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Orelhas:

Nos últimos anos, o número de turistas que visitam áreas naturais tem
aumentado de forma surpreendente. Entretanto, essa tendência não tem sido
acompanhada pelo planejamento e administração adequados aos locais
visitados, principalmente em áreas ecológica e culturalmente frágeis.
Publicada originalmente pela The Ecotourism Society, esta obra apresenta
uma série de abordagens atuais sobre planejamento e gestão, com o objetivo
de fornecer uma visão mais abrangente possível do ecoturismo. Assim, os
autores apresentam técnicas específicas para tratar de questões
importantes:
• planejamento para o ecoturismo;
• elaboração de recomendações;
• maximização de benefícios econômicos;
• administração de visitantes;
• projetos de instalações de baixo impacto;
• aumento da participação da comunidade;
• garantia de benefícios para a comunidade e tantas outras. Os capítulos
apresentam estudos de caso e inúmeros exemplos que ilustram o atual
estágio de desenvolvimento do planejamento e gestão do ecoturismo,
oferecendo aos leitores os elementos básicos para a elaboração de projetos
ecoturísticos bem-su-cedidos, e exploram sua aplicação no contexto de
exemplos práticos extraídos de experiências em diversos países de todo o
mundo.

4° capa:
Com a iniciativa de traduzir Ecoturismo: um guia para planejamento e
gestão, editado pela The Ecotourism Society, a Editora SENAC São Paulo
procura oferecer a estudantes e profissionais da área um guia prático para a
implementação dos princípios do ecoturismo.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara
Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ecoturismo : um guia para planejamento e gestão / Kreg Lindberg, Donald


E. Hawkins (editores) ; prefácio de David Western ; tradução de Leila
Cristina de M. Darin ; revisão técnica de Oliver Hillel; 3a ed. - São Paulo :
Editora SENAC São Paulo, 2001.

Título original: Ecoturism : a guide for planners and managers.

Bibliografia.

ISBN 85-85578-58-0

1. Ecologia 2. Turismo 3. Turismo-Administração I. Lindberg, Kreg II.


Hawkins, Donald E. III. Western, David.

95-3364 __________________ CDD-338.4791068

Índices para catálogo sistemático:


1. Ecoturismo : Planejamento e gestão 338.4791068
ECOTURISMO

UM GUIA PARA PLANEJAMENTO E


GESTÃO
The Ecotourism Society
unindo conservação e viagem no mundo inteiro

The Ecotourism Society é uma organização internacional sem fins


lucrativos, inteiramente dedicada à localização de recursos e à construção do
conhecimento especializado necessário para fazer do turismo um meio
viável para a conservação e o desenvolvimento sustentável. A organização
presta serviços para operadores turísticos, profissionais ligados à
conservação, administradores de parques, autoridades governamentais,
proprietários de alojamentos, guias, pesquisadores, consultores e outros
profissionais que, no mundo todo, visam a implementar projetos
ecoturísticos. A Sociedade está documentando as melhores técnicas para
implementar princípios ecoturísticos através da colaboração de uma
crescente rede global de profissionais atuando ativamente na área.
A organização estabeleceu os seguintes objetivos gerais a longo prazo:

Criar programas de educação e treinamento.


Oferecer serviços de informação.
Estabelecer padrões e critérios para a profissão.
Formar uma rede internacional de instituições e profissionais.
Pesquisar e desenvolver modelos avançados na área do ecoturismo.

Para maiores informações sobre os projetos da The Ecotourism Society e


para afiliação contatar:

THE ECOTOURISM SOCIETY


P.O. Box 755
North Bennington, VT 05257
Tel 001 (802) 447-2121 / Fax 001 (802) 447-2122

© 1993. The Ecotourism Society.


Primeira Edição
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reprodu-
zida através de quaisquer meios, sem permissão por escrito do editor: The
Ecotourism Society, P.O. Box 755, North Bennington, VT 05257.

©1995 SENAC-SP
Direitos para a Língua Portuguesa reservados para o SENAC - Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial - Administração Regional no Estado
de São Paulo.
ECOTURISMO
UM GUIA PARA PLANEJAMENTO E GESTÃO
3a edição
Editores
Kreg Lindberg
(Pesquisador Associado, The Ecoturism Society)

Donald E. Hawkins
(Diretor do Instituto Internacional de Estudos sobre Turismo,
Universidade George Washington)

Prefácio de David Western


Tradução de Leila Cristina de M. Darin
Revisão técnica de Oliver Hillel
ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO SENAC NO ESTADO DE SÃO
PAULO
Presidente do Conselho Regional: Abram Szajman
Diretor do Departamento Regional: Luiz Francisco de Assis Salgado
Superintendente de Operações: Darcio Sayad Maia
Área de Referenda: Centro de Educação em Turismo e Hotelaria/SENAC-
SP

EDITORA SENAC SÃO PAULO


Conselho Editorial: Luiz Francisco de Assis
Salgado Clairton Martins Luiz
Carlos Dourado Darcio Sayad
Maia A. P. Quartim de Moraes
Editor. A. P. Quartim de Moraes (quartim@sp.senac.br)
Coordenação de Prospecção Editorial: Isabel M. M. Alexandre
(ialexand@sp.senac.br)
Coordenação de Produção Editorial: Antonio Roberto Bertelli
(abertell@sp.senac.br)
Capa: Sidney Itto
Projeto Gráfico: Marina M. Watanabe
Gerência Comercial: Marcus Vinícius B. Alves
(vinicius@sp.senac.br) Vendas: José Carlos de Souza Jr.
(jjr@sp.senac.br) Administração: Rubens Gonçalves Folha
(rfolha@sp.senac.br)

ESTA OBRA FOI COMPOSTA PELA LATO SENSO - BUREAU DE


EDITORAÇÃO EM TIMES NEW ROMAN E IMPRESSA PELA
BARTIRA GRÁFICA E EDITORA EM OFFSET SOBRE PAPEL
OFFSET 90G/M2 DA COMPANHIA SUZANO EM MARÇO DE 2001.

Todos os direitos desta edição reservados à


Editora SENAC São Paulo
Rua Rui Barbosa, 377 - le andar - Bela Vista - CEP 01326-010
Caixa Postal 3595 - CEP 01060-970 - São Paulo - SP
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E-mail: eds@sp.senac.br
Home page: http://www.sp.senac.br
sumario
Prólogo .................................................................................... 9

Prefácio: Definindo Ecoturismo


David Western ........................................................ 13

Introdução: O Ecoturismo como um Fenômeno Mundial


Héctor Ceballos-Lascuráin .................................. 23

1. O Planejamento Ecoturístico para Áreas Protegidas


Elizabeth Boo .......................................................................... 31

2. Desenvolvendo e Implementando Diretrizes Ecoturísticas para


Áreas Naturais e Comunidades Vizinhas
Sylvie Blangy e Megan Epler Wood ................................. 59

3. A Administração do Visitante: Lições do Parque Nacional de


Galápagos
George N. Wallace.............................................................. 95
8 ecoturismo

4. Questões Econômicas na Gestão do Ecoturismo


Kreg Lindberg e Richard M. Huber Jr ............................. 143

5. Uma Janela para o Mundo Natural: O Projeto de Instalações


Ecoturísticas
David L. Andersen ............................................................ 197

6. Etapas Básicas para Incentivar a Participação Local


em Projetos de Turismo de Natureza
Katrina Brandon............................................................... 225

7. O Ecoturismo e o Desenvolvimento da Comunidade:


A Experiência de Belize
Robert H. Horwich, Dail Murray, Ernesto Saqui,
Jonathan Lyon e Dolores Godfrey.................................... 257

Editores e Colaboradores ...................................................... 285

Índice Analítico de Países e Locais....................................... 291


prólogo

Nos últimos anos, o número de turistas que visitam áreas naturais


tem aumentado de forma surpreendente. Infelizmente, essa tendência
não tem sido acompanhada pelo planejamento e administração ade-
quados dos locais visitados, principalmente em áreas ecológica e
culturalmente frágeis. Apesar das conferências e das inúmeras publi-
cações dedicadas ao ecoturismo, poucas têm abordado os aspectos
metodológicos do planejamento e gestão.
The Ecotourism Society (Sociedade de Ecoturismo) está publi-
cando Ecoturismo: Um Guia para Planejamento e Gestão para suprir
essa falha. Esta obra apresenta uma série de abordagens atuais sobre
planejamento e gestão, com o objetivo de fornecer uma visão o mais
abrangente possível do ecoturismo. Nossa intenção, porém, não é
oferecer um guia completo, definitivo, sobre o seu desenvolvimento.
Na verdade, esperamos que esta seja simplesmente a primeira de uma
série de publicações sobre o tema. Estamos cientes de que o ecoturismo
é uma área interdisciplinar ampla, que envolve muito mais do que os
tópicos tratados aqui. Além disso, é um campo ainda em desenvol-
vimento, e a expectativa é de um aprimoramento cada vez maior dos
aspectos metodológicos.
10 ecoturismo

Selecionamos um grupo de autores que são especialistas nessa área.


Contudo, as visões e opiniões expressas pelos autores não são
necessariamente as da The Ecotourism Society. Gostaríamos de ressaltar,
ainda, que os estudos de casos não devem ser interpretados como definições
do que é ou não é o ecoturismo, mas sim como ilustrações de aspectos
específicos de gestão.
Gostaríamos de agradecer a todos aqueles que contribuíram para que
esta publicação fosse possível. The Liz Clairbone, Art Ortenberg
Foundation generosamente forneceu o financiamento básico para o projeto.
Um agradecimento especial deve também ser dispensado aos autores e
revisores. Dentre estes últimos destacam-se:

Ray Ashton Rebeca Johnson


Water and Air Research, Inc. Oregon State University

Robert Aukerman Kurt Kutay


Colorado State University Wildland Adventures
Miguel Cifuentes Jan Laarman
World Wildlife Fund North Carolina State University
Thomas Cobb Boris Gomez Luna
New York State Department of Manu Nature Tours
Recreation and Historic
Preservation
John Dixon Craig MacFarland
The World Bank Charles Darwin Foundation for
the Galápagos Isles
Marco Vinicio Garcia Alan Moore
University of Tennessee
Robert Healy Paula Palmer
Duke University
Len Ishmael Art Pedersen
Development Planning Services David Richards
prólogo 11

Jorge Roldán Geoffrey Wall


Inter-American Investment University of Waterloo
Corporation
George Wallace
Colorado State University
George Stankey Michael Wells
Oregon State University
prefácio

definindo ecoturismo

David Western
O ecoturismo explodiu no mundo das viagens e da conservação como
um tsunami, um verdadeiro maremoto; porém, suas origens são
definitivamente mais evolutivas que revolucionárias. As raízes do
ecoturismo encontram-se na natureza e no turismo ao ar livre. Os visitantes
que, há um século, chegaram em massa aos parques nacionais de
Yellowstone e Yosemite foram os primeiros ecoturistas. Os viajantes
pioneiros que se embrenharam por Serengeti há 50 anos, e os aventureiros
caminhantes do Himalaia que acamparam no Anapur-na 25 anos mais tarde
eram tão ecoturistas quanto os milhares que hoje fotografam os pingüins da
Antártida, acompanham a migração em grupo de Belize, ou dormem nas
habitações comunitárias dos nativos de Bornéu.
O século XX assistiu a uma mudança drástica e incessante nas viagens
a áreas naturais. A África é um bom exemplo. O safári de caça de 1909 de
Theodore Roosevelt para capturar as maiores cabeças e chifres que ele
pudesse encontrar, é um exemplo clássico de sua época. Por volta da metade
deste século, safáris fotográficos eram definitivamente mais populares do
que as caçadas, embora também baseados nos "Big Five" (os cinco grandes
mamíferos mais populares entre os caçadores: o leão, a zebra, o elefante, o
kudu e o rinoceronte). Por
16 ecoturismo

volta dos anos setenta, o turismo de massa e individual, ainda interessado


nos mamíferos grandes, estava depredando hábitats, molestando animais e
destruindo a natureza. Hoje, esse comportamento está mudando. Mais
visitantes estão conscientes do dano ecológico que podem provocar, do
valor da vida natural e dos interesses das populações locais. Excursões
especializadas - safáris de aves, competições esportivas em regiões naturais,
caminhadas pela natureza e outros -são cada vez mais comuns. Esse grupo
crescente, mas pequeno, constitui o que chamamos de ecoturismo. E,
surpreendentemente, o ecoturismo está tornando toda a indústria de viagens
mais sensível ao meio ambiente.
Mas ecoturismo é mais do que uma pequena elite de amantes da
natureza. É, na verdade, um amálgama de interesses que emergem de
preocupações de ordem ambiental, econômica e social. Vejamos a
conservação, por exemplo. Foram-se os dias felizes nos quais o diretor geral
do Parque Nacional de Yosemite mostrava satisfação ao constatar o número
anual de visitantes. Nos últimos anos, os riscos de um fluxo elevado de
visitantes às áreas naturais tornaram-se uma grande preocupação, e os
conservacionistas têm trabalhado muito com o objetivo de aliar o turismo à
preservação da natureza.
O turismo é hoje uma das maiores atividades econômicas do mundo -
uma forma de pagar pela conservação da natureza e de valorizar as áreas
que ainda permanecem naturais*. De que forma os dólares dos turistas
podem reverter para a conservação e torná-la auto-sustentável, ou como o
valor não-monetário que as pessoas atribuem às regiões naturais pode ser
quantificado, é uma questão central de um novo ramo da economia verde: o
desenvolvimento sustentável.
E, por fim, a responsabilidade social. Conservacionistas, economistas e
turistas, todos compreendem que não se pode preservar a natureza à custa da
população local. Como responsáveis pela terra — como aqueles que mais
podem perder com a conservação -, os

* Ver dados sobre a indústria turística na "Introdução". (Nota do Revisor


Técnico.)
prefácio 17

moradores das comunidades locais devem participar do processo. Uma


política justa e sensata e uma economia equilibrada devem ter como meta
fazer dos moradores locais sócios e beneficiários da conservação, e não seus
inimigos implacáveis.
Ecoturismo, em outras palavras, envolve tanto um sério compromisso
com a natureza como responsabilidade social. Essa responsabilidade deve
ser assumida também pelo viajante. A expressão viagem responsável, outra
designação para ecoturismo, envolve objetivos semelhantes. The
Ecotourism Society oferece uma definição um pouco mais completa:
"Ecoturismo é a viagem responsável a áreas naturais, visando preservar o
meio ambiente e promover o bem-estar da população local"*.
O interesse crescente pelo ecoturismo entre os governos dos países em
desenvolvimento, os operadores comerciais, as organizações assistenciais e
os conservacionistas dá a dimensão de seu enorme potencial econômico e
conservacional. Os ecoturistas gastam bilhões de dólares todos os anos. Mas
a importância do ecoturismo vai muito além desses números. Os ecoturistas
gostam de utilizar os recursos e a mão-de-obra local. Isso se traduz em
entrada de divisas do exterior, projetos adequados ao meio ambiente e
engajamento dos moradores da região na indústria de viagens.
A ênfase do ecoturismo nos recursos locais e no emprego de mão-de-
obra da região torna-o uma opção atraente para os países em
desenvolvimento. Países ricos em áreas naturais, mas em situação
desfavorável dada a pobreza rural e a ausência de receitas de exportação,
são bons exemplos. O Quênia lucra cerca de 500 milhões por

* Em agosto de 1994, no Brasil, o Grupo de Trabalho Interministerial em


Ecoturismo, que reuniu o Ministério da Indústria, Comércio e Turismo e
o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, além da Embratur,
Ibama, empresários e consultores, chegou à seguinte conceituação:
"Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma
sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e
busca a formação de uma consciência ambientalista através da
interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações
envolvidas" {Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo,
MICT/MMA, março de 1995 ). (N. do R.T.)
18 ecoturismo

ano com o turismo*. Os lucros diretos e os indiretos são responsáveis por


cerca de 10% do produto nacional bruto do Quênia. A renda proveniente do
turismo, gerada a partir da extensa rede de áreas protegidas da África
Oriental, representa a maior fonte de rendimentos da região. A Costa Rica
gerou 336 milhões de renda com o turismo, em 1991, e registrou um
aumento de 25% em relação aos três anos anteriores. O turismo de natureza
é a força motriz das economias de muitas ilhas tropicais do Caribe, Pacífico
e Índico. O ecoturismo deu a Ruanda e Belize um lugar de destaque no
mapa.
Ecoturismo é provocar e satisfazer o desejo que temos de estar em
contato com a natureza, é explorar o potencial turístico visando à
conservação e ao desenvolvimento, é evitar o impacto negativo sobre a
ecologia, a cultura e a estética.
Proteger a natureza através de sua venda não é nenhuma novidade; mas
também não é novidade que há riscos envolvidos em tal empreendimento. O
Parque Nacional de Yellowstone foi transformado em produto e salvo,
graças à construção de hotéis e um acesso à ferrovia local e graças à
divulgação de sua existência para um país urbanizado, carente de áreas
naturais. Mas não demorou muito para que milhares de visitantes, com seu
amor descontrolado, ameaçassem acabar com Yellowstone. O urso cinzento
- que, alimentado e domesticado, agia de forma perigosa, atacando os
turistas que o alimentavam - foi uma das muitas vítimas. Encontrar o
equilíbrio certo entre conservação e turismo é o principal desafio dos
planejadores de parques nos Estados Unidos, desde a década de 40.
Se os pontos positivos e negativos do turismo não são novidade, os
números ligados a ele certamente estão criando situações inusitadas. Todo
ano, quatrocentos milhões de turistas em trânsito criam uma avalanche de
problemas e desafios que seriam inimagináveis há 50 anos, como uns
poucos exemplos podem ilustrar.

* A menos que sejam explicitadas de outra forma, todas as referências


monetárias deste livro estão em dólares americanos. (Nota do Editor.)
prefácio 19

Ecologia. Quantos visitantes uma área pode comportar? A vulnerabilidade


das espécies e dos hábitats, os problemas de poluição, de descarga de lixo e
de perturbação de processos ecológicos fundamentais, provocados pelo
turismo, são muito pouco compreendidos. Quantos visitantes um guepardo
pode tolerar? Que mudanças em um hábitat podem ser consideradas
aceitáveis, se pensarmos nos alpinistas que cortam os arbustos do Himalaia
à procura de madeira para combustível? O impacto de uma indústria do
turismo em franca expansão está muito além de nossa capacidade de avaliar
danos e prejuízos.
Estética. O impacto pode ser avaliado tanto em termos do que os visitantes
toleram quanto dos danos ecológicos provocados. Um turista feliz em pagar
alguns dólares para observar um alce em Yellowstone, cercado por alguns
espectadores curiosos, irá recusar-se a gastar 3.000 dólares para participar
da disputa entre os vinte ônibus que procuram aproximar-se de um leão em
Serengeti. Valores e crenças tornam o quadro mais complexo. Os níveis
aceitáveis de uso são muito mais baixos em Serengeti do que em
Yellowstone, porque o visitante está pagando um alto preço para "sentir-se
próximo à vida selvagem".
Multidões destroem o apelo estético, e a disposição do visitante em
pagar diminui. O ecoturismo reflete um conjunto cada vez mais sofisticado
de expectativas. Se a Costa Rica não pode oferecer a sensação de
proximidade com a vida selvagem, o interesse passará então a Belize, à
Guiana ou a algum lugar ainda por descobrir. Por seu próprio caráter, o
ecoturismo suscita expectativas e provoca o risco do turismo predatório: um
número grande de amantes da natureza é atraído a um lugar recentemente
descoberto, para depois de um tempo abandoná-lo, já deteriorado.
Economia. Já não é mais suficiente medir os benefícios do turismo em
termos de renda bruta ou líquida. Tratar um parque como uma ilha
econômica é inaceitável em países pobres. Que medidas adotar em relação
ao câmbio estrangeiro ou à taxa de serviço? O custo compensa a drenagem
na economia? E os custos extras e os custos de oportuni-
20 ecoturismo

dade do turista? E a dependência e a vulnerabilidade econômicas que o


turismo pode trazer? Poucos países estão dispostos a correr o risco de
depender indevidamente de uma indústria vulnerável à Guerra do Golfo ou
a uma avalanche de seqüestros. A economia do turismo de natureza não é
mais uma questão de balancete de uma só coluna.
Aspecto social. A cultura já foi um elemento esquecido na conservação.
Hoje não é mais assim. Em um mundo cada vez mais consciente de direitos
e responsabilidades, destinar terras para parques pode implicar riscos e
injustiças. A desapropriação dos moradores locais tornou-se uma questão
central da conservação. Conservação e turismo que neguem os direitos e
interesses das comunidades locais estão fadados ao fracasso, quando não
considerados totalmente ilegais. As questões são complexas e profundas. O
turismo pode destruir culturas antigas e arruinar economias indígenas.
Bastam algumas pessoas despreparadas para desvirtuar o turismo.
As grandes oportunidades e os temíveis riscos do turismo de natureza
constituem o cerne da missão ecoturística. Será que o ecoturismo pode
realmente contribuir para a conservação e o desenvolvimento numa escala
global? O turismo pode trazer benefícios reais às comunidades locais,
utilizar a mão-de-obra e as habilidades da população local, criar mercados
locais estáveis e promover melhorias na saúde e na educação? As respostas
dependem de como definimos a missão do ecoturismo e da dimensão com
que lidamos com a questão. Eis aqui o dilema. Para muitos puristas, o
verdadeiro ecoturismo é o turismo de baixo volume que prioriza questões de
ordem ambiental.
Essa definição restrita faz algum sentido. Afinal, o termo ecoturismo
foi criado exatamente para definir esse tipo exclusivo de turismo de
natureza. Mas qual seria a importância do ecoturismo se nos ativéssemos a
uma definição rígida e restrita? Quantas florestas uns poucos criadores de
aves bem-intencionados podem proteger contra pequenos proprietários,
lenhadores ou moradores da região? Quantos recifes de coral um punhado
de mergulhadores pode proteger da pesca abusiva?
prefácio 21

Para responder a essa questão, é preciso levar em consideração o


potencial cada vez maior do turismo convencional ligado à natureza.
Tomemos como exemplo o Parque Nacional Amboseli, na região sul do
Quênia. Nessa região, a renda gerada por mais de 250 mil visitantes é dez
vezes maior do que a renda produzida pelo povo Masai com a criação de
gado. A renda proveniente do turismo, sempre que garanta a melhoria de
vida dos povos de Masai e do Quênia, é um bom motivo para conservar a
vida selvagem de todo o ecossistema.
Onde podemos traçar a linha divisória entre turismo de alto e baixo
volume e turismo de alto e baixo impacto? De certa forma, a tendência atual
é usar o conceito de ecoturismo para designar qualquer grupo remotamente
ligado a viagem natural ou cultural. Por mais que desejemos uma definição
restrita de ecoturismo, na realidade, os princípios adotados por um turismo
de massa podem trazer mais benefícios para a conservação - e reduzir danos
- do que um pequeno mercado elitista.
Visto desse ângulo, o ecoturismo está deixando de definir-se como
turismo de natureza de pequena escala para estabelecer-se como um
conjunto de princípios aplicáveis a qualquer tipo de turismo que se relacione
com a natureza. Creio que tal evolução será benéfica para a conservação.
Evidentemente, o que importa não é a escala ou o objetivo, mas o impacto.
Um vírus acidentalmente transmitido por um único amante da natureza bem-
intencionado pode ameaçar o gorila da montanha. Umas poucas sementes,
transportadas na lama das botas de um caminhante, podem introduzir uma
erva daninha intrusa em um frágil ecossistema montanhoso. Por outro lado,
milhares de visitantes indiferentes ao meio ambiente, reunidos no pavilhão
aquático das Fontes de Tsavo's Mziraa, têm provocado pouco dano visível e
contribuído muito para preservar o local.
Se acreditamos que ecoturismo diz respeito à harmonia entre turismo,
conservação e cultura, seu papel é ilimitado. No entanto, o ecoturismo corre
o risco de se descaracterizar se adotarmos um conceito amplo demais, que
abranja todo tipo de turismo ligado à natureza.
22 ecoturismo

Uma forma de contornar o dilema é começar pelas pequenas coisas, mas


com grandes objetivos - focalizar o mercado especificamente voltado para a
natureza, tendo em mente as questões mais cruciais. As percepções e
experiências adquiridas podem então ser ampliadas e aplicadas ao turismo
de modo geral.
Ecoturismo: Um Guia para Planejamento e Gestão representa um
importante começo. Nele apresentamos os maiores desafios e uma série de
sugestões de como lidar com eles. Assim, indicamos meios para examinar a
demanda, o uso e o impacto, a distribuição de renda, o inventário dos
recursos, a elaboração de programas, o planejamento, a gestão, o
treinamento e a participação da comunidade local.
Não se pode esperar que o ecoturismo enfrente esses desafios, se ele
não for encarado como uma disciplina profissional que abrange os inúmeros
interesses e habilidades relacionados ao turismo cultural e de natureza. Tal é
o propósito que nutre The Ecotourism Society e sua mais recente
publicação.
Introdução

o ecoturismo como um fenômeno mundial

Héctor Ceballos-Lascuráin
Há apenas alguns anos, a palavra ecoturismo não existia e muito menos
os princípios que hoje ela representa. É verdade que viajantes naturalistas
existem há muito tempo, como Humboldt, Darwin, Bates e Wallace. Mas
suas experiências foram poucas e esporádicas, tão isoladas que não
produziram benefícios socioeconômicos significativos para os lugares
visitados, nem as atividades desenvolvidas pareciam ter a intenção de ser
um meio para a conservação de áreas naturais, de culturas nativas ou de
espécies em perigo de extinção.
Foi somente com o advento da viagem aérea a jato, com a enorme
popularidade dos documentários televisivos sobre a natureza e sobre
viagens, e com o interesse crescente em questões ligadas à conservação e ao
meio ambiente, que o ecoturismo passou a ser verdadeiramente um
fenômeno característico do final do século XX e, tudo leva a crer, do século
XXI.
O turismo, de modo geral, já é a indústria civil mais importante do
mundo. De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (World
Travei and Tourism Council-WTTC), o turismo é hoje a maior indústria do
planeta, e, para 1993, a expectativa era de que gerasse, em nível mundial,
mais de 3,5 trilhões, o equivalente a 6% do produto nacional bruto mundial.
A indústria do turismo é maior do que a do
26 ecoturismo

automóvel, do aço, da eletrônica ou da agricultura. A indústria de viagens e


turismo emprega 127 milhões de trabalhadores (um em cada 15
trabalhadores em todo o mundo). Ao todo, a expectativa é de que a indústria
do turismo duplique até o ano 2005 (WTTC, 1992).
Nessa perspectiva, dados da Organização Mundial de Turismo (World
Tourism Organization - WTO) indicam que o turismo internacional cresceu
mais de 57% na década passada, sendo que, para esta década, espera-se um
aumento de 50%. Embora a taxa de crescimento esteja diminuindo, está
previsto um crescimento anual médio de 3,7% para a década de 90; calcula-
se que o número de 450 milhões de viajantes internacionais de 1991 se
eleve para 650 milhões até o ano 2000. Em 1989, o turismo de natureza
gerou aproximadamente 7% de todos os gastos com viagens internacionais,
segundo estimativas da Organização Mundial de Turismo (WTO, 1992).
As áreas naturais, em particular as áreas protegidas legalmente, sua
paisagem, fauna e flora - juntamente com os elementos culturais existentes -
constituem grandes atrações, tanto para os habitantes dos países aos quais as
áreas pertencem como para turistas de todo o mundo. Por esse motivo, as
organizações para a conservação reconhecem a enorme relevância do
turismo e estão cientes dos inúmeros danos que um turismo mal-
administrado ou sem controle pode provocar no patrimônio natural e
cultural do planeta.
O ecoturismo, como componente essencial de um desenvolvimento
sustentável, requer uma abordagem multidisciplinar, um planejamento
cuidadoso (tanto físico como gerencial) e diretrizes e regulamentos rígidos,
que garantam um funcionamento estável. Somente através de um sistema
intersetorial, o ecoturismo poderá, de fato, alcançar seus objetivos. Os
governos, as empresas privadas, as comunidades locais e as organizações
não-governamentais, todas têm um importante papel a desempenhar.
Acredito firmemente que cada país deve criar planos nacionais de turismo,
como parte de uma estratégia integral de planejamento, que incluam
preocupações de ordem ambiental e diretrizes ecoturísticas. Conselhos
nacionais de
introdução 27

ecoturismo (com representantes dos diversos setores envolvidos no


processo) foram criados recentemente em vários países, com resultados
promissores. Já que os limites geográficos constituem, cada vez menos,
barreiras à comunicação (devido à modernização dos meios de transporte e
dos serviços, e aos acordos comerciais e econômicos), as estratégias
ecoturísticas podem também ser traçadas a partir de um enfoque regional.
Diferentes países podem reunir esforços para oferecer pacotes integrados
que sejam atraentes no crescente mercado mundial dos serviços
ecoturísticos.
Problemas crônicos, como a falta de orçamento e a falta de mão-de-
obra especializada de muitas áreas protegidas, especialmente em países em
desenvolvimento, poderiam finalmente começar a ser resolvidos, se fossem
criados mecanismos adequados para fazer jorrar os dólares do turismo
dentro dos sistemas de parques nacionais. Além disso, a pobreza alarmante
de muitas áreas rurais do mundo poderia talvez diminuir, caso fossem
elaboradas as fórmulas certas para envolver as comunidades locais no
processo ecoturístico.
É importante enfatizar que o ecoturismo não deveria ser restrito às
áreas protegidas legalmente, uma vez que estas poderiam acabar sofrendo
muita pressão. Promover o ecoturismo em áreas naturais que não têm
nenhuma proteção oficial pode estimular as comunidades locais a
conservarem os recursos e as áreas naturais próximas por iniciativa própria,
e não devido a pressões externas*.
O ecoturismo é um fenômeno complexo e multidisciplinar. Muitos
aspectos devem ser levados em conta a fim de que ele seja um
empreendimento bem-sucedido para todos os envolvidos: consumidores,
administradores, povos nativos e fornecedores. Inventários sistemáticos e
detalhados das atrações ecoturísticas (tanto naturais como culturais) de um
país, uma região ou um local devem ser elaborados,

* Vale lembrar a criação, em 1993, do mecanismo das Reservas Particulares


de Proteção à Natureza (RPPN), pelo Ministério do Meio Ambiente e da
Amazônia Legal, e Ibama, segundo o qual proprietários podem oferecer à
conservação seus terrenos, recebendo, em troca, incentivos fiscais e
tratamento prioritário em projetos de desenvolvimento sustentável. (N. do
R.T.)
28 ecoturismo

tendo-se sempre em mente que esses inventários são diferentes daqueles


cuja natureza é científica, e que eles devem refletir o quão atraentes são as
características listadas (e não constituir uma mera descrição clínica e
imparcial de seu significado biológico ou arqueológico).
O treinamento é um componente vital. Cursos e seminários dirigidos a
diferentes públicos (operadores turísticos, guias de campo, donos de hotéis,
administradores de parques, grupos da comunidade local, funcionários do
governo) são extremamente necessários. Programas de treinamento devem
ter uma natureza prática, aliando as atividades de sala de aula ao trabalho de
campo.
Instalações físicas adequadas nas áreas naturais e em suas pro-
ximidades são fundamentais para o desenvolvimento eficaz do ecoturismo.
Planejamento, projeto e critérios de construção adequados devem ser
aplicados, a fim de minimizar o impacto sobre o meio ambiente, fornecer
um certo grau de auto-suficiência funcional e contribuir para a melhoria da
qualidade da experiência do visitante. Infelizmente, não há centros de
interpretação* na maior parte das áreas protegidas dos países em
desenvolvimento. É preciso um cuidado especial para que as instalações
sejam acolhedoras, pedagogica-mente apropriadas, e fáceis de operar e
manter, sempre de acordo com a realidade socioeconômica de cada caso.
Uma vez que muitas áreas protegidas situam-se em lugares de difícil acesso
e distantes dos serviços tradicionais, é prudente empregar o que se conhece
informalmente como "ecotécnicas", tais como energia solar (para
aquecimento da água e/ou fornecimento de eletricidade), captação e
reutilização da água da chuva, reciclagem do lixo, ventilação natural, e o
uso de técnicas e materiais de construção nativas. Os prédios, as estradas, as
trilhas, a sinalização, as torres e os locais de observação devem ser

* Centros de Interpretação da Natureza ou Centros de Visitantes são espaços


destinados a apresentar as características de uma Unidade de
Conservação ou de áreas naturais para o público em geral. Através de
museus, salas de projeção, visitas guiadas, painéis ou folhetos
explicativos, o visitante pode ser informado sobre aspectos biológicos,
geológicos, históricos ou socioeconômicos da região. (N. do R.T.)
introdução 29

todos projetados de maneira a não interferir abruptamente no meio


ambiente, e tornar mais rica a experiência do visitante.
Desde 1990, muitas conferências e simpósios têm sido organizados
tendo como tema o ecoturismo. Hoje, a maior parte dos governos se
interessa pelo assunto. Em muitas partes do mundo, investidores privados
estão também voltando sua atenção para o fenômeno. É hora de agir com
praticidade, criando projetos realistas e concretos que possam comprovar os
benefícios reais e potenciais que tanto têm sido proclamados. Este livro
oferece uma excelente introdução a uma nova era de implementação
ecoturística.

referências bibliográficas
World Tourism Organization. 1991. Yearbook of Tourism Statistics. Madrid,
Spain.
World Travei and Tourism Council. 1992. The WTTC Report: Travei and
Tourism in the World Economy. Brussels, Belgium.
1

o planejamento ecoturístico para áreas protegidas

Elizabeth Boo
O ecoturismo é hoje alvo da atenção de um grande número de pessoas.
Administradores de áreas protegidas estão procurando levar um número
cada vez maior de visitantes a parques e reservas. Comunidades próximas às
áreas protegidas estão usufruindo de novas oportunidades de emprego em
virtude do turismo. Especialistas em desenvolvimento rural estão
pesquisando o potencial econômico do ecoturismo, e governos estão
considerando esse potencial como fonte de entrada de divisas. Escritórios de
turismo estão começando a criar políticas para o ecoturismo; agências de
financiamento do setor privado estão avaliando a viabilidade financeira de
investimentos. Com os novos roteiros na natureza, conhecidos como
ecoturismo, a indústria do turismo está em plena expansão. Jornalistas
especializados estão tentando captar o que há de mais atual nesse conceito
inovador; vídeos sobre ecoturismo proliferam. E, é claro, os turistas - a
grande força por detrás de todo esse entusiasmo - estão se tornando cada vez
mais aventureiros, mais ligados à natureza e mais participativos quando
viajam. Como nunca antes, turistas visitam parques e reservas no mundo
todo e estão encarando essa experiência como uma forma de conhecer e
apreciar o meio ambiente natural.
34 ecoturismo

E quais os interesses dos conservacionistas nessa explosão do


ecoturismo? Seu objetivo é determinar se o ecoturismo constitui um
instrumento legítimo para a preservação da diversidade biológica e para a
promoção do desenvolvimento sustentável. Essa hipótese precisa ser
confirmada ou rejeitada por meio de estudos de casos.
Há uma grande expectativa entre os gerenciadores sobre o que
exatamente o ecoturismo pode gerar. Há também uma preocupação geral em
relação aos desafios que ele propõe.
O impacto teórico do ecoturismo é bem conhecido. Os custos
potenciais são a degradação do meio ambiente, as injustiças e insta-
bilidades econômicas, as mudanças socioculturais negativas. Os be
nefícios potenciais são a geração de receita para as áreas protegidas,
a criação de empregos para as pessoas que vivem próximo a essas
áreas e a promoção de educação ambiental e de conscientização sobre
a conservação.
Esses custos e benefícios potenciais provocam reações conflitantes em
relação ao ecoturismo. Tanto visualizamos oportunidades que podem
incentivar nossos projetos, como problemas que podem dificultar nosso
trabalho. Nossa tarefa, hoje, é procurar os pontos em comum entre o
ecoturismo, a conservação e o desenvolvimento, e encontrar formas de
minimizar custos e maximizar benefícios.
Há muitos pontos de intersecção entre o ecoturismo e os objetivos
conservacionistas. Segundo o Fundo Mundial para a Vida Selvagem {World
Wildlife Fund - WWF) esses pontos são: a administração de áreas
protegidas, o desenvolvimento sustentável de áreas-tampão, a educação
ambiental dos consumidores e as decisões políticas.
Um dos pontos de intersecção que requer providências urgentes refere-
se à administração de áreas protegidas. A situação atual é preocupante. As
áreas protegidas do mundo todo têm recebido um fluxo cada vez maior de
visitantes. Esse fluxo tem aumentado drasticamente - duplicando ou
triplicando em um ano - e muitas dessas áreas não estão preparadas para o
turismo. Elas estão a cargo de pessoas sem treinamento em gestão de
turismo.
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 35

Além de ter que enfrentar novos desafios em relação à administração,


esses parques não dispõem de verbas nem de pessoal, e abrigam uma série
de atividades de subsistência dentro de suas fronteiras. Todos esses fatores
ameaçam a conservação das áreas protegidas. Algumas das ameaças
poderiam ser minimizadas se os benefícios potenciais do turismo fossem
aproveitados. Felizmente, a maioria dos ecoturistas está ansiosa e disposta a
contribuir para a conservação das áreas que visitam. As pessoas querem
participar mais da conservação quando viajam. Entretanto, é preciso haver
oportunidades para que elas contribuam, tais como sistemas de cobrança de
ingressos, alojamentos que pertençam às pessoas da comunidade local e
sejam administrados por elas, ou cooperativas de artesanato nativo. Para que
tudo isso seja possível, o sistema deve funcionar bem - o que requer
planejamento.
Mas como uma área protegida pode preparar-se para o ecoturis-mo?
Onde encontrar os exemplos? E os modelos? E as diretrizes? Nos últimos
meses, o WWF recebeu de administradores muitos pedidos de assistência
para elaborar planos ecoturísticos porque há pouca informação sobre onde o
ecoturismo ocorre e como funciona. Em resposta a tais pedidos, escrevemos
Diretrizes para Diagnóstico e Planejamento do Ecoturismo, especialmente
para administradores de áreas protegidas. Esse documento é parte da série
de publicações técnicas do WWF sobre Áreas Selvagens e Necessidades
Humanas.
Diretrizes para Diagnóstico e Planejamento do Ecoturismo é uma
tentativa de ajudar os parques a estabelecerem um determinado tipo de
relação com o turismo. Essa proposta ainda está sendo testada e aprimorada.
Nosso primeiro estudo de caso que utilizou esse diagnóstico ocorreu na
Reserva de Blue Mountain/John Crow Mountain, na Jamaica. Até a presente
data, a primeira etapa do processo de planejamento já foi concluída.
Diretrizes para Diagnóstico e Planejamento do Ecoturismo pode servir
como um conjunto de considerações para ajudar administradores de áreas
protegidas a refletirem sobre alguns dos principais
36 ecoturismo

temas relacionados ao ecoturismo. O diagnóstico pode ainda ser utilizado


como instrumento para a promoção de um processo de planejamento mais
formal, que resultaria num plano ecoturístico oficial para a área. O escopo
do documento é limitado. Em primeiro lugar, ele pressupõe um
administrador para a área, e, portanto, destina-se às áreas consideradas
protegidas. Ele não inclui territórios virgens fora do sistema de áreas
protegidas, embora esses também estejam recebendo cada vez mais turistas.
Em segundo lugar, o documento oferece diretrizes para o processo de
planejamento mas não fornece instruções sobre como implementar cada
seção. Por exemplo, para realmente poder criar um plano ecoturístico, os
planejadores necessitarão de maior assistência nas etapas do
desenvolvimento de um plano de administração financeira. Eles também
precisarão de informação sobre a construção de infra-estrutura e instalações
am-bientalmente adequadas. O diagnóstico deve ser usado juntamente com
outros recursos.
Esse documento será em breve acompanhado por um outro semelhante,
que oferece orientações sobre o planejamento ecoturístico para as
comunidades locais, e um terceiro documento sobre planejamento,
destinado aos governos, deverá ser elaborado em seguida. Juntos, os três
instrumentos poderão permitir que regiões coordenem propostas de
planejamento para o ecoturismo.
Ainda não se sabe ao certo o valor da conservação e do desen-
volvimento sustentado do ecoturismo. Também é difícil avaliar até que
ponto as vantagens podem ser maximizadas e os riscos diminuídos. Mas é
certo que, sem planejamento e gestão, o ecoturismo fracassará. Este capítulo
oferece o resumo de um processo inicial de planejamento, que deverá ajudar
os parques a se prepararem para o turismo.
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 37

resumo de diretrizes para diagnóstico e planejamento do


ecoturismo para administradores de áreas protegidas
Muitos parques e reservas estão enfrentando um súbito aumento no
número de visitantes que recebem. A maioria das áreas protegidas não está
preparada para esse novo hábito do consumidor. Muitas dessas áreas não
foram designadas nem projetadas como locais turísticos, e carecem de
fundos e de pessoal para satisfazer as necessidades de um número cada vez
maior de viajantes que curtem a natureza. Como a maior parte dos adminis-
tradores de áreas protegidas não se preparou para o turismo, eles estão hoje
enfrentando o desafio urgente de gerir o crescimento do turismo a fim de
que possa ser benéfico tanto para o parque como para as comunidades
vizinhas.
Em resposta à popularidade crescente do ecoturismo, os admi-
nistradores de áreas protegidas precisam avaliar que nível de turismo é o
melhor para cada área, para então arquitetar uma estratégia que atinja o
nível desejado. A estratégia deverá guiar o desenvolvimento e gestão do
ecoturismo a fim de assegurar que a área protegida não seja excessivamente
ocupada nem destruída por turistas, de criar mecanismos capazes de gerar
empregos e renda para a área protegida e para as comunidades próximas, e
de oferecer educação ambiental aos visitantes. Uma estratégia ecoturística
de desenvolvimento e gestão permitirá que os administradores de áreas
protegidas fomentem ou desestimulem o ecoturismo, conforme o que for
apropriado, tanto em termos de números como de atividades. As diretrizes
que seguem foram elaboradas para auxiliar os administradores de parques
no processo de criação dessa estratégia. Com a estratégia correta, parques e
reservas podem minimizar os riscos do ecoturismo e enfatizar seus
benefícios.
O objetivo das Diretrizes para Diagnóstico e Planejamento do
Ecoturismo é criar uma estratégia para as áreas protegidas que dese-
38 ecoturismo

jam melhor administrar os turistas. Um bom gerenciamento pode implicar a


promoção ou a limitação do turismo em determinada área*.

estratégia

Esta estratégia constitui-se de três fases.

Em primeiro lugar, avalie a situação atual e potencial do turismo.


Qual é o status dos recursos naturais? Qual é o nível de demanda e de
desenvolvimento do turismo? Quem lucra com ele? Quais são os custos?
Qual é o potencial de desenvolvimento do turismo?

Em seguida, determine uma situação de turismo desejável e identifique


os passos para concretizá-la. Decida qual é o melhor tipo de turismo para a
área. A decisão deve refletir o equilíbrio entre as necessidades do visitante,
os recursos naturais, as comunidades vizinhas e os governos hospedeiros.
Quando a decisão for tomada, determine o que precisa ser feito, que
requisitos são necessários para cada tarefa, quem as executará, quanto
tempo será despendido, e qual será o tipo de financiamento. Priorize essas
atividades.

Por fim, escreva um documento sobre a estratégia ecoturística.


Documente a estratégia, publique-a e divulgue-a junto a potenciais fontes de
assistência técnica e financeira, bem como junto a outras partes
interessadas.

* No Brasil, as Unidades de Conservação (UCs) têm como documento


principal de planejamento o Plano de Manejo, que leva em consideração
os aspectos mencionados neste capítulo. Em cada Estado, existe um
órgão responsável pela gestão das UCs. Em especial, o Instituto Florestal
e a Fundação Florestal de São Paulo e a FEEMA do Rio de Janeiro
contam, em suas bibliotecas, com vários estudos para Planos de Manejo,
à disposição dos interessados para consulta. O Ibama, ligado ao
Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, é responsável pelos
Planos de Manejo das UCs federais. No Núcleo de Comunicação e
Informação do Centro de Educação em Turismo e Hotelaria do SENAC
de São Paulo, diversos Planos de Manejo podem ser consultados. (N. do
R.T.)
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 39

Essas três fases, que serão descritas brevemente nas seções seguintes,
constituem o processo de criação de uma estratégia ecotu-rística para uma
área protegida. Quando a estratégia estiver pronta, suas atividades precisam
ser postas em prática, o que muitas vezes requer bastante trabalho.

primeira fase: avaliar a situação atual

O desenvolvimento e a gestão do ecoturismo representam uma questão


fundamental no gerenciamento de recursos naturais, com a qual muitos
administradores de áreas protegidas precisam lidar. Por essa razão, a
primeira fase do diagnóstico começa com o exame do próprio parque (para
simplificar, o termo parque será utilizado doravante para fazer referência a
qualquer tipo de área protegida - parque nacional, reserva particular, reserva
de biosfera e outras)*. A primeira seção enfoca as características dentro dos
limites do parque e trata de questões como recursos naturais, infra-estrutura,
sistemas de visitação e quadro de funcionários. Estes últimos geralmente são
responsáveis pela supervisão dessas áreas, considerada parte de suas
obrigações.
Há também áreas que não se encontram sob jurisdição imediata do
administrador e que, direta ou indiretamente, afetam o turismo dentro do
parque. As áreas em questão podem pertencer à esfera local, regional,
nacional, e, em alguns casos, à esfera internacional, e serão abordadas na
seção "Ultrapassando os Limites do Parque". Essa seção examinará a
interação entre as comunidades locais (nível local); a infra-estrutura
regional; outras atrações (nível regional dentro do país); as questões legais,
políticas e orçamentárias (nível nacional); e

* No Brasil, as instituições oficiais empregam a expressão Unidades de


Conservação (UCs) para designar áreas protegidas legalmente. Podem ser
Áreas Naturais Tombadas, Áreas de Proteção Ambiental (APAs), Áreas
de Relevante Interesse Ecológico, Áreas de Proteção Especial, Estações
Ecológicas, Parques, Reservas Biológicas ou Florestais. (N. do R.T.)
40 ecoturismo

o grau de participação do setor privado (níveis local, regional, nacional,


internacional).
Por exemplo, em nível nacional, a maior parte das áreas protegidas
pertencem aos sistemas de parques, e geralmente obedecem a leis nacionais.
Um determinado administrador de parque pode considerar que as leis
nacionais estão fora de sua jurisdição, mas é importante que ele saiba que
leis podem afetar o turismo dentro de seu parque, para decidir se há alguma
que ele pode modificar a fim de melhorar a situação turística dentro de sua
área. Embora as mudanças só possam ocorrer, em nível nacional, em meio
de processo legal, os administradores precisam entender como o processo
funciona, quem detém o poder de decisão, e de que forma podem intervir no
processo. Esse mesmo princípio aplica-se a questões locais, regionais e
internacionais.
Informações sobre a primeira fase do processo podem ser obtidas
através de pesquisa de fontes primárias, de entrevistas e de coleta de dados
de fontes secundárias. Fontes potenciais de informação podem incluir:
autoridades e funcionários do parque, autoridades e documentos
governamentais, comunidades locais, o setor privado e os representantes da
indústria do turismo, e organizações conservacionistas. Nessa fase, pode ser
útil contratar um pesquisador independente para redigir um relatório.
A seguir, apresentamos uma série de questões que servirão de
orientação para avaliar a situação atual do turismo. Essas questões foram
elaboradas com a intenção de estimular um processo de reflexão, e, em
muitos casos, precisarão ser modificadas para atender a situações
particulares dentro dos parques. Pode haver outras perguntas pertinentes que
deverão ser acrescentadas à lista.
A redação do relatório da primeira fase do diagnóstico refletirá alguma
subjetividade por parte do pesquisador, mas a meta é ser tão objetivo quanto
possível. Portanto, para responder às perguntas abaixo, o pesquisador deve
definir as palavras no contexto do local. Isso possibilitará que os
participantes utilizem as mesmas definições e a mesma informação como
ponto de partida.
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 41

características dentro dos limites do parque

As perguntas seguintes referem-se aos recursos naturais do parque.

Por que o parque foi criado? Pode haver várias respostas para esta questão.
Se esse for o caso, anote e forneça dados.

Faça uma breve descrição dos recursos naturais do parque. Os recursos


estão intactos ou ameaçados? (Especifique as ameaças no contexto do local.)
Ameaça é tudo aquilo que pode afetar a capacidade de reprodução e
sobrevivência de uma espécie, como o turismo, a derrubada de árvores para
obtenção de madeira, a mineração, a agricultura predatória, a caça e pesca
ilegais, e outros. Explique.

Que inventários ou estudos foram elaborados sobre a fauna e a flora da


área protegida? Inventários são estudos sobre áreas biogeográficas ou sobre
espécies. Os tópicos podem ser: tipos de florestas, aves, entomologia,
recursos minerais e questões hidrológicas.

Quais desses inventários são relevantes para o planejamento do


ecoturismo no parque? Faça um breve exame daqueles que são relevantes e
explique sua utilidade.

Que locais e/ou animais selvagens são as maiores atrações


turísticas atuais e potenciais do parque? Por que são considerados atrações
turísticas?

Algum desses locais tem recursos naturais frágeis? (Defina.) Alguma


espécie está ameaçada ou corre risco de extinção? Explique.

Que estudos foram feitos para quantificar o impacto do turismo sobre


esses recursos? Cite-os e examine-os criticamente. Se não há estudos
formais, existe algum tipo de informação anedótica?

Existem estudos sobre o impacto do turismo em outros parques que


possam ser úteis para o caso em questão?
42 ecoturismo

As perguntas que seguem, referem-se a informações sobre turistas e ao


volume de visitas.

Há no parque um sistema para registrar dados estatísticos sobre visitantes?


Em caso positivo, descreva-o.

Quantas pessoas visitam o parque por ano? (Faça uma estimativa, se não
houver registros; indique se o valor foi estimado.)

Qual é a proporção de visitantes estrangeiros e residentes no próprio país?

Que outra informação demográfica você tem sobre os visitantes?


(Exemplo: idade, país de origem, etc.) Se não houver registro oficial, talvez
os donos de pousadas e os guias turísticos tenham dados estatísticos ou
anedóticos que possam ser úteis.

Quais são as temporadas altas e baixas? Por quê?

O que os visitantes fazem no parque? Faça uma lista das atividades e


indique as mais populares.

Que pesquisas/levantamentos foram feitos em relação à visitação ao


parque? Quais foram os resultados?

Qual é a quantia média que os turistas gastam no parque? (Faça um


cálculo aproximado se não houver números oficiais.) Como é gasto esse
dinheiro?

Que tipo de esquemas promocionais ou de marketing o parque tem


procurado adotar para atrair turistas? Anexe folhetos e material de marketing
ao relatório da primeira fase.

Com base em dados concretos, que volume de visitas pode ser esperado
para o futuro?

A que mercado o parque visa em termos reais e potenciais (turistas locais,


turismo de estrangeiros em massa, elites de estrangeiros, outros)? De que
maneira isso afeta o tipo de experiência do visitante e a infra-estrutura
desejados?
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 43

As próximas perguntas referem-se à infra-estrutura do parque.

Liste toda a infra-estrutura existente no parque. (Exemplos: centros de


visitação, trilhas, banheiros, restaurantes/lanchonetes, lojas de presentes e
alojamentos.)

Essas instalações são utilizadas? Com que freqüência? Quem as utiliza?


Faça uma lista para cada instalação. Descreva as instalações. Elas são novas
ou antigas? Estão em bom estado de conservação? Quem é responsável pela
manutenção?

As instalações são de propriedade do governo, do setor privado ou outro?


Se pertencem ao setor privado, ele é local, nacional ou estrangeiro?
Especifique cada caso.

Que instalações/infra-estrutura contribuem para a educação ambiental dos


visitantes? (Exemplos: placas interpretativas nas trilhas, folhetos
informativos no centro de visitação, vídeos.)

Que tipos de materiais educativos o parque fornece? Descreva-os.

Quem prepara e produz esses materiais? Qual é o público-alvo?

Como o material educativo é distribuído? Ele é útil?

Que instalações/infra-estrutura, dentro do parque, contribuem


financeiramente para ele? (Exemplos: sistema de cobrança de ingressos,
lojas de presentes, lanchonetes.) Como contribuem? O que o parque lucra
com cada uma delas pode ser quantificado?

Que instalações/infra-estrutura, dentro do parque, contribuem


financeiramente para os moradores das áreas vizinhas? (Exemplos: lojas de
presentes, restaurantes, alojamentos.) De que forma contribuem? O que os
moradores da região lucram com cada uma delas pode ser quantificado?
44 ecoturismo

Estas perguntas referem-se aos funcionários.

Quantos funcionários do parque estão em contato direto com os turistas?


Que tipo de emprego têm? Eles são assalariados ou voluntários? Qual é a
fonte de recursos para os salários?

Que tipo de treinamento os funcionários receberam para trabalhar com os


turistas? Explique.

O número de funcionários é adequado ao volume de turistas? Eles estão


preparados para proteger adequadamente os recursos naturais do parque?
Explique.

ultrapassando os limites do parque

As perguntas seguintes enfocam a interação entre o parque e as


comunidades locais.

Identifique os indivíduos do local, as comunidades e as organizações não-


governamentais envolvidas com ou afetadas pelo turismo do parque. Faça
uma lista de cada um deles. As pessoas envolvidas com o turismo trabalham
em regime de período integral ou parcial?

Quais são os custos e benefícios do turismo para essas pessoas?


Especifique. Os custos podem ser: disputa pelo uso da terra, destruição
provocada por animais selvagens, interação cultural indesejável e outros. Os
benefícios podem ser, entre outros, os ganhos financeiros, as oportunidades
de emprego e a educação ambiental.

Identifique os tipos de negócios relacionados ao turismo ou outros


produtos e serviços que envolvam a população local.

Liste os tipos de produtos e serviços vendidos por vias informais ou


autônomas, os métodos de venda utilizados, a porcentagem aproximada de
participação no mercado desses vendedores ambulantes, as técnicas de
produção e qualquer outra informação relevante.
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 45

Quem possui ou tem acesso aos meios de produção, em cada um desses


casos?

Há cooperativas ou associações turísticas na área? Quem faz parte delas?


Quais são suas atividades? Elas são eficazes?

Que outras atividades econômicas/empregos têm os moradores das


comunidades locais que não estão envolvidos com turismo ou que só
participam dele em regime de tempo parcial?

As próximas perguntas referem-se à infra-estrutura regional (dentro do


país).
O parque é acessível? Descreva sua localização e a região que o circunda.

Que meios de transporte os turistas estrangeiros geralmente utilizam para


chegar até o parque? E os turistas do próprio país?

Qual é a condição das estradas? Há dificuldades relacionadas a épocas do


ano (época de chuvas, outras)? Quem é responsável pela manutenção das
estradas?

Estas três perguntas referem-se a outras atrações regionais.

Que outras atrações turísticas existem na região? (Estas podem ser


históricas, culturais, naturais, de eventos ou urbanas.) Faça uma lista para
cada uma delas e anote o número anual de visitantes. Quais dessas atrações
são mais importantes que o próprio parque?

Há algum pacote turístico que inclua o parque como parte de um itinerário


maior de viagem? Há algum outro tipo de interação entre o parque e outras
atrações turísticas da região?

Que centros populacionais situam-se num raio de 150 km do parque? Liste


a cidade (ou local), o número de habitantes e a distância do parque.
46 ecoturismo

As perguntas seguintes relacionam-se a questões de caráter nacional,


referindo-se, por exemplo, à estrutura legal e a considerações políticas e
orçamentárias.
Quais são os documentos legais existentes (ou propostos) que
regulamentam as atividades turísticas do parque?

Quais são as leis e regulamentos desses documentos que se referem


especificamente às atividades turísticas? Cite-os.

Quais são os objetivos do turismo em relação ao parque?

Há uma seção para o turismo no plano de administração do parque? Em


caso positivo, ela é eficaz? Em caso negativo, quais são as dificuldades?

O parque tem zonas para determinadas atividades? Há uma zona turística?

Quem é responsável por criar e fiscalizar as políticas de turismo na área


protegida - a administração do parque, as autoridades ligadas ao turismo,
outros? Se mais de um grupo é responsável, eles trabalham juntos ou de
forma independente? Essa forma de trabalhar é eficaz? Em caso negativo,
por que não?

Há um sistema para a cobrança de ingressos na área protegida? Em caso


positivo, descreva-o. Em caso negativo, por que não há?

A renda arrecadada pelo sistema de cobrança de ingressos vai para o


governo central ou fica na área protegida? Explique o processo.

Qual é a fonte de financiamento da administração do parque nacional?


(Por exemplo, o tesouro nacional, doações externas, fundos fiduciários ou
legados.)

