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Giorgio Agamben
Ideia da Prosa
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Ideia do comunismo
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licidade muito particular: o das crianas no baptizadas que morreram sem pecado, a no ser o original, e que permanecem eternamente no limbo, na
companhia dos loucos e dos pagos que tenham sido justos. Mitissima est poena puerorum, qui cum .
solo originali decedunt21. O castigo do limbo,desta'
eterna margem dos infernos, no , segundo os telogos, uma pena aflitiva, no condena ao tormento
e s chamas: apenas uma pena privativa, que consiste na perptua carncia da viso de Deus. Mas,
contrariamente aos. condenados, os habitantes do
limbo no sofrem desta carncia: uma vez que apenas detm o conhecimento natural, e no o conhecimento sobrenatural que nos foi dado pelo baptismo, no sabem que so privados do bem supremo,
ou, se o sabem (como admite uma outra opinio),
no podem sofrer um desespero superior ao de um
homem sensato que se afligisse por no poder voar.
(De facto, se sofressem com isso, e dado que sofreriam por uma falta de que se no podem penitendar,
a sua dor acabaria por lev-los ao desespero, como
acontec aos condenados, o que no seria justo.)
Para alm disso, os seus corpos so insensveis como
os dos bem-aventurados, mas unicamente rio que se
refere. justia divina; quanto ao resto, desfrutam
perfeitamente da sua perfeio natural.
.O maior castigo - a.carnda da Viso de De1,.ls
- transforma-se assim em alegria natural: eles no
sabem, nunca .sabero, nada de Deus. E assim fi-
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cam, irremediavelmente perdidos, no abandono divino: no foi Deus que os esqueceu, so eles que
desde sempre j O esqueceram, e o esquecimento
divino nada pode fazer contra o seu esquecimento.
Nem bem-aventurados como os eleitos, nem desesperados como os condenados, carregam uma esperana sem sada possvel.
Esta natureza prpria do limbo a de Bartleby,
a mais antitrgica das figuras de Melville (ainda
que, aos olhos dos homens, nada parea mais desolador que o seu destino) - e est aa raiz, impossvel de arrancar, daquele "preferia no)', contra o
qual se desfaz) simultaneamente com a razo divina; toda a razo humana.
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