deveriam ser colocados em prática se
fossem lucrativos, ou seja, se os seus benefícios excedessem o valor dos
custos (os benefícios líquidos são positivos). Quando mais de uma
alternativa produz benefícios líquidos positivos, deve-se escolher a
alternativa que gere o maior benefício líquido.
Os benefícios e os custos do projeto geralmente ocorrem ao longo dos
anos. Um dos conceitos centrais em análise econômica é que os custos e
benefícios futuros têm menor valor do que os mesmos custos e benefícios
atuais. A indexação é o processo pelo qual esses custos e benefícios futuros
são reduzidos a um valor atual. Os projetos podem então ser avaliados com
base em sua "taxa interna de retorno" (TIR), "valor presente líquido" (VPL),
ou critério similar. A TIR é determinada pelo cálculo da "taxa de retorno"
(uma taxa de juros), que apenas nivela os custos e os benefícios durante a
vida do projeto (ou seja, o valor atual de todos os benefícios menos o custo
é zero). Quando a TIR é mais alta do que o custo do empréstimo financeiro,
o projeto é lucrativo e viável.
O VPL é o valor líquido de um projeto (benefícios menos custos), em
dólares (ou outra moeda corrente), durante a vida desse projeto, dada uma
determinada taxa de juros. Um VPL positivo é equivalente a uma TIR maior
do que o custo de empréstimos financeiros. Embora o VPL seja um
instrumento mais poderoso para os processos de tomada de decisões do que
a TIR, esta é mais intuitiva. Contudo, os dois critérios baseiam-se na mesma
informação e podem ser calcula-
questões econômicas na gestão do ecoturismo 163
excessiva levou o governo a elevar as taxas para quase 200 dólares por
pessoa para visitas de uma hora, gerando, assim, receitas de,
aproximadamente, 1 milhão de dólares, em 1989 (Vedder e Weber, 1990).
Já que a demanda excessiva ainda ocorria na época em que a guerra civil
fez cessar o turismo na montanha dos gorilas, provavelmente o governo
poderia ter aumentado as taxas ainda mais (embora fosse talvez necessário
reduzi-las, devido ao desenvolvimento do turismo de visitação a gorilas em
Uganda e no Zaire; esse tipo de redução já ocorreu no processo de mudança
do preço em francos ruandeses para dólares).
Mesmo com a visitação limitada, o turismo na montanha dos gorilas
gerou lucros substanciais. As cifras oficiais e as estimativas divulgadas
demonstram que o turismo não só tem custeado o trabalho dos guias, mas
também o dos guardas do parque, e tem gerado lucros para os cofres do
governo central (ver a Tabela 4-2 e a Figura 4-4). Em 1989, por exemplo,
as taxas turísticas geraram uma receita de 1 milhão de dólares, enquanto as
despesas do parque foram inferiores a 200.000 dólares. Dessa forma, as
taxas do ecoturismo vêm financiando não só o próprio ecoturismo, mas
também os programas de conservação e os programas gerais do governo.
ANO 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989
RENDA 7.072 8.954 10.195 12.240 36.513 88.837 114.917 135.281 261.198 298.780 348.276 378.821 512.195 1.000.000
DAS
TAXAS
DESPESAS 16.027 20.716 34.244 44.625 56.633 84.210 95.410 97.405 113.873 187.847 168.791 196.586 197.561 197.561
LUCROS (8.955) (11.762) (24.049) (32.385) (20.120) 4.627 19.507 37.876 147.325 110.933 179.485 182.235 314.634 802.439
(Perda)
fontes de financiamento
BENEFÍCIOS
Benefícios Diretos
Destinar pelo menos parte das receitas de turismo aos parques que as
geraram. A experiência nos EUA e em outras partes do mundo demonstra
que alocar verbas para o parque aumenta a eficiência administrativa na
arrecadação de taxas, bem como a responsabilidade nas despesas.
o custo de cada projeto e em que medida ele atingirá seu objetivo (Os
produtos agrícolas serão realmente aceitos? Os guias serão treinados de
forma adequada?);
o número de empregos que será criado;
a necessidade desses empregos (Os empregos de guias turísticos serão
mais necessários do que os da agricultura?);
a estabilidade dos empregos (Os produtos agrícolas ou de artesanato
poderão ser vendidos se o turismo diminuir?).
questões econômicas na gestão do ecoturismo 189
Você provou algum prato que lhe pareceu ser típico desta região?
Sim Não Se não, por quê?
conclusão
referências bibliográficas
Alderman, C. 1990. "A Study of the Role of Privately Owned Lands Used
for Nature Tourism, Education, and Conservation". Artigo preparado
para a Yale School of Forestry and Conservation International (maio).