Essa fonte é adequada para as atuais atividades de gestão do turismo? Há


fundos disponíveis para futuras atividades de gestão?

Como o orçamento total para áreas protegidas é distribuído entre os vários


parques e reservas?
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 47

As perguntas que seguem referem-se à participação do setor privado.


De que forma o setor privado participa do turismo no parque?

O parque trabalha em conjunto com operadores turísticos ou agências de


viagem particulares? Eles são nacionais ou estrangeiros? O parque mantém
alguma relação de exclusividade?

Como o parque seleciona as agências/operadores de viagem com os quais


irá trabalhar?

O setor privado participa de algum projeto ligado à conservação no parque


ou nas áreas vizinhas? Descreva.

O parque/governo tem alguma política ou regulamento em relação à


participação do setor privado no parque?

segunda fase: determinar o nível de turismo desejado e criar um plano

A segunda fase constitui-se de um workshop (ou de uma série de


workshops), formado por um grupo heterogêneo, com o objetivo de analisar
a atual situação do turismo no parque, decidir como ela pode ser aprimorada
e criar um plano para isso. A situação do turismo pode ser incrementada por
meio do aumento ou redução do número de turistas, da mudança de seus
horários de visita e das atividades que desenvolvem, da melhoria das
instalações e serviços oferecidos, de uma maior proteção aos recursos
naturais, ou da ampliação do número de beneficiários do turismo. Nesse
processo, é fundamental que os participantes sejam muito criativos.
Para decidir como melhorar a situação do turismo no parque, o grupo
deve primeiro avaliar os objetivos do turismo, que podem ser: oferecer uma
nova forma de proteção aos recursos, trazer divisas estrangeiras para o país,
promover educação ambiental para visitantes nacionais e internacionais e
criar novas oportunidades de emprego para as comunidades próximas.
48 ecoturismo

Com base nessa discussão, o grupo procurará chegar a um consenso


sobre o número desejável de turistas e de atividades turísticas na área. Deve
haver um equilíbrio entre interesses diversos, tais como a conservação dos
recursos naturais, a promoção do desenvolvimento sustentável nas
comunidades locais, a melhoria da balança comercial e o enriquecimento da
experiência dos turistas. Uma vez que o grupo tenha chegado a um consenso
sobre o perfil do turismo no parque, uma estratégia ecoturística deve ser
criada. Ela deverá consistir de um plano de ação que estabeleça os passos
necessários para se obter e gerenciar o nível desejável de turismo.
Essa estratégia deverá incluir uma lista de atividades necessárias para
desenvolver o ecoturismo no parque. Tais atividades podem envolver o
treinamento dos guardas-florestais em gestão de turismo, a construção de
um centro de recepção de visitantes, a preparação adequada de locais para
diminuir os danos que possam ser causados pelos visitantes, a criação de um
sistema de monitoramento ecológico, a publicação de folhetos
promocionais, o estabelecimento de cooperativas artesanais com as
comunidades locais, a pressão junto ao governo para implementação de um
sistema de cobrança de ingressos cuja renda reverta para o parque, e a
seleção dos operadores de viagem que levam os grupos ao parque. A
estratégia deve detalhar as atividades obedecendo ao critério da prioridade e
descrever os requisitos necessários para o cumprimento da tarefa, identificar
quem irá gerenciar/realizar a atividade, indicar o tempo previsto para sua
realização e qual será seu custo. Dessa forma, ficará claro para os futuros
financiadores como o parque planeja desenvolver o ecoturismo. Ao
determinar as prioridades, é importante verificar se há áreas, no parque,
mais ameaçadas pelo turismo, que requeiram atenção imediata.
Quando a estratégia começar a ser, de fato, implementada, um sistema
de monitoramento da estratégia deverá ser criado. Deve haver algum tipo de
procedimento que permita um feedback sobre a estratégia, para que se possa
avaliar seu impacto e modificá-la ou adaptá-la, se necessário. Uma
estratégia é um processo dinâmico.
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 49

Metodologia
Uma vez que desenvolver o plano turístico ideal para uma área envolve
muitas questões, diferentes grupos devem participar da discussão. Deveria
haver representantes do parque, das comunidades vizinhas, da indústria do
turismo, do Ministério do Meio Ambiente ou dos Recursos Naturais, da
Secretaria de Turismo e dos grupos em prol da conservação. Um mediador
pode ser útil nesses encontros. 3 workshop (ou série de workshops) tem
quatro objetivos:
reunir representantes de vários setores em torno de metas que promovam
o desenvolvimento da indústria do turismo no parque;

criar um elo entre os grupos e formar uma comissão ecoturística para o


parque;

identificar o melhor programa para o desenvolvimento do ecoturismo;

determinar a estratégia para viabilizar esse programa.

características dentro dos limites do parque

Um dos quatro componentes desejáveis da estratégia deve considerar os


recursos naturais do parque.
Crie mecanismos para monitorar o impacto ecológico do turismo. Para
tanto, obtenha informação de outros locais turísticos.Liste os requisitos
necessários para esse projeto e as pessoas encarregadas do monitoramento;
calcule o tempo requerido para pesquisa e implementação e os custos
envolvidos.

Coordene a elaboração de inventários dos locais turísticos em áreas


naturais, dos ecossistemas, ou das espécies que não foram adequadamente
estudadas. Isso é particularmente relevante para aqueles que são ou poderão
tornar-se atrações turísticas. Liste o que é necessário para realizar esse
projeto e
50 ecoturismo

as pessoas que deverão elaborar os inventários; calcule o tempo requerido


para completar a tarefa e os custos envolvidos.

Outro componente importante da estratégia é a informação sobre os


visitantes e os níveis de visitação.
Crie um sistema para registrar dados sobre os visitantes, o qual inclua não
só números, mas também informação demográfica. Liste os requisitos
necessários para a realização desse projeto e as pessoas que irão concretizá-
lo; calcule o tempo requerido para a criação e implantação de um sistema de
registro e os custos envolvidos.

Elabore uma série de questionários para o visitante. Questionários podem


complementar os dados fornecidos pelo sistema de registro e prover valiosa
informação administrativa e de mercado. Eles podem incluir perguntas
como; O que lhe agra da ou desagrada no parque? Como você soube da
existência do parque?, etc. Liste os requisitos necessários para esse
projeto e as pessoas encarregadas dos questionários; calcule o tempo de
elaboração dos questionários e os custos para aplicá-los e processar as
informações.

O terceiro componente da estratégia considera a infra-estrutura do parque.


Faça um plano completo de toda a infra-estrutura existente ou que se
deseje construir no parque: trilhas, sinalização, instalações e outros. Consulte
os especialistas a fim de inteirar-se das mais recentes inovações em
estruturas ecologicamente adequadas que utilizam materiais do local. Liste o
que é preciso para concretizar esse projeto e as pessoas responsáveis pelo
plano geral; calcule o tempo de elaboração do plano e o custo envolvido.

Quando o plano geral estiver completo, liste as atividades prioritárias (que


aprimorem as estruturas existentes ou criem
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 51

novas estruturas), selecione os arquitetos e empreiteiros e inicie a


construção. Certifique-se de que produtos e serviços do local sejam
utilizados o máximo possível. Liste o que é necessário para a realização
desse projeto e as pessoas responsáveis pela coordenação da construção;
calcule o tempo que o projeto demandará e o custo envolvido.

O quarto componente da estratégia deverá levar em consideração os


recursos humanos do parque.
Decida que tipo de conhecimento técnico e, portanto, que quadro de
funcionários é necessário para gerenciar o nível desejável de turismo. O
quadro compõe-se de uma equipe administrativa, guardas florestais, guias e
outros. Contrate o pessoal necessário. Liste as pessoas que serão
responsáveis pelos funcionários; calcule o tempo necessário para contratá-
los e os custos envolvidos.
Decida que tipo de treinamento em gestão turística é necessário
para os funcionários. O tipo de treinamento pode variar segun do o cargo
exercido. Determine a melhor forma de oferecer o treinamento. Pode-se
contratar um professor para ir ao local, enviar as pessoas a programas
formais de treinamento, ou promover visitas dos funcionários a um local
onde haja pessoal treinado. Liste as informações técnicas que os
funcionários do parque devem ter e quem será responsável pelo treinamento;
indique qual o melhor método, quanto tempo será necessário para contratar
o pessoal e quais os custos envolvidos.

ultrapassando os limites do parque

Estas considerações tratam da interação entre o parque e as comunidades


locais.
Uma vez identificadas as comunidades que serão afetadas pelo
turismo, o passo seguinte é interagir com elas. A interação
52 ecoturismo

dependerá das condições culturais e socioeconômicas locais. Por exemplo,


em alguns lugares pode ser mais adequado interagir com as pessoas mais
velhas, e, em outros, com toda a comunidade. Promova encontros especiais
com cada comunidade, para discutir o interesse que elas têm no turismo e o
papel que gostariam de desempenhar em relação ao turismo no parque. Liste
o que é necessário para trabalhar com as comunidades e as pessoas
responsáveis pelas relações com as comunidades; calcule o tempo requerido
para fazer os contatos iniciais e os custos envolvidos.

Selecione representantes de comunidades para participar dos planos de


desenvolvimento do turismo e para integrar a comis são ecoturística do
parque.

Dê assistência e apoio às comunidades que queiram maiores informações


sobre o plano de turismo proposto para o parque, que tenham preocupações a
respeito, ou que desejem ter acesso ao treinamento ou ao financiamento a
fim de participar do processo de desenvolvimento do turismo. Liste os
requisitos necessários para assistir a comunidade e as pessoas a cargo dos
contatos; calcule o tempo requerido para estabelecer esses contatos e os
custos envolvidos.
Mantenha encontros regulares com as comunidades para certificar-se de
que elas estão se beneficiando com o turismo e tendo o mínimo de prejuízo.
Liste as pessoas que serão encar regadas de contatar as comunidades, o
tempo que esta tarefa levará e os custos que acarretará.

As considerações seguintes referem-se à infra-estrutura regional (dentro do


país).
Decida que projetos regionais (estradas, clínicas de saúde,
alojamentos, etc.) precisam ser desenvolvidos em apoio ao plano
ecoturístico proposto para o parque.
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 53

Influencie os grupos certos (do governo, do setor privado) a


implementar o que for necessário. É importante ressaltar os benefícios que o
ecoturismo no parque trará para toda a região. Liste os requisitos necessários
para pressionar os grupos e as pessoas empenhadas nessa tarefa; calcule o
tempo a ser despendido e os custos envolvidos.

A próxima consideração refere-se a outras atrações regionais.


Descubra se há outras atrações turísticas na região com as quais o
parque gostaria de integrar-se, a fim de criar pacotes turísticos regionais.
Essa seria uma forma de promover e divulgar o parque. Contate pessoas
ligadas a essas atrações, que possam ser bons parceiros, e tome as
providências necessárias. Liste as habilidades requeridas no trabalho com
outros locais e as pessoas encarregadas do marketing; calcule o tempo
necessário para a tarefa e os custos envolvidos.

As considerações a seguir abordam temas de caráter nacional, tais como a


estrutura legal, as políticas adotadas e as questões orçamentárias.
Identifique quem está oficialmente a cargo da gestão do turismo no
parque (indivíduo, órgão público ou consórcio).

Defina as zonas turísticas do parque. Sinalize-as com placas oficiais.


Liste os requisitos necessários para o zoneamento e as pessoas encarregadas
dele; calcule o tempo requerido para essa tarefa e o custo que ela acarretará.

Determine o preço do ingresso no parque. A melhor estratégia


pode ser estabelecer preços diferentes para turistas estrangeiros e residentes
no próprio país. Os preços podem cobrir taxas diárias, semanais, para
grupos e outros. Crie um sistema de cobrança de ingressos e determine a
estrutura material e os recursos humanos necessários. Liste os requisitos
técnicos necessários para a elaboração de um sistema de cobrança de
54 ecoturismo

ingressos e as pessoas responsáveis por essa atividade (ela pode envolver


um processo legal nacional); calcule o tempo que será preciso para criar o
sistema e quanto ele custará.

Estude o orçamento nacional para parques. Há algum mecanismo


financeiro que permita que a renda dos ingressos reverta para o parque? Se
não houver, tome providências para criar um, verificando como mecanismos
semelhantes foram implantados em outros países. Esse procedimento pode
ser muito trabalhoso, mas é crucial para a viabilização financeira do
parque. Liste os requisitos necessários para criar um sistema financeiro e as
pessoas que estarão a cargo desse projeto; calcule o tempo requerido para
sua realização e os custos envolvidos.

Determine como será feita a distribuição orçamentária dentro


do próprio parque. Se o turismo é uma prioridade para o parque, destine
fundos adequados para seu desenvolvimento a fim de preparar o parque para
lucrar com o turismo. Liste os requisitos necessários para planejar o
orçamento e as pessoas encarregadas do orçamento do parque; calcule o
tempo reque rido para a conclusão dessa tarefa e o custo que ela implicará.

Estas considerações finais enfocam o modo como os vários níveis interagem


com o setor privado.
Decida com quais operadores turísticos é melhor trabalhar e que papel eles
devem desempenhar. (Por exemplo, eles devem levar seus próprios guias ou
isso fica a cargo do parque?) Liste as pessoas que deverão entrar em contato
com os operadores turísticos; calcule o tempo que a tarefa demandará e o
custo que acarretará.

Decida que tipo de informação o parque precisa ou deseja ter


sobre a demanda de turismo. (Por exemplo, informação demo gráfica sobre
visitantes e o que lhes agrada ou desagrada no parque.) Consulte operadores
turísticos para aprender mais
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 55

sobre a demanda de turismo. Estude e pesquise para completar a informação


que falta. Liste os requisitos necessários para o levantamento de dados e as
pessoas que serão responsáveis pela informação turística; calcule o tempo
que essa tarefa requer e os custos envolvidos.

Decida de que forma promover e divulgar o parque. Isso pode


significar promover uma campanha do tipo "visite o parque", contatar
jornalistas da área de turismo para escrever histórias, publicar folhetos, ou
deixar tudo nas mãos dos operadores turísticos. Crie um plano de marketing.
Indique os requisitos necessários para promover o parque, o tempo previsto
para essa tarefa e os custos envolvidos.

terceira fase: escrever um documento sobre a estratégia ecoturística

Uma vez que o grupo determina uma estratégia, é preciso que alguém
seja indicado para registrar, publicar e divulgar as informações. Dessa
maneira, a estratégia ecoturística pode chegar ao conhecimento de fontes
potenciais de recursos financeiros, de doadores, de investidores, ou de
outros, que possam oferecer assistência técnica para a administração do
parque a fim de viabilizar a estratégia.
A estratégia ecoturística preencherá uma outra função: tornar-se-á o
plano ecoturístico oficial da área. Todo incremento ou atividade turística
deverá seguir as diretrizes estabelecidas no plano. Quaisquer alterações no
documento devem ser aprovadas pela comissão ecoturística do parque. A
estratégia deve ser incorporada ao plano geral de administração da área
protegida.
Dada a importância desse documento, é fundamental que ele seja
redigido com rigor profissional, imediatamente após o trabalho do
workshop. Por essa razão, é aconselhável contratar um consultor para essa
fase, de preferência o mesmo profissional das etapas anteriores.
56 ecoturismo

metodologia
A metodologia para o documento da estratégia envolve a elaboração, a
publicação e a distribuição.
Em primeiro lugar, nomeie alguém que assuma a coordenação da
terceira fase (um responsável, um consultor profissional). O responsável
freqüentará o workshop e registrará os resultados. No final do workshop, o
responsável fará uma breve apresentação dos resultados para os
participantes, para garantir que o relatório reflita os interesses do grupo. O
responsável, então, redigirá o relatório da terceira fase e o encaminhará para
que seja examinado pela comissão ecoturística.
Após tomar conhecimento dos comentários críticos dos reviso-res,
incorpore as últimas alterações da comissão ecoturística e procure uma
gráfica. Em seguida, escolha o layout da publicação. Esse processo requer a
identificação do público-alvo. Uma vez que este foi definido, especifique o
número de cópias necessárias. Finalmente, se for preciso, procure fundos
para a publicação.
Determine o melhor método de distribuição e então, se necessário,
procure verbas. Finalmente, faça circular o relatório junto a todas as partes
envolvidas e a possíveis doadores e assessores técnicos. Divulgue o
relatório conforme o necessário.

conclusão
Os parques estão cada vez mais interessados no ecoturismo. Não só
estão recebendo um número maior de visitantes a cada ano, como também
seus administradores estão começando a ver o turismo como uma nova
fonte de renda e emprego. Mas, para incorporar o ecoturismo e manter o
equilíbrio entre custos e benefícios, os parques precisam estar preparados.
As diretrizes apresentadas visam a ajudar os administradores de parques no
processo de planejamento. Elas podem
o planejamento ecoturístico para áreas protegidas 57

ser úteis como pontos de reflexão para administradores que lidam com o
ecoturismo e desejam saber mais sobre ele. Ou podem também ser utilizadas
como um guia para o processo formal de planejamento, envolvendo muitas
pessoas interessadas em ecoturismo na área e resultando numa estratégia
ecoturística oficial para o parque.
É importante salientar que o processo aqui descrito serve apenas como
referência para o planejamento. Ele deve ser utilizado como um ponto de
partida e modificado, conforme necessário, para adaptar-se a determinadas
situações. O processo integral de desenvolvimento de uma estratégia
ecoturística deverá ser individualizado tendo em vista as especificidades de
cada parque. Portanto, este documento não é uma receita oficial, mas um
conjunto de sugestões para a elaboração do plano. O ingrediente principal é
a criatividade dos planejadores. Outro elemento crucial para tornar esse
processo viável são recursos financeiros adequados. Como já foi
mencionado, a maioria dos parques está sofrendo grandes cortes no
orçamento. Para criar e implementar um plano ecoturístico é preciso haver
fundos disponíveis para todas essas atividades. Estamos confiantes de que
os governos, os conservacionistas e a indústria do turismo reconhecerão a
importância dos planos ecoturísticos e apoiarão seu desenvolvimento.
O propósito desse exercício de planejamento é garantir que as áreas
protegidas ocupem uma posição de autoridade em relação ao crescimento
ecoturístico. A indústria do ecoturismo só terá sucesso se os recursos
naturais forem protegidos. E eles só serão bem protegidos se houver uma
estratégia correta de gestão, e se os administradores de parques e as
comunidades locais assumirem o papel de liderança no processo.
2
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas
para áreas naturais e comunidades vizinhas

Sylvie Blangy e Megan Epler Wood


Define-se ecoturismo como viagem responsável a áreas naturais, com o
fim de conservar o meio ambiente e promover o bem-estar da comunidade
local. Esse tipo de viagem depende da conservação dos recursos da área
natural. Há, portanto, uma parceria natural entre as empresas privadas que
organizam experiências de viagem pela natureza e as entidades
(governamentais, não-governamentais e privadas) responsáveis pela
proteção das áreas naturais. Essa parceria pode, de fato, proporcionar uma
verdadeira experiência ecoturística por meio do aumento da consciência do
público sobre proteção ambiental; da provisão de recursos econômicos para
a gestão das áreas naturais; da maximização dos benefícios econômicos para
as comunidades locais; do estímulo à compreensão das diferenças culturais;
e da diminuição dos efeitos adversos dos visitantes sobre o meio ambiente
natural e cultural.
O turismo relacionado com a História Natural sempre existiu, mas,
desde 1980, tem havido um aumento considerável desse tipo de viagem. Na
década de 80, muitos operadores turísticos tiveram um aumento anual de
20% no número de seus clientes. Uma quantidade cada vez maior de turistas
visita hoje as regiões mais remotas da Terra, da Antártida à Nova Guiné. As
áreas naturais estão ameaçadas pelo
62 ecoturismo

súbito crescimento do turismo, e a zona rural ao redor desses locais


populares é, em geral, seriamente afetada pela invasão de visitantes
estrangeiros. Seria extremamente positivo para os órgãos locais, res-
ponsáveis pela administração dos visitantes, que os operadores turísticos e
as organizações ambientais instruíssem os turistas sobre o comportamento
adequado, antes que eles chegassem às áreas protegidas. A necessidade de
divulgar as diretrizes elaboradas para proteger cenários ecológicos e
culturais frágeis é, hoje, maior do que nunca.
As diretrizes funcionam como um poderoso instrumento de
comunicação para reduzir o impacto dos visitantes. Elas podem ser
particularmente úteis, quando regulamentos que orientam o comportamento
do visitante ainda não foram criados. O ideal é que todas as áreas protegidas
tenham diretrizes para visitantes. Contudo, há muitos casos em que os
órgãos locais, estaduais e federais não oferecem nenhuma informação aos
turistas. Operadores turísticos particulares, organizações ambientais,
comunidades locais, associações profissionais, e até companhias aéreas
desempenham um papel cada vez mais importante na educação dos
visitantes.

tipos de diretrizes

Os objetivos das diretrizes ecoturísticas variam de acordo com a


entidade que as formula. Elas devem auxiliar o visitante a planejar uma
viagem e a escolher um roteiro ecológico, a minimizar o impacto de
caminhadas e acampamentos, e a ser um viajante responsável em termos
ambientais, sociais e econômicos.
A maioria das diretrizes destina-se aos turistas que visitam áreas
naturais, parques e áreas protegidas. Diretrizes bem planejadas devem levar
em conta os vários tipos de visitantes e, como outros instrumentos de
comunicação, devem visar cuidadosamente o público que deverá beneficiar-
se delas.
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 63

Os tipos de visitantes listados abaixo podem ser orientados por meio de


um conjunto geral de diretrizes ou de uma série específica para cada grupo*.

Visitantes em excursões (grupos) Praticantes de atividades náuticas e


mergulhadores
Visitantes individuais de um dia Caçadores de souvenirs
(day-use)
Mochileiros e campistas individuais Ornitólogos e observadores
amadores de aves
Cientistas Ciclistas
Colecionadores/coletores Usuários de caminhonetes ou jipes
Fotógrafos amadores Esquiadores de cross-country
Fotógrafos profissionais e Usuários de trenós motorizados
produtores de cinema

Diretrizes que estipulem normas para os serviços a visitantes são


também úteis. Nessa categoria, os administradores de áreas protegidas são
os mais indicados para assumir a liderança. Se a área protegida encontra-se
sob um sistema de concessão, exigências específicas podem ser definidas e
acordadas por meio de um contrato, antes que seja permitida a implantação
de um esquema turístico na área. Se não há sistema de concessão, o meio
mais eficaz de evitar o impacto negativo é controlar as operações turísticas,
as pousadas e outras acomodações, e quaisquer outras empresas privadas da
região, por intermédio de diretrizes tão detalhadas quanto possível.
Finalmente, diretrizes que visam aos profissionais envolvidos na
divulgação de informações para os visitantes - guias turísticos, hote-

* Na realidade, há dezenas de segmentos de mercado entre os


freqüentadores de áreas naturais, e a listagem se refere apenas a alguns
deles. A cada ano, novas modalidades de recreação na natureza se
tornaram conhecidas, como montanhismo, espeleologia e escaladas de
cachoeiras. Entre nós, são usados, por vezes, termos em inglês, como
hiking e trekking. Hiking, em geral, refere-se a caminhadas de um dia, e
trekking envolve pernoites no trajeto. (N. do R.T.)
64 ecoturismo

leiros, agentes de informação, funcionários do comércio - podem ser


elaboradas por associações de classe. Seu papel deve ser o de melhorar os
serviços e proteger o meio ambiente, garantindo, assim, a qualidade de vida
e trabalho na região.

processos e parceiros no desenvolvimento de diretrizes

Os administradores de áreas protegidas que procuram atrair turistas


deveriam considerar as diretrizes como um dos meios mais econômicos para
a administração do visitante. Oferecer diretrizes é um serviço muito
importante para o visitante que necessita e aprecia sugestões e informações
sobre comportamentos adequados e que, em geral, gosta de ter acesso a elas.
A falta de informação e compreensão é responsável por muitos dos danos
culturais e ambientais provocados pelos turistas. Informações simples e
baratas, aliadas a técnicas de divulgação, podem evitar danos irreversíveis à
região.
Todas as entidades envolvidas com os visitantes deveriam participar da
elaboração das diretrizes. Esse procedimento pode ajudar a evitar propostas
coincidentes (sugeridas por partes diferentes), e tornar as diretrizes mais
abrangentes. É aconselhável consultar as diretrizes que já existem e
trabalhar com as organizações que as conceberam. Para os administradores
de áreas protegidas, tornar as diretrizes parte de um programa integrado com
a comunidade é uma forma eficaz de garantir que as pessoas do local
participem e se engajem na implementação. Além disso, contribui para
preparar a comunidade para os diversos tipos de comportamento do turista,
com os quais ela poderá se deparar. Há várias etapas no desenvolvimento de
diretrizes para a administração do bom visitante. A natureza e o estágio de
desenvolvimento das diretrizes ajudarão a identificar os parceiros certos
com quem trabalhar.
A primeira etapa é aquela na qual princípios devem ser estabelecidos
como alicerce para a construção de diretrizes. Tais princípios
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 65

constituem os fundamentos que permitirão determinar os objetivos das


diretrizes. Por exemplo, trata-se de uma área prioritariamente recreativa,
onde a proteção aos recursos vem em segundo lugar, ou é exatamente o
oposto?
Na segunda etapa, diretrizes são elaboradas depois que os princípios
básicos foram acordados. As diretrizes sugerem o comportamento adequado
dos visitantes em uma série de situações freqüentes, como, por exemplo, o
modo de armazenar comida nos acampamentos e o que fazer com todo o
lixo. "Leve de volta tudo o que trouxe" é uma recomendação clássica*. À
medida que as diretrizes se tornam mais elaboradas, vão se tornando mais
específicas. Em última análise, elas constituirão a base dos regulamentos.
Na terceira e última etapa, regulamentos podem ser criados a partir das
diretrizes. Entretanto, é preciso funcionários para fiscalizá-los, e
pesquisadores que possam fazer diretrizes apoiados em dados de campo,
sobre o impacto específico do visitante sobre o solo, a água, as espécies em
risco de extinção e os tipos de hábitat.
Para a criação de um sistema eficaz de diretrizes, devem colaborar as
seguintes organizações:

Comunidades que desejam informar os visitantes sobre os costumes


locais podem contribuir muito para os princípios e diretrizes relacionados
com os hábitos e costumes sociais.

Empresas privadas - operadores domésticos e internacionais, reservas


particulares, serviços de alojamento, companhias aéreas e vendedores de
equipamentos - todos querem informar seus clientes. Na elaboração de
diretrizes, eles geralmente trabalham bem em conjunto com organizações
ambientais sem fins lucrativos. As diretrizes podem ser informativas e úteis
para visitantes, antes de suas viagens. Diretrizes específicas para cada local
são mais eficazes quando a equipe de administração da área protegida
trabalha em cooperação

"Tire apenas fotografias, deixe apenas pegadas e leve apenas


recordações" é um lema utilizado entre nós. (N. do R.T.)
66 ecoturismo

com os operadores turísticos. As informações destes últimos podem ser


valiosas em seções que descrevem os procedimentos recomendados para
controlar o comportamento de grupos de visitantes em diversos hábitats.

Organizações ambientais sem fins lucrativos podem tomar a iniciativa


e redigir as diretrizes, caso elas não estejam disponíveis, para áreas naturais
frágeis, como foi feito pela Asociación Tsuli Tsuli/Audubon da Costa Rica.
Ou podem contribuir com seu conhecimento especializado, trabalhando em
conjunto com operadores turísticos e administradores de áreas protegidas, a
fim de desenvolver um conjunto integrado de diretrizes.

Guias turísticos e outros intérpretes podem querer trabalhar juntos


para estabelecer padrões ecoturísticos, como, por exemplo, o código de
conduta preparado pelos operadores comerciais e guias no arquipélago
Rainha Carlota, na Colúmbia Britânica, Canadá. Diretrizes elaboradas por
guias turísticos podem ser bem específicas e fornecer informações de apoio
muito úteis sobre zonas e locais perigosos, onde é preciso um cuidado
especial a fim de proteger espécies em risco de extinção. Guias turísticos
que estão diariamente em contato com visitantes podem constituir a fonte
mais rica de informações em todas as fases do desenvolvimento das
diretrizes.
Muitas das diretrizes existentes, citadas neste artigo, foram criadas por
órgãos estaduais e nacionais dos Estados Unidos (ver Tabela 2-1). Além
deles, operadores turísticos particulares estão, cada vez mais, estipulando
suas próprias diretrizes, devido à falta de diretrizes nos países em
desenvolvimento. Como o turismo continua crescendo rapidamente nesses
países, operadores turísticos responsáveis estão tomando a iniciativa. Mas
eles não podem fazer tudo sozinhos.
Os operadores turísticos consultados para a elaboração deste artigo
mostraram grande interesse nas diretrizes criadas por administradores das
terras locais, órgãos regionais, organizações não-governamentais e
comunidades dos países em desenvolvimento. Tais
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 67

entidades estão preparadas para produzir um conjunto preciso de padrões


para orientar o comportamento do visitante em suas áreas. Regulamentos
que devem ser rigorosamente cumpridos seriam até mais úteis, mas as
diretrizes são uma etapa importante para a elaboração de regulamentos. Os
visitantes precisam estar informados acerca dos hábitats e espécies frágeis,
que requerem cuidado especial, em determinada área natural.
Uma amostra do conjunto de diretrizes que serviram de base para a
redação deste artigo pode ser encontrada na Tabela 2-2, no final deste
capítulo. Essas diretrizes representam um ponto de referência útil para o
estilo e as técnicas descritos nas próximas seções.

técnicas para a elaboração de diretrizes

Aqui estão alguns dos pontos-chave que devemos considerar quando


começamos a compilar uma série de diretrizes.
Decida quem é o público-alvo das diretrizes (ex.: visitantes em geral,
operadores turísticos, grupos de usuários).

Identifique o tema ou a área de interesse central das diretrizes (ex.:


proteção ambiental ou conscientização sobre aspectos culturais).

Consulte os guias que levam os turistas às áreas naturais.

Obtenha auxílio técnico de cientistas que estudaram o impacto do turismo.

Reúna todas as partes interessadas. Forme uma comissão, que pode ser
constituída por moradores, gestores de recursos, guias, operadores
comerciais, proprietários de pousadas, funcionários ligados ao parque e
vendedores locais.

Use as diretrizes de outras áreas como modelo.

Estipule objetivos e formule uma maneira de avaliar se eles foram


alcançados (ex.: diminuição do maltrato aos animais e da erosão de trilhas).
68 ecoturismo

Elabore o documento e encaminhe-o, quantas vezes for necessário, aos


especialistas técnicos para revisão e crítica.

Crie um plano de distribuição do documento.

dicas sobre o estilo

As diretrizes têm por objetivo solicitar cooperação. Elas devem ser


redigidas com habilidade, levando em consideração a maneira como o leitor
as interpretará e utilizará. Escreva em tom amigável e evite linguagem
técnica, que o leitor pode ter dificuldade em compreender. Se as diretrizes
são fáceis de ler e estão escritas em um estilo que predispõe o viajante a
cooperar, o tempo gasto em sua elaboração será mais do que compensado.
Fazemos as seguintes sugestões quanto ao estilo da redação:
Seja claro: dê todas as explicações e ilustre as conseqüências com
exemplos.

Seja positivo: evite uma linguagem proibitiva. Estimule o comportamento


responsável.

Use desenhos e figuras para ajudar a explicar as conseqüências.

Traduza as diretrizes para o maior número possível de línguas.

Imprima em papel reciclado, se possível.

As diretrizes devem ser complementadas com sugestões sobre os melhores


locais e formas de observar a vida selvagem, com orientações sobre
segurança e com uma lista de contatos para maiores informações. Pedidos de
doações também podem ser incluídos.

O nome, o endereço e o telefone dos responsáveis pelas diretrizes devem


estar claramente impressos.

A possibilidade de formulação de um questionário, para os


visitantes, sobre a eficácia das diretrizes deve ser considerada.
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 69

pontos para revisão das diretrizes

Ao elaborar as diretrizes, leve em consideração os aspectos ecológicos,


sociais e econômicos, listados abaixo.
Os interesses ecológicos são a espinha dorsal do programa de diretrizes
que, geralmente, são elaboradas por especialistas em recursos naturais, com
experiência em impacto do turismo sobre os ecossistemas locais.

Tratamento do lixo Locais de observação e fotografia


Tratamento dos dejetos humanos Alimentação e contato com os
animais
Coleta de lenha para fogueira e Cuidados com animais de
autonomia de combustível estimação
Localização das fogueiras nos Proteção dos mananciais de água
acampamentos
Identificação de lugares para Níveis de ruído das pessoas
acampamento acampadas, dos veículos e dos
rádios
Comportamento nas trilhas, nas Impacto visual dos visitantes sobre
estradas e na água outros visitantes
Proteção das espécies em risco de Tamanho do grupo
extinção
Distâncias adequadas para a vida Coleta de souvenirs naturais
selvagem
Compra de souvenirs naturais
Leis do comércio internacional

As comunidades locais são as mais indicadas para criar diretrizes


sociais. Se isso não for possível, a entidade responsável pelas diretrizes
deveria solicitar ampla colaboração de líderes locais.

Costumes e tradições locais Vestuário


Crenças religiosas Linguagem
Permissão para fotografias e outras Invasão de privacidade
concessões sociais
70 ecoturismo

Comportamento em relação à Direitos dos índios


mendicância
Cumprimento de promessas Autoridades locais
Uso e abuso de dispositivos Áreas tora dos limites
tecnológicos
Permutas e barganhas Bebidas alcoólicas
Fumo
Gorjetas

As diretrizes econômicas são um componente importante das questões


sociais. À medida que o ecoturismo se desenvolve, os ecoturistas estão
sendo solicitados a reconhecer não só seu impacto sobre o meio ambiente e
a cultura, mas também sobre as economias estrangeiras. Portanto, é
importante considerar a integração de sugestões sobre a seleção dos bens e
serviços que os turistas compram. O objetivo, em todos os casos, será
reduzir o escoamento da renda do turismo para fora da região, e garantir o
máximo de retorno financeiro para as comunidades locais e áreas
protegidas. Como as diretrizes econômicas são um conceito novo, pode ser
que seja necessário explicar, nas diretrizes, como a renda proveniente do
turismo pode constituir uma alternativa econômica sustentável para a
população local, que, de outra forma, precisaria recorrer ao uso
insustentável dos recursos para sobreviver. Diretrizes relativas à economia
local incluem:

Compra de produtos locais Uso de restaurantes e alojamentos


de propriedade local
Pagamento de serviços e de Comportamento adequado em
ingressos retenção às gorjetas
Doações para entidades locais sem
fins lucrativos

fundos e agências financiadoras

Órgãos nacionais e regionais podem promover programas de diretrizes


com baixo custo, utilizando o tempo da equipe para o
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 71

projeto. Órgãos públicos podem estimular grupos locais a conceberem e


adotarem seus próprios documentos, com a destinação de uma pequena
verba para contratar um mediador para as reuniões, ou para ajudar no
projeto e na publicação de um folheto.
Operadores internacionais têm demonstrado disposição para ajudar
seus parceiros locais a redigirem diretrizes, incluindo operadores
domésticos, administradores de terras públicas e comunidades locais.
Organizações não-governamentais locais e internacionais geralmente
dispõem de fundos para projetos de educação ambiental. Empresas turísticas
interessadas em promover o ecoturismo deveriam ser solicitadas a destinar
fundos para a elaboração, impressão e distribuição das diretrizes locais.

implementando as diretrizes

As diretrizes para os turistas são necessárias em diferentes ocasiões,


durante as férias. Diretrizes específicas são mais adequadas quando estão
disponíveis no local. Se após a leitura das diretrizes o turista puder observar
o impacto do turismo ou constatar a fragilidade da área natural sob proteção,
ficará muito mais claro para ele o que é permitido ou proibido fazer.
É particularmente eficaz complementar as diretrizes escritas com
explicações. O momento ideal para dar as informações é antes da saída para
um passeio de um dia pela região. Guias especializados em turismo de
natureza devem estar bem informados sobre o impacto do turismo. Devem
explicar as diretrizes, dar exemplos de impactos que tenham observado e
estimular perguntas. Durante o passeio, os guias devem saber quando dizer
"não". Nas áreas protegidas, deveria ser estabelecida uma política que
proibisse o pagamento aos guias que permitem maior proximidade com a
vida selvagem. Um fundo especial para os guias e para o seu treinamento
pode ser criado pela administração da área protegida, a fim de desobrigar os
visitantes do
72 ecoturismo

oferecimento de gorjetas altas a determinados guias. Uma política que dê


aos turistas a oportunidade de gratificar os guias, sem recompensar o mau
comportamento, é a ideal.
Grande parte do impacto do turismo pode ser causado por visitantes
desobedientes. Por exemplo, nadadores inexperientes, que mergulham pela
primeira vez na vida, pisarão nas pontas dos corais para ajustar as máscaras
ou para inspirar. Os visitantes deveriam conhecer as conseqüências de um
contato inadvertido com recursos frágeis, antes de se inscreverem para um
passeio. Áreas que não são frágeis deveriam ser reservadas para os
visitantes que precisam aprender como evitar os danos aos recursos.

distribuição

E muito importante que as diretrizes estejam acessíveis aos turistas


durante toda a visita. Algumas formas possíveis de divulgação são:

Manuais de viagem Centros de visitação (folhetos e


sinalização)
Mapas de estradas e caminhos Material escrito na entrada do
parque, cartazes, placas
Brochuras promocionais Quartos de hóspedes
Literatura preparatória elaborada Balcões de vendas de artigos
pelos operadores turísticos esportivos (equipamentos para
Bolsos de poltronas de avião mergulho, pesca, caminhada e
Balcões de aluguel de carro ciclismo)

Em viagens aéreas ou em centros de visitação, os turistas podem


aprender muito com filmes ou vídeos que reforcem as diretrizes escritas. A
mensagem visual ilustra as conseqüências do mau comportamento de uma
maneira muito mais eficaz do que o material escrito.
A publicidade em torno de diretrizes novas pode ser uma forma de
incrementar o processo de distribuição. O operador internacional
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 73

International Expeditions divulgou suas diretrizes nos jornais, numa


campanha formal de mídia. A campanha era dirigida a viajantes
internacionais e agentes de viagem. As diretrizes foram impressas em um
encarte e incorporadas a brochuras. Em alguns casos, recomenda-se o uso
de anúncios por rádio ou televisão. A distribuição de cartazes e folhetos em
reuniões com grupos interessados e o uso de editoriais podem também ser
formas eficazes de divulgar as mensagens.
É importante que os turistas sejam conduzidos até os centros de
visitação ou quiosques onde se encontram as diretrizes. De nada adiantará
se os visitantes não tiverem acesso ao material visual/escrito relativo às
diretrizes, antes de visitarem uma área natural frágil. Esse é um problema
muito comum. Os funcionários da área protegida devem garantir que
motoristas de ônibus e guias conduzam seus clientes aos locais de
informação e, naturalmente, que esses locais estejam bem supridos de
material. Fornecer folhetos de baixo custo a todas as companhias de
transporte particulares que levam os turistas às áreas naturais é outra
maneira de assegurar que eles leiam as diretrizes antes de visitarem as
regiões frágeis.

avaliação

Pouco tem sido feito para avaliar a eficácia das diretrizes. Entretanto, é
possível pedir aos viajantes que já estão retornando, que preencham um
questionário no qual comentem até que ponto sua viagem transcorreu de
acordo com as diretrizes divulgadas.
Se os objetivos das diretrizes foram cuidadosamente definidos e
referem-se a espécies e locais específicos, a eficácia das orientações pode
ser determinada, avaliando-se o nível relevante de impacto do turismo sobre
a espécie ou área selvagem em questão. No caso das diretrizes da
Associação Salve o Manati, da Flórida, as organizações responsáveis pelas
diretrizes registraram que a mortalidade e os danos causados aos manatis
diminuíram significativamente, desde que as
74 ecoturismo

diretrizes foram distribuídas em conjunto com uma ampla campanha junto


ao público.
Se um questionário for impresso no verso das diretrizes, ele pode servir
como importante mecanismo de resposta do consumidor. Esse feedback
pode ser extremamente valioso e fornecer exemplos que podem ser
incorporados a um documento revisado. Distribua várias urnas em locais de
fácil acesso, a fim de que os visitantes depositem seus questionários.
Solicite aos funcionários do parque que recolham os questionários dos
visitantes que estão de saída. Forneça aos funcionários um caderno para que
sejam anotados os comentários verbais que os visitantes fazem ao partir.
Usar as diretrizes como instrumento de feedback pode reverter em grande
benefício para a manutenção do parque, na medida em que permite à
administração perceber os pontos problemáticos de maneira mais ágil. E os
questionários dão aos visitantes a oportunidade gratificante de colaborar
para o controle da conservação.

assistência técnica

Quem está preparado para dar assistência técnica? As seguintes


organizações podem ser bons pontos de referência.

The National Audubon Society (Sociedade Nacional Audubon) tem


filiais por todos os Estados Unidos, América Central e do Sul. Essas
associações locais reúnem cientistas altamente competentes, ornitólogos
amadores e naturalistas, que podem, em muitos casos, fornecer informação
fidedigna sobre o impacto do turismo. A Audubon elabora diretrizes tanto
em nível local como nacional. A National Audubon Society pode colocar à
disposição cópias de sua "Ética de Viagem".

Recreation Equipment, Inc. (REI) pode oferecer um grande número de


seus dois folhetos Diretrizes para o Mínimo Impacto e
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 75

Crianças na Natureza, para qualquer organização ou pessoa que queira


orientar campistas e caminhantes de regiões afastadas.

Wildland Adventures tem diretrizes para empresas que podem ser úteis
para outros operadores de viagem. Além disso, Kurt Kutay, dono da
Wildland Adventures, está envolvido na preparação de diretrizes para
indústrias (operadores de turismo de natureza na América do Norte), em
nome da The Ecotourism Society.

International Institute for Peace through Tourism (Instituto In-


ternacional para a Paz por intermédio do Turismo) está preparando um
questionário com o objetivo de redigir um código de ética para a indústria
do turismo como um todo.

The Ecotourism Society tem, em seus arquivos, diretrizes para as áreas


naturais do mundo todo. Cópias de todas as diretrizes listadas nas páginas
seguintes, sob o título Diretrizes Recomendadas podem ser obtidas,
mediante solicitação, pelo preço da fotocópia e do envio postal. Assistência
para pesquisa sobre diretrizes aplicáveis a áreas ou casos específicos pode
ser obtida por um custo adicional.

U.S. Forest Service (Serviço Florestal dos EUA) tem o programa "Não
Deixe Vestígios". Ele está preparado para fornecer materiais e responder a
perguntas sobre a experiência de campings e caminhadas de mínimo
impacto, no Sistema Florestal Nacional dos EUA. Além de diretrizes
escritas, seu programa oferece treinamento para diversas áreas.

diretrizes existentes

Setenta conjuntos de diretrizes de todas as partes do mundo foram


consultados para a elaboração deste capítulo. Eles foram classificados
segundo o tipo de organização, o público-alvo, os tópicos,
76 ecoturismo

as mensagens e as estratégias. Seis tipos diferentes de organizações


elaboram diretrizes ecoturísticas.

Grupos ecumênicos e religiosos, Governos, por ex., órgãos locais e


por ex., assembléias eclesiásticas nacionais de administração de terras
A indústria do turismo, por ex., Varejistas de equipamentos para
operadores turísticos camping
Organizações ambientais não- Associações de consumidores
govemamentais

Ás organizações ecumênicas e religiosas foram as primeiras a criar


códigos de ética para os turistas. Tais diretrizes visavam a abordar
problemas sociais, como a prostituição infantil. Essa iniciativa contribuiu
para a criação de programas mais abrangentes, que recomendam o respeito
e o zelo pelo meio ambiente natural nos países em desenvolvimento.
A indústria do turismo de natureza, comercial ou sem fins lucrativos,
foi a pioneira no campo da ética de viagem em relação ao meio ambiente.
Suas diretrizes destinam-se a viajantes naturalistas e oferecem princípios,
inspirados no bom senso, sobre o comportamento adequado em regiões
naturais.
Os órgãos estaduais e federais dos Estados Unidos têm chamado a
atenção do visitante para os programas de proteção às espécies em risco de
extinção. Eles têm procurado veicular informação sobre conservação aos
viajantes que visitam áreas públicas. Fiscalização e regulamentos com
multas são parte desses programas.
Varejistas, como o REI (Recreational Equipment, Inc.), têm utilizado
seus catálogos e pontos comerciais para promover a conscientização
ambiental, através da distribuição de diretrizes a seus clientes.
Associações de consumidores "verdes" - como a COOP AMERICA,
por exemplo - fornecem sugestões úteis a seus associados para a escolha de
um roteiro ecológico.
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 77

diretrizes recomendadas

Alista que segue constitui uma seleção representativa de diretrizes bem


redigidas. Todas elas podem ser obtidas por intermédio da The Ecotourism
Society ou diretamente das organizações.

A Code of Ethics for Tourists/Código de Ética para Turistas


(Ecumenical Coalition on Third World Tourism, c/o Center for Res-
ponsible Tourism, P.O. Box 827, San Anselmo, Califórnia 94979, Tel. 415-
258-6594). Esse código de ética é o mais conhecido, o mais difundido, e,
provavelmente, o primeiro a ter sido elaborado; enfatiza os costumes sociais
para o viajante, incluindo regras para pechinchar e vestuário adequado.

Travei Ethic for Environmentally Responsible Travei/Ética de Viagem


para Viagens Ambientalmente Responsáveis (The National Audubon
Society, Travei Program, 950 Third Avenue, New York, New York 10002,
Tel. 212-546-9140).Trata-se das diretrizes mais abrangentes sobre questões
ambientais, sociais e econômicas. O documento incentiva os viajantes,
operadores turísticos e guias a se empenharem em dar apoio à conservação
nos países hospedeiros.

Antarctica Tour Operator and Visitor Guidelines/Diretrizes aos


Visitantes e Operadores Turísticos da Antártida (Society Expedi-tions,
Mountain Travei and Travei Dynamics, contatar Society Ex-peditions, 3131
Elliot Avenue, Suite 700, Seattle, Washington 98121, Tel. 206-285-9400).
Três operadores turísticos elaboraram dois conjuntos de diretrizes, baseadas
no Tratado da Antártida. As diretrizes ao visitante foram adotadas por todos
os operadores turísticos marítimos dos Estados Unidos. As diretrizes aos
operadores turísticos propõem uma melhor organização, a fim de evitar a
visitação excessiva. São oferecidas sugestões úteis para o tratamento do
esgoto e do lixo a bordo.
78 ecoturismo

Gwaii Haanas Code of Conduct/Código de Conduta de Gwaii Haanas


(Charlotte Husband, Box 733, Queen Charlotte City, British Columbia, V0T
1SO, Canada). Essas diretrizes foram elaboradas para e pelos operadores
turísticos comerciais, guias e visitantes, com a finalidade de proteger o
Arquipélago Gwaii Haanas, também conhecido como Reserva do Parque
Nacional de South Moresby. As diretrizes representam um documento
consensual, endossado pelos operadores como código de conduta para
operações comerciais e visitantes. Esse abrangente conjunto de diretrizes
inclui sugestões para a visitação a sítios arqueológicos e culturais, pesca de
peixes e mariscos, e visitação a áreas de ninhos de aves. As diretrizes
também aconselham o emprego de tripulações e guias locais.

Ecotravel Principies and Practices/Princípios e Práticas da


Ecoviagem (Wildland Adventures, 3516 NE 155th Street, Seattle,
Washington 98155, Tel. 206-365-0686). Único documento que expli-
citamente utiliza uma definição de ecoturismo (a definição da The
Ecotourism Society), tais diretrizes ensinam a compreender e respeitar os
complexos ecossistemas a serem visitados, e promovem o interesse pelo
bem-estar da população local.

A Code of Environmental Ethics for Nature Travei/Código de Ética


Ambiental para Viagens à Natureza (Asociación Tsuli Tsuli/ Audubon de
Costa Rica, Apartado 4710-1000, San José, Costa Rica, Tel. 506-40-8775).
Bom exemplo de diretrizes adaptadas para um país tropical, esse código foi
elaborado a partir da ética publicada pela National Audubon Society.

Guidelines for Wildlife Viewing in Southeast Alaska/Diretrizes para a


Observação da Vida Selvagem no Sudeste do Alasca (Alaska Department of
Fish and Game, Division of Wildlife Conservation, Box 240020, Douglas,
Alaska 99824, Tel. 907-465-4265). O documento concentra-se na
observação da vida selvagem de um hábitat costeiro, frio, boreal.
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 79

Guidelines for Protecting Manatees/Diretrizespara a Proteção dos


Manatis (Florida Department of Natural Resources, Save the Manatee Club,
U.S. Fish and Wildlife Service, 100 Eighth Avenue SE, St. Petersburg,
Florida 33701-5095, Tel. 813-896-8626). Elas visam proteger as espécies
em risco de extinção pelo controle da velocidade dos barcos, de
regulamentos para mergulhadores e da divulgação de zonas estaduais e
federais protegidas.

Code of Birding Ethics/Código de Ética para Observadores de Aves


(National Audubon Society-Western Regional Office, 555 Au-dubonPlace,
Sacramento, Califórnia 95825, Tel. 916-481-5332). Esse código oferece
excelentes orientações aos que se dedicam à observação de aves, um tipo
altamente especializado de visitante. Ele ressalta a importância da cortesia
entre os observadores, das técnicas adequadas de identificação e da ética
para fotografias.

Plant Conservation Guidelines: Scientists and Teachers/Diretri-zes


para a Conservação de Plantas: Cientistas e Professores (Plant
Conservation Roundtable, c/o World Wildlife Fund, 1250 24th Street NW,
Washington, D.C. 20037, Tel. 202-293-4800). Especialmente destinadas aos
coletores de plantas, as diretrizes sugerem formas de avaliar a população
antes de colher as plantas.

Ethics for Traveling Outdoorsmen and Researchers/Ética dos


Viajantes Aventureiros e Pesquisadores (Outdoor Ethics Guild, Bruce
Banurski, General Delivery, Bucks Harbor, Maine 14618). Esse documento
destina-se aos coletores/pesquisadores que precisam registrar suas
descobertas para partilhar dados, trabalhar com pesquisadores locais e
fornecer relatórios finais aos países hospedeiros.

"Leave No Trace" Land Ethics/Ética da Terra: "Não Deixe Vestígios"


(U.S. Forest Service, "Leave No Trace" Coordinator, Inter-mountain
Region, Recreation and Lands, Federal Office Building, 324 25th Street,
Ogden, Utah 84401, Tel. 801-625-5250). Trata-se das diretrizes mais
completas sobre viagens por áreas naturais que utili-
80 ecoturismo

zam a ética de comportamento em relação à terra conhecida como "não


deixe nenhum vestígio". Elas incluem orientações únicas sobre como
planejar viagens por regiões naturais e trabalhar com grupos de animais.

Minimum Impact Camping: Techniques for the New Wilderness


Ethic/Acampamento com Mínimo Impacto: Técnicas para a Nova Ética em
Regiões Naturais Desertas (Recreation Equipment, Inc., P.O. Box 88126,
Seattle, Washington 98138, Tel. 206-395-3780). Diretrizes gerais e muito
bem apresentadas para todos os viajantes com espírito de aventura.

Talamanca Guidelines/Diretrizes de Talamanca (Asociación de


Talamanca para Ecoturismo y Conservación (ATEC), Puerto Viejo de
Talamanca, Limón, Costa Rica). Orientações ecoturísticas elaboradas por
uma comunidade local do litoral caribenho. Um dos poucos grupos locais
que expressam suas expectativas sobre os visitantes.

Dance EtiquettelEtiqueta de Dança (The Eight Northern Pue-blos,


Department of Tourism, 1100 St. Francis Drive, Santa Fe, New México
87503). Diretrizes sociais com orientações sobre fotografia, alimentação,
vestuário, artefatos para coleta, costumes locais e comportamento adequado
em cerimônias.

Guidelines for Visitors to Mesa Country/Diretrizes aos Visitantes do


Território Mesa (Office of Public Relations, The Hopi Tribe, P.O. Box 123,
Kykotsmovi, Arizona 86039). O documento foi escrito depois que muitos
visitantes abusaram da hospitalidade dos Hopi. Os visitantes são lembrados
de que são hóspedes e devem respeitar os costumes da população local.

conclusão

As diretrizes são um componente essencial de um plano completo de


gestão ecoturística. Elas deveriam estar sistematicamente afixa-
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 81

das em todo local muito visitado e acompanhar outros instrumentos de


administração do visitante, como pesquisas permanentes sobre o movimento
de visitantes, atividades de interpretação da natureza, cadastramento de
guias, zoneamento e sistemas de patrulhamento.
Uma vez que, para alcançar os objetivos do ecoturismo, é vital
modificar o comportamento do visitante, entidades públicas, privadas e sem
fins lucrativos, associações e comunidades locais estão começando a
determinar seus próprios padrões. Estabelecer um padrão profissional e
procurar as melhores formas de tornar o comportamento dos visitantes mais
adequado é fincar os dois alicerces sobre os quais se construirá um
programa ecoturístico.
É fundamental que as organizações locais, nacionais e internacionais
troquem informações e trabalhem juntas para definir diretrizes. Elas devem
elaborar um conjunto básico de diretrizes que possam ser utilizadas por uma
grande variedade de locais e atividades. Elas devem orientar o
comportamento do visitante numa ampla gama de circunstâncias. Quando o
plano geral de diretrizes estiver completo, novas orientações mais
específicas podem ainda ser formuladas pelos grupos de usuários de
recursos.
Deve-se evitar um controle exagerado do comportamento do turista;
porém, há muitas maneiras de tornar as diretrizes mais eficazes sem
prejudicar o espírito de férias do visitante.
Estimule o espírito de cooperação, usando as diretrizes como uma espécie
de "compromisso moral".

Estimule as associações dos usuários de recursos (por exemplo, clubes de


mergulhadores ou de caminhantes) a adotarem as diretrizes como forma de
aprimorar os princípios éticos da associação e de promover a
responsabilidade pela conservação.

Utilize as diretrizes como parte de campanhas de conscientização


ambiental para ampliar a compreensão sobre viagens ambientais e éticas de
conservação.

Utilize as diretrizes como parte de um currículo para programas de


treinamento de guias.
82 ecoturismo

Use as diretrizes para ajudar os turistas a avaliarem o desempenho


de seus operadores turísticos.

Criar diretrizes para os viajantes é um passo crucial para a elaboração


de um programa ecoturístico. É uma forma positiva e eficaz de incentivar as
pessoas a se conscientizarem de seu próprio comportamento e a
contribuírem para a conservação e para o desenvolvimento sustentável do
turismo no mundo inteiro.

Tabela 2-1. Lista das Diretrizes Ecoturísticas Consultadas


(obtidas por intermédio da The Ecotourism Society)

Obs.: o título da recomendação aparece em primeiro lugar, seguido pela


organização que a elaborou ou publicou.

Operadores turísticos, Negócios, Alojamentos


Gwaii Haanas Code of Conduct/Código de Conduta de Gwaii Haanas:
grupo de guias de recursos, operadores turísticos e visitantes.
Antarctica Tour Operator Guidelines/Diretrizes aos Operadores Turísticos
da Antártida: Society Expeditions, Mountain Travei, Travei Dynamics.
Code of EthicslCódigo de Ética: Oceanic Society Expeditions. Ecotravel
Principies and Practices/Princípios e Práticas da Ecoviagem: Wild-land
Adventures.
Fundamentais of Ecotourism/Fundamentos do Ecoturismo: International
Expeditions, Inc.
Suggested Traveler Environmental Guidelines/Diretrizes Ambientais
Sugeridas ao Visitante: Associação Americana de Agentes de Turismo.
Questionnaire for Ecotourism — Related Business/Questionário sobre
Negócios Relacionados com o Ecoturismo: The New Keys, Costa Rica.

Viajantes Ambientais e Culturais


Travei Ethic for Environmentally Responsible Travel/Etica de viagem para
Viagens Ambientalmente Responsáveis: The National Audubon Society. A
Guide for the Green Tourist/Guia para o Turista "Verde": New England
Governors' Conference, Inc.
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 83

Code of Eco-Tourism/Código de Ecoturismo: Doug and Gail Cheeseman,


Ecology Safaris, Inc.
Code of Ethics for TouristsICódigo de Ética para Turistas: Ecumenical
Coalition on Third World Tourism.
How to Make Yourself Welcome in the South Pacific/Como Se Fazer Bem-
Vindo no Pacífico Sul: Justice in Tourism Network, New Zealand.

