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COMPORTAMENTO DE SAGUINUS BICOLOR EM FRAGMENTOS

FLORESTAIS URBANOS DA CIDADE DE MANAUS

Nelson Felipe de Albuquerque Lins Neto1; Rosana Junqueira Subirá 2; Bruno Rafael Simões
Machado3; Álefe Lopes Viana1; Thyago Wesley Serejo Monteiro4.

RESUMO
Fragmentos florestais urbanos da cidade de Manaus foram visitados pela equipe de
monitoramento da ONG Sociedade Civil para Pesquisa e Conservação da Amazônia
(SAPECA) onde se observou o comportamento dos bandos de sauins-de-manaus (Saguinus
bicolor) com o objetivo de verificar suas atividades diárias e sua distribuição ao longo do dia,
dieta, relação com outros animais, além de comportamentos sociais. Os itens avaliados foram:
agredindo, brincando, catando, comendo fruta, comendo inseto, descansando e hostilidade.
Constatou-se que os sauins passam a maior parte do tempo deslocando-se em busca de insetos
e frutas, respectivamente, que constitui sua dieta preferencial, seguido de intervalos de
repouso geralmente realizados após o forrageamento. Foram observados ainda,
comportamentos como brincadeiras no solo e “vocalizações de alerta” quando aves do mesmo
porte ou maiores que urubus pairavam sobre as árvores em que se encontrava o grupo. Outro
comportamento observado foi a agressão sofrida pelos macacos por pássaros, fortalecendo
relatos de populares, quanto os sagüis alimentarem-se de ovos e filhotes destes.

Palavras-chave: sauim-de-manaus; dieta; forrageamento.

INTRODUÇÃO
Visando um melhor entendimento do comportamento da espécie Saguinus bicolor,
sauim-de-manaus, em fragmentos florestais urbanos, com um foco na atividade diária do
animal, iniciou-se no mês de agosto de 2008 o acompanhamento de um bando de sauins (Fig.
01) no Parque Municipal do Mindu. A escolha do Parque como área inicial de estudo deveu-
se ao fato de que os sauins que vivem no local são facilmente avistados na maior parte do dia
e os bandos são numerosos, com indivíduos adultos, jovens e filhotes. O objetivo inicial seria
comparar os dados obtidos com o estudo dos indivíduos do parque com dados obtidos em um
fragmento florestal menor, para verificar possíveis diferenças comportamentais entre bandos
em fragmentos de tamanho e situação de risco diferentes. Porém, foram encontradas
dificuldades como o não avistar do bando nos fragmentos menores e também, em algumas
destas visitas in loco, ocorreram chuvas, e, por isso, neste relatório, abordaremos somente os
resultados obtidos durante as observações no Parque Municipal do Mindu.

___________________________________________________________________________
1. Acadêmico de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Amazonas – UFAM , Manaus, AM, Brasil.
2. Bióloga, M.Sc. Coordenadora do Programa de Proteção do Sauim-de-Manaus – SAPECA, Manaus, AM, Brasil.
3. Biólogo, Sub-Coordenador do Programa de Proteção do Sauim-de-Manaus – SAPECA, Manaus, AM, Brasil.
4. Acadêmico de Gestão Ambiental e Sanitária – CIESA, Manaus, AM, Brasil.
Figura 01. Sauim-de-manaus, presente na área do Parque. Fonte: (Lins Neto, 2008)

O Parque Municipal do Mindu (Fig.02) possui uma área de 330.000m2 e é considerada


uma das principais áreas de lazer e turismo da cidade de Manaus possuindo trilhas para
caminhada, anfiteatro, chapéu de palha para exposições além de abrigar em sua área verde
uma variedade de espécies animais e vegetais, incluindo o sauim-de-manaus, espécie
ameaçada de extinção.

Figura 02. Parque Municipal do Mindu. Fonte: Google Earth, 2008.

METODOLOGIA
O trabalho iniciava logo ao amanhecer com a busca pelo bando para início à coleta de
dados. Ao encontrar-los registrava-se a atividade que estava sendo realizada pelos indivíduos
em intervalos de 15min durante 1min. Por exemplo, se o bando era avistado pela primeira vez
ás 08h, eram registradas as atividades e qualquer comportamento até 08h01min sendo o
próximo registro iniciado as 08h16min e assim sucessivamente até a que se perdesse o bando
de vista.
Foram utilizadas fichas de campo com 12 atividades que o bando realiza, sendo:
acordar, comer frutas, comer insetos, descansar, deslocar, brincar, vocalizar, agredir, copular,
encontro entre grupos, hostilidade e dormir. Durante o período de um minuto de observação,
que era feito a cada quinze minutos, todos os indivíduos do bando eram observados, onde
desta forma mais de uma atividade poderia estar sendo realizada por diferentes indivíduos e
consequentemente registrado pela equipe de pesquisa. Todas as atividades e ou
comportamentos realizados pelos indivíduos do grupo durante o minuto de observação eram
registradas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram realizados quatro dias de observação no Parque Municipal do Mindu, do
período que foi do final do mês de agosto até o início do mês de outubro de 2008. O bando
apresentava aproximadamente 14 indivíduos, incluindo dois filhotes.
Das doze atividades presentes na ficha de campo quatro não apresentaram nenhum
registro durante as observações; são elas copular, encontro entre grupos, dormir e acordar. Em
nenhum dos dias de observações foi encontrado o local de dormida do bando, pois perdia-se
de vista antes disso, e assim não foi possível encontrar o bando acordando, o que resultaria em
um dia inteiro de observações. A maior dificuldade encontrada no trabalho foi a demora em
encontrar o bando logo nas primeiras horas do dia, pois deslocavam-se para áreas de difícil
acesso no parque, onde não haviam trilhas nestas regiões.