192 ecoturismo
David L. Andersen
Este capítulo enfoca o projeto, desenvolvimento e funcionamento de
instalações que incorporam os princípios gerais do planejamento sensível ao
meio ambiente e ao desenvolvimento sustentado. As questões discutidas
irão, em muitos casos, transcender problemas estritamente ligados à
arquitetura e ao desenvolvimento. Isso é um reflexo da complexidade da
experiência do ecoturismo e da necessidade de se envolver a conservação do
meio ambiente e a cultura local. Para este autor, as instalações são "janelas
para o mundo natural" e funcionam como veículos para o aprendizado e a
compreensão. Embora seja apenas um componente do ecoturismo, o projeto
das instalações pode reforçar e aumentar a satisfação do ecoturista e sua
compreensão do local. Proporcionar um alojamento confortável, com baixo
impacto ecológico, é a chave para o sucesso de instalações ecoturísticas,
porém estas deveriam também servir como janelas para o mundo natural e
como meios para conhecer e compreender a natureza.
200 ecoturismo
aspectos organizacionais
Sempre que possível, utilize árvores cuja queda foi natural (como,
por exemplo, árvores derrubadas em decorrência de vendavais ou outros
fenômenos naturais).
O sistema de trilhas deve respeitar os padrões de deslocamento e os
hábitats da vida selvagem.
Leve em consideração o controle da erosão na disposição de cada
construção ou trilha.
Desvie a água para fora das trilhas e estradas antes que ela ganhe
fluxo e velocidade suficientes para criar problemas significativos de erosão.
Praias e margens de rios não devem sofrer desmatamento excessivo.
Nas trilhas, reduza os pontos de travessia de rios e riachos.
Mantenha as áreas de vegetação adjacentes a lagos, lagoas, riachos
perenes e intermitentes como faixas-filtro para reduzir o escoamento de
sedimentos e entulho.
As edificações devem ser espaçadas a fim de permitir o deslo
camento dos animais e o crescimento da floresta.
O uso de automóveis e outros veículos deve limitar-se ao mínimo.
Providencie painéis informativos no início das trilhas, que
estabeleçam claramente as regras de comportamento e orientem o visitante
na apreciação da natureza. Fixe regras adicionais nos quartos dos hóspedes.
Instale placas de identificação junto às árvores e plantas do entorno
imediato aos alojamentos, para que os visitantes se familiarizem com as
espécies que possam encontrar nas áreas preservadas/protegidas, existentes
nas imediações.
Sempre que possível, empregue técnicas de baixo impacto nos locais
das instalações, como passarelas de tábuas no lugar de trilhas, sejam estas
pavimentadas ou não (ver Figura 5-2).
Pastos, currais e cocheiras para cavalos e outros animais de pastejo
devem estar localizados de modo a não poluir os mananciais ou outros
recursos hídricos.
uma janela para o mundo natural 213
conclusão
Se o meio ambiente for visto como uma imensa biblioteca de recursos,
então a instalação ecoturística poderá ser encarada como um inigualável
laboratório para a aquisição do conhecimento que o eco-turista busca. A
instalação ecoturística, quando devidamente projetada, pode tornar-se a
janela que propicia o despertar do homem para o mundo.
A Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento de
1992 (ECO-92), realizada no Rio de Janeiro, despertou a consciência global
de que o mundo está interligado em sua busca pela sobrevivência. A
indústria do turismo, mediante um projeto sensível de instalações
ecoturísticas, pode dar uma contribuição positiva para a conservação e o
intercâmbio entre culturas. Prover o ecoturista com uma experiência
estimulante e acomodações confortáveis, de baixo impacto ecológico, pode
ser uma meta realizável para o operador do ecoturismo. Os beneficiários não
são apenas o ecoturista e o operador da instalação ecoturística, mas também
a população local e o nosso planeta como um todo. A coragem e a
imaginação do empreendedor de instalações ecoturísticas podem tornar-se o
alicerce de uma nova consciência. A próxima geração de instalações para o
ecoturismo abrirá uma nova janela para o nosso mundo natural.
referências bibliográficas*
agradecimentos
Katrina Brandon
Aqueles que o praticam afirmam que o ecoturismo "é uma forma de
ecodesenvolvimento que representa um meio prático e eficaz de promover o
crescimento socioeconômico em todos os países..." (Ceballos-Lascuráin,
1991). Contudo, mesmo os adeptos do ecoturismo concordam que tal
afirmação pertence mais à retórica do que aos fatos. Em muitos casos, o
ecoturismo provocou uma série de problemas em vez de oferecer os
benefícios reais almejados. Alguns dos problemas mais significativos foram
os danos ecológicos e a degradação ambiental, o impacto negativo sobre a
cultura local e a criação de dificuldades econômicas para a população local
(Ceballos-Lascuráin, 1991; Boo, 1991; West e Brechin, 1991).