Locais e Cenários Específicos


Antarctica Visitor Guidelines/Diretrizes ao Visitante da Antártida: Society
Expeditions.
Guidance for Visitors to the Antarctica/Orientação para os Visitantes da
Antártida: New Zealand Antarctic Research Programme.
Antarctic Traveler's Code for Visitors and Tour CompaniesICódigo de
Viagem à Antártida para Visitantes e Operadores Turísticos: Oceanites,
EUA. Oceans and Islands Visitors' Code/Código dos Visitantes de Oceanos
e Ilhas: Salen Lindblad Cruising, U.S.A.
Guidelines for Wildlife Viewing in Southeast Alaska/Diretrizes para a
Observação da Vida Selvagem no Sudeste do Alasca: Alaska Department of
Fish and Game.
Minimum Impact Code/Código de Mínimo Impacto: Annapurna
Conservation Área Project, Nepal.
To All Hikers of the Inca Trail in the Historic Sanctuary of Machu Picchu/A
Todos os Caminhantes da Trilha Inca no Histórico Santuário de Machu
Picchu: Ministry of Culture, Tourism, Agriculture in Peru.
Galápagos National Park Rules/Regulamentos do Parque Nacional de
Galápagos: Special Expeditions.
Key Largo Reef Etiquette/Regras de Comportamento em Recifes Grandes e
Keeping your Keel off Coral/Como Evitar Tocar as Quilhas nos Corais,
Florida: ambos da The National Oceanic and Atmospheric Administration
(NOAA). Desert Back-Country Ethics/Etica para Regiões Distantes e
Desertas: Organ Pipe Cactus National Monument, Arizona.
Recommendation for Travelers Visiting Natural Areas in
Peru/Recomendações para os Viajantes que Visitam as Áreas Naturais do
Peru: Fundación Peruana para la Conservación de la Naturaleza.
Protect our Coral Reefs/Protejam nossos Recifes de Corais: Reef
Preservation Fund, Belize Audubon Society.
Visitor's Guide to Antarctica/Guia do Visitante da Antártida: Turismo y
Hoteles, Cabo de Hornos, Santiago, Chile.
84 ecoturismo

A Guide to Responsible EcotourismIGuia para o Ecoturismo Responsável:


Asociación Tsuli Tsuli (Audubon) de Costa Rica.

Observadores da Vida Selvagem


Tips on Watching WildlifelDicas para Observar a Vida Selvagem:
Colorado Division of Wildlife.
Manatees (a guide for boating and snorkeling)/Manatis (um guia para
navegadores e mergulhadores') e Guidelines for Protecting
Manatees/Diretrizespara a Proteção dos Manatis: ambos obtidos por
intermédio de Save the Manatee Club, Florida Power and Light Company,
Florida Department of Natural Resources, and the U.S. Fish and Wildlife
Service.
Rules and Guidelines for Approaching Humpback Whales in Hawaiian Wa-
ters/Regulamentos e Diretrizes para a Aproximação da Jubarte nas Águas
do Havaí: Sea Life Park Education Department, Hawaii.
Guide for Viewing Wintering Bald Eagle/Guia para Observar a Águia de
Cabeça Branca (águia-do-mar) : U.S. Forest Service, Oregon Department
of Fish and Wildlife, and the U.S. Bureau of Land Management. The Bears
and You/Os Ursos e Você: Alaska Department of Fish and Game, and the
U.S. Forest Service.
Encountering Marine Mammals in Alaska/Encontrando Mamíferos
Marinhos no Alasca: Alaska Department of Fish and Game.
Code of Birding Ethics - Good Rules for Wildlife Watchers/Código de Ética
para Observadores de Aves -Boas Regras para Observadores da Vida
Selvagem: Sacramento Audubon Society.
Bird-Watching Etiquette — The Need for a Developing a
PhilosophyIRegras de Bom Comportamento para Observadores de Aves —
A Necessidade de Desenvolver uma Filosofia: Richard J. Glinsky and The
National Audubon Society. The Ten Commandments of Birding
Etiquette/Os Dez Mandamentos do Bom Comportamento para a
Observação de Aves: Victor Emmanuel. Guidelines for Viewing
Wildlife/Diretrizes para a Observação da Vida Selvagem: Alaska
Department of Fish and Game and U.S. Forest Service.

Especialistas
Plant Conservation Guidelines: Scientists and Teachers/Diretrizes para a
Conservação de Plantas: Cientistas e Professores: Plant Conservation
Committee, World Wildlife Fund.
Ethics for Traveling Outdoorsmen (researchers) /Ética dos Viajantes
Aventureiros (pesquisadores) e Ethics for Traveling Outdoorsmen (hunters
and fisher-men)IÉtica dos Viajantes Aventureiros (caçadores e
pescadores): ambos obtidos por intermédio de Bruce Bandurski, Outdoor
Ethics Guild.
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 85

The Scientific Codes of Ethics/Código Científico de Ética: Jean Colvin,


Univer-sity of California, Research Expedition Program.

Campistas, Caminhantes, Mochileiros


"Leave No Trace" Land Ethics/Ética da Terra: "Não Deixe Vestígios": U.S.
Forest Service, National Park Service, and Bureau of Land Management.
Minimum Impact Camping — Techniques for the New Wilderness
Ethic/Acam-pamento com Mínimo Impacto — Técnicas para a Nova Ética
em Regiões Naturais Desertas: Recreation Equipment, Inc. (REI).
The Wilderness Ethic, Back-Country Use/ A Ética para Regiões Naturais
Desertas, Uso em Regiões Distantes: Rocky Mountain National Park,
Colorado. Minimum Impact Techniques/Técnicas de Mínimo Impacto:
Weiminuche Wilderness, San Juan National Forest, Colorado.
Hiking with Minimun Impact/Caminhada com Mínimo Impacto: Zion
National Park, Utah.
Minimum Impact Camping and Hiking/Acampamentos e Caminhadas com
Mínimo Impacto: Crater Lake National Park, Oregon.
Back-Country Etiquette, and Grizzly Country - Bear Us in Mind/Regras de
conduta em Regiões Distantes e no Território do Urso Cinzento — Não se
Esqueçam de Nós: Yellowstone National Park, Wyoming. South
MoresbylGwaii Haanas Minimum Impact Camping/Acampando com Mí-
nimo Impacto em Gwaii Haanas e South Moresby: Canadian Park Service.
Wilderness Camping, General Guidelines/Acampamento em Regiões
Naturais Desertas, Diretrizes Gerais: The High Peaks Region.

Planejando e Escolhendo uma Viagem


Guidelines for Planning Travel/Study Experiences, Third World Travei —
Buy Critically, Suggestions for Responsible Travelers Taking a Cruise, and
Respon-sible Traveling — When Planning a Trip or Buying a Package
Tour/Diretrizes para o Planejamento de Experiências de Viagem/Estudo,
Viagens no Terceiro Mundo — Seja Crítico ao Comprar, Sugestões aos
Viajantes Responsáveis que Fazem Cruzeiros e Viajando com
Responsabilidade - Quando Planejar uma Viagem ou Comprar um Pacote
Turístico: todos obtidos por intermédio do The Center for Responsible
Tourism.
How to Support Responsible Tourism - The Ethical Traveler/Como Dar
Apoio ao Turismo Responsável - O Viajante Ético: Co-op America, Travel
Links. How "Green" is your Eco-Tour?/Quão "verde" é seu roteiro
ecológico?: Michael Passoff, Earth Island Institute.
86 ecoturismo

What to Look for in an Ecotourism Outfitter/O que Exigir de um


Equipamento Esportivo Ecoturístico: Kurt Kutay, Wildland Adventures.
Buyer Beware - Entry RefusedlAtenção, Comprador - Entrada Proibida:
World Wildlife Fund, Division of Law Enforcement.

Povos Indígenas, Eventos Culturais, Sítios Arqueológicos


Dance Etiquette, and Courteous Behavior When Visiting Our
Pueblos/Etiqueta
de Dança e Comportamento de Cortesia ao Visitar Nossos Pueblos: Eight
Pueblo Council, New Mexico.
Guidelines for Visitors to Mesa Country/Diretrizes aos Visitantes do
Território Mesa: The Hopi Tribe, Arizona.
Chaco Etiquette/Etiqueta para Chaco: Chaco Culture National Historical
Park.
What is Ecotourism?/O que é Ecoturismo?: Talamanca Association for
EcoTourism and Conservation.
Dos and Don'ts About Belizean Archeology/Como Comportar-se Diante da
Arqueologia Belizenha: The Association for Belizean Archeology.

Empreendedores e Arquitetos
Guidelines for Maya Participation in Ecotourism Planning and Develop-
mentlDiretrizes para a Participação dos Maias no Planejamento e
Desenvolvimento do Ecoturismo: Betty B. Faust, Southern Oregon State
College. Framework for Responsible Design for Ecotourism
Facilities/Diretrizes para o Projeto Responsável de Instalações
Ecoturísticas: David L. Andersen, The Andersen Group Architects, Ltd.
Suggestions for Ecotourism Facilities and Small Development Checklistl
Sugestões para Instalações Ecoturísticas e Lista de Verificação para
Desenvolvimentos de Pequena Escala: Ecotourism Group of San Ignacio,
Cayo District, Belize. Guidelines on Design and Construction for
Sustainable ResoxtDevelopment/Di-retrizes sobre Projeto e Construção do
Resort Objetivando o Desenvolvimento Sustentável: U.S. National Park
Service.
Guidelines for Ecotourism Facilities/Diretrizes para Instalações
Ecoturísticas: Stanley Selengut, Maho Bay Camps, Inc.

Tabela 2-2. Diretrizes-Modelo para Turistas

As setenta diretrizes examinadas oferecem as seguintes sugestões para os


viajantes.
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 87

Impacto Social
Prepare sua viagem com bastante antecedência. Descubra o máximo que
puder sobre as pessoas e o local que você vai visitar. Peça a sua agência de
turismo ou operador turístico que lhe forneça informação detalhada sobre o
país de destino. Essa informação deve estar disponível quando você
comprar a viagem. Vá à biblioteca para obter maiores dados.

Fique bastante tempo em cada lugar. Reserve tempo suficiente para


conhecer e compreender uma área. Evite visitas superficiais. Certifique-se
de que seu roteiro inclui oportunidades de encontrar e interagir com as
pessoas do local. Procure explorar bem uma região, em vez de ficar
borboleteando de um lugar para outro.

Não crie barreiras. Não se limite a seu grupo. Relacione-se com outras
pessoas. Use o transporte e o serviço locais. Seja receptivo, faça perguntas e
procure comunicar-se na língua nativa. Observe, escute e aprenda com os
outros. Aceite as diferenças, siga os costumes locais. A cultura, os
costumes, as crenças religiosas, o estilo de vida e as manifestações artísticas
são diferentes de seu país natal. Aceite-as, respeite-as e compreenda-as.
Procure não ofender seus anfitriões. Seja culturalmente sensível,
principalmente ao tirar fotografias, pechinchar e escolher seu vestuário.
Peça permissão antes de tirar fotos. Lembre-se: o negócio só é bom quando
é bom para as duas partes.

Considere os efeitos de sua visita. Não dê mostras exageradas de riqueza


(por exemplo, dispositivos tecnológicos). Tenha um cuidado especial com
sua linguagem e seus gestos. Não deixe os bons costumes em casa. Não
estimule a mendicância de crianças.

Aja como um embaixador ao voltar a seu país. Compartilhe sua


experiência. Mantenha contato com as pessoas que conheceu. Não faça
promessas que não possa cumprir, como, por exemplo, enviar fotos.
Contribua para os projetos locais e transmita sua experiência a outros
viajantes.

Impacto Ambiental: para Viajantes em Geral


Faça a escolha certa antes de viajar. Seja criterioso ao escolher um
operador turístico. Certifique-se de que ele se rege por princípios
ambientalmente fundamentados. Quando planejar viajar, informe-se sobre
as leis e regulamentos das áreas que pretende visitar e siga-os à risca. Se
você viaja por conta própria, escreva ou telefone solicitando as diretrizes, ou
contate o administrador da área que vai visitar. Leve consigo os
equipamentos adequados.

Deixe apenas suas pegadas; reúna, recolha, leve consigo. Não deixe nada
atrás de si: papéis velhos, lixo, sobras, resíduos, material descartável, restos
de comida ou mesmo pontas de cigarro. Deixe o local tão limpo quanto
estava antes do
88 ecoturismo

impacto humano. Informe-se sobre os regulamentos para desfazer-se de


dejetos humanos. Utilize as áreas reservadas, onde for possível, ou enterre
os dejetos longe das nascentes e cursos d'água. Papéis e material orgânico
podem ser queimados, se não houver perigo de incêndio.

Use os recursos naturais com eficiência. Utilize a energia, a água e outros


recursos com eficiência e de acordo com os hábitos locais. Participe de
programas locais de reciclagem, se existirem. Leve sabonete ou detergente
biodegradável e utilize-os bem longe das nascentes de água. A coleta de
lenha do solo pode ser proibida em áreas secas ou desmatadas. Fogões
portáteis são aconselháveis (evitam incêndios). De forma geral, seja auto-
suficiente no abastecimento de combustível. Não esgote os recursos locais.

Transporte-se por meio de sua própria força muscular. Vá a pé, de


bicicleta, de canoa, ou use o transporte público local, onde for possível.

Impacto Ambiental: para Caminhantes e Campistas


Mantenha-se nas trilhas. Nunca use atalhos. Quando passear pelos campos,
escolha uma trilha e evite pisar na vegetação. O uso freqüente pode
provocar a erosão do terreno ou a destruição da vegetação. Isso ocorre
principalmente em tundras árticas e desertos áridos, mas pode acontecer em
qualquer região. Manter-se na trilha inclui também veículos. Carros, ônibus,
caminhonetes, bicicletas, barcos a motor, canoas e caiaques devem utilizar
as áreas destinadas a transportes, respeitar os limites de velocidade e
orientar-se através de mapas que assinalem as zonas frágeis, tais como as
áreas de vegetação alpina, de tundra e de recifes de corais. Motoristas não
familiarizados com tipos específicos de terrenos devem contratar guias.

Acampe com mínimo impacto, ao pernoitar. Acampe nas áreas indicadas. Se


não houver áreas reservadas para acampamentos, acampe longe dos cursos
d'água. Use os locais previamente determinados para fogueiras. Na praia,
remova e espalhe as cinzas. Evite acomodar grupos grandes em pequenas
áreas de cam-ping. Acampe em grupos pequenos; o ideal é menos de seis
pessoas e nunca mais do que doze. Evite poluição sonora, fale baixo, esteja
consciente de seu impacto sobre os outros usuários. Deixe em casa animais
de estimação ou mantenha-os presos a correntes.

Impacto Ambiental: para Colecionadores/Coletores


Leve apenas fotografias como recordação. Não leve plantas, animais,
conchas, corais, fósseis, artefatos, pedras ou ovos sem permissão.

Introdução de plantas e animais exógenos. A introdução de plantas e


animais exógenos, intencional ou acidental, pode destruir o equilíbrio
ecológico de uma
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 89

região. Algumas regiões são muito cuidadosas com a entrada de plantas


não-na-tivas. Por exemplo, a Nova Zelândia, a Antártida e as Ilhas
Galápagos estão reduzindo a importação de organismos por meio da
verificação cuidadosa da presença de espécies exógenas em viajantes, antes
que eles ingressem no território. Examine as roupas, sapatos e equipamento
de camping para evitar a introdução acidental de fauna e flora exógenas.

Coleta de alimentos. Devem ser levados em conta o tamanho apropriado, os


limites de quantidade e as épocas de colheita. Saiba que pode haver leis
nacionais. Para garantir a preservação dos estoques e recursos, os
operadores comerciais das Ilhas Rainha Carlota (no Código de Conduta de
Gwaii Haanas) especificaram, em suas diretrizes, os regulamentos locais
para pesca e coleta de moluscos e frutos (os regulamentos tratam de
questões como limites de quantidade, proibição de captura e soltura,
manutenção de registros e posse de licença).

Impacto Ambiental: para Fotógrafos e Observadores da Vida Selvagem


Parte da experiência do visitante é observar a vida selvagem. Aprenda a
aproximar-se discretamente e a resistir à tentação de chegar mais perto.
Fotógrafos podem intervir negativamente nas áreas selvagens. Use lentes
telefotográficas -quanto maior o alcance, melhor -, evite usar flash com a
maioria dos mamíferos e nunca atraia animais com comida.

Observe os animais da distância que eles consideram segura; fique à


distância. Todo animal tem uma "distância de fuga", isto é, ele permitirá
que você se aproxime até um determinado ponto, antes de tentar fugir. Os
observadores não devem violar a distância de fuga. As distâncias variam de
acordo com as espécies, os indivíduos e as condições ambientais, e
dependem do meio de transporte utilizado. Aqui estão alguns exemplos de
distâncias, sugeridas nas diretrizes.
Pingüins, pássaros em ninhos, focas comuns: comece a uma distância
de 5 metros.
Morsas, lontras, marsupiais, rebanhos de planícies: mantenha uma dis
tância mínima de 8 metros.
Manatis: 16 metros de um indivíduo ou de um grupo.
Focas da família dos otarídeos: 18 metros.
Baleias: não mais próximo que 90 metros e em velocidade comparável
à delas, aproximando-se não pela frente ou por trás, mas de um ângulo
paralelo.
Jubartes: evite a aproximação deliberada num raio de cerca de 90
metros. Se a embarcação tiver mais de 30 metros de comprimento, evite
aproximar-se a menos de 40 metros. Na presença de baleias e filhotes,
90 ecoturismo

permaneça a uma distância de, pelo menos, 270 metros. Em uma aeronave,
fique a pelo menos 300 metros.
Ursos: o mais longe possível. Evite aproximar-se deles; mantenha grande
distância. Observe com binóculos de grande alcance ou instrumentos óticos
semelhantes.

Aprenda a aproximar-se e afastar-se. Aproxime-se dos animais selvagens


lenta e silenciosamente. Evite movimentos bruscos. Não se esqueça de
afastar-se da mesma forma. Para aproximar-se, você pode ter que rastejar no
chão ou agachar-se.

Aprenda a compreender os sinais que indicam que você está próximo


demais. Conheça o comportamento do animal selvagem que indica que você
está perto demais. O Departamento de Caça e Pesca do Alasca registrou o
comportamento de animais perturbados. Sinais de medo, estado de alerta,
ansiedade, agressão e ataque são descritos para pássaros, mamíferos
terrestres e marinhos, e peixes. Em geral, animais perturbados interrompem
suas atividades regulares, como, por exemplo, a alimentação, e começam a
olhar para os observadores e a adotar posturas agressivas.

Conheça as conseqüências de uma aproximação indevida. Se você se


aproximar demais, lembre-se de que poderá ser responsável pela perda ou
morte de filhotes. Se os pássaros dos ninhos voarem, assustados, os filhotes
e os ovos poderão morrer de calor ou frio excessivo, os predadores poderão
comer a prole e os ovos desprotegidos, e os ninhos poderão ser
abandonados. A agitação pode provocar, nos animais, um gasto
desnecessário de energia.

Familiarize-se com os regulamentos locais. Respeite sempre as áreas de


proteção e nunca ultrapasse os limites. Não entre em regiões sinalizadas
como santuários; as placas de sinalização têm um papel fundamental. O
mapa náutico da Flórida, por exemplo, mostra às embarcações e aos
mergulhadores como proteger o manati, obedecendo às placas de velocidade
e às zonas. Se houver regulamentos ou políticas locais nas áreas que você
está visitando, respeite-os.

Dicas básicas. Permaneça na periferia de agrupamentos de animais. Não


cerque um grupo. Nunca se interponha entre os animais e seus filhotes. Não
isole um indivíduo do grupo. Dê passagem aos animais. Não assuste os
pássaros, fazendo-os abandonar os ninhos. Não tente tocar os animais. Siga
estas regras básicas: mantenha o acampamento limpo, estoque a comida em
uma árvore, acampe longe das trilhas e não alimente os animais.

O que você não deve fazer. É geralmente prejudicial e freqüentemente


perigoso: alimentar com a mão, molestar, perseguir, perturbar, capturar ou
tentar vender animais selvagens ou os produtos derivados de qualquer ser
vivo. Algumas espécies estão protegidas por leis. Os manatis, os mamíferos
marinhos, os corais,
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 91

a flora e a fauna da Antártida, e muitas outras espécies, estão sob a proteção


do Ato das Espécies em Risco de Extinção ou do Ato do Mamífero
Marinho, dos Estados Unidos. A Convenção para o Comércio Internacional
de Espécies Ameaçadas de Extinção (CITES) documentou listas de espécies
proibidas de serem comercializadas. Os regulamentos locais de cada país
visitado devem também ser respeitados. Conheça os regulamentos para
compra e venda legal de animais e plantas. Consulte o folheto Atenção
Comprador para informação sobre a aquisição de troféus, carnes e seres
vivos.

De volta ao lar. Filie-se a organizações ambientais. Envolva-se em


programas de conservação. Mantenha-se atualizado e envie dinheiro a
projetos locais de conservação. Mantenha contato com seus companheiros
de viagem e informe-os das últimas notícias sobre projetos para os quais
vale a pena contribuir. Retribua, o máximo que puder, às autoridades e a
seus anfitriões, por tudo que você recebeu.

Impacto Econômico
Ao escolher um operador turístico, procure saber: O que ele faz com os
lucros? Ele contrata guias locais e usa serviços e provisões locais?
Quando estiver viajando, gaste dinheiro em empreendimentos locais.
Compre artesanato tradicional e itens manufaturados com recursos
renováveis. Não prive as pessoas de suprimentos raros e difíceis de obter.
Não incentive o comércio ilegal comprando produtos feitos com espécies
em risco de extinção. Faça compras, mas evite pechinchar com artesãos a
ponto de tornar seu lucro apenas irrisório.

agradecimentos
As organizações listadas abaixo forneceram informação para este
estudo.

Co-op America, Travel-Links The Ecotourism Society


2100 M Street, NW, Suite 310 Carla Garrison
Washington, D.C. 20063 801 Devon Place
Tel: 202-872-5307 Alexandria, Virgínia 22314
ou 800-424-2667 Tel: 703-549-8979
92 ecoturismo

Department of Fish and Game Recreational Equipment, Inc.


South East Alaska Kathleen Beamer
Division of Wildlife Conservation P.O. Box 88126
Marilyn Sigman Seattle, Washington 98138-0126
Box 240020 Tel: 206-395-3780
Douglas, Alaska 99824-0020
Tel: 907-465-4265

International Expeditions, Inc. Tom U.S. Forest Service


Grasse 1 Environs Park Helena, National "Leave No Trace"
Alabama 35080 Tel: 205-428-1700 Coordinator William L. Thomson
International Institute for Peace Intermountain Region, Recreation
Through Tourism and Lands
Louis J. D'Amore Federal Office Building
3680, Rue de la Montagne, 324 25th Street
Montreal, Quebec, Canada H3E2A8 Ogden, Utah 84401
Tel: 514-281-9956 Tel: 801-625-5250

National Audubon Society, Inc. Wildland Adventures


Margaret Carnwright, Travei Kurt Kutay
Programs 3516 NE 155th
950 Third Avenue Seattle, Washington 98155
New York, New York 10002 Tel: 206-365-0686
Tel: 212-546-9140

National Outdoor Leadership World Wildlife Fund Ecotourism


School Program Officer Elizabeth Boo
Bruce Hampton 1250 Twenty-Fourth Street NW
P.O. Box AA Washington, D.C. 20037 Tel: 202-
Lander, Wyoming 82520 778-9624
Tel: 307-332-6973

A pesquisa realizada para a elaboração deste capítulo contou com o


inestimável apoio de Tod Nielsen, que idealizou e planejou o
desenvolvendo e implementando diretrizes ecoturísticas 93

projeto. Sylvie Blangy é extremamente grata a Nielsen por tê-la recebido no


programa Discovery Tours, do Museu Americano de História Natural, no
período em que ela se encontrava afastada do Departamento de Agricultura,
na França. Megan Epler Wood gostaria de expressar sua gratidão à Vermont
Community Foundation (Fundação da Comunidade de Vermont), pelo
subsídio irrestrito que recebeu e lhe possibilitou a elaboração deste capítulo.
3

a administração do visitante: lições do parque nacional


de Galápagos*

George N. Wallace

* O Arquipélago de Fernando de Noronha, no Brasil, pode ser usado para


algumas analogias com Galápagos, em que pesem diferenças fundamentais
no nível de regulamentação turística. Em Fernando de Noronha,
significativos impactos podem ser sentidos, sem que uma administração
nacional tenha ainda sido implementada em sua totalidade. Também o
Arquipélago de Abrolhos, no litoral da Bahia, poderá em breve enfrentar
problemas similares. (N. do R.T.)
O Parque Nacional de Galápagos, no Equador, não é apenas um parque
- é um patrimônio mundial, uma reserva da biosfera, e, hoje, uma reserva
marinha. Geologicamente, Galápagos ainda está em processo de evolução,
por meio de intenso vulcanismo, e é a formação geológica mais recente da
Terra. Isolado dos continentes, a adaptação de seus cágados, iguanas,
tentilhões, cactos gigantes, girassóis, cor-vos-marinhos, aves oceânicas e de
sua variada flora e fauna revela, como em nenhum outro lugar do planeta, a
história de nosso passado, e anuncia nosso futuro. É possível que Galápagos
seja o melhor lugar no mundo para estudar a evolução de ecossistemas.
Estar diante de incríveis paisagens marítimas, litorâneas e terrestres, onde a
vida selvagem se desenvolveu praticamente longe do contato humano, é
uma experiência verdadeiramente única, semelhante a estar no mítico jardim
do Éden. O arquipélago consiste em treze ilhas maiores, seis ilhas menores e
quarenta e duas ilhotas e rochedos. Sua área total é de quase 8.000 km2, e as
ilhas que o compõem se espalham ao longo de mais de 45.000 km2 de
oceano.
Diferentemente de muitos parques do Equador e de outras partes da
América Latina, onde há pessoas vivendo legal ou ilegalmente dentro das
áreas protegidas, em Galápagos não é permitido viver dentro do parque, e a
população das ilhas concentra-se nos menos de 4% de terras privadas. Há
muitas viagens, por via aérea, do continente
98 ecoturismo

às ilhas de Santa Cruz e São Cristóvão. As excursões saem do aeroporto de


Baltra, perto de Santa Cruz, ou das duas cidades portuárias mais
importantes, próximas às pistas de pouso por onde os visitantes chegam:
Puerto Ayora (que tem cerca de 6.000 habitantes), em Santa Cruz, ou Puerto
Baquerizo (com cerca de 3.000 habitantes), em São Cristóvão. Atualmente,
os locais de visitação estão restritos a uma modesta porção do arquipélago,
e, assim, a maior parte de Galápagos permanece selvagem e recebe poucos
visitantes. Desde as primeiras viagens comerciais, em 1969, está havendo
um aumento lento e progressivo tanto dos serviços oferecidos como do
número de turistas que chegam a Galápagos, e pôde-se constatar um
crescimento mais acelerado depois que São Cristóvão transformou-se no
segundo maior local de visitação turística. O número de visitantes foi de
7.000 em 1975, de 17.840 em 1985, e de quase 42.000 em 1989 (President's
High Level Comission - Comissão de Alto Nível da Presidência, 1991).
Curiosamente, em 1973, um plano mestre para o parque propôs um máximo
de 12.000 visitantes; em 1981, um relatório da Comissão Presidencial
previu um máximo de 25.000 visitantes.
Durante os primeiros dez anos de visitação, as estratégias iniciais de
administração do parque e a assistência oferecida pela Fundação Charles
Darwin (que mantém uma estação de pesquisa em Santa Cruz) funcionaram
relativamente bem, com um pequeno número de visitantes, e foram sendo
aprimoradas durante a década de 70. Desde então, os problemas econômicos
e a redução do orçamento da Administração do Parque, a crescente pressão
do setor privado, a falta de apoio político para seus administradores e a falta
de liderança, planejamento e monitoramento adequados, combinados com o
aumento do número de visitantes, têm criado sérias inquietações em relação
à sustentabilidade dos recursos do parque e à sua capacidade administrativa.
A imigração e o desenvolvimento urbano nas áreas adjacentes continuam
em ritmo acelerado, acarretando uma série de novos desafios. A introdução
de espécies exógenas continua a ser um sério problema e a política de
concessões deixa muito a desejar. Além disso, acredi-
a administração do visitante 99

ta-se que a qualidade da experiência do visitante está mudando, motivo pelo


qual ela é, hoje, objeto de estudo (Machlis et al., 1990; Wallace, 1991;
Maldonado, 1992).
No Parque Nacional de Galápagos, o roteiro tradicional é o cruzeiro de
barco, com duração de uma semana, a vários locais de visitação. Em meados
da década de 80, o preço das tarifas aéreas nacionais tornou-se mais
acessível e Galápagos recebeu um grande influxo de visitantes equatorianos;
essa situação provocou um aumento correspondente do número de
excursões de um dia, que levam as pessoas das duas cidades portuárias para
viagens curtas e que melhor se adaptam ao orçamento do turista
equatoriano. Para realizar as várias excursões, há hoje cerca de seis iates,
quatro navios (com capacidade para 34 a 90 passageiros), setenta e cinco
lanchas (com capacidade para 8 a 16 passageiros) e dez barcos a vela. Via
de regra, tais empreendimentos são lucrativos e a demanda por licenças para
operar é grande. Nos últimos dez anos, o processo de emissão de licenças
para operar embarcações de turismo comercial tem sido alvo de controvérsia
e de disputas políticas e legais, e está fora do controle daqueles que
realmente administram o parque. Os defensores do parque há muito
argumentam que a capacidade de visitação está sendo desrespeitada e que
novas licenças não deveriam ser emitidas. Os investidores que desejam
obter licenças, contra-argumentam afirmando que não há provas de visitação
excessiva, tendo pedido a vários políticos que interviessem em seu favor.
Apesar de ser recente a criação de técnicas para avaliar e administrar o
impacto do visitante, tais como "Limites Aceitáveis de Mudança" (Stankey
et al., 1985) e "Administração do Impacto do Visitante" (Graefe, Kuss, e
Vaske, 1990), a preocupação do Parque Nacional, durante a última década,
tem sido a de procurar estabelecer alguns limites quanto ao número
aceitável de visitantes. As estimativas sobre a capacidade de visitação têm
sido amplamente debatidas, mas pouco defendidas (Moore, 1992).
100 ecoturismo

Para piorar a situação, as licenças para embarcações turísticas, ou


"cupos", como são chamadas, passam por um processo, sujeito a muitas
manobras e manipulações, que se desenvolve em duas etapas: primeiro, o
requerente obtém permissão da Marinha Mercante (DIG-MER) para
navegar, e, em seguida, solicita permissão ao Ministério da Agricultura
(MAG) para operar. Embora a Administração do Parque integre o
Ministério, raramente é consultada. E, para tornar a situação ainda pior, os
investidores estariam usando a licença da Marinha para obter um
empréstimo para a construção de embarcações turísticas, e estariam então se
valendo do argumento (geralmente com o apoio de políticos) de que seu
investimento seria um fracasso financeiro, se não lhes fosse concedida uma
"patente", ou licença, do MAG, para operar. Quase todos os que utilizam
esse argumento têm obtido licenças.
Embora a Administração do Parque Nacional de Galápagos (SPNG)
disponha de mais recursos do que outros parques do Equador, esses recursos
são ainda muito modestos e limitam o investimento no quadro de
funcionários, treinamento, equipamento e infra-estrutura. A receita gerada
com a cobrança de ingressos de 40 dólares pagos por turistas estrangeiros,
bem como as taxas pagas pelos visitantes equatorianos e pelos operadores
turísticos, ajudam a financiar outras áreas protegidas do Equador. O futuro
do parque depende das cidades portuárias próximas, que requerem, elas
também, um investimento considerável. Como já mencionado, essas cidades
cresceram rapidamente com o aumento de licenças concedidas para
operadores turísticos. Puerto Ayora e Puerto Baquerizo não dispõem de
água potável, tratamento de lixo sólido ou líquido, assistência médica,
planejamento no uso da terra, instalações portuárias para carga e descarga
de combustível e de mercadorias, e outros serviços necessários para atender
a população local e os visitantes e proteger os recursos do parque.
Nos últimos anos, o arquipélago tem sido visto por muitos habitantes
do continente como a "mina de ouro" do Equador, atraindo,
a administração do visitante 101

assim, muitos imigrantes. Antes disso, a população nativa de Galápagos era


muito pequena. O aumento populacional e a distância do continente
exerceram uma pressão enorme sobre a exploração dos recursos materiais
do parque, tais como entulho, areia, pedras e madeira. Os recursos
pesqueiros, antes utilizados basicamente para consumo local, têm sofrido
grande pressão para atender tanto o mercado nacional como o internacional.
Recursos que antes eram intocados (como tubarões e holotúrias)
ultimamente têm sido muito explorados pelos pescadores japoneses para
exportação para Taiwan. A pesca quase descontrolada de lagostas tem sido
imposta pela demanda de exportação para Miami.
Embora a década de 80 e o início dos anos 90 tenham apresentado
questões problemáticas, o parque não está absolutamente ameaçado.
Modificações e melhoramentos estão sendo feitos e muitas instituições estão
auxiliando a fortalecer este grande parque mundial. Em 1991, o presidente
do Equador declarou uma segunda moratória na emissão de novas licenças
para operadores turísticos que desejassem promover excursões de barco, e
formou uma comissão especial multisetorial para criar um plano para o
ecoturismo e para a conservação de Galápagos. O autor deste ensaio
trabalhou como consultor do comitê técnico dessa comissão. Desde então, o
Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas tem oferecido apoio
considerável para a comissão, e o Banco Mundial, através de seu programa
conjunto com o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (Global
Environmental Faci-lity - GEF), mostrou interesse em financiar parte das
medidas apresentadas pela comissão; propostas estão sendo elaboradas
(McFarland et al., 1991). Os próximos anos deverão assistir à
implementação de uma melhor coordenação entre as entidades envolvidas.
Já está havendo uma melhor administração no próprio parque.
Embora este capítulo tenha sido escrito antes da conclusão de nossa
atual pesquisa em Galápagos, ele se baseia na experiência do autor com o
parque e em seu contato, de vários anos, com a equipe da
102 ecoturismo
Fundação Charles Darwin, e assume um enfoque do tipo "lições
aprendidas", que é, de modo geral, otimista.

a política de concessões e a administração do visitante ontem


e hoje
Vários aspectos marcantes têm caracterizado a administração do
visitante no Parque Nacional de Galápagos. Em primeiro lugar, a
Administração do Parque, com o auxílio da Fundação Charles Darwin (a
mais importante organização não-governamental de Galápagos), tem
treinado e formado guias turísticos encarregados de acompanhar todas as
excursões. Uma vez que as viagens são feitas principalmente de barco, que
fornece cama e comida a bordo, a necessidade de infra-estrutura nas ilhas
mais distantes diminui consideravelmente. Embora muitos impactos sobre a
terra sejam reduzidos, esse sistema sem dúvida cria impactos sobre baías e
portos. Uma característica típica dos locais de visitação é que suas trilhas
são curtas e bem demarcadas e os visitantes são instruídos a permanecer
sempre nelas. Tais medidas têm tido relativo sucesso no controle de muitos
impactos biofísicos nos cerca de cinqüenta e nove locais oficiais de
visitação. Além disso, algumas ilhas que não têm espécies exógenas são
expressamente excluídas de excursões de barco. É preciso salientar que
alguns usuários do parque não são turistas, mas descendentes de antigos
imigrantes (uma mescla de agricultores pioneiros, prisioneiros e outros
aventureiros que chegaram depois de 1832), que há muito tempo vivem em
Galápagos. Cientistas também habitaram as ilhas por algum tempo e foram
responsáveis pela criação do parque e pela proposta de muitas políticas e
atividades de gestão.
As conseqüências de utilizar guias e terceiros para administrar a
visitação são difíceis de avaliar. Por um lado, é um sistema inovador, e
reduz parte da necessidade de criar infra-estrutura para receber o visitante
(roteiros interpretativos, sinalização, licenças, materiais edu-
a administração do visitante 103

cativos e outros). Por outro lado, a tendência dos últimos anos tem sido a de
reduzir a presença dos funcionários do parque, cujo número, conforme o
visitante pode constatar, é cada vez menor. Embora o patrulhamento fosse
comum na década de 70, alguns guias e capitães de embarcações
comentaram que durante cinco anos - de 1986 a 1991 - não viram um só
guarda-florestal patrulhando as áreas mais afastadas do parque. As
prioridades mudaram, e o parque não dispõe de funcionários, barcos ou
combustível para fazer as patrulhas. Além da função de receber as taxas nos
aeroportos e de fornecer assistência à Estação de Pesquisa Charles Darwin
em seu centro de visitantes e em suas unidades de reprodução de cágados e
iguanas, os guardas-flores-tais têm um papel muito reduzido no contato com
os visitantes ou nas atividades de administração do visitante no próprio
parque.
Nas ilhas de Santa Cruz, São Cristóvão, Fernandina e Isabela, onde há
potencial para uma série de atividades terrestres, típicas de outros parques
nacionais, poucas áreas de visitação estão sob responsabilidade direta da
Administração do Parque. Áreas de visitação referem-se aqui aos centros de
visitantes administrados pelo parque, às áreas de acampamento, de
piquenique ou de caminhadas, aos centros educacionais ou interpretativos, e
às trilhas em uso. Além disso, quando estão patrulhando o parque, os
guardas-florestais têm mostrado uma evidente falta de interação com os
visitantes. A Estação de Pesquisa Charles Darwin possui um centro de
visitação e atividades interpretativas fora do parque, que os funcionários do
parque freqüentam com certa regularidade.
Devido ao aumento de licenças concedidas, as atividades dos
operadores comerciais são tão numerosas e geraram uma tal rede de
serviços de apoio nas cidades portuárias que o setor privado, embora
dependa do parque para existir, tem hoje vida própria. As atividades
turísticas estão em descompasso com a capacidade de gerenciamento do
parque e da reserva marinha. O rápido crescimento, a diversidade, os
recursos financeiros, a presença marcante e a força política do setor privado
são fatores que fazem com que os administradores do parque
104 ecoturismo

(que não têm uma atuação ou força equivalentes) tenham dificuldade em


planejar e implementar decisões sobre as quotas para os locais, os tamanhos
dos grupos, os níveis aceitáveis de impacto, o zoneamento, os roteiros de
viagem, o treinamento de guias e outros aspectos da administração do
visitante e das concessões.
Embora os guardas-florestais e os administradores de Galápagos sejam
bons, é preciso treinamento; ademais, o pagamento é muito inferior àquele
oferecido pelo setor privado, e a rotatividade de pessoal é grande. Muitos
membros do quadro de funcionários do parque revelaram ao autor deste
capítulo que eles não se sentem "responsáveis" pelo parque ou pelo que
ocorre nas comunidades vizinhas. Entre os fatores que colaboram para
complicar mais a situação estão a grande extensão do parque, a falta de
cooperação entre as agências que fazem estranhos acordos de jurisdição e de
responsabilidades, a escassez de tempo e de recursos, e a frustração de ser
incapaz de controlar o aumento do fluxo de visitantes. Tais problemas
perdurarão, a menos que uma administração à altura seja implantada. Ques-
tões administrativas específicas são descritas a seguir.

alguns problemas atuais

As inspeções dos barcos e dos equipamentos são realizadas de forma


inadequada e alguns operadores não seguem as especificações relativas à
saúde e segurança do visitante, especialmente quando se trata de excursões
de um dia. A responsabilidade pelas inspeções cabe à Marinha e à Comissão
Equatoriana de Turismo (CETUR) e deveria ser partilhada com os
funcionários do parque. Os concessionários que mantêm um alto padrão
acreditam que a Administração do Parque deveria, em conjunto com outros
órgãos, fiscalizar os regulamentos para evitar que a qualidade dos serviços
seja afetada.
A introdução de espécies é uma ameaça constante a Galápagos,
especialmente às ilhas desabitadas, mas também às ilhas habitadas que já
possuem muitas espécies exógenas agressivas, capazes de pôr em
a administração do visitante 105

risco as espécies endêmicas absolutamente singulares do arquipélago, que


evoluíram com tão poucas ameaças desse tipo. Não há quaisquer
procedimentos de quarentena ou instalações para as mercadorias que
chegam, como também não há inspeção dos passageiros. Grande parte do
orçamento da Administração é gasto na tentativa de controlar espécies não-
nativas como ratos, porcos, cabras, gatos e uma variedade de plantas. Há
também um programa de reintrodução das espécies ameaçadas de extinção
em locais onde a presença de espécies exóge-nas foi controlada.
O sistema de treinamento, de classificação e de pagamento dos guias
criou uma divisão entre guias "naturalistas" (que, em geral, são do
continente ou de outros países, e têm melhor nível de instrução e salários
mais altos) e guias "auxiliares" (que geralmente são do local e tendem a ter
um nível de instrução mais baixo e a receber salários menores). O sistema
tornou-se polêmico, politizado e difícil de administrar. Tem havido pressão
política no sentido de contratar guias locais e não dar muita ênfase às suas
habilidades interpretativas, qualificação lingüística e compreensão dos
princípios de administração do parque. A tensão que existe entre os próprios
guias é improdutiva.
O plano administrativo do parque, particularmente o zoneamento e a
estratégia de gestão dos visitantes, tornou-se inadequado em vista do atual
nível de visitação. O plano deve ser atualizado e, mesmo assim, será difícil
implementar mudanças sem a participação ativa dos operadores turísticos e
de outros órgãos (Cifuentes, 1992).
Antes do aumento da emissão de licenças e das excursões diárias,
muitos dos primeiros concessionários (75%) estipulavam itinerários fixos
que possibilitavam a coordenação dos locais de visitação, e ajudavam a
evitar o número excessivo de visitantes. A Administração do Parque,
contudo, não solicitou itinerários fixos de muitos dos novos operadores que
hoje atuam na região. O resultado é que oito dos dez locais mais populares,
próximos às cidades portuárias, estão sofrendo um congestionamento que
vem acompanhado por uma queda corres-
106 ecoturismo

pondente na qualidade da experiência dos visitantes e dos operadores, e por


um possível aumento nos impactos biofísicos. Por outro lado, locais
afastados das cidades portuárias geralmente são muito pouco visitados.
Itinerários e/ou atribuições de zonas devem ser utilizados de forma mais
equilibrada no futuro.
Novos locais de visitação - especialmente os de base terrestre situados
no interior das ilhas maiores, onde um grande número de espécies já foi
introduzido (Santa Cruz, São Cristóvão, Fernandina e a região sul de
Isabela) - podem ser acrescidos à lista tradicionalmente utilizada pelos
concessionários. Até recentemente, a Administração do Parque "não tinha o
hábito" de projetar, construir e administrar as áreas de visitação, nem de
promover a educação para o mínimo impacto - medidas que poderiam ser de
grande utilidade para os visitantes que chegam sem fazer reserva e escolhem
fazer excursões de um dia, ou para aqueles que combinam atividades
comerciais e independentes (26%, Machlis et al., 1990). Um pequeno
número de locais ao norte, na região interiorana próxima aos vulcões de
Isabela e Cerro Azul, e possivelmente de Santiago, poderia ser
gradualmente aberto à visitação para grupos reduzidos, com licenças
especiais, acompanhados por guias, que deveriam utilizar práticas rigorosas
para evitar a introdução ou circulação de espécies exógenas.
Comparadas às experiências dos visitantes nos parques nacionais
americanos ou canadenses, as visitas aos locais turísticos de Galápagos são,
necessariamente, mais homogêneas, e ocorrem nas chamadas "zonas de uso
intensivo", que geralmente não permitem a grupos uma prolongada e
despreocupada permanência, ou que limitam os encontros com outros
grupos. Ademais, nas épocas de pico, as visitas podem parecer apressadas
(Wallace, 1991). O atual zoneamen-to do parque respeita a condição dos
recursos e impõe limites à visitação a ilhas ecologicamente virgens. Ele
também inclui zonas de uso "intensivo e extensivo", mas nunca foi
deliberadamente planejado para oferecer uma gama maior de oportunidades
para o visitante (cenários diversificados e experiências que variam do uso
intensi-
a administração do visitante 107

vo/desenvolvido para o extensivo/primitivo) como ocorre em muitas partes


do mundo. Devido às preocupações com a introdução de espécies, a
"liberdade para passear à vontade" nunca será muito grande; mesmo assim,
o sistema de zoneamento precisa ser aprimorado, bem como as metas de
administração para cada área.
Antes do aumento da visitação e do número de operadores que
realizam viagens de barco, as inadequações do zoneamento não constituíam
um problema porque as excursões podiam, ocasionalmente, encontrar algum
local sem outros visitantes, onde fosse possível apreciar por mais tempo e
tranqüilidade a natureza. Uma vez que os locais mais populares oferecem
aos visitantes o mesmo tipo de experiência, é importante planejar sistemas
de administração com metas específicas (tais como quotas e padrões
adequados aos locais que deliberadamente reservem experiências intensas e
mais singulares). É importante, também, zonear e administrar os locais que
são usados com freqüência pela população da região e do país, cuja ênfase é
a recreação e não a observação e compreensão dos recursos bióticos e
abióticos do parque.
Muitas pessoas que vão trabalhar no Parque Nacional de Galápagos
não compreendem seu valor único de patrimônio mundial, e seu
comportamento tem um impacto sobre o frágil meio ambiente. Isso é válido
também para as tripulações a bordo dos barcos. A Administração não dispõe
de recursos financeiros nem de um quadro completo de funcionários, e, até
recentemente, não estava preparada para desempenhar o novo e importante
papel de informar e educar a população local. A reduzida presença de
guardas-florestais patrulhando áreas próximas às cidades é um outro fator
agravante. Contudo, o fato de os funcionários do parque também residirem
nessas mesmas comunidades pode representar uma possibilidade de
melhoria, se esta for a prioridade.
Nos últimos anos, Galápagos tem recebido um maior número de
visitantes equatorianos, que pagam 75% a menos pelas passagens aéreas do
que os estrangeiros. Observadores detectaram uma diferen-
108 ecoturismo

ça nas motivações, uma vez que alguns equatorianos vão a Galápagos com a
expectativa de desfrutar típicas férias à beira-mar e não estão interessados
em ecoturismo ou turismo voltado à natureza. Para os que estão interessados
na natureza, as excursões diárias são geralmente as mais escolhidas, porém,
por serem mais econômicas, oferecem oportunidades muito menores de
compreender os ecossistemas, a fauna e flora do parque, do que as excursões
mais caras. A Administração colabora muito pouco para - e tem pouco
controle sobre - a imagem do parque que é veiculada no continente e que é
responsável pela expectativa dos visitantes. Embora haja um estudo em
andamento para avaliar as motivações, expectativas e preferências dos
visitantes de Galápagos (Wallace e Wurz, 1992), acredita-se que os turistas
estrangeiros, que têm à sua disposição praias em muitos lugares, vão a
Galápagos principalmente para fazer turismo de natureza, ao passo que os
equatorianos podem viajar por uma série de outros motivos.

razões para otimismo

Como mencionamos anteriormente, a Comissão do Presidente e seu


Comitê Técnico, a Fundação Charles Darwin e a própria Administração do
Parque propuseram atividades a fim de melhorar a situação de Galápagos.
Dada a importância mundial do parque, muitas organizações nacionais e
internacionais parecem interessadas e dispostas a ajudar a financiar as
medidas necessárias. As organizações não-governamentais continuam a dar
apoio e a oferecer recursos ao parque, e inúmeros concessionários já
manifestaram interesse em implantar as mudanças necessárias.
Nos últimos quatro anos, está havendo uma estabilização e um ligeiro
declínio no número de visitantes, o que deve dar aos administradores e
concessionários condições para implementar mudanças. Essa situação
parece ter sido provocada pelo surto regional do cólera, pelas tempestades,
pela agitação política nos países vizinhos (Peru e Colômbia) e por outros
problemas da região (divulgados nas recomen-
a administração do visitante 109

dações aos viajantes do Departamento de Estado dos EUA) e não pela


insatisfação dos visitantes. Na maioria dos casos, Galápagos se apresenta
como uma experiência tão única e maravilhosa que os visitantes podem
passar por situações desconfortáveis e ainda assim revelarem-se satisfeitos
com a viagem [isto é, até que sejam entrevistados a fundo, quando então
fazem sugestões para enriquecer a qualidade da experiência (Machlis, Costa
e Cardenas, 1991)]. Além disso, uma viagem a Galápagos é um
empreendimento caro e logisticamente complexo, uma experiência que, para
a maioria dos visitantes, não se repetirá. Os pesquisadores descrevem a
atitude em relação à experiência como resultado de uma situação que se
presta perfeitamente à racionalização ("É claro que a viagem foi ótima,
depois de todo o dinheiro, tempo e esforço que despendi; e, afinal, trata-se
de Galápagos"). Em resumo, são necessários muitos contratempos para não
se aproveitar uma ida a Galápagos, e a reação do visitante é ainda positiva,
apesar dos vários problemas.
Em breve, os estudos iniciados pelo Comitê Técnico para auxiliar no
aprimoramento do zoneamento e das estratégias de administração do
visitante estarão completos. Uma série de sugestões foi proposta pela
Comissão do Presidente para fomentar a coordenação permanente entre
diversas organizações, tais como a Administração do Parque, a Agência de
Planejamento e Desenvolvimento (INGALA), a Capitania dos Portos e a
Marinha Mercante (DIGMER), a Comissão Equatoriana de Turismo
(CETUR), a Estação Charles Darwin, e outras.

lições práticas aprendidas


O restante deste capítulo será dedicado ao exame das práticas de
administração do visitante, tanto as antigas quanto as vigentes, e à análise
dos problemas atuais e de algumas soluções que parecem estar emergindo
do trabalho de diversas pessoas preocupadas com esse grande parque. Muito
do que está registrado na história do arquipélago
110 ecoturismo

é relevante para a administração de visitantes e concessões ecoturísticas em


outras áreas naturais protegidas. Talvez a lição mais óbvia a ser retirada de
tudo isso é a de que não se deveria permitir que a visitação de um local
ecoturístico ultrapassasse a capacidade administrativa de controlar tais
visitas, sejam elas comerciais ou particulares. Há um relacionamento
simbiótico ideal entre os concessionários e os administradores das áreas
protegidas, que em Galápagos e em outros locais é, com freqüência,
desequilibrado. Em um parque que cobre a extensa área de um arquipélago
como Galápagos, os administradores precisam dos concessionários para
transportar os visitantes e para ajudar a educá-los e a atender às suas
necessidades. Os concessionários, por sua vez, contam com a administração
para assegurar que os recursos naturais que as pessoas desejam ver sejam
administrados de maneira sustentável, e que a qualidade da experiência do
visitante seja mantida. Teoricamente, os administradores devem fornecer as
trilhas, os centros de visitação, o patrulhamento, as inspeções, o material
interpretativo, o zoneamento, o controle de espécies exógenas, e todos os
demais fatores que asseguram que os concessionários tenham um bom
"produto" a oferecer.
Nos países em desenvolvimento, como o Equador, os concessionários
precisam investir na administração da área protegida como parte do custo da
transação comercial. Julgamos que os ecoturistas, cientes do investimento e
da colaboração do concessionário com a administração, pagarão de bom
grado pela experiência (Wallace, 1992; Cronin, 1990; Durst, 1988). Parques
e áreas naturais protegidas e bem administradas sempre serão produtos
vendáveis que proporcionam benefícios para os setores público e privado.
Os concessionários precisam lembrar ainda que os administradores de áreas
protegidas devem levar em conta fatores que não se restringem ao valor
econômico e recreativo da área. Eles têm grande responsabilidade em
proteger bens científicos, históricos, culturais, espirituais, assim como os
meios de subsistência, a biodiversidade, etc. É compreensível que, nos
países em desenvolvimento, os administradores de áreas protegi-
a administração do visitante 111

das - muitas delas recém-designadas - em geral relutem em permitir um


número maior de visitantes, devido ao medo que têm do impacto que pode
ser causado nos recursos da área e à desconfiança em relação à
administração dos visitantes. Os administradores excessivamente protetores,
que não querem permitir a operação dos concessionários, devem lembrar-se
de que, em última análise, as áreas protegidas não sobreviverão sem pessoas
que as conheçam e amem. São os visitantes que fomentam as políticas de
conservação, que propiciam a mão-de-obra e os orçamentos para essas áreas
e que fazem as doações para as organizações não-governamentais, como o
World Wildlife Fund, a Nature Conservancy (Preservação da Natureza), a
Fundação Charles Darwin e muitas outras, que, por sua vez, investem na
administração das áreas protegidas. O equilíbrio precisa ser alcançado.

permissões

Conforme já mencionamos, em todas as áreas deveria haver uma


distinção entre a licença para operar como concessionário (a capacidade
profissional e material de uma empresa de propiciar roteiros de qualidade de
um tipo específico: roteiros marítimos, rafting, mergulho, caminhadas, ou
prover alojamento) e a permissão para operar em uma determinada área.
Cada área possui um conjunto de critérios específicos, que irão determinar
se a permissão de uma concessão facilitará ou dificultará o trabalho do
administrador. Nos países em desenvolvimento, a princípio, pode haver a
necessidade de combinar as licenças e as permissões, mas somente se os
administradores locais, familiarizados com as exigências específicas da
área, tiverem a palavra final sobre o assunto. Se o sistema for claro, os
investidores reconhecerão que devem obter uma permissão total antes de dar
continuidade a qualquer investimento. Ser proprietário de um barco não é
garantia de adequabilidade. Uma vez que a agência esteja convencida de
que um operador realmente a ajudará a alcançar os objetivos do parque ou
da área protegida, ela lhe concede o privilégio
112 ecoturismo

de operar na região, capacitando-o a obter lucros com a utilização dos


recursos públicos que a todos pertencem. Muitos se esquecem de que isso é
realmente um privilégio e não um direito. Os fatores que determinam as
condições para a obtenção de uma permissão para operar são mais
conhecidos pelos administradores e concessionários do que pelo governo,
que não está familiarizado com a área protegida. Alguns desses fatores são:
os solos, o terreno, o clima, as necessidades da população local, as
motivações e experiências preferidas do visitante, o mix desejado de tipos de
visitantes, os objetivos administrativos em relação aos recursos do parque,
as áreas frágeis, e outros.
Se algum dia um processo independente de licenciamento puder
assegurar o estabelecimento de padrões mais gerais e menos específicos ao
local para treinamento, equipamento, seguros, contratos, solvência de uma
empresa e outros pré-requisitos, de forma desvinculada de um local
ecoturístico em particular, será justificável retirar parte da responsabilidade
das mãos dos administradores de áreas protegidas. As associações de classe
desempenham um papel legítimo ao ajudar a estabelecer os padrões para
licenciamento e devem ser incluídas nos conselhos responsáveis pelas
licenças. Em Galápagos, a decisão para a formação de uma comissão
unificada foi tomada recentemente, de modo que o Ministério da
Agricultura, a Administração do Parque, a agência de turismo nacional, a
Marinha Mercante e as associações comerciais possam monitorar os
procedimentos para licenciamento, mas o próprio Parque Nacional de
Galápagos terá muito mais poder sobre a emissão de permissões para
operações em sua área. Novamente, a lição essencial é que, na esfera da
administração de concessões, os administradores da área devem ter o
controle máximo sobre a emissão de permissões.