Gráfico 01: Atividades realizadas ao longo do dia (%).

A análise dos gráficos permite afirmar que os indivíduos do bando passam a maior
parte do tempo se deslocando procurando por alimento, principalmente frutas e insetos, esses
resultados confirmam dados de estudos anteriores, como o de Egler (1986), Vidal (2003) e
Gordo (com.pess. a Vidal), que mostram que os sauins são bastante ativos durante seu período
de forrageamento e passam a maior parte do tempo deslocando-se em busca de alimento. É
interessante notar que o número de registros no que diz respeito “comer insetos” foi superior
ao registro “comer frutas”, evidenciando a importância dos insetos na dieta do sauim. Entre os
insetos predados estavam gafanhotos e besouros. Por mais de uma vez foi observado os sauins
escavacando buracos em troncos de árvores e removendo matéria orgânica acumulada em
pecíolos de palmeiras, principalmente açaí, possivelmente à procura de insetos. Observou-se o
bando abandonando as árvores e descendo ao solo para “brincar” e por mais de uma hora
permaneceram nesta atividade. Acredita-se que, ao fazer essas incursões ao solo, os animais
também aproveitam para buscar por insetos na serrapilheira, como registrado por Egler
(1986).
Durante as observações os sauins foram vistos se alimentando das seguintes espécies
de frutíferas: Ingá (Inga edulis), visgueiro (Parkia pendula) e goiaba (Psidium guajava). Em
uma ocasião alguns indivíduos foram observados alimentando-se de seiva da espécie Vismia
guianensis, conhecida vulgarmente como lacre.
Durante o trabalho foi possível verificar que existe uma relação entre algumas aves e
os sauins. Por mais de três ocasiões observou-se o sauim sendo atacado por aves (bem-te-vis,
por exemplo) enquanto o grupo emitia forte vocalização de alerta. Acredita-se que isso possa
ser um indício de que sauins também possam estar se alimentando de ovos e/ou filhotes de
pássaros, respaldando o relato de funcionários e visitantes do parque que afirmam ter
observado este comportamento. Quando aves de igual ou maior porte que um urubu eram
avistadas por um dos animais passando sobre as árvores em que o bando se encontrava, um
dos indivíduos emitia uma vocalização diferente, fazendo com que todos os outros ficassem
em estado de alerta e olhassem para cima, como se fossem comunicados de onde viria o
suposto perigo.

CONCLUSÃO
Os animais passam a maior parte do tempo deslocando-se, com 42% do tempo ativo
gasto por dia, seguido da alimentação, com 31%, totalizando 73%.
Curiosamente, a dieta dos sauins do Parque do Mindu possui preferencialmente insetos
a frutas, sendo 18% e 13%, respectivamente, do tempo gasto de procura por dia.
Estes primatas passam a maior parte do tempo nas árvores, mas, eventualmente,
descem ao solo.
Dentre as relações com outros animais, foi possível verificar que pequenos pássaros
costumam atacá-los, fortalecendo o relato de populares quanto à predação dos ovos e filhotes
de pássaros pelos macacos.
Uma “vocalização de alerta” é emitida pelo grupo quando aves de portes iguais ou
maiores que urubus sobrevoam a árvore em que o grupo se encontra o que demonstra coesão e
estruturação social.

REFERENCIAS
EGLER S. G. 1986. Estudos Bionômicos de Saguinus bicolor (Spix,1823) (Callitrichidae,
Primates) em uma mata alterada em Manaus. Dissertação de Mestrado apresentada à
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. SP.

ROHE, F., VENTICINQUE, E. & GORDO, M. 2000. Modelagem das Distribuições


Geográficas de Saguinus midas e Saguinus bicolor enfocando a relação com o peripátrico
S. midas. Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, Universidade Federal do
Amazonas – UFAM, Manaus. AM.

VIDAL, M. D. 2003. Influência de componentes da estrutura da floresta no uso do


hábitat, tamanho de grupos e densidades de grupos do sauim-de-coleira (Saguinus
bicolor – Callitrichidae) em floresta de terra firme na Amazônia Central. Dissertação de
mestrado apresentada ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, Manaus, AM.

GORDO, M. 2005. Projeto Sauim-de-coleira: Conservação do primata Saguinus bicolor.


In: Feira de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal do Amazonas. Manaus,
AM. p.134.

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