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TEMPO PASCAL. OITAVA DA PÁSCOA.

QUINTA-FEIRA

51. AO ENCONTRO DO SENHOR


– Aparição aos Onze. Jesus conforta os Apóstolos. Presença de Jesus Cristo nos nossos
sacrários.

– A Visita ao Santíssimo, continuação da acção de graças da Comunhão e preparação da


seguinte. O Senhor espera-nos a cada um de nós.

– Frutos deste ato de piedade.

I. DEPOIS DE TER APARECIDO a Maria Madalena, às demais mulheres, a


Pedro e aos discípulos de Emaús, Jesus aparece aos Onze, conforme narra o
Evangelho da Missa1.Por que estais perturbados, e por que duvidais nos
vossos corações? Vede as minhas mãos e pés: sou eu mesmo; apalpai e vede
que um fantasma não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.

Mostrou-lhes as mãos e os pés e comeu com eles. Os Apóstolos teriam


assim, para sempre, a certeza de que a sua fé no Ressuscitado não era efeito
da credulidade, do entusiasmo ou da auto-sugestão, mas de fatos
repetidamente comprovados por eles mesmos. Jesus, nas suas aparições,
adapta-se com admirável condescendência ao estado de ânimo e às diferentes
situações daqueles a quem se manifesta. Não trata a todos da mesma
maneira, mas, por caminhos diversos, conduz todos à certeza da Ressurreição,
que é a pedra angular sobre a qual assenta a fé cristã. O Senhor quis dar todas
as garantias aos que constituíam aquela Igreja nascente para que, através dos
séculos, a nossa fé se apoiasse num fundamento sólido: O Senhor ressuscitou
verdadeiramente! Jesus vive!

A paz esteja convosco, diz o Senhor ao apresentar-se aos seus discípulos


cheios de medo. A seguir, mostra-lhes as suas chagas e eles enchem-se de
alegria e de admiração. Esse deve ser também o nosso refúgio. Nas chagas do
Senhor encontraremos sempre a paz e as forças necessárias para segui-lo até
o fim da nossa vida. “Faremos como as pombas que, no dizer da Escritura (cfr.
Cant II, 14), se abrigam nas fendas das rochas durante a tempestade.
Ocultamo-nos nesse refúgio para achar a intimidade de Cristo: e vemos que o
seu modo de conversar é afável e o seu rosto formoso (cfr. Cant II, 14), porque
só sabem que a sua voz é suave e grata aqueles que receberam a graça do
Evangelho, que os faz dizer: Tu tens palavras de vida eterna (São Gregório
Nisseno, In Canticum Canticorum homiliae, V)”2.

Temos Jesus muito perto de nós. Nas nações cristãs, onde existem tantos
sacrários, a distância que nos separa d’Ele não ultrapassa alguns quilómetros.
Não é difícil ver os muros ou o campanário de uma igreja, quando vivemos
numa cidade populosa ou viajamos por uma estrada ou de trem... Ali está
Cristo! É o Senhor!3, gritam a nossa fé e o nosso amor. É o mesmo que
apareceu aos seus discípulos e se mostrou solícito com todos.
Jesus ficou na Sagrada Eucaristia. Neste memorável sacramento, contêm-se
verdadeira, real e substancialmente o Corpo e o Sangue do Senhor,
juntamente com a sua Alma e a sua Divindade; por conseguinte, Cristo inteiro.
Esta presença de Cristo na Sagrada Eucaristia é real e permanente, porque,
terminada a Santa Missa, o Senhor permanece em cada uma das hóstias
consagradas que não tenham sido consumidas4. É o mesmo que nasceu,
morreu e ressuscitou na Palestina, o mesmo que está à direita de Deus Pai.

No Sacrário encontramo-nos com Alguém que nos conhece. Podemos falar


com Ele, como faziam os Apóstolos, e contar-lhe os nossos anseios e as
nossas preocupações. Ali encontramos sempre a paz verdadeira, que perdura
por cima da dor e de qualquer obstáculo.

II. A PIEDADE EUCARÍSTICA, diz João Paulo II, “deve centrar-se antes de
mais nada na celebração da Ceia do Senhor, que perpetua o seu amor imolado
na cruz. Mas tem um prolongamento lógico [...] na adoração a Cristo neste
divino sacramento, na visita ao Santíssimo, na oração diante do Sacrário, bem
como nos outros exercícios de devoção, pessoais e colectivos, privados e
públicos, que tendes praticado durante séculos [...]. Jesus espera-nos neste
Sacramento do Amor. Não regateemos o nosso tempo para ir encontrar-nos
com Ele na adoração, na contemplação cheia de fé e aberta à reparação das
graves faltas e delitos do mundo”5.

Jesus está ali, nesse Sacrário vizinho. Talvez a poucos quilómetros, ou


talvez a poucos metros. Como não havemos de ir vê-lo, para amá-lo, contar-lhe
as nossas coisas e suplicar-lhe? Que falta de coerência se não o fazemos com
fé! Como entendemos bem o costume secular das “quotidianas visitas aos
divinos sacrários!”6 O Mestre espera-nos ali há vinte séculos7, e poderemos
estar ao seu lado como Maria, a irmã de Lázaro – aquela que escolheu a
melhor parte8 –, na sua casa de Betânia. “Devo dizer-vos – são palavras de
São Josemaría Escrivá – que, para mim, o Sacrário foi sempre Betânia, o lugar
tranquilo e aprazível onde está Cristo, onde lhe podemos contar as nossas
preocupações, os nossos sofrimentos, os nossos anseios e as nossas alegrias,
com a mesma simplicidade e naturalidade com que lhe falavam aqueles seus
amigos Marta, Maria e Lázaro. Por isso, ao percorrer as ruas de uma cidade ou
de uma aldeia, alegra-me descobrir, mesmo de longe, a silhueta de uma igreja:
é um novo Sacrário, uma nova ocasião de deixar que a alma se escape para
estar em desejo junto do Senhor Sacramentado”9.