a presença dos funcionários do parque

Os estudos demonstram que a presença de guardas-florestais


uniformizados - nas entradas do parque, em patrulha, oferecendo
a administração do visitante 113

suporte nos centros de visitantes, a bordo de roteiros marítimos, inter-


pretando e visivelmente administrando os recursos do parque - possui um
impacto positivo sobre os visitantes (Manning, 1986). A presença de um
funcionário público evidencia que o local é de propriedade comum e gera
um sentimento de responsabilidade - nossos filhos poderão desfrutar de
todas as riquezas que estão sendo preservadas. A presença de uma
combinação de voluntários e funcionários do parque, organizações não-
governamentais e concessionários é ainda mais favorável, porque implica
um esforço conjunto. A presença exclusiva de representantes do setor
privado não produz o mesmo efeito.
É de conhecimento geral que as regras, quando não são cumpridas,
podem levar à anarquia e ao desrespeito entre visitantes e concessionários.
Em Galápagos, a extração ilegal de areia e o descuido com a segurança dos
visitantes são bons exemplos de regras que não são completamente
cumpridas. Somente com os funcionários do parque em ronda, ou presentes
de outra maneira, cria-se de fato a sensação da existência de jurisdição
institucional e legal sobre as atividades administrativas. Ainda há uma
grande carência dessa sensação em Galápagos.
A recepção dos visitantes no aeroporto por guardas impecavel-mente
uniformizados que recolhem as taxas é um aspecto positivo, mas ainda não
se está explorando a possibilidade de transmitir uma orientação pelo rádio
do avião, com as boas-vindas oficiais, ou informações sobre o grave
problema da introdução de espécies exógenas. A imagem do guarda-
florestal como uma figura administrativa de autoridade e como fonte de
conhecimento é substituída pela de um coletor de taxas. Há alguns anos, os
guardas-florestais do parque eram realmente designados para acompanhar
cruzeiros e interagiam mais com os visitantes. Alguns problemas que
surgiram naquela época precisam ser solucionados, caso se almeje uma
presença mais marcante para o parque.
Já que muitos visitantes não falam espanhol e muitos guardas-florestais
do parque não falam inglês ou francês, algumas medidas especiais precisam
ser tomadas. Em primeiro lugar, poderia ser exigi-
114 ecoturismo

do que as pessoas em treinamento para guias comerciais (em geral,


bilingües) participassem de um estágio de seis meses no parque, onde
poderiam acompanhar os funcionários da área protegida e, dessa forma,
aumentar seu conhecimento sobre a administração do local, ao mesmo
tempo em que atuariam como intérpretes e modelos de desempenho
lingüístico (MacFarland, 1992). O aproveitamento de estudantes e de
voluntários nesse tipo de função pode ser de grande utilidade e tornou-se
comum em muitos países. Em segundo lugar, todos os guias deveriam atuar
como intérpretes no contato dos turistas com os guardas-florestais, dando
continuidade ao papel desempenhado durante o estágio. Na ausência de um
guia bilingüe, os membros bilingües do grupo deveriam ser encorajados a
fazer a interpretação. Em terceiro lugar, todos os funcionários do parque
deveriam receber treinamento em interpretação e sobre como agir em várias
situações que envolvem os visitantes. O contato com o visitante deveria ser
encorajado. E, por último, além dos contatos informais, deveria haver um
maior número de atividades programadas nas quais os guardas do parque
atuassem como informantes ou intérpretes. Isso pode ser conseguido através
do revezamento dos guardas-florestais ou de designações que os disponham
aos pares com os guias comerciais, de modo a participarem da função
educacional. Os guardas-florestais poderão ser extremamente úteis em
barcos maiores, se os concessionários forem obrigados a desenvolver as
atividades em grupos dispersos e menores, a fim de atender aos novos
padrões de zoneamento. Felizmente, o retorno de guardas-florestais
uniformizados não deve constituir um problema, já que os visitantes têm por
hábito pedir-lhes informações.
As patrulhas são uma parte essencial da vida administrativa de uma
área protegida. Os funcionários de parque devem saber tudo o que acontece
em todas as partes de uma área - desde as remotas até as mais utilizadas.
Para que o cumprimento dos regulamentos seja efetivo, os horários de
patrulhamento devem ser tanto aleatórios quanto programados. A boa
administração das concessões, com regras
a administração do visitante 115

devidamente aplicadas a todos, exige uma presença maciça na área e um


relacionamento cooperativo com os operadores turísticos. Raramente ela é
conquistada se há consentimento para que os operadores turísticos
trabalhem sozinhos, ou permissão para que alguns desrespeitem as regras,
enquanto outros fazem o possível para observá-las. Em Galápagos, os
concessionários têm demonstrado disposição para convidar guardas-
florestais a acompanhar as excursões e são favoráveis à intensificação do
patrulhamento e à monitoria das especificações para permissão. É muito
mais fácil estabelecer esse tipo de relacionamento no início, quando a
operação em uma área protegida ainda é encarada como um privilégio, e não
retroativamente. O novo superintendente do Parque Nacional tornou o
patrulhamento uma prioridade. Ele adquiriu barcos, rádios e outros
equipamentos necessários aos patrulheiros e desenvolveu uma nova
estratégia para o patrulhamento e para a redistribuição das tarefas dos
guardas em todo o arquipélago (Izurieta, 1992).

equilibrando oportunidades comerciais e não-comerciais para visitantes

Jamais deve haver um monopólio do setor privado sobre o movimento


de visitantes. Uma parte do acesso e das atividades deveria ser
proporcionada pelos concessionários e outra parte deveria ser diretamente
fornecida pela área protegida. Este autor tem a opinião de que, para manter
o equilíbrio administrativo, poucos parques deveriam comercializar mais de
50% de suas atividades. A necessidade de guias/equipamentos é mais
evidente em um parque como o de Galápagos, que possui mais de 400
quilômetros de extensão e onde a viagem entre as ilhas é feita por barcos.
Além disso, a existência de ecossistemas frágeis e ameaçados por espécies
exógenas não permite a liberdade de movimento de grupos privados, que
poderiam ser adequados em muitos outros parques. Contudo, até mesmo no
arquipélago de Galápagos, há um grande potencial para o desenvolvimento
116 ecoturismo

de atrações que propiciem aos visitantes atividades como caminhadas,


acampamentos, natação e mergulho em áreas menos frágeis, administradas
pelo parque (as regiões interiores e algumas praias nas ilhas desertas de
Santa Cruz, São Cristóvão, Fernandina, e partes da ilha Isabela, onde as
ameaças aos ecossistemas virgens não são tão sérias).
Nas áreas mencionadas, há também a possibilidade de encorajar o
desenvolvimento de pequenas concessões locais sobre as terras privadas,
localizadas nas proximidades das terras administradas pelo parque. Tais
concessões poderiam diversificar a oferta comercial em favor da população
local, e reduzir algumas das pressões atualmente exercidas pela agricultura
sobre o parque. Tanto as atrações administradas pelo parque quanto as de
iniciativa local seriam alternativas bem-vindas, propiciando um equilíbrio
ao pacote turístico predominante hoje. Essas opções não só reduziriam os
custos para os visitantes domésticos como também criariam uma
diversificação maior de oportunidades de experiência, que poderiam ser
escolhidas por todos os visitantes. É o desenvolvimento de alguns locais de
visitação administrados pelo parque que assegura a presença anteriormente
referida de guardas-florestais como administradores e que pode eliminar
grande parte da pressão sofrida pelos locais cada vez mais congestionados
por visitação turística.
Para que isso aconteça, é necessário um treinamento que inclua
técnicas de administração do visitante, tais como projeto de infra-estrutura,
limites de uso, manutenção e conservação do local, informação ao visitante,
sinalização, monitoramento e patrulhamento. Já que o impacto nos recursos
do parque geralmente é determinado pelo tipo e pelo comportamento dos
visitantes, e não por seu número, uma educação que promova
comportamentos que reduzam os impactos é parte integral daquilo que se
entende por "capacidade administrativa". Ao contrário dos roteiros
comerciais, que requerem grupos grandes para serem economicamente
viáveis, as áreas administradas pelo parque podem atender a grupos
menores, interessados em participar de atividades autodirecionadas que
oferecem experiências mais sin-
a administração do visitante 117

gulares, como a proporcionada por alguns dos barcos menores que visitam
locais distantes e menos freqüentados. Os centros de visitantes e os locais
interpretativos desenvolvidos pelo parque e a mão-de-obra contratada por
ele também são meios importantes para o fornecimento de oportunidades
não-comerciais. Alguns exemplos importantes de meios para equilibrar as
ofertas públicas e comerciais são: trilhas naturais guiadas por guardas-
florestais, por voluntários ou trilhas autoguiadas; áreas destinadas a
palestras para grupos de escolares, moradores da região ou visitantes; e
áreas de piquenique localizadas e projetadas para uso da população local.
Deve ser observado que, quando o parque identifica locais novos e
alternativos para sua administração, os roteiros comerciais podem também
utilizar essas áreas, contanto que os grupos trazidos sejam de tamanho
apropriado e estejam interessados em utilizar técnicas de baixo impacto. As
áreas-piloto, que oferecem oportunidades restritas de acampamento e
caminhada, podem ser utilizadas por indivíduos sem guias, por pequenos
grupos que tenham recebido orientação dos funcionários do parque, ou
ainda por visitantes menos experientes acompanhados por um guia. Uma
praia recreativa tornou-se muito popular entre os visitantes domésticos e os
habitantes da ilha que procuram opções de recreação que não envolvam
viagens mais longas parque adentro. O desenvolvimento cuidadoso desse
tipo de área, criada e consolidada próximo às comunidades da ilha, é um
meio de fazer com que os habitantes prestem maior atenção em outras
atrações que o parque tem a oferecer, alertando-os para a existência de áreas
internas ao parque onde podem sentir-se à vontade, apesar de não serem
turistas. As áreas recreativas de uso intensivo também propiciam uma
oportunidade para que os habitantes do local misturem-se aos visitantes
estrangeiros e aos roteiros guiados, em um contexto de lazer não-comercial.
Além disso, o Parque Nacional de Galápagos em breve estimulará os
proprietários de terras privadas a desenvolverem locais recreativos onde os
visitantes, acompanhados ou não por guias, chegarão por conta própria.
Esses locais serão incluídos como parte de uma
118 ecoturismo

estratégia de administração geral para melhor distribuir o uso. Ao mesmo


tempo em que as áreas administradas pelo parque estão sendo priorizadas,
os funcionários, sob o patrocínio da UNESCO e da Estação Charles Darwin,
estão sendo enviados para estudar em áreas onde a arte da administração do
visitante está mais evoluída.

estabelecendo um zoneamento que auxilie concessionários e


administradores e enriqueça a experiência do visitante

É um fato inquestionável que os administradores de áreas protegidas


precisam encontrar pessoas (turistas, cientistas, educadores, habitantes
locais) que conheçam e amem a área que administram. É o apoio contínuo
dessas pessoas que irá garantir as políticas e os orçamentos necessários à
administração. Uma lição que vem sendo aprendida em Galápagos, assim
como em muitos outros locais que se esforçam por aperfeiçoar a
administração do visitante, é a de que o zoneamento deve ser feito tanto
para proteger os recursos quanto para proporcionar a diversificação das
experiências disponíveis aos visitantes. De forma semelhante, o
monitoramento deveria observar o impacto (positivo e negativo) sobre o
ambiente biofísico e sobre a experiência do visitante (Driver et al., 1987;
Graefe et al., 1990; Stankey et al., 1985).
Além da legislação que determina a proteção de uma área, a seleção
dos objetivos administrativos para qualquer unidade dentro de uma área
protegida baseia-se, em grande parte, em dois aspectos. O primeiro refere-se
às restrições dos recursos de natureza biofísica, tais como tipo de solo,
altitude, precipitação, paisagem ímpar, características do ecossistema,
necessidades da vida selvagem ou outros. O segundo diz respeito à
disponibilidade, ao tipo, à localização e à distribuição das oportunidades de
experiência desejadas pelos visitantes: conhecer um determinado tipo de
vida selvagem ou mergulhar em um recife de corais para observar e
facilmente entender a geologia de uma área. Isso implica uma certa
combinação entre os fatores que
a administração do visitante 119

motivam as pessoas a se dirigirem para um local, a experiência que elas


procuram e o que os administradores podem propiciar, ao mesmo tempo em
que protegem os recursos da área.
Sempre que diferentes tipos de objetivos administrativos forem
considerados adequados para uma determinada porção da área protegida, as
zonas devem ser estabelecidas e administradas pelas características
contextuais que correspondem a esses objetivos administrativos. As
características contextuais de uma determinada zona podem ser descritas em
termos do que é desejável: densidade de visitação, número de encontros
entre visitantes, quantidade de evidências de atividade humana e infra-
estrutura, distância, tipo de viagem, equipamento adequado, grau de
regulamentação ou liberdade do visitante. Todas essas características
correspondem ao nível necessário de proteção de recursos, considerando-se
as restrições biofísicas da área. Os pesquisadores descobriram que alguns
fatores que motivam os visitantes podem ser combinados com
características contextuais particulares, aumentando a probabilidade de
satisfazer o visitante. Em cada zona, as características contextuais devem ser
distintas e possuir integridade própria, de modo a corresponder aos diversos
fatores de motivação do visitante que os estudos quase invariavelmente
revelam (Driver e Brown, 1975, 1978). Onde os sistemas de zoneamento
são ineficazes, as características contextuais perdem sua peculiaridade, em
conseqüência de objetivos administrativos que não estão bem definidos.
Há vários anos as Ilhas Galápagos possuem zonas de uso intensivo, uso
extensivo e uso científico (as últimas, inacessíveis, exceto para alguns
visitantes)*. Nos locais populares da zona intensiva, a

* Nas oficinas de Capacitação em Ecoturismo realizadas em outubro de


1994 na Fazenda Intervales, Capão Bonito, em São Paulo, os consultores
nacionais e internacionais estabeleceram um zoneamento baseado em:
Áreas de Uso Restrito (áreas preservadas, com pouca ou nenhuma
visitação turística)
Áreas de Uso Intensivo (áreas com atrativos ecoturísticos, com
visitação intensa)
Áreas de Recepção (onde se dá a chegada dos visitantes)
Áreas de Serviço (onde se localiza toda a infra-estrutura comercial e de
serviços)
Áreas-Tampão (que separam e protegem áreas de uso restrito, com
visitação limitada)
Ligações e corredores (unindo essas áreas e permitindo a chegada dos
turistas). (N. do R.T.)
120 ecoturismo

oportunidade normal de experiência é um roteiro guiado de duas a três


horas, onde encontros com outros grupos - em barcos grandes e pequenos -
são a norma e excluem a possibilidade de visitas prolongadas ao local. As
áreas recreativas próximas ao porto são classificadas como zonas de uso
intensivo, mas teoricamente podem possuir objetivos administrativos e
características contextuais que diferem dos de outros locais abertos à
visitação, também demarcados como de uso intensivo. As áreas de
zoneamento extensivo são administradas visando a oferecer uma
experiência de densidade menor, mais pura e talvez mais singular, e podem
ser inacessíveis a muitos roteiros que, no entanto, podem desejar ter acesso
a experiências dessa natureza. Outras oportunidades de experiência em
zonas de uso extensivo incluem escaladas em vários vulcões e podem atrair
aqueles que desejam enfrentar desafios físicos, desenvolver atividades ao ar
livre, fazer longas caminhadas ou usufruir de um isolamento maior.
O estabelecimento de objetivos eficientes na administração de
visitantes e as estratégias de zoneamento correspondentes a esses objetivos
exigem a avaliação periódica dos fatores de motivação, das expectativas e
das preferências do visitante em relação às oportunidades de experiência e
às técnicas administrativas. Espera-se que os estudos realizados
recentemente nas Ilhas Galápagos (Wallace e Wurz, 1992) revelem a
necessidade de aprimorar e expandir o atual sistema de zoneamento. A atual
estratégia de zoneamento pode ser simples demais para atender às
necessidades de um número cada vez maior de barcos (o tipo, o tamanho, a
autonomia de distância e as instalações do barco escolhido são aspectos que
afetam a experiência do visitante e pode ser necessário aliá-los à estratégia
de zoneamento), as diversas preferências dos visitantes, os habitantes da
região e o congestionamento nos locais populares de visitação-fatores estes
que se juntam às complexas restrições do ecossistema e dos recursos.
Para ilustrar as necessidades e as possibilidades de zoneamento,
apresentamos alguns tipos de zoneamento hipotéticos, criados espe-
cialmente para as Ilhas Galápagos, e uma descrição detalhada dos
a administração do visitante 121

objetivos administrativos, das oportunidades de experiência e das


características contextuais para duas das zonas.

tipos de zoneamento

Rural. Incluiria todas as áreas adjacentes ao parque, nas quais este


trabalha com proprietários de terras privadas a fim de desenvolver
atividades como os roteiros do canal de lava, em Santa Cruz, ou as trilhas de
equitação e de caminhada, que ocorrem de forma contígua, numa
combinação de terras privadas e terras pertencentes ao parque.

Recreativo/intensivo. Incluiria as áreas de recreação desenvolvidas


nas comunidades locais próximas ao parque (Tortuga Bay), ou os locais
relativos ao parque dentro das comunidades. Esse tipo de zoneamento
poderia incluir os postos dos guardas e os centros de visitantes, a Estação de
Pesquisa da Fundação Charles Darwin, as instalações portuárias ou de
transporte, e outros locais que abrigam o pessoal e as atividades do parque e
são projetados para um grande número de visitantes.

Natural/intensivo. Incluiria os locais de visitação onde a vida


selvagem, o ecossistema, a história cultural ou natural são de grande valor,
mas com restrições moderadas dos recursos. Níveis mais elevados de uso
poderiam ser permitidos (o tamanho do grupo ainda seria específico ao
local, mas tenderia a favorecer grupos maiores) em locais de distâncias
variáveis das cidades portuárias.

Natural/extensivo. Incluiria os locais com vida selvagem, ecos-


sistemas, história cultural ou natural de importante valor, com restrições
mais severas dos recursos (novamente, específicas ao local), limitando o
tamanho dos grupos ou limitando as condições para obtenção de
autorizações, pois se almeja uma experiência mais tranqüila e com um
número menor de encontros, em locais de distâncias variáveis das cidades
portuárias.
122 ecoturismo

Semiprimitivo. Englobaria as áreas desertas ou de praias remotas, em


geral existentes em ilhas maiores desabitadas, localizadas a mais de um
quilômetro e meio de qualquer estrada ou das áreas de desembarque
motorizado na praia. Áreas onde se exige que o transporte seja feito a pé,
por animais ou barcos não motorizados, onde são maiores os riscos e os
desafios enfrentados e as habilidades exigidas. As restrições nos recursos
situam-se entre baixas e moderadas. O número de encontros com outros
visitantes é mantido em níveis baixos e exige-se tanto a licença quanto a
orientação da Administração do Parque ou o acompanhamento de guias
especiais.

Científico/virgem. Englobaria as ilhas ou partes das ilhas onde o valor


do ecossistema é inestimável, com nenhuma ou pouquíssima introdução de
espécies exógenas. Via de regra, são regiões remotas e desertas, com
severas restrições de recursos. Quase sempre, as visitas são extremamente
limitadas; geralmente, mas nem sempre, reservadas aos cientistas. Para que
se possa chegar a essas regiões, é exigida uma autorização antecipada e o
acompanhamento de guias especialmente treinados em técnicas de baixo
impacto. Haveria muitas regulamentações estritas.

A seguir, apresentamos uma descrição mais completa para duas dessas


categorias, ambas novas para Galápagos.

Zona recreativa/intensiva. Objetivos de administração: Criar áreas


administrativas, educacionais e recreativas facilmente acessíveis e próximas
às comunidades localizadas nos "portões de entrada" do parque (os portos),
que acomodam grande número de pessoas, implica fazê-las participar dos
objetivos gerais do parque e de suas qualidades singulares, reduzindo a
probabilidade de atividades inadequadas em quaisquer localidades
destinadas ao turismo de natureza.

Oportunidades de experiência e características contextuais: As


atividades incluem natação, banho de sol, passeios de barco, piqueni-ques,
contemplação de paisagens, contatos com outros visitantes,
a administração do visitante 123

visitas a amostras e exibições educativas, e compras relacionadas ao parque.

Contexto físico: Existem numerosas estradas, trilhas, desembar-


cadouros, cais e outras estruturas no local. Os níveis de ruído são
moderados. A paisagem permite a observação de áreas naturais à distância,
tendo sido altamente modificada e consolidada para acomodar muitos
visitantes. Os centros de visitantes fornecem água, eletricidade e sanitários,
sendo que os últimos também estão disponíveis nas praias.

Contexto social: Tanto a densidade de visitantes quanto o número de


encontros entre eles são altos, e os habitantes locais e os turistas partilham
de uma atmosfera de lazer. O pessoal do parque está muito presente,
oferecendo assistência e vários programas e palestras. No parque, é
oferecido um alto nível de segurança e de conforto, e há ainda uma grande
variedade de oportunidades de hospedagem, alimentação e entretenimento à
disposição dos visitantes.

Contexto administrativo: Quase não existem restrições quanto ao


tamanho dos grupos, mas há outras regulamentações rígidas, incluindo
horário de funcionamento. Há a cobrança de taxas para algumas atividades.
O acesso às áreas de paisagens naturais é restrito por barreiras, a vegetação
é plantada e mantida, e, para garantir a administração eficiente do visitante;
os guardas-florestais do parque fomentam a educação extensiva, fiscalizam
as leis e cooperam com as autoridades locais.

Zona semiprimitiva. Objetivos de administração: Permitir àqueles


visitantes que buscam uma experiência mais autodirigida ou individualizada
(praticando atividades ao ar livre em um contexto natural) o acesso às partes
do parque onde existem muitas riquezas e aspectos naturais, onde as
questões sobre a introdução de espécies exógenas são prementes, mas
podem ser controladas devido à proximidade de postos da guarda-florestal.
Reduzir também a pressão sobre
124 ecoturismo

os locais de visitação da zona natural/intensiva, oferecendo oportunidades


aos visitantes que desejam alternativas para os roteiros tradicionais, feitos
com o auxílio de guias.

Oportunidades de experiência e atividades ligadas às características


contextuais: A caminhada, o acampamento, o uso de caiaque no mar, a
escalada de vulcões, a observação da vida selvagem e o estudo da natureza.
Existem oportunidades para praticar atividades ao ar livre, mas elas impõem
um nível razoável de risco e de desafios e requerem resistência física.

Contexto físico: Trata-se de áreas remotas, geralmente a uma distância


de vários quilômetros dos locais de visitação ou dos corredores de
transporte, situadas em terreno natural e que podem possuir uma certa
mistura de espécies exógenas e endêmicas, mas raríssimas evidências de
atividade humana. Nesse tipo de zona podem-se encontrar montanhas
íngremes, cerrados, campos de lava ou praias remotas.

Contexto social: Os grupos não contarão com mais de cinco pessoas e


todas as trilhas e locais de acampamento terão quotas determinadas, de
modo que não se deverá encontrar mais que dois outros grupos em um
período de dois dias.

Contexto administrativo: As licenças são solicitadas e fornecidas com


base na ordem de chegada. Os itinerários são preparados e os locais para
acampamento são estipulados. O prazo de estadia é de um a dois dias em
qualquer local. As patrulhas de guardas-florestais são regulares, mas seu
contato com os visitantes é opcional e breve. Antes da entrada, os visitantes
assistirão a um vídeo de quinze minutos sobre técnicas de baixo impacto e
sobre os regulamentos da área natural, bem como serão submetidos a uma
verificação para controlar a presença de plantas exógenas e a adequação dos
equipamentos.
Como os exemplos começam a ilustrar, uma vez estabelecidas as zonas
ou "tipos de oportunidades", como às vezes são chamadas, as quotas para o
local (número de pessoas ou barcos por vez) e outras
a administração do visitante 125

regulamentações adequadas para o contexto podem ser fixadas. A


capacidade de suporte (tanto a capacidade biofísica quanto a social), então, é
relativa aos objetivos administrativos de determinada zona, os quais, por sua
vez, baseiam-se em critérios ecológicos e em considerações acerca do
equilíbrio ou da diversificação de oportunidades de experiência fornecidas
aos visitantes em uma área protegida. Se Caleta Tortuga, uma pacata
enseada não muito distante do aeroporto de Baltra, propicia uma situação
ideal para uma experiência contínua e íntima com os mangues, então ela
poderia ser zoneada como uma experiência natural/extensiva, até mesmo
para roteiros diários, que, em geral, incluem apenas locais movimentados.
Uma vez designada dessa forma, ela poderia ter uma quota local de talvez
apenas dois a quatro grupos diários, com um sistema de reserva para manhã
e tarde, a fim de permitir aos visitantes experienciar pelo menos um local,
somente com a presença de seu grupo. Em geral, as experiências em áreas
primitivas ou virgens implicam locais remotos, mas algumas podem se
tornar mais acessíveis através do zoneamento criativo. Para um enfoque
semelhante sobre zoneamento, utilizando terminologia diferente, veja
Cifuentes (1992). Esses tipos de sistemas de zoneamento foram temas de
debate do workshop que foi realizado nas ilhas Galápagos, em fevereiro de
1993.
No arquipélago de Galápagos, é importante que os concessionários
entendam e ajudem a administrar qualquer sistema de zoneamento que seja
desenvolvido. Isso é possível através da participação dessas pessoas no
processo de planejamento, e, posteriormente, verificando-se se as
expectativas do visitante, o tamanho e o comportamento do grupo, os
equipamentos utilizados e as atividades planejadas condizem com aquelas
apropriadas a uma determinada zona ou local. Embora grandes embarcações
continuem chegando ao parque, uma vez que elas entrem em uma zona com
quotas ou restrições locais, poderão desembarcar os visitantes em terra firme
em pequenos grupos, ou em diferentes locais dentro da área, de modo a agir
de forma coerente com os objetivos de administração. Em associação às
espe-
126 ecoturismo

cificações do zoneamento, os itinerários ou os sistemas de reserva terão de


recorrer à distribuição regional dos roteiros, de modo a facilitar sua atuação
de acordo com as quotas locais que podem ser desenvolvidas.
Um princípio administrativo, na maioria das áreas protegidas,
estabelece que o fluxo de visitantes nas zonas não administradas, para
garantir a integridade das características específicas (especialmente o
tamanho do grupo, o número de grupos por vez, duração da estadia,
equipamentos permitidos, etc), tenderá a deslocar-se para locais
desenvolvidos e movimentados, com densidades mais elevadas de pessoas,
maior evidência de atividade humana e acesso mais facilitado. Os
operadores turísticos devem reconhecer que um sistema de zoneamento bem
planejado proporciona qualidade à experiência do visitante, e um número
maior de opções que possibilitam aos fornecedores de equipamentos
adaptarem-se às mudanças do mercado. Para oferecer uma experiência de
qualidade, os roteiros de aventura, por exemplo, dependem essencialmente
de zonas de baixa densidade, remotas e virgens. Em muitas áreas onde não
há zoneamento, em pouco tempo os roteiros ecológicos e de aventura
tornam-se inviáveis devido ao aumento da visitação, e começa-se a procurar
a próxima experiência "inexplorada" em algum outro lugar. Até mesmo os
visitantes que não penetram ou não passam muito tempo nas zonas
primitivas gostam de saber que elas existem (Dixon e Sherman, 1990).
É provável que, em Galápagos, os principais objetivos administrativos
sempre priorizem o sistema de zonas, tais como as hipotéticas zonas
natural/intensiva e natural/extensiva, que oferecem roteiros guiados e trilhas
bem demarcadas que concentram os impactos do visitante. Também é
provável que elas sejam complementadas pelo aumento moderado no
desenvolvimento de áreas recreativas próximas às comunidades e pelo
aumento lento e cuidadoso das oportunidades para algumas experiências
mais primitivas e singulares. Os projetos-piloto deverão demonstrar
claramente a adequação desse tipo de zoneamento para Galápagos. Já que
Galápagos constitui um recurso
a administração do visitante 127

mundial para o estudo da evolução em nível de ecossistema, um número


grande de locais do arquipélago, mais do que seria necessário na maioria
dos parques, continuará inacessível a todos, exceto para um grupo altamente
seletivo de cientistas e de outros visitantes especiais.
Convém lembrar que a gama de oportunidades é um traço inerente à
maioria das estratégias de administração do visitante e ao zoneamento nos
países desenvolvidos (Driver et al., 1988; Stankey et al., 1985 e 1979;
Loomis e Graefe, 1992), mas que está apenas começando a firmar-se em
muitas áreas protegidas e locais ecoturísticos de países em desenvolvimento,
e, portanto, irá enfrentar uma série de modificações. Um excelente conceito
de zoneamento que está sendo utilizado em algumas áreas protegidas de
países em desenvolvimento é o de "zonas de uso do povoado", que
identifica as áreas para caça, pesca, colheita e extração limitada de recursos
(lenha ou areia, por exemplo), tradicionalmente importantes para a
população local, e que são administradas de maneira condizente.

limites aceitáveis de mudança

Como sugerimos, o estabelecimento de um número que indica a


capacidade de suporte para um parque ou área protegida não é de grande
utilidade. O zoneamento eficiente com regulamentações específicas e
adequadas ao local e à zona é muito mais produtivo. O conceito de
capacidade de suporte evoluiu em diversos países desenvolvidos, tornando-
se uma medida mais sofisticada em relação ao que realmente está ocorrendo
nos recursos de um parque ou na experiência do visitante. Sabemos que não
há correlação direta entre o número de visitantes e os impactos negativos
que afetam o solo, a vegetação, a vida selvagem ou as experiências das
outras pessoas. O grau de impacto depende de muitas variáveis que se
somam à quantidade de visitação: o grau de consolidação do local (a
construção de desem-barcadouros, trilhas ou mirantes resistentes à erosão,
por exemplo);
128 ecoturismo

os fatores de motivação e o comportamento dos visitantes*; seus meios de


transporte e formas de acomodação; a eficiência dos guias; o tamanho do
grupo; e variáveis ambientais como o tipo de solo, declive, tipo de
vegetação e estação do ano. Observações sobre lotação e outros impactos
sociais variam de acordo com a zona visitada e com o que os visitantes
esperam nela encontrar. Se forem atingidos limites inaceitáveis de impacto
negativo, será mais razoável monitorar o impacto e efetuar mudanças na
administração do visitante. Um método que possibilita esse controle é o
processo de Limites Aceitáveis de Mudança (LAC), que é descrito a seguir
de forma sucinta.

1. Selecione indicadores para os parâmetros de administração que


mais o preocupam em uma determinada zona ou local. Estes seriam
indicadores diretamente ligados às atividades dos visitantes que podem ser
controladas: erosão do solo, expansão do local, lixo acumulado no leito do
mar onde estão situados os ancoradouros, pressão sobre uma determinada
espécie de vida selvagem (o número de incidentes envolvendo a
agressividade de leões-marinhos em relação aos visitantes em um
determinado local, num período de seis meses, poderia, por exemplo, ser um
indicador). Tais indicadores deveriam ser tanto de natureza biofísica quanto
social. Os indicadores sociais seriam as observações sobre lotação, o
número de encontros diários com outros grupos num local, o número
excessivo de reservas pelos operadores turísticos, o número mensal de
violações das normas de segurança, o número de pessoas que deixam
doações no centro de visitantes e assim por diante. Os indicadores
demonstram de que forma estamos atuando em relação a alguns aspectos
administrativos.

2. Estabeleça, para cada indicador, padrões que determinem alguns


limites aceitáveis de mudança. Alguns impactos são inevitáveis, mas os
administradores devem estar dispostos a explicitar a

* Em especial, o impacto dos visitantes é função do grau de consumo e


conforto que os visitantes demandam. (N. do R.T.)
a administração do visitante 129

quantidade de impacto que aceitarão antes de efetuarem mudanças em seu


modo de administrar. Se, por exemplo, a erosão das trilhas é tão rápida que
torna sua manutenção inviável, se as áreas de observação estão se
ampliando excessivamente, se alguns animais estão mudando seu
comportamento de forma inaceitável, algumas medidas administrativas
devem ser tomadas (redução do tamanho dos grupos, recuo das áreas de
observação, melhor consolidação de alguns locais, ou talvez a redução do
número geral de visitantes). Um padrão aceitável para a agressividade do
leão-marinho poderia ser fixado em até três incidentes mensais durante seis
meses consecutivos ou em algum outro tipo de definição similar,
dependendo da informação mais precisa fornecida por especialistas que
conhecem o comportamento do animal e a incidência normal desse tipo de
agressividade.

3. Monitore as condições e, se os limites aceitáveis forem excedidos,


efetue mudanças administrativas que colocarão as condições sociais ou dos
recursos novamente dentro dos limites. Com freqüência, as condições atuais
já são inaceitáveis e devem ser retificadas. Se a agressividade do leão-
marinho é inaceitável em locais de visitação utilizados de forma intensiva,
pode ser necessário demarcar novas trilhas, solicitar aos visitantes que se
comportem de forma diferente, ou, em casos extremos, mudar o tipo de
oportunidade ou a zona (e, conseqüentemente, reduzir o número de
visitantes). O monitoramento das condições exige que o parque esteja bem
informado sobre as condições existentes, de modo a ser capaz de selecionar
os indicadores e estabelecer padrões para então propor as mudanças.
O processo LAC obriga os administradores a lidar seriamente com os
detalhes administrativos, indo muito além de qualquer cifra ditada pela
capacidade geral de suporte. Ele é um componente importante de um tipo
sofisticado de administração do visitante, capaz de responder racionalmente
dúvidas como aquelas que surgiram nas Ilhas Galápagos em relação à
existência ou não de excesso de visitação, à necessidade ou não de mais
operadores turísticos no "espacio turístico" (esquema de oportunidades de
exploração turística), ou aos riscos
130 ecoturismo

de criação de um local-piloto. Será difícil justificar as razões para mudanças


no tipo ou no número de concessionários, no tamanho dos grupos, nos
meios de transporte e em muitas outras decisões administrativas, se os
gerenciadores da área protegida não desenvolverem (com os
concessionários e outras pessoas) e descreverem objetivos administrativos
que demonstrem especificamente de que forma os locais dentro de um
parque ou reserva, que correspondem àqueles objetivos, estão sofrendo
impacto. A capacidade e os limites não são estáticos. Eles variam de acordo
com as mudanças no quadro de pessoal, com o orçamento, com episódios de
cólera, com alterações nas populações de animais e com os níveis de stress
mais elevados, gerados por tempestades provocadas por El Nino, ou com as
mudanças que ocorrem com o passar do tempo nas expectativas e
preferências dos visitantes. Os concessionários devem ser sensíveis o
bastante para compreender que os administradores podem precisar mudar o
roteiro ou as quotas locais, se limites inaceitáveis forem atingidos. O envol-
vimento dos concessionários no processo de planejamento também é parte
de qualquer planejamento LAC e lhes proporcionará um senso de
propriedade em relação às estratégias de administração do visitante. Para
maiores informações sobre o processo LAC, consulte Stankey et al. (1985).

trilhas

Os elementos-chave na administração de visitantes e de conces-


sionários em Galápagos, ou em qualquer área protegida, são os sistemas de
trilha e os guias, aos quais nos dedicaremos agora. As trilhas são
extremamente importantes em qualquer área protegida e raramente recebem
a atenção que necessitam nas áreas protegidas ou locais ecoturísticos novos
ou em desenvolvimento. Nas Ilhas Galápagos, a maioria das trilhas são
resistentes à erosão e ao alargamento, mas aquelas que não possuem tal
resistência são visivelmente problemáticas. A manutenção e a reconstrução
das trilhas podem consumir uma
a administração do visitante 131

quantia desproporcional do orçamento de uma área. A seleção e o projeto da


rota de uma trilha, se feitos adequadamente, podem evitar a maior parte
desses problemas, porém raramente são feitos no início. A maioria das
trilhas forma-se pelo uso e não por um projeto. Deveria ser solicitada a
participação dos concessionários no projeto e construção de trilhas, para que
eles pudessem partilhar do esforço necessário para demarcar uma boa trilha,
aumentando as responsabilidades relativas às trilhas. Nos EUA, se os
fornecedores de equipamento são os principais usuários, são também, em
geral, responsáveis de alguma forma pela manutenção das trilhas.
Uma das trilhas mais populares de Galápagos é a que sobe de forma
íngreme a montanha em Bartolomé, o cartão-postal mais famoso do parque.
Ela foi demarcada (ou formada) sobre solos arenosos, provavelmente de
modo a evitar os lençóis de lava existentes nas proximidades. Os solos
arenosos, movediços e incontidos, encontram-se com freqüência em declive
íngreme, e os visitantes que procuram areia mais firme, caminhando pelas
laterais da trilha, causaram uma gigantesca marca de erosão que se estende
por vários quilômetros. Se a trilha tivesse sido originalmente traçada através
dos lençóis de lava (que oferecem seu próprio material de trilha), se tivesse
sido utilizado um declive adequado, e se a areia tivesse sido contida
próximo ao cume, ela seria uma trilha quase imperceptível e de fácil
manutenção, oferecendo excelentes oportunidades interpretativas dentro da
rota. Uma nova demarcação, que siga esses critérios, exige a educação dos
visitantes para que se mantenham na trilha dos lençóis de lava, mas, em
termos financeiros, a educação custa menos do que a restauração ou
reconstrução da trilha. Boas trilhas também são a chave para melhorar a
capacidade administrativa em qualquer área. Construída a trilha, o controle
do tamanho dos grupos e a manutenção das estruturas de drenagem são
muito mais importantes do que seu volume de uso. Em Galápagos, grupos
grandes causam os maiores prejuízos às trilhas, que sofrem um alargamento
quando as pessoas aglomeram-se para ouvir o intérprete ou o guia. Os
padrões de largura e de manutenção
132 ecoturismo

também são características contextuais relevantes, que mudam conforme as


zonas (zonas primitivas possuem trilhas mais primitivas em termos de
largura, dificuldade, direções determinadas e níveis de manutenção).

Seleção e treinamento de guias e intérpretes. O sistema dual de guias


naturalistas e auxiliares, utilizado em Galápagos, contribuiu para uma
estrutura de classe de fato e para uma dicotomia econômica que gerou o
atrito entre aqueles que deveriam ser aliados naturais e ter como interesse
comum um lugar tão maravilhoso. Um sistema desse tipo deve ser evitado e
pode ser substituído por guias que partilham uma categoria dentro da qual
diferentes níveis de proficiência são reconhecidos. Por ora, nos países em
desenvolvimento, a promoção deveria ser possível, quer as pessoas possuam
ou não instrução formal. Isso não significa que padrões e testes de conheci-
mento e de capacidade não sejam necessários, ou que a instrução não deva
ser encorajada. Na verdade, bolsas de estudos e outros incentivos estão
sendo utilizados nas ilhas, a fim de estimular os candidatos locais a
procurarem a educação formal, que inclui a aprendizagem de uma segunda e
terceira línguas.
O parque ou a área protegida devem desempenhar um papel central no
treinamento dos guias, já que um forte componente de administração dos
recursos e dos visitantes deve ser incluído para que gerenciadores e
concessionários sejam sócios. Além disso, nas Ilhas Galápagos, os
funcionários do parque devem ter controle sobre o licenciamento dos guias
que operam quase que exclusivamente nesse grande parque. Com os
aprimoramentos do plano administrativo, a própria administração dos
recursos se tornará um tema cada vez mais importante para a interpretação.
Os guias e os guardas-florestais podem misturar-se em alguns momentos de
suas atividades de treinamento ou de seus estágios e, posteriormente,
durante as atividades de interpretação de campo; é crucial promover a idéia
de que há uma missão e um conhecimento em comum. Mas incentivos
devem ser fornecidos para que os guardas-florestais eficientes permaneçam
no
a administração do visitante 133

setor público, visto que há uma considerável pressão econômica para que os
melhores se transfiram para o setor privado e tornem-se guias.
O sistema de guias em Galápagos já possui muitos aspectos positivos e
ajuda a evitar muitos impactos, especialmente sobre a vida selvagem, os
solos e a vegetação próximos aos locais das atrações. Contudo, um fator
imediatamente visível ao observador externo familiarizado com a
interpretação é que os guias tendem a dar ênfase a aspectos restritos de
interpretação e a discorrer abundantemente sobre espécies de aves, répteis e
plantas. É possível que o interesse dos visitantes pelas espécies tenha, com o
passar do tempo, modelado as atitudes dos guias. Pode ser também que essa
atitude resulte dos currículos escolares, que ainda estão centrados em
taxonomias, ou talvez do treinamento de guias, que enfatiza a informação
mas passa superficialmente por demonstrações práticas e exercícios que
abarcam temas menos óbvios dentro das rotinas interpretativas.
A ênfase nas espécies tem contribuído para a idéia, comum entre os
concessionários, de que os melhores locais são aqueles com o maior número
de espécies e de animais, e de que há menos a fazer em outros locais. Isso
significa que os locais ricos em fauna são visitados com freqüência e tendem
a ser mais congestionados, algo que deve ser superado quando um novo
esquema de zoneamento for desenvolvido. As Ilhas Galápagos possuem
muitos outros temas interpretativos - vulcanis-mo, geomorfologia, correntes
oceânicas, climatologia (El Nino), ecossistemas, teoria da evolução,
vulnerabilidade dos organismos endêmicos à invasão de espécies exógenas,
gigantismo, um céu noturno incrível, história cultural, importância para a
ciência - que, se desenvolvidos e utilizados, poderiam transformar muitos
locais em atrações interessantes e estimulantes. Em outras palavras, o
treinamento e a seleção de bons guias e o material interpretativo podem
efetivamente ampliar o número de locais considerados desejáveis pelo
visitante e, por conseguinte, diminuir a pressão nos locais excessivamente
freqüentados - outra lição que poderia ser aplicada a muitas áreas (ver
Parque Nacional de Galápagos, Manual dos Guias para os Locais de
Visitação, 1980).
134 ecoturismo

educação e informação para os empregados da indústria turística e


para as comunidades locais

Em muitas áreas de terras virgens, a população local é solicitada a


renunciar ao uso dos recursos naturais a fim de protegê-los para o público
em geral. Em tais áreas, é grande a obrigação moral de fornecer
compensações e benefícios gerados pela conservação aos habitantes locais,
especialmente aos indígenas ou habitantes antigos (Wallace, 1992). Em
Galápagos, onde apenas uma pequena porcentagem dos habitantes são
nativos e onde as receitas em geral são mais altas do que no restante do
Equador, o aspecto ético dessa questão não tem um peso tão grande, mas
precisa ser considerado. Quando mecanismos de controle de crescimento
estão ausentes (o mercado influi grandemente no planejamento integrado, a
menos que ele seja feito antecipadamente) e as pessoas afluem para uma
área que está progredindo, em pouco tempo essas pessoas passam a integrar
a população local, e decisões devem ser tomadas em favor de seus empregos
e bem-estar - às vezes, à custa da proteção dos recursos. Isso torna a
informação e a educação sobre a importância dos recursos absolutamente
cruciais e, quanto antes forem providenciadas, melhor. A capacidade
administrativa engloba o grau de apoio da população local.
Os políticos costumam valorizar medidas que promovam o bem-estar
local, em detrimento da proteção dos recursos, que foram, na verdade, a
motivação inicial das pessoas. Esse é um dos sintomas mais sérios do
desequilíbrio entre os setores público e privado. Isso torna absolutamente
essencial a participação dos funcionários e dos defensores do parque nos
interesses da comunidade local, e, quanto mais cedo isso ocorrer, melhor.
Algumas estratégias importantes a serem consideradas pelos
administradores são: exposições educativas para a comunidade; informações
nas escolas; viagens de campo; ocasiões especiais para convidar os
habitantes a visitarem o parque; áreas de uso especial para os moradores; a
inclusão de representantes locais no planejamento do
a administração do visitante 135

parque; o treinamento e o emprego dos habitantes como funcionários do


parque, como concessionários ou como guias turísticos; e a solicitação aos
funcionários do parque para que lutem pelos interesses locais. Os
concessionários podem prestar enorme ajuda, oferecendo educação sobre a
conservação a seus empregados. As áreas protegidas deveriam até mesmo
desenvolver e exigir tal treinamento como uma das condições para a
concessão de licenças. Um bom exemplo já está sendo dado pelos
operadores turísticos esclarecidos de Galápagos, cujos empregados -
cozinheiros, tripulantes, mecânicos - podem tirar um, em cada dez dias, para
acompanhar os roteiros guiados em terra firme, desfrutando dos recursos do
parque e juntando-se aos convida dos, enquanto aprendem sobre as
maravilhas do arquipélago. Essa é uma forma simples de envolver a
população local, que passará a valorizar os recursos e deixará de considerá-
los apenas como um modo de ganhar a vida.
Os funcionários do parque devem estar igualmente preocupados com a
saúde, o saneamento, a educação e a recreação nas comunidades portuárias
ou de entrada, e devem trabalhar no sentido de ajudar as comunidades a
atingir sua própria capacidade administrativa, que é inseparável da
administração do parque. O empréstimo de mão-de-obra e de equipamentos
para que as comunidades possam executar tais projetos, em momentos
cruciais, é um bom investimento (Jardel, 1989).

a integração de pesquisadores e organizações não-governamentais na


gestão do turismo em áreas protegidas

Em Galápagos, os cientistas têm desempenhado um papel crucial na


estabilização e na promoção da visitação e da administração da área
protegida. No período compreendido entre 1981 e 1988, as crises econô-
micas do governo equatoriano reduziram drasticamente o orçamento da
Administração dos Parques Nacionais. Contudo, as atividades de proteção e
de visitação tiveram prosseguimento graças à presença da Estação de
Pesquisa da Fundação Charles Darwin e às contribuições provenientes
136 ecoturismo

de grupos internacionais para a conservação e de universidades que foram


estimuladas pela Estação (MacFarland, 1992). As descobertas e atividades
científicas fazem parte dos aspectos pitorescos de Galápagos e elas próprias
são atrações para os visitantes. No arquipélago, os cientistas têm a louvável
atitude de permitir que pequenos grupos de turistas acompanhem e até
ajudem em suas atividades. Os estudantes vêm para as ilhas com o propósito
de trabalhar e de fazer turismo. Estimuladas pela pesquisa, as publicações e
a mídia atingem os países desenvolvidos e incentivam um tipo de visitação
que é compatível com os objetivos dos administradores da área.
Recentemente, as universidades equatorianas e estrangeiras forneceram a
mão-de-obra e a pesquisa necessárias para que os administradores pudessem
solucionar problemas administrativos. O ecoturismo está estreitamente
relacionado com o turismo científico. Cabe aos administradores da área
protegida garantirem que a pesquisa seja relevante para a área em que é
conduzida e gere os produtos e benefícios previstos antes de seu início.
Recentemente, as organizações não-governamentais de âmbito internacional
deixaram de enfatizar a criação e designação de parques e áreas protegidas e
passaram a priorizar sua administração. Elas estão ativamente envolvidas na
gestão de algumas áreas e no treinamento de pessoal para órgãos nacionais e
organizações não-governamentais. Elas são um recurso indispensável em
períodos de cortes de orçamento e durante a formação de novos corpos de
guardas-florestais em organizações administrativas.

conclusão

Nos países em desenvolvimento, ainda são raros os órgãos res-


ponsáveis pela administração de áreas protegidas que têm poder ou recursos
suficientes para enfrentar a variedade de ameaças que rondam essas áreas,
reduzem gradualmente seus recursos naturais e afetam as comunidades
vizinhas. Nesses países, incluindo o Equador,
a administração do visitante 137

devido à dívida externa, à pobreza e aos escassos recursos nacionais, há


uma tendência tanto a contar com os recursos naturais para ajudar a pagar
os débitos externos como a cortar os custos, passando a considerar
organizações não-governamentais (grupos conservacionistas, bem como
empresas de ecoturismo) como co-administradores de terras públicas
(Ashton, 1991; Boo, 1990).
Como foi discutido neste capítulo, as concessões ecoturísticas e as
organizações não-governamentais fornecem, sem dúvida, um complemento
importante para a administração do parque. Contudo, elas não deveriam
suplantar ou substituir os administradores do parque, os guardas-florestais
ou os intérpretes, que são os verdadeiros responsáveis pela gestão das áreas
protegidas. Ninguém está melhor preparado para proporcionar segurança a
longo prazo e administração ecológica e igualitária de áreas protegidas do
que os sistemas estaduais e nacionais — nesse caso, a Administração
Nacional do Parque de Galápagos (Wallace, no prelo; Barborak, 1992;
Cornelius, 1991; Boo, 1990; MacKinnon, et al., 1990; McNeely e Thorsell,
1989). Isso é particularmente verdadeiro no caso das áreas protegidas que
possuem a importância nacional ou internacional de Galápagos. Muitos dos
problemas que o Parque Nacional de Galápagos enfrenta atualmente são
resultado das atividades do setor privado, que avançaram a uma velocidade
que ultrapassou em muito a capacidade administrativa do parque e criaram
um ritmo próprio, difícil de controlar.
Embora bem-intencionados, os empreendimentos turísticos que operam
em áreas nacionais protegidas são comprados e vendidos; as organizações
não-governamentais e os grupos de conservação mudam, perdem seus
financiamentos, fragmentam-se ou são extintos. Os administradores de hoje
são substituídos por outros que podem estar menos interessados na
administração da "confiança pública". Terras virgens como as existentes em
Galápagos são recursos infinitamente preciosos e devem ser as primeiras a
serem protegidas por leis, por instituições públicas e por estratégias
administrativas que atravessem gerações, a despeito de todas as mudanças
políticas e sociais. A maior
138 ecoturismo

parte das operações ecoturísticas nas ilhas só poderá obter ganhos com o
decorrer do tempo, promovendo um desenvolvimento lento e ajudando a
fortalecer a capacidade administrativa do Parque de Galápagos, que será a
base sobre a qual o próprio turismo se apoiará. Por outro lado, os
funcionários do parque devem estar cientes de que a administração não pode
ter sucesso sem a participação e sem o senso de propriedade e de
compromisso partilhado pelos operadores turísticos, pelas organizações
não-governamentais e por outras instituições que operam dentro e nas
proximidades das comunidades do parque.
Esperamos que essa mensagem seja relevante para o relacionamento
entre operadores turísticos e administradores de áreas protegidas em muitos
lugares. O mesmo desequilíbrio existe em vários locais onde o autor deste
artigo já trabalhou. As Ilhas Galápagos já estão à frente de muitas áreas. A
Amazônia, a exemplo de Galápagos, poderia se beneficiar de um ecoturismo
baseado em rios e barcos e de uma estratégia administrativa semelhante, que
poderia levar os visitantes às áreas realmente protegidas e criar uma base
econômica, tanto para os parques quanto para a população local.
Atualmente, muitos roteiros na Amazônia chegam apenas a pousadas na
selva, em trechos de floresta secundária e em terras privadas, e, portanto,
não promovem a proteção a longo prazo de vastos ecossistemas virgens,
que, dessa forma, continuarão vulneráveis às forças econômicas extrativas.
Aqueles que analisam o estudo de caso apresentado neste capítulo deveriam
reconhecer que se trata de uma explanação relativamente simples, feita por
um observador externo, de uma situação dinâmica e complexa. Na época em
que este trabalho for publicado, as coisas terão mudado por lá - velhos
problemas estarão próximos de suas soluções e novos estarão surgindo.
Gostaria de encerrar este capítulo com uma história pessoal. Certo dia,
enquanto trabalhávamos em Galápagos, retornávamos de Fernandina, a
meio caminho de Santa Cruz. Eu estava doente, com disenteria. O capitão
do barco da Administração do Parque convidou-me a sair de minha cabine
para ver quinze ou vinte golfinhos que
a administração do visitante 139

nadavam ao lado do barco e saltavam a alturas incríveis para fora da água.


Paramos o barco, voltei para apanhar minha máscara e as nadadeiras e
decidi juntar-me aos golfinhos - melhor morrer com eles. Desci
aproximadamente dez metros e eles vieram nadando com vigor, desviando-
se e saltando, mas sempre voltando, até que estavam perto o suficiente para
que eu os pudesse tocar. Atordoado, subi para respirar e quando estava
prestes a mergulhar novamente fomos miraculosamente alcançados por
cinco leões-marinhos que pareciam distantes demais da terra para estarem
realmente ali. Lá estávamos, três espécies de grandes mamíferos, dançando
e brincando. Tirei minha luva e um leão-marinho brincalhão tirou-a do meu
alcance enquanto eu tentava reavê-la. Perdi a noção do tempo e do número
de mergulhos, mas minha condição física levou-me a um estado letárgico de
sonho, que me deixava completamente à vontade em um lugar inverossímil,
acompanhado por criaturas maravilhosas. Foi uma experiência riquíssima,
que nem todo o dinheiro do mundo pode comprar.
Vale a pena lutar por áreas protegidas como as Ilhas Galápagos, e elas
merecem a proteção eterna de todas as pessoas, para o próprio bem da
humanidade. É um objetivo atingível, que pode ser estabelecido em muitos
lugares. Que cada um de nós possa retribuir em forma de proteção a
experiência que as maravilhas desses lugares nos oferecem.

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agradecimentos

Nossos agradecimentos aos revisores Kreg Lindberg, Alan Moore,


George Stankey e especialmente a Craig MacFarland, presidente da
Fundação Charles Darwin, e a Miguel Cifuentes, ex-diretor de Galápagos,
por seus valiosos comentários. Gostaríamos ainda de agradecer a ajuda dos
ex e atuais diretores do parque, Miguel Cifuentes, Fausto Cepeda e Arturo
Izurieta, por sua contribuição durante os últimos três anos e pela disposição
em considerar novas abordagens administrativas. Somos gratos ainda à
Fundação Charles Darwin, ao Metropolitan Touring e ao U.S. Forest
Service (Serviço Florestal dos EUA) pelo apoio a esta pesquisa e pelo
trabalho junto à Administração do Parque e aos operadores turísticos
comerciais.
4

questões econômicas na gestão do ecoturismo

Kreg Lindberg e Richard M. Huber Jr.


O ecoturismo é uma indústria extremamente ampla e em
crescimento em muitos países. Uma das principais vantagens do
ecoturismo é a de proporcionar um impulso que favorece tanto a
expansão da conservação quanto o desenvolvimento do turismo.
Sob o aspecto da conservação, o ecoturismo é o benefício que é
mais facilmente vendido e, assim, é com freqüência incorporado
nas decisões sobre o uso da terra. Em termos concretos, a
cobrança de ingressos e de outras taxas associadas ao ecoturismo
pode suplementar os orçamentos governamentais de conservação
existentes, e fornecer incentivos para a conservação por
intermédio do setor privado. Sob o aspecto do desenvolvimento
econômico, o ecoturismo pode gerar oportunidades de emprego
em regiões remotas. Além disso, geralmente acredita-se que o
ecoturismo exige menos investimentos do setor público em infra-
estrutura do que o turismo mais tradicional (embora possa haver
correspondentemente uma quantidade menor de benefícios; resta
ainda fazer uma rigorosa avaliação do investimento exigido para
cada emprego criado ou para cada dólar em reservas cambiais
obtido nos respectivos setores).
Contudo, muitos observadores expressam a preocupação de
que o ecoturismo não atingiu seu potencial enquanto um
instrumento de
146 ecoturismo

conservação ou de desenvolvimento econômico, em parte porque


muitos projetos importantes não conseguem obter financiamento,
em parte porque os países hospedeiros têm ainda que receber o
potencial de receita integral inerente ao ecoturismo, e em parte
porque uma parcela relativamente pequena da receita gerada
reverte diretamente para a conservação e o desenvolvimento
econômico.
Numa tentativa de expandir a contribuição do ecoturismo,
este capítulo descreve, em linhas gerais, as estratégias para:

estipular taxas turísticas;


utilizar o dinheiro arrecadado por meio dessas taxas para
financiar o desenvolvimento do ecoturismo e de estratégias
tradicionais de conservação;
aumentar a contribuição do ecoturismo para o desenvolvimento
econômico de comunidades próximas às áreas onde se
desenvolvem atividades ecoturísticas.

