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Afonso Henrique da Costa Guimares (1870 1921) passou a

assinar Alphonsus de Guimaraens a partir de 1894. Mineiro dos


arredores de Ouro Preto e Mariana, teve quase toda a sua vida ligada a essa
regio de Minas, onde exerceu a magistratura. Ficou assim conhecido como o
Solitrio de Mariana.
Um fato que marcou sua adolescncia e sua obra foi a morte prematura
da prima, Constana, por quem era apaixonado. Sua religiosidade se intensifica;
seus versos surgem simples, pausados, intimistas, mas sempre sublimes e belos,
sonoros e musicais. Em tudo transparece o sofrimento que faz parte de sua vida,
suportado por uma f muito consistente. Tudo muito envolvido por duas grandes
molas da poesia, o amor e a morte. Acima de tudo ele insupervel na melodia,
no canto, na sonoridade com que reveste seus versos.
Eis um de seus mais famosos poemas:
A Catedral
Entre brumas, ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebrnea do meu sonho
Aparece, na paz do cu risonho,
Toda branca de sol.
E o sino canta em lgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma urea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos to cansados ponho,
Recebe a bno de Jesus.
E o sino clama em lgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Por entre lrios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Pe-se a lua a rezar.
A catedral ebrnea do meu sonho
Aparece, na paz do cu tristonho,
Toda branca de luar.
O cu todo trevas: o vento uiva.
Do relmpago a cabeleira ruiva
Vem aoitar o rosto meu.
E a catedral ebrnea do meu sonho
Afunda-se no caso do cu medonho
Como um astro que j morreu.
E o sino geme em lgubres responsos:

"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"


(Alphonsus de Guimaraens)

Texto gentilmente cedido por Rodrigo Gmbera (gambera@sti.com.br)

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