Jesus espera a nossa visita. É, de certo modo, devolver-lhe aquela que Ele
nos fez na Comunhão, e “é prova de gratidão, sinal de amor e dever de
adoração a Cristo Senhor, ali presente”10. É continuação da acção de graças
após a Comunhão anterior e preparação para a próxima.

Sempre que nos encontramos diante do Sacrário, bem podemos dizer com
toda a verdade e realidade: Deus está aqui. E diante desse mistério de fé, não
é possível outra atitude que não a adoração: Adoro te devote... Adoro-te com
devoção, Deus escondido; uma atitude de respeito e admiração; e, ao mesmo
tempo, de confiança sem limites. “Permanecendo diante de Cristo, o Senhor,
os fiéis usufruem do seu convívio íntimo, abrem-lhe o coração pedindo por si
mesmos e por todos os seus, e oram pela paz e pela salvação do mundo.
Oferecendo com Cristo toda a sua vida ao Pai no Espírito Santo, obtêm deste
convívio admirável um aumento da sua fé, da sua esperança e da sua
caridade. Assim fomentam as devidas disposições que lhes permitem celebrar
com a devoção conveniente o memorial do Senhor e receber frequentemente o
pão que o Pai nos deu”11.

III. “COMEÇASTE com a tua visita diária... – Não me admira que me digas:
começo a amar com loucura a luz do Sacrário”12.

A Visita ao Santíssimo é um ato de piedade que demora poucos minutos, e,


não obstante, quantas graças, quanta fortaleza e paz o Senhor nos dá! Com
ela melhora a nossa presença de Deus ao longo do dia, e dela tiramos forças
para enfrentar com garbo as contrariedades da jornada; nela se acende a
vontade de trabalhar melhor e se armazena uma boa provisão de paz e de
alegria para a vida familiar. O Senhor, que é bom pagador, sempre se mostra
agradecido quando vamos visitá-lo. “É tão agradecido que não deixa sem
prêmio um simples levantar de olhos lembrando-nos d’Ele”13.

Na Visita ao Santíssimo, fazemos companhia a Jesus Sacramentado


durante uns minutos. Talvez nesse dia não tenham sido muitos os que o
visitaram, ainda que Ele os esperasse. É por isso que o alegra muito mais ver-
nos ali. Dirigiremos ao Senhor alguma oração além da comunhão espiritual, e
não deixaremos de pedir-lhe ajuda – em coisas espirituais e materiais –, de
contar-lhe o que nos preocupa e o que nos alegra, de lhe dizer que, apesar das
nossas misérias, pode contar connosco para evangelizar de novo o mundo, e
de falar-lhe talvez de um amigo que queremos aproximar d’Ele... “Que
devemos fazer – perguntais algumas vezes – na presença de Deus
Sacramentado? Amá-lo, louvá-lo, agradecer-lhe e pedir-lhe. Que faz um
homem sedento diante de uma fonte cristalina?”14

Podemos ter a certeza de que, ao deixarmos o templo depois desses


momentos de oração, terá crescido em nós a paz, a decisão de ajudar os
outros, e um vivo desejo de comungar, pois a intimidade com Jesus só se
realiza completamente na Comunhão. E teremos encontrado estímulo para
aumentar o sentido da presença de Deus no nosso trabalho e nas nossas
ocupações diárias; ser-nos-á mais fácil manter com o Senhor um trato de
amizade e de confiança ao longo do dia.

Os primeiros cristãos já viviam este piedoso costume a partir do momento


em que tiveram igrejas e se passou a reservar nelas o Santíssimo Sacramento.
São João Crisóstomo comenta assim esta prática de piedade: “E Jesus entrou
no templo. Fez o que era próprio de um bom filho: ir logo a casa de seu pai,
para ali tributar-lhe a honra devida. Assim tu, que deves imitar Jesus Cristo,
quando entrares numa cidade, deves em primeiro lugar ir a uma igreja”15.
Uma vez dentro da igreja, podemos localizar facilmente o Sacrário – que é
para onde deve dirigir-se antes de mais nada a nossa atenção –, pois tem que
estar situado num lugar “verdadeiramente destacado” e “apto para a oração
privada”. E, nesse lugar, a presença da Santíssima Eucaristia estará
assinalada pela pequena lamparina que, em sinal de honra ao Senhor, arderá
continuamente junto do tabernáculo16.

Ao terminarmos a nossa oração, pedimos a nossa Mãe Santa Maria que nos
ensine a tratar Jesus realmente presente no Sacrário como Ela o tratou nos
anos da sua vida em Nazaré.

(1) Cfr. Lc 24, 35-48; (2) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 302; (3) cfr. Jo 21, 7; (4)
cfr. Concílio de Trento, Can 4 sobre a Eucaristia, Dz 886; (5) João Paulo II, Alocução, 31-X-
1982; (6) Pio XII, Enc. Mediator Dei, 20-XI-1947; (7) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n.
537; (8) cfr. Lc 10, 42; (9) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 154; (10) Paulo VI,
Enc. Mysterium Fidei, 3-IX-1965; (11) cfr. Instrução sobre o Mistério Eucarístico, 50; (12) São
Josemaría Escrivá, Sulco, n. 688; (13) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 23, 3; (14) Santo
Afonso Maria de Ligório,Visitas ao Santíssimo Sacramento, 1; (15) São João Crisóstomo,
Catena Aurea, III, pág. 14; (16) cfr. Instrução sobre o Mistério Eucarístico, 53 e 57; cfr. CIC, can
938 e 940.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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