Há uma extraordinária variação entre as localidades, não só


em relação às próprias atrações ecoturísticas, mas também em
relação às condições políticas e econômicas. Por esse motivo, este
capítulo esboça princípios básicos, bem como uma combinação de
estratégias, para alcançar os objetivos econômicos comuns
relativos ao ecoturismo. Cada localidade deve determinar seus
objetivos econômicos e escolher as estratégias de gestão que
melhor atinjam esses objetivos.
A coleta e a utilização de informação básica são,
necessariamente, partes desse processo. O ecoturismo
proporcionará os maiores benefícios e, dessa forma, cumprirá
melhor seus objetivos quando sua gestão estiver bem suprida de
informações. Infelizmente, há poucas coletas e análises de dados
rigorosas. As informações necessárias são discutidas neste
capítulo, pois uma gestão eficiente exigirá a coleta e a utilização
desses dados. Na verdade, essas informações quase sempre serão
cruciais até para justificar, de início, o ecoturismo como uma
alternativa para atividades como o turismo tradicional ou a
extração insustentável de recursos.
questões econômicas na gestão do ecoturismo 147

taxas turísticas: objetivos da receita e estimativa da


demanda

Administradores de muitas áreas naturais têm recorrido às


taxas turísticas como um mecanismo para cobrir os custos de
administração do visitante, bem como os custos de estratégias
tradicionais de conservação ou dos programas de
desenvolvimento da comunidade. Contudo, as oportunidades de
geração de receita proporcionadas pelo ecoturismo ainda não
foram totalmente exploradas (Wells, 1992; Lindberg, 1991).
Este capítulo será dedicado principalmente à determinação
de taxas para visitantes estrangeiros, uma vez que essas decisões
podem ser tomadas com base na estratégia relativamente direta de
maximizar o benefício econômico para o país hospedeiro. Taxas
mais baixas para os residentes no país podem ser justificadas com
base na eficiência econômica e na eqüidade (Lindberg, 1991), mas
freqüentemente tais decisões também incluem considerações
políticas e sociais que fogem ao objetivo deste capítulo. Os
leitores interessados na experiência dos EUA e do Canadá em
relação à fixação de preços para visitação doméstica devem
consultar Aukerman (1990), Walsh (1986) e Ro-senthal et al.
(1984). Childe e Heath (1990) também questionam a validade de
os países em desenvolvimento subsidiarem os visitantes
estrangeiros mediante a cobrança de taxas reduzidas.
Vários países, incluindo o Peru, o Equador e o Quênia,
aumentaram as taxas para estrangeiros enquanto mantiveram taxas
reduzidas para residentes (Olindo, 1991). Essa fixação diferencial
de preços é comum dentro da indústria turística tradicional. Uma
prática comum às empresas aéreas, por exemplo, é cobrar preços
mais altos pelas passagens adquiridas perto da data de embarque,
baseando-se na premissa de que os viajantes estão mais
predispostos a pagar e têm menos opção de escolha. Da mesma
forma, hotéis geralmente reduzem seus preços durante a baixa
temporada em resposta às variações na demanda sazonal.
148 ecoturismo

Na verdade, ao proporcionar opções de turismo a


estrangeiros, os parques e instalações similares precisarão agir
como empresas comerciais. Geralmente, tal comportamento exige
mudanças burocráticas e, às vezes, legais. Ao mesmo tempo, os
parques precisam dar prosseguimento às atividades tradicionais,
como a conservação, e, quando oportuno, proporcionar recreação
subsidiada aos residentes.
A fixação das taxas dependerá, em grande parte, dos
objetivos locais e nacionais. Há dois objetivos possíveis: cobrar
taxas que se equiparem ao custo do fornecimento do serviço
(compensação de custo), ou cobrar taxas que irão gerar o maior
lucro possível (propiciando, desse modo, receita para financiar as
atividades tradicionais de conservação). É possível que haja
objetivos adicionais, que podem modificar ou substituir esses
dois. Por exemplo, as taxas podem manter-se baixas para
incentivar a visitação, aumentando, assim, as oportunidades
econômicas para o comércio relativo ao turismo na região. De
forma alternativa, as taxas poderiam ser elevadas, a fim de
estimular o setor privado a desenvolver as instalações
ecoturísticas que não seriam rentáveis, contanto que as taxas para
destinos públicos fossem mantidas artificialmente baixas.
Independentemente do objetivo, será necessário conhecer a
demanda da atração ecoturística para fixar as taxas. Ou seja,
quantos turistas visitarão a atração e quanto estarão dispostos a
pagar? Métodos que possibilitam a avaliação dessa demanda serão
descritos após a discussão dos objetivos gerenciais. Alguns
exemplos de estudos de caso de fixação de preços com diferentes
objetivos são apresentados depois da seção sobre os métodos.

objetivo de gestão 1: cobertura de custos

Este objetivo tem como interesse central estipular taxas


turísticas de forma que elas gerem receita suficiente para pagar
pelo fornecimento da atração ecoturística. As taxas deveriam, no
mínimo, cobrir os custos de capital (tais como a construção de um
centro de visitantes)
questões econômicas na gestão do ecoturismo 149

e os custos operacionais (tais como a manutenção das instalações,


salários de guias, etc). Teoricamente, elas deveriam ainda cobrir
os custos indiretos, como o custo do dano ecológico e o do
impacto negativo sobre as comunidades locais, embora eles sejam
de difícil mensuração.

objetivo de gestão 2 : maximização de lucros

O enfoque deste objetivo é estipular taxas de modo que elas


gerem o maior lucro possível. A receita gerada pelas taxas deve
ultrapassar os custos do fornecimento da atração turística. Os
lucros (receitas menos custos) podem então ser utilizados para
auxiliar o financiamento de atividades tradicionais de
conservação, opções de recreação subsidiadas para os residentes,
ou outros objetivos do programa. Na prática, quase nunca há
informação suficiente para que se possam determinar os custos
financeiros com precisão, sem falar nos custos ecológicos e
sociais do ecoturismo. Já que, para estabelecer as taxas, os dois
objetivos acima exigem o conhecimento desses custos, uma alta
prioridade deveria ser dada à obtenção de informações precisas
em relação aos custos envolvidos (ver página 178, Alguns
Princípios Gerais para a Política de Taxas Turísticas).
Os gestores que tentam maximizar os lucros deveriam ter em
mente que esse objetivo não é o mesmo que maximizar receitas. A
maximização de receitas geralmente resulta em tentar atrair o
maior número possível de turistas, mas a maximização de lucros
pode ocorrer em níveis mais baixos de visitação, visto que os
custos financeiros, ecológicos e sociais do ecoturismo podem
aumentar mais rapidamente do que as receitas, quando os níveis
de visitação são altos.

outros objetivos de gestão

Do ponto de vista estritamente financeiro do proprietário da


atração, os estrangeiros deveriam ter acesso às oportunidades do
150 ecoturismo

ecoturismo somente se as taxas cobrissem, ao menos, os custos.


Contudo, objetivos adicionais podem levar os proprietários,
particularmente no caso do governo, a propiciar oportunidades
mesmo quando os custos não são cobertos. As taxas podem, por
exemplo, permanecer baixas, a fim de manter altos níveis de
visitação, proporcionando, dessa forma, oportunidades
econômicas ao comércio turístico (entretanto, a perda resultante
da receita gerada pelas taxas deveria ser explicitamente
identificada e justificada). Ou então, as taxas para estrangeiros
podem não ser suficientes para cobrir todos os custos, mas podem
gerar receita suficiente para ajudar a subsidiar a visitação
doméstica.
Os benefícios, tais como a geração de oportunidades de
empregos ou de recreação local, podem ser substanciais. Por
exemplo, Tobias e Mendelsohn (1991) estimaram que o valor da
Reserva de Monteverde, administrada pela iniciativa privada,
como um local de recreação para os moradores da Costa Rica,
variava entre 97.500 e 116.200 dólares anuais.
De modo inverso, as altas taxas podem ser utilizadas não só
para aumentar a receita, mas também para limitar ou dispersar os
visitantes, quando determinados locais tornam-se abarrotados
(Bamford et al., 1988). O Quênia, por exemplo, numa tentativa de
atrair os turistas para locais menos visitados, optou pela cobrança
de taxas mais altas em atrações muito procuradas; obviamente,
essa estratégia exige que atrações similares estejam disponíveis
para visitação (Leakey, 1990; EIU, 1991). Uma estratégia
semelhante foi recomendada ao Nepal (Gurung, 1990, citado em
Wells, 1992). Além disso, a experiência norte-americana sugere
que altas taxas reduzirão a sujeira e o vandalismo em áreas
naturais (Aukerman, 1990).
Essas estratégias dependem implicitamente de um equilíbrio
entre os níveis de preço e de visitação: quando o preço aumenta, o
número de visitantes diminui, e vice-versa. Esse é um princípio
econômico básico, que não deveria ser ignorado; contudo, as
taxas atuais são tão baixas para a maioria das atrações, que
mesmo um
questões econômicas na gestão do ecoturismo 151

aumento substancial provavelmente terá pouco impacto sobre a


demanda, em termos da escolha de um destino. As pesquisas
realizadas com turistas, bem como o próprio comportamento do
turista, sugerem que o preço é um fator relativamente irrelevante
na escolha de um roteiro ecológico, e que, mesmo quando o preço
é um problema, os turistas estão dispostos a pagar altas taxas se
sabem que elas estão sendo utilizadas para enriquecer sua
experiência ou para conservar a área específica que estão
visitando (Lindberg, 1991; Aukerman, 1990; Bovaird, 1984).
Vários parques aumentaram suas taxas sem afetar visivelmente os
níveis de visitantes, e muitos outros podem fazer o mesmo. Na
verdade, se essas receitas forem posteriormente utilizadas para
aperfeiçoar a atração, a demanda provavelmente aumentará.
O preço pode representar um papel mais importante em
termos da escolha das atividades no destino. Por exemplo, um
aumento das taxas de todos os parques do Quênia pode ter um
impacto relativamente pequeno sobre o número de ecoturistas que
para lá se dirigem, mas um aumento equivalente das taxas apenas
dos locais lotados pode encorajar os turistas a irem para locais
menos visitados dentro do próprio Quênia.
A realização de qualquer um desses objetivos de gestão exige
a existência de um número suficiente de turistas dispostos a pagar
taxas altas o bastante para alcançar tais objetivos. Os gestores
deveriam lembrar que a demanda para o ecoturismo pode ser
extremamente imprevisível e dependente de fatores que escapam
ao seu controle. Contudo, os métodos descritos a seguir podem ser
utilizados para estimar essa demanda.

Método 1: avaliação de mercado. O conceito básico


subjacente a este método é o de que uma determinada atração
pode ter uma expectativa de níveis de visitação e uma disposição
para pagar taxas equivalentes às das atrações existentes, que são
similares em atratividade ao consumidor, nos custos de viagem e
em outros fatores de demanda (ver Figura 4-1 para uma relação de
fatores de demanda comuns aos ecoturistas). Este método é básico
para a determinação da
152 ecoturismo

viabilidade de investimentos no setor privado (para uma discussão


da aplicação deste método no campo do turismo, ver Smith,
1989). Contudo, deve-se tomar cuidado ao avaliar como os novos
empreendimentos ampliam a oferta de destinos, exercendo assim
pressão descendente sobre os preços, tanto para novos
empreendimentos quanto para os já existentes. Infelizmente,
pousadas e outras instalações ecoturísticas não partilham
informações sobre os níveis de visitação e de preços, de forma
que se torna difícil estabelecer uma comparação. Ademais, poucos
parques nacionais e outras instalações públicas vêm
historicamente cobrando tais taxas; quando as taxas são cobradas,
raramente baseiam-se em considerações comerciais como o custo
do fornecimento do serviço e a disposição dos consumidores em
pagar pelo serviço. Mesmo as reservas particulares, que geralmen-
te cobram taxas mais altas do que os parques públicos, quase
sempre estipulam taxas baixas, já que os custos são parcialmente
determinados por outros programas, como fundações que
promovem a pesquisa científica (Alderman, 1990).
Ainda que os dados sejam obtidos a partir de
empreendimentos similares, eles devem ser modificados levando
em consideração as diferenças existentes nos fatores de demanda,
como a qualidade da atração e o custo de viagem. Teoricamente,
será possível identificar uma atração que se classifica
aproximadamente da mesma maneira em todos os fatores. Porém,
é mais provável que as classificações sejam diferentes, e o
discernimento deverá ser utilizado para estimar a taxa mais
favorável. Um exemplo recente é a estimativa de que a taxa
adequada para o usuário de um parque típico da América Central
varia entre 5 e 10 dólares diários (Ashton e Haysmith, 1992). Essa
estimativa baseia-se na classificação dos parques da América
Central em relação aos parques da África e de outros países. Os
parques localizados na América Central estariam em posição
inferior em termos da qualidade da atração (facilidade de observar
a vida selvagem, etc), e em melhor posição em termos de custo de
viagem para o país de destino (pelo menos para o mercado norte-
americano).
questões econômicas na gestão do ecoturismo 153

Figura 4-1. Fatores Comuns de Demanda

FATORES INTERNACIONAIS
Renda. Turistas mais abastados geralmente viajam com maior
freqüência e pagam preços mais altos.
População. O número total maior de turistas geralmente significa
maior demanda por locais específicos.
Predileções. A demanda por férias ecoturísticas depende do nível
de consciência e de preocupação acerca da conservação
ambiental.
*Imagem do Local de Destino. As atrações com fortes imagens
positivas nos países de origem seduzirão um número maior de
turistas. Costa Rica e Belize possuem excelente reputação dentro
do mercado turístico dos Estados Unidos. Animais típicos como
gorilas e carnívoros de grande porte irão gerar alta demanda.
Atrações Competitivas. Quanto mais inusitada uma atração, maior
a possibilidade da cobrança de taxas mais elevadas. Os gorilas de
Ruanda, o Monte Everest, no Nepal, e Galápagos, no Equador,
são atrações ímpares e caras.
Custo da Viagem (tempo e dinheiro) ao País de Destino. Quanto
mais baixo o custo da viagem do país de origem ao país de
destino, maior será a demanda.

FATORES LOCAIS/NACIONAIS
*Qualidade da Atração. Locais que incluem atrações
convidativas, variadas e fáceis de observar serão relativamente
populares (esse fator reflete essencialmente como "a imagem de
destino" é, de fato, vivenciada).
*Qualidade da Experiência Geral do Passeio. Passeios que
proporcionam experiências de qualidade mais elevada poderão
cobrar taxas mais altas. A qualidade baseia-se em fatores como:
limpeza e conforto do alojamento, confiabilidade e sabor da
comida, cordialidade e instrução dos guias e demais
funcionários, lotação adequada dos locais, etc.
Estabilidade Política e Econômica. Os turistas preferem viajar
para nações estáveis. O turismo na Guatemala, Sri Lanka, Peru,
Ruanda e Nepal sofreu uma queda durante os períodos de
instabilidade.
*Atrações Complementares. Haverá maior demanda por locais
com atrações populares próximas. A demanda por parques do
Equador e do Peru é suplementada pela possibilidade de viajar
para Machu Picchu nas mesmas férias. *Custo da Viagem
(tempo e dinheiro) desde a Entrada no País até a Atração. As
atrações que têm acesso mais fácil às principais cidades e
circuitos turísticos existentes receberão maior demanda.
*Esses fatores podem ser alterados por meio de gestão e
planejamento minuciosos.

Fonte: Desenvolvido a partir de Lindberg, 1991; Ashton &


Haysmith, 1992.
154 ecoturismo

Levando-se em conta todos esses fatores, uma taxa entre 5 e 10


dólares foi considerada apropriada.
Atualmente, considerando-se que há poucas análises
sistemáticas dos fatores de demanda do ecoturismo, a importância
de cada um desses fatores deve basear-se, em grande parte, no
julgamento intuitivo feito por pessoas familiarizadas com a
atividade. Contudo, no futuro, pesquisas adicionais poderão ajudar
a identificar a importância de cada fator, facilitando, assim, a
aplicação mais extensiva dessa estratégia. Os parques poderiam,
portanto, calcular suas taxas com base naquelas cobradas em
outros locais, que fossem mais parecidos em termos de fatores
importantes de demanda; as diferenças em fatores de menor
importância teriam menos efeito sobre a fixação das taxas. Os
resultados preliminares de uma pesquisa realizada na Costa Rica
(Baldares e Laarman, 1990) sugerem que os fatores que afetam a
determinação do nível da taxa apropriada são: renda do turista,
qualidade da experiência, idade e grau de instrução do turista, e o
número de outras áreas protegidas visitadas na Costa Rica (os dois
últimos fatores podem revelar preferências).
Da mesma forma, as pesquisas feitas com turistas na Reserva
Nacional Maasai Mara e no Parque Nacional de Amboseli, no
Quênia (Henry, Waithaka e Gakahu, 1992; Henry e Western,
1988), sugerem que a qualidade da atração é o fator de maior
importância, seguido pela qualidade da experiência geral da
viagem e pela estabilidade política e econômica do país.
Apesar da falta de informações, geralmente é possível avaliar
o mercado. Na Costa Rica, por exemplo, as taxas cobradas na
Reserva Florestal de Neblina de Monteverde, de propriedade
particular, poderiam servir como uma referência para as taxas dos
parques nacionais. Monteverde não é administrada estritamente
como um estabelecimento comercial, e as instalações existentes
são mais extensas do que as dos parques nacionais, mas o fato de
que Monteverde cobra taxas muito maiores do que os parques
nacionais sugere que os últimos também poderiam elevar suas
taxas.
questões econômicas na gestão do ecoturismo 155

Método 2: pesquisa da demanda turística. O conceito básico


subjacente a este método é o de que os turistas estimem sua
própria demanda para a atração, em resposta a questões
específicas de pesquisa. Na Costa Rica, uma pesquisa desse tipo
revelou que tanto os costarriquenhos quanto os estrangeiros
concordaram que os preços dos ingressos dos três parques
nacionais mais populares (e de Monte-verde) deveriam ser
elevados (Baldares e Laarman, 1990). Além disso, ambos
concordaram que os estrangeiros deveriam pagar mais do que os
costarriquenhos, muito embora essa não fosse a política
governamental.
Os pesquisadores perguntaram aos turistas: "Pelo tipo de
visita que você está fazendo aqui... quanto deveria custar o
ingresso normal para os visitantes vindos de outros países?". A
Figura 4-2 apresenta um resumo dos resultados. Um exame do
gráfico mostra que a maioria dos residentes e dos visitantes
vindos de outros países achava que os estrangeiros deveriam
pagar mais do que os 25 colóns (0,30 dólar) cobrados. Muitos
responderam que a taxa deveria ultrapassar 2,40 dólares. Essa
informação pode ser estatisticamente analisada para determinar
com maior precisão a taxa de maximização da receita (ver Método
3), mas uma avaliação visual da Figura 4-2 sugere que uma taxa
de aproximadamente 1,20 dólar deveria ser cobrada dos estran-
geiros.
O problema deste método é que os resultados provavelmente
subestimam a demanda real e, por conseguinte, o nível potencial
da taxa. Isso se deve, em parte, às dificuldades gerais na obtenção
de respostas precisas para as pesquisas (quase sempre os turistas
subestimam o que realmente estariam dispostos a pagar). Além
disso, os pesquisadores observam que as respostas poderiam
revelar valores mais altos se a pesquisa fosse realizada durante os
meses de verão e não nos meses de inverno. Ademais, as
respostas poderiam diferir se as questões fossem elaboradas de
forma diferente. Por exemplo, poucos informantes indicaram que
achavam adequada a taxa de 2,40 dólares ou mais. Contudo, se a
questão tivesse sido reformulada para:
156 ecoturismo

"Se a taxa de entrada fosse de 2,40 dólares, você teria


cancelado seu passeio ao parque?", é provável que a maioria
indicasse uma disposição em pagar essa taxa mais elevada.
Método 3: análise da curva de demanda. Provavelmente, a
estratégia mais precisa é estipular as taxas utilizando a análise
da curva de demanda. Uma curva de demanda mede quanto os
turistas estão dispostos a pagar para visitar a atração, bem
como o contrabalanço entre o preço e o número de visitantes.
Desse modo, as curvas de demanda permitem aos gestores
identificar as taxas de maximiza-ção da receita.
As curvas de demanda têm sido utilizadas para
desenvolver os parques nacionais, através da aplicação do
método hedônico de fixação de preços (Edwards, 1987) e do
método de custo de viagem (Tobias e Mendelsohn, 1991;
Durojaiye e Ikpi, 1988). Entretanto, pesquisas do tipo discutido
no Método 2, mas projetadas e administradas para os padrões
específicos de avaliação, geralmente serão mais simples e
fáceis de aplicar em uma vasta gama de contextos. Os
questões econômicas na gestão do ecoturismo 157

pesquisadores podem ampliar a análise apresentada no Método 2,


utilizando a análise estatística para estimar a taxa de maximização
da receita. No caso da Costa Rica, a taxa de maximização foi
estimada em 1,20 dólar. Como foi observado, essa estimativa é
considerada baixa.

Método 4: gestão reativa e leilões baseados no mercado. O


conceito básico deste método é o de reagir com a maior
flexibilidade possível ao mercado turístico, alterando as taxas
segundo as mudanças da demanda. Devido à imprecisão inerente
à estimativa da demanda, bem como à instabilidade da atividade
turística, este método é um importante suplemento aos três
métodos discutidos anteriormente. Ou seja, com base nas
pesquisas feitas com os turistas ou na avaliação de atrações
equivalentes, as taxas deveriam ser fixadas em 10 dólares.
Entretanto, se o número de visitantes continuar crescendo
rapidamente, os gestores deverão propor a elevação das taxas. Da
mesma forma, se o número de visitantes cair rapidamente, a
redução das taxas deverá ser considerada. Além disso, se os
gestores não podem utilizar um dos três primeiros métodos para
avaliar a demanda, eles podem usar a gestão reativa para aumentar
gradualmente as taxas até que seus objetivos sejam alcançados
(cobertura de custos, maximização de lucros, etc).
O leilão de licenças ou de outras taxas turísticas
normalmente alinhará as taxas com a demanda, já que os
operadores turísticos oferecerão tanto quanto estiverem dispostos
a pagar pela licença (contanto que o leilão seja administrado de
maneira eficaz). Contudo, os leilões são, em geral, adequados
apenas quando há um número limitado de licenças ou quando o
preço dessas licenças é relativamente alto. Via de regra, isso
ocorrerá no caso da caça e das atrações de turismo de alto valor,
como, por exemplo, ver os gorilas nas montanhas, em Ruanda.
A dificuldade existente na gestão reativa no contexto das
atrações de ecoturismo administradas pelo governo deve-se ao
fato de que os órgãos públicos raramente possuem a flexibilidade
necessária para
158 ecoturismo

reagir rapidamente às mudanças do mercado. Entretanto, os


benefícios dessa flexibilidade podem exercer uma força poderosa
sobre a descentralização de autoridade no estabelecimento de
taxas.
O método mais apropriado para estipular taxas depende das
condições locais, da disponibilidade de recursos para a condução
de pesquisas e de análises, e de outras considerações. Em geral, a
estimativa das demandas para novas instalações envolverá os
Métodos 1 ou 4, já que eles não exigem um fluxo atual de turistas.

taxas de turismo: o financiamento do ecoturismo e os


programas de conservação
As receitas estimadas precisam ser comparadas com os
custos, a fim de se determinar se os objetivos de gestão serão
atingidos (cobertura de custos ou maximização de lucros, por
exemplo). Com freqüência, essa comparação assumirá a forma de
uma análise financeira ou análise de custo-benefício,
especialmente quando se busca um empréstimo para cobrir os
custos. Tal análise é apresentada no primeiro estudo de caso.

caco 1: cobertura de custos nas fontes de águas sulfurosas de


Santa Lúcia

As Fontes de Águas Sulfurosas de Santa Lúcia localizam-se


na ilha de Santa Lúcia, no Caribe. Nos últimos oito anos, o
turismo para Santa Lúcia aumentou aproximadamente 10% ao
ano, com 24% de todos os turistas visitando o Monumento
Nacional das Fontes de Águas Sulfurosas, uma área de fontes de
águas quentes borbulhantes, promontórios vulcânicos e vegetação
tropical. Numa tentativa de aperfeiçoar o produto turístico da ilha,
o Conselho Turístico de Santa Lúcia, em associação com a
Organização dos Estados Americanos (OEA), analisou se as
receitas geradas pelas taxas de turismo seriam
questões econômicas na gestão do ecoturismo 159

suficientes para cobrir os custos envolvidos no aprimoramento da atração


(Huber e Park, 1991).
A análise inclui os custos estimados para projetos de infra-estrutura e
projetos educacionais e ambientais necessários à reabilitação do
Monumento Nacional (ver Tabela 4-1). Os custos de capital incluem a
construção de um centro de visitantes, restaurante, instalações sanitárias e
uma sala de educação ambiental com exposições. Os custos adicionais
incluem a manutenção e a programação. Ademais, um assistente turístico e
quatro funcionários administrativos serão contratados (o quadro atual de
pessoal inclui um administrador e guias turísticos).
Espera-se que os custos desse aumento sejam cobertos de três formas.
Em primeiro lugar, estima-se que a melhoria da qualidade da atração gere
um aumento no número de visitas. Em segundo lugar, os preços dos
ingressos passarão de 3 dólares do Caribe Oriental (aproximadamente 1
dólar americano) para 5 dólares do Caribe Oriental. Os grupos de Santa
Lúcia serão admitidos gratuitamente mediante prévio acordo. Em terceiro
lugar, as receitas serão obtidas por intermédio do restaurante, da venda de
artesanato e de outras concessões.
Os autores desse estudo de viabilidade utilizaram versões modificadas
dos Métodos 1 e 2 para avaliar as taxas de turismo apropriadas e, desse
modo, determinar se as receitas cobririam o custo do investimento. Eles
entrevistaram os visitantes que se encontravam na região, a fim de
determinar se os turistas estavam interessados nas melhorias que estavam
sendo estudadas. Essas pesquisas (similares à pesquisa de amostra na
Figura 4-3) e os dados históricos de visitação demonstraram que as fontes
de águas sulfurosas já eram uma das atrações mais populares da ilha, que
muitos turistas ficariam por mais tempo no local se houvesse instalações
disponíveis, e, por último, que seria desejável a existência de várias
instalações específicas, como centro de visitantes, painéis interpretativos e
restaurante. Baseando-se nos resultados da pesquisa e no conhecimento de
atrações similares, os autores estimaram que haveria um aumento no
número de turistas e
Tabela 4-1. Amostra da Análise de TIR (Taxa Interna de Retorno) para as Fontes de Águas Sulfurosas de Santa Lúcia (todos os valores em
dólares do Caribe Oriental; 1 dólar americano = 2,70 dólares do Caribe Oriental)

ANO 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

CUSTOS DO PROJETO

Capital, Manutenção, 46.000 717.760 142.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000 65.000
Programação

Pessoal Adicional 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200 55.200

Total de Custos 46.000 772.960 197.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200 120.200

RECEITA ADICIONAL
RESULTANTE DO
PROJETO

Aumento do Número de 0 18.514 39.806 64.198 49.915 27.411 3.781 **


Visitas

Aumento de Preços 0 155.520 163.296 171.461 180.034 189.036 198.487 200.000 200.000 200.000 200.000 200.000 200.000

Receita gerada por 0 48.878 53.766 59.142 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000
Concessões

Total da Receita Adicional 0 222.912 256.868 294.801 289.949 276.447 262.268 260.000 260.000 260.000 260.000 260.000 260.000

RECEITA LÍQUIDA DO -46.000 -550.048 59.668 174.601 169.749 156.247 142.068 139.800 139.800 139.800 139.800 139.800 139.800
PROJETO (receita
adicional menos custos)

** O número anual de visitantes limita-se a 100.000, de forma que o item Aumento do Número de Visitas desaparece 1998, ano em que se espera que a em visitação atinja 100.000 pessoas mesmo sem o
projeto.

Taxa Interna de Retorno (TIR) para o projeto: 19,3%


questões econômicas na gestão do ecoturismo 161

Figura 4-3. Amostra de Questões para Determinar a Viabilidade de


Expansão da Infra-Estrutura e dos Serviços

Objetivo de Gestão n° 1: Coletar informações gerais sobre os visitantes.


Pergunta: Em que país você vive?
Pergunta: Quantas vezes você já visitou este país?

Objetivo de Gestão n° 2: Determinar o grau de interesse nos locais


ecoturísticos. Pergunta: Você já visitou algum parque nacional ou outras
atrações naturais neste país? Em caso afirmativo, quais?
Em caso negativo, você estaria interessado em fazer essas visitas
futuramente?
Muito Provavelmente Provavelmente Possivelmente
Provavelmente Não Não Sei

Objetivo de Gestão n° 3: Determinar o grau de interesse em outras


atrações. Pergunta: Você estaria interessado em visitar um jardim botânico,
um sítio arqueológico, um museu histórico ou outras atrações naturais ou
culturais?
Muito Provavelmente Provavelmente Possivelmente
Provavelmente Não Não Sei

Objetivo de Gestão n° 4: Determinar se o investimento em instalações


adicionais deveria ser considerado.
Pergunta: Numa futura visita, você passaria de um a três dias na área deste
parque se houvesse mais instalações?
Muito Provavelmente Provavelmente Possivelmente
Provavelmente Não Não Sei

Pergunta: Que tipo de instalações ou serviços você acha que


enriqueceriam substancialmente a qualidade de sua experiência neste
local?

1. Área de piquenique 6. Guias para trilhas


2. Bar/Restaurante 7. Folhetos
3. Centro de Visitantes 8. Outros (Favor citar)
4. Placas informativas ___________
5. Trilhas para caminhadas ___________

Pergunta: Se desenvolvêssemos essas instalações ou serviços, você estaria


disposto a pagar taxas mais altas pela experiência de melhor qualidade?

Fonte: Adaptado de Huber e Park, 1991.


162 ecoturismo

que eles estariam dispostos a pagar ingressos mais altos por uma atração
mais bem preparada para recebê-los.
Uma vez que os custos e as receitas associados ao projeto foram
estimados, os autores utilizaram uma análise financeira para prever se o
projeto seria viável. As técnicas de análise financeira serão apenas
exploradas de forma sucinta neste capítulo; para obter maiores informações,
os leitores interessados no assunto deverão consultar Brealey e Myers
(1988) ou referências similares. Análises financeiras baseiam-se no simples
conceito de que os projetos somente deveriam ser colocados em prática se
fossem lucrativos, ou seja, se os seus benefícios excedessem o valor dos
custos (os benefícios líquidos são positivos). Quando mais de uma
alternativa produz benefícios líquidos positivos, deve-se escolher a
alternativa que gere o maior benefício líquido.
Os benefícios e os custos do projeto geralmente ocorrem ao longo dos
anos. Um dos conceitos centrais em análise econômica é que os custos e
benefícios futuros têm menor valor do que os mesmos custos e benefícios
atuais. A indexação é o processo pelo qual esses custos e benefícios futuros
são reduzidos a um valor atual. Os projetos podem então ser avaliados com
base em sua "taxa interna de retorno" (TIR), "valor presente líquido" (VPL),
ou critério similar. A TIR é determinada pelo cálculo da "taxa de retorno"
(uma taxa de juros), que apenas nivela os custos e os benefícios durante a
vida do projeto (ou seja, o valor atual de todos os benefícios menos o custo
é zero). Quando a TIR é mais alta do que o custo do empréstimo financeiro,
o projeto é lucrativo e viável.
O VPL é o valor líquido de um projeto (benefícios menos custos), em
dólares (ou outra moeda corrente), durante a vida desse projeto, dada uma
determinada taxa de juros. Um VPL positivo é equivalente a uma TIR maior
do que o custo de empréstimos financeiros. Embora o VPL seja um
instrumento mais poderoso para os processos de tomada de decisões do que
a TIR, esta é mais intuitiva. Contudo, os dois critérios baseiam-se na mesma
informação e podem ser calcula-
questões econômicas na gestão do ecoturismo 163

dos com a utilização de planilhas eletrônicas, tais como as dos programas


Lotus 123, Excel ou Quattro Pro.
Voltando ao exemplo das Fontes de Águas Sulfurosas (Tabela 4-1),
espera-se que os custos estimados excedam os benefícios estimados nos
primeiros dois anos de operação ("Receita Líquida do Projeto" negativa). A
partir daí, o projeto irá gerar mais receitas do que custos. A TIR prevista
para esse projeto é de 19,1%, suficientemente alta para justificar o
financiamento.
Deve-se observar que esse estudo de caso envolve custos e receitas
previstos, e não dados reais. Destinos como a montanha dos gorilas, em
Ruanda, têm demonstrado a capacidade de o ecoturismo gerar lucros. O
exemplo de Santa Lúcia, citado neste capítulo, foi usado por ser um destino
mais "típico", que ilustra a capacidade esperada de cobrir custos mesmo
com ingressos modestos.
Geralmente, ao propiciar a experiência ecoturística, o critério mínimo
será a cobertura dos custos. Entretanto, em alguns lugares, a receita
excederá os custos, com os lucros resultantes disponíveis para os programas
de conservação, financiamento de outros programas governamentais, etc. As
altas taxas para o turismo na montanha dos gorilas, em Ruanda, e o turismo
de Galápagos, no Equador, por exemplo, são utilizadas em parte para
financiar as atividades tradicionais de conservação dentro dos sistemas de
parque. Tabela 4-2 e Figura 4-4 demonstram que o turismo na montanha dos
gorilas não só tem coberto as despesas administrativas do parque, como
também tem gerado lucros substanciais para os cofres do governo. No
Quênia, espera-se que, em breve, as receitas geradas pelo turismo cubram o
custo total de administração dos parques e das reservas existentes no país.
Da mesma maneira, o turismo no Parque de Kota Kinabalu, em Sabah, na
Malásia, gera fundos suficientes para cobrir o orçamento integral dos
Parques de Sabah.
164 ecoturismo

caso 2: maximização de lucros nos parques da Zâmbia e de Ruanda

Dois estudos de caso provenientes da África empregam c Método 4


com o objetivo de maximizar a receita gerada pelas taxas turísticas. Uma
vez que o nível de visitação é controlado e relativamente baixo nos dois
casos, esses projetos provavelmente também objetivavam a maximização de
lucros.
Como parte do Projeto de Desenvolvimento de Lupande, da Zâmbia, as
concessões para expedições locais de safári de caça no Parque Nacional de
Luangwa do Sul são leiloadas a operadores de viagem (Lewis, Kaweche e
Mwenya, 1990). Supondo-se que o leilão é realizado de forma competitiva,
esse método de venda dos direitos de caça maximiza as receitas obtidas
pelas taxas. As rendas geradas pela concessão de caça (e os lucros das
vendas de hipopótamos) são posteriormente canalizadas para um "fundo
rotativo para conservação da vida selvagem", com 60% sendo utilizados
para o manejo da vida selvagem e 40% alocados às lideranças locais para
projetos comunitários.
Em 1987, as receitas geradas pelas taxas de concessão de caça
destinadas ao manejo da vida selvagem eram de 146.000 kwachas (18.250
dólares), que eram suficientes para cobrir os custos recorrentes de 17.625
dólares gastos com o programa de escotismo do povoado, materiais de
construção e de manutenção, e relações públicas. Outros órgãos
governamentais também foram beneficiados pelas licenças de safáris de
caça (que são cobradas separadamente das concessões e que totalizaram
36.130 dólares, em 1987), pela venda de presas de elefantes e pela aplicação
de multas por caça ilegal.
Geralmente, ao estipular as taxas para a visitação à montanha dos
gorilas, o Parque Nacional dos Vulcões, de Ruanda, utiliza a gestão reativa
baseada no mercado. A popularidade da visitação aos gorilas resultou numa
demanda que excede muitíssimo o limite de visitação, estipulado em cerca
de 24 turistas por dia. Essa demanda
questões econômicas na gestão do ecoturismo 165

excessiva levou o governo a elevar as taxas para quase 200 dólares por
pessoa para visitas de uma hora, gerando, assim, receitas de,
aproximadamente, 1 milhão de dólares, em 1989 (Vedder e Weber, 1990).
Já que a demanda excessiva ainda ocorria na época em que a guerra civil
fez cessar o turismo na montanha dos gorilas, provavelmente o governo
poderia ter aumentado as taxas ainda mais (embora fosse talvez necessário
reduzi-las, devido ao desenvolvimento do turismo de visitação a gorilas em
Uganda e no Zaire; esse tipo de redução já ocorreu no processo de mudança
do preço em francos ruandeses para dólares).
Mesmo com a visitação limitada, o turismo na montanha dos gorilas
gerou lucros substanciais. As cifras oficiais e as estimativas divulgadas
demonstram que o turismo não só tem custeado o trabalho dos guias, mas
também o dos guardas do parque, e tem gerado lucros para os cofres do
governo central (ver a Tabela 4-2 e a Figura 4-4). Em 1989, por exemplo,
as taxas turísticas geraram uma receita de 1 milhão de dólares, enquanto as
despesas do parque foram inferiores a 200.000 dólares. Dessa forma, as
taxas do ecoturismo vêm financiando não só o próprio ecoturismo, mas
também os programas de conservação e os programas gerais do governo.

caso 3: a incorporação de outros objetivos de gestão na


determinação dos preços do trekking turístico no Nepal

A decisão de manter níveis baixos de taxas, de forma a atingir outros


objetivos gerenciais, provocará a redução das receitas geradas pelas taxas.
Contudo, estratégias inovadoras, como as estruturas de cálculo de preços
sobrepostos, podem ser implantadas a fim de minimizar a perda da receita.
O Nepal, por exemplo, cobra atualmente taxas de 10.000 dólares para
escalar o Monte Everest e 8.000 dólares para escalar outros picos de 8.000
metros. Previa-se, para o início do outono de 1993, uma taxa para o Monte
Everest entre 50.000 e 70.000 dólares, em função do tamanho do grupo
(Anônimo, 1992; Noland,
Tabela 4-2. Maximização da Receita Gerada pelas Taxas Turísticas: O Caso do Turismo na Montanha dos Gorilas, em Ruanda
(Todas as cifras em dólares americanos)

ANO 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989

RENDA 7.072 8.954 10.195 12.240 36.513 88.837 114.917 135.281 261.198 298.780 348.276 378.821 512.195 1.000.000
DAS
TAXAS

DESPESAS 16.027 20.716 34.244 44.625 56.633 84.210 95.410 97.405 113.873 187.847 168.791 196.586 197.561 197.561

LUCROS (8.955) (11.762) (24.049) (32.385) (20.120) 4.627 19.507 37.876 147.325 110.933 179.485 182.235 314.634 802.439
(Perda)

Observação: As despesas incluem os salários de guias e guardas.

Fonte: Ministério do Planejamento, 1989; Vedder e Weber, 1990.


questões econômicas na gestão do ecoturismo 167

1992). Ao mesmo tempo, as taxas para trilhas menos exigentes, escolhidas


pela maioria dos turistas, serão dobradas, mas ainda permanecerão
relativamente baixas, em um patamar de 15 a 25 dólares por semana.
Provavelmente, essa combinação de taxas sustentará a demanda para os
negócios de turismo de pequena escala, condicionados ao grande número
de trekkers*, e manterá as receitas de taxas governamentais em níveis
relativamente altos.

taxas turísticas: um processo de tomada de decisões

As seções anteriores apresentaram, em linhas gerais, objetivos e


métodos comuns, junto com exemplos de como determinados destinos

*Ver observação no Cap. 2, p. 63. (N. do R.T.)


168 ecoturismo

vêm utilizando as taxas turísticas para aumentar a receita. Esta seção


esboça um processo genérico de tomada de decisões para a determi
nação das taxas turísticas. Como ilustra a Figura 4-5, a primeira etapa
consiste em determinar os objetivos das taxas (cobertura de custos,
maximização de lucros ou critério alternativo). A segunda etapa deve
avaliar se as receitas serão suficientes para cobrir os custos. Em caso
positivo, os preços devem ser estabelecidos de maneira apropriada.
Em caso negativo, os responsáveis pelas decisões devem determinar
se objetivos como o fornecimento de oportunidades de recreação ou
de emprego local serão suficientemente importantes para justificar o
fornecimento de oportunidades ecoturísticas com uma perda financei
ra. Se forem, deve-se procurar obter fundos adicionais para a cober
tura dessas perdas. Qualquer que seja o objetivo escolhido, os
resultados devem ser monitorados para que se possa determinar se os
objetivos estão sendo atingidos.
,
a incorporação de impactos econômicos e sociais mais
abrangentes

Este capítulo tratou da análise de projetos, tal como se eles fossem


administrados comercialmente. Ou seja, aquele que toma as decisões está
somente preocupado com os custos e benefícios financeiros resultantes do
projeto. Em alguns casos, será apropriado analisar os projetos
governamentais sobre as mesmas bases, mas, com freqüência, os governos
estão interessados em custos e benefícios sociais mais abrangentes, de
forma que a análise precisa ser ampliada.
Um método que possibilite tal análise é o da taxa interna de retorno :
econômico (TIRE), que se baseia no conceito de que os preços de mercado
nem sempre refletem o benefício ou o custo econômico para a sociedade,
em parte devido aos subsídios e impostos públicos ou ao controle de preços
e índices salariais. Como resultado, a TIRE utiliza preços "econômicos",
em vez dos preços de mercado. Em termos práticos, isso significa que
preços internacionais (de fronteira)
170 ecoturismo

serão utilizados para bens comercializados (tais como alimentos importados


para turistas), com ajustes adequados para custos de transporte e
comercialização; valores líquidos de impostos serão utilizados para bens
não comercializados (como a mão-de-obra); e os pagamentos de
transferência (como impostos e taxas) serão excluídos.
O segundo método, a análise de custo-benefício social (ACBS),
expande a TIRE na medida em que reconhece que muitos benefícios (e
custos) são importantes para a sociedade, mas que não possuem valor
"econômico", no sentido de que não podem ser adquiridos e vendidos em
mercados. Na verdade, o financiamento público de parques e áreas
protegidas leva em consideração o fato de que as áreas naturais propiciam
benefícios, tais como a proteção dos mananciais, a conservação de espécies,
a recreação e outros (Dixon e Sherman, 1990; McNeely, 1988).
Obviamente, esses benefícios são muito mais difíceis de serem
avaliados do que as receitas geradas pelas taxas, mas muito progresso tem
sido feito nesse sentido. Uma vez que os benefícios e custos são estimados
visando ao futuro, o projeto é analisado segundo o critério do VPL ou da
TIR. Contudo, a taxa de desconto para projetos sociais é geralmente mais
baixa do que a taxa utilizada para projetos financeiros. Assim, um projeto
social com uma TIR de 10% pode ser considerado viável, mas um projeto
financeiro com uma TIR de 10% pode não ser.
Como foi observado, a existência de benefícios de recreação
subsidiados para os residentes constitui um princípio para o desenvol-
vimento de programas ecoturísticos, mesmo quando os custos superam os
ganhos financeiros gerados pelas taxas. Entretanto, esse princípio deveria
ser explicitado e, sempre que possível, os verdadeiros benefícios aos
residentes devem ser quantificados mediante técnicas como a análise do
custo de viagem ou a avaliação de contingências.
Além disso, o fato de as áreas naturais proporcionarem tanto os
benefícios financeiros do ecoturismo quanto os benefícios tradicionais, sem
caráter financeiro, tem implicações importantes para as decisões sobre a
área de terra a ser mantida em estado natural. Em
questões econômicas na gestão do ecoturismo 171

primeiro lugar, o turismo suplementa os benefícios tradicionais da


conservação e, por conseguinte, amplia a justificativa econômica para a
conservação. Em segundo lugar, os benefícios de conservação suplementam
os benefícios turísticos, de forma que a conservação ainda pode ser
justificada mesmo nos locais onde há pouco ou nenhum potencial turístico.
O Projeto Korup, na República dos Camarões, é um exemplo de
benefícios tradicionais que suplementam o turismo, justificando o
desenvolvimento de um parque nacional e de uma zona-tampão. A análise
de custo-benefício social desse projeto resultou nos dados apresentados na
Figura 4-6 (Ruitenbeek, 1989; comparar com Dixon e Sherman, 1990). O
turismo gerou apenas 1.360.000 libras (cerca de 2.720.000 dólares em taxas
de câmbio de 1992), em valor atual. Dados os custos de 15.239.000 libras, o
turismo, por si só, não foi suficiente para justificar o projeto do parque.
Porém, quando os benefícios turísticos foram combinados com outros
benefícios, o parque tornou-se viável. Na verdade, neste caso, o turismo foi
vital para assegurar que os benefícios excedessem os custos.

fontes de financiamento

Projetos viáveis podem ser enviados às agências financiadoras a fim de


serem examinados. Há uma série de fontes de financiamento; algumas delas
requerem, relativamente, pouca análise financeira ou de custo-benefício
para justificar o financiamento. Algumas das fontes mais comuns são
mencionadas neste capítulo.
Os projetos de ecoturismo que são financeiramente viáveis podem
atrair financiamento de bancos ou de investidores locais. Quando essas
fontes não estão disponíveis, o financiamento quase sempre pode ser obtido
através de programas de desenvolvimento do governo, bancos
internacionais de desenvolvimento ou agências de auxílio bilateral.
Freqüentemente, essas fontes fornecem capital aos empreendimentos
promissores do setor privado.
172 ecoturismo

Figura 4-6. Análise do Custo-Benefício Social para o Projeto Korup


(em milhares de libras esterlinas, resultados do caso-base,
taxa de desconto de 8%, 1989)

BENEFÍCIOS

Benefícios Diretos

Proteção das áreas pesqueiras 3.776 Custos de capital excluindo 7.697


estradas (1989-1995)

Uso sustentado da floresta 3.291 Custos de capital de estradas 1.859

Controle de risco de enchentes 1.578 Custos de operação de longo 4.761


prazo

Turismo 1.360 Crédito de mão-de-obra (custo (2.404


negativo) )

Produção de meios alternativos 997 Custos de Oportunidade


de subsistência

Manutenção da fertilidade do solo 532 Ônus da perda do direito de usar 2.620


a floresta
Valor genético 481 Ônus da perda do direito de 706
derrubar árvores de corte
Benefícios Induzidos

Produtos agrícolas produzido 3.216 Total dos Custos 15.239


para venda

Aumento da produtividade 905 Benefício Líquido 1.084


agrícola

Silvicultura produzida 207 TIR do Projeto 8,3%

Total dos Benefícios 16.323 TIR do País 13,4%

Fonte: Adaptado de Dixon e Sherman, 1990 (a fonte original é Ruitenbeek, 1989).

Os projetos que não são financeiramente viáveis, mas são eco-


nomicamente viáveis devido aos benefícios mais amplos que oferecem à
sociedade, podem ser capazes de atrair subvenções ou empréstimos
concedidos por órgãos governamentais, agências de auxílio bilateral ou
organizações e fundações para a conservação de nações industrializadas.
Também é comum que os governos federais forneçam incentivos
(subsídios) que tornem o projeto financeiramente atraente. Um governo
poderia, por exemplo, reduzir as taxas de
questões econômicas na gestão do ecoturismo 173

impostos ou decretar a isenção de rendimentos originados pela tributação,


durante um determinado período de tempo (isenção fiscal); distribuir terras
de sua propriedade para objetivos ligados ao turismo, contanto que a maior
parte permanecesse sob controle e em estado natural; oferecer créditos de
impostos para doações de terras a projetos ecoturísticos de conservação;
propiciar isenção das tarifas de importação e dos impostos sobre
mercadorias; e fornecer empréstimos a juros baixos. Os governos que
procuram financiamento para projetos de ecoturismo e conservação podem
explorar fontes similares, tais como fundações em prol da conservação, bem
como as fontes disponíveis apenas aos governos, como o programa do
Fundo Mundial para Meio Ambiente, administrado pelo Banco Mundial.
A campanha de levantamento de fundos deve esboçar um plano de
financiamento que procurará ser auto-suficiente, diversificado, e buscar
fontes de longo prazo para sustentar não só os custos de desenvolvimento
do capital inicial e do capital que está sendo aplicado, mas também os
custos operacionais adicionais de atividades especializadas (por exemplo,
pesquisa e viagem). Fontes de financiamento mais inovadoras também
podem ser exploradas, como conversões da dívida externa em projetos de
conservação ou impostos turísticos.
taxas de turismo: questões de gestão
A avaliação necessária para a fixação das taxas também pode fornecer
dados para um planejamento futuro. Uma consideração importante, tanto
para a conservação quanto para a indústria turística, é a estabilidade da
demanda pelo ecoturismo em geral e por uma atração individual em
particular. Um exame dos fatores de demanda (ver Figura 4-1) sugere que
os aumentos esperados da população e do rendimento nos países de origem
levarão, no futuro, ao aumento geral na demanda por atrações ecoturísticas.
Entretanto, a demanda baseia-
174 ecoturismo

se parcialmente na preferência, que, no caso do ecoturismo, depende em


grande parte da consciência do público e de sua preocupação com o
ambiente natural. A demanda futura do ecoturismo dependerá, em parte, do
nível de preocupação com a preservação do meio ambiente existente nos
países de origem. É importante que seja levada em consideração a
estabilidade econômica e política do país de destino. Há uma inevitável
incerteza na previsão da demanda para o futuro, de modo que as estimativas
das receitas que serão geradas pelo ecoturismo devem ser feitas com
cautela.
O conhecimento dos fatores de demanda também pode ajudar os
planejadores a escolher os locais apropriados ao desenvolvimento do
ecoturismo e a determinar as prioridades para aperfeiçoar o produto
ecoturístico. A quantificação dos fatores de demanda do turismo na Grécia,
por exemplo, demonstrou que um aumento da promoção nos países de
origem seria uma forma econômica de aumentar a procura, melhorando a
imagem do país-destino (Papadopoulos e Witt, 1987). No caso do
ecoturismo, outras áreas para investimento de baixo custo poderiam incluir a
melhoria da qualidade da experiência, por meio do treinamento de guias ou
do desenvolvimento das instalações. Uma avaliação rigorosa da importância
dos respectivos fatores de demanda seria útil para esses objetivos. Nesse
ínterim, as respostas às questões mais gerais de pesquisa (como as
apresentadas na Figura 4-3) podem ser utilizadas, a fim de priorizar as
oportunidades de aperfeiçoar o produto ecoturístico.

tipos de taxas e cobrança de taxas

Uma vez determinadas as políticas gerais de taxas, os gestores devem


decidir que taxas específicas deveriam ser cobradas para bens e serviços e
como cobrá-las. Embora exista alguma sobreposição de terminologia, são
apresentadas, a seguir, algumas das categorias de taxas mais comuns.
questões econômicas na gestão do ecoturismo 175

Taxa de entrada (ingresso). É uma taxa cobrada para entrar em um


parque ou em uma atração similar.

Taxa de admissão. É uma taxa cobrada para a admissão em uma


instalação específica, tal como um centro de visitação.

Taxa de utilização. Trata-se de uma taxa cobrada pelo uso de um


objeto específico (binóculos ou equipamento de mergulho, por exemplo),
serviço (guia) ou oportunidade (local para acampamento).

Taxa de licença ou autorização. Semelhante à taxa de utilização, esta


categoria inclui taxas de autorização para caça ou pesca.

Taxas geradas por vendas e concessões. Souvenirs, alojamentos e


outros bens e serviços podem ser oferecidos diretamente pelo parque (com
os lucros considerados como taxas turísticas), ou por um contrato de
concessão (cujas receitas são consideradas um tipo de taxa turística).

As abordagens apresentadas a seguir são algumas das mais comuns


para a cobrança de taxas, embora sistemas alternativos, como passes anuais,
também tenham sido sugeridos (Laarman e Baldares, 1990; Barborak,
1988).

Cobrança direta no local. Neste caso, as taxas são cobradas


diretamente dos turistas, geralmente no portão de entrada ou quando um
bem ou serviço é adquirido. Há pelo menos dois benefícios nesse método: o
primeiro é que ele vincula o pagamento das taxas diretamente ao serviço
fornecido, e o segundo é que ele proporciona o contato direto entre os
turistas e os funcionários do parque, oferecendo, portanto, a oportunidade de
informar, controlar e registrar o número de visitantes.

Cobrança indireta por intermédio de operadores turísticos. Neste tipo


de sistema, as taxas são pagas pelo operador turístico, com o custo
repassado ao turista como parte do preço do pacote de viagem.
176 ecoturismo

Essa estratégia assemelha-se à da cobrança direta, e, na verdade, é


geralmente utilizada como um sistema complementar. Embora exista um
contato menor entre o pessoal do parque e os visitantes, esse sistema pode
contribuir para a cooperação entre o parque e a indústria turística do local.
Além disso, com freqüência, ele reduz os custos administrativos ao mesmo
tempo que permite que os níveis de visitação sejam controlados. Outro
benefício é que as taxas estão ocultas no custo do pacote turístico,
possivelmente reduzindo, dessa forma, o efeito das taxas mais altas sobre o
nível de visitação. As dispendiosas licenças para visitar os gorilas de
Ruanda, por exemplo, em geral não são vendidas diretamente aos turistas,
mas aos operadores turísticos.

Cobrança indireta por intermédio de outros setores da indústria do


turismo. Este método, com taxas geralmente cobradas pelos hotéis e meios
de transporte, proporciona benefícios similares aos do sistema de taxa do
operador turístico. Contudo, quase sempre é crucial para a aceitação da
indústria que as taxas sejam arrecadadas quando há uma forte correlação
entre as taxas e a utilização do parque. Os hotéis próximos ao Parque
Nacional Marinho dos Recifes de Tobago, em São Vicente e Granadinas,
por exemplo, pagam um imposto para ajudar a manter o parque (Rodgers,
1989), mas não se deveria solicitar aos hotéis distantes que pagassem essas
taxas.

Fontes adicionais de receita também deveriam ser utilizadas, quando


adequado. Por exemplo, deveria ser proporcionada aos turistas e a outras
pessoas interessadas na região uma oportunidade de doar fundos para a
gestão do local de destino. Esse mecanismo pode gerar receita substancial e
pode ser mais eficaz quando estabelecido por uma organização não-
governamental. A organização não-governamental The Nature Conservancy,
por exemplo, solicitou 150.000 dólares para a Estação de Pesquisa de
Charles Darwin, nas Ilhas Galápagos, enviando pelo correio um pedido de
doações aos turistas que assinaram o livro de hóspedes da Estação (Warner,
1989). Uma recente pesquisa dos operadores turísticos sugere que 63% dos
ecoturistas estariam
questões econômicas na gestão do ecoturismo 177

dispostos a doar 50 dólares para a conservação da área que visitam; 27%


pagariam 200 dólares.
O melhor sistema de cobrança de taxas para qualquer área em
particular deverá basear-se no tipo de visitação (individual versus grupos),
nível de cooperação com a indústria, nível de eficiência burocrática e em
outros fatores relevantes. Os gestores podem utilizar, por exemplo, uma
combinação de taxas para permitir que grupos distintos paguem pelos
serviços específicos que recebem. A cobrança de um ingresso barato e de
uma taxa relativamente alta pelo fornecimento de um guia pode gerar receita
substancial vinda de turistas abastados interessados em contratá-los, ao
mesmo tempo que mantém a visitação de turistas de menor poder aquisitivo,
que muito provável-. mente freqüentarão o comércio do turismo local,
sustentando, desse modo, a economia local. Contudo, deve haver o menor
número possível de taxas diferentes, para evitar a confusão e a frustração do
turista.
Independente do sistema implantado, os operadores turísticos
deveriam ser previamente avisados (em geral, sugere-se um ano de
antecedência) das mudanças no tipo ou na quantidade de taxas, de forma
que possam ajustar seus preços de maneira adequada. Além disso, os
esforços para informar os visitantes sobre a importância da receita gerada
pelas taxas para a administração do parque geralmente aumentam o apoio
para a existência de tais taxas.

alguns princípios gerais para a política de taxas turísticas

A exposição anterior ilustra os objetivos e os métodos específicos em


relação às taxas turísticas. Contudo, ao estruturar as políticas de taxas de
entrada, alguns princípios gerais devem ser observados.

Considerar as taxas turísticas como suplemento para os orçamentos


existentes e não como substituição desses orçamentos. Um dos principais
fundamentos lógicos para desenvolver o ecoturismo é o de que ele pode
proporcionar fundos necessários aos orçamentos de
178 ecoturismo

conservação. Se os orçamentos existentes forem reduzidos quando as


receitas turísticas aumentarem, o ecoturismo proporcionará pouco benefício.
Na verdade, os custos de infra-estrutura e de gestão, causados pela
introdução ou pela expansão da visitação, podem realmente reduzir os
fundos disponíveis para as atividades tradicionais de gestão. A instabilidade
das receitas geradas pelo turismo também pode ser pior do que a
instabilidade do fundo governamental existente. Sempre que possível,
devem ser criados fundos fiduciários para garantir a estabilidade dos
recursos, durante as baixas temporadas nos ciclos turísticos.

Destinar pelo menos parte das receitas de turismo aos parques que as
geraram. A experiência nos EUA e em outras partes do mundo demonstra
que alocar verbas para o parque aumenta a eficiência administrativa na
arrecadação de taxas, bem como a responsabilidade nas despesas.

Estabelecer políticas nacionais para taxas, mas estabelecer taxas


sobre uma base descentralizada e específica aos locais. As políticas
nacionais, como a escolha entre objetivos de cobertura de custos e de
maximização de lucros, deveriam ser desenvolvidas para as taxas cobradas
nas atrações públicas. Entretanto, os administradores de parques deveriam
ter flexibilidade ao estabelecer taxas com base nas condições das riquezas
específicas ao local e nas mudanças da demanda para a atração. Se as
decisões permanecem com o governo central, a autoridade para modificar
taxas deveria, pelo menos, ser o mais flexível possível. Os órgãos ligados
ao executivo, por exemplo, tais como o departamento de parques, podem
em geral responder mais rapidamente do que os órgãos ligados ao
legislativo, como um congresso ou parlamento (Barborak, 1988).