Embora esses problemas possam ser atribuídos a diversos fatores, há,
na literatura sobre o tema, alguns tópicos recorrentes que explicam por que
o ecoturismo não tem promovido o ecodesenvolvimento. O primeiro refere-
se à ausência de empenho e de comprometimento político dos governos para
"mobilizar os recursos - humanos, financeiros, culturais e morais - que
garantem a integração dos princípios ecológicos com o desenvolvimento
econômico" (Bunting et al., 1991). Outro tópico envolve a questão de que o
turismo é, em geral, promovido por interesses variados de pessoas de fora
da região. Como
228 ecoturismo
distribuindo benefícios
Ao longo do processo de discussão e decisão sobre os benefícios, é
importante considerar quem os receberá e como e por quanto tempo eles
serão distribuídos. "Estruturas de poder, que tenham base na comunidade
indígena, no Estado ou no mercado de turismo internacional, com
freqüência determinam os locais que os turistas visitam, o que eles vêem e
fazem, e quem, dentre os membros da comunidade indígena, recebe os
benefícios econômicos de hospedar e oferecer serviços aos visitantes"
(Johnson, 1990). Um processo efetivamente
242 ecoturismo
ficar e ganhar credibilidade junto aos líderes comunitários, que, por sua vez,
irão ajudar a convocar a população local para participar das assembléias.
Todavia, identificar e trabalhar com os líderes comunitários não é
sempre tão simples como pode parecer. Os planejadores dos projetos
precisam estar cientes de que há muitos tipos de líderes e muitas formas de
poder dentro das comunidades. Os líderes mais evidentes são aqueles que
exercem um papel formal de liderança, como prefeitos, representantes da
igreja, pajés ou professores. É relativamente fácil identificar as pessoas que
exercem um papel formal em uma comunidade. Os líderes formais diferem
dos líderes informais (formadores de opinião), que são aqueles que sabem
tudo sobre a comunidade, e que as pessoas tradicionalmente consultam
quando precisam de algum conselho ou ajuda em questões ou problemas
específicos. Em geral, há muito mais líderes informais que formais. E,
finalmente, há líderes que podem estar ocultos - pessoas poderosas que
controlam o acesso da comunidade a recursos financeiros e a outros tipos de
recursos. Um meio rápido de identificar os líderes comunitários é através de
conversas com membros da comunidade, formalmente, mediante
questionários e entrevistas, ou informalmente, em lugares onde as pessoas
se reúnem, ou em suas casas.
Por que é importante identificar esses diferentes líderes? A resposta é
que, quanto maior o número de líderes envolvidos, melhor é o planejamento
e a execução da maioria dos projetos. Cada líder pode contribuir com seu
próprio know-how e experiência. Por exemplo, alguns líderes são excelentes
para planejar projetos ou dar início às atividades, outros são bons para
conseguir a adesão das pessoas. A razão mais importante para identificar
diferentes líderes é que a participação de cada um deles no processo faz com
que o projeto comece a pertencer à comunidade.
Um outro motivo importante para identificar vários líderes comu-
nitários é que cada um deles representará uma camada ou grupo diferente. A
oposição aos projetos diminui consideravelmente se os
etapas básicas para incentivar a participação local 245
maneira mais ampla, as pessoas das várias comunidades que tendem a ser
afetadas.
A resposta ao que é mais apropriado depende das características
socioeconômicas e culturais particulares e dos recursos de cada área. É
impossível dar respostas definitivas sobre o que funciona melhor, pois as
respostas variam segundo o contexto. Para planejar atividades de turismo de
natureza, os projetos precisam ser abertos e flexíveis durante o processo de
planejamento, e as pessoas do local precisam ser consultadas
permanentemente sobre uma variedade de possibilidades.
conclusão
Por que envolver as pessoas da comunidade em projetos ecoturísticos?
Por inúmeras razões, que refletem objetivos morais, econômicos e
ambientais. Do ponto de vista ambiental e econômico, se as pessoas da
comunidade não participarem, é provável que, ao longo
252 ecoturismo
essencial é assegurar que a voz nativa tenha peso político real no processo
de decisões sobre o desenvolvimento e gestão (Johnson, 1990). Este
capítulo procurou esboçar um conjunto preliminar de passos, visando a
orientar as atividades turísticas para esse objetivo.
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etapas básicas para incentivar a participação local 255
Robert H. Horwich
Dail Murray
Ernesto Saqui
Jonathan Lyon e
Dolores Godfrey
Nos últimos anos, os conservacionistas vêm se preocupando cada vez
mais com o impacto do turismo sobre os países em desenvolvimento.