Reconhecer que a cobrança de taxas não será viável para todas as


atrações. A cobrança de taxas pode simplesmente não ser viável
financeiramente em locais com baixos índices de demanda ou altos custos
administrativos.
questões econômicas na gestão do ecoturismo 179

Desenvolver e manter sistemas detalhados de administração contábil e


financeira para receitas e despesas. Decisões consistentes sobre os níveis
de taxas exigem conhecimento do custo do fornecimento da oportunidade
turística e também da receita gerada pelas taxas. Decisões eficazes só
podem ser tomadas quando tal informação é sistematicamente colhida e
incorporada ao processo de tomada de decisões. Quando possível, essa
contabilidade deveria ser suplementada pela informação sobre os impactos
ecológicos e sociais.

a utilização do ecoturismo para sustentar o


desenvolvimento econômico

O ecoturismo vem sendo acolhido por muitos como uma oportunidade


para gerar rendimentos e empregos em áreas relativamente intocadas pelas
tentativas tradicionais de desenvolvimento. Com freqüência, tais objetivos
são atingidos parcialmente, mas sabe-se que apenas uma pequena parcela do
dinheiro gasto pelos turistas permanece no próprio local ou próximo a ele
(Lindberg, 1991; Boo, 1990).
Existem pelo menos três razões para aumentar os benefícios gerados
pelo desenvolvimento do ecoturismo e a participação nesse
desenvolvimento. Em primeiro lugar, a conservação da área para atividades
ecoturísticas reduz ou elimina a utilização tradicional dos recursos. Em
segundo lugar, quando os habitantes recebem benefícios, geralmente apóiam
o ecoturismo, chegando a ponto de proteger o local contra invasões ou
outros tipos de transgressão. Mas se os habitantes assumem os custos sem
receber os benefícios, com freqüência voltam-se contra o ecoturismo e
podem intencional ou acidentalmente causar danos à atração. E, por fim, os
ecoturistas, bem como os consumidores, geralmente sustentam a
importância do turismo que beneficia os habitantes locais (Eagles,
Ballantine e Fennell, 1992).
Esta seção discute os princípios e mecanismos para aumentar a
contribuição do ecoturismo para o desenvolvimento econômico local.
180 ecoturismo

Para uma discussão mais abrangente do papel do ecoturismo no


desenvolvimento sustentável, consultar Healy (1991).
A soma de dinheiro que realmente chega à região de destino, menos a
quantia gasta para pagar bens e serviços externos, não tem sido
adequadamente quantificada. Contudo, uma estimativa geral é a de que
menos de 10% dos gastos do turista permanecem nas comunidades
próximas aos destinos ecoturísticos. Até certo ponto, esse fato deve-se
simplesmente à natureza da indústria do turismo; fundos substanciais são
gastos com marketing e transporte, antes mesmo de o turista chegar ao
destino. Porém, existem oportunidades para ampliar os benefícios
econômicos locais do ecoturismo. Muitas delas estão sendo atualmente
adotadas por programas patrocinados pelo governo e pela iniciativa privada.
A medida que eles vão sendo implantados, deveríamos ser capazes de
determinar quais os mais eficazes para atingir os objetivos de
desenvolvimento econômico.
Alguns dos mecanismos para aumentar os benefícios locais originados
pelo ecoturismo incluem: propriedade e administração local do recurso
ecoturístico; leasing, propriedade parcial ou estruturas de participação de
lucros entre a indústria turística e os habitantes locais; pagamentos diretos
para as comunidades, oriundos de receitas turísticas; e emprego de mão-de-
obra local na indústria do turismo. Na prática, o mecanismo mais
apropriado, ou grupo de mecanismos, dependerá das condições culturais,
políticas e econômicas locais. Os exemplos a seguir ilustram parte do que
vem sendo feito.

exemplo 1: a propriedade local em Zimbábue

Nos anos 80, o Zimbábue desenvolveu o modelo de Programa de


Administração de Áreas Comunitárias para Reservas Indígenas
(CAMPFIRE), pelo qual os conselhos distritais foram dotados de "au-
toridade" para manejar a vida selvagem nessas regiões (Heath, 1992;
Murindagomo, 1990). De modo significativo, o Ministério do Turismo e
Reservas Naturais exigiu que os conselhos demonstrassem o
questões econômicas na gestão do ecoturismo 181

endosso de seus membros e a capacidade de implantar um plano de


administração da vida selvagem como pré-requisito para exercer essa
autoridade.
Nos locais onde isso ocorreu, o CAMPFIRE permitiu aos conselhos
distritais gerenciar diretamente e lucrar com a caça, o turismo fotográfico e
outras formas de utilização da vida selvagem. No distrito de Guruve, por
exemplo, a estação de caça de 1989 gerou 61.340 dólares zimbabuanos
(cerca de 24.536 dólares) em dividendos para os bairros, com um adicional
de 195.315 dólares, disponíveis para a compra de equipamentos, fundos
para o conselho distrital e outros fins. O bairro de Kanyurira recebeu 18.924
dólares, dos quais a maior parte foi destinada a projetos comunitários e
pagamentos diretos de 80 dólares para cada família. Comparativamente,
cada família média da região ganhou 200 dólares com o algodão, durante o
mesmo período (Murindagomo, 1990).

exemplo 2: pagamento direto e geração de empregos na Zâmbia

Como foi observado na seção sobre as taxas, o Projeto de Desen-


volvimento de Lupanda, próximo ao Parque Nacional de Luangwa do Sul,
permite que os benefícios gerados pela caça e por outras utilizações da vida
selvagem sejam revertidos para a administração da vida selvagem e para as
comunidades locais por intermédio do Wildlife Conservation Revolving
Fund (Fundo Rotativo para Conservação da Vida Selvagem), segundo
Lewis, Kaweche e Mwenya, 1990. Desses fundos, 40% são entregues aos
dirigentes locais para projetos da comunidade; em 1986, isso equivaleu a
7.950 dólares.
Além dos benefícios financeiros diretos, 114 habitantes locais foram
efetivamente empregados nos programas de conservação, em operações de
caça e na caça seletiva de hipopótamos. O emprego da mão-de-obra local
demonstra como o ecoturismo pode sustentar o desenvolvimento econômico
rural. Como os empregos produzem sustentação para os programas de
conservação que os geraram, o ecotu-
182 ecoturismo

rismo também contribui para a conservação. De fato, a caça ilegal de


elefantes e rinocerontes pretos, que vinha aumentando significativamente,
diminuiu pelo menos dez vezes no período entre 1985 e 1987.

exemplo 3: pagamento direto no Quênia

O Quênia, há muito, é líder de sucesso financeiro no campo do


ecoturismo, e espera-se que as receitas aumentem ainda mais, à medida que
níveis mais altos de taxas sejam implementados. A expectativa é de que a
receita originada pelos parques e reservas públicas salte dos 23,6 milhões de
dólares obtidos em 1990 para 53,7 milhões em 1995 (em dólares de 1990),
segundo o Kenya Wildlife Service (Serviço da Vida Selvagem do Quênia),
1990.
Umas das prioridades do Quênia é partilhar 25% da receita gerada
pelas taxas de ingresso com as comunidades que circundam as áreas
protegidas. Esse programa está explicitamente estruturado para reembolsar
as comunidades pelos custos diretos e indiretos ligados à criação da área
protegida. A distribuição dos fundos se baseará na incorrência dos custos,
tais como perda de colheitas e de gado para dar lugar à conservação.
Esses exemplos envolvem as atividades relativamente lucrativas de
caça de animais selvagens e de observação desses animais. Contudo, o
conceito é válido para outros locais. Por exemplo, o Projeto da Unidade de
Conservação de Annapurna {Annapurna Conservation Area Project -
ACAP), no Nepal, gera anualmente 200.000 dólares de taxas, obtidas com o
trekking, com os quais financia as suas atividades e os projetos da
comunidade (Wells, 1992). O ingresso de 3,50 dólares do Parque e Reserva
Florestal de Tavoro, em Fiji, gerou 8.000 dólares em receitas, entre março e
novembro de 1991. Desse total, cerca da metade foi utilizada para pagar
salários e despesas, e a outra metade foi destinada a projetos de
desenvolvimento comunitário (Young, 1992).
questões econômicas na gestão do ecoturismo 183

aumento do desenvolvimento econômico mediante a redução de perdas


e a otimização de parcerias

Talvez a maior oportunidade para propiciar benefícios locais seja


empregar os habitantes locais na indústria do turismo e nas indústrias que o
sustentam. O dinheiro gasto pelos turistas circula pela economia quando o
setor turístico e seus empregados adquirem bens de outros
empreendimentos. Portanto, o turismo pode sustentar não apenas o gerente
da pousada local, mas também o fazendeiro local, que planta os alimentos
vendidos para a pousada. Por outro lado, se essa pousada importa seus
alimentos, o dinheiro "escapa" e produz menos benefícios. Para fomentar o
desenvolvimento local, o turismo deveria ser parceiro de outros setores, de
modo que o dinheiro ajudasse a desenvolver a economia local, ao invés de
dispersar-se (o que constitui a economia local depende da região de
interesse; ela pode ser uma vila, uma província ou alguma outra unidade).
Os parágrafos seguintes ilustram oportunidades para reduzir a dispersão da
receita turística.

Aperfeiçoar as parcerias dentro da indústria do turismo. Talvez a


oportunidade mais óbvia para que os habitantes do local se beneficiem do
ecoturismo seja através do emprego na própria indústria. A curto prazo, esse
emprego pode concentrar-se na mão-de-obra não-especializada. Contudo,
devem ser desenvolvidos programas de treinamento, de forma que os
habitantes sejam capazes de ocupar cargos especializados, tais como os de
guias e gerentes. Além disso, deveria haver financiamento disponível para
que os empreendedores locais pudessem criar suas próprias operações
turísticas.

Aperfeiçoar o contato com o setor de transporte local. Geralmente os


ecoturistas necessitam locomover-se e querem utilizar os meios de
transporte existentes no local, do mais tradicional ao mais moderno. Sempre
que possível, barcos, canoas, mulas, táxis e carregadores devem ser
utilizados. Em alguns casos, podem ser formadas cooperativas para comprar
equipamentos de transporte mais caros. Os
184 ecoturismo

barcos que levam os turistas de Puno a Taquile, no Lago Titicaca, no Peru,


por exemplo, são de propriedade de uma cooperativa local.

Aperfeiçoar o contato com a agricultura e a pesca. As despesas


substanciais do turismo são geradas pela compra de alimentos, muitos deles
importados de regiões distantes das próprias atrações turísticas (Miller,
1985). Os ecoturistas tendem a se interessar pela cozinha local, contanto que
os padrões de qualidade sejam respeitados. Com freqüência, pousadas e
restaurantes precisam estar mais dispostos a gastar o tempo extra,
desenvolvendo fontes locais de alimentos. Enquanto isso não ocorre, os
fazendeiros e distribuidores locais precisam reconhecer a importância da
qualidade e confiabilidade.

Aperfeiçoar o contato com os setores de construção, equipamentos e


manutenção. Como a infra-estrutura do ecoturismo é tipicamente feita em
pequena escala e localizada em lugares remotos, a mão-de-obra e os
materiais locais são quase sempre utilizados em sua construção. Esse tipo de
contato deveria ser mantido e expandido.

Desenvolver o artesanato local e outros souvenirs. Em geral, as vendas


de souvenirs são o meio mais fácil de os habitantes locais se beneficiarem
com a presença de turistas, mas muitos locais vendem souvenirs vindos de
outras regiões ou até mesmo de outros países. Ao invés desse procedimento,
deveria ser assumido um compromisso para fomentar o artesanato local,
levando em consideração o que é atrativo para os turistas.
Como os benefícios locais gerados pelo ecoturismo serão maxi-
mizados? Utilizando o simples exemplo de uma pousada, o objetivo seria:
desenvolver o turismo que maximiza os gastos na pousada (aumento da
receita bruta); desenvolver programas que promovam a propriedade local e
a administração local da pousada (aumento dos benefícios diretos para cada
dólar de receita bruta); desenvolver fortes elos entre a pousada e os
fazendeiros locais; e financiar programas que ajudem os fazendeiros a
fornecer os produtos que a pousada ainda
questões econômicas na gestão do ecoturismo 185

importa de outras regiões (redução da dispersão e aumento dos benefícios


indiretos).
Até certo ponto, esses contatos se desenvolverão de maneira
espontânea para suprir as necessidades imediatas. Entretanto, o envol-
vimento ativo dos líderes comunitários, funcionários do governo, indústria e
organizações não-governamentais quase sempre será necessário. Por
exemplo, a indústria pode trabalhar com as comunidades locais para
identificar oportunidades de emprego ou para o fornecimento de bens, tais
como alimentos e artesanato. Com freqüência, o governo desempenha um
papel vital no fornecimento de crédito para empreendedores ou no
treinamento mediante programas de extensão. As organizações não-
governamentais podem desempenhar papéis importantes no treinamento e
em outras atividades. Esses grupos distintos precisarão cooperar de modo a
identificar as oportunidades para o desenvolvimento local; identificar os
programas de treinamento e crédito, além de outros necessários para
viabilizar essas oportunidades; implantar esses programas; e avaliar os
fracassos e sucessos do programa, tentando novas estratégias, quando
apropriado.

métodos de treinamento e emprego

Um exemplo de cooperação para aumentar o emprego é o programa de


treinamento de guia turístico desenvolvido pela Estação Biológica La Selva,
com financiamento do Fundo Mundial da Vida Selvagem, e em cooperação
com o Serviço Nacional de Parques da Costa Rica e outras organizações
(Paaby, Clark e González, 1991). Um grupo de 26 habitantes locais
(selecionados entre 93 candidatos) participou de conferências de 40 horas e
de 103 horas de caminhada monitorada no campo, que abarcaram tópicos
desde a ecologia geral às técnicas de observação de aves.
Embora esse programa não tivesse a intenção de fornecer uma
formação completa em interpretação (a maioria dos participantes não
possuía conhecimentos de língua estrangeira, por exemplo), os resul-
186 ecoturismo

tados foram positivos. Os guias formaram uma cooperativa local (a


Natucoop) e foram bem sucedidos em conseguir tanto empregos de meio
período quanto de período integral.
Programas de treinamento também vêm sendo implantados para
desenvolver fontes de alimentos confiáveis e de alta qualidade, para
melhorar os padrões de saneamento, etc. Em Bali, na Indonésia, foi criada
uma fazenda experimental a fim de aperfeiçoar a qualidade e a variedade de
produtos hortifrutigranjeiros a serem vendidos aos hotéis turísticos e
restaurantes. Um elemento importante desse programa foi o enfoque dado
ao marketing, incluindo a organização de um abastecimento confiável de
produtos (Inskeep, 1991). Enquanto isso, o Quênia reduziu suas importações
de produtos alimentícios, que representava 77% do consumo de alimentos
dos turistas em 1984, para 14% em 1988 (Dieke, 1991).
O Projeto da Unidade de Conservação de Annapurna, no Nepal
(ACAP), não só reverteu a renda dos ingressos para a região local, mas
também incluiu o treinamento para elevar a qualidade do serviço,
padronizar menus e preços, e melhorar os padrões de saneamento e
tratamento do lixo (Wells, 1992). Alguns programas de treinamento do
quadro de funcionários podem ser desenvolvidos com financiamento
público, enquanto outros podem ser proporcionados pelo setor privado
como parte de um acordo de licenças que permita o estabelecimento de
empreendimentos turísticos (Ankomah e Crompton, 1990, observam tais
acordos em vários países). Vários programas de treinamento são descritos
por Inskeep (1991).
Os programas de desenvolvimento econômico, como o treinamento e o
fornecimento de crédito rural, têm enfrentado uma série de obstáculos e
muitos têm fracassado ou apenas têm sido parcialmente bem sucedidos.
Algumas dificuldades incluem o modelo ou a implantação inadequados do
projeto, habilidades limitadas dos habitantes e pouca experiência com o
público, e conflitos acerca da distribuição de renda. Desenvolver programas
que treinem com sucesso os habitantes, obtenham créditos e alcancem os
objetivos relativos ao desen-
questões econômicas na gestão do ecoturismo 187

volvimento econômico são alguns dos desafios mais importantes que o


ecoturismo enfrenta hoje.
Além disso, via de regra, as decisões sobre quais programas adotar
precisarão ser priorizadas, levando-se em consideração a limitação de
recursos humanos e financeiros. Será que a prioridade deveria ser dada ao
fornecimento de treinamento para guias locais ou para o desenvolvimento
de insumos agrícolas locais? É mais importante desenvolver um programa
de upgrading (mercados mais rentáveis) e, assim, atrair turistas que possam
gastar mais, mas que, em contrapartida, requerem um volume maior de
mercadorias importadas, ou desenvolver um ecoturismo de mochileiros, que
poderia gerar uma receita bruta menor, porém mais estritamente ligada à
economia local, e que possivelmente causaria menores danos ecológicos ao
parque?
Essas questões podem ser parcialmente respondidas pela análise de
fatores multiplicadores, uma medida de como o turismo (ou qualquer
indústria) está ligado aos outros setores da economia. Os multiplicadores
quase sempre são mal interpretados e usados incorretamente (Eadington e
Redman, 1991; Archer, 1984). E da maneira como são atualmente
empregados, os multiplicadores são mais úteis na comparação de atividades
do que na comparação de diferentes tipos de desenvolvimento do turismo,
ou na identificação de oportunidades para aumentar os contatos com outros
setores. Ademais, os dados necessários para o cálculo de multiplicadores
quase nunca estão disponíveis ou são de precisão questionável.
Contudo, o conceito básico de multiplicador é útil, e informações de
grande valia podem ser obtidas pesquisando-se os modelos de emprego e de
compra dos próprios empreendimentos turísticos; ou seja, pela identificação
de sua integração com a economia local (Milne, 1992; Borge et al., 1990). A
análise das respostas ajuda os planejadores a determinar que tipo de
desenvolvimento turístico, tal como o de mochileiros versus upgrading,
melhor atinge os objetivos de rendimentos ou de geração de emprego. Além
disso, esse conceito pode ser utilizado para identificar aqueles setores - o de
insumos
188 ecoturismo

agrícolas, por exemplo - que podem ser desenvolvidos para aumentar a


integração e, por conseguinte, aumentar a quantia de dinheiro retida pela
economia local.
Quando não é possível uma análise completa de fatores multi-
plicadores, informação similar pode ainda ser obtida mediante um exame
menos rigoroso da forma como o dinheiro flui através da indústria do
ecoturismo. Os líderes comunitários poderiam, formal ou informalmente,
entrevistar os empresários do ramo turístico para identificar as vias de saída
do dinheiro da economia local (em muitos casos, o escoamento será óbvio e
as entrevistas, desnecessárias). Posteriormente, essa informação pode ser
utilizada para priorizar programas que reduzirão esse escoamento, e assim
melhorar os benefícios locais. Se as pesquisas com os empresários do
turismo demonstram que a maioria dos guias é contratada na capital, mas a
maior parte dos alimentos consumidos pelos turistas origina-se da área
local, a prioridade será desenvolver programas para treinar os habitantes
locais como guias.
Entretanto, se a maior parte dos alimentos é importada de outras
regiões ou países, então deve-se decidir entre a alocação de fundos para
treinamento de guias, ou para o desenvolvimento de produtos agrícolas para
o mercado turístico. As pesquisas feitas com as empresas poderiam ser
utilizadas para determinar qual opção geraria o maior número de empregos.
Dependendo das prioridades, a decisão sobre qual projeto financiar poderia
basear-se nas seguintes considerações:

o custo de cada projeto e em que medida ele atingirá seu objetivo (Os
produtos agrícolas serão realmente aceitos? Os guias serão treinados de
forma adequada?);
o número de empregos que será criado;
a necessidade desses empregos (Os empregos de guias turísticos serão
mais necessários do que os da agricultura?);
a estabilidade dos empregos (Os produtos agrícolas ou de artesanato
poderão ser vendidos se o turismo diminuir?).
questões econômicas na gestão do ecoturismo 189

o aumento dos gastos do turista na economia local

O inverso do método de redução de dispersão dos gastos é o aumento


dos gastos do turista. Estudos na América Latina e na Tailândia sugerem
que receitas extras podem ser obtidas pelo desenvolvimento de infra-
estrutura e de serviços nas atrações ecoturísticas ou em locais situados em
suas proximidades (Boo, 1990; Dixon e Sherman, 1990). Eles poderiam
incluir alojamentos, restaurantes ou lanchonetes, lojas de venda de
souvenirs, centros de visitantes, atividades culturais, etc. A Figura 4-7 (uma
extensão da Figura 4-3) inclui uma amostra de questões para pesquisas, que
auxiliarão a identificar oportunidades para aumentar os gastos com turismo
e reduzir sua dispersão. Essas pesquisas também podem incluir questões
relativas aos padrões atuais de gastos, identificando, desse modo, o impacto
atual direto sobre as comunidades locais (em geral, os turistas estarão mais
capacitados a identificar seus gastos quando estiverem viajando por conta
própria do que quando em pacotes de viagem pagos antecipadamente).
Um planejamento minucioso é particularmente importante para
desenvolver as instalações adicionais. Pode ser que seja melhor construir a
infra-estrutura fora do parque, reduzindo dessa forma os impactos
ecológicos negativos e, ao mesmo tempo, aumentando as oportunidades
para que os habitantes locais participem na economia do turismo. Contudo,
a construção das instalações nos povoados pode aumentar o impacto social e
cultural e privar o parque da capacidade de controlar os impactos
ecológicos.
É preciso ter cautela para evitar o prejuízo indireto ao meio ambiente, à
cultura ou à economia locais. O artesanato não deve basear-se na utilização
da flora e da fauna, quando isso colocar em risco as espécies ou os costumes
locais. Freqüentemente, os souvenirs feitos com penas de aves e corais são
citados como exemplos de como a produção de peças artesanais pode causar
severos prejuízos às reservas naturais.
190 ecoturismo

Figura 4-7. Amostra de Questões de Pesquisa para Identificar Oportuni-


dades que Aumentem os Gastos Turísticos e Reduzam a Dispersão

Se desenvolvêssemos instalações para hospedagem ou restaurantes, você as


utilizaria?
Certamente Provavelmente É improvável Não

Que tipos de instalações você preferiria?

Caras e de alta qualidade


De qualidade e preço médios
Simples e baratas

Você comprou souvenirs durante sua viagem? Em caso positivo, você


poderia informar quanto eles custaram, aproximadamente?

Se aumentássemos nossa variedade de souvenirs, você compraria mais?

Em que tipos de souvenirs você está mais interessado?

1. Objetos de arte local, de que tipo? _________


2. Livros e outros materiais informativos.
3. Camisetas e outras peças de vestuário.
4. Outros itens; favor relacionar: _________

Você provou algum prato que lhe pareceu ser típico desta região?
Sim Não Se não, por quê?

1. Não me foi oferecido.


2. Fiquei preocupado com a qualidade da comida.
3. Não gostei do sabor da comida local.

Se fôssemos desenvolver XX, você estaria interessado e disposto a pagar


para participar dessa atividade? (XX seria uma atividade suplementar,
como um centro de visitantes, um evento cultural, etc.)
questões econômicas na gestão do ecoturismo 191

Durante todo o processo de planejamento, deve-se levar em


consideração tanto as tradições culturais e econômicas quanto os desejos e
preferências dos turistas. Em alguns casos, por exemplo, as cooperativas de
artífices serão apropriadas do ponto de vista cultural (e atraentes para os
turistas), enquanto, em outros casos, serão mais adequados os vendedores
independentes.
O turismo também impõe novas demandas sobre as economias locais,
particularmente àquelas das áreas remotas. O consumo dos produtos locais
pode ser um benefício importante do ecoturismo, mas essa demanda deve
ser administrada cuidadosamente, de modo a não abalar a economia local e
o meio ambiente. No Nepal, por exemplo, a demanda do turismo por lenha
aumentou o custo da madeira para os nepaleses, além de provocar grande
desmatamento. Sempre existem meios para reduzir esses impactos;
atualmente, o Projeto da Unidade de Conservação de Annapurna (ACAP)
exige que os trekkers utilizem querosene em vez de lenha.

conclusão

O ecoturismo tem atraído substancial atenção devido à sua capacidade


de proporcionar benefícios econômicos para o desenvolvimento rural e para
a conservação. Em muitas regiões, o ecoturismo já fez contribuições vitais
nessas duas áreas. Contudo, essa atenção também revelou que ainda há
muito a ser feito. Este capítulo apresentou e ilustrou várias estratégias para a
gestão do ecoturismo, de modo que seus benefícios sejam mantidos e
expandidos.

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5

uma janela para o mundo natural: o projeto de


instalações ecoturísticas

David L. Andersen
Este capítulo enfoca o projeto, desenvolvimento e funcionamento de
instalações que incorporam os princípios gerais do planejamento sensível ao
meio ambiente e ao desenvolvimento sustentado. As questões discutidas
irão, em muitos casos, transcender problemas estritamente ligados à
arquitetura e ao desenvolvimento. Isso é um reflexo da complexidade da
experiência do ecoturismo e da necessidade de se envolver a conservação do
meio ambiente e a cultura local. Para este autor, as instalações são "janelas
para o mundo natural" e funcionam como veículos para o aprendizado e a
compreensão. Embora seja apenas um componente do ecoturismo, o projeto
das instalações pode reforçar e aumentar a satisfação do ecoturista e sua
compreensão do local. Proporcionar um alojamento confortável, com baixo
impacto ecológico, é a chave para o sucesso de instalações ecoturísticas,
porém estas deveriam também servir como janelas para o mundo natural e
como meios para conhecer e compreender a natureza.
200 ecoturismo

à procura de definição e padrões éticos para as


instalações
Muito embora o entorno das últimas áreas selvagens esteja sendo
vítima de madeireiros e, freqüentemente, de técnicas agrícolas impróprias,
um número cada vez maior de instalações ecoturísticas, estações de campo e
centros de aprendizagem sobre o meio ambiente está procurando oferecer
oportunidades para se apreciar essas raras áreas inexploradas. Hoje, o
ecoturismo representa uma parcela pequena, porém crescente, no mercado
do turismo global. Informações detalhadas a respeito de instalações
específicas podem ser encontradas no livro Rainforest: A Guide to Research
and Tourist Facilities (Castner, 1990). Embora a obra constitua uma ampla
revisão das instalações desenvolvidas em florestas tropicais na época de sua
publicação, o recente e rápido crescimento das instalações ecoturísticas tem
ultrapassado os esforços de catalogá-las.
O crescimento desse nicho de mercado tem sido limitado pela carência
geral de infra-estrutura de suporte para o turismo. Para dar continuidade ao
crescimento do ecoturismo como indústria, é importante que os governos e a
iniciativa privada reúnam recursos técnicos, culturais e financeiros a fim de
colocar em prática um programa que priorize o meio ambiente. Os governos
e as comunidades locais precisam ter sensibilidade, clareza e vontade
política para encarar o ecoturismo como uma oportunidade de crescimento
limitado, a fim de impedir um desenvolvimento descontrolado que destrua o
meio ambiente. O desafio que aqui se propõe é o de construir boas insta-
lações, tendo sempre presente a compreensão de que o turismo não deve ser
a única indústria da qual uma comunidade dependa para seu sustento
econômico. Embora o ecoturismo possa ser visto por alguns como uma
solução para as dificuldades econômicas de determinadas regiões, ele deve
fazer parte de um plano econômico balanceado, de longo prazo, envolvendo
outras indústrias sustentáveis.
uma janela para o mundo natural 201

A preocupação com as instalações ultrapassa o âmbito do ecoturismo e


pode ser percebida em outros setores da indústria do turismo. Importantes
redes hoteleiras, como a Marriott Corporation, estão tentando oferecer
apartamentos "que não agridam o meio ambiente", isto é, estão utilizando
materiais e técnicas de construção que resultam em baixo impacto
ambiental. A Choice Hotels está equipando os quartos com recipientes para
a coleta de materiais recicláveis e encorajando seus hóspedes à conservação.
Essas atividades que respeitam a natureza de modo algum se equiparam ao
ecoturismo, mas ilustram a influência que o conceito de instalação
ecoturística pode ter sobre os padrões vigentes de hotelaria.
Alguns países, como Belize, Costa Rica, Equador e Venezuela, talvez
levem uma vantagem em relação ao desenvolvimento do ecoturismo, porque
dispõem de programas governamentais e de infra-estrutura. Ainda que
muitos outros países não possam contar com isso, eles também têm a
oportunidade de desenvolver seu próprio ecoturismo de maneira equilibrada,
aprendendo com a experiência de indústrias ecoturísticas mais avançadas. A
Costa Rica, por exemplo, ao mesmo tempo que está passando por uma
experiência positiva de ecoturismo, está lutando a fim de resolver o
problema de como preparar adequadamente o meio ambiente para lidar com
a súbita popularização da vocação turística do país. De modo semelhante,
Papua Nova Guiné tem um grande potencial para o ecoturismo. Mas será
que a cultura dos últimos prováveis fabricantes de machados de pedra do
mundo poderá sobreviver ao contato cada vez maior com estrangeiros? Qual
será o efeito da chegada de barcos lotados de turistas sobre as tradições
familiares e as práticas artesanais da população nativa das ilhas Trobriand,
em Papua Nova Guiné? Obviamente, essas questões vão além da indústria
do turismo, porém o responsável pelo projeto de instalações para o
ecoturismo precisa estar ciente dos efeitos culturais e econômicos sobre a
população nativa.
A sensibilidade do projeto de instalações construídas dentro dos frágeis
limites da natureza deve revelar um forte elo com os princípios
202 ecoturismo

de conservação, implícitos no ecoturismo e nos empreendimentos científicos


e educacionais. A criação de códigos de ética ambiental e de critérios gerais
para projetos em ecoturismo são passos positivos para garantir que essa
sensibilidade esteja, de fato, presente. Há um grande interesse na
conservação daquilo que é natural, e as instalações ecoturísticas podem
contribuir muito para criar condições de que os objetivos de conservação
sejam alcançados. O empreendedor do ecoturismo, no entanto, é apenas um
ator neste cenário da vida real.

aspectos financeiros na implantação de instalações ecoturísticas

Pode ser que algumas comunidades e indivíduos garantam sua


sobrevivência graças à meta do ecoturismo de salvar nosso planeta. Ainda
hoje, infelizmente, muitas das instalações supostamente voltadas para o
ecoturismo são grosseiras intromissões na paisagem. Tem sido fácil
justificar o projeto (ou a falta dele) e a construção dessas instalações, com
base no limite de verbas das organizações sem fins lucrativos que
freqüentemente estão envolvidas no desenvolvimento de instalações
educacionais e científicas. De modo similar, as entidades que visam a lucros
com o ecoturismo, via de regra também dispõem de recursos financeiros
limitados. Na verdade, as restrições no orçamento raramente permitem a
participação de projetistas competentes.
O tamanho limitado de um empreendimento ecoturístico típico exclui a
participação de grandes corporações hoteleiras, colocando as tarefas de
projeto e construção nas mãos de pequenos empreendedores. Recursos
financeiros escassos têm gerado planos e projetos mal-elaborados, mas
também têm estimulado uma grande variedade de propostas de projeto. O
característico enfoque "prático e simples" na gestão das instalações para o
ecoturismo é talvez a melhor prova de que as construções podem adaptar-se
às mudanças do ambiente natural para o qual elas oferecem acesso. Por
iniciativa própria, esses empreendedores criaram soluções arquitetônicas
simples e interessantes.
uma janela para o mundo natural 203

Há, no entanto, um interesse crescente dos grandes hoteleiros pelo


ecoturismo. A economia de locais muito freqüentados parece estar
direcionando o mercado do ecoturismo para grandes empreendimentos. Os
tradicionais hotéis de primeira classe precisam ter, no mínimo, cinqüenta
apartamentos, para compensar os gastos com funcionários e infra-estrutura.
Já um pequeno proprietário pode sobreviver economicamente com doze a
vinte apartamentos (ou menos), dependendo da economia local.* O tamanho
máximo de uma instalação não deve exceder a capacidade de suporte do
meio ambiente (National Park Service, 1992). O desafio que se propõe é o
de encontrar uma maneira de os grandes operadores turísticos participarem
desses projetos. Contudo, a iniciativa da Marriott Corporation e da Choice
Hotels de desenvolver alojamentos que respeitem o meio ambiente, na
indústria do turismo de massa, demonstra que a preocupação ambiental
pode ser uma decisão acertada em termos empresariais.
Embora o tamanho reduzido das instalações ecoturísticas geralmente
impeça a participação de grandes corporações hoteleiras, pequenos
operadores também podem demonstrar preocupações de ordem ambiental.
Um enfoque possível seria promover alianças estratégicas entre grandes
hotéis urbanos e praianos e instalações ecoturísticas de pequeno porte. Essa
parceria poderia beneficiar ambos: o operador do ecoturismo teria um fluxo
constante de hóspedes, e os grandes hotéis poderiam ter as estadias de seus
hóspedes prolongadas ou repetidas. Tais estratégias inovadoras podem ser
decisivas para garantir que o ecoturismo não provoque um desgaste
excessivo no meio que lhe serve como principal atração.**

* Nas instalações ecoturísticas brasileiras, a qualificação se dá, na maioria


das vezes, por leitos, para pousadas simples. À medida que for
promovido o upgrading das instalações, menor quantidade de leitos por
apartamento com maior diária média permitirá melhor sustentabilidade
ecológica e econômica. (N. do R.T.)
** No Brasil, tal parceria foi realizada pelos 26 hotéis de selva nas
cercanias de Manaus, no Amazonas, em 1994, como o Tropical Hotel e o
Lago Salvador Lodge. (N. do R.T.)
204 ecoturismo

As principais agências financiadoras, como o Banco Mundial ou o


Fundo Internacional de Investimento Ambiental dos Estados Unidos
(Overseas Private Investment Corporation, OPIC), cada vez mais estão
destinando verbas para infra-estruturas ecoturísticas. Como essas agências
geralmente procuram grandes projetos, é preciso criar estratégias, como a da
parceria, que combinem grandes oportunidades de financiamento com um
impacto ecológico limitado.

aspectos organizacionais

Quando se considera uma determinada área adequada para o


desenvolvimento de instalações ecoturísticas, uma série de questões
conceituais, de ordem geral, precisa ser levantada.

A área é especial o bastante para exigir proteção governamental?


A infra-estrutura é suficiente para dar suporte ao ecoturismo?
Existem estudos feitos sobre a fragilidade ecológica da área?
A implantação das instalações atende a atual demanda ou visa a uma
futura demanda de mercado? É possível planejar um desenvolvimento em
etapas?
As instalações oferecem uma variedade de opções de alojamento na
região? A variedade propicia ao turista a oportunidade de prolongar sua
estadia no local e estimula seu retorno? A existência de opções quanto ao
tipo de alojamento também permitirá que a área seja visitada por uma
clientela mais diversificada?
Como a instalação pode expressar as características particulares de uma
área e de sua população? Encoraje e promova a participação e a colaboração
da população nativa e dos operadores turísticos locais.
Como a região pode se beneficiar dos canais comuns de propaganda no
que se refere aos empreendimentos da região?
uma janela para o mundo natural 205

Quais são as expectativas do visitante em relação aos aloja


mentos na região?

Após verificar as condições do local de construção, o empreendedor


deve tomar as seguintes providências.

Obter uma planta dos limites e demarcar o perímetro.


Obter uma descrição topográfica onde constem os intervalos das curvas
de nível, para um estudo detalhado.
Localizar aspectos significativos do local, árvores, pântanos, riachos,
construções existentes (se houver alguma), sítios arqueológicos, etc.
Consultar fotos aéreas do local para confirmar as informações obtidas.
Identificar as marcas de enchentes em estações chuvosas.
Averiguar os requisitos necessários para a aprovação estipula dos pelos
órgãos locais e nacionais.
Identificar fontes sustentáveis de energia no local.
Identificar a classificação de zonas sísmicas.*
Avaliar as condições do solo e sua capacidade de suportar edificações.
Observar como a prevalência dos ventos e os fatores climáticos afetam o
local durante todas as estações do ano.
Examinar o mapa da rede hidrográfica do local, observando se há
atividades nas propriedades vizinhas que possam causar impactos no
sistema de drenagem e na qualidade da água.
Verificar quais são os usos atuais e futuros das propriedades adjacentes.
Pesquisar a história do local para saber se houve ocupação prévia pelo
homem.

* Devido às características geológicas do Brasil, tal preocupação não é


significativa. (N. do R.T.)
206 ecoturismo

Estudar quaisquer sítios arqueológicos significativos existentes na


propriedade.
Estudar as tecnologias locais de construção.
Avaliar a disponibilidade de trabalhadores, qualificados ou não.
Identificar fontes de materiais de construção e métodos de transporte ao
local, para minimizar o uso de materiais importados sempre que possível.

procurando inspiração na natureza

Pode-se dizer que o que falta em muitas instalações ecoturísticas é uma


certa dose de fantasia, aventura e descoberta. Embora grande parte dos
visitantes seja atraída pela beleza e singularidade do ambiente natural,
muitos turistas têm a expectativa de que os alojamentos vão lhes
proporcionar um padrão semelhante ao dos centros urbanos. Não sou
favorável à criação de um clima de parque de diversões ou à construção de
suítes excessivamente luxuosas, mas é importante levar em consideração os
requisitos indispensáveis a um abrigo básico. O alojamento deve ter um
projeto descontraído e acolhedor, que corresponda às expectativas do turista,
que viajou para ficar imerso em um cenário natural e selvagem mas quer
gozar de algumas regalias no final do dia.
As expectativas dos ecoturistas não podem ser facilmente identificadas
ou quantificadas. Trata-se de um mercado diversificado, que envolve uma
série de motivações e necessidades. Enquanto alguns ecoturistas ficam
contentes em dormir em uma barraca de acampamento, outros preferem (e
pagam por) quartos fechados com banheiros privativos e demais
comodidades. As instalações e a infra-estrutura precisam adaptar-se às
necessidades atuais e futuras.
A natureza é, sem dúvida, a fonte de inspiração para o projeto
arquitetônico de instalações ecoturísticas (ver Figura 5-1). Infeliz-
uma janela para o mundo natural 207

mente, muitas instalações recentemente construídas são inspiradas nos


projetos das grandes cidades, onde o mercado imobiliário e os materiais de
construção industrializados ditam atmosfera, formas e cores estranhas ao
cenário natural das instalações ecoturísticas. Muitas não estão em sintonia
com a natureza e as técnicas e materiais de construção dos comerciantes da
região, além de serem consideradas comuns e sem graça pelos visitantes.
A exemplo do falecido arquiteto Frank Lloyd Wright, que idealizou
uma arquitetura orgânica para o desenvolvimento de estruturas básicas
(Wright, 1954), os projetistas e empreendedores precisam assumir novas
perspectivas e criar estilos arquitetônicos orgânicos, que pareçam brotar da
natureza única de cada local, de forma tão integrada e espontânea como as
flores que desabrocham nos campos. A arquitetura precisa ir além dos
requisitos indispensáveis a um abrigo, e assumir-se como parte do cenário
natural e como expressão das necessidades e desejos dos hóspedes.
O ecoturismo representa uma ruptura com a tradicional fórmula
turística: sol, mar e areia. Ele convida à aventura, oferecendo oportunidades
de aprendizado e de conservação, incitando uma experiência espiritual com
a natureza. Para atingir plenamente esses objetivos, as instalações também
precisam afastar-se da fórmula tradicional.
A melhor fonte de inspiração para o projeto de instalações ecoturísticas
é o próprio local. As formas das plantas, das árvores e as formações
geológicas em si são um rico acervo de estruturas arquitetônicas. Essas
formas foram forjadas pela natureza ao longo de milhões de anos e
representam modelos de eficiência, desempenho e beleza.
Para aproximar-se da natureza e começar a compreender seus segredos,
é preciso abandonar as formas, as texturas e o aspecto dos produtos
industrializados, e ignorar as flutuações do mercado imobiliário. O
projetista de uma instalação ecoturística precisa sentir a terra e harmonizar-
se com ela à medida que cria essa arquitetura orgânica. A proposta
arquitetônica deve brotar naturalmente do solo e projetar-se suavemente
pela paisagem (Good, 1990). Por exemplo, o projetista
uma janela para o mundo natural 209

precisa observar o comportamento dos animais peculiares à área em


questão, para que a disposição das construções não interrompa seus padrões
de comportamento e de hábitat. O projetista e o empreendedor precisam
passar algum tempo juntos no local, reunindo elementos para ampliar sua
compreensão sobre a área e sua percepção do contexto natural ao qual o
empreendimento deverá se integrar. O livro Design with Nature (McHarg,
1992) enfatiza que os projetistas precisam ter acesso a diversas alternativas
para poder fazer escolhas responsáveis em benefício da natureza.
Não é possível prever, sem esse processo, as formas concretas que
podem ser produzidas a partir de um enfoque de projeto orgânico. Elas são
um reflexo das singularidades do local, do programa de desenvolvimento e
da imaginação do projetista. É possível afirmar, no entanto, que a
singularidade de um local pode provocar mudanças no plano de
desenvolvimento, que, em última análise, irão contribuir para o sucesso da
instalação ecoturística. O projeto final de uma instalação adequada ao local
tornará mais rica a experiência do turista e lhe permitirá perceber que a
visita é algo fora do usual, uma oportunidade preciosa de aprender a
valorizar e sentir o mundo.

trabalhando com recursos locais: abordando a


construção com um enfoque integrador
O ideal é que a instalação ecoturística seja criada a partir do diálogo
entre a comunidade local e o empreendedor. Se o empreendedor é de fora da
região do projeto, é fundamental não só envolver os moradores locais no
processo de planejamento, mas também no quadro de funcionários do
empreendimento já implantado. Do ponto de vista do empreendedor, a
participação da comunidade local é desejável por três motivos: o
conhecimento cultural e ecológico da população local pode contribuir para o
projeto; é importante fomentar a participação e os benefícios locais para
assegurar apoio, a longo prazo,
210 ecoturismo

para o ecoturismo na região; e, finalmente, a participação dos moradores


locais pode reduzir impactos culturais negativos.
Também é importante trabalhar o máximo possível dentro da estrutura
da comunidade/cultura, reconhecendo os valores da população local, bem
como o tipo e a disponibilidade de recursos humanos na região. Para
desenvolver um bom trabalho com a comunidade, o empreendedor precisa
investir algum tempo a fim de saber, por exemplo, onde vivem as famílias
mais tradicionais, ou de que forma os hábitos da comunidade podem afetar
o desempenho da mão-de-obra local, e ainda informar-se sobre quaisquer
outros fatores desconhecidos que afetem o desenvolvimento do projeto, do
ponto de vista humano. Além disso, quando for necessário importar mão-de-
obra, é importante, no processo de planejamento com a comunidade local,
preparar-se para tal impacto, providenciando acomodações temporárias para
os trabalhadores e suas famílias.
Em algumas áreas afastadas, o impacto da entrada de dinheiro
estrangeiro pode ter um efeito negativo na rotina dos trabalhadores da
construção civil ou dos técnicos operacionais. Na medida do possível, é
preciso preparar a população local para o novo empreendimento que será
implantado. Como o Secretário de Turismo de Belize, Glenn Godfrey,
salientou, no Primeiro Congresso Mundial sobre Turismo e Meio Ambiente,
o ecoturismo deve "permitir que as pessoas sejam mais, mas não
necessariamente que tenham mais".
O turismo é uma indústria muito sensível, suscetível às percepções do
turista. À segurança é um aspecto muito importante para viajantes
estrangeiros e, por essa razão, o planejamento da instalação deve garantir a
segurança pessoal dos visitantes e de seus pertences. Além disso, a
população local de áreas atingidas pelo desenvolvimento do turismo precisa
ser instruída a respeito da importância de evitar pequenos furtos e outros
comportamentos agressivos. Isso pode requerer um esforço educacional para
o qual, muitas vezes, o empreendedor não está preparado. Contudo, reduzir
os inconvenientes causados por
uma janela para o mundo natural 211

infrações ou por experiências interpessoais negativas pode contribuir muito


para aumentar a atratividade da área a longo prazo.
Para o ecoturista estrangeiro, visitar uma instalação ecoturística
representa uma experiência de transposição cultural. O projeto da instalação
deve levar em conta a importância de fornecer um cenário que propicie essa
experiência, embora não deva exceder-se na tentativa de proporcionar um
nível de conforto que contraste com o estilo de vida local. Projetos que
acentuem as diferenças de estilo de vida e de poder adquisitivo dos turistas
podem provocar um ligeiro ressentimento na população local.
Qualquer mudança em uma área, como a construção de um
empreendimento ecoturístico, terá um impacto sobre a região. Não é
intenção do autor deste capítulo defender uma "taxidermia cultural". As
culturas mudam e evoluem naturalmente. No entanto, é necessário que seja
feito todo o possível para reduzir o choque de uma mudança súbita na
cultura local.

critérios para o desenvolvimento de instalações


ecoturísticas

Os seguintes critérios gerais são sugeridos como linha mestra para a


elaboração de modelos mais detalhados, voltados para aspectos locais
específicos e para as características ecológicas de um dado local. Com
algumas exceções, os critérios e princípios que eles encerram talvez possam
ser aplicados a outros tipos de desenvolvimento. Tais critérios constituem
um guia geral e não devem ser considerados como uma lista completa ou
como substitutos aos serviços de um profissional da área.

questões relacionadas ao planejamento local

Situe os prédios e as construções de modo a evitar o corte de árvores


importantes e a minimizar a descontinuidade visual.
212 ecoturismo

Sempre que possível, utilize árvores cuja queda foi natural (como,
por exemplo, árvores derrubadas em decorrência de vendavais ou outros
fenômenos naturais).
O sistema de trilhas deve respeitar os padrões de deslocamento e os
hábitats da vida selvagem.
Leve em consideração o controle da erosão na disposição de cada
construção ou trilha.
Desvie a água para fora das trilhas e estradas antes que ela ganhe
fluxo e velocidade suficientes para criar problemas significativos de erosão.
Praias e margens de rios não devem sofrer desmatamento excessivo.
Nas trilhas, reduza os pontos de travessia de rios e riachos.
Mantenha as áreas de vegetação adjacentes a lagos, lagoas, riachos
perenes e intermitentes como faixas-filtro para reduzir o escoamento de
sedimentos e entulho.
As edificações devem ser espaçadas a fim de permitir o deslo
camento dos animais e o crescimento da floresta.
O uso de automóveis e outros veículos deve limitar-se ao mínimo.
Providencie painéis informativos no início das trilhas, que
estabeleçam claramente as regras de comportamento e orientem o visitante
na apreciação da natureza. Fixe regras adicionais nos quartos dos hóspedes.
Instale placas de identificação junto às árvores e plantas do entorno
imediato aos alojamentos, para que os visitantes se familiarizem com as
espécies que possam encontrar nas áreas preservadas/protegidas, existentes
nas imediações.
Sempre que possível, empregue técnicas de baixo impacto nos locais
das instalações, como passarelas de tábuas no lugar de trilhas, sejam estas
pavimentadas ou não (ver Figura 5-2).
Pastos, currais e cocheiras para cavalos e outros animais de pastejo
devem estar localizados de modo a não poluir os mananciais ou outros
recursos hídricos.
uma janela para o mundo natural 213

Examine cuidadosamente quaisquer fontes potenciais de som ou mau


cheiro relacionadas às instalações, que possam ser perturbadoras do
ambiente ou desagradáveis para o visitante.
O projeto deve considerar as variações sazonais, como as estações
chuvosas e ângulos de inclinação solar.
A iluminação do local deve ser limitada e controlada a fim de evitar
interferências nos ritmos circadianos dos animais.

Um cuidado especial deve ser tomado no planejamento de trilhas que


atravessem áreas intocadas. É aconselhável contratar um naturalista para
auxiliar na disposição do sistema de trilhas de modo a reduzir a perturbação
sobre os biossistemas animal e vegetal. Atenção especial deve ser dada
também a animais que utilizam árvores como trilhas aéreas ou hábitat.
Deve-se considerar cuidadosamente a disposição das estradas de acesso a
um determinado local. A circulação de veículos dentro de áreas protegidas
deve ser limitada e, se possível, completamente evitada. Um engenheiro
civil também deve ser consultado em projetos de trilhas onde o controle da
erosão se faça necessário. Vias de acesso para deficientes físicos devem ser
providenciadas sempre que possível.

questões relacionadas ao projeto de edificações

No projeto das edificações, utilize técnicas de construção, materiais e


conceitos culturais do local, sempre que estes forem compatíveis com o meio
ambiente.
Construa edificações cujo estilo esteja em harmonia com o ambiente
natural. Selecione os materiais de construção com base em critérios
ambientais de longo prazo.
A preservação do ecossistema deve ter prioridade sobre projetos
imponentes, que queiram impressionar o visitante.
uma janela para o mundo natural 215

Providencie a colocação de um limpador para a sola das botas, de


chuveiros externos e similares, para manter condições adequadas de limpeza
e garantir o bom funcionamento da instalação.
Considere a utilização de dossel para cobrir trilhas de uso intenso entre
edificações, a fim de reduzir a erosão e proporcionar abrigo durante a
estação chuvosa.
Desenvolva uma arquitetura coerente com as filosofias ambientais e/ou
propósitos científicos. Evite contradições!
Providencie locais adequados para equipamentos de viagem, tais como
mochilas, botas e outros acessórios para acampamento.
Sempre que possível, utilize soluções de baixa tecnologia.
Afixe um código de conduta para os visitantes e para os funcionários, que
instrua sobre o comportamento em relação ao meio ambiente.
Coloque à disposição dos ecoturistas, no local, materiais de referência para
estudos sobre o meio ambiente.
A mobília e outros acessórios de interiores devem ser fabrica dos com os
recursos locais, exceto quando houver necessidade de material específico
que não possa ser fornecido no local.
As instalações devem aproveitar matéria-prima local e recorrer ao trabalho
de artesãos e artistas da região sempre que possível.
Evite o uso de produtos que consumam grande quantidade de energia e
envolvam materiais perigosos.
As práticas de construção devem respeitar os padrões culturais e morais do
local. A participação dos moradores deve ser incentivada como forma de
obter informações para o projetista e fomentar um senso de propriedade e
aceitação por parte dos residentes (ver Figura 5-3).
Construa sapatas manualmente, sempre que possível.
Uma consideração especial deve ser dada, no projeto, ao controle de
insetos, répteis e roedores. Um projeto bem-elaborado
216 ecoturismo

deve procurar reduzir as oportunidades de invasão, em lugar de prever a


eliminação dos animais nocivos.
As instalações para deficientes físicos devem ser providenciadas onde for
viável. É preciso ter presente, contudo, que os terrenos irregulares de muitos
locais de uso científico ou ecoturístico impede o acesso dessas pessoas.
Instalações com preocupações educativas devem fazer do acesso igualitário
aos deficientes uma prioridade.
Planeje tendo em vista futuras ampliações da obra, a fim de evitar
possíveis demolições e desperdícios.
O planejamento da obra deve refletir preocupações ambientais no que se
refere ao uso da madeira e de outros materiais de construção. Para maiores
detalhes, consulte a obra First Cut: A Primer on Tropical Wood Use and
Conservation, elaborado pela Rainforest Alliance.
Possibilidades de abalos sísmicos também devem ser levadas em conta no
projeto.

recursos energéticos e serviços de infra-estrutura

Os elementos da paisagem devem ser posicionados de forma a propiciar a


ventilação natural das instalações e a evitar o consumo desnecessário de
energia.
Considere o uso da energia solar, passivo ou ativo, ou de fontes de energia
eólica.
Os encanamentos de água devem ser projetados com o mínimo de
movimentação de terra, adjacentes às trilhas, quando possível.
As técnicas de geração de energia hidrelétrica devem ser utilizadas com o
mínimo de distúrbio para o meio ambiente.
O uso de ar condicionado deve limitar-se a áreas onde o controle de
temperatura é necessário, como nas salas de computadores dos setores de
pesquisa. Para propiciar bem-estar, o
218 ecoturismo

projeto deve utilizar técnicas de ventilação natural sempre que possível.

questões ligadas ao tratamento de resíduos

Providencie, nas cabeceiras das trilhas, sanitários e recipientes para coleta


de lixo ambientalmente adequados, para os hóspedes ou visitantes.
A localização de pastagens e potreiros para cavalos e outros animais de
pastejo deve ser tal que não polua as fontes de água e outros recursos
hídricos.
Providencie métodos para a remoção do lixo que não prejudiquem o meio
ambiente.
Providencie uma armazenagem de lixo que seja segura em relação a
insetos e outros animais.
Providencie meios de reciclagem.
Utilize tecnologias apropriadas para o tratamento de resíduos orgânicos
tais como compostagem, fossas sépticas ou tanques de biogás.
Procure métodos de reciclar a água para usos não-potáveis e de tratar as
águas contaminadas antes que elas sejam lançadas novamente ao meio
natural.

uma avaliação das instalações ecoturísticas: o "relatório verde"

Embora o estabelecimento de códigos de ética ambiental seja


importante para o desenvolvimento adequado de projetos junto à natureza,
não é necessário tornar-se escravo desses critérios. Uma postura radical
tende a incompatibilizar desenvolvimento com preocupações ambientais.
Uma solução mais eficaz talvez seja criar um sistema de avaliação de
desempenho, que constitua um instrumento
uma janela para o mundo natural 219

de controle sobre os empreendimentos turísticos, visando a informar os


agentes de viagem e os visitantes a respeito de alguma inadequação do
projeto em relação ao meio ambiente. A pressão do mercado iria, então,
fomentar uma postura mais responsável em relação ao empreendimento
turístico.
Ao criar um "relatório verde" para avaliar as instalações ecoturísticas, o
propósito do autor não é o de julgar o que é adequado ou inadequado para
os operadores de ecoturismo. A intenção é a de aumentar o nível de
conscientização tanto do operador quanto do visitante. Os seguintes critérios
referem-se, principalmente, às instalações físicas e ao modo de avaliar seu
sucesso a partir da perspectiva do projeto.

As dimensões do projeto são apropriadas para a comunidade local e


compatíveis com a capacidade de suporte do meio ambiente?
Os membros da comunidade local participaram ativamente do
planejamento e construção das instalações?
Os membros da comunidade local participam das atividades rotineiras do
empreendimento?
As instalações serão desenvolvidas em etapas? Em caso positivo, as fases
subseqüentes estão programadas de modo a permitir uma perturbação
mínima ao meio e às instalações já existentes?
As estradas e trilhas estão dispostas de modo a minimizar os efeitos sobre
o meio ambiente?
O projeto das instalações emprega formas tradicionais de construção e
utiliza matérias-primas existentes nas imediações?
O projeto da construção estimula o visitante a contemplar o mundo natural
sob uma nova ótica?
As instalações revelam alguma contradição em relação à meta de
conservação do ecoturismo?
220 ecoturismo

As instalações apresentam um projeto criativo ou algum traço


especial que evidencie as características singulares da região
e de seus arredores?
Espaços como a biblioteca, laboratório ou outras oficinas experimentais
estão preparados para instruir adequadamente os visitantes?
As fontes de energia são sustentáveis e compatíveis com o meio ambiente?
Os materiais de construção são isentos de agentes tóxicos ou não-
biodegradáveis?
São empregadas tecnologias apropriadas para o tratamento de resíduos
orgânicos e de outros resíduos? É feita reciclagem?
As edificações e as áreas pavimentadas estão posicionadas de modo a
evitar erosão?
A mobília e outros objetos dos alojamentos são compatíveis com o estilo
arquitetônico e os parâmetros ambientais?
Há acomodações apropriadas para pessoas idosas e deficientes físicos?

o futuro das instalações ecoturísticas

Do rio Ndoki, na floresta tropical da África, até as ilhas Tro-briand, em


Papua Nova Guiné, os últimos redutos da natureza estão claramente
perdendo terreno para o progresso humano. A conservação desses últimos
frágeis fragmentos do Éden envolve um conjunto complexo de questões. O
advento do ecoturismo talvez contribua para a solução, mas ele deve ser
entendido apenas como parte de um panorama ambiental e econômico mais
amplo. É dever dos empreendedores do ecoturismo serem cuidadosos ao
projetar e construir as instalações, pois essa é sua oportunidade de
demonstrar seu verdadeiro interesse pelo meio ambiente e de oferecer um
exemplo para os turistas.
uma janela para o mundo natural 221

Quando se observa o crescimento do ecoturismo nos últimos anos,


torna-se evidente que é preciso estabelecer limites para essa expansão. Para
que o ecoturismo possa, de fato, contribuir para a qualidade ambiental, ele
deve permanecer como um nicho pequeno dentro da grande indústria
turística global. Ele precisa continuar a ter um enfoque integrador,
firmemente baseado nas economias locais. Ele não pode ser uma mera fonte
de lucro; precisa ser uma fonte de orgulho e de participação da comunidade
local.
A própria instalação ecoturística deve ser a evidência visual de um
desenvolvimento sustentado bem-planejado. Ela é o retrato fiel de nossa
preocupação e de nossa compreensão do meio ambiente. Cada
empreendimento será tão único quanto o meio natural no qual está inserido.
Na verdade, ele deve ser uma extensão criativa do mundo natural e servir
como uma janela que integre o visitante à natureza.
Em alguns países, o desenvolvimento próximo às áreas protegidas está,
literalmente, sufocando a atmosfera natural, ela que é origem e razão desse
desenvolvimento. Nos Estados Unidos, isso é bastante evidente em alguns
parques nacionais mais populares. Essa tendência está se repetindo nos
países em desenvolvimento. Um exemplo é o Parque Nacional Manuel
Antônio, na Costa Rica: a construção do hotel e de outras instalações
turísticas ao redor do parque provocou alterações no comportamento dos
animais e, em alguns casos, eliminou completamente determinadas espécies.
Para que o ecoturismo seja um sucesso, os empresários e governos
locais não devem considerar apenas as instalações isoladamente - não
importa quão bem-projetadas ou planejadas elas possam ser. A adequação
das instalações deve ser julgada dentro do contexto de um planejamento
global para a área. Tal planejamento deve ser resultado da conciliação entre
os interesses dos cidadãos e do governo que os representa. Ele precisa
incluir, também, a contribuição da comunidade científica, que, com seu
conhecimento especializado, pode dirigir a atenção para os aspectos
ambientais mais críticos e para as implicações do desenvolvimento a longo
prazo. É fundamental que a sensi-
222 ecoturismo

bilidade da região para aceitar a presença humana funcione como diretriz


para o desenvolvimento (Leccese, 1992). O zoneamento de áreas para usos
limitados no entorno de parques, matas ciliares e outras áreas
ambientalmente frágeis, propiciará uma melhor adequação do projeto.
Talvez seja necessário, também, estabelecer limites rígidos na implantação
das instalações, a fim de evitar a especulação imobiliária das áreas naturais e
o excesso de edificações.
Em função das mudanças nos padrões demográficos dos países
desenvolvidos, a tendência é a de que os turistas sejam mais idosos nas
próximas décadas. Por isso, sempre que possível, os empreendimentos
ecoturísticos devem ser adaptados de modo a propiciar uma experiência
agradável aos turistas idosos, bem como aos portadores de alguma
deficiência física.
A arquitetura do ecoturismo deve ser encarada também como um
veículo educativo, que amplie a consciência e a sensibilidade do ecoturista,
cientista e estudante. Pesquisas feitas com turistas mostraram que a
educação é um dos elementos mais importantes da experiência com o
ecoturismo, embora ela seja, ainda, uma demanda que não é suprida de
modo satisfatório. Por essa razão, a ênfase em um projeto inspirado no
mundo natural visa não só a fornecer educação, como também a propiciar
comodidade em um ambiente freqüentemente considerado hostil para os
seres humanos. A criação desse tipo de ambiente educacional participativo
irá enriquecer a experiência do visitante e o ensinará a apreciar o mundo
natural.
Sempre que possível, os proprietários e os implementadores de
instalações inspiradas no ambiente natural devem considerar os usos
potenciais da instalação, além daqueles originariamente previstos.
Providenciar espaços para usos múltiplos, por exemplo, pode abrir uma
variedade de opções para os operadores de ecoturismo e para atividades
educativas. A agricultura experimental, em pequena escala, pode ilustrar
métodos de cultivo que estejam em harmonia com o meio ambiente.*

* Em alguns hotéis ecológicos modernos, elementos de infra-estrutura,


como instalações de
uma janela para o mundo natural 223

conclusão
Se o meio ambiente for visto como uma imensa biblioteca de recursos,
então a instalação ecoturística poderá ser encarada como um inigualável
laboratório para a aquisição do conhecimento que o eco-turista busca. A
instalação ecoturística, quando devidamente projetada, pode tornar-se a
janela que propicia o despertar do homem para o mundo.
A Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento de
1992 (ECO-92), realizada no Rio de Janeiro, despertou a consciência global
de que o mundo está interligado em sua busca pela sobrevivência. A
indústria do turismo, mediante um projeto sensível de instalações
ecoturísticas, pode dar uma contribuição positiva para a conservação e o
intercâmbio entre culturas. Prover o ecoturista com uma experiência
estimulante e acomodações confortáveis, de baixo impacto ecológico, pode
ser uma meta realizável para o operador do ecoturismo. Os beneficiários não
são apenas o ecoturista e o operador da instalação ecoturística, mas também
a população local e o nosso planeta como um todo. A coragem e a
imaginação do empreendedor de instalações ecoturísticas podem tornar-se o
alicerce de uma nova consciência. A próxima geração de instalações para o
ecoturismo abrirá uma nova janela para o nosso mundo natural.

referências bibliográficas*

Castner, J. L. 1990. Rainforest: A Guide to Research and Tourist Facilities.