Apesar da sedução que o turismo exerce, por ser um empreendimento de
baixo custo e alto lucro, o turismo de massa pode ter conseqüências
negativas e de longo alcance para os povos nativos e o meio ambiente. Ele
pode degradar o meio ambiente pela visitação excessiva (de Groot, 1983),
provocar a inflação local (Yamauchi, 1984; Puntenney, 1990) e salientar as
diferenças culturais e econômicas entre os habitantes locais e os viajantes
mais abastados (Britton, 1980; Perez, 1980; Tambiah, 1991; Boo, 1991;
Polit, 1991; Peters, 1991).
O ecoturismo não é apenas o ramo da indústria turística que cresce
mais rapidamente (Ceballos-Lascuráin, 1991); ele também é considerado
tanto um novo e promissor instrumento para preservar áreas naturais frágeis
e ameaçadas quanto um meio de propiciar oportunidades para o
desenvolvimento das comunidades dos países em desenvolvimento. Embora
muitas empresas que se declaram ecoturísticas sejam claramente
instrumentos de marketing para a promoção de viagens, mesmo os
propósitos mais bem intencionados podem não alcançar seus objetivos.
260 ecoturismo
o turismo em Belize
Belize, com sua impressionante combinação de aspectos culturais e
naturais, tornou-se um destino de viagem muito popular. No período
compreendido entre 1980 e 1990, as chegadas de turistas aumentaram cerca
de 55% (Boo, 1990b). Em 1984, como resposta a esse afluxo e às potenciais
receitas em dólares vindos dos turistas, o governo de Belize designou o
turismo como a segunda prioridade para o crescimento estratégico. A
Declaração de Integração da Estratégia e Política de Turismo, de 1988,
estabeleceu vários objetivos importantes, incluindo a criação de um
ambiente propício para o investimento do desenvolvimento (Boo, 1990b).
Grande parte do turismo inicial dirigiu-se para Cayes, mas com a recente
ênfase no ecoturismo, uma boa porcentagem de turistas dirige-se atualmente
ao interior do país. Contudo, pouco dinheiro é gasto nos povoados rurais.
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 261
* Uma tradução mais exata seria Santuário Comunitário dos Bugios, uma
vez que o gênero Alouatta, em português, é designado por bugio. (Nota
do Tradutor.)
262 ecoturismo
conservação
educação
pesquisa
do produto dessa operação pela estimativa do que foi gasto com transporte,
refeição e acomodação, resultando numa estimativa semelhante de 20.169
dólares, gastos em 1990. A maior parte desse montante fica com seis a dez
famílias, entre aproximadamente vinte famílias existentes no povoado.
Contudo, é provável que grande parte desse dinheiro fique na comunidade,
por meio das compras locais e da contratação de mão-de-obra local, mas
esses cálculos são mais difíceis de estimar.
Os resultados positivos do projeto do santuário são promissores,
embora parte de suas contribuições sejam intangíveis. A maioria das pessoas
na região julga que o projeto tem sido benéfico e quer sua continuidade. A
cobertura feita pela televisão, rádio e imprensa tem promovido o orgulho
nacional e regional. A cada ano, um número maior de visitantes chega à
região, remunerando as famílias locais por serviços de pousada, de guias e
por outros subprodutos originados pelo turismo. A proliferação dos bugios
demonstra que a cooperação local na conservação está funcionando, fato
que oferece estímulo para projetos futuros baseados em terras de
propriedade privada e em modelos de subsistência local. Nem todas as
reservas precisam estar encravadas em lotes virgens de mata selvagem para
serem bem sucedidas.
O Santuário Comunitário dos Babuínos também possui, pelo menos,
um resultado imprevisto, que irá posteriormente estimular o turismo. A
abertura do museu, com sua exposição sobre a cultura e a história crioula
local, marcou o início de um festival anual que faz com que a atenção da
comunidade se volte às suas tradições culturais. À medida que o santuário
desenvolveu-se e um número cada vez maior de visitantes começou a
chegar, a consciência étnica também aumentou entre os aldeões crioulos
locais. Um renascimento do canto folclórico, relato de histórias e artesanato
feito de arbustos ocorreu paralelamente aos usos tradicionais de florestas
tropicais. Esses usos da floresta incluem a extração de látex de borracha do
sapotizeiro para a fabricação de goma de mascar, o trabalho de entalhe em
pratos de
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 275
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284 ecoturismo
editores
colaboradores
Tailândia, 189
Uganda, 165
Zaire, 165
Zâmbia, 164, 181
Zimbábue, 180
locais