Gainesville, Fla.: Feline Press.

tratamento de efluentes, captadores de energia eólica e solar ou viveiros


de mudas, se transformam em atrativos turísticos em si mesmos. (N. do
R.T.)
* Publicação recente, Guiding Principies of Sustainable Design, do
National Park Service, 1993, Denver, Colorado, US Government Printing
Office, é consulta obrigatória para os interessados. (N. do R.T.)
224 ecoturismo

Good, A. 1990. Parks and Recreation Structures (reimpressão da edição de


1938). Boulder, Colo.: Graybooks.
Leccese, M. 1992. "Can Sight-seeing Save the Planet?" Landscape
Architecture, August, vol. 82, n° 8, pp. 53-56.
McHarg, I. 1992. Design with Nature (reedição, originalmente publicado em
1969). New York : John Wiley & Sons.
National Park Service. 1992. Sustainable Design: A Collaborative National
Park Service Initiative. Denver, Colo.: US Government Printing
Office.
Wright, F.L. 1954. The Natural House. New York: Horizon Press.

agradecimentos

Uma palavra de agradecimento a John e Karen Lewis, do Lapa Rios


Resort, na Península de Osa, Costa Rica. Como nossos clientes, foram seus
sonhos que inicialmente inspiraram nossas buscas em projetos de
ecoturismo. Agradeço também a Gail, minha esposa e companheira de
trabalho, que me encorajou a buscar possibilidades mais amplas para os
projetos de ecoturismo.
6

etapas básicas para incentivar a participação local em


projetos de turismo de natureza

Katrina Brandon
Aqueles que o praticam afirmam que o ecoturismo "é uma forma de
ecodesenvolvimento que representa um meio prático e eficaz de promover o
crescimento socioeconômico em todos os países..." (Ceballos-Lascuráin,
1991). Contudo, mesmo os adeptos do ecoturismo concordam que tal
afirmação pertence mais à retórica do que aos fatos. Em muitos casos, o
ecoturismo provocou uma série de problemas em vez de oferecer os
benefícios reais almejados. Alguns dos problemas mais significativos foram
os danos ecológicos e a degradação ambiental, o impacto negativo sobre a
cultura local e a criação de dificuldades econômicas para a população local
(Ceballos-Lascuráin, 1991; Boo, 1991; West e Brechin, 1991).
Embora esses problemas possam ser atribuídos a diversos fatores, há,
na literatura sobre o tema, alguns tópicos recorrentes que explicam por que
o ecoturismo não tem promovido o ecodesenvolvimento. O primeiro refere-
se à ausência de empenho e de comprometimento político dos governos para
"mobilizar os recursos - humanos, financeiros, culturais e morais - que
garantem a integração dos princípios ecológicos com o desenvolvimento
econômico" (Bunting et al., 1991). Outro tópico envolve a questão de que o
turismo é, em geral, promovido por interesses variados de pessoas de fora
da região. Como
228 ecoturismo

resultado, o turismo não se encontra estruturado de forma a satisfazer as


necessidades locais, e os benefícios geralmente não permanecem na região
(West e Brechin, 1991; Wells e Brandon, 1992). Finalmente, falta a
integração das necessidades e preferências locais no processo de
planejamento.
Nos últimos anos, tem havido uma tendência crescente para planejar e
criar projetos ecoturísticos, em vez de simplesmente permitir que as
atividades ecoturísticas sejam impulsionadas por forças de mercado. Há um
consenso geral de que "o planejamento cuidadoso é necessário para evitar
alguns dos efeitos negativos não previstos do turismo" (Ceballos-Lascuráin,
1991). Essa tendência representa uma mudança substancial, que implica
deixar de promover uma série aleatória de atividades para implantar projetos
planejados e organizados, que procurem administrar e controlar o
desenvolvimento do ecoturismo em uma determinada área.
A ênfase de muitos desses projetos tem sido promover atividades de
turismo de natureza que forneçam "fundos para a administração de áreas
protegidas e gerem renda para as comunidades locais" (Wells e Brandon,
1992). No cerne de tais projetos está o desejo de maximizar o impacto
socioeconômico e ambiental positivo para as comunidades locais e
minimizar o impacto negativo. O Plano Estratégico para a Conservação
Mundial, de 1980, ressaltava a importância do vínculo entre a administração
da área protegida e as atividades econômicas das comunidades locais
(IUCN, 1980). A proposta de incluir a população local no planejamento e
administração de parques foi aceita com entusiasmo por conservacionistas e
administradores de áreas protegidas, no Congresso Mundial sobre Parques
Nacionais de 1982 (McNeely e Miller, 1984). Esse Congresso propôs maior
apoio às comunidades adjacentes aos parques, por meio de medidas como a
educação, a participação nos lucros e no processo de decisão, a implantação
de esquemas de desenvolvimento compatível próximos a áreas protegidas, e,
quando de acordo com os objetivos dessas áreas,
etapas básicas para incentivar a participação local 229

o acesso aos recursos. Essa posição foi recentemente reiterada no Congresso


Mundial de Parques de 1992, na Venezuela.
Uma análise recente de vinte e três projetos que procuravam vincular a
conservação ao desenvolvimento, constatou que muitos tinham implantado
atividades de turismo de natureza, mas somente pequena parte dos lucros
gerados era usufruída pelos moradores locais ou destinada a uma maior
proteção de áreas naturais adjacentes (Wells e Brandon, 1992). West e
Brechin, ao examinarem mais de vinte e cinco casos, concluíram que
"apenas sob determinadas condições.... e com o planejamento adequado, os
benefícios do desenvolvimento econômico reverterão para a comunidade
local", podendo "minimizar os impactos econômicos, sociais e culturais
negativos sobre os habitantes locais" (1991). De forma semelhante, outro
estudo de programas ecoturísticos concluiu que "um turismo socialmente
responsável e ambientalmente viável não pode ser implementado sem um
diálogo fundamentado e construído a partir das necessidades regionais, em
termos regionais" (Johnson, 1990). Johnson (1990), West e Brechin (1991)
e Wells e Brandon (1992), juntos, oferecem descrições de mais de cinqüenta
programas. Ao longo deste capítulo, termos como poucos ou muitos são
utilizados com base nesse universo de casos.
Este capítulo está interessado em atividades ecoturísticas que tenham
como principal objetivo proporcionar benefícios às comunidades locais. O
enfoque está voltado especificamente aos projetos que são elaborados
visando a oferecer benefícios às comunidades locais, tanto em termos de
conservação como de desenvolvimento, através do turismo de natureza.
Ressaltamos aqui algumas das questões que emergem no trabalho com as
comunidades locais, com a finalidade de garantir que o desenvolvimento do
ecoturismo seja compatível com os objetivos econômicos, ecológicos e
sociais da região. Este capítulo enfoca a necessidade de maior participação
local no processo de planejamento ecoturístico e sugere formas de promover
essa participação.
230 ecoturismo

Evidentemente, há muitos casos em que a ênfase no "projeto" pode não


ser adequada, ou casos em que a promoção de benefícios econômicos às
comunidades não é prioritária. Por exemplo, um operador turístico pode
querer trabalhar com uma comunidade local para mudar ou melhorar
aspectos de um roteiro turístico novo ou já existente. Empresários locais
podem decidir criar áreas de observação, pontos de venda de comida e
artesanato, ou alojamentos. A administração do parque pode querer
aprimorar a educação do visitante e diminuir o impacto sobre o meio
ambiente. Todas essas atividades são válidas em vista do que se propõem.
Entretanto, elas constituem iniciativas isoladas e não atividades mais
abrangentes, voltadas para a comunidade local, tais como as que
descrevemos aqui. Dez questões cruciais para estimular a participação da
comunidade no turismo de natureza são identificadas e descritas a seguir:

o papel da participação local


o engajamento efetivo como meta
a participação ao longo do projeto
a criação de investidores de risco
a união entre lucro e conservação
a distribuição dos lucros
o envolvimento de líderes da comunidade
o uso de agentes de mudança
a compreensão das condições específicas do local
o controle e a avaliação dos progressos.

Este capítulo não descreve os procedimentos concretos para a


realização dessas etapas; há uma vasta literatura de referência para cada
uma dessas áreas no contexto do desenvolvimento rural. E, por fim, está
além dos limites aqui estipulados lidar com o impacto externo que pode
afetar os projetos, e com a necessidade de mobilizar apoio político,
freqüentemente vital para a implementação bem-sucedida de um projeto.
etapas básicas para incentivar a participação local 231

exemplos de projetos de turismo de natureza


Há, no mundo todo, centenas de áreas que recebem o turismo de
natureza, mas raros são os exemplos de comunidades que foram bem
sucedidas na realização da dupla meta de desenvolvimento da comunidade e
proteção ambiental. O ecoturismo é, com freqüência, um veículo para unir
essas duas metas. Nos últimos anos, muitos projetos têm utilizado o turismo
de natureza para unir a conservação ao desenvolvimento. O objetivo central
de tais projetos é promover o desenvolvimento socioeconômico e propiciar
à população local fontes de renda que não ameacem os recursos naturais.
Esses projetos são conhecidos como Projetos de Conservação e
Desenvolvimento Integrados ou PCDIs (Wells e Brandon, 1992).
A descrição de dois PCDIs, a Unidade de Conservação de Anna-purna,
no Nepal, e as Áreas de Refúgio de Invernagem das Borboletas Monarcas,
no México, dá uma idéia dos desafios de se implementarem tais iniciativas.
O caso de Annapurna reflete um dos melhores exemplos de atenção
cuidadosa no design do projeto e em sua implementação; o caso das
Monarcas revela as dificuldades que podem ser encontradas quando se
procura aliar o ecoturismo ao desenvolvimento local. Descrições mais
detalhadas de cada um deles podem ser encontradas em Wells e Brandon
(1992).
Um dos espetáculos naturais mais bonitos do mundo é a migração
anual de bilhões de borboletas monarcas para pequenos refúgios de
invernagem, na região central do México. Em 1989, cerca de 100.000
turistas visitaram um desses refúgios. A ausência de oportunidades
econômicas na região, o declínio da produtividade agrícola e o aumento da
pobreza levaram ao estabelecimento de alojamentos e à prática da
agricultura e pecuária em áreas centrais do refúgio. Um projeto de pequena
escala, iniciado por uma organização não-gover-namental mexicana, tentou
organizar as visitas à área, promovendo a criação de um centro de visitação
e de interpretação, a distribuição da renda obtida (destinando parte da renda
dos ingressos à comunidade
232 ecoturismo

local), o plantio de árvores e a manutenção de trilhas, além de criar uma loja


comunitária e quiosques para a venda de comida. A organização não-
governamental trabalhou também com o governo mexicano, a fim de
elaborar um plano de desenvolvimento integrado para a região, embora o
governo nunca o tenha adotado.
O local é ideal para o turismo de natureza: como em nenhum outro
lugar, as espécies podem ser facilmente observadas, há um grande fluxo de
visitantes e o potencial para que o turismo de natureza gere benefícios
substanciais para a área é grande. Infelizmente, o projeto teve pouca
participação da comunidade e não proporcionou estímulo suficiente para pôr
fim à destruição do refúgio.
Diferentemente do caso mexicano, a Unidade de Conservação de
Annapurna, no Nepal, abrange um território grande e geograficamente
privilegiado. Mais de 30 mil trekkers visitam a região para caminhar pelo
Himalaia e apreciar a diversidade cultural da área. O grande fluxo de turistas
levou à criação de muitas pousadas e cantinas, propiciando renda para
muitos membros da comunidade local. O turismo tornou-se importante para
a economia local, mas também provocou sérios problemas ambientais.
Florestas foram desmatadas a fim de prover combustível para o cozimento
de alimentos e o aquecimento dos visitantes. A expansão agrícola, a
poluição das águas, as instalações sanitárias precárias e o lixo nas rotas para
trekking, tudo isso aumentou consideravelmente, e foi acompanhado por um
rápido crescimento da população local.
O Projeto da Unidade de Conservação de Annapurna (ACAP) foi
criado para minimizar o impacto negativo do turismo e promover a
conservação e o desenvolvimento socioeconômico da região. Parte da renda
foi destinada para o desenvolvimento local, a administração foi
descentralizada e foi oferecido treinamento para indivíduos e organizações
locais. A participação local viabilizou-se mediante a criação de uma
comissão para a administração dos alojamentos, e a reativação de uma
antiga comissão de manejo florestal, responsável por fiscalizar
regulamentos, multar caçadores e pescadores ilegais, e controlar a
etapas básicas para incentivar a participação local 233

extração de madeira. Como resultado, os índices de desmatamento foram


consideravelmente reduzidos, as trilhas foram preservadas e as populações
locais foram, cada vez mais, assumindo o controle sobre os recursos.
Esses dois projetos foram criados para fazer do turismo de natureza um
meio para atingir objetivos de conservação e desenvolvimento. Os dois
foram promovidos por organizações não-governa-mentais, embora tenham
contado com a cooperação e o apoio do setor privado, da população local e
de inúmeros órgãos governamentais. Ainda assim, houve uma diferença
significativa entre ambos. No caso do projeto ACAP, a população local
envolveu-se desde o início. Já no projeto das Monarcas, a comunidade local
participou somente depois que a organização não-governamental e o
governo identificaram os problemas e as atividades que poderiam solucioná-
los.

o papel da participação local


Cada vez mais, os projetos de turismo de natureza estão sendo
considerados um meio de incentivar as pessoas a administrarem as áreas
naturais e a vida selvagem de forma sustentável, uma vez que os benefícios
econômicos distribuídos às comunidades dependem de uma gestão bem
orientada. Muitos desses projetos partem do princípio de que o turismo de
natureza pode ser um poderoso instrumento para a conservação, através da
geração de benefícios à população local. Porém, como mostraremos mais
adiante, para alcançar as metas da conservação, é necessário o planejamento
cuidadoso do projeto, a fim de que os benefícios atinjam seus objetivos e
funcionem, de fato, como incentivo.
O turismo é o tipo de desenvolvimento que tende a modificar
rapidamente a situação social e econômica das comunidades, com impacto
tanto positivo quanto negativo. Tanto nos países desenvolvidos como nos
países em desenvolvimento, as comunidades geralmente sentem que não
têm poder para influenciar esses padrões de
234 ecoturismo

desenvolvimento. Projetos de turismo voltados para a comunidade local


procuram envolver as comunidades a fim de que elas decidam o tipo de
crescimento que gostariam de ter, para, então, ajudá-las a implementar seus
planos.
Por que esses projetos deveriam envolver a população local? Parece
pouco provável que práticas destrutivas, decorrentes do uso inadequado de
recursos naturais, possam ser evitadas sem que se modifique a situação
socioeconômica das comunidades. A melhor maneira de fomentar a
mudança é permitir que as comunidades assumam o controle de seu
crescimento e desenvolvimento. No contexto do turismo, há uma grande
chance de que a falta de participação resulte em impacto social e econômico
negativo. Muitos dados revelam que projetos que prevêem a geração de
benefícios econômicos, sem efetivamente encorajar a participação local na
identificação, planejamento, implementação ou avaliação de atividades de
desenvolvimento, estão menos aptos a propiciar benefícios para toda a
comunidade (Cernea, 1991).
Há alguns obstáculos evidentes quando se promove a participação da
comunidade local no planejamento ecoturístico. É preciso muito tempo e
energia, além de grande habilidade organizacional. Em muitos projetos, o
trabalho de base necessário para viabilizar a participação pode parecer
grande demais e exigir muito tempo. Para garantir a competitividade, o setor
privado pode requerer ação imediata e respostas rápidas. Existe também o
risco de que as necessidades e desejos da população local possam diferir de
uma outra comunidade, ou mesmo divergir consideravelmente dentro de
uma mesma comunidade. Para que o verdadeiro objetivo do
ecodesenvolvimento possa ser alcançado, esses obstáculos devem ser
especificados e incorporados ao projeto.

o engajamento efetivo como meta


Participação local significa "dar às pessoas maiores oportunidades de
participação efetiva nas atividades de desenvolvimento. Isso
etapas básicas para incentivar a participação local 235

significa proporcionar condições para que elas mobilizem seu próprio


potencial, sejam agentes sociais em vez de sujeitos passivos, gerenciem os
recursos, tomem decisões e controlem as atividades que afetam suas vidas"
(Cernea, 1991). Abordagens participativas envolvem as pessoas no
processo de seu próprio desenvolvimento. Considerar a participação local ou
comunitária como um processo significa gerar benefícios sociais e
econômicos, mas não se limita apenas a isso. O processo participativo
auxilia as pessoas a adquirirem um controle mais efetivo sobre suas próprias
vidas. A perspectiva participativa difere da abordagem beneficiária, na qual
as pessoas recebem benefícios mas não têm poder de decisão. Por exemplo,
um projeto de turismo de natureza pode gerar empregos para a população
local em uma série de ocupações, como guias e guardas, ou vendedores de
comida e artesanato. Esses empregos oferecem um importante benefício,
todavia as pessoas da comunidade podem não estar necessariamente
engajadas no processo de tomada de decisões.
Outra forma de estimular a participação local é consultar as pessoas da
comunidade, embora geralmente haja confusão entre comunicar para e
comunicar-se com (Wells e Brandon, 1992). Consultar os moradores e
solicitar suas opiniões é, com freqüência, erroneamente entendido como
participação. É verdade que colher opiniões ou oferecer benefícios são
ambos elementos de uma abordagem participativa, mas nenhuma dessas
atividades propicia o engajamento efetivo das pessoas. Em uma abordagem
genuinamente participativa, a comunidade local é consultada e tem voz
ativa na tomada de decisões.
Infelizmente, a maior parte dos projetos de turismo de natureza segue
uma abordagem beneficiária e as decisões sobre os projetos, o emprego de
mão-de-obra e o tipo global de desenvolvimento a ser promovido são, via de
regra, tomadas sem participação da comunidade. Os grupos envolvidos no
planejamento e na implementação de projetos de turismo de natureza, com
freqüência, afirmam ter um sério compromisso junto à comunidade local,
mas há poucos projetos que são verdadeiramente participativos ou que
tenham, de fato, implanta-
236 ecoturismo

do processos que auxiliam as comunidades a controlarem seu crescimento e


seus recursos de maneira mais adequada (Wells e Brandon, 1992; West e
Brechin, 1991).
No projeto das borboletas monarcas, as pessoas foram tratadas como
beneficiárias e não tiveram nenhum tipo de participação em seu
planejamento. Embora alguns moradores do local tenham recebido
"benefícios" com o aumento de oportunidades de trabalho, eles não se
sentiram responsáveis pelo projeto. E o que é pior, eles acreditavam que os
altos níveis de turismo na comunidade e a própria existência de um refúgio
de borboletas haviam provocado muitos impactos negativos. O projeto do
Nepal, ao contrário, foi planejado com o objetivo de auxiliar a comunidade
local a administrar a região e seus recursos. As pessoas participaram desde o
início e durante todo o processo, ajudando a identificar o que consideravam
como problemas e sugerindo soluções. Os responsáveis pelo planejamento
do ecoturismo precisam considerar os moradores locais como seus
parceiros, e usar o processo de planejamento e as atividades ecoturísticas
como instrumentos que dêem a eles condições efetivas de maior controle
sobre suas próprias vidas.

a participação local ao longo do projeto


É fundamental engajar, desde o início, a comunidade local no projeto.
Os primeiros passos envolvem a coleta de informação: "a verdadeira
participação começa com o acesso à informação" (Johnson, 1990).
Informação confiável sobre a comunidade e suas preferências é a base para
o desenvolvimento de um plano ecoturístico bem elaborado. Coletar
informação é essencial, quer a idéia do projeto tenha sido proposta pela
própria comunidade, quer por algum outro grupo. Durante essa etapa, é
possível identificar líderes comunitários; organizações locais; questões que
a comunidade considera prioritárias; idéias, expectativas e inquietações que
as pessoas têm em relação
etapas básicas para incentivar a participação local 237

ao ecoturismo. Dados preliminares podem ser úteis quando se inicia um


processo mais abrangente de coleta e intercâmbio de informações.
Na implantação de atividades turísticas, há pelo menos cinco áreas em
que a população local pode contribuir: coleta de informações, consultas,
processo de decisões, fase de implementação e avaliação. O processo de
coleta e troca de informações conduz naturalmente à fase de planejamento.
No caso do projeto ACAP, no Nepal, a etapa de coleta e troca de
informações foi crucial. Durante a coleta de dados ficou claro que haveria
uma oposição local maciça contra a criação de um parque nacional na área.
Essa oposição era fruto de preocupações e problemas provocados pela
desapropriação de terras da população local, no processo de criação de
outros parques nacionais. O projeto, então, propôs a idéia de criar uma nova
classificação para as áreas protegidas, que designaria uma área para
múltiplos fins, e o governo aprovou a lei para a criação da Unidade de
Conservação de Annapur-na. A coleta de dados e o diálogo logo no início
do processo podem ser cruciais para o sucesso do projeto.
As informações podem ser coletadas tanto da comunidade como pela
comunidade (excelente discussão sobre como fazer isso pode ser encontrada
em Mascarenhas et al., 1991). O conhecimento e as opiniões, obtidos
durante a etapa de coleta de informações, precisam ser apresentados e
discutidos com a comunidade, juntamente com outros dados relevantes, tais
como os resultados das pesquisas de mercado ou os planos do governo para
a área. Uma vez que esta informação tenha sido divulgada, pode-se dar
início ao processo de participação de representantes de diferentes grupos
(consulta). A discussão com a comunidade em um fórum mais amplo pode
dar ao plano maior consistência e levar à implementação, à medida que as
decisões forem tomadas e os planos começarem a ganhar maior definição. O
treinamento também pode ser um componente importante desta fase. As
organizações locais podem precisar fortalecer-se e as pessoas podem
necessitar de treinamento em algumas áreas especializadas, a fim de
238 ecoturismo

dirigir as organizações com maior eficiência e de administrar ou operar


empreendimentos turísticos e serviços subsidiários.

criando investidores de risco


Um dos objetivos da participação local é fazer com que as pessoas se
sintam responsáveis pelo projeto. Além da participação direta, há muitas
formas de as pessoas tornarem-se "investidores de risco" das atividades de
turismo de natureza. Uma estratégia é promover a participação em dois
níveis: individualmente ou como parte de uma organização. Por exemplo, o
ACAP solicita às pessoas que contribuam com dinheiro ou trabalho para
projetos comunitários, como reflorestamento e manutenção de trilhas, mas
também estimula a participação individual. Os proprietários de pousadas são
solicitados a investir na melhoria de suas instalações. Por sua vez, o projeto
estimula o empreendimento privado, oferecendo aos proprietários
treinamento e assistência técnica. O projeto também trabalha com grupos de
proprietários de pousadas para desenvolver padrões de hospedagem e de
refeições. Aperfeiçoando-se pelo treinamento individual e aprimorando seus
serviços, os proprietários estão também fazendo um investimento a longo
prazo na qualidade da área.
No projeto das borboletas monarcas, os benefícios provenientes do
turismo baseiam-se na capacidade individual de determinadas pessoas
enquanto empreendedores, como homens trabalhando como guias e
mulheres vendendo comida. Ainda assim, esse tipo de atividade individual
não requer um investimento a longo prazo, e, conseqüentemente, poucas
pessoas são "investidores de risco" das atividades turísticas. Por exemplo,
em vez de investir no projeto com trabalho ou com dinheiro, os moradores
locais receberam comida (na verdade, como pagamento) por haver plantado
árvores. Não é de surpreender que poucas árvores tenham sido cuidadas
após o plantio, já que, uma vez plantadas, não eram vistas como "sua
propriedade". A popula-
etapas básicas para incentivar a participação local 239

ção local também teve pouca participação no planejamento e funcionamento


da loja comunitária. De forma semelhante, a falta de envolvimento no
processo de decisão e de controle sobre a receita comunitária proveniente
dos ingressos levou à apatia em relação à renda coletada. Tudo parecia
acidental, fora do controle da comunidade.
O turismo bem-sucedido cria investidores de risco em muitos níveis, e
envolve a contribuição de indivíduos e de comunidades através de trabalho,
dinheiro e outros recursos. Dessa forma, privilegiam-se o investimento e o
controle locais, além de se estimular a participação da população no
processo de decisões.

unindo benefícios e conservação


A justificativa para muitos projetos ecoturísticos é a de que o
ecoturismo pode promover a conservação, mostrando a importância das
áreas naturais para a geração de renda via turismo (Ceballos-Las-curáin,
1991). O argumento subjacente a esta visão é que as populações rurais têm
poucas alternativas, além das atividades econômicas que degradam ou
destroem os recursos existentes. O ecoturismo é considerado uma fonte de
empregos e de renda, que deveria, por sua vez, promover o fim das práticas
destrutivas. Segundo essa visão, o ecoturismo deveria propiciar benefícios
de tal forma que eles agissem como incentivo, quer para a manutenção de
práticas adequadas de manejo de recursos, quer para a redução de práticas
destrutivas.
Para que o ecoturismo promova a conservação, é fundamental que haja
um vínculo muito claro entre o benefício que as pessoas recebem e a
proteção dos recursos. Os lucros do ecoturismo geralmente não ficam na
região, e poucas pessoas da comunidade participam do turismo de alguma
maneira significativa. Em muitos casos, os benefícios dependem da época
do ano, e os empregos requerem baixa qualificação ou são limitados a
poucas pessoas - fenômeno a que West
240 ecoturismo

e Brechin se referem como "contratação de nativos" (1991). Outro problema


comum é que a relação entre os benefícios ecoturísticos e os objetivos de
conservação é indireta (Brandon e Wells, 1991). Se os benefícios são
poucos e/ou a relação não é clara, não é de surpreender que o ecoturismo
não consiga promover nenhuma prática conservacionista.
O projeto de Annapurna levou em conta a necessidade de fixar os
benefícios econômicos na região, de envolver a população local no turismo
e de unir, o máximo possível, conservação e benefícios de desenvolvimento,
por meio do turismo. Um dos problemas enfrentados pelo ACAP foi que o
turismo estava levando ao desmatamento, pois os proprietários de pousadas
cortavam árvores para fornecer calefação e água quente para os hóspedes.
Além do benefício conservacionista de não destruir as árvores, era
evidentemente de interesse dos proprietários pôr fim ao desmatamento a fim
de proteger a beleza da região e garantir o fluxo de turistas na área. O ACAP
reuniu os proprietários e todos concordaram em exigir que as expedições de
trekking fossem encarregadas de trazer seu próprio querosene. Além disso, o
ACAP forneceu aos proprietários de pousadas informações técnicas para a
instalação de painéis solares e a reciclagem de água quente usada para a
cocção de alimentos, embora os próprios proprietários tenham custeado
essas melhorias.
Há muitas formas de fortalecer o vínculo entre os benefícios e os
objetivos conservacionistas e criar incentivos positivos. Para ser um
incentivo, o benefício deve ser considerado significativo para grande parte
da comunidade. Nesse contexto, seria muito mais eficaz para um pequeno
projeto turístico, por exemplo, converter muitos destruidores potenciais da
natureza em guias por regime de tempo parcial do que contratar uma ou
duas pessoas por tempo integral. A comunidade deve ter algum controle
sobre as decisões; o vínculo torna-se mais forte se a comunidade tem uma
participação tanto nos benefícios como nos objetivos de conservação. Os
benefícios devem ser flexíveis para atender o interesse de grupos diferentes
dentro da
etapas básicas para incentivar a participação local 241

comunidade. E, finalmente, deve haver um bom nível de organização


comunitária para reforçar o vínculo.
Para muitos projetos de turismo de natureza, o grande desafio é garantir
que a renda, o emprego e outros benefícios provenientes do turismo ajudem
a conservar os recursos. A melhor forma de alcançar isso é tornar o vínculo
direto e óbvio; em outras palavras, a relação entre a conservação dos
recursos e a geração de benefícios para a comunidade deve ser clara.

exemplos de perguntas de planejamento:


benefícios como incentivos
O que garantirá melhor participação? Que atividades oferecem um
vínculo direto entre os objetivos do projeto e os benefícios locais? Quem
não se beneficiará com as atividades planejadas? Que tipo de
investimento a longo prazo a comunidade local fará nas atividades?
Quem estará envolvido no processo de tomada de decisões? Há maneiras
de estruturar as atividades de forma que elas propiciem benefícios
múltiplos, como empregos para alguns, treinamento para outros, e
participação nos lucros para a população local?

distribuindo benefícios
Ao longo do processo de discussão e decisão sobre os benefícios, é
importante considerar quem os receberá e como e por quanto tempo eles
serão distribuídos. "Estruturas de poder, que tenham base na comunidade
indígena, no Estado ou no mercado de turismo internacional, com
freqüência determinam os locais que os turistas visitam, o que eles vêem e
fazem, e quem, dentre os membros da comunidade indígena, recebe os
benefícios econômicos de hospedar e oferecer serviços aos visitantes"
(Johnson, 1990). Um processo efetivamente
242 ecoturismo

participativo e avaliativo pode identificar as elites ou pessoas estranhas à


comunidade que provavelmente captarão os benefícios que venham a ser
gerados.
O ACAP, do Nepal, tem por meta aumentar a renda da comunidade
local e sua participação no manejo de recursos naturais. O projeto financiou
uma série de atividades para incentivar o maior número de pessoas da
comunidade local a participarem e tomarem decisões. Uma das metas
iniciais do ACAP era incrementar os benefícios oriundos do turismo e
reduzir o impacto negativo dos trekkers. O ACAP está ciente de que muitos
dos benefícios do projeto têm favorecido os moradores locais que têm renda
suficiente para instalar pousadas e cantinas. A equipe encarregada do
projeto trabalhou com outros grupos, visando a estimular a plantação de
árvores e reduzir o desflorestamento. Eles começaram a estudar formas de
aumentar o número de pessoas envolvidas e a variedade de atividades nas
quais elas participam. O projeto reconhece que elevar a renda e manejar os
recursos é um processo longo e lento, mas está procurando oferecer um
nível razoável de benefícios a um grupo grande de pessoas. O ACAP
começou oferecendo benefícios a um segmento influente da população
(proprietários de pousadas e cantinas), que já estava em boas condições e
tinha dinheiro para investir em pequenos empreendimentos. Mas o projeto
agora está procurando estender os benefícios a um grupo maior de pessoas.
No caso mexicano, os benefícios para a comunidade não eram claros
para a maioria das pessoas. Os benefícios individuais eram muito limitados
e dependiam de condições pessoais como, por exemplo, quem podia
oferecer a melhor comida e dispunha do melhor local para vendê-la. Dessa
forma, os benefícios eram limitados e distribuídos entre poucos.
Os projetos funcionam melhor quando um alto nível de benefícios
pode ser oferecido a muitas pessoas, e quando elas percebem que esses
benefícios são sustentáveis. Nem todos serão beneficiados diretamente; uma
receita que dê apoio concreto para projetos de desen-
etapas básicas para incentivar a participação local 243

volvimento da comunidade pode ser suficiente. Uma mescla entre benefícios


individuais e comunitários pode ser a melhor forma de envolver muitas
pessoas em pouco tempo.

exemplo de perguntas de planejamento:


distribuição de benefícios

É melhor, por exemplo, que haja um hotel ou restaurante dirigido


pela comunidade, com participação parcial nos lucros, ou é melhor para
as pessoas da comunidade instalarem pousadas e restaurantes
individualmente? Há pessoal capacitado para dirigir esses
estabelecimentos? Algumas pessoas,vão permanecer por muito tempo
em posições subalternas, sem novas oportunidades? A competição entre
proprietários individuais vai enfraquecer o processo de decisão em grupo
e sua capacidade administrativa? Há demanda turística suficiente para
justificar investimentos múltiplos de muitas pessoas? Há artesanato que
pode ser vendido? Que tipo de organização é mais adequada, a coletiva
ou a individual? Quem pode trabalhar como guia? Que utilização dos
recursos é destrutiva ou sustentável, e quem, na comunidade, é
responsável por ela? Se os benefícios são amplamente distribuídos, as
pessoas vão receber tão pouco que não vale a pena envolvê-las? Se, por
outro lado, os benefícios são distribuídos entre poucos, isso será um
incentivo para que outros participem ou excluirá muita gente e levará ao
ressentimento e à distribuição desigual de renda?

identificando líderes comunitários


Quando se trabalha com comunidades, um dos primeiros passos é
identificar os líderes. Algumas vezes, os projetos tentam dar início ao
processo de participação local por meio das assembléias comunitárias. Mas
estas, geralmente, não contam com a participação efetiva da comunidade, a
menos que os gestores do projeto consigam identi-
244 ecoturismo

ficar e ganhar credibilidade junto aos líderes comunitários, que, por sua vez,
irão ajudar a convocar a população local para participar das assembléias.
Todavia, identificar e trabalhar com os líderes comunitários não é
sempre tão simples como pode parecer. Os planejadores dos projetos
precisam estar cientes de que há muitos tipos de líderes e muitas formas de
poder dentro das comunidades. Os líderes mais evidentes são aqueles que
exercem um papel formal de liderança, como prefeitos, representantes da
igreja, pajés ou professores. É relativamente fácil identificar as pessoas que
exercem um papel formal em uma comunidade. Os líderes formais diferem
dos líderes informais (formadores de opinião), que são aqueles que sabem
tudo sobre a comunidade, e que as pessoas tradicionalmente consultam
quando precisam de algum conselho ou ajuda em questões ou problemas
específicos. Em geral, há muito mais líderes informais que formais. E,
finalmente, há líderes que podem estar ocultos - pessoas poderosas que
controlam o acesso da comunidade a recursos financeiros e a outros tipos de
recursos. Um meio rápido de identificar os líderes comunitários é através de
conversas com membros da comunidade, formalmente, mediante
questionários e entrevistas, ou informalmente, em lugares onde as pessoas
se reúnem, ou em suas casas.
Por que é importante identificar esses diferentes líderes? A resposta é
que, quanto maior o número de líderes envolvidos, melhor é o planejamento
e a execução da maioria dos projetos. Cada líder pode contribuir com seu
próprio know-how e experiência. Por exemplo, alguns líderes são excelentes
para planejar projetos ou dar início às atividades, outros são bons para
conseguir a adesão das pessoas. A razão mais importante para identificar
diferentes líderes é que a participação de cada um deles no processo faz com
que o projeto comece a pertencer à comunidade.
Um outro motivo importante para identificar vários líderes comu-
nitários é que cada um deles representará uma camada ou grupo diferente. A
oposição aos projetos diminui consideravelmente se os
etapas básicas para incentivar a participação local 245

líderes puderem representar os interesses da comunidade. Além disso, as


pessoas que estão planejando o projeto, e que não pertencem à comunidade,
precisam garantir que aqueles que não estão bem representados também
tenham voz. Por exemplo, em muitas sociedades, os líderes formais são
homens, e, quando eles esboçam os projetos, geralmente não levam em
consideração atividades importantes que poderiam beneficiar ou prejudicar
mulheres e crianças. De forma semelhante, líderes de determinados grupos
econômicos ou sociais podem não levar em conta a perspectiva de outros
grupos. Em geral, as pessoas esboçam bons planos com base naquilo que
são e que sabem. Portanto, é fundamental envolver tanto os líderes formais
como os informais a fim de garantir a representação efetiva de muitos
grupos.
É importante salientar que, em muitos casos, os líderes podem não
querer trabalhar juntos ou reunir-se. Em algumas comunidades, pode haver
rixas entre grupos e líderes. Líderes poderosos e estruturas hierárquicas
existentes podem não desejar a implantação de um processo participativo
que questione o status quo e, portanto, sua liderança. Obviamente, esse dado
deve ser levado em conta no planejamento de qualquer projeto. O que isso
pode simplesmente implicar é que diferentes grupos e líderes irão participar
de diferentes fases e itens do projeto.

exemplos de perguntas de planejamento:


identificando líderes locais

Líderes formais: Quem são os professores, os curandeiros e os


agentes de extensão rural na região? Quem é a autoridade tradicional?
Quem são os líderes políticos? Líderes informais: Quem sabe mais sobre
as florestas? A quem você recorre quando está doente? Alguém está
recebendo crédito agrícola? Quem empresta dinheiro? Alguém já
trabalhou na cidade e voltou para cá? Quem contata o governo em nome
da comunidade? Onde você faz suas compras?
246 ecoturismo

A capacidade de liderança em determinadas circunstâncias geralmente


está associada a diferentes tipos de pessoas. Por exemplo, pessoas que estão
dispostas a promover mudanças e a arriscar são, em geral, mais jovens, têm
maior grau de instrução e contatos fora da região. Pessoas que dão
credibilidade ao projeto tendem a ser mais velhas e respeitadas, e têm
melhor posição social e econômica. Pessoas que efetivamente implementam
projetos são, em geral, de meia-idade, e têm um vínculo estreito com a
comunidade (St. Julien, 1989). É interessante também incluir no
planejamento pessoas que têm capacidade de liderança, embora não sejam
consideradas líderes.

provocando mudanças: agentes e instituições


Há duas abordagens principais para organizar e manter a participação
da comunidade nos projetos. A primeira é empregar agentes de mudanças
— pessoas de fora da área em questão. A segunda é criar instituições ligadas
ao turismo de natureza.
Em projetos de turismo de natureza, os agentes de mudança ou são
pessoas de fora, comprometidas com metas de conservação e
desenvolvimento, ou são grupos de operadores turísticos, interessados em
promover o turismo de natureza nas comunidades. Pessoas "de fora" podem
ser pessoas de fora da comunidade, da região ou do país. Usar agentes de
mudança é, com freqüência, a maneira mais rápida de modificar as idéias e
tecnologias locais e introduzir novas atividades nas comunidades.
A maioria das comunidades conta com uma variedade de organizações
formais ou informais, que existem para agrupar as pessoas em torno de um
ou mais interesses comuns. Os três tipos de organizações mais comuns são:
associações para o desenvolvimento local, cooperativas e associações por
interesses. As primeiras geralmente adotam métodos auto-suficientes, ou
pressionam os governos para que forneçam os serviços necessários. Essas
associações podem funcionar
etapas básicas para incentivar a participação local 247

como excelente base para atividades de turismo de natureza, pois já visam a


objetivos de desenvolvimento. As cooperativas solicitam das pessoas um
bem comum (como trabalho, dinheiro ou colheitas), e, em troca, oferecem
algum benefício econômico para seus membros. Em relação aos dois grupos
anteriores, as associações por interesses são menos organizadas do ponto de
vista econômico e concentram-se em alguma característica comum aos
membros (como sexo, ocupação ou etnia).
A participação por meio de instituições ou organizações tende a ser
mais eficiente e sustentável do que a participação individual (Uphoff, 1987).
As instituições locais podem funcionar como agentes de mobilização, como
uma forma de envolver diretamente as pessoas da região em projetos de
turismo de natureza. Organizações também podem servir de ligação entre a
comunidade e órgãos externos, como organizações governamentais,
organizações não-governamentais ou grupos turísticos.
Organizações e instituições locais existem em quase toda parte, mas
elas podem não estar preparadas para arcar com o planejamento, o
orçamento, a contabilidade e a avaliação - aspectos importantes na
promoção do turismo de natureza na comunidade. Os projetos podem ter de
fornecer alguma orientação ou treinamento a essas instituições para
fortalecê-las. O processo de fortalecimento das instituições foi definido por
Midgeley (1986) como "a criação de procedimentos para a instalação do
processo democrático de decisões em nível local, e o envolvimento da
população nesses procedimentos, a ponto de que ela venha a encará-los
como a forma natural de gerir os negócios da comunidade".
Fortalecer as instituições locais certamente leva mais tempo do que
trabalhar com agentes de mudança. Essas duas abordagens podem ser
combinadas para que os agentes de mudança trabalhem diretamente com as
instituições locais, que, por sua vez, trabalharão com seus membros no
treinamento e processo de decisões. Combinar as duas
248 ecoturismo

abordagens para provocar mudanças é uma das melhores maneiras de


garantir o sucesso a curto e a longo prazo.

exemplos de perguntas de planejamento:


identificando as organizações locais

Há grupos religiosos que promovem encontros? Há uma entidade


que concede créditos? Há algum grupo recreativo, como, por exemplo,
times de futebol ou cricket, ou um grupo de teatro? Há pessoas que se
organizam em torno de atividades econômicas, como grupos de
pescadores, fazendeiros, lenhadores, caçadores, coletores de junco,
bordadeiras, criadores de galinha ou de gado? E quanto às pessoas que
extraem seiva, retiram cascas das árvores ou coletam plantas medicinais?
Há uma associação de mulheres ou de mães? E uma associação para o
desenvolvimento local?

É muito mais fácil conseguir a adesão das pessoas a um projeto se elas


puderem participar através das organizações existentes. Um grupo pode
estabelecer regras, programas e criar procedimentos, ou usar os que já
existem, para ajudar a planejar e implementar ativida-des. Trabalhar com
grupos que já estão organizados pode ser uma forma eficiente de lidar com
as pessoas em uma área grande. No início, os encontros podem ser
realizados com cada um dos grupos, e, mais tarde, podem ser organizados
encontros mais amplos, com um ou dois representantes de todos os
diferentes grupos da comunidade e com os líderes locais. Esses
representantes podem encaminhar para seu grupo específico questões e
planos, que serão então submetidos à discussão e exame. Talvez a questão
mais crucial, quando se pensa em mudar, não seja quem se responsabilizará
pela mudança, mas que processo será utilizado para viabilizá-la.
etapas básicas para incentivar a participação local 249

compreendendo as condições específicas do local


Não há modelos de participação ou de turismo de natureza que
funcionem bem em toda parte. Da mesma maneira, existem limitações para
a implementação prática da participação local, em muitas atividades ligadas
ao turismo de natureza. Muitas dessas limitações serão impostas pelas
próprias condições da comunidade, outras serão impostas pelo limite dos
recursos financeiros disponíveis ou pela necessidade premente de atrair
turistas. A participação local requer tempo. É um processo mais trabalhoso e
lento do que recorrer a decisões tomadas fora da região.
Em muitas sociedades, as estruturas de poder podem inibir a
participação de um maior número de pessoas no processo de decisão ou
dificultar o acesso às opiniões de certos grupos. Em outras, organizações
locais poderosas podem querer priorizar a geração de renda e de empregos,
sem se preocupar com a conservação da qualidade ambiental. Ou ainda,
determinados grupos podem não estar dispostos a reunir-se, tornando difícil
o consenso sobre qual a melhor atividade a desenvolver. Já outros projetos
contam com a participação das organizações não-governamentais, da
comunidade, do governo e do setor privado. Na maioria dos casos, a
cooperação entre todos esses grupos e a sua cooperação com órgãos do
governo será necessária para que os objetivos sejam alcançados. A escala do
projeto determinará que tipo de participação local será mais apropriado.
Por exemplo, o projeto das borboletas monarcas tem um impacto
primário em quatro ou cinco comunidades, particularmente em El Rosario, a
comunidade adjacente ao refúgio. Seria adequado desenvolver um processo
intensivo de participação local em El Rosario e obter informações de outras
comunidade afetadas. Uma situação semelhante existe em Annapurna, onde
alguns povoados recebem um fluxo muito elevado de turistas devido à
forma como a trilha de Annapurna foi demarcada. A participação pode ter
por base o nível de turismo adequado a uma determinada área, ou pode
abranger, de uma
250 ecoturismo

maneira mais ampla, as pessoas das várias comunidades que tendem a ser
afetadas.
A resposta ao que é mais apropriado depende das características
socioeconômicas e culturais particulares e dos recursos de cada área. É
impossível dar respostas definitivas sobre o que funciona melhor, pois as
respostas variam segundo o contexto. Para planejar atividades de turismo de
natureza, os projetos precisam ser abertos e flexíveis durante o processo de
planejamento, e as pessoas do local precisam ser consultadas
permanentemente sobre uma variedade de possibilidades.

monitorando e avaliando o processo


De forma geral, os projetos não dão atenção suficiente ao moni-
toramento e à avaliação. No entanto, é relativamente fácil incorporar esses
dois componentes a um processo participativo que está em andamento.
Quando o monitoramento e a avaliação são parte de um processo, é possível
fazer adaptações e mudanças à medida que o projeto se desenvolve. O
equilíbrio entre metas de curto e longo prazo é fundamental. Uma
abordagem participativa que vise a provocar mudanças estruturais pode
requerer um tempo considerável, antes que resultados positivos possam ser
claramente identificados. Porém, sem ela, a garantia de sucesso a longo
prazo é impossível. A geração de benefícios a curto prazo, entretanto, pode
também ser essencial a fim de conferir credibilidade ao projeto e pôr fim à
desconfiança e ao ceticismo da população local.
Estabelecer alguns objetivos e indicadores principais para as atividades
iniciadas pode permitir que os projetos avaliem o impacto de suas atividades
sociais e econômicas e as metas da conservação, fornecendo dados úteis
para futuros planejamentos. Informações sobre a comunidade são tão
importantes quanto informações sobre o turismo e a visitação. Uma vez que
o impacto do turismo (tanto
etapas básicas para incentivar a participação local 251

positivo quanto negativo) é muito conhecido, não é difícil estabelecer


indicadores que mostrem se o ecoturismo está levando ao ecodesen-
volvimento.
Paul (1987) resume grande parte da literatura ao sugerir que os
objetivos de uma abordagem participativa para projetos de desenvolvimento
são: melhorar a eficácia dos projetos; aumentar a capacidade de os
beneficiários assumirem responsabilidade por atividades do projeto; e
facilitar a participação nos custos através da contribuição local com terra,
dinheiro ou trabalho. Outros ressaltaram a importância de envolver
investidores de risco a fim de estimular investimentos que apostem na
realização das metas do projeto e, possivelmente, assegurar um
compromisso maior com essas metas. Não é fácil avaliar se objetivos dessa
natureza estão sendo alcançados, principalmente a curto prazo, enquanto os
projetos ainda estão sendo implantados e antes que benefícios mais
concretos sejam visíveis. Projetos cuja orientação é beneficiária geralmente
determinam suas metas em termos de indicadores que podem ser facilmente
observados, tais como níveis de renda, número de empregados, quantidade
de artesanato vendido. O aumento desses índices será interpretado como
sinal de sucesso do projeto. Esses fatores podem ser importantes mas não
são suficientes. Projetos de turismo de natureza, com orientação partici-
pativa, estão interessados em alcançar metas semelhantes às dos projetos
beneficiários; entretanto, seu principal objetivo é criar um processo que leve
a uma mudança que seja sustentável além da vida do projeto.

conclusão
Por que envolver as pessoas da comunidade em projetos ecoturísticos?
Por inúmeras razões, que refletem objetivos morais, econômicos e
ambientais. Do ponto de vista ambiental e econômico, se as pessoas da
comunidade não participarem, é provável que, ao longo
252 ecoturismo

dos anos, os recursos sejam destruídos e o investimento perdido. Do ponto


de vista moral, é preferível que a comunidade controle seu próprio destino
em vez de ter de submeter-se a interesses externos. "Talvez uma das
respostas mais significativas aos problemas do turismo seja a participação
crescente dos povos nativos no estudo, discussão e planejamento de
estratégias para assumir o controle do processo de tomada de decisões sobre
o desenvolvimento" (Johnson, 1990).
De fato, há pouca experiência em gestão e planejamento ecoturísticos
baseados na comunidade. E, embora haja relativamente poucos exemplos de
ecoturismo gerido p ela comunidade, um dado positivo é que existe um
número maior de comunidades co-administrando todo tipo de coisas, de
florestas a sistemas de irrigação. Ainda que o ecoturismo seja com
freqüência promovido por grupos conservacionistas, os grupos que
trabalham com comunidades geralmente são formados por pessoas ligadas
ao desenvolvimento rural e comunitário.
"Todos aqueles que pertencem à comunidade internacional para a
conservação e têm um compromisso sério com a verdadeira meta de
ecodesenvolvimento do turismo precisam ter maior compreensão científica
e social das condições necessárias para alcançar esses objetivos em regiões
rurais pobres, e força política suficiente para resistir às influências na
política econômica cuja tendência é frustrar essas metas" (West e Brechin,
1991).
Este capítulo procurou expor algumas das questões com as quais se
deparam as comunidades locais preocupadas com o desenvolvimento do
ecoturismo. Cada uma das questões procurou abranger uma grande
quantidade de informação sobre a experiência de desenvolvimento rural,
aplicando-a de forma sucinta ao ecoturismo. Em termos gerais, as questões
aqui resumidas podem ser agrupadas em três categorias para o planejamento
de projetos ecoturísticos: quem deve participar, por que envolver as pessoas
e como fazê-lo.
As seções relacionadas à primeira categoria examinaram os objetivos
da participação e seu papel no ecoturismo, e argumentaram
etapas básicas para incentivar a participação local 253

a favor do engajamento efetivo como meta das atividades ecoturísticas. A


participação local é um meio de garantir que mais benefícios revertam para
a comunidade, e de fortalecer a relação entre incentivos e benefícios. Além
disso, confere às comunidades conhecimento e poder para que exerçam
maior controle sobre a administração e o desenvolvimento de recursos. A
seção sobre participação ao longo do processo mostrou que nunca é cedo
demais para iniciar um processo participativo.
As seções voltadas para a questão sobre por que envolver as pessoas
discutiram a importância da participação dos povos nativos no ecoturismo, a
fim de que o turismo tenha mais condições de sensibilizar-se para com as
necessidades locais. Tanto do ponto de vista ambiental como de
desenvolvimento, é desejável que a população e as comunidades tenham um
papel ativo no controle das atividades e dos recursos de seu entorno. O bom
planejamento e administração são essenciais para manter ou melhorar a
qualidade de vida da comunidade local e conservar as áreas naturais e a vida
selvagem da região. Benefícios provenientes do ecoturismo - melhor acesso
aos recursos, renda ou empregos - podem resultar na administração mais
apropriada dos recursos naturais e da conservação, se a ligação entre
benefícios e ecodesenvolvimento for clara e direta. E, por fim, o ecoturismo
tem mais chances de constituir um incentivo para a conservação e um
catalisador para o desenvolvimento local, se os benefícios forem am-
plamente distribuídos.
A última seção resume alguns dos pontos da questão sobre como
envolver as pessoas: como identificar os líderes comunitários, como
provocar mudanças, como identificar condições específicas do local que
serão relevantes, e a importância de procurar avaliar se o ecoturismo está
levando ao ecodesenvolvimento.
Como West e Brechin ressaltam, uma vez que cada um desses passos
foi trabalhado adequadamente, há uma série de questões políticas que
podem limitar o potencial do ecoturismo em relação à conservação e aos
benefícios socioeconômicos para a população local. O mais
254 ecoturismo

essencial é assegurar que a voz nativa tenha peso político real no processo
de decisões sobre o desenvolvimento e gestão (Johnson, 1990). Este
capítulo procurou esboçar um conjunto preliminar de passos, visando a
orientar as atividades turísticas para esse objetivo.

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7

o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade:


a experiência de Belize

Robert H. Horwich
Dail Murray
Ernesto Saqui
Jonathan Lyon e
Dolores Godfrey
Nos últimos anos, os conservacionistas vêm se preocupando cada vez
mais com o impacto do turismo sobre os países em desenvolvimento.
Apesar da sedução que o turismo exerce, por ser um empreendimento de
baixo custo e alto lucro, o turismo de massa pode ter conseqüências
negativas e de longo alcance para os povos nativos e o meio ambiente. Ele
pode degradar o meio ambiente pela visitação excessiva (de Groot, 1983),
provocar a inflação local (Yamauchi, 1984; Puntenney, 1990) e salientar as
diferenças culturais e econômicas entre os habitantes locais e os viajantes
mais abastados (Britton, 1980; Perez, 1980; Tambiah, 1991; Boo, 1991;
Polit, 1991; Peters, 1991).
O ecoturismo não é apenas o ramo da indústria turística que cresce
mais rapidamente (Ceballos-Lascuráin, 1991); ele também é considerado
tanto um novo e promissor instrumento para preservar áreas naturais frágeis
e ameaçadas quanto um meio de propiciar oportunidades para o
desenvolvimento das comunidades dos países em desenvolvimento. Embora
muitas empresas que se declaram ecoturísticas sejam claramente
instrumentos de marketing para a promoção de viagens, mesmo os
propósitos mais bem intencionados podem não alcançar seus objetivos.
260 ecoturismo

A administração deficiente de reservas ou parques pode levar à


destruição dessas áreas (de Groot, 1983), e a demarcação de terras para o
uso exclusivo de viajantes da natureza pode deixar a população local do
lado de fora da cerca, comprometendo os meios de subsistência das camadas
rurais pobres e provocando sua oposição.
O ecoturismo genuíno deve basear-se em uma perspectiva de sistemas
que inclua a sustentabilidade e a participação da população rural local,
naquelas regiões onde o maior potencial para o desenvolvimento de
atividades ecoturísticas pode ser encontrado. O ecoturismo deve ser
encarado como um esforço cooperativo entre população local e visitantes
conscientes e preocupados em preservar as áreas naturais e seus patrimônios
culturais e biológicos, através do apoio ao desenvolvimento da comunidade
local. Por desenvolvimento da comunidade entenda-se conferir poderes aos
grupos locais para controlar e gerenciar reservas valiosas, por meio de
mecanismos que não só sustentem as reservas, mas que também satisfaçam
as necessidades econômicas, sociais e culturais do grupo.

o turismo em Belize
Belize, com sua impressionante combinação de aspectos culturais e
naturais, tornou-se um destino de viagem muito popular. No período
compreendido entre 1980 e 1990, as chegadas de turistas aumentaram cerca
de 55% (Boo, 1990b). Em 1984, como resposta a esse afluxo e às potenciais
receitas em dólares vindos dos turistas, o governo de Belize designou o
turismo como a segunda prioridade para o crescimento estratégico. A
Declaração de Integração da Estratégia e Política de Turismo, de 1988,
estabeleceu vários objetivos importantes, incluindo a criação de um
ambiente propício para o investimento do desenvolvimento (Boo, 1990b).
Grande parte do turismo inicial dirigiu-se para Cayes, mas com a recente
ênfase no ecoturismo, uma boa porcentagem de turistas dirige-se atualmente
ao interior do país. Contudo, pouco dinheiro é gasto nos povoados rurais.
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 261

Belize tem desenvolvido projetos de modernização para conquistar o


potencial da indústria turística, tais como a conclusão de seu novo
aeroporto, a construção de vários hotéis de grande porte, a renovação do
mercado local em Belize City e o aprimoramento das empresas de serviços
públicos nas duas principais regiões urbanas, Belize City e Belmopan. E o
que é mais importante, o meio ambiente foi formalmente vinculado ao
turismo no Ministério de Turismo e Meio Ambiente, que conferiu proteção
e prioridade ao meio ambiente por intermédio do ecoturismo (Godfrey,
1990). Ênfase explícita é também dada ao controle local de pequenas
operações turísticas em todos os níveis, desde a propriedade e a gestão até
os cargos de prestação de serviço (Godfrey, 1990).
Graças ao sucesso de Belize no desenvolvimento de uma indústria
ecoturística, tanto o governo quanto o setor privado consideram importantes
a vida selvagem e a conservação florestal. A indústria vem atraindo receita
estrangeira, utilizando áreas naturais sem construir instalações vultosas ou
alterar os locais drasticamente. Sob orientação da Audubon Society de
Belize, o desenvolvimento do parque e a conservação foram integrados com
o desenvolvimento da economia local, por meio da utilização de guias
locais, do fomento ao artesanato e do turismo de pousada. Esse
desenvolvimento local tem sido mais significativo no Santuário
Comunitário dos Babuínos, que foi classificado como área de transição de
uma Reserva da Biosfera (Hartup, 1989), e no Santuário da Vida Selvagem
da Bacia de Cockscomb (Boo, 1990b).

o santuário comunitário dos babuínos*


O Santuário Comunitário dos Babuínos (Community Baboon
Sanctuary - CBS) foi fundado pelo Dr. Robert Horwich com a cola-

* Uma tradução mais exata seria Santuário Comunitário dos Bugios, uma
vez que o gênero Alouatta, em português, é designado por bugio. (Nota
do Tradutor.)
262 ecoturismo

boração de doze proprietários de terras em Bermudian Landing, um


povoado rural a cinqüenta e três quilômetros a noroeste de Belize City. O
CBS é um experimento de conservação e métodos de múltiplo uso da terra,
em propriedades privadas (Alderman, 1990; Horwich, 1988, 1990; Horwich
e Lyon, 1988). Visto que a maior parte de áreas naturais são de propriedade
particular, e muitos proprietários estão cientes da liberdade e
responsabilidade de possuir terras, os esforços de conservação voltaram-se
para as necessidades de subsistência e para as práticas agrícolas dos
fazendeiros e pequenos agricultores da região (Lyon, 1986).
O CBS foi fundado em 1985 para estimular os proprietários
particulares a administrarem suas terras em benefício do bugio preto,
Alouatta nigra. Uma vez que o CBS depende da total cooperação dos
proprietários das terras, ele deve suprir as necessidades dessas pessoas e
também as da vida selvagem. O princípio básico é simples. Solicita-se aos
proprietários particulares que voluntariamente se comprometam a seguir o
plano de uso da terra criado para cada fazenda, de modo a manter um bom
hábitat para o bugio preto. O objetivo é manter um núcleo de floresta
primária a partir do qual os grupos de bugios e outros tipos de vida
selvagem possam facilmente fazer uso das florestas secundárias. Solicita-se
aos proprietários que reservem aos macacos principalmente as faixas de
floresta ao longo das margens dos rios, entre as fronteiras das propriedades
na época do corte anual dos milharais, as trilhas aéreas em grandes áreas de
corte, e as árvores específicas que fornecem alimentos para esses animais.
Esses planos de gerenciamento também ajudam os proprietários a reduzir a
erosão das margens dos rios e o tempo de pousio (recuperação nutricional
adequada) para a terra, entre os plantios de corte e queimada.
O primeiro passo para a criação do CBS foi a circulação de petições,
assinadas pela maioria dos aldeões de Bermudian Landing, inclusive pelos
membros do conselho, que convidavam Horwich e seus colegas a estudarem
a possibilidade da criação de um santuário. Após a aceitação informal do
convite, foram cartografadas as terras
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 263

de doze aldeões, proprietários das fazendas que circundavam o povoado. A


seguir, Horwich e seus colegas redigiram os planos de gestão e obtiveram o
compromisso voluntário dos proprietários das terras. O compromisso foi
prontamente acordado, devido à sua natureza voluntária e ao fato de que os
fazendeiros possuíam terras adequadas. A presença de um homem do local
atuando como intermediário também foi muito importante. Horwich expôs
então a idéia de um santuário comunitário, numa reunião do povoado, diante
do representante eleito para a região, que, a princípio, manifestou-se contra.
Naquela época, a conservação e o ecoturismo eram conceitos novos e
exóticos em Belize e o representante da região, que pouco conhecia ou
entendia sobre conservação, estava relutante em apoiar o projeto. Contudo,
no momento em que os aldeões entenderam a natureza voluntária do
compromisso, aceitaram a idéia de forma entusiástica e unânime, e
solicitaram a Horwich que tentasse atrair o turismo para o povoado. Já que
todas as terras eram de propriedade privada, o governo federal manteve-se
neutro a respeito do santuário. Somente depois de o santuário ter sido
divulgado e o turismo ter aumentado, os órgãos governamentais
manifestaram interesse por ele.
Com o auxílio do World Wildlife Fund dos Estados Unidos e de Jon
Lycn, um ecologista especializado em botânica, o santuário foi expandido
para incluir mais de uma centena de proprietários de terras e oito povoados,
abarcando dezoito milhas quadradas (quarenta e sete quilômetros
quadrados) de floresta ao longo do rio Belize, lar de mais de mil bugios
pretos. Numa reunião do povoado, Lyon apresentou o projeto a cada um dos
outros povoados e recebeu a mesma aprovação unânime. O CBS continua
crescendo com o apoio financeiro que a Sociedade de Zoologia do
Município de Milwaukee dá à Audubon Society de Belize (BAS).
Em 1987, sob a supervisão da BAS, foi contratado o primeiro
administrador belizenho do santuário, Fallet Young, e um plano operacional
foi estabelecido. Conforme sugestão do manual de operação, redigido por
Horwich, Lyon, Young e Mick Craig, o diretor executivo
264 ecoturismo

da BAS, foi criado um comitê consultivo para trabalhar com a BAS na


administração do santuário. Com o santuário sob administração e controle
locais, os estrangeiros assumiram um papel consultivo, principalmente
desenvolvendo programas. A maior parte das decisões do dia-a-dia eram
deixadas para o administrador, que as relatava ao diretor da BAS.
Como em Belize não havia universidade e o acesso a conhecimentos
técnicos era muito pequeno, e, como o administrador do santuário não
possuía grau superior, Horwich e Lyon proporcionaram treinamento e
acompanhamento pedagógico, utilizando textos didáticos de Biologia.
Horwich e Lyon também propuseram idéias para programas, incorporando
as sugestões do administrador, e redigiram um manual e textos da área, que
o administrador utilizava como base formal para integrar seu próprio
conhecimento da floresta. Young foi também estagiário em um workshop de
conservação regional patrocinado pelo World Wildlife Fund. Com esse
treinamento in loco, Young estava, enfim, preparado para ensinar seu
assistente e outros membros do quadro de funcionários.
Os deveres do administrador incluíam uma reunião anual com os
proprietários das terras, a orientação de turistas e a coordenação dessas
visitas com os receptivos locais. Mais tarde, naquele primeiro ano, um
assistente foi contratado pela BAS. Juntos, o administrador e o assistente
deram aulas de campo para grupos de estudantes, reuniram dados sobre a
fenologia das plantas, cuidaram do museu, abriram e mantiveram trilhas,
plantaram um pequeno arboreto e uma estufa e executaram outras tarefas de
manutenção. O administrador do santuário negociou doações e promoveu
vendas no museu, bem como contratou e pagou trabalhadores e guias em
regime de período parcial. O fato de o administrador ter providenciado todas
as operações econômicas levou a algumas queixas de deslealdade e
provocou inveja. Sem nenhum comitê consultivo funcionando no local,
esses problemas continuaram. A BAS está atualmente trabalhando para
reverter essa situação, mediante a criação de um forte comitê administrativo
de
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 265

proprietários de terras de cada povoado, para supervisionar as operações in


loco e implementar as quatro principais metas do santuário: conservação,
educação, pesquisa e turismo.

conservação

A principal função do administrador do santuário é trabalhar com cada


proprietário de terra para assegurar-se de que as práticas agrícolas são
condizentes com os planos administrativos que eles se comprometeram a
apoiar. O aumento da população de bugios demonstra que o plano de
conservação foi eficaz. Visto que nove entre dez proprietários estão
cumprindo seus compromissos, parte desse aumento é atribuído às práticas
aperfeiçoadas de administração das fazendas. Esse sucesso inicial está
encorajando esforços no sentido de também proteger outras espécias
nativas.
Uma segunda espécie em risco de extinção, a tartaruga de água doce
(Dermatemys mawii), que é constantemente caçada para fins econômicos e
de subsistência, desaparece rapidamente sempre que explorada (Moll,
1986). Informações sobre a reprodução sazonal da espécie estão sendo
utilizadas, a fim de orientar a administração dos governos local e federal na
proteção e uso sustentável da tartaruga. O santuário também planeja
reintroduzir plantas e animais que desapareceram da região, incluindo aves
de caça como o peru ocelado, e madeiras de lei como o mogno.

educação

O programa educacional do santuário visa a um grande número de


pessoas, incluindo aldeões locais e crianças da escola local, beli-zenhos de
todo o país, e visitantes estrangeiros (Horwich e Lyon, no prelo). O pequeno
museu de História Natural, o primeiro museu de Belize, foi inaugurado em
abril de 1989. Uma trilha autoguiada na
266 ecoturismo

floresta e um livro completo sobre a floresta tropical do santuário também


fazem parte do programa educacional.
Originalmente, o museu foi projetado para ser um centro de recursos
orientado para a conservação, disponível à população rural responsável pela
proteção das florestas em que vive. Desde sua criação, tornou-se também
uma importante atração turística. As exposições ilustram a importância das
florestas tropicais, da regeneração da floresta após a agricultura
depredatória, dos recursos hídricos, do mutualismo* e de outros temas
ecológicos no contexto da conservação. Elas incluem materiais reunidos no
local sobre história natural, cultura arqueológica e história.
A obra A Belizean Rain Forest: The Community Baboon Sanctu-ary
(Horwich e Lyon, 1990) começou como um pequeno panfleto sobre os
bugios, fornecido aos aldeões locais. O panfleto gradualmente transformou-
se num manual, até tornar-se um livro de 420 páginas, que integra a
informação sobre a flora e a fauna locais com o material de caráter geral
sobre as funções e a importância das florestas tropicais. O livro é fornecido
gratuitamente às escolas de Belize e é vendido aos turistas, com os lucros
revertidos em benefício do santuário.
O sistema de trilhas de três milhas fornece aos visitantes informações
sobre a floresta por meio de placas numeradas, cujos textos estão incluídos
em A Belizean Rain Forest. Os guias do santuário complementam o texto
com palestras preparadas e com seu conhecimento direto sobre os macacos.
Sua familiaridade com a floresta e a vida selvagem local torna mais rica a
experiência educacional dos

* Mutualismo é uma forma de associação entre seres vivos que é igualmente


proveitosa para as espécies envolvidas. De acordo com alguns autores, o
mutualismo só ocorre quando os parceiros dependem um do outro para a
sobrevivência, como é o caso da relação entre certas algas e fungos para
formar os liquens: nenhuma das espécies vive isoladamente. Para outros
autores, o proveito mútuo, mantida a capacidade de sobrevivência
isolada, também pode ser designado como mutualismo. Certas espécies
de formigas das florestas tropicais estabelecem uma relação com plantas
conhecidas como ingás, onde os insetos se alimentam de secreções das
plantas, produzidas em cálices, e protegem as hospedeiras contra ataques
de herbívoros. Tanto o ingá como as formigas, no entanto, podem ser
encontrados vivendo separadamente. (N. do R. T.)
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 267

visitantes, que recebem mensagens educativas formais e informais sobre


conservação.
Um documentário televisivo realizado em Belize, em 1988, estimulou
o interesse dos belizenhos pelo santuário. Desde então, as visitas de grupos
escolares aumentaram drasticamente, às vezes com centenas de estudantes
comparecendo ao santuário num único dia. Funcionários extras estão
trabalhando para controlar essas visitas e para ampliar o programa de
ensino, a fim de incluir as escolas rurais e as de Belize City. Folhetos
gratuitos sobre temas específicos (bugios, florestas tropicais) e o livro são
oferecidos aos professores de primeiro e segundo graus em toda Belize.

pesquisa

A pesquisa propicia a base para a gestão e a educação do santuário, e


os pesquisadores tornam-se turistas de longo prazo que contribuem
economicamente para seus povoados. Os projetos incluem estudos da
ecologia e comportamento do bugio, da ecologia da floresta e práticas de
cultivo, a biologia das tartarugas de água doce, o comportamento de aves, os
resíduos de pesticidas e herbicidas em peixes, estudos culturais, estudos da
visão dos proprietários sobre a conservação do santuário e turismo (Hartup,
1989).

o turismo e a economia local

A integração dos interesses humanos com a conservação das florestas e


da vida selvagem é um dos principais objetivos do santuário. Depois que os
aldeões propuseram a criação de uma base turística, as visitas feitas por
estrangeiros e turistas belizenhos aumentaram, aproximadamente, de dez
para 30 visitantes em 1985 e 1986, para 200 em 1987, 900 em 1988, 5.500
em 1989, e acima de 6.000 em 1990.
É possível alugar quartos em residências locais, e turistas de pernoite
podem também acampar e fazer suas refeições em residências
268 ecoturismo

locais. Alguns turistas utilizam guias locais em barcos ou a cavalo. Todos


esses serviços são providenciados pelos funcionários do santuário.
Uma doação de 11.000 dólares da Inter-American Foundation
(Fundação Interamericana) foi utilizada para empréstimos a juros baixos aos
aldeões. A oferta da doação foi redigida pela equipe da BAS e por Horwich,
e foi submetida pela BAS à apreciação da Inter-Ame-rican Foundation. Os
empréstimos foram feitos a cinco aldeões, com base nas propostas que eles
apresentaram à BAS, por intermédio do administrador do santuário. A
devolução do empréstimo deveria ser efetuada por intermédio do
administrador; contudo, devido à mudança na equipe administrativa do
santuário, os pagamentos foram suspensos durante um certo período. A BAS
providenciou, então, a coleta desses pagamentos pelo comitê do santuário.

a história do ecoturismo no santuário comunitário dos babuínos

A princípio, considerando a falta de recursos e comodidade para o


turista, a idéia de promover a área como destino turístico parecia absurda.
Quando a notícia se espalhou e os visitantes afluíram ao santuário, o
potencial para o desenvolvimento turístico tornou-se evidente. Em 1987,
quinze estudantes americanos que foram ao Ber-mudian Landing estudar os
macacos experimentaram acomodar grupos de visitantes nas casas do
povoado. Os estudantes faziam suas refeições com meia dúzia de famílias
no povoado e moravam em barracas montadas nas propriedades das famílias
hospedeiras. Esse procedimento foi viável e o programa teve continuidade
em três ocasiões, na temporada de 1987-1988.
Nos primeiros anos, o turismo desenvolveu-se de maneira informal. Os
adolescentes locais eram encorajados a trabalhar como guias, o acesso ao
santuário era gratuito, e os turistas que chegavam eram recebidos pelas
famílias locais, ansiosas para oferecer serviços de pousada. A cada ano,
chegavam mais visitantes.
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 269

Em 1988, com o afluxo de excursões guiadas provenientes dos EUA, o


quadro de funcionários recém-nomeados constatou a necessidade de
administrar as atividades do visitante. Os guias de excursões freqüentemente
ludibriavam os guias locais e levavam os grupos pelas trilhas da floresta por
sua própria iniciativa. As trilhas encontram-se em propriedades privadas,
com cercas de criação de gado, campos cultivados e outros bens, de modo
que o tráfego descontrolado pode causar danos às colheitas e reduzir as
populações de vida selvagem sob proteção (Lippold, comunicação pessoal).
A visitação não-admi-nistrada também impedia o contato entre os
funcionários do santuário e turistas que queriam doar dinheiro para a
conservação, especialmente para o CBS. Posteriormente, foi exigido que os
visitantes pagassem 2,50 dólares por pessoa e que eles estivessem
acompanhados por funcionários da entidade. As doações extras também
passaram a ser aceitas e transferidas para & BAS, para depósito em uma
conta do CBS. Uma pequena soma é retida para compras ou despesas
contraídas pelo administrador do santuário, que deve prestar contas à equipe
da BAS. Todas essas funções da BAS estão sendo gradativamente
transferidas para o comitê local do santuário.
Já que o santuário necessitava de um local central para receber os
visitantes, o museu, que funciona como sede das principais atividades do
santuário, foi, em parte, criado tendo em vista essa função. Os responsáveis
pelas atividades ajudaram a formalizar e consolidar o papel de administrador
do santuário, seu escritório e suas tarefas administrativas. O museu,
portanto, acomoda uma série de atividades integradas. Apesar das objeções
das agências financiadoras de que o museu teria pouquíssima utilidade para
justificar até mesmo o baixo custo de 12.000 dólares, ele é hoje uma atração
turística.

o santuário da vida selvagem da bacia de cockscomb


A idéia de promover a conservação sediada em povoados e
administrada localmente, chegou também a outros projetos financia-
270 ecoturismo

dos pela BAS. A Bacia de Cockscomb é um dos projetos que está


beneficiando os moradores locais, mas sua história é bem diferente daquela
do projeto do CBS.
O Santuário da Vida Selvagem da Bacia de Cockscomb {Cockscomb
Basin Wildlife Sanctuary) foi declarado área protegida em 1984, após o
estudo da ecologia da onça-pintada realizado pelo Dr. Alan Rabinowitz, da
Sociedade de Zoologia de Nova York. Em 1986, 3.600 acres da Reserva
Florestal foram declarados como santuário para as onças-pintadas e também
para outras espécies de vida selvagem (Boo, 1990b). Com o sucesso do
parque, e com o aumento geral do ecoturismo em Belize, o santuário foi
ampliado para 102.000 acres, um tamanho apropriado para as onças-
pintadas (Anônimo, 1990).
Antes da criação do parque, um pequeno povoado de índios maias foi
localizado em Quam Bank, onde deveria situar-se o centro de atividades do
novo parque. Uma vez que o parque foi criado, os maias foram forçados a
desocupar a área sem qualquer explicação adequada. Com a colocação de
placas e a presença de um administrador estrangeiro no local, os maias
desalojados não entenderam o que estava acontecendo e lhes parecia que
seus direitos legais estavam sendo violados. Por fim, foram remanejados
para uma nova instalação no Centro Maia, a seis quilômetros do local
original. Embora dois homens do povoado tivessem sido contratados como
guardas, ainda havia ressentimento por parte dos aldeões em relação aos
visitantes que passavam pelo povoado e não demonstravam interesse por
eles. Além disso, os aldeões estavam então proibidos de caçar ou pescar na
área recém-protegida.
Um voluntário da organização Peace Corps foi nomeado pela
Audubon Society de Belize para administrar interinamente o santuário em
1985, mas as relações com os aldeões eram ainda extremamente limitadas.
Em 1987, Ernesto Saqui, um professor maia do local, foi nomeado diretor
do santuário. Com a nomeação de um membro local, as relações entre o
parque e os aldeões melhoraram, e eles começaram a ver possíveis
benefícios econômicos originados pelo ecoturismo.
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 271

Sete jovens aldeões foram treinados para conduzir roteiros organizados,


mas tiveram que competir com os guias estrangeiros.
Apesar de sua localização remota, ao longo de uma estrada de seis
quilômetros de extensão, em condições precárias de manutenção, a visitação
ao parque cresceu de 25, em 1985, para 376 em 1986, 1.653 em 1987, 1.909
em 1988, 2.073 em 1989, e 2.017 em 1990. A maioria dos visitantes que
vão ao santuário são estrangeiros e estudantes das escolas de Belize,
incluindo a Universidade de Belize e a Faculdade de Pedagogia de Belize.
Com o tempo, os benefícios econômicos para os aldeões começaram a
se materializar. De início, esses benefícios apresentaram-se na forma de
salários ganhos pelos cozinheiros e outros prestadores de serviços locais. À
medida que a visitação aumentava, as mulheres do povoado começaram a
vender bordados e outros artesanatos à beira das estradas. Esse
procedimento casual obteve algum sucesso, mas, por fim, o diretor do
parque e o conselho do povoado apresentaram um plano mais organizado.
Os aldeões construíram pequenas instalações cobertas de sapé para servirem
como centro para venda de arte e souvenirs. A Audubon Society de Belize,
como parte de suas obrigações administrativas em relação ao parque,
organizou vários work-shops sobre marketing, diversidade de qualidade na
produção artesanal, contabilidade e escrituração mercantil, a fim de ensinar
às artesãs do local habilidades comerciais. Os lucros elevaram-se em 87%
em apenas um ano. Em três anos e meio, quinze aldeãs haviam ganhado
28.000 dólares.
Atualmente, o parque possui algumas cabanas com instalações para
cozinhar, e também local para acampamento para os visitantes de pernoite.
As trilhas são amplamente desenvolvidas e bem conservadas. Um centro de
visitantes, com exposições sobre a onça-pintada e outros felinos e suas
presas, foi inaugurado em 1992.
Existem alguns projetos de pesquisa desenvolvidos por cientistas
estrangeiros que incluem estudos sobre a onça-pintada e outros felinos,
recenseamentos da população de aves, e levantamentos sobre a
272 ecoturismo

vegetação. O diretor colheu dados preliminares para reintroduzir os bugios


no santuário. Uma vez que as florestas adjacentes estão sendo rapidamente
eliminadas para o plantio de árvores cítricas, os bandos de bugios estão
sendo transferidos do parque para o Santuário Comunitário dos Babuínos.
Três grupos foram realocados com sucesso, em 1992, e as realocações
continuarão por mais dois anos.

problemas e potenciais do turismo sediado em povoados


Vários problemas têm surgido na promoção do turismo do Santuário
Comunitário dos Babuínos, em parte devido à inexperiência na criação de
reservas e à falta de planejamento turístico. Dado o isolamento geográfico
do santuário, os esforços concentraram-se mais na divulgação da área do
que no fornecimento de uma infra-estrutura para acomodações de pernoite
para os visitantes. Na época, um pequeno hotel deveria ter sido construído e
operado por uma cooperativa do povoado ou do santuário. Em vez disso, os
interesses estrangeiros tentaram lucrar com o sucesso da área, planejando a
construção de hotéis na região. Isso abalaria os alicerces de um turismo
baseado na comunidade, afetando todo o sistema de integração, e a
população local sofreria a privação dos privilégios e direitos experienciados
em outros locais.
A falta de estrutura administrativa gera outro problema. O Santuário
Comunitário dos Babuínos foi organizado sob a direção da Audubon Society
de Belize, porque ela era a única organização para conservação controlada e
gerenciada por belizenhos. Na época, a sociedade tinha um diretor executivo
e um quadro de funcionários em período integral, e era sustentada com o
patrocínio de um grupo norte-americano pró-conservação. Quando o apoio
financeiro foi prematuramente retirado e o cargo de diretor executivo da
BAS foi extinto, o quadro de funcionários do santuário ficou sem supervisão
direta. Durante dois anos, os funcionários do santuário foram super-
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 273

visionados apenas pelo conselho administrativo voluntário da BAS. Como


não havia comitê local, responsabilidades e ônus excessivos recaíram sobre
o administrador do santuário durante esse período. Antes de organizar e
promover a reserva, deveria ter sido formado um comitê dos proprietários
de terras do povoado. Uma cooperativa legal teria envolvido um maior
número de pessoas da comunidade no processo inicial de planejamento e
implementação e teria evitado parte das rivalidades que surgiram intra e
inter-povoados.
Os recursos e a comunicação ainda apresentaram outros obstáculos.
Em substituição ao inconveniente telefone comunitário, um rádio permitiu a
comunicação direta entre o quadro de funcionários do santuário e os turistas,
através do escritório da Audubon Society de Belize. Os aldeões tiveram
oportunidade de obter os empréstimos rotativos para propiciar serviços de
pousada em suas casas, mas poucas famílias puderam tirar proveito disso,
porque inicialmente houve uma falha na criação de um mecanismo
adequado de coleta de empréstimos. Manter um fluxo contínuo de turismo
de pernoite também tem sido difícil. Atualmente, Gail Bruner, do Zoológico
de Atlanta, está criando um plano para divulgar o turismo para todas as
comunidades do santuário.
Embora seja difícil avaliar os benefícios econômicos originados pelo
ecoturismo, os dados turísticos de Hartup (1989) permitem uma avaliação
parcial. Tomando-se como base os cerca de 3.000 visitantes estrangeiros em
1990, multiplica-se esse número pelo montante total gasto no local por
todos os turistas entrevistados (excluindo-se as doações), e divide-se o
produto dessa operação pelo número de turistas entrevistados, obtendo-se o
resultado estimado de 21.605 dólares, gastos no povoado durante o ano de
1990. Dessa estimativa, 8,7% foi gasto com despesas de transportes, 9,8
com despesas de guias, 20,2 com acomodações, 43,2 com refeições, 12,3
com souvenirs, e 5,7 com pessoal/outros. Uma segunda estimativa pode ser
obtida através da multiplicação das porcentagens de turistas que passaram
uma ou mais noites no povoado, pelo número de 3.000 visitantes, e da
multiplicação
274 ecoturismo

do produto dessa operação pela estimativa do que foi gasto com transporte,
refeição e acomodação, resultando numa estimativa semelhante de 20.169
dólares, gastos em 1990. A maior parte desse montante fica com seis a dez
famílias, entre aproximadamente vinte famílias existentes no povoado.
Contudo, é provável que grande parte desse dinheiro fique na comunidade,
por meio das compras locais e da contratação de mão-de-obra local, mas
esses cálculos são mais difíceis de estimar.
Os resultados positivos do projeto do santuário são promissores,
embora parte de suas contribuições sejam intangíveis. A maioria das pessoas
na região julga que o projeto tem sido benéfico e quer sua continuidade. A
cobertura feita pela televisão, rádio e imprensa tem promovido o orgulho
nacional e regional. A cada ano, um número maior de visitantes chega à
região, remunerando as famílias locais por serviços de pousada, de guias e
por outros subprodutos originados pelo turismo. A proliferação dos bugios
demonstra que a cooperação local na conservação está funcionando, fato
que oferece estímulo para projetos futuros baseados em terras de
propriedade privada e em modelos de subsistência local. Nem todas as
reservas precisam estar encravadas em lotes virgens de mata selvagem para
serem bem sucedidas.
O Santuário Comunitário dos Babuínos também possui, pelo menos,
um resultado imprevisto, que irá posteriormente estimular o turismo. A
abertura do museu, com sua exposição sobre a cultura e a história crioula
local, marcou o início de um festival anual que faz com que a atenção da
comunidade se volte às suas tradições culturais. À medida que o santuário
desenvolveu-se e um número cada vez maior de visitantes começou a
chegar, a consciência étnica também aumentou entre os aldeões crioulos
locais. Um renascimento do canto folclórico, relato de histórias e artesanato
feito de arbustos ocorreu paralelamente aos usos tradicionais de florestas
tropicais. Esses usos da floresta incluem a extração de látex de borracha do
sapotizeiro para a fabricação de goma de mascar, o trabalho de entalhe em
pratos de
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 275

madeira, a produção de escovas, alicates e armadilhas para peixes, e o


processamento do óleo de palmeira.
O santuário despertou, principalmente, um sentimento de orgulho e
realização e provocou uma eco-conscientização geral. Essa educação
gradual e intangível conferiu uma consciência de conservação à vida
cotidiana dos aldeões. Compreensões obtidas em Bermu-dian Landing,
através do processo de tentativa e erro, estão atualmente sendo utilizadas no
planejamento de um novo e abrangente projeto integrado de conservação-
ecoturismo em Belize.

a reserva comunitária dos manatis


Proprietários de terras, aldeões e visitantes estrangeiros acolheram o
conceito de conservação da comunidade, e o modelo do CBS está sendo
utilizado em outros locais, em Belize. Um biólogo americano organizou os
proprietários de terra em Ambergris Cay, uma grande ilha setentrional, para
proteger as praias de nidificação de tartarugas marinhas. No rio Monkey, ao
sul de Belize, foi formada uma cooperativa local, a fim de criar a Área de
Preservação Natural do Rio Monkey como uma atração turística. Outro
projeto em planejamento, a Reserva Comunitária dos Manatis, é ainda mais
promissor, porque integra terras governamentais protegidas com terras
privadas e está tentando superar alguns dos erros experimentais cometidos
na criação do CBS, por meio da formação de uma cooperativa legal, com
uma ampla base local, para supervisionar o santuário, e da construção de um
hotel, a ser dirigido pela cooperativa local.
O projeto da Reserva Comunitária dos Manatis (Manatee Com-munity
Reserve - MCR) teve início com uma série de visitas feitas à área por
Horwich e Chris Augusta, uma artista americana que vem visitando a região
nos últimos dez anos. Eles apresentaram um plano aos aldeões num
encontro do povoado e colheram assinaturas de apoio da maioria dos
presentes, convidando-os a dar prosseguimento ao
276 ecoturismo

plano. Uma proposta preliminar foi posteriormente submetida ao conselho


do povoado de Gales Point e ao Ministro de Turismo e do Meio Ambiente,
que é também o representante da área. Esse representante, posteriormente,
organizou uma reunião no povoado, na qual vários políticos e funcionários
do governo fizeram rápidas exposições aos aldeões. Foram proferidas
palestras pelo Ministro de Turismo e do Meio Ambiente, pelo Presidente do
Supremo Tribunal, que é do povoado, pelo Supervisor da Reserva Florestal,
por um arqueólogo do governo, por um empresário estrangeiro bem-
sucedido no ramo de hotelaria, e por Horwich. A palestra proferida por
Horwich abarcou as possíveis falhas de um projeto como esse, bem como os
possíveis ganhos.
Por solicitação, e com o suporte financeiro do Ministro e com a ajuda
dos Departamentos de Florestas e Terras, Horwich e Lyon (1991) criaram
uma proposta para um plano de uso múltiplo do solo. A Reserva
Comunitária dos Manatis, que está sendo proposta e planejada pelos autores
e por outros voluntários (Conselheiros de Conservação da Comunidade),
abrange 170.000 acres de terras públicas e privadas e três grandes lagoas.
Os objetivos específicos de turismo e desenvolvimento local da MCR
são três: em primeiro lugar, desenvolver uma reserva baseada na
comunidade, a fim de assegurar o uso sustentável de recursos; em segundo
lugar, manter e fortalecer a cultura rural da região (baseada no cultivo, pesca
e caça); e, em terceiro, propiciar ao povoado uma fonte de renda
suplementar por meio do turismo, que resulte em auto-suficiência
econômica, em lugar da criação tradicional de empregos. As mudanças
ocorrerão gradativamente, de acordo com os anseios da comunidade e sob
seu controle. A conservação abrangerá a preservação do modo de vida rural,
bem como a proteção da vida selvagem e de outros recursos naturais. O
santuário se concentrará no desenvolvimento do turismo em torno do estilo
de vida da comunidade, dando aos turistas uma experiência autêntica da
vida do povoado, semelhante ao acesso à cultura crioula proporcionado pelo
Santuário
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 277

Comunitário dos Babuínos. Permitir que os turistas desfrutem de uma


"experiência intercultural" também deverá aliviar os aldeões da pressão em
forjar uma aparência de opulência para os turistas (Moulin, 1980).
Como a região que circunda o povoado de Gales Point precisa ser
considerada em sua totalidade, o plano de utilização múltipla do solo inclui
o cultivo de produtos de subsistência e de produtos cítricos, bem como o
ecoturismo (Horwich e Lyon, 1991). Com a utilização da filosofia da
biosfera, o plano prevê áreas centrais, onde a interferência humana será
mínima; zonas-tampão, destinadas a usos humanos específicos; e zonas de
transição, onde as atividades humanas serão restritas, a fim de assegurar o
uso apropriado do solo. O uso humano será limitado ao ecoturismo de baixo
impacto nas áreas centrais, que foram selecionadas visando à proteção
específica de espécies em risco de extinção, ecossistemas e mananciais. As
zonas-tampão serão utilizadas principalmente para o corte seletivo de
mogno, para a caça e a colheita, ou para a extração de recursos florestais,
que não a madeira, como o látex para a fabricação de goma. Baseando-se no
uso humano atual, as zonas de transição foram selecionadas como áreas
destinadas à agricultura sustentável e ao ecoturismo. As restrições de
zoneamento serão utilizadas para assegurar a sustentabilidade dos dois
empreendimentos.
O hotel que está sendo construído com financiamento do governo será
dirigido pelo pessoal do santuário, sob a supervisão da cooperativa local.
Essa infusão de dinheiro do governo já está incitando os residentes a
iniciarem a construção de suas próprias instalações turísticas. Um registro
sistemático de manutenção e monitoramento do tráfego de turistas está
projetado, a fim de propiciar dados essenciais para futuros planejamentos.
Questionários simples de pesquisa, com acompanhamento regular, podem
fornecer muitas informações acerca da visitação de turistas a um
determinado local (Boo, 1990a e 1990b; Hartup, 1989).
Como em todos os projetos ecoturísticos, ao desenvolver a Reserva
Comunitária dos Manatis, as mudanças exigidas pelo turismo precisam ser
minuciosamente ponderadas de modo a manter intactas
278 ecoturismo

a unidade cultural e a integridade do povoado. Os guias do CBS são


estimulados a enriquecer os roteiros com seus próprios conhecimentos
culturais sobre as plantas e animais. Uma abordagem similar seria útil para
os guias da MCR, que estão trabalhando fora de Gales Point.
Para melhor exibir e proteger as áreas naturais, exige-se uma
preparação adequada. Para minimizar os problemas ambientais, todos os
turistas deveriam ser guiados, ou, pelo menos, deveriam estar munidos de
mapas de trilhas e um conjunto de regras que devem ser cumpridas.
Sistemas de trilhas devem ser mantidos para facilitar a passagem e manter
os turistas em áreas delimitadas. Um sistema similar de canais para a
travessia de barcos precisa ser criado nas lagoas para o tráfego de barcos a
motor, especialmente para proteger os manatis e outros tipos de vida
selvagem. Os canais de barco nas lagoas podem incluir rotas delimitadas e
limites de velocidade dentro de certas áreas. A localização e a demarcação
de áreas específicas, onde é mais provável que os turistas possam observar a
vida selvagem ou outras atrações naturais, são medidas que favorecem a
promoção e o sucesso de roteiros ecológicos. A criação de tais áreas e a
ênfase nos elementos únicos do local, que os turistas poderiam não perceber
ou entender por si mesmos, fazem com que o sucesso dos roteiros aumente.
No Santuário Comunitário dos Babuínos, por exemplo, os turistas quase
sempre vêem os bugios porque os guias sabem onde e como encontrá-los.
Em Gales Point, certas áreas, onde os manatis e alguns crocodilos
americanos residem, interessariam aos naturalistas. Nesses casos,
estabelecer locais permanentes de observação, como uma balsa ancorada ou
uma torre, aumentaria ainda mais a possibilidade de contemplar a vida
selvagem. Freqüentemente, coisas que os aldeões e guias locais consideram
óbvias impressionarão os visitantes estrangeiros.
Finalmente, para agradar aos turistas, os aldeões de Gales Point
deveriam valorizar seu povoado. Com o consenso do povoado, os
empreendimentos poderiam incluir sanitários alternativos para o es-
coamento de dejetos, tanto do povoado quanto dos turistas. Detritos
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 279

secos poderiam ser reciclados a fim de adubar os solos para o cultivo de


flores típicas ou hortas. O planejamento e a construção de ancoradouros
para barcos e piers deveriam ser feitos sob estrito controle local.

sugestões para o planejamento do ecoturismo comunitário

O ecoturismo, a despeito da crescente ênfase na conservação e no


desenvolvimento, ainda está em estágio experimental. Assim sendo,
podemos aprender tanto com os fracassos quanto com os sucessos dos
vários projetos existentes no mundo.
Apesar de algumas áreas, tais como as Ilhas Galápagos, já estarem
experienciando a devastação causada pelo excesso de visitação (de Groot,
1983), estão surgindo projetos, como os existentes no Nepal e em Ladakh,
para impedir a degradação do meio ambiente (Passoff, 1991; Puntenney,
1990; Goering, 1990). Alguns simplesmente fracassam devido à falta de
controle local, como o de Hana, no Havaí (Farrell, 1990). Os projetos que
parecem obter maior sucesso são aqueles administrados localmente, como
as operações de turismo tribal de Kuna (Howe, 1982; Chapin, 1991). Os
negócios mais promissores são aqueles que foram, desde o início,
estabelecidos no local, em nível de povoado, utilizando uma abordagem
integrada que prioriza a infra-estrutura adequada e o uso dos materiais
locais, tais como o programa Turismo para Descoberta, no Senegal (Saglio,
1979).
A partir desses e de outros exemplos de sucesso, e de nossa própria
experiência em Belize, oferecemos algumas sugestões para o planejamento
do ecoturismo baseado na comunidade.
Em nível de povoado. Qualquer plano que inclua a utilização de
recursos locais precisa ser planejado e implementado em nível de povoado,
ainda que o projeto tenha um escopo mais amplo.
280 ecoturismo

Integração local. O ecoturismo genuíno deve integrar os habitantes


locais, tornando-os sócios iguais no projeto, implementação e em qualquer
outro aspecto dos projetos que utilizem terras e recursos que façam parte
dos padrões de subsistência (Boo, 1990b). Os sócios locais também devem
reconhecer e beneficiar-se da parceria entre a conservação e o
desenvolvimento da comunidade.
Capacitação local e legal, com base no conjunto da comunidade. A
população local deve ser educada para defender a conservação e estar
capacitada para gerenciar e administrar os empreendimentos de longo prazo,
como uma administradora consciente da preciosidade dos recursos naturais.
Os projetos devem ser baseados no conjunto da comunidade, visando à
ampla participação, em vez de apoiados em facções ou indivíduos da elite
do povoado. As organizações legais devem ser criadas para dirigir os
parques ou os programas de turismo. Por conseguinte, deve haver um forte
componente educacional.
Utilização de recursos existentes. Entre os recursos que devem ser
utilizados estão as habilidades humanas, mão-de-obra e materiais, que
deveriam ser supridos pela população local e pelos centros dos parques. Os
líderes e gestores do turismo deveriam utilizar a mão-de-obra ou guias
locais e estimular a compra de materiais da população local.
Escala apropriada. O projeto e desenvolvimento deveriam situar-se
numa escala apropriada ao estilo de vida, estrutura social, visão cultural de
mundo, padrões de subsistência e organização da comunidade, existentes no
local. O ecoturismo deveria apenas ser considerado como uma indústria
suplementar, e a prioridade deveria recair sobre a manutenção da
agricultura, pesca ou outras atividades rurais.
Sustentabilidade. Trata-se aqui de trabalhar pela sustentabilidade de
longo prazo e perpetuação dos esforços de conservação. As agências
doadoras e os órgãos de financiamento devem ser conscientizados da
necessidade do compromisso a longo prazo com os recursos, para prestar
ajuda ao desenvolvimento e conservação da
o ecoturismo e o desenvolvimento da comunidade 281

comunidade. Em qualquer projeto de conservação voltado para o povoado,


o suporte financeiro deve ser obtido para instalações turísticas próximas ao
povoado e por ele dirigidas.
As necessidades locais e a conservação são primordiais. As
necessidades dos turistas devem se tornar secundárias em relação à
preservação de áreas naturais e suas riquezas, incluindo o próprio pessoal
local. Os projetos de turismo devem ser estruturados para atrair os
ecoviajantes que reconhecem seus papéis enquanto preservacionistas e estão
dispostos a fornecer incentivos econômicos para a proteção dessas riquezas.
Esse tipo de turista estará disposto a abster-se do luxo, conforto e
comodidades dispendiosas do comércio turístico de massa, para vivenciar
experiências autenticamente naturais e culturais, que se tornam cada vez
mais raras. Os ecoturistas deveriam ser informados em vez de entretidos;
educados, em vez de recreados. Turistas e grupos de turistas devem ser
gentilmente administrados, de acordo com as necessidades dos recursos
naturais e necessidades e anseios da população local. Os gestores do
turismo, por ocuparem cargos estratégicos, têm a obrigação de educar seus
clientes.
Os profissionais têm a obrigação de contribuir. Biólogos, antro-
pólogos e outros pesquisadores do local deveriam adequar parte de seu
estudo de modo a atrair mais mão-de-obra para o trabalho, envolvendo a
população local na responsabilidade e benefícios da conservação.
A conservação é uma estratégia de desenvolvimento viável. Os
governos federais devem ser estimuladas a criar políticas para a preservação
de terras naturais, como estratégias viáveis de desenvolvimento, e para a
reforma dos sistemas fundiários, de modo que a população rural possa
possuir terras sem ter a obrigação concomitante de limpar, roçar ou cultivar
os lotes em sua totalidade.
Apoio governamental. Tanto os governos quanto os grupos nacionais
de conservação devem apoiar ativamente a população local no ecoturismo.
Isso inclui apoio legal e financeiro e a criação de um canal de comunicação
entre a organização em nível local e os sistemas do governo federal.
282 ecoturismo

Investidores e operadores turísticos conscientes. Os operadores


turísticos que oferecem destinos "ecoturísticos" devem trabalhar por
intermédio das comunidades e estruturas locais de turismo. Os guias de
excursões devem ter pleno conhecimento da vida e ecologia da região e
devem incorporar componentes educacionais ao seu trabalho. Eles devem
estimular os visitantes a comprar objetos dos santuários e fazer com que
eles saibam como apoiar e contribuir para a conservação de qualquer local
que visitem. Os investidores estrangeiros deveriam ser estimulados a aplicar
recursos nos projetos ecoturísticos baseados na comunidade, como sócios
igualitários ou investidores locais. Um investidor estrangeiro que demonstra
interesse em ter um povoado como seu sócio, pode apresentar seu projeto a
vários povoados; seu objetivo pode ser, por exemplo, a construção de um
hotel, e, posteriormente, sua venda a uma cooperativa do povoado.

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557-572.
editores e colaboradores

editores

Kreg Lindberg é pesquisador associado da The Ecotourism Society e


assistente de pesquisa do Departamento de Recursos Florestais da
Universidade Estadual de Oregon. Trabalhou para diversas organizações
para a conservação nos Estados Unidos e em outros países. Além disso,
redigiu inúmeros ensaios e relatórios sobre os aspectos econômicos do
ecoturismo, incluindo Policies for Maximizing Nature Tourism's Ecological
and Economic Benefits, publicado pelo World Resources Institute (Instituto
Mundial de Recursos). Seu endereço para contato é: The Ecotourism
Society, P.O. Box 755, North Bennington, VT 05257, USA; Tel.802-447-
2121; FAX 802-447-2122.

Donald E. Hawkins é professor de Estudos Turísticos e Diretor do Instituto


Internacional de Estudos Turísticos na Universidade George Washington,
em Washington, D.C. Recentemente, trabalhou como Diretor do Projeto
Turístico EUA—Venezuela e do Projeto Turístico EUA—Argentina, ambos
financiados pela Agência Norte-Americana de Comércio e
Desenvolvimento. Produziu mais de 100 publicações, incluindo Tourism in
Contemporary Society (Prentice-Hall), a edição geral da Série de Livros
Didáticos e de Referência Profissional sobre Turismo e Recreação
Comercial (Van Nostrand Reinhold), a co-edição e supervisão do World
Travei and Tourism Review (CAB International) Volume I-III, e A Sala de
Aula Ambiental (Prentice-Hall). Seu endereço para contato é: The
286 ecoturismo

George Washington University, 817 23rd St. N.W., Washington, D.C.


20052; Tel. 202-994-7087; FAX 202-994-1420.

colaboradores

David L. Andersen, do A.I.A. (Instituto Americano de Arquitetos), é


fundador do Andersen Group Architects, Ltd., uma firma de arquitetura
sediada em Mineápolis. Trabalhou junto ao Conselho Consultivo
Profissional da Universidade Estadual de Iowa e é ex-presidente da Seção
do Instituto Americano de Arquitetos em Mineápolis. David Andersen
freqüentemente escreve e dá palestras sobre projetos de instalações
ecoturísticas, e é membro da The Ecotourism Society. A Andersen Group
Architects, Ltd., é hoje líder em projetos de instalações ecoturísticas na
América Central, e oferece seus serviços especializados no mundo todo.
Para maiores informações, contate: Andersen Group Architects, Ltd., Suite
211, 7601 Wayzata Boulevard, Minneapolis, Minnesota 55426, USA; Tel.
612-593-0950; FAX 612-593-0033.

Sylvie Blangy é consultora em ecoturismo e atualmente está coordenando e


editando um número especial do periódico Espaces sobre Turismo e Meio
Ambiente na Europa. Ela também está dirigindo programas de treinamento
e análises de viabilidade e mercado para os Departamentos Franceses de
Turismo e Meio Ambiente, em territórios franceses como Guiana,
Guadalupe, Martinica e ilha da Reunião. Sylvie Blangy passou dois anos
desenvolvendo pesquisa sobre códigos de ética para turismo de natureza,
recomendações e políticas de impacto mínimo para o programa Discovery
Tours do Museu Norte-Americano de História Natural. Seu endereço para
contato é: 123, Rue de la Carrierasse, 34090 Montpellier, France; Tel. e
FAX: 67 52 09 94; Email: blangy@frmop22.bitnet.

Elizabeth Boo é Diretora do Programa de Ecoturismo do World Wildlife


Fund — US, onde trabalha desde 1986. Ela é autora de inúmeros relatórios e
ensaios sobre ecoturismo, incluindo Ecotourism: The Potentials and
Pitfalls, publicado pelo WWF. Seu mestrado em negócios internacionais
pela Universidade George Washington concentrou-se no desenvolvimento
econômico da América Latina. Seu endereço para contato é: World Wildlife
Fund, 1250 24th Street NW, Washington, D.C.20037, USA; Tel. 202-778-
9624; FAX 202-293-9211.

Katrina Brandon é pesquisadora sênior no World Wildlife Fund e


atualmente trabalha como consultora em política de biodiversidade para a
Fundação
editores e colaboradores 287

Rockefeller e para a Divisão de Política e Pesquisa do Departament


Ambiente do Banco Mundial. Desde 1987, atua para o WWF em programas
e projetos destinados a integrar conservação e desenvolvimento. Coordenou
um programa, em quatro países latino-americanos, que promovia o
desenvolvimento sustentável a partir da incorporação de questões
ambientais ao processo de decisão sobre aspectos econômicos. É co-autora
de um estudo do Banco Mundial intitulado People and Parks: Linking
Protected Area Management with Local Communities e co-editora do World
Development, edição de abril de 1992, cujo tema era "Integrando Meio
Ambiente e Desenvolvimento". Seu endereço para contato é: World
Wildlife Fund, 1250 24th Street, NW, Washington, D.C. 20037, USA; Tel.
202-293-4800; FAX 202-293-9211.

Héctor Ceballos-Lascuráin é o Coordenador do Programa de Ecoturismo da


União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Coordenou o
IV Congresso Mundial sobre Parques Nacionais e Áreas Protegidas, que
contou com 1.800 participantes, de 130 países, em Caracas, Venezuela, em
1992. Ceballos-Lascuráin foi consultor junto ao WWF-US, na elaboração do
Estudo Latino-Americano sobre Ecoturismo, publicado em Ecotourism: The
Potentials and Pitfalls e tem dado palestras sobre ecoturismo, em
conferências internacionais no mundo todo. É sócio-fundador da
ECOTOURS, o primeiro operador ecoturístico do México. Ele pode ser
contatado no seguinte endereço: The IUCN Ecotourism Program, Camino al
Ajusco 551, Tepapan, Xochimilco 16020 México, D.F., México; Tel. 525-
676-8734; FAX 525-676-5285.

Megan Epler Wood é Diretora Executiva da The Ecotourism Society, que


fundou em 1990, com a ajuda de consultores de várias partes do mundo. É
Mestre em Biologia da Vida Selvagem pela Universidade Estadual de Iowa,
e trabalhou para o World Wildlife Fund durante a década de 80. Ela recebeu
uma bolsa Fulbright em 1989, para documentar a vida selvagem e projetos
para a conservação nas florestas tropicais da Colômbia. Megan E. Wood é
produtora profissional de documentários e produziu filmes e programas
televisivos sobre temas ambientais para o World Wildlife Fund, a National
Audubon Society e a National Geographic. Seu mais recente documentário
foi um Especial da National Audubon intitulado The Environmental Tourist,
que foi ao ar pela WTBS e PBS, em 1992.

Dolores Godfrey trabalhou como Diretora Executiva da Audubon Society de


Belize (BAS), em Belize City, Belize, de 1990 a 1992. O Santuário
Comunitário dos Babuínos e o Santuário da Vida Selvagem da Bacia de
Cockscomb encontravam-se sob a administração da BAS. Seu trabalho
nessas áreas foi desafiador
288 ecoturismo

e gratificante, inspirando e mantendo aceso seu interesse pela participação


da comunidade na gestão dos recursos. Atualmente, dedica-se ao Mestrado
em Conservação de Recursos na Universidade de Montana, em Missoula,
Montana, EUA.

Robert H. Horwich obteve seu Ph.D. em 1967, pela Universidade de


Maryland, e desenvolveu sua pesquisa de pós-doutorado na Índia, junto ao
Instituto Smith-sonian. Com base em sua pesquisa sobre os processos de
ligação afetiva no desenvolvimento de aves e mamíferos durante a primeira
infância, propôs um método eficaz de reintroduzir filhotes de garças-azuis
na vida selvagem. Desde 1967, estuda o comportamento dos primatas na
Índia e na América Central, e, desde 1974, é pesquisador independente e
conservacionista. Trabalhando com santuários comunitários em Belize e
Wisconsin desde 1984, R. Horwich contribuiu sobremaneira para a criação
do Santuário Comunitário dos Babuínos, em Belize. Atualmente,
desenvolve e coordena o projeto da Reserva Comunitária dos Manatis, em
Belize. Seu endereço é: Community Conservation Consult-ants/Howlers
Forever, RD 1, Box 96, Gays Mills, Wisconsin 54631, USA.

Richard M. Huber Jr. trabalha na Divisão de Meio Ambiente do


Departamento Latino-Americano do Banco Mundial. Durante sete anos,
dirigiu projetos em Trinidad e Tobago, e Grenada, nas Antilhas, para o
Departamento do Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da
Organização dos Estados Americanos (OEA). Foi diretor da Associação de
Guarda-Parques Urbanos, do Departamento de Parques e Recreação da
cidade de Nova York, e, durante seis anos, foi voluntário e consultor do
Corpo de Paz na América Latina. R. Huber é Mestre em Ciência Florestal
pela Universidade de Yale.

Jonathan Lyon está, atualmente, desenvolvendo sua pesquisa de doutorado


na Universidade Estadual da Pensilvânia, onde estuda os efeitos da chuva
ácida sobre as florestas dos Estados Unidos. Pesquisou sobre a restauração
de prada-rias e áreas úmidas em Wisconsin, e estudou a recuperação das
florestas tropicais úmidas, após as queimadas, no Santuário Comunitário dos
Babuínos, em Belize. Desde 1985, trabalha com santuários comunitários;
seu trabalho forneceu a base para a criação do Santuário Comunitário dos
Babuínos e para o plano de administração das terras da Reserva Comunitária
dos Manatis.

Dail Murray leciona Antropologia Cultural e Sociologia na Faculdade de


Viter-bo, Wisconsin, e está terminando o doutorado em Antropologia
Cultural pela Universidade de Wisconsin-Madison. Realizou pesquisa de
campo junto aos índios da Costa Salish e das comunidades da Velha Ordem
Amish, nos Estados
editores e colaboradores 289

Unidos. Participou da divulgação do Santuário Comunitário dos Babuínos


durante sua fase inicial.

Ernesto Saqui é diretor do Santuário da Vida Selvagem da Bacia de


Cockscomb, em Belize, desde 1987. Participa de várias organizações
comunitárias, é presidente do Maya Center Village Council, e foi uma
figura central na criação do grupo de mulheres do Maya Center. É formado
pela Faculdade de Pedagogia de Belize.

George N. Wallace é professor associado da Universidade Estadual do


Colorado, no Departamento de Recursos de Recreação e Arquitetura
Paisagística, Escola de Recursos Naturais. Ministra cursos em gestão de
áreas naturais, planejamento de ecossistemas em áreas selvagens, ciência
social para gerenciadores de recursos naturais, bem como mini-cursos para
administradores de áreas protegidas na América Latina. Desde 1967,
trabalha na América Latina e desenvolve pesquisa nas áreas de ecoturismo,
interpretação ambiental e ameaça às áreas selvagens. Ele fornece assistência
técnica para áreas naturais no México, América Central e América do Sul,
bem como para agências de administração das terras públicas dos Estados
Unidos. Para maiores informações, contatar: George Wallace, Colorado
State University, Forestry Building, Room 238, Fort Collins, CO, 80523,
USA.

David Western, o primeiro presidente da The Ecotourism Society, realizou


estudos sobre os impactos do turismo de natureza em áreas selvagens
durante mais de 15 anos. Desenvolveu uma pesquisa pioneira no Parque
Nacional Amboseli, no Quênia, que ressaltava a importância de tornar as
pessoas das comunidades locais beneficiárias do turismo de natureza. D.
Western dá asses-soria ao turismo em áreas naturais no mundo inteiro, e
continua a realizar pesquisas e análises de programas ambientais no Quênia.
Chefia, em Nairobi, o escritório da Wildlife Conservation International,
P.O. Box 62844, Nairobi, Kenya; Tel. 221699; FAX 215169.
índice analítico de países e locais
países

Belize, 153, 201, 257-279 passim


Camarões, 171
Canadá, 66, 147
Costa Rica, 18, 66, 150, 153-155, 201, 221
Equador, 97-139 passim, 147, 153, 163, 176, 201
Estados Unidos, 147,150, 178, 221
Fiji, 182
Grécia, 174
Indonésia, 186
Jamaica, 35
México, 231-249 passim
Nepal, 15, 150, 153, 165, 182, 186, 191, 231-249 passim, 279
Papua Nova Guiné, 201, 220
Peru, 108, 147, 153, 184
Quênia, 17, 18, 21, 147, 154, 163, 182, 186
Ruanda, 18, 153, 157, 163, 166-167
Santa Lúcia, 158-159, 163
São Vicente e Granadinas, 176
Senegal, 279
292 ecoturismo

Tailândia, 189
Uganda, 165
Zaire, 165
Zâmbia, 164, 181
Zimbábue, 180

locais

Área de Preservação Natural do Rio Monkey, Belize, 275


Arquipélago Rainha Carlota, Canadá, 66
Ilhas Trobriand, Papua Nova Guiné, 201, 220
Monumento Nacional das Fontes de Águas Sulfurosas, Santa Lúcia, 158,
160, 163
Parque Nacional Amboseli, Quênia, 21, 154
Parque Nacional de Galápagos, Equador, 97-139 passim, 176, 279
Parque Nacional de Yellowstone, EUA, 15, 18, 19
Parque Nacional de Yosemite, EUA, 16
Parque Nacional do Sul de Luangwa, Zâmbia, 164, 181
Parque Nacional dos Vulcões (Parc National des Volcans), Ruanda, 164
Parque Nacional Manuel Antônio, Costa Rica, 221
Parque Nacional Marinho dos Recifes de Tobago, São Vicente e
Granadinas, 176
Refúgio de Invernagem das Borboletas Monarcas, México, 231-249 passim
Reserva Comunitária dos Manatis, Belize, 275-277
Reserva e Parque Florestal de Tavoro, Fiji, 182
Reserva Florestal de Neblina de Monteverde, Costa Rica, 150, 154
Reserva John Crow Mountain / Blue Mountain, Jamaica, 35
Reserva Nacional Maasai Mara, Quênia, 154
Santuário Comunitário dos Babuínos, Belize, 261-262, 266, 268, 272-278
passim
Santuário da Vida Selvagem da Bacia de Cockscomb, Belize, 261, 269, 270
Unidade de Conservação de Annapurna, Nepal, 15, 231-249 passim

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